10° CAPÍTULO

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Ângelo Fontana


Eu, calmo como o mar revolto, arrastava ela pelos cabelos, os olhinhos bonitos bufava e gritava igual um animal enjaulado. Foi uma pena para mim chegar muito de pressa no melhor quarto do bordel e não a ouvir gritar por mais tempo e a joguei no chão para fechar a porta.

— Você pode comer minha carne agora... Você pode até me matar... Mas eu não vou transar com você estando viva. _Sua voz rasgou seguida de um início desesperador de choro.

Eu olhei para trás e bem devagar aproximei do seu corpo no chão, agachando-me engoli a dor miserável que eu sentia das minhas costas em carne viva e fui admirar aqueles olhos tão perfeitos. Dor nenhuma se comparava com a sensação esplendorosa de ver de novo aquele sol vívido que era os seus olhos numa noite tão negra. Acho que até a lua se escondeu com a luminescência desses olhos. E ela deveria se esconder mesmo, é uma afronta querer ocultar o que resplandece sem esforço algum.

Não sei como era o olhar que eu descarregava para ela, pois o olhar da Lavínia franziu e em meio ao meu silêncio ensurdecedor, vi ela ficar mais apavorada do que quando eu abria a boca.

— Você é um psicopata... não tem remorso e nem empatia... eu estou vendo seu sorriso de lado, seu maldito!

Encarei seus olhos e fui incapaz de desviar desse ouro que reluz tanto temor, mesmo que suas palavras tenham acertado a beira do meu caráter duvidoso. Por ser uma verdade absoluta. Eu era um psicopata, mas não só isso, tinha muitos outros adjetivos tão sórdidos quanto esse para se referir a mim uma pessoa que a alma cujo foi arrancada e precisa de outra.

— Você ficou atrevida. _Não sorrio, ainda que seu rosto angelical fosse a coisa mais bela que vi depois de ter sobrevivido a uns meses tão obscuros de tortura, eu não sorri, nem isso eu podia fazer, a dor intensa em meu corpo me proibia até de separar os lábios. — Não sei se gosto desse seu atrevimento.

Com tudo, ela ergueu os ombros, apoiava as mãos no chão e chegava com o rosto para enfrentar o meu, tão perto que me fazia prender a minha própria respiração para que somente ela respirasse.

— Eu não sei que tipo de parafilia você curte... _As lágrimas dos seus olhos de cor âmbar pingou e ela umedeceu os lábios trêmulos. Um medo nítido por perceber que eu não estava bem e que suas palavras poderiam resultar em uma sentença cabal. — Mas vai ter que me matar para poder me comer de novo.

É, sem dúvidas... eu gostei mais dessa Lavínia. A outra era uma vadia chorona. Essa daqui é torpe... abusada e tem coragem de apressar a morte, se não por que de me afrontar?

Eu sou o matador aqui...

Acho que está na hora de mostrar quem é que manda.

Ela paralisou quando minha boca seguiu para sua orelha.

— Já fiz necrofilia algumas vezes... _Sussurrei e inalei o cheiro delicioso do seu perfume. Cheiro de flores... acho que eu levaria algumas no túmulo dela, mas não sei se ela merece tanto. Vou pensar. — É bom possuir o cadáver quando ele ainda está quentinho, sabia?

O corpo da Lavínia encolheu e eu vi os fios do cabelo dela tremendo.

— Você é um doente...

Minhas narinas se deliciou no cheiro gostoso do medo que partia dela. É interessante... eu gosto.

— Seu medo é o mais gostosinho que provrei até hoje. _Confesso sem culpa, saboreando-o.

Apavorada, intimidada e medonha, ela andou sobre as mãos, afastando-se e rapidamente ficou dé.

A MERETRIZ - Predestinada a morteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora