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Agro t ó x i co e trabalho: uma combinação


perigosa para a saúde do tra b a l h a dor rural

Pe s ticides and work: a dangerous combination


for the Brazilian agricultural worker’s health

Jandira Maciel da Si lva 1


Eliane Novato - Si lva 2
Horácio Pereira Faria 3
Ta rcísio Márcio Ma galhães Pinhei ro 3

Ab s tract Ha rm and risk to the agri c u l tu ral Re su m o Analisaram-se os riscos e danos à saú-
worker’s health caused by pesticides have been in- de dos agri c u l to res causados pelos agrotóxicos,
ve s tigated having the pro cess, as well as the work tendo como ei xos cen trais o pro ce s so e as rel a ç õ e s
relations, as the cen tral points in the Bra z i l i a n de trabalho presentes na agri c u l tu ra brasilei ra .
agri c u l tu re . The theme is quite pol emic, co m pl ex Trata-se de um tema polêmico, complexo e confli-
and co n troversial. Is sues co n cerning spe cific in- tu o so. Fo ram abordadas questões referen tes à in-
fo rmation and pu blic policies have also be en ap- fo rmação e às pol í ticas públicas pa ra o seto r. Es te
proached. This article bears the careful considera- artigo traz a co n tri buição e a ref l exão do Grupo
tions of GESTRU – a stu dy group aiming at bot h de Es tudos de Saúde e Tra balho Ru ral de Minas
the health care and the rural activities of the State Gerais (Ge s tru), que apre senta alguns re su l t a d o s
of Minas Gerais. The GESTRU group shows some de seus trabalhos realizados em regiões hortifruti-
of the results of its activities carried out in the granjeira, flori c u l to ra, c a n aviei ra e cafeei ra de
horticulture, floriculture, coffee and sugar planta- Minas Gera i s . Propõe-se a incorpo ração de um
tions in the State of Minas Gerais. The above co n j u n to de variáveis a serem consideradas no
mentioned group – GESTRU, i n tends to inco rpo- pro cesso de avaliação da exposição e dos danos à
1 Coordenadoria de rate a set of variables to be taken into serious con- saúde gerados pelos agrotóxicos. São apresentadas
Atenção In tegral à Sa ú de sidera tions in the asse s s m ent of the harm done to algumas propostas e su gestões pa ra a co n s trução
do Trabalhador da
Sec ret a ria de Estado the health due to the expo su re to pe s ti ci d e s . Me a- de uma agenda de políticas e ações no campo da
da Sa ú de de Minas Gerais. sures and su ggestions are also propo sed in order saúde do trabalhador agrícola brasileiro.
Av. Afonso Pena 2300, to establish a set of policies and take urgent ac- Pa l avras-ch ave Agrot ó xicos, Saúde do agricul-
sala 905, Fu n c i on á rios.
30130-007 tions to prote ct the Brazilian agricultural wo rk- tor, Trabalho agrícola e saúde
Belo Horizon te MG. er’s health.
stra b a l h ador @ s a u de. Key word s Pe s ticides, Agriculturer`s health,
mg.gov.br
2 Dep a rt a m en to de Agricultural work and health care
Bi oquímica e Imu n o l ogia
do In s ti tuto de Ci ê n c i a s
Bi o l ó gicas da Un ivers i d ade
Federal de Minas Gerais.
3 Dep a rt a m en to de
Medicina Preven tiva
e Social da Fac u l d ade de
Medicina da Un ivers i d ade
Federal de Minas Gerais.
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In trodução de diarista, o arrendamen to e o proprietário


produtor. Estas relações não se apre s entam de
O século 20 caracterizou-se, entre outros as- forma isolada e nem estanqu e , en con trando-se
pecto s , por um intenso e contínuo processo de proprietário que é também arren d a t á rio e/ou
mudanças tecnológicas e or ga n i z ac i onais, qu e meei ro ; m eei ro de arrendatário; m eei ro de me-
ati n gi ram, de forma con tu n dente, o mu n do da ei ro, entre outras combinações (Silva, 2000).
produ ç ã o, acarret a n dogra n des transformações No caso da agroindústri a , sua principal carac-
nas form a s , nos processos e nas relações de tra- terística é o trabalho assalariado na forma de
b a l h o. A agricultura, que por séculos tem se con tratação direta ou da terceirização da for ç a
constituído o meio de vida dos agricultores e de trabalho (Abra m ovay, 1992; OIT, 2001; IBGE,
de suas famílias, converteu-se numa atividade 1996; Garcia, 1996; Alves, 1992).
orientada para a produção com erc i a l . Por trás Estas caracter í s ticas do processo de produ-
desta mu d a n ç a , está a nece s s i d ade de alimen t a r ção agr í cola implicam uma dificuldade de cl a s-
um con ti n gente pop u l acional cada vez maior, sificar, de forma apriorística e rígida, as rela-
que seg u n doa Organização das Nações Unidas ções de trabalho neste setor. Ob s erva-se que os
s erá de 7,9 bilhões de pessoas em 2025 (OIT, tra b a l h adores estabel ecem relações de trabalho
2001). em função de suas nece s s i d ades e de suas pos-
Ne s te sen ti do, o processo de produção agr í- s i bi l i d ades econômicas num determ i n ado mo-
cola tem passado por importantes mudanças men to histórico das relações capital/trabalho.
tecnológicas e organizac i on a i s , cujo re su l t ado Todo esse processo constitui o arc a bouço
final tem sido, en tre outros aspecto s , o aumen- da chamada “m odernização agrícola” qu e , se
to da produtividade. Em relação às alterações por um lado tem gerado aumen to da produti-
tecnológicas, a primeira e importante mu d a n- vi d ade, por outro lado tem provoc ado exclu s ã o
ça foi a mecanização de diversas atividades a gr í- social, migração ru ra l , de s em prego, con cen tra-
colas e a con s eq ü en te su b s ti tuição da mão-de - ção de renda, empobrecimento da pop u l a ç ã o
obra pela maqu i n a ri a , um dos principais moti- rural e danos à saúde e ao meio ambiente –
vos do êxodo rural. A segunda mudança foi a de s m a t a m en to indiscri m i n ado, manejo incor-
i n trodu ç ã o, a partir de 1930, dos agroqu í m i cos reto do solo, impactos do uso de agro t ó x i co s ,
no campo, em especial os agrotóxicos, i n ten s i- contaminação dos rec u rsos hídri cos etc. (OIT,
ficando-se sua utilização a partir da Segunda 2001; Grisolia, 2005).
Guerra Mu n d i a l . F i n a l m en te, a terceira e im- Por outro lado, é importante ressaltar que,
port a n te mudança é a introdução da bi o tec n o- no Brasil, a organização do trabalho agr í co l a
logia, destacando-se os organismos genetica- tem ainda como pano de fundo uma estrutura
mente modificados – os transg ê n i cos (Abra- f u n d i á ria altamen te con cen trad a , on de cerca de
m ovay, 1992; OIT, 2001). 94% do número de propriedades rurais res-
Em relação ao sistema de produ ç ã o, pode- pon dem por apenas 30% da área ocupada. Este
se dizer qu e , de um modo geral, nos países em f a toper si tem con s eqüências marc a n tes no de-
de s envo lvi m en to, a agri c u l tura baseia-se prin- s envo lvi m en to do setor agr í cola bra s i l ei ro (IB-
cipalmen te na produção familiar, c u ja ex p l ora- GE, 2000; 1996).
ção em gra n de parte é vo l t ada para a su b s i s t ê n- De acordo com o último censo do IBGE, o
cia. Quanto aos países desenvo lvi do s , a agri c u l- Brasil possuía no ano 2000 uma população de
tura se tra n s formou em uma ativi d ade com er- 169.872.856 habi t a n te s , com uma taxa de ur-
cial, em que a produção dos alimen tos se inte- banização da ordem de 81,2%. A população ru-
gra à tra n s form a ç ã o, à com ercialização e à dis- ral corre s pondia em números absolutos a qu a-
tri bu i ç ã o, form a n do, assim, o ch a m ado sistem a se 32 milhões de pessoas e a população rural
agroindústria (Abramovay, 1992; OIT, 2001). econ om i c a m en te ativa ocupada (PEA Ocupa-
No Bra s i l , de acordo com Geh l en (2004) parte da) era de 12.152.979 habi t a n te s .
da agri c u l tu ra familiar bra s i l ei ra modern i zo u - Um aspecto releva n te no trabalho rural
se, incorpora n do tecnologias e entra n do num bra s i l ei ro diz re s pei to à participação de crian-
merc ado de com petitivi d ade e de prof i s s i on a l i- ças e ado l e s centes nas atividades de trabalho
zação. agropecuárias. O Censo Agropecuário (1996)
No que se refere às relações de trabalho, nas i n forma a existência de 2.435.678 trabalhado-
u n i d ades produtivas familiare s , vários tipos são res men ores de 14 anos de idade atu a n do neste
ob s ervados, com destaque para a parceria do setor, ou seja, 18,6% da PEA ru ral ocupada. Es-
ti po meagem , o trabalho tem por á rio, na form a sa faixa da população é especialmente afet ad a
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pelo trabalho precoce , t a n topelos aspectos téc- eixo con dutor, busca-se uma abord a gem inter-
n i cos dos processos de trabalho (ex posição aos disciplinar, i n corporando con cei tos de ciências
agrotóxicos, às radiações solares, ao ru í do, à vi- sociais, epidemiologia, ergonomia, clínica, i mu-
bração etc.), como também aqueles ligados à nologia entre outro s . Al terações cl í n i c a s , l a bo-
or ganização do trabalho (jornada, ri tm o, con- ra toriais e imu n o l ó gicas têm sido iden tificadas
teúdo das tarefas etc.). Além disso, é preciso nos trabalhadores rurais estudados por meio
con s i derar o com prom eti m en to do processo de de pro tocolos específicos para a avaliação da
s ocialização infantil e da escolari z a ç ã o. expo s i ç ã o, permiti n do a caracterização de in-
Enten dendo que a discussão desse tema é toxicações crônicas – ou mesmo agudas – fre-
polêmica, complexa e conflituosa, este artigo q ü en temente subdiagnosticadas.
visa tra zer uma contribuição do Grupo de Es-
tudos de Sa ú de e Trabalho Ru ral de Minas Ge-
rais sobre ri s cos e danos da utilização de agro- Processo de trabalho agr í co l a :
tóxicos à saúde do trabalhador, ten do como ce- ri s cos e danos po tenciais
nário algumas caracter í s ticas do trabalho agrí-
cola no Brasil. Retorno à fábrica pa ra deci f rar a realidade, saio
O Gestru foi con s titu í do em 1996 como um do hospital pa ra en ten d er a doen ç a
espaço de discussão, pesquisa, ex ten s ã o, form a- (Laurell & Nori ega, 1989).
ção de recursos humanos e planejamen to de
estratégias de intervenção nas questões relati- Os riscos, f a tores de ri s co e danos à saúde dos
vas à saúde do trabalhador ru ra l , a partir de de- trabalhadores devem ser com preen d i dos com o
manda da Comissão Pastoral da Terra (CPT/ ex pressão das tecnologias utilizadas, da or ga n i-
MG) e da Federação dos Trabalhadores da Agri- zação e da divisão do trabalho, da intervenção
cultura do Estado de Minas Gerais (FETAEMG), dos trabalhadores nos locais de trabalho, da
que alegavam despreparo dos serviços locais ação de técnicos e instituições relacionados à
p a ra o diagn ó s ti co das intoxicações por agro- questão e do arc a bouço ju r í d i covi gen te .
t ó x i co s , principalmen te em relação aos qua- As s i m , é po s s í vel afirmar que no processo
d ros crônico s . O gru po con grega prof i s s i onais de avaliação de ri s co s , fatores de ri s co e danos à
vi n c u l ados à Coordenadoria de Atenção In te- saúde dos trabalhadore s , além das análises das
gral à Saúde do Trabalhador da Secretaria de condições materiais de tra b a l h o, é import a n te
E s t ado de Sa ú de de Minas Gerais (CAIST/SES/ que se atenha aos homens responsáveis pela
MG) e à UFMG, por meio do Dep a rt a m en to de execução das taref a s , ava l i a n dotanto suas con-
Medicina Preventiva e Social da Faculdade de dições fisiológicas, a fetivas, como a ex peri ê n c i a
Medicina, do Depart a m en to de Bi oquímica e acumulada em relação à tarefa e às situações
Imu n o l ogia/ICB e do Am bu l a t ó rio de Doen ç a s con c retas de trabalho nas quais estão inseri do s .
Prof i s s i onais do Hospital das Clínicas qu e , de s- Ou seja, a condução de tal avaliação deve ser
de 2003, abriga o Centro de Referência Esta- cen trada num processo de intern a l i d ade em re-
dual de Saúde do Trabalhador – CREST /MG. lação ao trabalho.
O gru po busca el a borar estra t é gias vi s a n doco- Ten do esta con cepção como norte , é po s s í-
n h ecer o perfil dos probl emas de saúde dos tra- vel rel ac i onar os principais ri s cos e danos que
balhadores rurais, em especial os inseridos na acom etem os agri c u l tore s . São eles:
agri c u l tu ra familiar, ten do como eixo cen tral o • Aciden tes com ferramentas manuais, com
trabalho realizado por eles, com de s t a que para m á quinas e implem en tos agr í colas ou provoca-
a ex posição aos agrotóxicos em diferen tes pro- dos por animais, oc a s i on a n do lesões tra u m á ti-
cessos de tra b a l h o. Por solicitação da CPT/MG cas de diferen tes graus de inten s i d ade . Entre os
e da FETAEMG, a relação entre agro t ó x i cos e agri c u l tores estes são os ac i den tes mais comu-
câncer tem sido obj eto de atenção especial. Ou- mente notificados, seja por meio dos sistem a s
tra questão de interesse particular do gru po são oficiais de informação em saúde, seja pela em-
as alterações no sistema imune rel ac i on adas ao presa;
uso de agrotóxicos. • Ac i den tes com animais peçonhen tos cuja
Diversos projetos de pesquisa e ex tensão relação com o trabalho quase nunca é estabel e-
envo lven do trabalhadores expostos ocupacio- cida, embora sejam bastante comuns. O f i d i s-
n a l m en te a agro t ó x i cos vêm sen do exec ut ados mo, arac n e í s m o, e s corpion i s m o, são os mais
pelo Gestru em municípios minei ro s . Ne s tes comuns. Acon tecem ainda com taturanas, a be-
projetos, tendo o processo de trabalho como lhas, ve s p a s , mari m bon dos etc . ;
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• Ex posição a agen tes infecciosos e parasitá- conjunto dos trabalhadores bra s i l ei ros com o :
rios en d ê m i cos que provocam doenças como a baixos salários, condições sanitárias inadequ a-
e s qu i s to s s om o s e , a malária etc.; das, carência alimentar, deficiência dos servi-
• Exposição às radiações solares por lon go s ços de saúde, en tre outras.
períodos, sem ob s ervar pausas e as reposições
calórica e hídrica nece s s á rias, desencadeia uma
s é rie de probl emas de saúde , tais como cãibra s , A utilização dos agro t ó x i cos
síncopes, exaustão por calor, envelhecimento
precoce e câncer de pel e ; A utilização de produtos vi s a n do ao com b a te
• Exposição a ruído e à vi bração que estão de pragas e doenças presen tes na agri c u l tu ra
pre s entes pelo uso das motosserras, co l h edei- não é recen te . Civilizações antigas usavam en-
ra s , tratores etc. O ru í do provoca perda lenta e xof re, a rs ê n i co e calcári o, que de s truíam plan-
progre s s iva da audição, fatiga, irritabilidade, tações e alimentos armazenados. Também eram
a u m en to da pressão arterial, distúrbios do so- uti l i z adas substâncias orgânicas, como a n i co ti-
no etc. Já a ex posição à vi bração oc a s i ona de s- na extraída do fumo e do pyrethrum (Garcia,
conforto geral, dor lombar, degeneração dos 1996; Mei relles, 1996). O intenso desenvolvi-
d i s cos intervertebrais, a “doença dos dedos m en to da indústria química a partir da Revo-
bra n co s”etc . ; lução In dustrial determinou o incremento na
• Ex posição a partículas de grãos arm a zena- pe s quisa e produção dos produtos agrotóxicos.
dos, á c a ro s , pólen, detritos de origem animal, Sua produção em escala industrial teve início
compon entes de células de bactérias e fungos em 1930, i n ten s i f i c a n do-se a partir de 1940
provocam um probl ema de saúde mu i to comu m (Mei rell e s , 1996).
em tra b a l h adores rurais, e po u co recon h ecido Os termos pesticidas, praguicidas, bi ocidas,
e registrado como tal. São as doenças re s p i ra- fitossanitários, agro t ó x i co s , defensivos agr í co-
tórias, com destaque para a asma ocupac i on a l las, ven en o s , remédios ex pressam as várias de-
e as pn eu m on i tes por hipers ensibilização; nominações dadas a um mesmo grupo de su b s-
• A divisão e o ritmo intenso de trabalho com tâncias qu í m i c a s . Ne s te trabalho o termo ado-
cobrança de produtividade, jorn ada de traba- t ado será “a gro t ó x i co”, def i n i do seg u n do o de-
lho pro l on gada, ausência de pausas, en tre ou- c reto no 4.074, de 4 de ja n ei ro de 2002, que re-
tros aspectos da or ganização do trabalho, con- g u l a m en tou a lei no 7.802/1989, como: produ-
dição particularmen te ob s ervada em tra b a l h a- tos e agen tes de pro ce s sos físico s , químicos ou bi o-
dores rurais assalari ados (com o, por exem p l o, lógicos, destinados ao uso nos setores de produ-
co l h eita de cana, f l ores, café etc.) tem ocasio- ção, no armazenamento e beneficiamento de pro-
n ado o su r gi m en to de uma pato l ogia típica do s dutos agrícolas, nas pastagens, na proteção de
trabalhadores urbanos assalariados: as LER/ florestas, n a tivas ou plantadas, e de outros eco s-
DORT – Lesões por Esforços Repetitivo s / Doen- s i s temas e de ambientes urbanos, hídricos e in-
ças Osteomu s c u l a res Rel acionadas com o Tra- du s triais, cuja finalidade seja alterar a co m po s i-
balho; ção da flora ou da fauna, a fim de preservá-las
• Ex posição a fertilizantes, que podem causar da ação danosa de seres vivos co n s i d erados noci-
i n toxicações graves e mortais. As intox i c a ç õ e s vos, bem como as su b s t â n cias de produ tos em pre-
registradas têm sido con s i deradas acidentais, gados como desfol h a n te s , dessecantes, estimula-
envolvendo produtos do grupo dos fo s f a to s , dores e inibi d o res de cre sci m en to.
sais de potássio e nitra to s . As intoxicações por Nos diversos trabalhos de campo re a l i z ados
fo s f a tos se caracterizam por hipoc a l cemia, en- pelo Gestru tem sido ob s ervado que os traba-
qu a n to as causadas por sais de potássio provo- l h adores se referem a estes produtos como re-
cam ulceração da mu cosa gástri c a , h em orra gia, médios, ven enos ou agro t ó x i cos (Novato - Si lva
perfuração inte s tinal etc. Os nitra to s , uma ve z et al. 1999; Si lva et al., 1999; Si lva , 2000).
no or ganismo, se tra n s formam – por meio de A en trada dos agrotóxicos no Brasil a partir
uma série de reações metabólicas – em nitrosa- da década de 1960 co l ocou-os def i n i tiva m en te
minas, que são substâncias cancer í gen a s ; no co tidiano dos trabalhadores ru ra i s , a u m en-
• Ex posição a agro t ó x i co s , os quais pela cen- t a n do, assim, os ri s cos de adoecer e morrer, aos
tra l i d ade que ocupam neste arti go serão discu- quais já estavam expo s to s . Tod avia, é a partir
ti dos mais det a l h ad a m en te . de 1975, com o Plano Nac i onal de Desenvo lvi-
A estas situações de risco para a saúde do men to (PND), que cuidou da abertu ra do Bra-
tra b a l h ador se somam condições que afetam o sil ao com é rcio intern acional desses produtos,
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que ocorrerá um verd adei ro b oo m na utilização de 11 de julho de 1989, dispõe sobre a pesqu i-
de agro t ó x i cos no trabalho rural. Nos termos sa, a ex perimentação, a produ ç ã o, a em b a l a gem
do PND, o agri c u l tor estava obrigado a com- e ro tu l a gem, o tra n s porte , o arm a zen a m en to, a
prar tais produtos para obter recursos do cré- comerc i a l i z a ç ã o, a propaganda comerc i a l , a
d i to rural. Em cada financiamen to requ erido, utilização, a importação, a ex portação, o de s ti-
era obri ga tori a m ente incluída uma cota def i n i- no final dos re s í duos e em b a l a gens, o registro,
da de agro t ó x i cos (Garc i a , 1996; Mei relles, a classificação, o con tro l e , a inspeção e a fiscali-
1996; Sayad , 1984) e essa obriga tori ed ade, so- zação de agrotóxicos, seus componentes e a f i n s .
mada à propaganda dos fabri c a n te s , determi- Além de s te dec reto, ex i s te ainda a Norma Re-
nou o enorme incremen to e disseminação da gulamen t adora 31(NR31) do Ministério do
utilização dos agro t ó x i cos no Brasil (Garcia, Trabalho e Emprego (MTE), que trata da “Se-
1996; Mei relles, 1996). gurança e Saúde no Trabalho na Agri c u l tu ra,
Aqu ela po l í tica de crédito integrou o movi- Pecuária, Silvi c u l tu ra, Exploração Florestal e
m en to conhec i do como Revo lução Verde, ini- Aq ü i c u l tu ra”. Entre outros aspectos, esta NR
c i ado nos Estados Un i dos da Am é rica com o reg u l a m enta o uso dos agrotóxicos, ad juvantes
obj etivo de aumentar a produtivi d ade agrícola e afins. A partir desta norma, c a beria ao MTE
a partir do incremento da utilização de agro- fiscalizar os ambien tes e as condições de uso
qu í m i cos, da expansão das fron teiras agr í co l a s destes produtos. Tod avia, na prática co tidiana
e do aumen to da mecanização da produção. são recon h ecidas a cobertu ra apenas parcial do
No Bra s i l , a Revolução Verde se deu através u n iverso de tra b a l h adores ru rais, as limitações
do aumento da impo rtação de produtos quími- metodológicas, materiais e de pessoal que cul-
co s , da instalação de indústrias produ to ras e fo r- minam com uma baixa eficácia das ações fisca-
mu l a d o ras de agrot ó xi cos e do estímulo do gover- lizatórias do MTE (Araújo et al., 2000).
n o, através do crédito rural, pa ra o co n sumo de Os agro t ó x i cos são um dos mais import a n-
a grotóxi cos e ferti l i z a n tes ( Mei relles, 1996). tes fatores de ri s cos para a saúde hu m a n a . Uti-
As agências e programas de ex tensão rural lizados em grande escala por vários setores
(Abicar, depois Emater) tiveram também um produtivos e mais inten s a m en te pelo setor a gro-
p a pel import a n te na introdu ç ã o, d i s s eminação e pec u á rio, têm sido obj eto de vários tipos de es-
consolidação de s tes novos modos de produção, tu do s , t a n topelos danos que provocam à saúde
de saberes e de tec n o l ogias ru ra i s , den tre estas o das populações hu m a n a s , e dos tra b a l h adore s
uso de agro t ó x i cos (Pinhei ro S et al. , 1985). de modo particular, como pelos danos ao mei o
Atualmen te ex i s tem no mu n do cerca de 20 ambi en te e pelo aparecimen to de resistência
gra n des indústrias com um vo lume de vendas em or ga n i s m o s - a lvo(pra gas e vetores) nas em-
da ordem de 20 bilhões de dólares por ano e presas on de haja trabalhadores em regime cel e-
uma produção de 2,5 milhões de tonel adas de tista. Na agri c u l tu ra são amplamen te uti l i z ados
a gro t ó x i co s , sen do 39% de herbi c i d a s , 33% de nos sistemas de monocultivo em grandes ex-
i n s eticidas, 22% de fungicidas e 6% de outro s tensões. As lavouras que mais os utilizam são
grupos qu í m i co s . No Brasil, o vo lume de ven- as de soja, cana-de-açúcar, milho, café, c í tri co s ,
das é de 2,5 bilhões de dólares por ano, com arroz irrigado e algod ã o. Também as culturas
uma produção de 250 mil ton el adas de agro t ó- m enos ex pre s s ivas por área plantad a , tais com o
xicos (Si n d a g, 2005). fumo, uva, morango, batata, tomate e outras
De acordo com o Si n d i c a toNac i onal da In- espécies hortícolas e frut í colas em pregam gra n-
d ú s tria de Produtos para a Defesa Agrícola (Si n- des qu a n ti d ades de agro t ó x i cos (OIT, 2001;
dag), em 2001, o Brasil foi o oi t avo país con su- Brasil, 1997). Essas substâncias são ainda uti l i-
m i dor destes produtos, com 3,2 kg/ha de agro- zadas na con s trução e manutenção de estrad a s ,
tóxicos. À sua fren te estavam aHo l a n d a , Bélgi- tra t a m en to de madeiras para con s tru ç ã o, a r-
ca, Itália, Gr é c i a , Al emanha, França e Reino Un i- mazenamen to de grãos e semen te s , produção
do. Ainda de acordo com o Sindag, em 2003, de flore s , com b a te às en demias e ep i dem i a s , co-
existiam no Brasil 648 produtos em linha de mo domissanitários etc. Enfim, os usos dos
comerc i a l i z a ç ã o, sendo 34,4% de inseticidas, agro t ó x i cos excedem em mu i to aquilo que co-
30,8% de herbi c i d a s , 22,8% de fungicidas, 4,9% mumen te se recon h ece .
de ac a ricidas e 7,1% de outros gru pos químicos. As principais exposições a estes produtos
Q u a n toà reg u l a m entação para a utilização ocorrem nos setores agropecuári o, saúde pú-
de s tes produtos, o dec reto no 4.074, de 4 de ja- blica, firmas desinsetizadoras, transporte, co-
nei rode 2002 e que reg u l a m en tou a lei no 7.802, m ercialização e produção de agrotóxicos. Al é m
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da ex posição oc u p ac i onal, a contaminação ali- Agro t ó x i cos e danos à saúde


m entar e ambi ental co l oca em ri s co de intox i-
cação outros grupos pop u l ac i onais. Merecem Os paradigmas teóricos e cien t í f i cos que têm
de s t a que as famílias dos agri c u l tore s , a pop u l a- n orte ado a maioria dos estu dos e pe s quisas so-
ção circ u nvizinha a uma unidade produtiva e a bre a relação saúde, doença e trabalho em ge-
população em geral, que se alimenta do que é ral, e sobre os danos à saúde causados pelos
produ z i do no campo. a gro t ó x i cos no trabalho em particular, não tra-
Portanto, pode-se afirmar que os efeitos zem para seu cerne a con cepção dialética do
dos agro t ó x i cos sobre a saúde não dizem re s- tra b a l h o, n ega n do assim (...) a noção do tra ba-
pei to apenas aos tra b a l h adores ex po s to s , mas à lho como atividade humana básica e que assume
população em gera l . Como diz Berl i n g u er, a pro- fo rmas específicas como expressão das relações
pri ad a m ente, a unidade produtiva não afeta so ciais, sob as quais se realiza ( L a u rell & Norie-
apenas o tra ba l h a d o r, mas co n t a gia o meio am- ga, 1 9 8 9 ). A partir desse olhar, os danos à saú-
bien te e repercute sob re o co n j u n to social (Che- de causados pelo trabalho são com preen d i do s
d i ack, 1986). como simples expressões sobre os corpos dos
Con tempora n e a m en te , observa-se um in- tra b a l h adores de determ i n ados ri s cos pre s en te s
tenso e caloroso debate em torno da questão nos ambi en tes de trabalho. Ou seja , há uma re-
dos agrotóxicos. Com pon do este cen á rio, têm- dução naturalista e bi o l ogicista da idéia de ri s-
se de um lado as em presas produtoras e, de ou- co e dano, na medida em que não se con s i dera
tro lado, as representações de trabalhadores e seu caráter histórico e soc i a l .
da população em geral norm a l m en te repre s en- Em certa med i d a , pode-se dizer que a reali-
t ada pelas Organizações não Govern a m entais – d ade co tidiana de trabalho ob s ervada na agri-
O N G’s. Neste campo, con f rontam-se interesses cultura, espec i f i c a m en te no que se refere à uti-
diferenciados envo lven do fatores econômicos, lização de agrotóxicos, ex pressa as po l í ticas go-
sociais, i deo l ó gi cos e cultu rais. vern a m entais historicamente adotadas para o
Diversos estu dos têm dem on s trado grande s etor, particularmen te no que se refere à form a
va ri a bilidade de danos dos agro t ó x i cos sobre a como esta tecnologia foi introduzida no cam-
s a ú de humana e sobre o meio ambi en te , assim po. Ou seja, as condições con c retas e atuais de
como diferenças na gravidade e magnitude utilização dos agro t ó x i cos pelos trabalhadore s
desses danos (Alava n ja et al., 2004; Colosso et ru rais en con tram suas ra í zes e seu pleno desen-
al., 2003; Grisolia, 2005; Kamanyire & Ka ral- vo lvi m en to alicer ç ados naquela política.
lied de , 2004; Nova to - Si lva E et al. 1999; Pere s Is to importa na medida em que modifica-
et al. , 2003; Peres et al. , 2001; Sa n to s , 2003; Si l- ções ef i c a zes e ef i c i en tes naqu ele co tidiano pas-
va et al., 2004). O conhecimento advi n do de sam, nece s s a ri a m en te, por mudanças na atua-
tais estudos tem subsidiado um importante ção do Estado bra s i l ei ro no que se refere ao seu
movimento social, tanto no Brasil como em o u- conceito e à sua prática de desenvolvimen to
tros países, l i derado por ambi entalistas e ecolo- a gr í cola e ru ra l .
gistas cuja tônica gira em torno da con te s t a ç ã o As s i m , o processo de produção e as políti-
do modo de de s envolvimen to da agricultura. cas de desenvolvimen to do setor devem se
Esse movi m en to, que apre s enta a proposta da constituir em ei xo norteador dos estudos e
agroecologia como alternativa às pr á ticas insti- análises desta qu e s t ã o. É desse ângulo que en-
tuídas, é cen trado numa outra forma de de s en- ten demos ser po s s í vel uma mel h or com preen-
vo lvimento agrícola e ru ral (Al m ei d a , 1998). são das formas de utilização e exposição aos
Entretanto, no embate entre a alternativa a gro t ó x i cos pelo trabalhador rural, bem como
agroecológica e a fórmula que privilegia a uti l i- dos probl emas de saúde decorren tes do con t a-
zação de agro t ó x i cos no combate a pragas e to com tais produto s .
doenças, em que pesem algumas experiências Nesta linha, além dos aspectos ligados à
b a s t a n tepo s i tivas em favor da pri m ei ra, a pr á- s a ú de e ao meio ambi en te, busca-se apreen der
tica insti tuída de uso dessas substâncias, asso- o processo de produção e o processo de traba-
c i ada aos interesses de um merc ado bi l i a rd á rio, lho pre s en tes na agricultura, ob s ervando, en tre
têm falado mais alto. o utros aspecto s , condições e relações de tra b a-
lho, a incorporação e utilização de tec n o l ogias,
as exigências de produtividade, as políticas de
com ercialização dos produtos agrícolas, os mé-
todos utilizados para controle de pragas e doen-
897

ças, o nível de informação e capacitação em re- a indicação, escolha, a rm a zen a m en to, prep a ra-
lação ao uso de agro t ó x i cos e a adoção de es- ção e aplicação dos produtos, utilização de equ i-
tra t é gias vi s a n doreduzir sua utilização e ex po- pamento de pro teção individual, os procedi-
sição. Is to po s s i bilita o estabel ec i m en to de cor- men tos de lava gem dos equ i p a m en tos de apli-
relações en tre as ativi d ades exercidas pelos tra- cação dos agro t ó x i cos e a de s tinação que se dá
b a l h adores e po s s í veis efei tos à sua saúde pro- às em b a l a gens e aos re s tos das caldas;
voc ados pela ex posição aos agro t ó x i cos pre s en- • A percepção de ri s co do trabalhador e as es-
tes no trabalho a partir da caracterização da ex- tra t é gias que ele adota de pro teção à saúde e ao
posição em situação real de trabalho num dado m eio ambi en te;
con tex to soc i a l , econ ô m i coe cultu ra l . • A classificação dos agro t ó x i co s : con h ecer a
A diversidade das situações de tra balho pod e classificação é importante já que ela fornece ,
modificar consideravelmente o risco, uma vez ainda que parcialmente, informações sobre o
que os métodos de apl i c a ç ã o, as modalidades do po tencial tóxico do produto. Pa rc i a l m en te ,
uso dos biocidas, as formas de organização do porque as condições reais de uso, en tre outro s
tra balho, os tipos de cultivo, as condições cl i m á- aspecto s , podem modificar a tox i c i d ade de ca-
ticas, são mu i to diversas ( S z n elwar, 1993). da um del e s . Re s s a l te - s e , que todo agro t ó x i coé
Em rel a ç ã o, especificamente, ao processo de cl a s s i f i c ado pelo menos qu a n to a três aspectos:
i nvestigação e avaliação da exposição ocupa- qu a n to aos tipos de organismos que contro-
c i onal a agro t ó x i cos defen demos que esta deve lam, qu a n to à toxicidade da(s) substância(s) e
ser con duzida à luz do processo de produção e, qu a n to ao gru po qu í m i co ao qual perten cem .
portanto, centrada nas características do pro- No Bra s i l , de acordo com o Sindag, em 2003,
cesso de trabalho, da or ganização do trabalho e 19,0% dos produtos em linha de comerc i a l i z a-
das estratégias de uso destes produtos. Esta ção eram classe tox i co l ó gica I (extrem a m en te
con cepção difere das abord a gens trad i c i onais tóxico), 25,8% classe II (altamente tóxico ) ,
que privi l egiam o desenvo lvi m en to da análise 32,0% classe III (moderadamen te tóxico) e
de ri s conuma pers pectiva de ex tern a l i d ade em 23,2% classe IV (levem en te tóxico).
relação ao processo de trabalho. Tal abord a gem
de s considera a dinamicidade do processo de E x posição combinada
trabalho e, con s eq ü en temen te , as formas com o
os ri s co s / f a tores de risco acon tecem nas situa- A contaminação e a mistu ra de agro t ó x i co s
ções reais de trabalho. é situação mu i to pre s en te na re a l i d ade do tra-
Assim, os autores prop õ emque as condições balho agrícola, seja por causa das impure z a s ,
de ex posição aos agro t ó x i cos viven c i adas no in- dos inerte s , seja pela aquisição de produtos as-
teri or das ativi d ades de trabalho pelos agri c u l to- sociados ou pelo uso simultâneo de várias
res devam ser inve s ti gadas con s i dera n do : substâncias (Nova to - Si lva et al., 1999; Si lva et
• O processo de trabalho: tipo de cultura ex i s- al., 1999; Silva, 2000; Soa res et al. , 2003).
ten te , os agrotóxicos uti l i z ados, a freqüência de A imensa maioria dos estu dos não con s i de-
uso, a duração da exposição, a data do último ra a interação que os diversos compostos qu í-
con t a to, o equ i p a m en touti l i z adopara a pulve- micos podem estabelecer entre si e sistemas
rização e as medidas de prevenção adotadas, biológi cos orgânicos, s en do que essa interação
além da diversidade das ativi d ades realizadas e pode até mesmo modificar o com port a m en to
as possibilidades de ex posição aos agro t ó x i co s t ó x i code um determ i n ado produto, ac a rret a n-
geradas a partir dessas; do efeitos diversos sobre a saúde do grupo de
• A or ganização do trabalho: tipo e caracte- tra b a l h adores ex po s to s .
r í s ticas das relações de trabalho, a existência de Os conhecimentos atuais são muito incomple-
trabalho familiar, a divisão de taref a s , a jorn ad a tos no que se refere aos efei tos pa ra a saúde pro-
de trabalho e a or ganização tem poral do tra b a- duzidos por exposição co m binada a vários fato res
lho; bi ol ó gicos, q u í m i co s , físicos e psicossociais; até
• As estra t é gias de utilização dos agrotóxicos: agora exi s tem apenas dados sob re as re s postas si-
proc u rar informações sobre o qu e , qu a n do, co- nérgicas re su l t a n tes da interação dos diversos fa-
mo, por qu e , on de , com que freq ü ê n c i a , i n ten- tores relacionados com o tra balho (OMS, 1981).
s i d ade e com que tipo de ori entação ocorre es- Este é um aspecto ex trem a m en te importan-
sa utilização, em relação aos ciclos de produção; te em relação à análise dos ri s cos e danos à saú-
• A adoção de estra t é gias que possam reduzir de da população exposta e ao meio ambien te .
a ex posição aos produtos em questão: con h ecer Re s s a l te-se que a mistu ra de produtos se dá não
898

apenas no campo, pela ação direta dos agri c u l- gos per í odos e em baixas con cen tra ç õ e s , são de
tore s , mas também por meio das próprias em- recon h ec i m en tocl í n i co bem mais difícil, prin-
pre s a s . De acordo com o Si n d a g, en tre os pro- cipalmen te quando há ex posição a múltiplos
dutos que estavam em com ercialização no ano contaminantes, situação bastante comum no
de 2003, vários deles eram misturas de ingre- trabalho agrícola. Há, neste caso, m a i or dificul-
dientes ativos, tais como 2,4-D + Di a z i n on dade para o reconhecimen to de uma associa-
( h erbicida), Benalaxy + Ma n cozeb (fungicida) ção causa/efei to. Entre os inúmeros efei tos crô-
ou Del t a m etrina + Tri a zophos (inseticida). nicos sobre a saúde humana são descritas alte-
A ex posição com bi n ada às substâncias qu í- rações imu n o l ó gicas, gen é ti c a s , malformações
micas pode causar três tipos de efei tos sobre a congênitas, c â n cer, efeitos deletérios sobre os
s a ú de humana: i n depen dentes, sinérgicos (ad i ti- s i s temas nervo s o, hem a topoéti co, re s p i ratóri o,
vos ou po tencializados) e antagônicos. Apesar de cardiovascular, gen i tu rinári o, tra to ga s tri n te s-
ainda po u co estu d ad a , alguns trabalhos dem on s- tinal, hepático, reprodutivo, en d ó c ri n o, pele e
tram que a re s posta do or ganismo humano di- olhos, além de reações alérgicas a estas drogas,
a n te das ex posições laborais com bi n adas pode a l terações comportamentais etc. (Alavanja et
s er influ enciada por algumas caracter í s ticas pe s- a l. , 2004; Bra s i l , 1997; Colosso et al. , 2003, Gar-
soais, tais como tabagismo, alcoolismo e o estado cia, 1996; Si lva et al., 1999; Si lva, 2000). O qu a-
nutri c i onal. Concordam, ainda, quanto a: d ro 1 apre s enta uma síntese dos principais si-
1) Substâncias químicas e tem pera tu ras el eva- nais e sintomas agudos e crônico s .
das – o aumento da temperatura atmosférica
a u m enta a vo l a ti l i d ade e a pressão de vapor das
substâncias qu í m i c a s , a u m en t a n do sua dispo- A informação sobre as intoxicações
nibilidade para inalação e/ou absorção cutâ- por agrotóxicos
nea. Au m enta também a vel oc i d ade circ u l a t ó-
ri a , aumen t a n do ainda mais a absor ç ã o. No Brasil, as informações em saúde en con-
2) Substâncias químicas e esforço laboral – o tram-se dispersas em várias bases de dado s , de
e s forço físico aumenta a ven tilação pulmonar. forma fragm en t ada e desarticulada. Como he-
Assim, o organismo se vê exposto a maiore s rança da vigilância ep i dem i o l ó gica das doen ç a s
qu a n tidades de tóxicos ex i s tentes no ar. i n fecciosas de notificação compulsória, privile-
E s tes aspectos são rel evantes, ten do em vis- gia-se o regi s tro de doenças. Is to dificulta o co-
ta que os agri c u l tores em geral de s envo lvem as nhecimen to dos seus condicion a n tes e deter-
a tividades de preparo e aplicação dos agro t ó x i- m i n a n tesnas condições de vida e trabalho con-
cos numa situação em que estão pre s entes, ao c retas dos trabalhadores (Freitas CU et al.
mesmo tem po, m i s tu ras de agro t ó x i co s , esfor- 1986; Bra s i l , 1996 a 2001).
ço físico e tem pera tu ras el evad a s . A dificuldade de acesso dos agri c u l tores às
Os agro t ó x i cos são absorvidos pelo corpo u n i d ades de saúde , o de s prep a ro das equ i pes de
humano pelas vias respiratória e dérmica e, em s a ú de para rel ac i onar probl emas de saúde com
m en or qu a n ti d ade , também pela via ora l . Uma o trabalho em geral e com a exposição aos a gro-
vez no organismo hu m a n o, poderão causar tóxicos de forma particular, os diagn ó s ti cos in-
qu ad ros de intoxicação aguda ou crônica. corretos, a escassez de laboratórios de mon i to-
Sa be-se que a ex posição a um determ i n ado ra m en to bi o l ó gi co e a inexistência de bi omar-
produto químico em gra n des doses por um c u r- c adores precoces e/ou con f i á veis são alguns do s
to período causa os ch a m ados efei tos agudos, fatores que influem no subdiagnósti co e no
eventos amplamente descritos na literatura su b - regi s tro. Portanto, pode-se afirmar que os
médica. A associação causa/efei to é, gera l m en- dados oficiais brasilei ros sobre intox i c a ç õ e s
te , fácil de ser estabel ec i d a . Em linhas gera i s , o por agro t ó x i cos não retratam a gravidade de
qu ad ro agudo varia de inten s i d ade, desde leve nossa re a l i d ade, como podemos constatar nos
até grave, poden do ser caracterizado por náu- estudos de Freitas et al. (1986), Peres et al.
sea, v ô m i to, cefaléia, tontura, desorientação, (2001), Morei ra et al. (2002) en tre outros.
h i perexcitabilidade , parestesias, irritação de pe- Entre as bases de dados de interesse para a
le e mu co s a s , fasciculação mu s c u l a r, dificulda- á rea de saúde do trabalhador podem-se desta-
de re s p i ratória, h em orragia, convulsões, com a car a Comunicação de Ac i dente do Trabalho
e morte . (CAT) , o Si s tema de Mortalidade (SIM), Si s te-
Ao con tr á rio, os ch a m ados efei tos crônicos, ma de Internação Hospitalar (SIH), o Si s tema
que estão relacionados com exposições por lon- Nac i onal de In formação Tóxico - Fa rm aco l ó gi-
899

Quadro 1
Relação en tre ti pos de exposição a agro t ó x i cos e sinais e sintomas clínicos pre s en te s .
Exposição
Única ou por per í odo curto Con ti nuada por lon go per í odo
Sinais e sintomas agudo s Náusea; cefaléia; ton tu ra; vômito; p a re s te s i a s ; Hem orragias, h i persen s i bi l i d ade, teratogênese
fasciculação mu s c u l a r; de s orientação; e morte fetal.
dificuldade re s p i ratória; com a ; m orte .

Sinais e sintomas crônico s Pa resia e paralisia reversíveis; ação neu rotóxica Lesão cerebral irrevers í vel ; tu m ores malignos;
ret a rd ada irreversível; p a n c i topen i a . atrofia te s ticular; e s teri l i d ade masculina;
a l terações com portamentais; neuri tes
periféricas; derm a ti tes de con t a to ; formação
de catarata; atrofia de nervo óti co ; lesões
h ep á ticas etc .
Fon te : Ma nual de Vi gi l â n cia da Saúde de Populações Expostas a Agrot ó xico s, 1996, OPAS/OMS (Brasil, 1997).

ca (Si n i tox) e Si s tema Nac i onal de In form a ç ã o de informações rel a tivas a este ti po de intoxica-
de Agravos No ti f i c á veis (Si n a n ) . ção ainda não estão amplamen te implantados
No caso das intoxicações por agro t ó x i cos o em todo o terri t ó rio nac i onal (Brasil, 1997).
Si n i tox é uma referência importante. Sua base E s te quad ro pode sofrer alguma mod i f i c a-
de dados é alimentada por formulários preen- ção com a implantação da portaria no 777, de
ch i dos pela rede de 32 Cen tros de Con trole de 28 de abril de 2004, do Ministério da Saúde,
In toxicações ex i s ten tes em 18 Estados bra s i l ei- que define, en tre outros pon to s , que as intox i-
ro s . O sistema não é universal, não é com p u l- cações exógenas, dentre elas aqu elas causadas
sóri o, regi s tra pri oritari a m en te casos agudos e por agro t ó x i cos, são de notificação com p u l s ó-
os casos aten d i dos não são noti f i c ados aos Si s- ria no país. Esta obri ga tori ed ade de notificação
temas de In formação do SUS. Ressalta-se ainda em todos os níveis de atenção à saúde do SUS
a ausência de discriminação qu a n to à categoria pode ampliar a cobertu ra de noti f i c a ç ã o, com
oc u p ac i onal do tra b a l h ador assisti do. Todos es- con s eqüen te mel h oria na iden tificação dos a gra-
tes aspectos dificultam, tanto uma melhor ca- vos à saúde e nos estu dos e pesquisas, i n clusive
racterização ep i dem i o l ó gica do fen ô m eno ob- a qu eles de corte ep i dem i o l ó gi co (Bra s i l , 2004).
servado, como também a estrutu ração de ações
de vigilância e de intervenção na situação de Alguns re su l t a dos de estudos do Gestru
trabalho causadora do adoecimen to (Ben a t to
A, 2002; Bra s i l , 1996 a 2001). Os estu dos desenvo lvi dos pelo gru po estão
No período compreendido entre 1996 e sendo re a l i z ados na região metropolitana de
2001 foi registrado no Si n i tox um total de Belo Hori zonte, importante pólo hortifruti-
438.889 intoxicações sen do que 34.783 (7,92%) gra n j ei ro, e em regiões flori c u l tora, c a n avieira
foram classificadas como de ori gem oc u p acio- e cafeei ra de Minas Gera i s .
nal. Das intoxicações ocupacionais, 11.453 Os municípios horticultores se caracteri z a-
(32,9%) foram registradas como causadas por ram essen c i a l m en tepela pequ ena propri ed ade
a gro t ó x i cos e afins, i n clu i n do produtos veteri- e pelo trabalho familiar. Foi ob s ervado que os
nários, raticidas, dom i s s a n i t á rios e agro t ó x i co s agri c u l tores recebem pouco preparo técnico
de uso agr í cola ou domésti co (Ben a t to, 2002; para desenvo lver o “ofício das hortas”. É o pai
Brasil, 1996 a 2001). que lhes ensina o que apren deu com o pr ó prio
O utra fon te de dados importante no caso pai ou com vizinhos e amigos, m a n tendo, as-
das intoxicações por agro t ó x i cos é o Si n a n , que sim, um círculo de apren d i z a gem. Desta form a
i n corporou em 1995, com a criação do Progra- a incorporação de pr á ticas agr í colas altern a ti-
ma de Vi gilância da Sa ú dede Populações Ex po s- vas tem encontrado re s i s t ê n c i a . Ob s erva-se
tas aos Agrotóxicos, a notificação e inve s ti ga ç ã o uma intensa utilização de adubos e agro t ó x i-
de intoxicações por agro t ó x i cos. Apesar de su a co s , principalmen te os fungicidas e os inseti c i-
a brangência nac i on a l , a notificação e o registro das organofo s forados, muitas vezes utilizados
900

s i mu l t a n e a m en te . Verificou-se, ainda, uma di- Con cluindo, o Gestru vem utilizando uma
visão sexual do trabalho, c a ben do quase exclu- série ampla de metodologias qu a n titativas,
s iva m en te aos hom ens o prep a ro e aplicação de qualitativas, ep i dem i o l ó gi c a s , er gon ô m i c a s , das
agro t ó x i cos (Nova to - Si lva et al., 2004; Si lva et ciências sociais, cl í n i c a s , laboratoriais, i mu n o-
a l ., 1999; Si lva, 2000). l ó gicas que se com p l em entam e buscam inovar
Os principais sintomas relatados pelos tra- numa abord a gem integrada e multidisciplinar
b a l h adores foram form i ga m en to nos mem bro s das situações de ex posição e dos qu ad ros de in-
i n feri ores, ep i ga s tra l gia, cef a l é i a , ton tu ras, a l te- toxicação por agro t ó x i co s , principalmente no
rações da memória e alterações do son o. To- que tange às situações reais de uso múltiplo e
mando por base os valores de norm a l i d ade da crônico ob s ervado em Minas Gera i s .
população gera l , as alterações labora toriais mais
en con tradas foram: a u m en to de fosfatase alca-
lina, hipoglobu l i n emia e aumento de Gama- Con s i derações finais
G lutamil Transferase (Si lva et al., 1999; Silva,
2000). Al terações do sistema imune, como re- A agri c u l tu ra bra s i l eira se de s envo lve num ce-
dução da ativi d ade pro l i fera tiva de linfócitos e nário econ ô m i co, social, i deológi co e cultural
a l terações da capac i d ade fagoc í tica de leu c ó c i- caracterizado pela intensa concentração fun-
tos, en tre outras, foram en contrad a s , sugerin- diária, pelo ganho de produtividade, pela in-
do quadros de imu n odepressão e envel h ec im en- corporação de tec n o l ogias com gra n de impac-
to met a b ó l i coprecoce (Sa n to s , 2003). to sobre a saúde humana e ambiental e pelo
Apesar da intensa utilização de agrotóxicos cre s c i m en todas ex portações e do agron eg ó c i o.
na horticultura e da freqüência de intoxicações Ob s ervamos ainda uma participação significa-
con s t a t adas cl i n i c a m ente, apenas se con s t a to u tiva do trabalho do men or e ocorrência do tra-
redução da ativi d ade da co l i n e s terase plasmáti- balho escravo em algumas regiões. Este cen á ri o
ca em um número relativamente pequeno de cria as condições para a com posição de um qu a-
tra b a l h adores (10,4%) (Si lva et al., 1999; Si lva, dro bastante desfavorável para a saúde dos tra-
2000). E s te ach ado, já apon t ado por outros au- balhadores do setor.
tores (Freitas et al. , 1986; Breilh, 2003; Ka m a n- A su peração de tal qu ad ro con s ti tui-se nu m
yire e Kara ll i edde, 2004), a testa a limitação da gra n de desafio para todos os atores sociais en-
do s a gem de ativi d ade de co l i n e s terase plasmá- volvi dos com a questão. Ne s te sen ti do, a idéia de
tica como indicador de intoxicação, refor ç a n do uma Produção Seg u ra , em que o pro ce s so de tra-
a nece s s i d ade da inve s tigação de bi om a rc ado- balho deve produzir, igualmen te bem , produtos e
res mais sen s í veis (Si lva et al. , 2004). saúde (Vi d a l , 1997), nos parece muito intere s-
Nas regiões flori c u l toras e canavi ei ras estu- s a n te. Ou seja, produ ç ã o, produtivi d ade, m ei o
d ad a s , ob s ervou-se predomínio do trabalho as- ambien te e saúde das populações humanas de-
salari ado. Na flori c u l tu ra , os principais produ- vem ser con s i deradas, articulad a m en te nu m
tos identificados foram os organofosforados, proj eto de susten t a bi l i d ade, um com promisso a
os carbamatos e os fungicidas. Queixas como s er tra b a l h ado e de s envo lvi do. Pa ra tanto é ne-
náuseas, vômitos, cef a l é i a , irri t a bilidade , redu- cessário o exercício de uma abord a gem inters e-
ção da mem ó ri a , s ensação de “de s l i ga m ento do torial e interd i s c i p l i n a r, envo lven do pelo men o s
mundo” foram bastante comuns. Já na região a saúde, a agri c u l tu ra, a ciência e tec n o l ogia, o
c a n avieira, os produtos mais utilizados foram meio ambi en te , o trabalho e a ex tensão ru ral. Is-
os herbicidas, em especial o 2,4-D. As princi- to co l oca um gra n de desafio para os atores so-
pais qu eixas foram: redução da mem ó ria, difi- ciais interessados na questão:
c u l d ade de con cen tração e alterações do son o. • Para as empresas públicas e privadas qu e
Em 1999, o Gestru e a Fu n d acen tro-MG re a- têm a função de produzir tec n o l ogias mais ef i-
lizaram um levantamento ep i demiológico em c i en tes e ef i c a ze s .
72 tra b a l h adores ru rais de 8 municípios da re- • Para os trabalhadores e suas entidades de
gião de Mu ri a é , na Zona da Mata minei ra , sen- representação e organizações não-governam en-
do re a l i z ada a do s a gem da colinesterase plas- tais, à medida qu e , a partir de sua vivência co-
m á tica pelo método de Edson com o kit Lovi- tidiana, sinalizam e acompanham os impacto s
Bon d . Foi constatada uma prevalência de 56,7% de tais tecnologias, con s i dera n do a produ ç ã o, a
de trabalhadores ex postos a agro t ó x i cos or ga- produtivi d ade , o meio ambi en te e a saúde .
n ofo s forados e carb a m a tos com a atividade de • Pa ra as em presas agrícolas, que têm o desa-
co l i n e s terase plasmática redu z i d a . fio e a re s pon s a bi l i d ade de com p a ti bilizar pro-
901

dutividade com a prevenção e promoção da 2) In corporação tec n o l ó gica


saúde dos tra b a l h adores. e assistência técnica
• Para o Estado, que tem papel de intervir
d i a n te de situações que se caracterizam com o • E l a borar propostas de ações políticas qu e
danosas à saúde das pe s s oas e ao meio ambi en te . facilitem acesso às tec n o l ogias e à assistência
Em um con tex to de con cepções e intere s s e s técnica.
tão diversos e conflituosos é fundamental a • Garantir uma assistência técnica que esti-
con s trução de um diálogo aberto e con t í nuo de mule o uso de tec n o l ogias altern a tivas.
todas as partes interessadas. A exclusão de qual-
qu er das partes, parti c u l a rm en te dos tra b a l h a- 3) In formação e edu c a ç ã o
dores agrícolas, só con corre para a perpetuação
de um qu adro já bastante grave de saúde dos • In cluir, com urgência, o registro dos casos
tra b a l h adores ru rais bra s i l ei ro s . Pa ra tanto é n e- de intoxicação por agro t ó x i cos nos Sistemas
ce s s á rio o estabel ec i m en to de uma agenda qu e Nac i onais de In formação de Sa ú de.
con tem p l e , pelo men o s , as seg u i n tes qu e s t õ e s : • Implantar um Si s tema de Vigilância das Po-
pulações Ex postas a Agrotóxicos.
1) Política de ciência e tec n o l ogia • Definir e implem entar estratégias de edu-
cação/informação que mobi l i zem a sociedade
• De s envo lver pr á ticas altern a tivas para o en- na discussão da questão da utilização dos agro-
f rentamento de pragas, doenças, vetores etc., tóxicos.
menos danosas à saúde humana e ao meio am-
bi en te. 4) O rganização da assistência à saúde
• Provocar deb a tes com o governo e a socie-
dade civil, sobre a necessidade urgente de se b a- • O r ganizar a atenção à saúde do trabalhador
nir do Brasil produtos já proibi dos em outro s rural no âmbito do Si s tema Único de Saúde,
países, por exemplo, o Endo s su l f a n . em particular na Atenção Básica.
• Fom entar a pesquisa, nas seg u i n tes linhas: • Formar e capacitar profissionais de saúde pa-
a) efei tos crônicos do uso de agrotóxicos: c â n- ra a intervenção nos probl emas de saúde e mei o
cer, reprodu ç ã o, m a l formações congênitas, imu- ambi en te rel ac i on ados ao uso de agrotóxicos.
notoxicidade , n eu ro tox i c i d ade, en tre outro s ;
b) efei tos agudos rel ac i on ados aos piretróides, 5) Aperfei ç oamen to do arc a bouço ju r í d i co
fungicidas, herbi c i d a s ; rel a c i on a do com a qu e s t ã o
c) pesquisas que suportem práticas agrícolas
alternativas viáveis; • Avaliar a adequação das leis, normas, por-
d) mapeamento do uso de agrotóxicos no p a í s , tarias e outros instrumentos que regulamen-
con s i dera n do ti po de cultu ra , tamanho da pro- tam a questão do uso de agro t ó x i cos à luz dos
pri ed ade, processo de trabalho etc. conhecimentos produzidos e da experiência
ac u mu l ada dos trabalhadores e técnicos.

Co l a boradore s

Todos os autore s partic ip aram igualmen te da con cepção


teórica, revisão bi bl i ográfica, elabora ç ã o, organização e
redação final do tex to.
902

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