tico-tico

Tico-tico

O tico-tico é uma ave passeriforme da família Passerellidae. É um dos pássaros mais conhecidos e estimados do Brasil. Seu nome vem do tupi e deriva do seu chamado. Esta ave e o pardal são duas espécies comuns em áreas urbanas e muitas pessoas as confundem apesar de terem diferenças facilmente percebíveis. Entre os nomes populares conhecidos, destacam-se: salta-caminho (Pernambuco e interior da Paraíba), titiquinha e ticão, gitica, mariquita-tio-tio (São Paulo), tiquinho (Paraná), catete, cata-pilão, jesus-meu-deus (Bahia), chuvinha (Sul do Piauí), toinho (Paraíba - região do Seridó Ocidental) e piqui-meu-deus (sul do Ceará), e também tico-tico-jesus-meu-deus.

A canção Tico-tico no Fubá, composta em 1917 por Zequinha de Abreu, é um chorinho de fama internacional. Originalmente, foi chamada de Tico-tico no Farelo. Há duas versões para o nome: uma diz que o autor devia cuidar para que os pássaros não comessem o fubá feito pela esposa mas, em vez disso, se divertiu vendo o andar saltitado das aves e compôs a melodia. Outra versão diz que, ao ver como os casais dançavam animados, o autor teria comentado: “parecem tico-tico no farelo”. Em 1941, Eurico Barreiros escreveu a letra que Carmen Miranda tornaria famosa:

Carmen Miranda cantou a primeira versão:

Tico-tico
O tico-tico tá
Tá outra vez aqui
O tico-tico tá comendo meu fubá
O tico-tico tem, tem que se alimentar
Que vá comer umas minhocas no pomar

O tico-tico
O tico-tico tá
Tá outra vez aqui
O tico-tico tá comendo meu fubá
O tico-tico tem, tem que se alimentar
Que vá comer umas minhocas no pomar

Mas por favor, tire esse bicho do celeiro
Porque ele acaba comendo o fubá inteiro
Tira esse tico de cá, de cima do meu fubá
Tem tanta coisa que ele pode pinicar
Eu já fiz tudo para ver se conseguia
Botei alpiste para ver se ele comia
Botei um gato, um espantalho e alçapão
Mas ele acha que o fubá é que é boa alimentação

O tico-tico tá
Tá outra vez aqui
O tico-tico tá comendo meu fubá
O tico-tico tem, tem que se alimentar
Que vá comer umas minhoca e não fubá

Tico-tico
O tico-tico tá
Tá outra vez aqui
O tico-tico tá comendo meu fubá
O tico-tico tem, tem que se alimentar
Que vá comer umas minhocas no pomar


Nome Científico

Seu nome científico significa: do (grego) zono = cinta, faixa; e tricho, trikhos = cabelo; e capensis = referente ao cabo da boa esperança; ⇒ Cabelo-cintado do cabo ou em uma livre interpretação: “ave com faixas no cabelo da região do Cabo da Boa Esperança

Características

Pássaro de porte médio que mede 15 centímetros de comprimento. Possui o corpo compacto, com asas e cauda de tamanhos regulares, pernas e pés delgados e bico cônico e forte. A coloração dorsal é pardo-acinzentada, tendo a cabeça cinza com duas tiras negras que partem da base da maxila indo até a nuca, com parte central cinza, também partindo da mesma base e alargando-se para a nuca.
As faces são de cor cinza, com duas tiras negras de cada lado que vão até a região do pescoço, uma partindo do canto posterior do olho e outra do canto do bico. Pescoço com uma faixa cintada de cor vermelho-ferrugínea que desce até os lados do peito alto, onde se encontra com uma mancha negra.
Porção intermediária dorsal de cor pardo-cinza com coberteiras, inclusive das asas com manchas negras e restante do baixo dorso pardo-cinza. No encontro das asas as penas terminam com faixa branca. Garganta branca, peito e abdômen cinza-esbranquiçados, sendo mais claro na parte central. Apresenta um pequeno topete com desenho estriado na cabeça.

CANTO

Canto noturno e canto de susto: ao cair a noite emite um canto diferente, forte, caracterizado por prolongamento e acentuação das últimas notas, como: “hü, djü, djü ziü-ziü-ziü”. O povo de Minas Gerais acredita que quando o tico-tico canta na manhã ele está dizendo: “Bom dia, seu Chico”, interpretado na Bahia como “Jesus meu Deus”. O canto noturno causa impressão tão diferente do canto diurno que o leigo no assunto pode tomá-lo por vocalização de outra espécie de pássaro. O canto noturno ocorre de dia em situação de extremo susto, sendo produzido uma vez só, com todo o vigor. Pode ocorrer também quando a ave é atingida por iluminação artificial (foco de lanterna, iluminação de lâmpadas, etc…).

Subespécies

Possui vinte e oito subespécies reconhecidas:

  • Zonotrichia capensis capensis (Statius Muller, 1776) - ocorre na Guiana Francesa na região do baixo Rio Oiapoque e na região adjacente do Brasil no estado do Amapá;
  • Zonotrichia capensis costaricensis (Allen, 1891) - ocorre das montanhas da Costa Rica até o oeste do Panamá; nos Andes da Colômbia e no oeste da Venezuela;
  • Zonotrichia capensis septentrionalis (Griscom, 1930) - ocorre na altitude do sul do México no estado de Chiapas até a Guatemala e em Honduras;
  • Zonotrichia capensis antillarum (Riley, 1916) - ocorre na Cordilheira Central da República Dominicana;
  • Zonotrichia capensis insularis (Ridgway, 1898) - ocorre nas Antilhas Holandesas, nas Ilhas de Curaçao e Aruba;
  • Zonotrichia capensis venezuelae (Chapman, 1939) - ocorre no norte da Venezuela;
  • Zonotrichia capensis roraimae (Chapman, 1929) - ocorre no sul da Colômbia da região de Meta até o leste da Venezuela, no oeste da Guiana e na região adjacente do norte do Brasil;
  • Zonotrichia capensis inaccessibilis (Phelps & Phelps, 1955) - ocorre nos Tepuis do sul da Venezuela, no Cerro de la Neblina;
  • Zonotrichia capensis perezchinchillorum (W. H. Phelps Jr & Aveledo, 1984) - ocorre nos Tepuis do sul da Venezuela;
  • Zonotrichia capensis macconnelli (Sharpe, 1900) - ocorre nos Tepuis do sul da Venezuela, no Monte Roraima;
  • Zonotrichia capensis tocantinsi (Chapman, 1940) - ocorre no Brasil, na região ao longo do rio Tocantins;
  • Zonotrichia capensis novaesi (Oren, 1985) - ocorre no Brasil no estado do Pará;
  • Zonotrichia capensis matutina (Lichtenstein, 1823) - ocorre no Nordeste do Brasil, do estado do Maranhão até o estado da Bahia e no estado do Mato Grosso e também na região adjacente do leste da Bolívia;
  • Zonotrichia capensis huancabambae (Chapman, 1940) - ocorre no norte árido do Peru nas regiões de Piura, Cajamarca, Amazonas, San Martín e Junín;
  • Zonotrichia capensis illescasensis (Koepcke, 1963) - ocorre no norte do Peru, na região do Cerro Illescas em Piura;
  • Zonotrichia capensis peruviensis (Lesson, 1834) - ocorre na costa árida do Peru e nas encostas orientais dos Andes da região de La Libertad até Tacna;
  • Zonotrichia capensis carabayae (Chapman, 1940) - ocorre nas encostas orientais da Cordilheira dos Andes do Peru da região de Junín até o oeste da Bolívia;
  • Zonotrichia capensis pulacayensis (Menegaux, 1908) - ocorre na Cordilheira dos Andes do Peru, da região de Junín até o oeste da Bolívia e o norte da Argentina;
  • Zonotrichia capensis subtorquata (Swainson, 1837) - ocorre no leste do Brasil, do estado do Espírito Santo até o Paraguai, no Uruguai e no nordeste da Argentina;
  • Zonotrichia capensis hypoleuca (Todd, 1915) - ocorre do sudeste da Bolívia até o nordeste da Argentina;
  • Zonotrichia capensis antofagastae (Chapman, 1940) - ocorre no norte do Chile nas regiões de Tarapacá e Antofagasta;
  • Zonotrichia capensis chilensis (Meyen, 1834) - ocorre no norte do Chile, na região do Atacama até as Ilhas Guaitecas e na Cordilheira dos Andes do sul da Argentina;
  • Zonotrichia capensis sanborni (Hellmayr, 1932) - ocorre na Cordilheira dos Andes do Chile nas regiões de Coquimbo e Aconcágua e na Argentina, na região de San Juan;
  • Zonotrichia capensis arenalensis (Nores, 1986) - ocorre na Cordilheira dos Andes no norte da Argentina;
  • Zonotrichia capensis choraules (Wetmore & J. L. Peters, 1922) - ocorre no oeste da Argentina, nas regiões de Mendoza, Neuquén e Rio Negro;
  • Zonotrichia capensis australis (Latham, 1790) - ocorre no sul do Chile e no sul da Argentina até o Cabo Horn;
  • Zonotrichia capensis bonnetiana (F. G. Stiles, 1995) - ocorre no sul da Colômbia;
  • Zonotrichia capensis markli (Koepcke, 1971) - ocorre nas terras baixas do noroeste do Peru.
Fotos das subespécies de Zonotrichia capensis
(ssp. capensis) (ssp. costaricensis) (ssp. roraimae) (ssp. macconnelli)
(ssp. tocantinsi) (ssp. novaesi) (ssp. matutina) (ssp. subtorquata)
Canto
Zonotrichia capensis tocantinsi
WA811354
Canto
Zonotrichia capensis subtorquata
WA835608
(ssp. chilensis) (ssp. sanborni) (ssp. australis) (ssp. markli)

Indivíduo com plumagem leucística

O leucismo (do grego λευκοσ, leucos, branco) é uma particularidade genética devida a um gene recessivo, que confere a cor branca a animais geralmente escuros.

Mais informações sobre as mutações que afetam a plumagem das aves podem ser encontradas no link abaixo:
As mutações que acometem as aves.

Alimentação

Alimenta-se de sementes, brotos, frutas, insetos (besouros, formigas, grilos, cupins alados e larvas). Costuma frequentar comedouros com sementes,bananas e quirera de milho. Também já foi visto comendo ração para cães.

Reprodução

Primavera-verão. Durante a reprodução vive estritamente aos casais, sendo extremamente fiel a um território, que o macho defende energicamente contra a aproximação de outros machos de sua espécie. Torna-se assim fácil vítima de caçadores. O ninho é uma tigela aberta e rala, feito de capim seco e raízes. A fêmea bota de 2 a 5 ovos, que são de cor verde-amarelado com uma coroa de salpicos avermelhados, medindo cerca de 21 por 16 milímetros em seus eixos e pesando de 2 a 3 gramas. A incubação se faz em 13 a 14 dias e os filhotes nidícolas são cuidados pelo casal. Os filhotes deixam o ninho entre 16 e 22 dias de vida para acompanharem os pais, que ainda os seguem alimentando por vários dias. Os tico-ticos jovens estabelecem territórios entre o 5º e o 11º mês de vida. Sofre pesadas perdas de sua própria prole, pois o vira-bosta é uma ave parasita que retira os ovos do ninho do tico-tico e põe os seus. A pressão exercida chega a ser tão grande que, em certos locais, o tico-tico é eliminado.

Hábitos

É comum em campos, paisagens abertas, plantações e áreas urbanas com baixa intensidade de atividade humana, a exemplo de jardins, pátios e coberturas ajardinadas de edifícios. Abundante em regiões de clima temperado e também em cumes altos expostos a ventos frios e fortes. É favorecido pelo desmatamento e pela drenagem de alagados, aumentando sua área de ocorrência. Vive em casais isolados, sendo que o macho ataca tico-ticos vizinhos que invadam seu território. Entre os traços interessantes do seu comportamento figura a técnica de esgravatar alimento no solo por meio de pequenos pulos, para remover a camada superficial de folhas ou terra solta que recubra o alimento. Perscrutando o terreno a sua frente, pula até 4 vezes consecutivas verticalmente sem alterar a posição das pernas e esgravatando o chão com ambos os pés sincronizadamente, jogando para trás o material impeditivo. A tendência de executar tal movimento pelo tico-tico é tão forte que, mesmo quando come algo sobre uma laje de cimento limpo ou num quintal, pula da mesma forma.

Predadores

Distribuição Geográfica

Todas as regiões do País, com exceção das áreas florestadas da Amazônia. É migratório no Rio Grande do Sul e Paraná, aparecendo em bandos provavelmente procedentes dos países vizinhos. Encontrado também do México ao Panamá e na maior parte da América do Sul até a Terra do Fogo (Argentina). Apesar de ser uma ave extremamente comum, tem se notado que em certos lugares o tico tico tem ficados mais raro, às vezes sumindo de certas áreas, provavelmente por causa do parasitismo do vira-bosta.

Referências

Galeria de Fotos

tico-tico.txt · Última modificação: 2024/02/10 18:56 por Henry Alexandre