Artigo publicado no Boletim da SPP nº 223 de agosto de 2015
Amador Bueno de Ribeira, personagem da História do Brasil pouco (ou nada) estudado na História do Brasil, nasceu em 1584 e faleceu em 1649 (anos aproximados). A história registra que foi aclamado rei em 1641 pela população pró-castelhana como reação ao fim da união dinástica entre Portugal e Espanha. Amador Bueno prontamente recusou a aclamação dando vivas ao rei D. João IV de Portugal. Foi um ato impulsionado pela mesma revolta, de 1641, que se conheceu popularmente como Botada dos Padres-Fora, (por dirigir-se contra os jesuítas). O mesmo espírito de rebelião se respirava nos dois movimentos ou impulsos populares.
Seu pai era espanhol nascido em Sevilha, chamado Bartolomeu Bueno e viera ao Brasil em 1550, morrendo em São Paulo em cerca de 1620, tendo sido vereador em 1616.
Amador Bueno foi capitão-mor e ouvidor da capitania de São Vicente em 1627. Quando D. João IV de Bragança assumiu o trono de Portugal em 1640, no ano seguinte Amador foi aclamado rei em São Paulo pelo poderoso partido de influentes e ricos castelhanos. Contrariando o golpe de estado de 1º de Dezembro de 1640 no Reino de Portugal, os espanhóis não queriam ser súditos de D. João IV, que reputavam vassalo rebelde a seu soberano, resolveram provocar a secessão da região paulista do resto do Brasil, esperando talvez anexá-la às colônias espanholas limítrofes.
- A efígie de Amador Bueno foi desenhada, a pedido do Instituto Histórico e Geográfico
de São Paulo ao cartunista Benedito Bastos Barreto (1896-1947) que assinava como Belmonte. O cartunista é o criador do Juca Pato e foi um dos maiores ilustradores de chargas contra a Segunda Guerra Mundial (Fig.2).
No entanto, Amador Bueno recusou a honra e, com a espada desembainhada deu vivas ao rei de Portugal, assumindo-se como seu leal vassalo, depois de sessenta anos de União Ibérica, aliando-se à restauração da monarquia portuguesa. Ameaçado de desacato, Amador Bueno, tinha-se refugiado no mosteiro beneditino pedindo a intervenção do abade e seus monges.
“Desceram à praça fronteira o prelado e sua comunidade, procurado convencer os manifestantes que deviam abandonar o intento que os congregara. (….) Arrependidos do seu desacordo, resolveram os aclamadores aderir ao movimento restaurador do 1º de Dezembro de 1640. E assim foi D. João IV solenemente reconhecido soberano dos paulistas a 3 de abril de 1641, num gesto esplêndido de solidariedade lusa, do qual a unidade do Brasil imenso viria valer-se pelo alargamento extraordinário de sua área.” ( Afonso Taunay em “Ensaios Paulistas”) (Fig.3)
Por esse ato, Amador Bueno recebeu uma carta de el-rei em que lhe agradecia a lealdade. Quase duzentos anos depois, Dom Pedro I fez questão de ressaltar que foi aclamado Imperador pela primeira vez na terra do “fidelíssimo e nunca assaz louvado Amador Bueno de Ribeira”. Amador era homem riquíssimo e de muito bom senso, que gozou do maior prestígio. Casou com Bernarda Luís e tiveram numerosa descendência, entre elas um filho, bandeirante, também chamado Bartolomeu Bueno como seu avô e seu tio e um filho chamado, para distinguir do pai, Amador Bueno, o Moço, também bandeirante.
Amador Bueno morreu em data incerta entre 1646 e 1650. Acredita-se que tenha sido sepultado na parte desaparecida do Convento de São Francisco. Amador Bueno foi o bisavô de outra personagem importante da história de São Paulo, Amador Bueno da Veiga, que comandou os paulistas na Guerra dos Emboabas. Foi também tio e tutor de Bartolomeu Bueno da Silva, o primeiro “Anhangüera”.
Segundo o geneticista Sérgio Pena, contam-se hoje aos milhares os descendentes de Amador Bueno. Dentre eles estão vultos como Getúlio Vargas, Tancredo Neves, Roberto Marinho , Júlio de Mesquita Filho, Walter Moreira Sales, Vicente de Carvalho, Carlos Drummond de Andrade e Bárbara Heliodora.
Amador Bueno foi homenageado com o selo RHM C-169 em 20 de outubro de 1941 (Fig. 4) por ocasião do Tricentenário da Aclamação. Três séculos depois, o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo publicou, em 1941, uma “plaquette”, em mil exemplares, dedicada “A Amador Bueno no Tricentenário de Sua Aclamação como Rei de São Paulo – 1641-1941”. Injustamente Amador Bueno nunca foi homenageado com nenhum carimbo comemorativo. O verso do cartão da figura 1 foi circulado com um carimbo particular por ocasião do tricentenário da Aclamação de Amador Bueno (Fig. 6), contendo um erro: marca apenas a palavra “centenário” ao invés do tricentenário.
Bibliografia:
http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0355d.htm
http://www.wikipedia.org.br
http://www.oselo.com.br
Catálogo RHM
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