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O Herói Byroniano Brasileiro de J. M. de Macedo: O Trovador de

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Revista Crop - nº 15/2010<br />

Revista <strong>de</strong> Estudos Linguísticos e Literários em Inglês<br />

www.fflch.usp.br/dlm/lingles/Lcorpo_ingles.htm<br />

PIRES, Ramira. O <strong>Herói</strong> <strong>Byroniano</strong> <strong>de</strong> J. M. <strong>Macedo</strong>: O <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong> A Nebulosa. pp. 3-25<br />

O <strong>Herói</strong> <strong>Byroniano</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> J. M. <strong>de</strong> <strong>Macedo</strong>:<br />

O <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong> A Nebulosa<br />

3<br />

Ramira Pires ∗<br />

Resumo: Melancólico, auto<strong>de</strong>strutivo, obcecado por um amor impossível e isolado no<br />

cume <strong>de</strong> seu rochedo negro numa enseada tropical, O <strong>Trovador</strong>, protagonista <strong>de</strong> A<br />

Nebulosa (1857), <strong>de</strong> Joaquim Manuel <strong>de</strong> <strong>Macedo</strong>, comporá uma das melhores versões, no<br />

romantismo brasileiro, do herói byroniano. Os protagonistas dos poemas narrativos <strong>de</strong><br />

Lord Byron - seres <strong>de</strong>moníacos, fatais, indomáveis e misteriosos - <strong>de</strong>ram origem ao termo<br />

“herói byroniano”, que entrou para o repertório literário. Este estudo buscou paralelos e<br />

divergências entre a tradição do herói byroniano, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Satã e Prometeu até Fausto, os<br />

vilões dos romances góticos, os heróis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> do Romantismo e os heróis <strong>de</strong><br />

Byron. Nossas conclusões apontam para a faceta <strong>de</strong> <strong>Macedo</strong> que abraça o projeto<br />

romântico <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma literatura nacional, ao mesmo tempo em que dialoga, <strong>de</strong><br />

forma criativa, com a cultura literária européia.<br />

Palavras-chave: herói byroniano; A Nebulosa; J. M. <strong>de</strong> <strong>Macedo</strong>; Lord Byron.<br />

Joaquim Manuel <strong>de</strong> <strong>Macedo</strong>’s Brazilian Byronic Hero:<br />

The Troubador in A Nebulosa<br />

Abstract: Melancholic, self-<strong>de</strong>structive, tormented by unrequited love, and isolated on top<br />

of his black rock in the tropical cove, the <strong>Trovador</strong>, protagonist of Joaquim Manuel <strong>de</strong><br />

<strong>Macedo</strong>’s “A Nebulosa”, will be one of the best versions in Brazilian Romanticism of the<br />

Byronic hero. The protagonists of Byron’s verse tales – <strong>de</strong>vilish, fatal, indomitable and<br />

mysterious – originated the term “byronic hero”, which is part of the literary vocabulary. It<br />

is the aim of this study to establish parallels and differences between the tradition of the<br />

byronic hero, from Satan and Prometheus to Faustus, the villains of the gothic novels, the<br />

∗ Pós-doutora pela University of Bristol, UK, 2008. Docente da FCLAr, UNESP – Araraquara, Departamento<br />

<strong>de</strong> Letras Mo<strong>de</strong>rnas, até agosto <strong>de</strong> 2010.


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heroes of sensibility of the Romantic Period and Byron’s heroes. Our conclusions <strong>de</strong>lineate<br />

a <strong>Macedo</strong> who both embraces the project of Brazilian romanticism for the construction of a<br />

national literature and establishes a creative dialogue with European literary culture.<br />

Keywords: Byronic hero; A Nebulosa; J. M. <strong>de</strong> <strong>Macedo</strong>; Lord Byron.<br />

O <strong>Herói</strong> <strong>Byroniano</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> <strong>Macedo</strong>: O <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong> A Nebulosa<br />

I want a hero; an uncommon want,<br />

When every year and month sends forth a new one,<br />

Till, after cloying the gazettes with cant,<br />

The age discovers he is not the true one;<br />

Of such as these I should not care to vaunt,<br />

4<br />

(Don Juan, I)<br />

O <strong>Trovador</strong>, protagonista <strong>de</strong> A Nebulosa (1857), <strong>de</strong> Joaquim Manuel <strong>de</strong> <strong>Macedo</strong>,<br />

po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado uma versão brasileira dos heróis pré-românticos e românticos<br />

ingleses. Solitário, auto<strong>de</strong>strutivo, melancólico, obcecado por um amor impossível,<br />

irascível, e isolado no cume <strong>de</strong> seu rochedo negro na enseada tropical, comporá a versão<br />

macediana do rebel<strong>de</strong> europeu:<br />

Quem é ele?<br />

[...]<br />

Ninguém se lembra conhecê-lo outrora;<br />

Há um mês apareceu, só, mudo e triste<br />

[...]<br />

Não quer ouvir ninguém; não diz seu nome;<br />

Traja negros vestidos, rubra capa<br />

Pren<strong>de</strong> nos ombros;<br />

[...]<br />

Fora belo talvez, se estátua fora;


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Mas dá-lhe a vida um parecer sinistro;<br />

Pelos traços distintos agrada o rosto;<br />

Carrancudo, porém, sombrio e turvo,<br />

O fel do coração nele transpira;<br />

Alto e <strong>de</strong>lgado não se dobra aos anos,<br />

Mancebo ainda pisa firme a terra.<br />

Tem pretos os cabelos, que lhe on<strong>de</strong>iam<br />

Sobre as espáduas; a elevada fronte<br />

E o rosto pelo sol se vêm tisnados;<br />

Ar<strong>de</strong>m-lhe os negros olhos como raios,<br />

E a graciosa boca é muda a todos.<br />

Nas formas varonis se ostenta a força<br />

De vigoroso braço afeito à luta;<br />

Não é gentil, no entanto, antes repele:<br />

Ressumbra em seu olhar <strong>de</strong>sprezo ao mundo;<br />

Da fronte no enrugar, dos supercílios<br />

No terrível franzir se apanha a idéia<br />

De um coração inóspito para os homens;<br />

Nos seus lábios às vezes um sorriso,<br />

Que não é rir, que é onda <strong>de</strong> sarcasmo,<br />

Confun<strong>de</strong> a quem o vê; não fala nunca,<br />

E n’um véu <strong>de</strong> mistérios envolvido,<br />

Vaga, escon<strong>de</strong>ndo ao mundo, que <strong>de</strong>testa,<br />

Seu nome, seu viver, e a dor que abafa.<br />

5


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6<br />

(<strong>Macedo</strong>, 1857, Canto I, X pp.8-10) 1<br />

Este trecho inicial, emblemático, seria suficiente para caracterizar o <strong>Trovador</strong> como um<br />

herói tipicamente byroniano. A testa alta, os olhos negros, o traje imponente, aliados à<br />

postura ameaçadora e à misantropia são atributos que convergem para o <strong>de</strong>moníaco –<br />

caráter dominante do herói byroniano, que o <strong>de</strong>staca <strong>de</strong>ntro da tradição heróica mais<br />

ampla.<br />

Os protagonistas <strong>de</strong> Byron – seres <strong>de</strong>moníacos, fatais, sombrios e<br />

misteriosos – <strong>de</strong>ram origem ao termo “herói byroniano”, que entrou para o repertório<br />

literário. 2 Com o jovem herói <strong>de</strong> Child Harold’s Pilgrimage (1812, 1816, 1818), Byron<br />

primeiro esboçou o retrato do herói byroniano; com o Giaour (The Giaour, 1813), Selim<br />

(The Bri<strong>de</strong> of Abydos, 1813) e Conrad (The Corsair, 1814), Byron <strong>de</strong>senvolveu seu<br />

protagonista e com Lara (1814), o último <strong>de</strong> seus quatro contos versificados, o poeta inglês<br />

apresentou uma versão já bem completa do retrato do herói byroniano.<br />

Peter Thorslev faz um amplo estudo dos antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>ste herói, suas origens<br />

espalhadas, sobretudo, na tradição heróica pré-romântica e gótica, que já existia meio<br />

século antes <strong>de</strong> seu aparecimento. 3 A i<strong>de</strong>ntificação e a análise que Thorslev realiza <strong>de</strong>sses<br />

protagonistas propicia uma visão das características individuais que são <strong>de</strong>pois combinadas<br />

nas várias nuances do herói romântico byroniano.<br />

Os protagonistas <strong>de</strong> Byron, inclusive os das peças versificadas, como Manfred<br />

(1817), são versões ou fusões dos vilões e dos heróis do Pré-Romantismo (Gótico) e do<br />

Romantismo: Child Harold é o herói-vilão amante da natureza, com forte pendor para a<br />

meditação moralizante; o Giaour, Lara e Manfred <strong>de</strong>vem muito ao vilão gótico; todos os<br />

protagonistas dos contos versificados são nobres fora-da-lei, herdados <strong>de</strong> Walter Scott –<br />

piratas, salteadores, chefes <strong>de</strong> bandos –; enquanto outros são contemplativos como<br />

1<br />

Todas as citaçãoes <strong>de</strong> “A Nebulosa” são da segunda edição (1857), relacionada na bibliografia. Foram<br />

feitas atualizações ortográficas.<br />

2<br />

Existe um outro Byron, mais satírico e irreverente. É o Byron <strong>de</strong> Beppo, The Vision of Judgement e Don<br />

Juan. Mas este não é o Byron que nos interessa aqui.<br />

3<br />

Thorslev classifica sete tipos principais <strong>de</strong> protagonistas: O Filho da Natureza; o <strong>Herói</strong> <strong>de</strong> Sensibilida<strong>de</strong><br />

(subdividido em Homem <strong>de</strong> Sentimento e Egoísta Taciturno); o Vilão Gótico; o Bandido <strong>de</strong> Coração<br />

Sensível; o Faústico; o híbrido Caim-Ju<strong>de</strong>u Errante e o Satã-Prometeu.


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Manfred, Cain e Child Harold. Todos, contudo, são heróis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong>, como observa<br />

Thorslev, <strong>de</strong> alguma forma anseiam por serem absorvidos pelo universo que os cerca e têm<br />

uma enorme capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentimento, sobretudo <strong>de</strong> ternura e da paixão do amor (p.188).<br />

Assim, além do satanismo e da sensibilida<strong>de</strong>, que são os caracteres centrais do<br />

herói byroniano, observam-se outros traços que gravitam em torno <strong>de</strong>ste núcleo:<br />

impetuosida<strong>de</strong>, egocentrismo, misantropia, orgulho e <strong>de</strong>sespero.<br />

O satanismo está ligado à rebelião em nome do individualismo, típica do<br />

Movimento Romântico, um individualismo que <strong>de</strong>staca o homem sensível como um<br />

homem entre homens e, portanto, um proscrito que, no seu isolamento, rebela-se contra as<br />

normas da socieda<strong>de</strong>, o po<strong>de</strong>r instituído e muitas vezes, contra Deus. Os ancestrais <strong>de</strong>ste<br />

herói romântico são o Satã <strong>de</strong> O Paraíso Perdido (1667) <strong>de</strong> John Milton que, a partir do<br />

século XVIII, é reinterpretado como herói do poema, e, antes, Prometeu, recriado no<br />

Romantismo por Goethe, Shelley e Byron. Satã – seu espírito inventivo e sua orgulhosa<br />

auto-afirmação, bases da hybris – fundamenta a autoconfiança, o humanismo do<br />

Romantismo. Prometeu – a maior figura para os românticos – encarna a luta do homem<br />

contra a opressão em todas as suas formas.<br />

A Nebulosa, <strong>de</strong> Joaquim Manuel <strong>de</strong> <strong>Macedo</strong>, explicita o paralelo entre o <strong>Trovador</strong><br />

e o titã grego: “Somente como à rocha enca<strong>de</strong>iado / Mo<strong>de</strong>rno Prometeu, firme resiste /<br />

Mísero <strong>Trovador</strong>;” (p.22). “Mo<strong>de</strong>rno”, diz <strong>Macedo</strong>, seu trovador seria uma versão<br />

diminuída <strong>de</strong> Prometeu: sua revolta já não por uma causa tão nobre – <strong>de</strong>sespero <strong>de</strong> amor.<br />

“Tropical e latino”, acrescentaríamos nós: volta-se para feitiçaria para tentar conseguir o<br />

amor da Peregrina, porém, filho <strong>de</strong> cultura <strong>de</strong> profundas raízes católicas, sente-se<br />

amaldiçoado por Deus:<br />

Minha esperança em hora <strong>de</strong> loucura<br />

Caiu dos pés <strong>de</strong> Deus no caos do inferno.<br />

Não longe, em fundo vale e gruta horrível,<br />

Vendia filtros e conselhos tredos<br />

Astuta feiticeira: procurei-a;<br />

Entrei no antro e consultei a maga;<br />

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Minha boca respira ar <strong>de</strong> morte,<br />

Os meus olhos têm brilho fatal,<br />

Sou maldito que o céu reprovou,<br />

On<strong>de</strong> eu chego <strong>de</strong>sgraça chegou.<br />

8<br />

(Canto II, XXV, p.69)<br />

(Canto II, p.27 4 )<br />

Por <strong>de</strong>z anos segue os conselhos da velha feiticeira: primeiro busca louros em<br />

batalhas, <strong>de</strong>pois compõe os mais belos versos:<br />

[...]<br />

Nenhum mais bravo; poucos tão ditosos<br />

Houve como eu; minha espada um raio<br />

Aos inimigos foi; jamais vencido<br />

Venci mil vezes; proclamou-me a fama<br />

<strong>Herói</strong> guerreiro; <strong>de</strong> troféus coberto<br />

Voltei garboso; da mulher, que amava,<br />

Corri aos pés, <strong>de</strong>pus-lhe os da vitória<br />

Imarcescíveis louros; e em resposta,<br />

Quando pedi-lhe amor – Jamais! – me disse<br />

De novo a maga exasperado busco;<br />

Lanço-lhe em rosto o pérfido conselho:<br />

– Louros lhe trouxe! brado-lhe e <strong>de</strong>bal<strong>de</strong>,<br />

Não tive amor! Que lhe trarei agora?...-<br />

(Canto II, XXVI, p.71)<br />

4 Atente-se aqui para um erro na numeração das estrofes na edição utilizada. Manteve-se como no original.


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Torna a cismar a feiticeira astuta;<br />

E enfim erguendo a fronte, disse – cantos.<br />

Meus hinos pelos vales entornando,<br />

Graças e nome eternizei da ingrata.<br />

[...]<br />

Voltei enfim, e as harmonias<br />

9<br />

(Canto II, XXVII, p.72)<br />

Fui <strong>de</strong>por, como outrora os nobres louros,<br />

Aos pés da cruel virgem;<br />

[...]<br />

E ela ainda uma vez – Jamais – me disse.<br />

(Canto II, XXVIII, p.73,74)<br />

Desenganado, o <strong>Trovador</strong> isola-se do mundo, busca o mar e a rochedo negro; o sol tropical<br />

queima seu rosto durante o dia, a luz da lua ilumina seu vulto, à noite, e o vento faz voar-<br />

lhe a capa e os cabelos. Esbraveja, urra, chora, toca sua harpa e prepara-se para abraçar a<br />

morte.<br />

Também Manfred, o herói do poema dramático homônimo <strong>de</strong> Byron, <strong>de</strong> 1817,<br />

buscara na magia a solução para sua dor: evoca sete espíritos da terra e dos elementos e<br />

pe<strong>de</strong> o dom do esquecimento do passado quando, por sua culpa, sua amada Astarte,<br />

perecera. Impotentes no que diz respeito ao passado, os espíritos não po<strong>de</strong>m aten<strong>de</strong>r ao<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> Manfred. A Feiticeira dos Alpes afirma po<strong>de</strong>r ajudá-lo, mas <strong>de</strong>manda um<br />

juramento <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>. Manfred recusa a submissão a ela e também ao gran<strong>de</strong> Arimames,<br />

rejeita subordinação a qualquer autorida<strong>de</strong>. Do <strong>Trovador</strong> não foi exigida sujeição por parte<br />

da feiticeira, mas também ele é altivo e soberbo: jamais se prostra diante do divino para<br />

pedir o amor da Peregrina que a Deus <strong>de</strong>dicou sua vida:


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Goza-se Deus e o gozo não fatiga,<br />

E no êxtase o gozo beatifica.<br />

[...]<br />

É Deus o esposo que a pureza vela<br />

Da Virgem que em celeste amor se abrasa;<br />

Quanto mais pura mais esposa é ela,<br />

Eu sou pura! Sou <strong>de</strong>le! A Deus só amo!<br />

10<br />

(Canto IV, XXVII, p.167)<br />

A misericórdia divina tanto para o <strong>Trovador</strong>, quanto para Manfred, não é um<br />

recurso contemplado, justamente pelo caráter prometêico e satânico <strong>de</strong>stes heróis.<br />

Contudo, a existência do divino não é questionada. Ouçamos Manfred e <strong>de</strong>pois o<br />

<strong>Trovador</strong>:<br />

[...]<br />

Fifth Spirit – Dost thou dare<br />

Refuse to Arimanes on his throne<br />

What the whole Earth accords, beholding not<br />

The terror of his glory? – Crouch! I say.<br />

Manfred – Bid him bow down to that which is above him.<br />

The overruling Infinite – the Maker<br />

Who ma<strong>de</strong> him not for worship – let him knell,<br />

And we will kneel together.<br />

[…]<br />

[...]<br />

Deus em noss’alma liberda<strong>de</strong> acen<strong>de</strong>;<br />

(Manfred, cena IV, p.145)


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O resto a nós compete; a inteligência<br />

Do falso discrimine o verda<strong>de</strong>iro;<br />

Pu<strong>de</strong>nte estu<strong>de</strong> o bem e livre o siga<br />

O homem na vida;<br />

[...]<br />

Feitura nossa, e não filha do acaso<br />

É a <strong>de</strong>sgraça; nossos pés a buscam,<br />

Afagada por nós a nós se chega,<br />

[...]<br />

E quando a víbora mor<strong>de</strong>, praguejamos<br />

Com vãos arrancos <strong>de</strong> vaida<strong>de</strong> estulta.<br />

[...]<br />

11<br />

(Canto I, XX, p.18)<br />

Mas o reino divino já não é acessível a eles porque a ele não foram fiéis – buscaram a<br />

magia – e porque sua auto-suficiência <strong>de</strong>safia o divino.<br />

O remorso é um traço que corrói os dois heróis, mas aqui se estabelece uma<br />

diferença fundamental entre eles. O <strong>Trovador</strong> recrimina-se por haver abandonado a mãe,<br />

viúva e enferma: “Oh! Deixei minha mãe!... tão só e enferma,/ Filho ingrato olvi<strong>de</strong>i <strong>de</strong>ver<br />

sagrado” (Canto II, XXVI, p.71); “Amor funesto! – Afeto matricida,/ Que a minha mãe <strong>de</strong>z<br />

anos já me arrancas.../ Oh minha pobre mãe! Vive ela ainda?!... (A Doida, XXX, p.77-78).<br />

Manfred, por sua vez, con<strong>de</strong>na-se por ter levado à morte sua amada, Astarte. Enquanto o<br />

<strong>Trovador</strong> recrimina-se por um valor social e religioso do qual compartilha – o amor<br />

materno –, Manfred sofre uma dor íntima – seu amor levou à morte. Há, ainda, um caráter<br />

incestuoso na relação entre Manfred e Astarte que se infere por várias pistas <strong>de</strong>ixadas no<br />

texto. 5 Entretanto, não é o incesto a causa do arrependimento <strong>de</strong> Manfred. Como lembra<br />

5 A relação incestuosa retratada no texto <strong>de</strong> Byron tem sido ligada, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a época <strong>de</strong> sua publicação, à relação<br />

<strong>de</strong> Byron com sua meia-irmã Augusta Leigh, alegada por sua esposa Annabela Milbanke e causa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>


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Peter Thorslev, o remorso <strong>de</strong> Manfred acontece “only because his passion has caused the<br />

<strong>de</strong>ath of the one thing in life which he loved” (p.168). Manfred, bem como todos os heróis<br />

<strong>de</strong> Byron, não a<strong>de</strong>rem aos códigos morais da socieda<strong>de</strong>, criam seus próprios valores<br />

humanos, e seus pecados e remorsos são transgressões <strong>de</strong> seu próprio código moral.<br />

Thorslev observa que o remorso é um traço bastante importante no caminho<br />

da plasmação do herói romântico byroniano: os heróis dos romances góticos – fracos,<br />

sentimentais e absolutamente ineficientes 6 – serão <strong>de</strong>scartados e os vilões <strong>de</strong>stes mesmos<br />

romances, <strong>de</strong>vidamente transformados pelo remorso e tornados egocêntricos e analíticos <strong>de</strong><br />

suas emoções, serão os heróis românticos – meio-vilões, meio-heróis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> – <strong>de</strong><br />

Walter Scott e <strong>de</strong> Byron (p.52).<br />

Não se po<strong>de</strong> precisar o quanto Joaquim Manuel <strong>de</strong> <strong>Macedo</strong> leu os góticos e<br />

românticos do velho continente, mas sabe-se que quando chega ao Rio <strong>de</strong> Janeiro para<br />

estudar Medicina, por volta <strong>de</strong> 1838, encontra uma cida<strong>de</strong> que, a <strong>de</strong>speito da gran<strong>de</strong> massa<br />

<strong>de</strong> analfabetos, propicia aos letrados uma razoável quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> jornais e obras literárias.<br />

Nas boticas anexas aos jornais alugavam-se e vendiam-se livros e a isenção <strong>de</strong> taxas<br />

alfan<strong>de</strong>gárias para a importação <strong>de</strong> ficção estrangeira (1820) fez crescer o estabelecimento<br />

<strong>de</strong> livreiros no Rio <strong>de</strong> Janeiro. As décadas <strong>de</strong> 1830 e 40 verão a fundação do Gabinete<br />

Português <strong>de</strong> Leitura (1837) e da Biblioteca Fluminense (1847), mas, já em 1826, havia<br />

sido fundada a Rio <strong>de</strong> Janeiro Subscription Library, criada por ingleses. Homem <strong>de</strong> letras<br />

que publicou seu primeiro romance em 1844, antes mesmo <strong>de</strong> concluir o curso <strong>de</strong><br />

Medicina, e participou intensamente da vida cultural do Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>Macedo</strong><br />

certamente leu muito e muitos romances, vindos da Europa, alinhavam-se ao estilo gótico. 7<br />

escândalo que redundou no auto-exílio <strong>de</strong> Byron no continente até sua morte em Missolonghi, na Grécia, em<br />

1824, aos trinta e seis anos.<br />

6 Exemplos nítidos são os heróis <strong>de</strong> Ann Radciffe. Valancourt <strong>de</strong> The Mysteries of Udolpho e Vicentio <strong>de</strong><br />

Vivaldi <strong>de</strong> The Italian, por exemplo – são “men of feeling”, nos termos <strong>de</strong> Thorslev, apreciam música e<br />

poesia e são totalmente <strong>de</strong>votados a suas amadas, mas são absolutamente ineficientes para salvá-las das<br />

garras dos vilões. (Thorslev. p.51,52)<br />

7 É significativo observar, ao se consultar as pesquisas da professora Sandra Guardini Vasconcelos, ligada ao<br />

grupo <strong>de</strong> estudos “Caminhos do Romance no Brasil– séculos XVIII e XIX, da Unicamp)”, a presença <strong>de</strong><br />

romances góticos ingleses nas bibliotecas e gabinetes <strong>de</strong> leitura do século XIX, ainda que muitos traduzidos<br />

para o francês. Apenas como exemplo, po<strong>de</strong>mos citar os seguintes autores William Beckford, Elizabeth<br />

Helme e William Godwin.<br />

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A melancolia, outro traço fundamental do <strong>Trovador</strong> é também central a todos os<br />

heróis <strong>de</strong> Byron. A partir <strong>de</strong> “Il Penseroso” (1631) <strong>de</strong> Milton, passou-se a associar a<br />

melancolia à beleza, à santida<strong>de</strong> e à sabedoria. A associação à i<strong>de</strong>ia da santida<strong>de</strong> vai<br />

<strong>de</strong>saparecer no Pré-Romantismo quando a tendência para melancolia vai concretizar-se na<br />

chamada “Graveyard Poetry” (poesia <strong>de</strong> cemitério), <strong>de</strong> Edward Young (“Night<br />

Thoughts”, 1745), Robert Blair (“The Grave”, 1743) e James Hervey (“A Meditation<br />

among The Tombs”, 1746), e também no ciclo <strong>de</strong> poemas lendários <strong>de</strong> Ossian (1760-65).<br />

A este <strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong> <strong>Herói</strong> <strong>de</strong> Sensibilida<strong>de</strong>, Thorslev chamou “egoísta taciturno”<br />

(p.43-44). Alguns poetas da graveyard school são citados por poetas românticos<br />

brasileiros, o próprio <strong>Macedo</strong> cita Robert Young na epígrafe <strong>de</strong> A Incógnita (apud Serra,<br />

p.258). Quanto a Ossian, seu enorme sucesso em toda a Europa, certamente <strong>de</strong>ve ter<br />

causado sua chegada ao Brasil.<br />

Como herança para o herói romântico, o egoísta taciturno <strong>de</strong>ixou um <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong><br />

imagens – os sons da noite; a luz espectral da lua, ruínas góticas, vermes e esqueletos <strong>de</strong><br />

capelas mortuárias –, bem como uma coleção <strong>de</strong> temas góticos – o da lamentação da vida,<br />

o do sic transit gloria mundi e o da meditação sobre a onipotência da morte (Thorslev, p.<br />

46). Em A Nebulosa, Joaquim Manuel <strong>de</strong> <strong>Macedo</strong> revela sua sintonia com estas questões<br />

do Pré-Romantismo europeu, que se esten<strong>de</strong>rão pelo Romantismo propriamente dito. O<br />

Canto IV <strong>de</strong> A Nebulosa – Nos Túmulos – é um exemplo <strong>de</strong> composição gótica tropical.<br />

Num recanto afastado e solitário<br />

Daqueles sítios, <strong>de</strong> florestas virgens<br />

E serranias turvas circulado,<br />

Rompia <strong>de</strong>ntre o bosque altivo monte,<br />

[...]<br />

Outrora em seu cabeço mãos piedosas<br />

Erguido haviam protetora ermida.<br />

O monge que essa luz levara às selvas,<br />

Ao túmulo baixou; correram anos;<br />

Dormiu a fé no coração do povo;<br />

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PIRES, Ramira. O <strong>Herói</strong> <strong>Byroniano</strong> <strong>de</strong> J. M. <strong>Macedo</strong>: O <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong> A Nebulosa. pp. 3-25<br />

A incúria religiosa pune o tempo,<br />

E a casa do Senhor vê-se em ruínas.<br />

Piam agouros fúnebres corujas,<br />

On<strong>de</strong> outrora orações ao céu se erguiam;<br />

E o lar sagrado, que os fiéis reunia,<br />

De guarida noturna aos brutos serve.<br />

14<br />

(Nos Túmulos, I, p.133)<br />

<strong>Macedo</strong> tece uma pitoresca cena gótica tropical com <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za e senso local,<br />

<strong>de</strong>stacando, contudo, o caráter <strong>de</strong> mistério e terror da ermida e do campo santo:<br />

Em torno <strong>de</strong>la (da ermida)<br />

Se ufana sobre o monte a natureza.<br />

Vegetação hercúlea arrosta as nuvens,<br />

De aurífero dia<strong>de</strong>ma ipês coroados,<br />

Quais da floresta reis; sapucaieiras<br />

Em coifas cor do pejo a fronte erguendo,<br />

De espaço a espaço em turmas soberanas,<br />

Ostentam força, [...]<br />

[...] Largas fendas<br />

(Nos Túmulos, II, p.134)<br />

Suas pare<strong>de</strong>s carcomidas rasgam;<br />

Da torre, que já pen<strong>de</strong>, o campanário<br />

Conquistam parasitas;<br />

(Nos Túmulos,III, p.136)<br />

O tempo que atacara o lar da vida,<br />

Da morte o campo respeitar soubera.


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PIRES, Ramira. O <strong>Herói</strong> <strong>Byroniano</strong> <strong>de</strong> J. M. <strong>Macedo</strong>: O <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong> A Nebulosa. pp. 3-25<br />

[...] em longas filas<br />

Os túmulos se or<strong>de</strong>nam [...]<br />

É o alcaçar da morte, e seu ministro<br />

O tempo recuara ante o jazigo.<br />

(Nos Túmulos, IV, p.136)<br />

A noção do sublime <strong>de</strong>senvolvida por Edmund Burke (1729-1798), filósofo, teórico<br />

político e estadista inglês, a partir <strong>de</strong> Longino e Horácio, fundamentou o gosto do gótico<br />

pelos aspetos extraordinários e grandiosos da natureza. Para Burke, a natureza é um<br />

ambiente hostil e misterioso que <strong>de</strong>senvolve no indivíduo um sentido <strong>de</strong> solidão e <strong>de</strong><br />

medo: "tudo aquilo que serve para incitar as idéias <strong>de</strong> dor e perigo [...] constitui uma fonte<br />

do sublime, isto é, produz a mais forte emoção <strong>de</strong> que o espírito é capaz” (p.48). Assim,<br />

gran<strong>de</strong>s montanhas, tempesta<strong>de</strong>s, a imensidão do mar, castelos antigos, ruínas e capelas<br />

mortuárias são assuntos a<strong>de</strong>quados para se lograr o sublime. <strong>Macedo</strong> já <strong>de</strong>monstrara<br />

familiarida<strong>de</strong> com textos dos filósofos ingleses 8 e o célebre tratado <strong>de</strong> Burke po<strong>de</strong>ria não<br />

lhe ser estranho – suas <strong>de</strong>scrições da natureza em A Nebulosa revelam sua consciência da<br />

importância do sublime na construção do gótico. E o <strong>Trovador</strong> é o arauto da cena sublime:<br />

“Oh natureza! Minha dor insultas!<br />

Na tua placi<strong>de</strong>z leio o sarcasmo;<br />

Abomino-te assim, amo-te horrível.<br />

[...]<br />

Eu ouço meus hinos no chorar dos homens!<br />

Sim! o raio!, a serpente do horizonte,<br />

Que coriscante mor<strong>de</strong> e rompe as nuvens;<br />

Os trovões a bramir, tigres do espaço;<br />

As montanhas do pego embevecido<br />

Nas praias se quebrando, e branca espuma<br />

Do rochedo atirando a face turva;<br />

8 Em A Moreninha (1844), por exemplo, <strong>Macedo</strong> cita a filósofa Mary Wollstonecraft e sua obra A<br />

Vindication of the Rights of Woman (1792).<br />

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PIRES, Ramira. O <strong>Herói</strong> <strong>Byroniano</strong> <strong>de</strong> J. M. <strong>Macedo</strong>: O <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong> A Nebulosa. pp. 3-25<br />

O vento impetuoso em mil refregas<br />

Gigantes da floresta arrebatando<br />

Pelos ares que raios incen<strong>de</strong>iam,<br />

Para açoitar as nuvens com seus ramos<br />

Que orgulho foram da vetusta selva;<br />

Sim! O raio...os trovões...o pego...os ventos<br />

Ao som da tempesta<strong>de</strong> alçam meus hinos.”<br />

(A Rocha Negra, XVIII)<br />

Também Manfred pronunciara linhas bastante semelhantes:<br />

[...] My mother Earth!<br />

And thou fresh breaking Day, and you, ye Mountains,<br />

Why are ye beautiful? O cannot love ye.<br />

And thou, the bright Eye of the Universe,<br />

That openest over all, and unto all<br />

Art a <strong>de</strong>light – Thou shinest not on my heart.<br />

(Act I, Scene II)<br />

O espírito do sublime dá o tom às composições dos dois poetas. O grandioso, o vasto, o<br />

terrível e o ameaçador – o sublime, nos termos <strong>de</strong> Burke – presi<strong>de</strong>m os poemas:<br />

Da tempesta<strong>de</strong> o gênio obumbra a terra<br />

Com as ma<strong>de</strong>ixas <strong>de</strong> nuvens crespas, negras,<br />

Pelo espaço e nos montes espargidas;<br />

Ruge o mar... Troa o céu... e <strong>de</strong> repente<br />

Radiosa, inflamada, qual se ar<strong>de</strong>sse<br />

Em chamas toda, já <strong>de</strong>sfeito o fumo<br />

Que ainda a pouco a envolvera, a Nebulosa<br />

Como astro resplen<strong>de</strong> na enseada<br />

16<br />

(A Nebulosa, A Doida, p.49)<br />

It is not noon – The Sunbow’s rays still arch<br />

The torrent with the many hues of heaven,<br />

And roll the sheeted silver’s waving column


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PIRES, Ramira. O <strong>Herói</strong> <strong>Byroniano</strong> <strong>de</strong> J. M. <strong>Macedo</strong>: O <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong> A Nebulosa. pp. 3-25<br />

O’er the crag’s headlong perpendicular,<br />

And fling its lines of foaming light along,<br />

And to and fro, like the pale courser’s tail,<br />

The Giant steed, to be bestro<strong>de</strong> by Death,<br />

As told in the Apocalypse.<br />

[…]<br />

[Manfred takes some of the water into the palm of his hand and flings it<br />

into the air, muttering the adjuration. After a pause, the Witch of the Alps<br />

rises beneath the arch of sunbow of the torrent.]<br />

(Manfred, Act II, Scene II)<br />

Nos dois trechos citados, a cena sublime emoldura o aparecimento <strong>de</strong> duas feiticeiras: a<br />

Nebulosa e a Feiticeira dos Alpes. Tanto Byron quanto <strong>Macedo</strong> recorrem à figura da maga<br />

para compor o elemento do sobrenatural em seus poemas. Em Manfred, a Feiticeira dos<br />

Alpes é mais uma das várias instâncias do sobrenatural evocadas pelo protagonista.<br />

Manfred, além da Feiticeira dos Alpes, assoma vários espíritos da terra e dos elementos e o<br />

gran<strong>de</strong> príncipe Arimanes, fonte <strong>de</strong> todo o mal. <strong>Macedo</strong>, contudo, restringe o espaço do<br />

sobrenatural à feiticeira. Certamente pesaram sua formação católica e a consciência dos<br />

melindres <strong>de</strong> seu público. Em função do papel importante dos negros na cultura brasileira,<br />

nos séculos XVIII e XIX a feitiçaria era bastante popular e não <strong>de</strong>veria causar protestos. 9 O<br />

poeta brasileiro, entretanto, na ausência <strong>de</strong> espíritos e <strong>de</strong>mônios, triplica a figura da<br />

feiticeira e nos dá a Nebulosa, a primaz; a Doida, a jovem feiticeira que ama secretamente<br />

o <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância e a mãe da Doida, cujos conselhos o <strong>Trovador</strong> vai buscar.<br />

Com domínio da maquinária gótica – a ermida arruinada, o campo santo<br />

adjacente, lendas locais, fantasmas, feitiçaria, a natureza grandiosa – <strong>Macedo</strong> vai dotando a<br />

cena dos traços misteriosos e arrepiantes:<br />

Ar<strong>de</strong>nte imaginar, que o medo excita,<br />

Criou fantasmas, pavorosas sombras,<br />

Que vagam pelo monte; à noite, dizem,<br />

9 Veja-se, a este respeito: SOUZA, Laura <strong>de</strong> Mello e. O Diabo e a Terra <strong>de</strong> Santa Cruz – Feitiçaria e<br />

Religiosida<strong>de</strong> Popular no Brasil Colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1986; KARASCH, Mary C. A<br />

Vida dos Escravos no Rio <strong>de</strong> Janeiro – 1808-1850, São Paulo: Companhia das Letras, 2000.<br />

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PIRES, Ramira. O <strong>Herói</strong> <strong>Byroniano</strong> <strong>de</strong> J. M. <strong>Macedo</strong>: O <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong> A Nebulosa. pp. 3-25<br />

Abrem-se as campas, erguem-se esqueletos,<br />

E fora do jazigo os mortos velam<br />

Passeando ao luar; [...]<br />

Juram, enfim que sempre, ou clara lua<br />

Brilhe no céu, ou brama a tempesta<strong>de</strong>,<br />

Ou vente ou chova, ou <strong>de</strong>nso o véu das trevas<br />

Sepulte o mundo, vai as noites todas<br />

Um vulto <strong>de</strong> mulher, que traja vestes<br />

Negras, sinistras, sobre as quais alveja<br />

Na cabeça a coroa da velhice,<br />

Em cabelos que a neve em cor igualam,<br />

Subindo o monte a visitar a ermida;<br />

[...]<br />

(Nos Túmulos, VI, p.137, 138)<br />

A figura da mãe do <strong>Trovador</strong> que, todas as noites, visita o túmulo do marido para renovar a<br />

luz da vela, é dramatizada nesta parte da cena como alma do além. Contudo, no<br />

fechamento do poema, diante da morte do filho, sua personagem se agiganta tomando a<br />

forma <strong>de</strong> uma terrível feiticeira vingativa, <strong>de</strong> olhos flamejantes, que lança seu ódio sobre a<br />

Peregrina.<br />

Da velha o rosto <strong>de</strong>compõe-se horrível;<br />

Rubros olhos revolvem-se nas orbitas;<br />

Eriçam-se os cabelos alvejantes;<br />

Seu vulto se agiganta; um braço se eleva,<br />

E com sinistra voz, rouca e medonha,<br />

Exclama em fúria: “Ingrata! Sê maldita!...”<br />

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PIRES, Ramira. O <strong>Herói</strong> <strong>Byroniano</strong> <strong>de</strong> J. M. <strong>Macedo</strong>: O <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong> A Nebulosa. pp. 3-25<br />

(Canto V; XIII, p.279-80)<br />

Nem o clamor da mãe para que o filho não abraçasse o suicídio, nem tampouco as<br />

súplicas da Doida, a jovem feiticeira que sempre o amou à distância, foram suficientes para<br />

aplacar a mágoa do <strong>Trovador</strong> e sua ânsia <strong>de</strong> morte:<br />

Eu sei que ela me o<strong>de</strong>ia, e eu a amo ainda!<br />

A sorte foi lançada, o inferno ganha.<br />

Vês, triste mãe, a lua tão brilhante<br />

Que no céu se <strong>de</strong>sliza? Vês na extrema<br />

Do horizonte a montanha que negreja?...<br />

É esse o abismo em que se afunda a lua:<br />

E esta noite (a sentença está lavrada),<br />

Quando no seio da montanha escuro<br />

A lua se embeber, hei <strong>de</strong> embeber-me<br />

No mar também, que açoita a Rocha Negra.<br />

19<br />

(Nos Túmulos, XL, p.188)<br />

Como Werther, o arquetípico herói romântico <strong>de</strong>sesperançado, o <strong>Trovador</strong> abraça a<br />

morte por dor <strong>de</strong> amor. Mas, como Manfred, prefere o precipício à arma <strong>de</strong> fogo. Manfred<br />

é salvo no último instante pelo Chamois Hunter, mas o <strong>Trovador</strong> logra seu intento. <strong>Macedo</strong><br />

quer dar-lhe morte grandiosa, eleva-o a condição <strong>de</strong> guerreiro vitorioso:<br />

Purpúrea capa em dobras cai do braço,<br />

Como <strong>de</strong> um vencedor romano a toga;<br />

[...]


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PIRES, Ramira. O <strong>Herói</strong> <strong>Byroniano</strong> <strong>de</strong> J. M. <strong>Macedo</strong>: O <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong> A Nebulosa. pp. 3-25<br />

O passo é gracioso, nobre e ousado,<br />

Qual o bravo, que a vitória aclama,<br />

Subindo o carro triunfal da glória;<br />

[...]<br />

Assim, garboso e radiante avança,<br />

E ao cimo do rochedo chega e pára.<br />

(A Harpa Quebrada,V, p.228, 229)<br />

Em longa fala, o <strong>Trovador</strong> faz o elogio da morte libertadora:<br />

Salve, morte piedosa! Eterna amiga,<br />

[...]<br />

Abismo em cujo fundo a paz habita,<br />

Salve doce mistério! Salve, ó morte!<br />

Caluniadora a vida em vão pintou-te<br />

Hediondo esqueleto: – a vida mente! –<br />

Tu és pálida virgem compassiva,<br />

Que <strong>de</strong> uma vez a dor num sopro acabas;<br />

[...]<br />

Oh! feliz <strong>de</strong> quem morre! ai <strong>de</strong> quem fica!...<br />

[...]<br />

20<br />

(A Harpa Quebrada, VI, VII. p. 229, 230, 232)<br />

Mas, nos versos que se seguem, o poeta <strong>de</strong>sfaz a imagem do guerreiro vitorioso e o<br />

discurso cristão, católico e sensato sobrevém:


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PIRES, Ramira. O <strong>Herói</strong> <strong>Byroniano</strong> <strong>de</strong> J. M. <strong>Macedo</strong>: O <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong> A Nebulosa. pp. 3-25<br />

Paixão infrene que turvou-lhe a mente,<br />

Da loucura aos impulsos o abandona;<br />

E ele, um cristão, em <strong>de</strong>sespero acaba;<br />

Ele, um bravo, <strong>de</strong>sonra-se covar<strong>de</strong>;<br />

[...]<br />

Oh! Que fraqueza, e que miséria humana!<br />

[...]<br />

O suicida se expõe a eternas penas,<br />

E louco troca o mundo pelo inferno,<br />

Os homens por Satã, e a Deus ultraja!...<br />

Eis das paixões ao que nos leva o excesso.<br />

(A Harpa Quebrada, IX, p. 234)<br />

Em uma estrofe, <strong>de</strong> forma implacável, quase perversa, <strong>Macedo</strong> <strong>de</strong>strói sua bela<br />

composição <strong>de</strong> herói byroniano. Como já observamos, certamente pesaram o receio da<br />

recepção <strong>de</strong> seu público, acostumado a seus romances leves e bem comportados; sua<br />

própria formação católica; além <strong>de</strong> sua ligação à figura do imperador Pedro II, por meio do<br />

Instituto Histórico e Geográfico <strong>Brasileiro</strong>. Como lembra Brito Broca, “O imperador [...]<br />

nunca viu com bons olhos aos byronianos” (p.101). A Nebulosa foi <strong>de</strong>dicada ao imperador<br />

e sua publicação foi por ele custeada e, antes, foi lida pessoalmente por <strong>Macedo</strong> para<br />

imperador, no palácio <strong>de</strong> São Cristovão, em uma das salas do passo imperial, cedida pelo<br />

imperador para o IHGB. 10<br />

São <strong>de</strong>zessete linhas <strong>de</strong>sestabilizadoras, entretanto, restritas, pontuais. Já nos versos<br />

seguintes o poeta <strong>de</strong>ixa novamente falar o <strong>Trovador</strong> amargurado:<br />

10 A <strong>de</strong>dicatória aparece na primeira página: À Sua Magesta<strong>de</strong> (sic) Imperial, O Senhor D. Pedro II,<br />

Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil, O.D.C. o seu reverente e muito leal súdito, Joaquim<br />

Manuel <strong>de</strong> <strong>Macedo</strong>.”<br />

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PIRES, Ramira. O <strong>Herói</strong> <strong>Byroniano</strong> <strong>de</strong> J. M. <strong>Macedo</strong>: O <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong> A Nebulosa. pp. 3-25<br />

Morro bem moço – no vigor dos anos –<br />

[...]<br />

A esperança! Ai <strong>de</strong> quem nela confia!<br />

Anos espera, e um dia só não goza;<br />

[...]<br />

E apenas quando a morte, a rival sua,<br />

A vítima lhe rouba ante o sepulcro<br />

Se <strong>de</strong>sencanta a virgem proditora<br />

Ei-la! O rosto formoso era uma máscara<br />

Eram <strong>de</strong> fumo as roçantes vestes;<br />

Caiu a máscara, as vestes se evaporam,<br />

E esse que a vida consumiu seguindo-a,<br />

Toca-a por fim – quimera enregelada...<br />

Esqueleto fatal! – eis a esperança.<br />

(A Harpa Quebrada, XV, p.238,239)<br />

Num último gesto, <strong>Macedo</strong> ainda investe seu <strong>Trovador</strong> dos <strong>de</strong>moníacos traços byronianos.<br />

Em imprecação terrível investe contra a Peregrina:<br />

Céu e terra, vingai-me! Exemplo horrível<br />

Dai-me ao mundo punindo a cruelda<strong>de</strong>.<br />

Céu <strong>de</strong> Deus! <strong>de</strong>spejai todos os raios<br />

Contra o monstro que amor insulta e nega!<br />

[...]<br />

Mundo! Retorna ao caos; mas só para ela,<br />

E ela que o saiba, e que <strong>de</strong>bal<strong>de</strong> o chore;<br />

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PIRES, Ramira. O <strong>Herói</strong> <strong>Byroniano</strong> <strong>de</strong> J. M. <strong>Macedo</strong>: O <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong> A Nebulosa. pp. 3-25<br />

Meu Deus! Daí que essa ingrata seja eterna,<br />

E fazei que num vôo os anos volvam;<br />

Envelheça a cruel, grisalhas fiquem<br />

As negras tranças; que seu rosto enrugue,<br />

Morram-lhe as graças, dobre o corpo esbelto<br />

E feia, hirsuta, hedionda, abominável,<br />

Constante viva aborrecendo a vida,<br />

De todos <strong>de</strong>sprezada e <strong>de</strong> si própria!<br />

[...]<br />

Fera, que as feras arremedas todas!<br />

Tigre! Meu coração <strong>de</strong>spedaças-te;<br />

Tigre! fui teu na vida; morto, oh! nunca!<br />

Abutre! Não terás o meu cadáver.<br />

Eu corro à morte... a<strong>de</strong>us, terra nefanda!<br />

(A Harpa Quebrada, XX, p. 242, 243)<br />

A Doida, jovem e bela feiticeira, <strong>de</strong>le apaixonada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância, acompanha-o no salto<br />

final, <strong>de</strong> mãos entrelaçadas lançam-se às ondas do ponto mais alto do rochedo. Desaba<br />

horrenda tempesta<strong>de</strong>.<br />

Demoníaco, vingativo, belo, fatal e sensível é o <strong>Trovador</strong>, mas também contrito e<br />

quase <strong>de</strong>voto. Seguindo o projeto do Romantismo brasileiro, Joaquim Manuel <strong>de</strong> <strong>Macedo</strong><br />

volta-se para a construção do imaginário nacional com seu herói byrônico dos trópicos,<br />

além <strong>de</strong> revelar sua sintonia com as questões do Romantismo em suas fontes européias.<br />

Nenhuma cultura é totalmente autônoma e impermeável, toda cultura resulta <strong>de</strong><br />

trocas e amálgamas. Nas palavras <strong>de</strong> Leila Perrone-Moisés, “Nenhuma das gran<strong>de</strong>s<br />

culturas reconhecidas como tal se <strong>de</strong>senvolveu fechada ao estrangeiro: a cultura <strong>de</strong> Roma<br />

fortaleceu-se ao assimilar a da Grécia, a inconfundível cultura japonesa foi criada a partir<br />

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PIRES, Ramira. O <strong>Herói</strong> <strong>Byroniano</strong> <strong>de</strong> J. M. <strong>Macedo</strong>: O <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong> A Nebulosa. pp. 3-25<br />

da chinesa, etc” (p.22). Cabe ao artista efetuar a seleção crítica e a fusão transformadora e<br />

profícua que <strong>de</strong>staca a singularida<strong>de</strong> na semelhança. Rotulado, mal avaliado na segunda<br />

parte <strong>de</strong> sua obra e esquecido, Joaquim Manuel <strong>de</strong> <strong>Macedo</strong> foi, certamente, um <strong>de</strong>les.<br />

Bibliografia<br />

BARBOZA, Onédia Célia <strong>de</strong> Carvalho. Byron no Brasil: traduções. São Paulo: Ática,<br />

1974.<br />

BROCA,Brito. Românticos, Pré-Românticos e Ultra-Românticos: vida literária e<br />

Romantismo brasileiro. São Paulo: Polis/Brasília: INL, 1979.<br />

BURKE, Edmund. Uma investigação filosófica sobre as origens <strong>de</strong> nossas idéias do<br />

sublime e do belo. Tradução: Enid Abreu Dobránszky. Campinas: Papirus, 1993.<br />

BYRON, George Gordon Nöel Byron, Baron. Ed. McConnell, Frank D. Byron’s Poetry.<br />

New York: W.W. Norton, 1978.<br />

BYRON, George Gordon Nöel Byron, Baron. Eds. Wolfson, Susan J. e Manning, Peter J.<br />

Lord Byron, Selected Poems. London: Penguin, 1996.<br />

COSTA, Ângela M. Gonçalves. Uma trajetória do esquecimento: o poema “A Nebulosa”,<br />

<strong>de</strong> Joaquim Manuel <strong>de</strong> <strong>Macedo</strong>, e sua recepção crítica. Tese (Doutorado). Departamento<br />

<strong>de</strong> Teoria Literária do Instituto <strong>de</strong> Estudos da Linguagem da Unicamp, Campinas, 2006.<br />

MACEDO, Joaquim Manoel <strong>de</strong>. A Nebulosa. 2ª. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: H. Garnier, s.d.<br />

MACEDO, Joaquim Manuel <strong>de</strong>. A Moreninha. São Paulo: Editora Ática, 2005.<br />

PERRONE-MOISÉS, Leila. Vira e Mexe Nacionalismo – Paradoxos do Nacionalismo<br />

Literário. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.<br />

SERRA, Tania Rebelo Costa. Joaquim Manuel <strong>de</strong> <strong>Macedo</strong> ou os Dois <strong>Macedo</strong>s: a luneta<br />

mágica do II Reinado. Rio <strong>de</strong> Janeiro: FBN/ DNL, 1994.<br />

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SOUZA, Laura <strong>de</strong> Mello e. O diabo e a Terra <strong>de</strong> Santa Cruz: feitiçaria e religiosida<strong>de</strong><br />

popular no Brasil colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1986.<br />

THORSLEV, Peter L. Jr, The Byronic Hero – Types and Prototypes. Minneapolis:<br />

University of Minnesota Press, 1962.<br />

.<br />

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