O Prémio Oliveira Martins

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Frederico Pimenta Linhas convergentes ______________________________________________________ Por Frederico Pimenta Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal. O Prémio Oliveira Martins A premiação dos alunos que se distinguiam nos diferentes ambientes educativos salesianos sempre foi um conceito benquisto por D. Bosco. Em Portugal, ainda em espaços diferentes dos atuais Salesianos de Lisboa, na Rua do Sacramento à Lapa, a premiação enlevou grande número de alunos e personalidades do final do século XIX e início do século XX. “Os prémios constavam de medalhas, livros, ferramentas de officios e utensílios vários, sendo distribuídos a 79 alumnos, que mereceram essa distincção, pelo seu comportamento exemplar e aplicação nas aulas de instrucção primaria, catecismo, musica, gymnastica, e nas oficinas de alfayateria, marcenaria, sapataria e outras.” (1) De entre eles sobressaiu o Prémio Oliveira Martins. Em novembro de 1902, o Boletim Salesiano referenciou a inauguração desse prémio. Joaquim Pedro de Oliveira Martins (2) foi uma personalidade ímpar na cultura do seu tempo. Nasceu em 30 de abril de 1845 e morreu no dia 24 de agosto de 1894, na cidade de Lisboa. Este prémio destinava-se ao melhor aluno das oficinas de marcenaria que terminava a sua formação nas Oficinas de S. José. Após a morte do escritor e historiador, cedo se formalizou a ideia de perpetuar a figura do ilustre homem de letras, escolhendo-se as Oficinas de S. José pela estima que Oliveira Martins tinha por esta obra de formação de rapazes dos grupos sociais mais desfavorecidos. A par deste apreço, surge igualmente a dedicação que o escritor reservou aos trabalhos em madeira, tarefa em que ocupava algum tempo, em especial no final da sua vida: “Porque o insigne escriptor considerava muito aquella instituição e porque, nos últimos annos da sua vida, uma das suas favoritas ocupações manuaes, era a marcenaria.” (3) A ideia surgiu, e um grupo de amigos liderado pelo Dr. Guilherme de Oliveira Martins, irmão do escritor, concretizou o projeto. Em 30 de abril de 1903, este realizou, na Rua do Sacramento à Lapa, uma conferência sobre as Oficinas de S. José e o prémio (4) que recebeu o nome do seu saudoso irmão. (5) O Diretor das Oficinas de S. José, nessa altura, era o Pe. Pedro Cogliolo. As premiações, que decorreram em 1903, coincidindo com a inauguração do retrato de Joaquim Pedro de Oliveira Martins, na oficina de marcenaria, foram abrilhantadas por uma parte cultural digna da saliência descrita pelo jornal A Nação (6): “…exercícios de gymnastica pelos alumnos, sob a direcção do abalisado professor sr. W. Awata, (7) a primeira parte da Passione di Cristo do celebre abbade Perosi (8) e o solo de violino pelo sr. Benetó, (9) …” Nesse ano de 1903, o aluno (Francisco da Silva Zimbarra) distinguido com o Prémio Oliveira Martins recebeu: “… um estojo de madeira polida com instrumentos do officio, um pequeno torno, um exemplar do folheto com a biografia e retrato de Oliveira Martins, outro com a historia do premio e ainda uma folha solta com advertências proveitosas e conselhos salutares ao premiado, cujo nome se vê na tampa do estojo, a letras douradas.” (10) (1) A Nação, Anno LVI, terça-feira, 2 de Junho de 1903, Nº 13:887, Lisboa. (2) Oliveira Martins inicia o seu contacto com o mundo laboral em 1858. Em 1867, publica a primeira obra literária e de intervenção política. Tem uma forte presença na imprensa da época e, entre outros títulos, escreve História de Portugal, entre 1879 e 1889. É considerado um dos fundadores da moderna historiografia portuguesa. (3) Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco, Anno I, Novembro, 1902, N. 11. (4) Esta segunda parte, o Prémio, subdividia-se em três reflexões: “O Prémio em si”, “A que deveis o serdes premiados” e, por último, “Deveres dos premiados”. (5) Oliveira Martins, Guilherme, As Officinas de S. José de Lisboa e O Premio, 30 de Abril de 1903, Typographia da Parceria A. M. Pereira, Lisboa. (6) A Nação, Anno LVI, terça-feira, 2 de Junho de 1903, Nº 13:887, Lisboa. (7) Walter Awata foi um destacado impulsionador das atividades desportivas no final do século XIX e início do século XX. O seu nome surge ligado ao desenvolvimento do remo, natação, ginástica, esgrima, críquete e tantas outras atividades desportivas. “Em 1898 apresenta no Coliseu uma classe de ginástica de educandos das Oficinas de S. José que causou sensação pela desenvoltura, elevado aprumo e excelente ritmo” (Ginásio Clube Português, Relatório de Actividades e Contas da Direcção e Parecer do Conselho Fiscal, 2019, p. 20). O seu nome surge na imprensa da época como, por exemplo, no Diário Illustrado (quinta-feira, 20 de janeiro de 1910) e na Parodia (9 de Junho de 1905, N. º123, Lisboa), (8) O Pe. Lorenzo Perosi nasceu em Tortona, em 21 de dezembro de 1872, e morreu em Roma, em 12 de outubro de 1956. Foi compositor e diretor de coro. Foi autor de música sacra, nomeadamente oratórias, missas polifónicas e motetes. O Papa Leão XIII nomeou-o Diretor Perpétuo da Capela Musical Pontifícia Sistina. (9) Francisco Benetó nasceu em Valência, em 1877, e morreu em Lisboa, em 1945. Considerado um dos mais famosos violinistas da sua época. Distinguiu-se em Paris e foi solista e concertino em diversas orquestras. (10) A Nação, Anno LVI, terça-feira, 2 de Junho de 1903, Nº 13:887, Lisboa.