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    Bebê de pedra: entenda como fetos podem continuar no corpo humano por anos

    Casos de calcificação do feto no corpo da mulher são raros, mas podem acontecer. Obstetriz especialista em saúde íntima explicou à CNN como o processo ocorre após novo viral no Twitter

    Fetos podem continuar no corpo por anos ao se calcificar
    Fetos podem continuar no corpo por anos ao se calcificar Reprodução / Twitter @fotosdefatos

    Nicoly Bastoscolaboração para a CNN

    São Paulo

    A imagem de um feto calcificado no corpo de uma mulher idosa viralizou no Twitter nesta semana e deixou dúvidas entre os internautas. O caso pode parecer bizarro, mas é bem semelhante à outros já documentados, inclusive no Brasil.

    Em 2014, Joaquina Costa Leite, idosa de 84 anos moradora de Natividade, interior do Tocantins, descobriu que estava com um feto de sete meses calcificado em seu corpo já havia mais de 40 anos.

    Em reportagem ao programa “Domingo Espetacular”, da TV Record, a mulher mostrou o ultrassom, que mostra com mais detalhes toda a formação do filho que perdeu. Os especialistas chegaram a dizer que o caso é intitulado como “bebê de pedra”.

    Mariana Betioli, obstetriz especialista em saúde íntima e CEO da Inciclo, explicou à CNN que o ocorrido é possível e é chamado na medicina de “litopédio”, quando o feto acaba se desenvolvendo fora do útero. Ele não tem condições de se desenvolver no abdômen, então acaba morrendo com o passar dos meses. Depois disso, se não retirado do corpo, os tecidos ressecam e acabam se calcificando.

    “Essa é um condição muito rara. Acontece quando é uma gravidez ectópica, em que o feto morre e não é reabsorvido pelo organismo da mãe e se calcifica. É como se se formasse uma concha de cálcio envolta do feto, 60% dos casos acontece com mulheres acima dos 40 anos”, explica a especialista.

    O fato pode acontecer por negligência à retirada do feto do organismo, assim que se tem ciência de que está morto. Os fatores podem estar interligados com a falta de conhecimento e acesso à saúde por uma população mais pobre. Mariana explica que a mulher pode nem sentir a calcificação, dificultando ainda mais a identificação do feto morto ali: “Normalmente a mulher não apresenta sintomas, por isso essa condição acaba sendo diagnosticada por acaso somente anos depois da gravidez”.

    Na época em que o feto morreu, Joaquina se consultou com um curandeiro, já que sua cidade não possuía hospital. Ele receitou uma bebida a base de ervas e raízes, o que fez com que a mulher ficasse de cama por três meses. O feto, no entanto, permaneceu e ela nunca consultou um ginecologista. A descoberta se deu após ela sentir fortes dores abdominais, 40 anos depois.

    A imagem que circula no Twitter se assemelha bastante ao caso da chilena Estela Meléndez, de 92 anos que, em 2015, possuía um feto na barriga há mais de 60 anos. A idosa também só foi descobrir o caso muito tempo depois, quando foi ao hospital porque tinha machucado o cotovelo. Durante exames, foi mostrada a calcificação.

    Na época da morte do feto, Estela foi realizar uma raspagem, mas mal sabia ela que o procedimento não teria dado certo. Ela relatava dores abdominais ao longo dos anos. De acordo com a obstetriz, cada caso pode ser diferente, mas no geral, o feto se torna perigoso pela possibilidade de aderência à outras estruturas, por exemplo a bexiga.

    “As complicações mais prováveis de acontecer no caso de feto calcificado são infecção, dores fortes e danos à outras estruturas em que o feto pode estar aderido. Isso pode levar a óbito”, afirma a profissional

    O caso mais recente é o documentado no “Journal of Medical Case Reports”, de uma congolesa que morreu em março deste ano após ficar com o feto por 50 anos. A mulher era uma refugiada que residia nos Estados Unidos. Ela descobriu o litopédio após fortes cólicas estomacais e indigestão. O feto acabou aderindo em seu intestino e, de acordo com a publicação, interferiu na entrada de nutrientes vitais para a sobrevivência da mulher.

    Mariana Betioli ressalta que casos como estes são possíveis, mas muito raros. “Existem menos de 400 casos registrados na história da medicina. Hoje em dia, grande parte da população tem acesso a um pré-natal de qualidade, o que praticamente zera a possibilidade de desenvolver um litopédio. Sempre que acontece um aborto, é feito um ultrassom para garantir que o corpo expeliu tudo”, finaliza.