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.

)
1() Teoria e Pratica
,1() EST ANTE DE PSICOLOGIA
(_) da Terapia Nao-Diretiva
Teorias da Adol"!scenci a - Rolf E. Muuss
( ) lnfan cia e Adolescencia- Stone e Church
Li brm:lade para Aprender- Ca rl R. Rogers
.( ) Lud oterapia - Virgi nia Mae Axline
P ~ icoterap ia de Grup o co m Crian~as - Haim G. Ginott
()
Psicoterapia e Rel a,:oes Humanas · Carl R. Rogers e G. Marian Kinget
( ) Terapi<J Comportanvm tal na Clfnica - Arnold A. Lazarus
Relaxamento Progressive - Manual de Treinamento · Douglas A. Bernstein e Thomas D. PSICOTERAPIA
( ) fiorkovec
Psicalogia da Cdanr;a · da Fase Pr~-Natal aos 12 anos · Maria Tereza Coutinho
( )
{ J
Quem ~ de Pedra? .. . Um Novo Caminho para a Psiquiatria ·Jan Foudraine
Psiquiatria e Poder · Giovanni Berlinguer
E
lnvastigar;il'o Clfnica da Personalidade • 0 Desenho Livre como Estrmulo de Apercepc;;iio Tei'Mti-
( ) ce · Walter Trinca
Educacao: Uma Abordagem Racional e Emotiva - Manual para Professores do Primeiro Grau •
RELA(OES HUMAHAS
{ ) William J. Knaus. Ed. D.
( ) Questionamos 2 • Psican~lise lnstitucional e Psicamllise sem lnstituiclio - Compilaciio de Marie
Langer
( ) Nossos Filhos e seus Problemas- Helolsa de Resende Pires Miranda Carl R. Rogers
() Professor da Universldade de Wisconsin
ENSINO SUPERIOR
( )
() 0 Homem e a Ciencia do Homem- William R. Coulson e Carl A. Rogers Ci. Marian Kinget
Modernizacil'o e Mudanca Social - S. N. Eisenstadt Professora da Universidade de Michigan
( ) Contribuh;iio a Metodologia do Servico Social · Boris A. Lima
A Estrutura do Compor.amento • Maurice Merleau-Ponty
( ) Poes1a e Protesto em Greg6rio de Matos - Fritz Teixeira de Salles TRADUc;:AO:
() Poesia e Prosa no Brasil - F~bio Lucas Maria Luisa Biuotto
Signos, Sfmbolos e Mitos- Luc Benoist
cJ SUPERVISAO T£CNICA:
Rachel Kopit
( ) PROXIMOS LANCAMENTOS
( ) Psicoterapia Personalists - Uma Visiio Al~m dos Princfpios de Condicionamento - Arnold A. .VOL. 1
·. EXPOSic;:'Ao GERAL
( ) Lazarus
!.!! Edi~ao
•·
Psicodrama Tri~dico - Pierre Veil! e Anne-Ancelin Schutzenberger . .. . . ·.. .<
( ) A Afirmar;§'o da Mulher - Stanlee Phelps e Nancy Austin
· • •. ·f t _-:. , <';"
Como e Quando a Psicoterapia Falha - Richard B. Stuart
( ) .:: ' ·, • J 'J ;
; ; ,. , ·: q ~ ' ..
( ) ·. ~ i ... ~

() PEDIDOS

interlivros
ttl
) INTERLIVROS DE MINAS GERAIS LTDA.
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I PSYCHOTH~RAPIE ET RELATIONS HUMAINES
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) TMorie et Practique de Ia Therapie Non-Directive

Carl R. Rogers et G. Marian Kinget ~~ .~ -
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iNDICE DAS MAT!:BIAS
c COORDENACAO EDITORIAL: Rachel Kopit
c CAPA : Claudio Martins
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Prologo a Edl~o BrasUelra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
c Prologo a Edt~ Francesa ...... . . . ...... ·. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Prologo a 2.a Edl~ Francesa . .. . . .. .. . . . . .. .. . . .. . . .. . . . . . . .. . . . . . . . 17
(
c ~ PRIMEIRA PARTE
(
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-©-=c-Co~p-y-r-:-ig-:h-t-:b-y--=S-tu-d~ia-=P~sy-c-:h-o"":'log-.-:i-ca-,-U-n-,-.v-er-s-id_a_d_e_d_e_l_o_u_v_e_n_,_l_o_u_v_ai-n------~.1
c (Preparada pclo Centro de Catalogac;:ao-na-fonte do . J'.£4 ~ 0 M:E!TODO NAO-DIRETIVO
( SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ! =
·-· .: por
( f Rogers, Carl &.
G . Marian Kinget
( R631p Psicoterapia e relac;6es humanas: teoria e pnitica da
terapia nao-diretiva [por] Carl R . Rogers [e] G . Marian
1·. .. ~ r·-
·
23
(
~:~~!; d!r~~~~ :~i~;!~lo~~iS: e~~z:~t:~~n~~:aer[~~!~ !!·.~ ' ~~·! CAPITULO I - uma do assunto
coloc~ao
( I - . Origem da noc;ao de "nao-diret;ao" . . . ....... . ... . .. . . .. . . . 24
J . Nuttin. 2 .ted . Belo Horizonte, Interlivros, 1977 . - 1 • § 27
2V. § II - Aparecimento da noc;ao de "client-centered" . ..... .. ... .. .
c 29
iDo original em franc~s. : Psychothen:pie et. relations Ill - Persistencia da no<;io de "nio-dire<;io" ... . . .
§ 33
c humainea § IV - Algumas defini~6es sobre a ideia de nao-direc;li.o . ... . . . .. .
( Bibliograf.a
1. Psicoterapia 2. Rel~6es interpessoais l . Kinget, ~~~-. ~~
( .• 39
G. Marian II. Titulo III. Titulo: Teoria e pnit•ca da a CAP:lTULO II - A no~o-chave
( terapia nio-diretiV>a
CDI>- 616 .8914 § I - A tendencia a atuallza<;li.O . .. .. .. .. .. .. . . .. .. .. .. .. .. .. .. .. 41
( 301.11 § II - A No:;ao do eu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
( 77-0046 CDU - 615.851:3!11.16 ~ III - Noc;ao de liberdade experiencial .. . . . ... . ... . . . . .... : . . . . . 46
~ IV - A questao dos limites .. . ... . . .. . .. .... . ........ . . . .... . : . . so
( § V - Uma concepc;ao do desenvolvimento humano . . . . . . . . . . . s1
Direitos de traducio em lfngua portuguesa:
INTERLIVROS DE MINAS GERAIS LTDA.
J Caixa Postal, 1843 - Tel. 222- 2568
) Belo Horizonte - Minas Gerais
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( )
( ) CAPiTULO III - Problemas do autoconhecimento _jj
SEGUNDA PARTE

( ) A dinam ica da personalidade . ... . . ....... . : .. . .. .. ... . ... .. . . . . 59 TEORIA E PESQUISA


( ) 1 . Uma palavra e duas significac;oes . .. . .. . .. .. ... . . . ... . ~ -l
por
2 . 0 cara ter inconsciente da psicodina mica ... .. . . . .. . .... . . ii!l
Carl Rogers
( J 3 . Compreensao implicita e compreensao expl ic:ta de si .. . 68
( ) CAPlTULO VII - Genese e estrutura de noss.as teorias 143
CAPiTUl A •JV· ~ .A 7 AI:Dl\OsJ'~ra 1 · · ·, 1 • >· l :l
( ) -·~_ . .__ '~ :-31.'":- ~~ .' . f~:.. · )\ t: -- ,r · ,;\ - ~ ..~ . - -- -~-~-- -- ~ -;. _.,, ~ I - Origem da teoria no seu estado atual . . ... . . .. . .. . .. . . .... . 144
( )!j I - Tecnicas ou atitudes? . ..... . .. ... .. . .. .... .. . . .. . . .. . . ... . n ~ II - Algumas atitudes e conviccoes fundamen tais . . ..... . .. . .. . 148
71} ~ III - Estrutura geral de nossas teorias . ... . , .. ... ...... .. .. . . . 153
( )~ II -· Caracteristicas essenciais da atmosfera . . .. . . . .... ..... . .. .
A - A seguranc;a . ... .. . . .. ..... ... •... . . .. . ... . ... .. . . . .. i7
( ) 1 . Atltudes tutelares .. . . . ... ........ ..... .......... . 79 CAPlTULO VIII - Defini~iies das no~oes teoricas
2 . Estandardizac;ao ao nivel da m¢dia .. . . ........ .. . . 84 157
( ) 3 . Convite a .dependencia . .. . .. . ~ , . . ... . ,. ,· :,~· ..: ..' . : . . 35
4 . .Ai>ertura a experiencia .... . .. .. ... ... . : . . . .·. . .. . 87
~ I - Tendencia atuallzante e noc;:6es conexas . .... . .. . ... .. .. . 159
( ) ~ - II - Experiencia e n~oes conexas . .... ........... .. . ... . _. . ... . 161
f5. Como estabelecer a seguranc;a interna? ... .. . . . .. · 8,,
"
~ III - N~6es relativas a representac;io c;c nsciente 16~
CJ 6. Estimular a atividade de autodeterminac;ao ... . 90
§ IV- 0 "eu" e nocoes conexas .. .. . .... . .......... . .... . .... . . 164
-: · ,
. .7. Facilitar a emerg~cia dos recursos . . .... . .. .. . !H
( § V - 0 desacordo e no<;6es conexas . . ..... .. . .. . ... . . ... . . .. . . . 169
·a. · Evitar a inversao das forc;as de crescimento .. . . 93
!)ij
§ VI - Noc;oes referentes a reac;ao a ameaca . . ... . . .. . ... . . .. .. . 170
( B - 0 calor . . . .. ... ..... ... .. .. .. .......... ... . .. ...... .. . .
§ VII - Nocoes de acordo e noc;6es conexas . . . . . . . . . . . . . . .. . 172
1. "Optimum", nao "maximum" de calor .. . ... ... . . . !H
( ) ~ VIII - A considerac;:ao positiva incondlcional e noc6es coilexas .. 174
2 . Papel do calor .. . . ..... . . . . .... ....... . . . .. . .... . ~H
~ IX - Nocao de avaliac;ao condicional . .. ................ . .. . .. . 177
( ) ~ X - Nocoes relativas a avaliac;ao .. .. .. . . .. . . .. . ... . .. . . ... . .. . 178
( ) § XI - Noc;:6es relativas a fonte de conhecimento .. . .. . . . . . 179
CAPiTULO V - 0 Terapeuta 101
( )
CAPlTULO IX - Breve teoria da terapfa >
181 i
( ti I - A capacidade empatica ......... . .... . .... .. . ........ . .... . 104
t> II - Empatia, simpatia e intuic;ao no diagn6stico . . . . . . .. ... . . . InS
( ·' I. - Teoria da terapia e da m odificac;ao da personalldade 182
~ III - Autenticidade ou acordo lnterno ..... . . .. . ... ...... . ... . . 106
A. Condh;6es do processo t"'r:lpeutlco . . . . ... . .. .... . . 182
c )~ IV - Concepc;ao positiva ·e liberal do homem e das relac;oes ·
B . 0 processo da terapi.a ...... . . .. . . .. . . . .. . .. . . ... . 186
humanas .. . .. . . . . .. . .. . . , . . .. .. ... ... .. . ... , ...... . . .. . . . . . lOll
C . Efeitos da terapia sabre a personalldade e o com-
( !l. V - M:aturidade etnoclonal .. . . . . ... ... . ....... . ... . . . . ... . ... . . 110
portamento ... . . . . . ... .. ... . ... ... . .. ... . ...... . ... . 188
( ) ~ VI - Compreensao de si . ........ . . .... . . ........ . .. ... . . .. . . .. . 113
D . Algumas conclus6es rela tivas a natureza do homem 192
( )
CAPlTULO X - Teoria da personalldade e d& dlnamica do compor-
( CAPiTULO VI - A Rela~lio 117 . tamento 1~5
( II
i I - Alguns pontos de vista psicoterapeuticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 - Teoria da personalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
( ~ II - Estrutura e qualidades da relac;ao psicoterapeutica . . . . . . 120 A. As caracteristicas da crianc;a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
1. Compreenslo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123 B . 0 desenvolvlmento do eu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
( C . A necessiJ.a de de considerac;ii.o positiva . ....... 193
2. Toleran cia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
( 3. Respeito .. ~ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 D . Desenvolvimen to da ilecessidade de considerac;ao
" . Acettac;ao . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . . . . 135 W ., positiva de si . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198
_,..'iiifJ.....&...
,,...(1

(
(
( E . Desenvolvimento de urn mode. ,e avaliac:;ao condi-
cional . . . . . . . . . . .. .......... .. .. . ... . . ... .. .... . . . . . . 19!)
( F. Desenvolvimento do desacor~ entre o cu e a CAP1TUW XIII - 0 funcionamento 6tbno da personalidade 255
( experi~cia· ..... .. ... . . . ... .. . ·~ ... . .... . . ... . . .. ... . 201
G . Desenvolvimento de QOntradic:;oes no comportamento 202 I - ~racteriStica.sda mudanc:;a terapeutica 6tima .. . . ... . . ·257
( H . A experiencia de ameac:;a e o proc~so de defesa .. 202 1. Atltude aberta ante a experlencia . .... . . ... .. . . ... .. . 258
( I. 0 processo de desmoronamento e de desorganizac:;jio 2 . Funclonamento existencial .... ... . . . . .. .. . . . . .. . . .. . 261
psiqulca . ....... ... . . ... . ... .. . .. . . ... .. ... .. .... .. . 20t 3 . Urn orgtmismo dlgno de confianc:;a . . .. . . .. .. . . . .. . 262
( J. 0 processo de reintegrac:;ao . . ...... .. .. . . ~ .. .. .. .. . 205 4 . A pessoa que funciona plenamente ... . .. . ....... . . . . 265
III. - Teoria do funcionament6 6timo da personalldade . .. . . . 210 II - Corohirios desta concepc:;ao . ............ . . . .. . ..... . .. . 266
( 1. Esta concepc:;ao explica a experiencia clinlca . . .. . . 266
( 2 . Presta-se a hip6teses~ operacionais . . . ... . ... . 266
CAP1TUW XI - As rela~oes humanas 213 3 .f Explica certas ~tradic:;oes desconcertantes .... .. . . 266
( 4. Favorece a atividade criadora . . . ...... ... . . .. . .. . ·. . 268
( IV - 'I .Jorla das relac:;oes humanas . . . . . . . . . . . . . .. . ........ . 21.3 5. Afirma a.,.natureza posttiva do ser humano . .. ..... . . 268
A. Condic:;oes de desenvolvimento de uma relac:;ao que 6. Reveta 0 carater ordenado mas nao previsfvel do
c deteriora ........ . . .. . . ... . .. . .. . .. . .. . ...... . . .. ... .. . 214 comportmnento ...... . . . .. ... ...... . .. . . . .. .. ... .... . 289
( B. 0 processo cea uma relac:;8D negativa 215 7 . Explica as relar;6es entre a Uberdade e o determinismo 272
C . Os efeitos de uma relac:;ao que se deteriora ..... . 216 UI - Conclusio . . ·;. . .. . .. . . . .. . .... .. . .. . .. ... . ... . .... · · · · .. 213
~ .
c. D . Condic:;oes de desenvolvlmento de uma rel~ao em
( vias de melhoramento .. . .. . ... . .. . .. . . ... . . .. . ... . 217 BiBLIOGRAFIA 215
E . 0 processo de uma relac:;ao que melhora .. .. . .... . . 218
( F . ·E feitos de uma relac:;ao positiva .. ... . . . . .. . .. .. . . . 218 rNDICE REMTSSIVO . . . . . . . . 283
( G . Esboc;;o de uma lei das relac;;oes lnterpessoais .. . . . . 219
V - Teorias das re!ac:;oes familiares .. . .. .. .. . ..... .... . .... . 220
( VI - Teoria da educac;;ao e da aprendizagem . .. .... ... .. . .... . 221
( VII - Teoria da direc:;ao de grupos (Leadership) . . . . .. . . . .. . . . 222
VIII - Teoria da resoluc;ao de tensoes e de conflitos 'de grupos 233
( ~. Condic;;oes para resoluc;;ao de conflitos entre grupos 223
B . 0 processo de resoluc:;ao de conflitos entre grupos 223
(
(
CAPfTULO XII - A pesquisa 227
( )

( I -Alguns exemplos- tipo de nossos trabalhos . . . . . . . . . . . . 231


1 . 0 centro de avallac:;ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 232
( 2. A relac:;ao do funcionamento nervoso autonomo e os
( efeitos da psicoterapia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 234
3 . 0 efeito dos diferentes modos de interac:;ao verbal . . 237
( 4. Uma L"1vestigac:;ao da noc:;ao do eu . . . . . . . . . . . . . . . . 240
( '
5. Os efeitos da terapia sabre o comportamento
observavel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .•. . . . . . . 243
( 6 As relac:;oes entre a qualidade da relac:;ao terapeuta-
( cliente e os progresses · terapeuticos . . . . . . . . . . . . . . . 24!'
II - Algumas pesquisas em curso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
( I UI - Significac;;ao da pesquisa para o fu turo . . . . . . . . . . . . . . . . 253
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. ... PR6LOGO A EDICAO BRASILEIRA
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PSICOTERAPIA E RELAQ6ES HUMANAS e uma obra composta de dois
( •"'
~ ·s~
:....... ~" -- volumes - o primeiro em duas partes, por MARIAN KINGET e CARL
( • ROGERS, respectivamente, abordando a terapia centrada no cliente em
seu a spec to te6rico . 0 segundo volume, de responsabilidade de KINGET,
( prucura teorizar lUll caso clfnico de CARL ROGERS, explorando o desen-
( v..olvimento, proce's's o e objetivos numa terapia centrada no cliente . CARL
ROGERS dispensa apresenta~6es, pois todos aqueles que. se interessam
( por psicologia, conhecem sua reputa~ao de fundador desta terapia. MA-
~ . RIAN KINGET, de forma~ao "rogeriana", fez seus estudos sob a orienta-
( ··'_-~,.- Qflo de ROGERS, sendo profunda conhecedora de sua obra .
(
(
0 que vern a ser uma terapia centrada no cliente? KINGET e o pr6prio
( ROGERS esclarecem os fundamentos desta pratica terap~utica , na qual
( o cliente e, acima de tudo, respeitado como ser humano, e que nao val
ser curado de seu mal psfquico, mas sim ajudado a se conhecer, a se ver
(
\. de uma maneira mais real e niio atraves da mascara que traz e que os
( outros lhe imp6em . Ha nesta terapia uma preocupa~iio de dirigir o clieu-
te, sem, no · entanto; "empurra-lo"; orientar, sem tra~ar caminhos a se-
( rem seguidos. 0 cliente de ROGERS niio e "paciente", no sentido em que
espera a inlciativa partir do psic6l~go . Ele - cliente - e o terapeuta,
estao envolvidos num mesmo processo, partilhando de uma responsabi::-
lidade mutua. Na realidade, o termo pacieote niio expressa, de forma algu-
ma, a rel~iio (e a filosofia) terapeutica centrada no cliente, pois acarreta
uma carga de passividade que -niio e pt6pr1a desta terapia .
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( Este livro nao se destina somente aos pslcoterapeutas e
eonselhelros profisslonais. Ainda que seja •eentrado" no cam-
(' po de ativldade destes, os prtnc!plos que prect'lniza ultrapas-
( sam riiuito os ltmttes de urn campo especializado . Trata essen-
cialmente dM rela<;oes humanns e das condi~oes que devem
( torna-las mais sadias e n~ais fecundas. Destina-se, ·pois, a to-
d.os 3queles que se interessam pelos problemas de intenu;80
( hwnana e, particU!armente, hqueles que se preocupam em de-
( fender o lndividuo como pessoa

(
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( .PSICOTERAPIA E RELA<;OES HU'MANAS e wn livro que se dirige nao
apenas a uma classe de pslc6logos, ou educadorcs, ou conselheiros - mas
( alnda, a wna classe de pessoas que vivem nwn mundo govemado por "re-
( lac;;5es" - e relac;;ao, aqui, deve ser entendlda desde seu sentldo menor
ao mats abrangente. Vern dar sequencia a wna 1inha de pensamento jli
demonstrada nas duas obras que esta mesma editora publicou: LIBER-
DADE PARA APRENDER de CARL ROGERS e 0 HOMEM E A CttNCIA
( DO HOMEl\1 de ROGERS e COUL...<;;QN.
(
Belo Horizonte,. janeiro' de l9'7li
(
·c Bachel Koplt PR6LOGO A EDICAO FRANCESA
(
c
( ,.
0 objetivo desta obra e tornar conhecido 0 metodo psicoterapeu-
(
tico e a teoria da personalidade, de Carl Rogers.
(
Resultado da colaborac;;ao entre o mestre da psi'coterapia nao-diretiva
( e wna de suas discfpulas de origem europeia, o llvro esta adaptado es-
( pecialmente a finalidade a que se propoe. Trata-se de iun trabalho novo
e nao de uma traduc;;ao de wna obra primitivamente escrita para o lei-
( tor americana 0

( Desnecessario apresentar aqui a personalidade e a carreira de Carl


Rogers; o proprio autor nos da, neste volume, uma autobiografia que
(
0
situa seu sistema num contexto concreto Quanto a professora G Marian0

( Kinget, ap6s ter obtido seu doutorado na Universidade de Louvain, trans-


feriu-se para os Estados Unidos onde se ~specializou, sobretudo, em psi-
( coterapia nao-diretiva no Centro de Rogers, na Universidade de Chicago 0

( H.a va.rtos anos leciona psicolOg a clinica de orientac;;ao rogeriana na Mi-


chigan State University 0

'
0
A Srta Kinget encarregou-se da primeira parte da obra que e:xpOe :'
o metodo nao-diretivo, levando em conta o ambiente europeu. Na se-
( gunda parte, o proprio Rogers nos apresenta uma nova elaborac;;ao teo-
\
rica de seu sistema e wn esboc;;o do movimento de pesquisas positivas
que caracterizam sua "abordagem" clinica o Este texto foi, originalmente, I
redigido em ingies e a Srtao Kinget assumiu a responsabilidade de sua
traduc;ao para o frances, em muitos momentos, dificil o Apesar de sua
longa permanencia nos Estados Unidos, a Srta . Kinget preferiu redigir,
ela mesma, seu proprio texto em frances, apC:: s ter realizado uma primei- I
!!
ra redac;ao inglesa com o fim de facilitar a troca de ideias entre os d ois
autores da obra .

15
.( 14 I
(
(
(
(
( Urn segundo volume completa a obra, apresentando uma exposi<;ao
pratica do metodo nao-diretivo . Neste segnndo volume, a Srta. Kin get
( transcreve, entre outros temas, uma analise detalhada de urn caso tra-
( t.ado por Rogers, cujo texto foi gravado em fita . 0 material dos demais
casos elinicos esta a disposil;;ao das pessoas interessada,s, que podem, para
( isso, se dirigir a nos .
( Foi em 1948, durante uma visita ao Centro de Rogers da Universi-
dade de Chicago, que tive o prazer de encontrar, pela primeira vez, o pio-
( nelro da psicoterapia centrada no cliente. Sua maneira de abordar a
( personalidade e as rela<;oes humanas impressionou-me desde o primeiro
momento . . Sob muito_§ .aspectos - alnda que nao em todos - esta teo-
( ria me parece concordar fundamentalmente com o que ha de mats pre-
( cioso na concep<;ao europeia e tradtcional do homem, e dela retira, sem
dtivida, uma. parte de sua inspira<;ao. Isto vern justlficar nossa satisfa-
( f;iio em apresentar nesta cole<;ao Studla Psychologfca uma obra que est& PR6LOGO A 2.• EDICAO FRANCESA
destinada a encontrar entre n6s uma profunda repercussao.
(
(. Pelo Comite de Red~lio de "Studia Psycbologica",
(
J. NUTTIN
( r ' 0 texto da primeira edit:iio deste volume foi cuidadosamente revis-
Professor da Universidade de Louvain 4<~.< ..,._,,·•~ to e corrigido . 0 segundo capitulo, sobretudo, sofreu algumas correcoes.
(
• . • Porem, a exposi~;iio em si permaneceu substancialmente lnalterada. A aco-
( . '*1'-,..., lhida extremamente favoravel dispensada a primeira edicao desta obra,
~ testemunha o especial interesse que as ideias ~ o metodo de Carl Rogers
( ~ cncontram atuaL"Jlente na Europa.
(
2
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. 2AI
.,.,. ~. ­ Louvain, 1° de setembro de 196f .
. ·· 1 ..... .
(
( ; ~'1~- .•-
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J . .NUTTIN
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17
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( Capitulo I
(
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* ·----~--------------~----------------
(
c UMA COLOCAC.AO DO ASSUNTO
(
c Se I! exato que a introduciio de urn livro se escreve em Ultimo
( • ·• lugar, este capitulo deveria intitular-se "introduciio". Mas este titulo
~.)!lil'""t """•· nao corresponderia a verdade. Com efeito, o pensamento de Carl Rogers
( 1 . .• jli niio requer mais nenhuma lntroduciio. No momenta atual, ele e mun-
11l"""'1 ~. . dtalmente conhecldo. Al~m dlsso, a lntroducao e dlrlgida ao leigo. Ora,
( I . este capitulo se enderec;a par.Ucularmente !l.queles que tern urn certo co-
. .~,. nhecimento do assunto . Estas pessoas, em geral, apresentam a psicote-
( '!~Jii""' 1 .,,, rapia rogeriana como estando ancorada na ideia de ni!.o-direcao. Mas,
( ,; · ·• ainda que a nociio de nao-direcao permaneca inerente a este sistema, nilo
~ ._... f •.., .. _,_ e mais representativa dele . Imp5e-se, portanto, urn ajustamento, de modo
c a introduzir os desenvolvlmentos recentes deste pensamento. Dai a ne-
cessidade de comecar por uma colocacao do ass unto.
(
De um ponto de vista hlst6rico, a concep~ ilo niio-diretlva da terapia
(
rogeriana 1!, certamente, justlflcada . Fol. sob este nome que, M. uns vlnte
( anos, Rogers lanc;ou suas ideias . No entanto, do ponto de vista da rea-
lidade viva e transformavel de urn pensamento, esta noc;ao esta claramen-
( te ultrapassada . Por isso, afirmemos, desde ja, que a nocao de nio-~io
nao e a ldela fundamental desta psicoterapla . A abstenc;ao, por parte do
( terapeuta, de usar de diretivas e, sem duvida, uma de suas martifestac;6es.
( Ela e mesmo uma de suas manifestac;6es mais constantes, ja que se man-
teve ao Iongo de toda evoluc;iio deste pensamento. No entanto, a absten-
( cao pura e simples nada produz de importante em .qualquer campo hurnano.
(
(
(
(
(
(
( Neste caso, dir-se-a; talvez, que foi uma ldeia inoportuna a de tan-
car o metodo sob tal vocabulo. Quando alguem escolhe para dar a s\1.3 '- ~ ~ por suas observac;oes e pelo que lhe "ensinavam" aqueles que ele se
( esforc;ava por ajudar.
obra urn nome tao sugestlvo, nao deveria pensar na apresentacao de urn
( atributo que fosse representativo dela? Mas o fato e que este nome nio
represent& o fruto de uma deliberacao com cc;mhecimento de causa, mas Ainda que soubesse que mantinha pontos de vist a mais ou m enos
( fol, por asst111 dlzer, "lmposto" ao espfrito dos prlmelros observadores ~
p essoais com r elac;ao a terapia, Rogers n ao se deu con ta do grau r elati-
(
desta nova forma de dialogo reparador que e a psicoterapla. Els como
~ vam ente eleva do de unidade e e specificidade que seus pontos de vista
se puaaram oa fatoa. · •~?i
§ _,_ tinham gradativamente adquirido . Pdr isso , n ao tinha j amais p ensado em
( diferencia-los claramente das concepc;oes correntes e psicanaliticas e me·
( nos ainda pensara em lan<;a-los sob qualquer denominac;ao p a;rticular, no-
I I - Origem da n~o de ..na~ci:o.. va. Foi so mente em 1940, quando lhe foi oferecida uma cadeira de psi·
( cologia clinica na Ohio S late University que tomou consciencia da d ist:"m-
Para delinearmos a hist6rla desta noc;iio, teremos que nos reportar cia -<que separava "suas pniticas daquelas que, na ep oca, predominavam .
( Neste novo meio, em contato com jovens clinicos de for mac;iio avanc;a-
a epoca da formacao do fundador desta terapia e ao infclo de sua car-
( relra . Era a epoca do primeiro lmpulso do movimento psicanalftico na d a e, em sua maioria, ja exer cendo suas profissoes, o "ch oquc. das iclehs "
America (1920-1930). Este impulso foi extremamente vigoroso nos centros Tevelou claramente que seu trabalho de te rap eu ta guiava- se p or urn con-
( metropolitanos. Tomando alguns dados do esbo~;o autobiograffco de Ro· junto de principios pessoais e originais.
( gers, que se encontra no capitulo VII desta obra, verifiC!UDOS que sua
forma~ de clinlco efetuou-se em Nova Iorque em urn meio profuuda·
Contudo, nem ele, nem a equipe que se formou rapidamente a sua
( mente freudiano . No entanto, sua formac;ao academica geral se deveu em ·
volta, foram capazes de reconhecer imedia t am ente a natureza diferencial
grande parte as teorias do fil6sofo-educador John Dewey, representanle
c_ destes principios . Por outro lado, retrospectivamente, p er cebe- se com fa-
bern conhecido do pragmatismo americana . Isto significa que a corrente
altamente especulatfva de sua formacao clfnlca foi equilibrada por uma cilidade que a sua natureza verdadeira, subjacente, estava, de certa for-
( corrente empfrica igualmente forte. Ah!m dlsto, como ele pr6prto o in- ma, eclipsada por uma car~cteristica do comportamento de Rogers como
dica, sua inclinac;ao natural levou-o multo cedo a voltar-se para a obser- terapeuta . Com efeito, o que se evidenciava na analise .de suas entrevis-
..c vac;io e os dados da expertencia, mats que para as teorias e especulacoos . tas - ja gravadas naquela epoca - era a ausencia das diversas formas .
( de direc;ao (perguntas, interpretac;oes, conselhos, etc . ), geralmente r eco-
Concluida sua formac;iio, aceitou urn posto de diretor de uma ell· nhecidas na epoca como constituindo o papel legitimo do terapeuta . Ro-
(
nica psico-pedag6gica de provincia, em Rochester, ao norte do Estado de gers admitiu, por outro lado, que seu modo de interac;ao nao-diretivo nao
( Nova Iorque, func;lioo que exerceu durante doze anos. Se bern que a dis era fortuito, mas representava valores que estimava profundamente. Ini-
tancla; aeparando-o dos centros metropolitanos, o tenha privado · de con- cialmente, portanto, foi, sob uma . dimensao de simples comportamento
( tatos diretos com os representantes da psicanalise - como alias, de to· e:&terior, que se revelou o carater particular de sua "abordagem" . Em
das as outras fontes psicoclfnicas - deu-lhe, no entant.o, a oportunldade conseqliencla, quando foi convidado a publicar sua teoria, qualificou-a sim-
(
de desenvolver-se de maneira tranqtiilamente autOnoma . Assim, a medi·
plesmente de nio-dlretiva. (1)
( da que sua experiencia pnitica crescia, desenvolveu pontos de vista cnda
vez mats divergentes daq.ueles que pre1:idiam sua forma.c;io de clinico.
( A prop6sito do neologismo "abordagem" que acaba ae
Refletindo sobre o que observava continuamente em seu trabalho, ser empregado, e em considera<;ii.o ao freqtiente uso que sera
( e discutindo suns observac;oes com o pessoal de sua clinica, chegou a -, ~== feito dele, uma breve explicac:,;ao se faz necessaria .
conclusao de que as teorias que lhe haviam ensinado correspondiam mui·
to pouco a realidade que se oferecia a sua observac;iio . Teve, igualmcnte, •A;
•3 .
.
a impressao, cada vez mais acentuada, de que as tecnicas em que fora
treinado rcvelavam-se pouco eficazes e que, sob certos aspectos, pareciam
ate mesmo perniciosns . Sem saber exatamente, na epoca, para qual di·
·rec;iio se encamlnhava, dccidiu, no cntanto, deixar-se gular cada vcz mailii !1 l I: interessante observer que o termo nao..<firetivo n4o fez parte do trtulo do primeiro livro
que Rogers consagrou ao tema. A lista de suas publi~oos (cujas obres, assinaladas na Jista bi-
bliC>grl!fica deste livro; constituem apenas uma selec!io) revela, alc!m disto, que somente duas
-.-~ ...... dentre elas, ali~s de valor secund~rio, uma datando de 1945(82), a outra de 1946(83), cont~m o
d£ . .. termo nao-diretivo no seu tftulo. Esta denominacao foi, pois, empregada e propagada principal-
mente pnr outros autores, colaboradores ou crfticos.
(
(
(
A apresentacao, em lingua rtanoesa, do pensamimto de § II - Aparecimento da n~ao de "client-centered" n,
( Rogers, na primeira parte deste livro, foi guiada pelo cuida-
( do de evitar os anglicismos. COntudo, para ser fiel ao pensa- Durante os seus trabalhos de ajustamento desta nova abordagem,
mento original, verificou-se necessarto lntroduzir o termo Rogers e sua equipe fizeram wna curiosa descoberta que deveria conduzk
( "approche" como correspondente do ingl~s "approach"- que Ro- a uma mudan~a acentuada em sua 6ptica . Verificou-se, com efeito, que
( gers introduzlu no campo da psicoterapia e pelo qual manifesta alguns dentre os membros da equipe, ao pratlcarem a psicoterapia de
uma , acentuada predilecao. Primeiramente, este termo contri- uma manetra pratfcamente id~ntlca ll. de Rogers, nao obtinham os mes·
( bui para situar a interacao terapeutica nurn plano especifica- mos resultados. Ao contrario, geralmente chegavam apenas a indispor o
·mente humano - por oposicao ao plano "tecnico". Com efei- ·cliente ou a afasti-lo . COmo essas entrevfstas tinham sfdo gravadas, to-
c to, a no~ de "approche'" evoca a de "pessoa" como a no~iio ram anallsadas e discutldas pelo grupo. A prop6sito deste g~nero de dis-
( de "tecnica" evoca a de .. objeto". Altbn disso, a nocao de cuss~es - gbro que se pratfca correntemente no mefo rogeriano - ob-
"approche", aplicada ao campo tern~utlco, evoca a idtUa de "ten- servemos o seguinte. Contrariamente ao costume acad6mico ou fls regras
( tativa", de "ensaio". Isto ~. o vocabulo "approche", aplica-se dialeticas. os parttcipantes" niio se esfor~am por estabelecer urna distln·
( melhor a descri~io de urn campo em vias de desenvolvimento gAo estrita entre sujelto e objeto, mas procuram compreender todo pro-
(como a pslcoterapia) do que os tennos "metodo", "procedi· blema em func;Ao da unidade existente entre o sujeito que age e o objeto
c mento" - ou ":tt§cnica", todos evocadores de urn modo de a~ao de sua acio . Todo problema e, pols, tratado, levando-se em conta fatores
nitldo e claro, e de empreendimentos perfeitamente detennina- de ordem pessoal - atitudes, convicc;~es. necessidades, cren()11S. desejos,
c dos. 0 termo franc!s mais pr6:ximo da ideia de "approche" (t) etc . - eolocados por ele em Jogo .
( . e, provavelmente, 0 de "6ptica" - 0 qual~ alias, senl. tam~m
empregado. · "}(· Evidenciou-se nestas discussOes que aqueles que fracassavam nos seus
( esfor~s de terapeutas n.iio-diretivos aplicavam o novo metodo sem nenhum
!"'" .
( --., envolvimento (2) pessoal. COmportavam-ee~ de certa forma, ll. maneira
Quanto a n~io de ...tratamento"~ assim como as ~
conexas de "paclente", de •entennidade", de •cura•, nio exprimem de uma "tela neutra" - no~ao psicanalftica do papel do terapeuta em voga
( na epoca. Seu comportamento niio-dfretlvo era puramente circunstan-
em nada u conce~ rogerianas. Estes termos pertencem
cial . Era urn papel, nada mals . Este papel era adotado por eles simples-
( ao vocabuhirio biol6Kfco, m~co e patol6gico. Nlio estlo de
~ mente porque era praticado, aparentemente com sucesso, por seus cElla-
( acordo com a con~ao de confiito psiquico como sendo de
origem interpessoal, e nao necessariamente •aaonnai". Esta con-
·=- gas ou professores. Nunca .haviam refletfdo sobre as atitudes e convic-
ce~lio nlo exclul, evfdentemente, o fato de que na sua etlo·
~· Ql5es subjacentes a este g~nero de comportamento. ~ preclso reconhecer
(
logla ou nos seus ereitos, este conflito possa comportar ele" que, neste estaglo de desenvolvimento, as atitudes requeridas para esta
( mentos de ordem bioqufmlca ou fiSiol6Pca pertinentes i. ·me- terapia nao se mostravam muito explfcitas . Foram precisamente inciden-
dicina e devem 181' por ela tratadoa. tes desta ordem ·que estimularam pesquisas para se esclarecer os fatores
c de fracasso dessa terapia. Tornou-se claro, Inclusive, que certos terapeu·
( tas pseudo-nlio-diretivos tinham opiniaes diretamente contrarias ll.quelas
Em resumo, a terminologia psicoclinica corrente, tomada que se revelaram, em seguida, como indispensaveis a uma praUca fecun-
( princlpalmente do campo mM!co, presta-se pouco l expressio da desta abordagem .
do pensamento rogeriano. Contudo, pela !alta de urn vocabulano
( Observac;oes deste g~nero, acrescidas de certos progressos de seu
adaptado a esta conc~o pslco-social dos problemas pessoafs -.."- if;;,.
c e de sua solucAo, sera necesslirio recorrer, vez por outra, nesta pr6prfo pensamento, levaram Rogers a concluir que o lmportante nesta
obra, k tenninologia tradiclonal. • A;;. pslcoterapla nio e 8 ausencla de dfretivas, 018!1 a presen~, DO terapeuta,
(
c ~--.
( ( 1) A expressfo "client-centered", serli usada na sua forma traduzida centrada-no·cliente, por
;·~ -- ser esta ultima jli bern conhecida em nossos dias. Entretanto, alguns termos que se encontram
(
em ingiAs no original, assim serfo conservados, para maior fidelidade ao original francAs. (N .T.)
( (1) Traduzimos por abordagem a palavra francesa "approche" que significa, aqui, o modo de

.
• 12) Em franc:Gs, "engagement". (N.T.I
abordar uma.uunto. (N.T.)
("
c
(
§ III - Persistencia da no~ao de "ntio-dire~tio" <if
de certas .a titudes em face do cliente e de uma certa concep~lio das rcla-
c coes humanas. Isto e, ele percebeu que a essencia de sua abor~ggm con-
( sistia
-·· . menos num modo -. ~-
de agir que. nurn
. --
··m
- ·-
odo de -ser
...............
~Se-
-- o---· comporta· Para definir o estado atual da terapia rogeriana, niio basta cham ar
(, , wento do terapeuta nao . ~ a _expr.essao de certas atitudes e convicc;oes a at en~ ii.o sobre o fato de que a nao-direc;ao niio e a sua ichcSia fundamen-
" ~
profundamente enraizadas em . sua _personalidade, ele riao cheganl. a de- tal, f'l que a noc;ao de centrado-no-cliente veio substit ui- la f:omo um '' r6tu-
c sen~adear, no cliente, o gelle_rp_d!L_P_ro~e~sq __c!~nominado "atualizac;ao de lo" . Estes fatos foram publicados ha mais de dez anos, portanto , ni\o sao
( .st: ... ou ..~ !<~~~!m~~J?~ssoal: . novos . 0 que temos de tratar aqui e de evidenciar o curiosa desnivel que
' parece existir entre o conhecimento e a comprcensao desta t erapia. Este
c fato parece · inegavel e e observado mesmo nos meios profissionais mm:·
Sendo a natureza destas atitudes o objeto do capitulo seguinte, nao
ricanos.
c a. mencionaremos aqui, senao para elucidar a significac;ao do termo cen-
trado-no-cliente que, em consequencia de pesquisas posteriores, substi- Este fenomeno indi c~ ri a que estes meios prestam apenas uma vaga
c tuiu o termo nao-diretivo. Para que o processo terapeutico . seja · feclin- atenc;ao ou tim interesse superficial a obra de Rogers?
( do, . e preciso que ..se efetue em func;ao da exrteriilncia do clle~te e.nao em
func;ao de teorias e princfpios estranhos . ~ . esta 'e:i(perienqiai · Para que ,o Os fatos provam sobretudo o contrario . Os que leem regularrnente
c terapeuta seja eficiente e preciso, pojs, que adote, . em faee de seu cliente, as revistas de psicologia e de psiquiatria, ou que assistern aos con gressos
uma atitude empatica; deve esforc;ar-se por imergir coni o ·cliente no mwi- a.nuais destes ramos profissionais, estao a par da continua expansao das
c do subjetlvo deste. 0 cliente deve ser o centro desta empresa, nao sim- concep~6 es rogerianas. Quanto aqueles que nao tern oportunidacle de o b-
( plesmente no sentido de que e 0 beneficiario del~. mas nu~ . sentido mai~ servar a f'itu a ~ ao de perto, podem tirar suas pr6prias conclus6es a par--
intrinseco . A tomada de consciencia de sua experiencia . pessoal deve ser- tir de alg umas distin ~oes de que Rogers foi objeto no decorrer destes
( vir de guia e de criterio ao processo de reorganizac;ao de su~ atitudes u~timvs anos. Em 1956,. f oi urn dos tres primeiros benefici!'irios do grande
( e a conduta ulterior de .sua vida. Dai o termo . f'client-cente~,:ed", indicativa Premio D~stingJU ished Scientific Contribuition Award que a American Psycho·
do carater ideocratico do prooesso, isto e, de seu enraizamen,to. na expe· logical Association acabava de criar e que concedeu, ex-aequo a Wolf·
c riencia vivida do cliente . gang Koehler, de rename mundial, a Kenneth Spence, lider da psicologia
experimental americana, e a Carl Rogers. No mesmo ano, ele foi eleito
c primeiro presitlente da American Aoademy Of Psychothampists. Pouco de
( 0 Ieitor se perguntara, talvez, por que a expressao nao-diretiva pois, a Universidade de Wisconsin ofereceu-lhe urna cadeira de psiquiatria
foi tetomada como o subtitulo do presente livro . Duas razoes justificam e de psicologia clinica, abrindo, desta forma, o campo das doenc;as men-
( tal anacronismo . Primeiramente, o fato de ser o termo "client·centered" tais graves ao tratamento ·e a pesquisa segundo os principios rogerianos .
( de dificil traduc;ao. Alem disso, e com este non1e que . esta psicoterapia
e mundialmente conhecida; no Japao, par exemplo, onde apareceu recen- Estas poucas indicac;oes desmentem de modo suficiente. parece-nos,
( temente urna tradw;ao japonesa de Counseling and Psychotherapy, de Ro· que a distancia existente enrt.re a informa~ ao e a compreensao relativas
gers . Nos paises de lingua francesa, o ponto de vista rogeriano foi apre· a esta terapia resultaria de urna ausencia de aceitac;ao ou de urn declinio
c sentado, ja em 1950, pelo professor Nuttin . ( 70) e por M. Pages, que mais no interesse profissional. Como explicar entao a tendencia do publico a
c recentemente a expos na Nouvelle Encyclopedie de Medecine et de Chirurgie compreender este pensamento a urn nivel embrionario, e desatualizado,
(72) . Por isso, com o fi.m de assegurar urna certa continuidade com o uso isto e, nao-diretivo?
c estabelecido, parece-nos indicado faier uma concessao lingtiistica . (1 J
( -, ~ . . .. Nao ha dtividas de que urn fenomeno deste genero resultou da ac;ao
I 2 ..
.,.-;--
~ .., de uma variedade de fatores . Entre estes ha dois que parecem desem-
(
penhar urn papel particularmente significativo. Urn, de ordem lingtiistica
( ou semantica, relaciona-se com o r6tulo sob o qual esta teoria foi Ian-
(
··4~·
~)4S: c;ada . 0 outro, de ordem psicol6gica, e oonseqiiencia da rea.~ao que este .
r6tulo devia provocar.
(1) Na primeira parte desta obra, fez-se uso do termo " rogeriano" . 0 uso deste termo se ex- &? 2
( pande cada vez mais nos Estad~s Unidos. Na segunda parte - o texto de Rogers - sendo o uso
( deste termo urn pouco delicado, foi retomada a designacao anterior, colocada P.ntre aspas, para Mas antes de nos empenharmos mais nesta discussao, observemos
assinalar que nao deve ser' entendida no sentido literal. que existe igualmente urn movimento conttario a esta tendencia a fixac;ao
(
( 28 :W
~ 't '" ~~lit~';!·-
-
I
I
efeitos deste choque nao foram todos de um tipo tiio platonico . Foi-me
C 1 ao nivel do primeiro esb~o deste sistema. Com efeito, o mimero daque- relatado que, a epoca de sua aparic;B.o publica, a ideia de um tratamento
( J les que enriquecem seu pensamento com uma compreensao perfeitamente terapeutico despojado de direQoes, de diagn6sticos e de interpreta~oes,
adequada das teorias de Rogers aumenta continuamente. Tanto no campo afetou a pressiio arterial de certos profissionais "conscienciosos", revol-
( ' da psicoterapia como em diversos outros setores das ci~cias socials, a tados pela "falta de competencia e de responsabilidade profissionais" de
( significac;ao e o alcance deste pensamento para o individuo e a sociedade uma tal f6rmula. Parece-nos possivel aflrmar, a respeito disso, que a rea-
1
moderna sao cada vez mais reconhecldos . No entanto, os que compreen· c;iio ao principio de niio-dlrec;io foi comparavel " que acolheu o principi0
( deram o problema no plano simplesmente de uma ~cnica nii.o-dlretlva, freudiano de sexualidade. Nao que tivesse a veemencia que marcava a
( continuam sensivelmente mats numerosos, parece-nos, do que os que oposicao as co~cePQoes de Freud . A ideia de nii.o-direQiiO cho~ou-se antes
' apreenderam num plano mais geral, humano. Quando algut!m se ocupa contra uma resistencia passiva . Mas este genero de oposi~ao toma-se as
da formac;a.o de futuros terapeutas, esta bern situado para perceber a sf· -vezes mais tenaz que a reac;iio violenta. De fato, as conseqUencias pra·
t\Ja9Ao. Alguns dentre eles ja ~m muitos anos de experi~ncla clfnlca por sua tlcas da concepc;ii.o sexual de homem trazem consigo mudanc;as de atitude
( I propria conta e retomam a universldade a fim de completar sua formac;io e de conduta que, segundo estas mesmas teorias, foram sempre deseja-
( atrav6s dos estudos de doutorhdO ou p6s-doutorado, niveis em que se com- das, e mesmo reprlmldas com grande prejufzo emocional. Ap6s o pri-
1
. pleta. nos E .U. A . a fo~ de tera.peutas . As conoepc;6es destas pessoas. meiro sobressalto de "indignac;ao", nao havia muitos obstaculos a aao-
( de formac;ii.o psicol6gica avane<ada. oferecem uma amostra re:;»resentativa c;a.o das concep~oos freudianas, ja que se tratava de uma inclinac;ao natural.
( , do desnivel em questii.o .
Nao ocorre o mesmo com a id~la de nao-direc;ao. No campo das
( I Com a ftnalidade de remediar em alguma coisa este desnlvel, exa- relac;oas humanas, a necessldade de dominar, e sob formas dlsfarc;adas,
( • mlnemos mais de perto um certo mlmero de fatores, que parecem favo- o desejo de ser dominado, se sobrepoe de Ionge as necessidades de li-
1
recer a fixac;io da terapla rogeriana ao nfvel simplesmente nio-dlretlvo. ~1 ~­ bertar e de ser livre. Aa mudanc;as requerldas pelas concepc;oes de Rogers
1
Pt ~· correspondem, portanto, numa medlda variavel, as necessidades da maio-
( Inlcialmente e inegavel que um vocabulo como nio-d~ tern as- ria das pessoas - lsto ao menos no estado presente da evoluc;iio huma-
( J pecto de um programa. Este termo e tiio claro e simples, tio facll .de ser 2'~-: na . Esta ultima restric;ii.o e evidentemente importante. Sem ela a afir-
1
completado pela imaginac;ii.o, que nii.o chega a despertar a curlosldade. ~,.;~ · "'llllfl"· mac;ii.o precedente - o medo da verdadeira liberdade - impllcaria uma con-
( Esta e a razao pela qual o profisslonal especlalizado convencldo de que •- r 1""'iii!!l,
1 .. - cepc;iio do homem diretamente contraria aquela que se encontra na base
( ) a psicoterapia quase ja nao tern segredos para ele, imagina, com facnt- 0 . . • desta abordagem em questii.o . Com efefto, enquanto que as necessidades .
dade, que o nome simplesmente dessa abordagem lhe ensina tudo o que de dependencla e de independ~ncla estiio ambas profundamente enraiza-
1 7~ ;:.
C the e utn saber a respelto dela. Se o que o termo lhe sugere concorda das, a hist6rla do homem parece demonstrar suficientemente que a ne-
( 1 com suas opinioes pessoais, nao hesita em declarar-se partid&rio das con- cessidade de independ~ncia manifesta uma capacidade de crescimento que,
cepc;oos nao-diretivas. Caso contr&rio, nao hesita mul-to em declarar que por Iento e irregular que seja, nii.o cessa de se operar .
( ) a psicoterapla nao-diretiva nao e uma verdadeira psicoterapia, e que ela
( ) se destina a casos benignos, etc . Com o fim de dem.onstrar que esta abordagem tolera di-
verg6ncias tllos6flcas, desejo esclarecer \Ull pouco mlnha po-
( ) Mas se e lncontestavel que 0 carater lapidar desta denominac;io COD·
sl~aopessoal com relac;ii.o a concepc;io rogeriana, fWldamental-
tribuiu para fix8.-la mentalmente, lsto nao basta, no entanto, para expltcar w .~---- - ~ mente otlmlsta, do homem.
( esta fixac;io . Outras teorias e tecnicas psicol6gicas foram lanc;adas sob $'
--- •
( ) vocabulos lapidares sem que fossem fixadas nQ espirito como a ldeia de z;~ . Tal como eu o ooncebo, o pressuposto da primazia
nio-direQiio . A partir dlsso pode-se, pols, supor que certos fatores de or-
( l
dem mats ou menos emocional tenham desempenhado um pape! . das forc;as de autonomia e maturidade se aplica a humanidade
em seu conjWlto - nao necessariamente a cada individuo·. Al~m
1
( A este respeito, assinalemos o abalo que a ldela de nio-direc;io pro-
~'·,·
~--- disso, e contrariamente a Rogers, julgo que a tendencla natural
. duziu no campo psicotera~utlco. Dizemos "abalo", nio •ameac;a", por- - a Uberdade-na-responsabilidade nio se desenvolve intelramente
.
... ii'l""i..._ '
J que esta id~ia nio tern conseqlimclas diretas, ou pelo menos imediatas, ..• de mentlra ua,tural, isto e, com a facilidade e atrac;iio inerentes
) para os profissionais especiallzados desse ramo da terapia . Trata-se antes aquilo que qualificamos comumente de natural. Nii.o creio que
de um choque, de certa fQrma, ideol6glco . Pots, a id~la de nao-direQB.o toea seja suficiente afastar os obstaculos culturais e socials para
1
( de perto a estrutura dos Mbltos mentals e scr:lais, das convicc;Oes, dos que estas tendencias se desenvolvam automaticamente . Alias,
~ ·;, .11\ . .. ,..,,,
( , desejos cc,nfessados ou nio, da maiorla de n6s. Pareoe mesmo que os
- ~~ I;~ ... ..._.,.
:n
(
(
(
isto e uma questiio puramente te6rica, ja que, em virtude du
( natureza subjetiva do homem e da variedade de suas necessi- No entanto, a competencia real do sabio ou do tecnico se cerca, freqtien-
dades, a no<;iio de urn melo sem obstaculos - lsto e, sem amea- temente, de uma vasta aureola - vestfgio, sem duvida, do estagio magi-
( <;a ao eu - e inconcebivel . Por is to, a Iiberdade e a maturidadc co da evolu<;ao humana. 0 ml:lsmo ocorre com a responsabilidade. Nin-
( verdadeiramente humanas, niio surgem como a expressiio de guem pensa em contestar a autoridade Iegitima, seja ela natural, como
tun dom inato, Iatente, mas como o fruto de urna conquista, a dos pais, seja delegada, como a do educador, do medico, em suma, de
( logo, de urn esforco . Trata-se porem, aqui, de uma questiio mui - qualquer profissicinal, inclusive a do ps1coterapeuta. Estas func;:5es im-
to vasta e que niio deve receber urn tratamento a margem ., plicam, inevitavelmente, na necessidade de julge.r e de tomar decisr>es
( que afetarao outras ·pessoas . Parece · possi,vel, todavia, afirmar que esta
Pode, portanto. conceber-se a quase-indelebilidade da ideia de nao- responsabilidade se p6e muitas vezes a servico de objetivos pouco lou-
direc;:iio como uma certa forma implicita de oposi<;:ao ou de descrent;a. vaveis . Freqiientemente a "responsabilidade" esconde de um !ado, as ne-
Assim como a reac;:ao as concep<;6es de Freud, significava: ''Nao e ver- c~ssidades de ascendenoia e de dominacao daquele que a exerce e, de ou
dade! Nfio somos maus como voce pretende", a que acolheu· os pontos tro !ado, as tendencia$ a dependimciA e ao menor esforgo daquele que e
( de vista de Rogers significava: "E impossivel! Nao se pode encaminhar
seu objeto. Tudo '' isso se efetua de at~meira, sem duvida, amplamente in-
o individuo em conflito, inadaptado, neur6tico, sem se usar de diagn6s- consciente e em fun<;ao de wna cultura ainda amplamente alicer<;ada so-
(
tico ( 1) e de direc;:iio . :E·uma impostura" . Evidentemente, raros sao bre o direito do mats forte . ·
(
aqueles que formulariam sua reac;:ao pessoal nestes termos. 0 Zeitgeist
ctemocr atico, a impassibi!idade academica e a "moda" do estilo "indife-
(
rente", nao toleram reacoes como essas. 0 choque e a resistencia, porem, § IV '. Algumas defini~oes aobre a idela de ncio · dire~cio
( nao deixam de existir .
( .A maior parte das · pessoas parece incapaz de conceber a possi-bi-
lidade da aplicabilidade dos principios rogerianos as rela<;:oes humanas A- NAO-DIRE(!AO E "LAISSE&FAIRE''
(
em geral. No momento eni que escrevia essas paginas uma pessoa inte-
...._, 1!....... , .......,..t.
( ligente e de boa formac;ao, com quem discutia a questao · e que se esfor- ,. • '
cava por me fazer ver a falta de. realismo de concep<;Oes deste genero, • ... Nas conversas entre terapeutas, ou nas apresentac5es de casos, ouve-
( disse-me: "Imaglnemos o simples caso de urn policial. Como poderla
. .• se freqtientemente dizer que: "com certos lndividuos, ou em certos mo-
( ele exercer suas funcoes de uma forma nao-diretiva?" Urn esboco de mentos, nao hti nada de mellior a fazer do que se mostrar estritamente
resposta a questoes deste ~nero esta cont1do no capitulo V, que trata da niio-diretivo·•: 'o que significaria, sem duvida, que o individuo se mostra in-
( diferen<;:a entre a estrutura e OS atributos OU qualidades de Urna situac;:ao trat!ivel. :E evidente que a nocao de nao-direc;:ao, que esta na base das opi-
( interpessoal. Concluindo, no estado atual de . desenvolvimento humano, o nioes deste genero, e a do "Iaisser-faire". :E inevitavel pergnntar se quem
pensamento de Rogers e, sem duvida, por demais revolucionario para mantem estas opinioes esta ciente de que o comportamento do cliente du-
( ser recebido no plano da ~ao sem provocar resistencias. A maioria de rante a entrevista e amplamente determim.c1o pe!o comportamento do te-
( nossos contemporfmeos, mesmo ocidentais, · mesmo partidarlos de ideolo- rapeuta. Alem disso, aquilo que ele quali.Iica de "intratavel " e, talvez, o
gias Iiberais e democraticas, tern urna concepc;:ao essencialmente hierar- -::-~~. unico fundamento sobre o qual poderfi, '> r1i.ficar-se a autodetermina<;ao,
( quica das rela<;oes interpessoais - uma concepcao baseada em relaciona- •;;-.... que e a finalidade da terapia'
~
mentos de superioi'idade-inferioridade, de ascendencia-submissao, de au-
( toridade-subordinacao. Estas palavras com sua carga emocional ainda sao, ~A.... Do P.Onto de vista externo, nao-dire((ao e "laisser-fair;·". scm dtivida ,
sem duvida, tabus, mas as atitudes que correspondem a elas subsistem, .. -· se assemelham. Mas na. sua intencao e na sua especificidach , o:: do is ter-
sob r6tulos aceitaveis tais como a "competencia" ou a "responsabilidade,. mos quase nada tern em comurn . A nao-diregao, tal como d :< c~ enten-
profissionais .
dida pelo rogeriano, esta inspirada numa atitude incondiei Cil1<' : mente po-
( sitiva, enquanto que o "laisser-faire" reduz-se essencialnwnt(• h incllfe-
Longe de n6s a inten<;ao de desacreditar a existencia da competen-
renca, e ate a uma. tolerilncia proxima do desprezo . Ora , numa r·: l<Jc;ao q ·.l l
cia real, sobretudo no mundo complexo e esoecializado em que vivemos.
se intitula como imbuida de respeito, de compreensao e cle l dlor ( ca-
racteristica que todos os metodos terapeuticos atuais, sem ex ccc;·.fio. rc-
(1) A prop6sito da quest;Jo de diagn6stico, ver o V. II, Cap. VI, A Transfe~ncia eo Diagn6s-
clamam para si), a atitude de "laisser-faire" nao e tao in ofen si•: <; qua n-
( tico. to o acreditam aqueles que a aplicam. 0 cliente logo reconlwce o r;uni
.a:r ,<$'J~ .~v ~' ter negatlvo, tacitamente critico, e inclusive defensivo, desta atituc1.!! Tal
,
. .. .- .,. · ·,~-
:!2
eXperi~ncia IS, niio somente penosa para aquele· q,ue espera encontrar no
terapeuta a acolhlda que e incapaz de · enoontrar em outros lugares, co- trario . Negar isto e fazer da tib«;M de dirigir uma ideia proxima da de
mo tambtSm reforc;a a atltude de ambival~ncta e · o desespero que o des- coer~ao. Ser diret.i vo niio sigriiftca tomar as rMeas da vida quotidiana
( tr61. Assim o cliente reage, ou abandonando a . experi~ncia tera~tica, (If'
...... , . ~ . -
•-:t l - .
do cliente·. Nenhum terap'Emta precavido se aventuraria neste tipo de pro-
cedimento . As· conclus6es qur . se depreendem deste material gravado ou
(
ou recusando tacitainente a empenhar-se em Qm ~orc;o- temporarlamen-
te incOmodo, mas potencialmente fecundo - de . autodetermtnac;Ao. Quan-

., pubUcado sao confirmadas pr1n que se observa durante a supervisao de


terapeutas estagilirios . ·· Estes revelam-se geralmente inconscientes da in-
( to ao procedimento de alternar fases de interven~ com outras de •lats-
ser-fatre", t:~arece pouco terapeutico, tendo em vista a confusao e as os- fluencia, as vezes penetrante, que exercem sobre o cliente . Aparenteme,n-
( cilac;oes emocionaia. que mi provocar no cliente . te nao se dii.o conta do fato de que "uma simples sugestao", quando vem .
da boca do "especlalista", tende a s.i,gnificar uin conselho, ate uma ordem,
( 'Je verdade que o papel do terapeuta nao-dlretivo IS descrito com para o lndividuo desamparado ; de que as quest-Oes do terapeuta repre-
( freqtl~ncla como "lnattvo". Contudo, convem en tender este tenno DUm sentam sinais indicadores de seu itiMn\rlo mental, e de que suas mani• .
sentido de certa forma oriE!ntal, isto 6, signlficando niio a a~cta de festaQOeS de-tiesaprova((aQ,: aprova((aO, dl1vida, etc. , Sao outros tantos Si-
( atlvldade, mas aus6ncia de ativldade lntervenclonJsta. Na verdade, o te- nais para esse individuo. ~'f.Jdo de cons.elhos e direcoes .
( rapeuta rogeriano "inatlvo" esta intensamente empenhado no processo
da terapia, mas evita cuidadosamente perturbar o seu desenvolvimento me- Nao acreditamos necessario irisistir sobrc o fato de que a noc;ao
( rente, esforc;ando-se, ao mesmo tempo, por facilita-lo. Por lsto, esta te- de nao~dire((ii.O, tal como e entendida na afirmaQao "todo born terapeuta
rapia pode caracterizar-se como sendo uma catAUse - por opoalc;Ao • e niio-diretivo" e ·b ern diferente da refletida no pensamento de Rogers .
( No seu pensamento e na sua pratica (1) a oio-dli"ecao refere-se, essen-
nocl\o de anAlise.
( cialmen~ a abst~ de juizos de valor . N 1io a ausencia da func;ao de
julgiu . Tod'a atividade coerente eidge o uso constante desta fu nr;ao. Por
(. outro lado, perceber e jtilgar - se nfio a qualidade, pelo menos a exis-
B - "1'000 BOM TERAPEUTA It NAO-DIRETIY()"
( tencia de ~lgo ou de urn acontecimento dado . A abstenc;ao de que a qui se
trata .e relativa a qualidade - verdadeira ou falsa, boa ou rna, louvavel
( Nenhum dos terape'litas com quem tive ocasiiio de conversar se de- ou conden!l.ve1, realista ou ilus6ria, daqui!o que o cliente narra .
clarou partidario da id~ia de direcao. Qualquer qpe fosse seu m6todo ou •b···~· ·--
• ...-
c sua escola, ele se declarava contrario a id6ia de · dlrigir o cliente ou pa- , N()s constatamos, e certo, que a maior parte dos clientes n ao cessa
( ciente. Em verdade, parecia repudiar esta ideia como mats 1 ou menos de solicitar o julgamento do terapeuta, de pedir sua opiniiio, sua apro-
~m~a . I
vaQiio, ate mesmo suas criticas, e que freqiientemente mostra-se con-
( trariada quando o terap euta nao cede as suas ex'gen:cias. Isto e precisa-
A principio, estas afirmac;oes me deixaram mats que perplexa, pols
( mente uma. indicaQao da inseguranc;a e da imaturidade que impede tais
a maior parte das teorias colocadas em pratica pelos terapeutas de hoje
em dia implicam nwn grau consideravel de direQao. No entanto, minha pessoas de .iuncionar adequadamente . 0 fato de 'que o cliente, domina-
( do por .·a ngustias P confusao, busque esta c; formas de "assistencia" nao
perplexidade se dissipava a medida que ia conhecendo estas praticas mais
( de perto. Duas fontes de dados revelaram-se particularmente uteis em rela- impede que estas entravem o processo ,:l e saneamento e liberac;ao
c;iio a isto: primeiro, a audic;ao de entrevistas gravadas, conduzidas por te- ·,··~ .......... interna que e a terapia . Observemos, :no t::ltanto, que estes pontos de
( :vista aplicam-se essenclalmen te a situaQ1io terapeutica, situac;ao que visa
(
rapeutas de orientac;ao diversa ( t); em seguida as entrevistas, comple-
tas ou parciais, contldas nas diversas obras de psicoterapia publicadas
• ·,lil'"•......
• .J .

.- especificamente a atualiza<.<iio das capacidadcs de auto- avaliaQao e auto-


dire<.<iio. No contato interpessoal ordinario, por outra parte, ha urn born
no decorrer dos ultimos anos (8, 11, 14, 21, 24, 34, 51, 118). Este tipo de
( material constitui . urn testemunho autentico de que estes terapeutas com- ntlmero de· •OcasiOes em que a expressao de uma opiniao a prop6sito de
portam-se de modo manifestamente diretlvo, ainda que pretendam o con- urn .futA> <OU ·de 1U11la aQao qualquer parece indicada e at~ necessaria .
( -
( 'Eis o que impor ta guardar sobre a rela<;ao entre terapeuta e
<:Ciliente. Quanto mais desprovido ·de compe.tenci:a e de valores pessoais
( se <COnside.ra. o individuo, maior sera sua t en<i6ncia a descarregar suns
111 A grava(:iio de entre estas ~erapauticas propaga-se dia a dia roos E.U.A., sobretudo nos
(
meios universit4rios, e os profissionais trocam suas grav8(:15es, de bc).m grado, a titulo de infor-
( m~ e de cr(tica rec(proca.
- 111 ,Ver.o caSO ,CL!jO dililogo t! reprod1.1tido no Vol. U desta obta,
( 34
(
(
( te varias sessoes sem ·cair nas armadilhas da tendencia - muito huma-
responsabilidades sobre ,o outro. Por outro lado, quanto mais este ulti- na - de confrontar o interlocutor com o seu ponto de vista, com sea "
( mo fac;a sentir sua "competencia", e mais se afirme como urn represen- pniprios valores e opinloes. Isto se pratica, implicitamente, pelo simples
tante da ordem objetiva - do "verdadeiro", do "normal", do "real" - jogo de quest6es, de atitudes sutis, nao-verbais, de acordo, desacordo.
(
mais o individuo tendera a submeter seu pensamento e seus valores aos duvida, encorajamento, etc . Esta tendencia a diregao vai se sobrepor, m1-
( deste representante. Em conseqtiencia, menos se dedicara ele a pratica turalmente, a intenc;ao, quando se trata de pessoas que, como o clientc.
do julgamento aut6nomo, da iniciativa pessoal, e do desenvolvimento de parecem incapazes de se sairem bern na aventura complicada de suas
( criterios fundamentados na sua pr6pria experi€mcia. Pois e ai, na expe- existencias, ou de se darem conta de coisas que sao evidentes para t.odo
riencia, que devem enraizar-se as diretivas de uma linha de conduta
observador .
verdadeiramente fecunda, por mais tateantes e desajeitadas que estas
( diretivas possam parecer no comec;o, e por mais suscetiveis de erro que
elas possam continuar a ser. Porque, pela pr6pria natureza da situac;ao Quanto a direc;ao que corresponde a nogao de estrutura ou de orien-
(
\nterpessoal, as aparencias de "competencia-incompetencia" respectivas taciio, sua ausencia equivaleria ao vazio. Neste senti do e bern certo que
( atuam intensamente na terapia. Assim, a probabilidade de que urn dos a nao-direc;iio niio existe. · No campo humano a neutralidade e impossi-
individuos se deixara gular pelo outro e maior, na medida em que urn \'el, e por duas raz6es. Primeiro, porque toda situagiio comporta neces-
( snriamente uma estrutura, isto e, um conjunto de fatores constantes que
deles esta desamparado e, por isso mesmo, completamente aberto a su-
( gestao. Quantp ao perlgo de wna situac;ao como esta, ele aumentara, a fazem com que uma situagao seja o que e e niio outra coisa. Do ponto
partir do fato de que do ponto de vista de sua person:a.lldade e de seus de vista da estrutura, e evidente que toda psicoterapia e, inevitavelmente,
( valores, aquele que tern o · papel de guia nao passou por nenhum pro- e alias, deliberadamente, orientada em uma certa direc;ao . Precisemog
( cesso de selec;io . A formac;ao profissional do terapeuta nao compreende pbr urn exemplo. Conversando com seu cliente, o terapeuta nao pode
procedimentos adequados de sele~!o. E estes proc~imentos nao axis- responder a tudo o que este lhe comunica. Diante da m'1Itidao de ideias,
( tern, no momento atual. A eliminac;ao (alil1s rara) de individuos mani- sentimentos e lembranc;as que lhe sao apresentados, ele deve fazer uma
( festamente lnadequados nao equivale a uma selec;ao. Alem disso, a for- escolha. Ora, toda selec;ao implica direc;ao ./ No entanto, esta selet;ao nao
mac;ao profissional atual nao prepara, de modo algum, o futuro terapeu- representa simplesmente um mal necessaria. Antes pelo contnirio . Qual-
ta para a . direc;ao especificamente humana, is to .e. moral, do lndivlduo quer que seja a abordagem terapeutica, esta escolha· se .taz deliberadamen-
(
em conflito. te, em conformidade com os principios que governam · esta abordagem e
que lhe dao sua identidade . Por outro lado, para que haja direc;ii.o rum
( e nem mesmo necessaria que haja interagao. Tbdos · sabemos que a shu-
C- "A NAO-DIRE(:AO NAO EXISTE" .
-~· pies presenc;a de uma pessoa e capaz de exercer urn efeito sobre outros
individuos, independentemente de toda a«,<ao ou inten~;ao por parte desta •
( pessoa. 0 valor e as carac.teristicas destes efeitos ·1ariam segundo a im-
(
Esta opiniiio se ouve tao freqtientemente quanto a que acabamos
de dfscutir e, ainda que as duas sejam diretamente contradit6rias, elas

:a;:.·--
a( 2
~:a.
poitancia desta pessoa e o estado mental e emocional do individl:lo sobre
o qual. esses efeitos se exercem.
caminham muitas vezes lado a lado. •;;~
(
(
;::; . .. Pelo fato de que tudo que o bomem percebe ele o pereebe com sig-
E verdade que, num certo senti do, a nao-direc;ao nao existe . Na
realidade, convem distinguir entre ~·nao dar diretivas" e "nao ter dire- nlficacao, mesmo as situagoes materials ou fisicas encerram uma certa di-
( recao. A psicologia aplicada a publicidade, a propaganda, ao comercio, a
(
c;ao" __ ou mais simplesmente, entre diretivas e direc;ao. 0 termo "dire-
tivas" implica em conselhos, instrw;oes, sugest6es. etc .; enquanto que "di-

.. ·:::.
>=~.
a:=~ industria, etc ., serve-se abundantemente desta sensibilidade do homem
ao valor simb61ico das coisas oferccidas a sua percepgao. Esta "lingua-
rec;ao" sugere a ideia de orientac;ao ou de significac;ao. ;:;~.
gem" dos . objetos e disposic;oes fisicas tern um papel nao negligenciave!
Na primeira acepc;ao - ausencia de diretivas - nao ha. duvidas de
que a nao-direc;ao existe . Os numerosos casos gravados pel a equipe ro-

•.
·= • na situac;ao terapeutica. Assim, a posic;ao do paciente, assentado diantc
do terapeuta - posigao tipica da terapia rogeriana - contem uma "men-
geriana, assim como os filmes (120, 12D, de Rogers, fornecem a esse res- · · ~-- sagem" nitidamente diferente daquela evocada pela posic;ao deitada do pa-
peito, urn testemunho publico. Todavia, e preciso se precaver contra a ciente, tipica da abordagem psicanalitica . Em resumo, toda situac;ao huma-
crenc;a de que tudo aqulio que se pratica sob o r6tulo de "nao-diretlvo" na implica direc;ao, e quanto mais importante scja esta situac;ao para o
e asseguradamente puro. E extraordinariamente dificil d;} se levar adian- - "eu" do individuo, mais elevado sera o seu potencial de direc;ao . Toda
(
36 37
(
l
!(
ic aituac;ao psicoterapeutica esta, portando, impregnada de direc;ao - isto 6
( - de significac;ao orlent_a da - por mais nao-diretiva que seja a atitude
( do terapeutao
(
(
c
(
:c Capitulo D
c
c
(
(
(' A NOCAO-CHAVE
(
( Tendo afastado as nor;oes desatualizadas que impedem uma com-
w ..,.~fllll-
1 , ~· ..._... preensao correta da psicoterapia rogeriana, podemos entrar na essencia
(
It __j -- • do tema o
(
Na sua expressao mals simples, a ideia mestra desta concep~;ao
( terapeutica e a capacldade do lndividuo, que se traduz neste enunciado
( mais explfcito:
· 4"!' ·'i'f"' 1 '~ . -......
( -!b 0 ser humano tern a capactdade, Iatente ou manlfesta, de compreen-
.......
;,_ ' . der-se a sf mesmo e de resolver seus problemas de modo suficiente para
(
(

. . ;' ___]_ _ ) alcan~ar a sattsf~iio e eficacla necessarlas ao funcionamento adequado


Acrescentemos que ele tern igualmente uma tendencla para exercer
esta capacldade 0
(
c Enquanto potenclals, esta capacidade e esta tendencia sao ineren-
tes a todo homem - a menos que este tenha les6es ou conflitos estru-
( turais que nao lhe permitam defender-se nas condir;6es ordinarias da
c vida o Esta capacidade e, pols, entendida como lntegrante de sua baga-
~em natural, e nao e o produto de alguma educac;ao ou aprendi.Zagem parti-
cular, especlalizadao Contudo, a atuallzac;ao eficaz desta potencialldade nao e
( automatica o Ela requer certas condi<;6es, urn certo clima interpessoal, ln-
dicado na proposic;ao segulnte, que se articula diretamente com a pre-
( cedente:
( ~·- ,. -
' 39
( ~ ,
• ..
_ __. 0
. .•
i (
(
(
( mas para a a<;ao_ Quanto a capacidade do individuo de resolver seus pro-
--{'::> 0 exerciclo desta capacldade requer um contexto de rela~oes hu- blema:>, trata-se, uma vez mais, nao de solu<;6es perfeitas e definitivas,
( manas posltlvas, favoraveis a CODServa\)aO e a valoriza\)aO do "eU", fsto e, mas de soluc;oes ad hoc que permitam uma continua<;ao fecunda do in-
requer rela~oes desprovldas de amea~a ou de desafio a concep\)ao que o cessante processo de solu<;ao de problemas, que e o crescimento para a
(
sujelto faz de sl mesmo. maturidade. Enfim, notemos que a finali"ade para a qual esta capaci-
( dade se tJrienta esta fonnulada, nao em termos puramente' de felicidade
Juntas, estas duas proposi<;6es resumem tudo o que se relaciona :>u de sucesso, de segurani;a contra os problemas, etc_, mas em termos
( com esta terapia, toda hip6tese, toda afinna<(iio e toda pratica. de "funcionamento adequado", construtivo, satisfatorio no conjunto e, col-
( sa essencial: rea.Uzavel quaisquer . que sejam as contingencias do meio
A primeira ·vista, pode parecer que a no<;ao de capacidade nao ex-
(desde que estas contingGncias hiio representem viola<;oes manifestas e
( prime nada de inovador. A capactdade do lndivfduo rtao e condi<;ao sine
persistentes . das ,condic;6es de vida · ~umana).
qua non da terapia, seja ela qual for?
(
A fim .de ~esclarecer o sentitlo e o alcance da n~ao de capacidade,
(
Isto e verdadeiro, para certas capacidades elementares, puramente iremos examina-la sob diversos Ang'Ulos: primeiramente, do ponto de vis-
"instrumentals". 0 tipo de terapia por ~eio de entrevistas exige, evi- ta do que se poderia chamar sua orfgem oQ,, ao menos, seu fundamento;
( dent~mente, que o l.aldividuo goze de um estado mental que lhe de con-
em seguida, do ponto de vista de ~seu exert:fcio e das condic;;oes de sua
di\loes de empenhar-se num processo, mesmo que elementar, de comu- eficacia; ~nfim, · da conce'pc;;ao do hotnem que ela pressup6e _ Examinemo-la
nicR\lii.O e de.· rela<;ao. Por rudimentares que sejam suas capacidades de primeiramente, em tennos relacionados com a definic;ao estrita que lhe
( expressao, ele deve poder usa-las de maneira mais ou menos coerente. e dada na par~ te6rlce. 'ctesta obr&. em particuiar no capitu!o VIII: Defini-
Da mesma forma, deve manlfestar urn minimo de receptivldade e de "re- 90es a·s N~ Te6ricas, p . 157. ·
(
atlvidade" ep1ociqnat.,. Se esta num estado de confusii.o aguda, desorlen-
( tado a ponto de ser incapaz de se recqnhecer no tempo e no espa<;o,
se esta completamente prostrado · ou multo excitado, se sua afec~o ~
c prlncipalmente orgAnica, se ~W. conflitos que, no estado atual dos co-
( nhecimentos psiquiatricos, sao conslderados como incuraveis, ele ni'io se § I - A tendincia ci atuaUza~iio ·
encontra, em principio - nem em condic;6es necessarias para exercer as . ......·· !~- .. -
( capacidades em questao - nem em condi<;6es de aproveitar muito qual- - 0 que, em linguagem corrente, se chama capacidade do individuo,
quer psicoterapia . - ~· , ·- ·- e a manifesta<;Ao psicol6gica do que se chama, em linguagem mais abs-
Por outro lado, a capacidade nao tern nada de especial ou de espe- ~~1~.
j 1 ~- ·· trata, tendencia &-ttualizR\liio · do_2rganismo .
( __ ;........
cializado. Nao e uma atitude ou tra<;o especifico, mas urn modo de fun- A tendencia a atualiza<;ao e a mais fundamental do organismo em
( cionamento caracteristico e eminentemente humano. Este modo esta ba- ·'
- 1i""'t ,· sua totalidade. Preside o exercicio de todas as fun<;6es, tanto fisicas quan-
( seado na capacidade de conhecimento reflexivo; isto e, a capacidade, nao
somente de saber, mas de saber que se Sl:lbe. Q conhe.cimento.....r.eflexi.Jw

..
__
1"' .,....,...,..
s?'e
,. -1,. to experienciais. E visa constantemente desenvolver · as potencialidades do
indivfduo para assegurar sua conservac;iio e seu enriquecimento, levando-
·g,rna possivel a auto-avalia9ao e a autocorrecio.. - opera<;6es fundamen- < ; ____ •
se em conta as possibilidades e os limites dQ meio _
tais da capacidade .e m questao _ ---...... . . ,
; _ Esta defini<;ao, reduzida a sua. ex~ressao mais simples, requer uma
- r1 ~ '
Por revolucionaria que seja a afinnac;iio da capacidade do homem
(
em uma epoca dominada pela cren<;a em sua lncapacidade, quer dizer,

..
_? ,A 2' 1 ' ."• certa delimita<;ao_ Primeiramente, o termo "enriquecimento" deve ser en-
tendido no sentido mats geral, envolvendo tudo aquila que favorece o
dominada pela crenc;a na supremacia do inconsciente, esta afinnac;ao nao desenvolvimento integral do individuo pelo crescimento de tudo o que
( tern nada de doutrlmirio ou de excessivo. A este respeito, notemos como •--- .
possui e de tudo o que e, de sua importancia, seu saber, seu poder, sua
foram moderados os termos empregados no enunciado anterionnente ex- felicidade, se'lls tal~ntos, seu prazer, suas posses e tudo aquilo que auJ
posto. Nao se. trata de uma capacidade de compreensao completa e ab- menta a satisfa<;ao que ele obtem disso _ Alem disso, este tenno deve
solutamente correta, mas de wn grau de compreensao, imperfeito, sem ser entendido no sentido fenomeno16gico, portanto subjetivo .. 0 que a t_en-
dtivida, mas suficiente·, em cada passo do processo de adapta<;ao e de - ··li'i"ft.......... - !fencia atuali~te . pr.~~U!.IL~tl,ggir__6. _aq~IJ.o que o sujelt() percebe como
integra\(ao que t1 a existencia humana. Alem disso, nao se trata de uma " '
I - • valoFizador.. ou ...enriquecedor - nao necessarlamente 0 que e objetiva ou
compreensao art1culada, verhal, como a do profissional . :E uma compre- ~1 -
( A •
htrins,.yamente cnriq~e~~~o~ .
en.<>ao ativa, de certa forma vital, orientada, nao para a conceitualizacao, 2
- • 'l -"'1'-· a- 41
(
(
· 0 termo "organlsmo;' requer tambern uma explicac;iio. Na sua acep- desenvolvimento morfologico e . o funcionamento fisiol6gico do organ
c;iio tradicional,. primordialmente medica, r~fere-se exclusivamente as fun- mo (humane ou niio) se opera conforme as leis geneticas Pr6prias a cad<
( c;oes e tecidos fisicos. No presente texto, e de acordo com: o uso cada especie . Alem disso, ·nao existindo fatores perturbadores graves, este de
.vez mais difundido nos circulos psicol6gicos, a signlficac;iio deste termo senvolvimento se o.rienta em direc;ao ao especime adulto e sao . Is to e
( niio se limita mais aos aspectos ditos "corporals" . A pesquisa, tanto me- urn fa to, niio uma hip6tese . A hip6tese entra em jogo quando se explica
( dica quanto · psicol6gica, revela cada vez mais a interpenetrac;iio e a · inse- 0 desenvolvimento da personalidade - isto e, do polo psiquico do "or-
parabilidade dos aspectos fisicos e psiquicos do organismo . A sau- ganismo" - como sendo uma tendencia semelhante ao conjunto das leis
(
de e o bem-estar fisico do individuo revelaram-se condicionados por que rege o desenvolvimento do polo fisico : Isso e o que se propoe "' hi-
' sua experiencia, ·is to e, por seus sentimentos, pensamentos e emoc;oes,
( p6tese referente a tendencia a· atualiz.ac;ao do organismo . De acordo com
tanto quanto pela nutric;iio, pelo exercicio e outros fatores fisicos . Do esta hip6tese, o processo de organizac;iio da experiencia e comparavel, na
( mesmo modo, o comportamento se 'produz tanto em func;iio da bioqut- sua orientac;ao, ao processo de desenvolvimento fisico . Se a experiencia
mica do individuo, como em func;iio de sua experii~ncia : No caso do · ser pode se organizar na ausencia de fatores perturbadores graves, esta · orga-
( h'limano, : nao somente o comportamento exterior, observavel, mas tam.: nizac;iio - · incluida sua expressao no comportamento - se efetuarii no
( bern o pensamento, as atitudes e os l'!entimentos sofrem a influenCia .dos sentido da~ J;ft~~l;!Fj~!,lc;l~\ c;io fuilcfonamento adequado, lsto e, no sentido
e
fatores ditos corporals -- e isto numa mei:lida provavelmente maier do de urn comportamento. racional, social, subjetivamente satisfat6rio e ob-
( que a que . suspeitamos no estado atual dos . conhecimentos neurol6gicos jetivamente · eficaz.
e ·endocrinol6gicos . A gama de conflitos psicossomaticos hos fornece um
\
exemplo surpreendente · das intimas relac;oes existentes entre a experien-
Perguntar-se-:3., com certeza, se uma tal concepc;iio nao e excessi-
Cia e a bioquimica do "organismo"
( vamente qt!_Il!i~t~'" para niio dizer ·que carece 'de realismo . Com feito, se
( Como conseqiiencia Cia aboUc;iio de uma distmc;iio nitld$ entre o a inclinac;iio natural do processo qe organizac;iio da experiencia e tao for-
( "corJ)oraP' e o "psiquico", estes termos acabaram perdendo a ·sua utili- te, como explicar a hist6ria, bem pouco edifi.cante, da ra9a hu mna e a
dade tradicional . Seria conveniente, pols, substitui-los por urn termo que· crescenta mare da natologia tanto psicol6gica quanto ·social?
( _englobasse o coiijunto das func;oes constitutivas do. homem, e deixar ao
contexte o cuidado de lndicar onde deve recair o enfoque: se sobre o polo Vamos responder recordando a condic;ao enunciada anteriormentt,;.
( relativa .a eficacia da atualizac;ao desta capacidade, a saber, urn clima
da · bioquimica, dos tecidos, ou se Sobre o da experiencia e do comporta-
mento. 0 · termo "organismo" niio e, certamente; ideal para servir a estes humano propicio, despro-:ido de ameac;as ao "eu" do iridividuo . Esta res-
fins . A significac;ao tradicional, unUateralmente fisica 'do termo, esta es- pasta,- aparentemente muito simples, revela, no en tanto, sua co: nplexidade,
tabelecida com dem;u;iada solidez para que seja adotada com facilidade - ~ .......,, ,._: desde que se chame a atenc;iio sobre o fato de que este eli · na humano
( em ~siColo_?1a, com o objetivq de ·tndicar a estrutu~a da experiencia ~ sua '8
If.,,, . . . .,_ e de ordem fenomenol6gica, portanto subjetiva . _QJ.J!diyJduo, ;ua_~~I!!!~­
_manifestac;ao no. comportamento . No entanto, a tltulo de constante re- < 4 ,, <lliLiL.atuali2:aciio e .sua , noc;ii_o _do "eu" fazem parte de urn nun.do feno-
( co!dac;iio desta nov~ acepc;ao - global, psicofisica, _mas centrada no com- • .""""'·1~ .• _menol6gico. Por isso, o que importa nao e o carater intrinsec: mente posi-
( portamento e pa experiencia - o termo .sera colocado entre aspas no . • . . . ·•• tivo das condic;oes, e a .Jie~_:q_e~t~ ~condic;oes pelo indivir', uo . Da mes-.
decorrer de toda esta .obra. ,.-; ..,..~ . ma forma niio se trata tanto do "eu", tal como existe em • t~alidade, mas
( do "eu'; tal como e percebido ;pelo individuo . ·
( Depois destes esclarecimentos retornemos ao nosso tema: a ten- \'

dencia a atua~izac;ao das potencialidades do organismo .. Esta tendencia, ._A"1~,,.
••3 1 •
·-··--· Examinemos mais de perto a relac;ao entre a tenderwia atualizll.nte
( tal como e aqui entendida, opera tanto na ordem ontogenetica (desen- a:;._. e o "eu"
( •lvimento do individuo) como· na ordem: filogenetie::> (desenvolvimeJ1tO
da especie). Expliquemo-nos.
• ' 3 ).
-;:-1-· ..
• .....q..... • § II - A n.c·;Cio do ueu"
. Se bern que a .hip6tese. da te?dencia atualizante _n~o tenha de ~ode a',.. ,.. ).
algum o seu ponte de partlda no desenvolvimento f1s1co do orgamsmo / 1 -~.. Da mesma forma que a tendencia a atualizac;ao, a noc;iio do "eu"
a compreensiio desta hi~6tese e facilitada qu_ando se estabelece . urn para- • q._ . • tern urn papel fundamental na sintese te6rica de Rogers . Uma represents
lelo entre esse desenvolv1mento e o desenvolvimento da personahdade . As-· 4J . • a ideia mestra de sua teoria da terapla 'e a outra e o "p ro" de sua teoria
sim vamos proceder . Como temos ocasiao de observar a nossa volta, o . ""'1"""*'·' da personalidade .
. -
a ,._ a
__
•n
(
(
(
Uma defini«;;ao completa e estrita do "eu" (assim como dos termos: el~ se !.~·~rceba como sendo dotado de urn certo born senso, conhecedor
( "no«;;iio". -::·.1 "estrutura" do eu> encontra-se na pagina 165 desta obra e .de seus pontos fracas, l\fio suportando fracassos, ou pelo menos, fracas-
pode ser utll ao leitor recorrer a ela. Para as erlgencias desta introdu- sos ruictosos, como nao estando inclinado a expor-se ao r~dfculo, etc .
( J!: facil perceber que, em preseQQa de Uil}a tal concepciio do eu, a ten..,-
~io, podemos formular esta defini«;;io da seguinte forma: A noc;ao do L"j- I J •
"eu" tS uma estrutura perceptual, isto e; urn conjunto organizado e mu- -----· ···· dencia ll atualiza«;;ao, em vez de incitar 0 lndivfduo a participar do con-
til.vel de perce~Oes relativas ao pr6prio lndlviduo. Como exemplo des- curso, leva-o a abster.se, defendendo desta forma, a imagem que faz
( tas perce~Oes citemos: as caracteristicas, atributos, qualidades e defei- de si mesmo. · '
( tos, capacidades e limltes, valores e rela~Oes que · o indivfduo reconhece
como c:lescrittvos de si mesmo e que percebe como constituindo sua iden- Conclui-se, dai, que a efica\cla da tendencia ll atualizaQao do eu de-
tldade. Eata estrutura perceptual faz parte, evidentemente - e parte cen- pende do cadk~.~-- ~ _no~~o.. do J!U. E esta nocao e realista quan-
tral - eta es\rutura perceptual total que engloba todas as experiencias do do hli correspondencld" ou congruencia entre os atributos que o _indivf- .
lndlviduo em cada momenta de sua exf.st6ncia . duo acreclita possuir e aqueles que de fa to possui.
(
Ap6s esta definiQiio, vejamos o papel do "eu" ou da noc;iio do eu. Ma~~ algu.Sm poderli dizer que meio~ dispoe o lndlvfduo para ve-
( 0 "eu" faz parte tnerente da unidade psicoffsica total indicada pelo ter- riflcar se existe tal· correspond~ncla? A posslb1Udade de verifica«;;iio da
mo "organismo•, e do que se conclui que esta sujeito a opera«;;ao da ten- noc:;iio do eu nio IS, naturalmente, absoluta. Parece, porerri, que e ampla-
dAncta h atualizaQii.O. (Notemos, de passagem, que quando esta tenden- mente su,flclente par4 as necesslda~ prlitlc~. Para verificar o carater
cia se relaciona com o eu, ~ ·indicada com o nome de tendencia a atuali- realista de qualquer · perce~ao relatlva ll noc:;iio do el.\. o individuo dis- 1·
nt&o do eu). A conjuga~io destes dois. fatores - a tende.D9..ia a atuaUza- ,POe de duas fontes de criterios. Um destes criterios tS de naturez~ mats
( ~o e a n~lo do eu - deterinina o ccmwortamen~. A prlrr1e-rra:r-e~re~ ou._menos....partlquhir.;. constste na 8!J?erl.,ncla vivi~ - senilmentos, de-
( s~t.a~:-,rator ·:-amblico• ..a --~8:\.W,~a __representa o ..fator regulador. uma sejos, Bnsiedad~s: ab~tlas - do lndividuo ' re$peito do objeto em ques-
Jornece a eneraia; .9\ltra a ~ao. .,_ --- · · · .. · tio. 0 outro l:riterio IS de natureza mats ou · m~ps publica; conslste no
( iestemunho fom~ido pela conduta do . individuo e peia--conduta de ou-
(
Vejamos, de urn =nodo concreto, como tudo 1sto se rea.liza. tros em relac:;io a ele. Vamos recorrer novamente a um exemplo . 0 in-
dividuo que s~ consldera como tendo os dons de orador e de·· "lfder",
( ·~.: • A tendencia a atualiz~ao do eu age COnStantemente e busca, tam- , pode comprov.ar esta percepcao de si mesmo, consultando, por um lado,
bt!m constantemente, a cons""""'ilo e o enrlqueclmento
. do eu·. I•to •lg- (
Pc:zl : · os dons . de sua experiencia: Gosta de se dlrigir a uma assembleia? Fala
nifica que ela se opOe a tudo o que oompromete o eu, seja no sentido · · . · · 1111"'' ~•. com desenvoltura? Procura ocasioes de faiar em publictl? Sente-se a
eta diminui«;;iio, da desvalorizaQao ou da contradiQao. Contudo, o succsso ; , NK-.. vontade dia~te de seu audit6rio? Esta geralmente em boa forma ffsica
ou eficacia desta ac;ao depende niio da situac:;ao "real", "objetiva;', mas ~
e · se esfor«;;a por superar os pequenos contra tempos eveptuais de sua sau-
eta situa«;;iio tal como o indivfduo a per~ebe. Ora, o indivfduo percebe a <?;e' V't ~ - de nos dias . que deve desemperihar func;6es publicas? $acrifica com pra-
sltuacao em func:;iio da n01;ao de seu . eu... Poder-se-ia dizer' que ele per~ ' .· 8¥ zer os !eriados a tais fun«;;6es? Etc . Por outro lado, ele pode consultar
cebe o mundo atraves do prisma do eu: ')quUo que se relaciona . com o '·( ,·· ~¥,1~
as fontes publicas, mais objetivas . :111 reconhecido como .capaz de con-
eu tende a ser percebido com desta(lue ·e ·e suscetivel de· ser modificado '-~ . £;~\
1·•. quistar tim publico e de manter a aten«;;ao dos ouvintes? Goza de uma
em funcio dos del!lejos e . anglistias do individuo; o que nao tern rela:<;ao • .•.,.. . •
( ~;:om o eu tende a ser percebido mats vagamente ou . a ser totalmente ne- ,......,_,
certa priori~de sabre outros candidatos as mesmas fun96es? J!: aplau-
dido, eleito, seguldo, etc , ?
gligenciado. De tal modo que e a no<;ao do eu que, em ultima analise, de- • . .q_, • ~
termina a eficacia ou a lneficacla da tend en cia atualizante. - ·- Se as respostas a esta dupla serie de quest6es sao afirmativas, o
(
indivfduo pode concluir que este aspecto de sua noc;lio do eu tem fun-
(
Elucidemos is to com urn exemplo . To memos o caso de urn indi-
damento, que ha congruencia entre aquila que acredita ser e aquila que
viduo convidado a tomar parte num concurso de artes . Se ele se percebe
a si mesmo como desprovido de dotes artisticos, evitara apresentar-se e - pelo menos, sob o fmgulo em questlio. Po rem, se !¥> respostas di-
vergem, deve-se concluir que a ide\ia que ele faz de si mesmo e apenas
na competi<;ao por mais dotado que ele possu ser de fato e por mais van-
tajosa que seja a ocasiao . Para ele, Ionge de representar urrta ocasiao de parcialmente correta e que sua candidatura esta comprometida·. Enfim,
· enriquecimento, a participac;iio no concurso aparece como um risco, urn se no conjunto as respostas sao negativas, sua npc;ao do eu - sob o
angulo em questiio - e . incorreta.
perigo em potenci~;~.l , amea<;a enfim, a conservac;ao de seu . "eu" --
uma
tal como ele o percebe. Prosseguindo com o exemplo, suponhamos que. No caso afirmativo, a opera<;lio da tendencia atualizante, sera ade-
44.
(
(
(
social others") . -<O
( quadamente dirigida pela noc;ao do eu, e o individuo tera boas chances
de atingir ·as fins a que se propoe. Sempre que ocorram as mesmas cir- Esta liberdade existe quando o individuo se da conta do que lhe e
cunstancias, seu comportamento . teni tendencia a assegurar a manuten- permitido expressar (ao menos verbalmente): sua experii'mcia, seus pen-
( . c;iio e o enriqueclmento do "eu" e, por consequencia, sera acompanhado samentos, emoc;oes e desejos tais e quais ele os experimenta e indepen-
( de urn .certo sucesso e de satisfac;ao favoniveis ao · bam funclonamento. dentemente de sua conformidade as normas sociais e mora;s que regcm
\
No caso negativo, isto e, quando a noc;ao do eu apresenta lacunas e erros, seu meio arribiente. Dito de outra forma, o individuo e psicologicamente
( a tendencia atltalizante nao sera c~ara; ela se propora fins dificeis de livre quando nao se sente obrigado a negar .au a deforma;r aquila que
atingir, senao irrealizaveis, . e - se se repetem as mesmas circunstancias experimenta a fim de conservar seja o afeto ou a estima daqueles que
( representam uin papel importante na sua economia interna, seja sua auto-
- terminara no fracasso, com todfts as frustragoes dele decorrentes e
( que ·fazem obstaculos ao born funcionamento. estima .
( Esclarec;amos esta definic;ao atraves de urn exemplo. To memos o
Em resumo, para que a ac;ao diretriz da noc;ao do eu possa exer- caso, simples - alias perfeitamente tipico no fundo "'-. do menino ciu-
( cer-se de maneira eficaz, para .que possa conduzir-se a satisfac;ao sub- mento de . seu lrmao recem:-nascido. Sentindo-se atingido em seus pri-
jetiva do individuo e a eficacia de seu comportamento, e necessaria que vilegios e ein sua importancia, ele experimenta sentimentos francamente
(
· esta noc;ao seja realista. Para ser realista, ela deve estar fundamentada . hostis em relac;ao ao "intruso" . E ·como . os experimenta de modo muito
( na experiencia autentica do lndividuo, isto e, m1quilo que ele realmente vivo, e plenamente consciente· destes sentimentos. Dizemos, entao, que ele
experiments. A condic;ao essencial deste fundamimto autentico, e a li- representa corretamente· sua experiencia, isto e, de acordo com a maneira
( berdade· experlencial, a quai vamos dlscutlr _agora . ...,
(

:as:
.,~1
•~' -r,_
.• pela qual a experimenta. Com a franqueza propria de sua idade, declara a
quem queira ouvi-lo. que "e preciso jogar fora o hebe", que ele "nao o quer",
que vai "mata-lo", e outros prop6sitos reve!2.dores·. . Se os pais sao psi-
( .,.-·1 ~·\
cologicamente esclarecidos au possuem a habilidade decorrente da segu-
( § m- No~ao do liberdade experiencial •_,r ij ~- •
.,. ,._.. ranc;a e da maturidade emocionais, saberao como tratar esta reac;ao ne-
gativa, em geral breve, sem que haja efeitos nocivos para a crianc;a, e
(
A ideia de liberdade,. em suas relac;oes com a psicoterapia ou com c ..• inclusive se servir dela para sua educac;ao social .
( a educac;ao, parece repres~ , .tar uma dificuldade imprevista para urn bam ./""'13-"'
- ··'· · No entanto, nem sempre as· coisas se passam assim. Certos pais,
( numero de pessoas. Toda teoria que insiste na importancia da liberdade ~~ reagem aos comentarios do menino dando-lhe a impressao de que ele e
do cliente au da crianc;a corre o risco ·de se ver repudiada, porque "ca- "ruim" ou "malvado" e que nao o amam mais . Ora, uma tal reac;ao re-
( rece de realismo no que diz respeito a natureza humana". Parece, com •:;~.• presenta, evident;emente, uma ameac;a a imag,'m (rudimentar e niio for-
(
3feito, que existe uma tendencia a compreender . esta noc;ao como signi- · ·'1-f••i-. ~. mulada, mas de qualquer modo real) que o menino faz de si mesmo. Par
ficando que o individuo, e em particular a crianc;a, deve ter o direito outro !ado, como a reac;ao dos pais e baseada menos . nas declara-
de exprimir todos seus impulsos; onde e quando quelra, e que nenhuma· ' c;oes inocentes da crianc;a do que nas suas pr6prias atitudes (de intole-
ordem ou autoridade deve regular· sua conduta.
(
( Tal concepc;ao da educac;ao, da terapia e das relac;6es humanas em

. rincia, de inseguranc;a, de rigidez, etc.), sua .reac;ao nao fapilita a situa-


.;ao da crianc;a.
geral nao deixaria, certamente, de ter consequencias desagradaveis, tanto Ao contrario . Do ponto de vista da crianc;a, as pais lhe retiram,
( para o individuo quanta para a sociedade. Porem, esta e uma .concepc;ao pra- nao somente o monop61io de sua atenc;ao e de seu afeto, como a punem
( ticamente fisica da liberdade. porque ela sofre com este tratamento e quer reconquistar sua "legitima
posic;ao". 0 que lhe resta fazer em condi~6es tao desagradaveis? Ou dei-
( A liberdade de que se trata aqui e de uma outra ordem . Relacio- xa de expressar setis sentimentos ou lhes da uma aparencia indireta, di-
na-se essencialmentel com a experiencla, isto e, com os fenomenos in- zendo que o "bebe chora o · tempo todo" au que o "bebe esta s1,1jo", se
ternos . Consiste no fa to de que o individuo se sente livre para reconhe-
cer e elaborar suas experienclas e sentimentos pessoais como ele o en-
tende. Em outras palavrao;: supoe que o indlviduo nao se sinta obrigado
a negar au a ·c eformar suas opinioes e atitudes intimas para manter a (1) Em ingh~s no original. (N . T.)
afeic;ao ou o aprec;o da.l> pessoas importantes para ele ("his significant
~ t>-',oi~ ~~~ ~ 47
A~
, ., a
(
( '
.
( I
.
.
(
nii.o recorrer a tatica socialrilente mats vatitajosa, que consiste em dizer
( que ama seu lrmaozinho, isto e, exatamente o contnirio daquilo que ex-
pcrimenta . Assim, dissimulando e disfarc;;ando seus senti.tpento!;, para con-

Ee
· ·~ !
• ~I ~
, -., Esta desordem do sistema de comunicac;;ao interna nao se limita a
erros de identificac;;ao, isto e, a uma falsa etiquetagem da experi€mcia . Ela
( a
scrvar a afeic;;iio dos quQ lhes sao caros, a crian~;a chega .a· nao mais . re- tern repercussoes sobre o comportamento que, incorretamente guiado, re-
,
( .conhecer seus verdadeiros &~ntimentos . • ..-,.:.

. . . . .,..... ·~ ·- vela-se inadequado . Nestas condic;;oes, produzem-se desgostos, fracassos


'II
(
Poder-se-ia 6bjetar que a proill!c,;ao por parte dos pais recaira ape-
a

.
- ~~ ,
2
..,.,., ..,
"'··

e ate mesmo acidentes . Assim, no exemplo citado, a crianQa mais velha
pode atingir "acidentalmente" a mais nova, causando-lhe urn dano as ve-
( zes irreparavel . Tais acidentes parecem entiio incompreensiveis, ja que
nas sobre a expressiio verbal, nii.o sobre a pertl~p~io dos sentimentos do
tudo parecia indicar que os irmaos se amavam muito.
( menino. Isto e exato. Porem, ern conse1ii~rtcia da a<;ao das leis psico-
dinamicas, esta proib!~ao extema estende~~ graciativamente a percep- Retracemos rapidamente o essencial da genese da desordem do sis-
( c;ao. Com efelto, o menirro aprende nao somente que a expressao de cer- tema de comunicac;;ao interna que acaba de ser descrito. Em sua origem,
( tos sentimentos motivam a punic;!<>, mas tambem que certos sentimen- a liberdade experiencial do individuo esta amea~tada . Niio !he e permi-
tos sao "maus" e •desonestos" e que eles nao pod~riam existir num "born tido sentir o que experimenta manifestamente, sob pena ·de perder as
( menino", de quem "papal e mamiie gostam tanto" . Ora, como ~ precisa- condi~es das quais depende sua atualiza~ao, a s aber, o afeto ou a esti-
( mente esta a imagem que ele faz de si mesmo - e com razao ..:..... acte- ma dos que representam urn pape! importante em sua vida . A angtistia
dita-se, multo naturalmente, incapaz de ter tais sentimentos . Alem di~so, causada por esta ameac;;a leva-o primeirq a reprimir a exterioriza~tao, em
( tu~ o que tende a desvalorizar a imagem ciue faz de si rhesmo val .dire- seguida, a existencia de seus sentimentos . Se o procedimento se revelu
tamente ao eilcontro de sua tend6ncia a atualizac;ii.o . Por isso o "orga- "fecundo ", isto e, se lhe restit ui as condiQ6es da conservaQao e da reva-
niSmo" os trata como corpos estranhos e tenta, ou efimina-los "ignoran- loriza~tiio do eu, ele tende a adotar este procedimento como modo de
( do-os", ou embeleza-los de maneira a tbrna-los. aceitaveis pela conscl~n­ vida. No entanto, escapando a seu , conhecimento uma parte de sua ex-
cia . Assim, o que inlcialmente era uma rea«;Ao ocasional, torna-se uma periencia vivida, real, o controle de seu comport amento escapa-Ihe na
( atftude, isto e, urn fa'tor da personalidade e do comportamento . mesma medida . A partir dai comeQam a surgir decepQ6es e dissabores,
( e o indivfduo torna-se confuso, desorientado, em suma, neur6tico .
( Quando se realizam estas condlc;;oes, dizemos que . a expertencla, ()u A educacao da crianca e as relac6es humanas em geral niio podem
certos elementos da experlencla, nio ·tern mats livre acesso ·a conscliincla . certamente ser concebidas sem alguma ameaQa a integridade ( 1) do in-
(
Este desnivel entre ~xperi6ncia e sua representac;;ao consciente pode con-
a dividuo . Quando estes atentados a liberdade experiencial sao relativa-
( duzlr a desordens mais ou menos gra~es do sistema de ct>municac;;ao 'in- mente raros, e se produzem em urn contexto de aceitagao e de respeito
terna, "organismico", que forma a base do oom funcionamento. Esta es- indubitaveis, eles quase niio acarretam, a parentemente, conseqiiencias no-
( pecie de desnivel e multo difundida . . Assim, se pedissem ao indivfduo civas . Por Ol!tro !ado, quando - em qualquer idade que seja - as con-
( medio para indicar exatamente 6s sentimentos que experimenta em re-
~ dicoes de existencia sao tais que exigem urn div6rcio praticamente cons-
Iac;ao aos objetos que, de acordo com as n<;>rmas de sua cultura, ele dave t ante entre a experiencia e sua representac;;ao, o individuo perde sua tra:n-
( ·amar (os membros de sua familia, seus colegas, a honestidade, a igual- qtiilidade, sua autoconfianc;;a e sua eficacia. Fica submet ido ·a uma an-
( dade), ou deve desprezar (o desejo de dominar, a sexualidade ilicita, a gtistia generalizada, niio sa be mais nem o que pen sa, nem o que quer .
trapac;;a, a avareza)., ele seria incap~ de fornecer uma resposta correta, :E incapaz de tomar decisoes ou de t irar delas as satisfac;;6es esperadas .
( mesmo se uma recompensa se seguisse a resposta sincera . · (0 caso e, Es ta desprovido de valores ja comprovados, enraizados na experien cia
evldentemente, te6ric0, ja que a . validade do testetnunho referente a ex- pcssoal e capazes de servir de base a urn comportamento relativamente
(
periencia - vivida, rrtas nao necessariamente reconheclda - nao pode ser est<ivel, eficaz e satisfat6rio .
( verificada, com exat1dao, do exterior, e isto apesar dos "lie-detectors" . (1)
Esta alienacao do individuo em relaQiio a sua experiencia vivida e
( precisamente aquilo que constitui a personalidade neur6tica . 0 neur6ti-
(
.v,.,.... ""'·
*<:;::. co niio e, portanto, como muitas vezes se acredita, este ser mais ou me-
• .#" .•
( .,. . . . ..,
r (l) Testes psicofisiol6gicos baseados no retrexo psicogalvanico.'empregados na investiga(:ao cri- fl •
( minol6gica e que t~m por fim verificar a sinceridade das declarac;:l5es, isto ~. detectar a mentira . <'_,..-•· ""' (1] 0 termo "integridade" deve ser entendido, aqui, nao no seu sentido moral , mas no sentido
( ./
1 _, . •
. .. psicol6gico, que designa um estado de autenticidade da perce~lo consciente da experil!ncia .
( 48
(
(
( Aparenbemente esta posi~;iio parece ser confirmada com freqliencia
( e iremos ver, em seguida, sob quais condi<;oes . Na realidade, ela se ap6ia
nos desprezivel, bip6crita, e deformador da realldadc . Sem perder de vis- numa concep<;ao niio muito confiante do homem, mais do que sobre 0
( ta que seu estado comporta urna parte - L"ldeterminada mas real - de que sabemos a respeito da psicodinamica do a to agressivo. Com efeito,
reaponsabUidade pessoal, 4! preciso reconhecer que, na sua origem, este e preCiSO admitir que a j;ensao emocional Subjacente ao ato 8.K!i!SSiVO e
( mals forte do que a que se preJlde _aQ simples s~I)timento ou a expressao
eetado . repr.esentta ·uma re&Q9,o as oondi~ psioossocia:ls adversas . Em
( urn perlodo determinado, sensivel de setJ dcsenvolvimento - nao neces- ~- Se o jodjviduo p_Q_di:'~:~CPri~ livremente seus sentimentos, quais-
sarlamcnte sua ln!fmcia - estes direltos a apreensiio autentica de sua ql,l~t- QUEL Sejam...-aind&-que_antk-..SOci_ats_ 9U lmorais;: SUa tensao emoi;j,~l
( experl~ncfa foram amea<;ados ou vlolados. Tal viola~iio e muitas vezes, tende a diminuir. Ao contrario, se deve sufocar seus sentimentos, por
( a obra - involuntarla, obviamente - daqueles que mals o amam. Podc medo de que eles provoquem a desaprova<;ao ou a puni<;ao, a tensao ten-
resultar igualmente, de exigencias diretas ou implicitas, de individuos ou 1era a se eleYar. Dito de outra forma, a probabilidade do a to agressi-
( de grupos que o lndividuo percebe como extremamente importantes para vo parece prooorcional ao 'grau de tensiio experimenta@ . :;rudo o gue
( a conserva~ao e a revaloriza~ao do seu estatuto pessoal e cujas boas gra- aumenta o nivei d.a tensao, aumenta, . em conseqiiencia,_a_pr.obabilid_a_qe
~as ele quer conservar. Assim, de vitima que era no com~o. tende a do ato agressivo.
( tornar-se climplice destas for~as destrutivas .
( 0 neur6tico, como a pessoa com defeito fisico, e, sem duvida, ca- A fim de demonstrar concretamente as rela<;6es entre a
paz de explorar as pessoas que o cercam a fim de obter delas prlvile- liberdade e os limites que sao tratados aqui, tomemos o caso,
( extremamente simples, sem duvida, da crian~;a ciumenta de
gios indevidos. Por outro lado, a luta que alguns deles enfrentam contra
( sua condi~ao, pode eleva-los acima do homem medio . Sua personalida- seu irmao recem-n~cido e que declara que quer "mata-lo" .
de pode adquirir urn relevo e uma produtividade que faltam muitas ve- A mae, em vez de ralhar ou de castigar a crianr;a por seus
( sentin,.entos e palavras hostls, poderia dizer-lhe algumas fra-
zes a pessoa "normal", em quem a homeostase psico16gica, raramente
( perturbada, pode conduzir a urn equilibrio pr6ximo da estagna<;iio . ses do seguinte tipo, (adaptadas, naturalmente, a sua pr6pria
linguagem) : "Querida, compreendo que voce nao goste ainda
do seu irmaozinho, e compreendo que voce nao goste que a
( mamae se ocupe tanto dele . Is to faz voce pensar, com certe-
za, que nao gosto mais tanto de voce, e isto lhe faz. sofrer,
( § IV - A questao dos limites nao e mesmo? E voce quer "jogar fora" o bebe e "matar" o
beb~ . Compreendo tudo isto muito bern e voce pode me di-
(
zer tudo com toda franqueza . E voce nao tern de gostar de
( Para que se compreenda melhor a no<;ao de liberdade experien- seu irmaozinho imediatamente . Mas nao pode lhe fazer mal.
clal, vejamos rapidamente a questao dos llmites que e, evidentemente, in- Voce compreende isto tambem? E nao se esquecera? Pois, se
separavel dela . ;, ..... , .... - voce !lie faz mal, terei que fazer mal a voce, porque o bebe
nao pode se defender ainda, por isto eu tenho que fazer isto
Recordemos que a liberdade de que aqui se trata, relaciona-se es- • ..
....-::-.,......,I """~' -- por ele, compreende? E voce sabe muito bern que mamae nao
( sencialmente a e:x;pressao mental e a expres..'>ao verbal dos dados da ex-
gosta de lhe fazer ma1, nao e mesmo?"
periencia - nao necessariamente a expressao fisica, por meio de a<;oes . ,... ·';'~~ I · · · ~.... ........
Seria necess&rio dizer que esta ultima nao pode ser tolerada senao na I L • •• •
Expressoes como essas traduzem uma compreensao e uma
medida em que ela nao e nociva, nem ao individuo, nem aos outros? tolerancia realistas dos sentimentos da crian~;a , Ao mesmo tem-
p'o, indicam claramente onde se encontram os limites e quais
Aqueles que se ocupam da educa<;iio (nao, neste caso, do tratamen- · serao as conseqliencias de toda transgressao . Tudo isto se co-
to) do individuo, em qualquer nivel de seu desenvolvimento, concordam - ~ ' """ - munica, sem amea<;as implicitas ou quaisquer outras, R. tma-
geralmente a respeito da necessidade da Uberdade experiencial . Contudo, 'W •; ~- ' I'"",. ...._,.
- gem que a crian~;a tern de si mesma. E esta forma de tratar
a maior parte deles se opoe a expressao, mesmo que simplesmente ver- ,'!
I .• a crian<;a que sofre sentimentos de cil1me - sentimentos par-
bal, de sentimentos negativos, isto e, contrarios as conven<;oes ·s ocials ou ~,. , ~ --...,.
ticularmente penosos, ja que se opoem diretamente a tenden-
as leis morais. Sua posi<;ao se ap6ia sobre o argumento de que a livre -
"
. ".j;,- •, 1·6'~.\
I
..._.. cia a conserva<;ao e a reval o riz a~;ao do eu - possui, ainda,
expressao deste tipo de sentiment os se transforma facilmente em atos uma outra vantagem . Evita os inconvenientes dos procedimen-
e que sua tolerancia, sobretudo por parte dos superiores, ~ de natureza ·
... "" " l -"""
.• . -
a precipitar esta transforma~ao. W H",-.lr...., .-~~, . . - , . , . !l1
"1 ~ ,All
...,
,....;.,.....~---
(
( ~--~--­
( tos apaziguadores que consistem em proporcionar a crianc:;a .,,~A---._ § V - Uma concep~ao do desenvolvimento humano
uma quantidade redobrada de provas de ternura e interesse.
( Estes processos de compensac;ao correm o risco de lncitar a as:;-. •
crianc;a a empregar meios indiretos, portanto, neur6ticos, para Nao estaremos nos afastando de nosso tema ao introduzir concep-
( c;oes tao gerais? Nao, porque uma teoria da personalidade, isto e, do de-
perr.•anecer como centro das atenc;6es. '' ~--~:­ ~.
( a. senvolvimento humano, constitui a base de toda psicoterapia - ainda
Nao sera preciso dizer que esta forma de indicar os li- que esta teo ria nao seja sempre explicita .
( mites ou, de acordo com a f6rmula corrente, de "estruturar
a situac;ao", pode ser aplicada a qualquer relac;ii.o interpessoal, Vejamos a hip6tese central da teoria do desenvolvimento humano,
(
· seja qual for a idade dos interessados tal como ela e concebida aqui. Quaodn a tendencia __atualizante pode se
( e.!_ercer sob c«;mdicoes fayoraveis, isto e. sem entra,y_e._s____Qsicol6gi~os gra-
( f
:tes. o individ~qese..nvolv_enLno _ sent,do da maturidade . Sua percep-
0 argumento segundo o qual a expressao de sentimentos hostis
c;ao de si mesmo e de seu ambiente - e o comportamento que se arti-
precipltar o ato agresslvo e, no entanto, valido, se ocorrer uma mo-
( \ pode cula de acordo com estas percepgoes - se modificarao constantemente
dlficac;ii.o ligeira, quase lmperceptivel, das condic;oes. Isto se da se o in-
num sentido de uma diferenciac;ao e de uma autonomia crescentes, tipi-
( ) terlocutor, pal, educaoor ou tera.peuta, em vez de se limltar as manifes- cas do progresso em direcao a idade adulta. A personalidade represen-
tac;oes de compreensao e de respelto, adota uma atitude que se aproxi-
tara, portanto. a atualizacao maxima das potencialidades do "organism a" .
ma da aprovac;ii.o. Neste caso, nao ha rnais uma simples aceitac;ao, mas
~als concretamente, a personal!dadEL_~e desenvolve segundo urn modelo
( l encorajamento sutil, ate mesmo aplauso, dos sentimentos expressados.
(c _que pode ser cornparado ao desenvolvimento fisico. e este e, tambffin,
Este erro de discernimento entre aceit~ao e aprovacao, produz-se determlnado pela tendencia atualizante,___gue se exercLnunL niyel mais
(
facilmente, quando se trata de noc;oes tao novas quanto a de liberdade ~ementar, no qual el~ _ ~g~ _~_<!tf~r_e.nc:iacao das funcoes e 6rg~_QLC.a.racte­
( experiencia1 . Produz-se principalmente entre aqueles que, por uma razao rfsticos da maturidade fisjca.
( qualquer - talvez por causa de sua pr6pria psicodinamica - sao ex-
tremamente partidarios da ideia de liberdade . No seu zelo educativo ou Enquanto se relaciona com os aspecto~ HSicos, em par-
( terapeutico, estas pessoas acolhem as expressoes tradicionalmente proi- ticular morfol6gicos, do organismo, a tendencia atualizante nao
bidas de uma forma tao favonivel que geralmente chegam a provocar - .;;lf1-., - e, evidentemente, uma hip6tese, mas uma lei. 0 processo fi-
( uma torrente de expressoes deste genero. Isto se constata freqlientemen- sico jamais se inverte ou se reorienta.
( te nos "case conferences" OJ dos psiquiatras . Alguns terapeutas mani- •"~·~-
festam sua satisfac;ao diante da produc;ao de material tabu, de uma ma- Ele se desenvolve segundo a linha que !he e propria e na
( neira nao simplesmente flsion6mica - talvez inconscientemente - mas, ·- ~ ::: diregao do especime adulto, qualquer que seja o organismo
( tam bern por encorajamento mais ou menos explicito . Chegam, assim, a
•A--.
If
.
' ......1- - -
jovem de que se trate. ~ diferen<;a principal entre os processos
f}~~_os e psiq'l.licos, reside, re~ectivamente. no grau de sua com-
desencadear verdadeiras explosoes emocionais - que consideram como •
( descargas catarticas e, portanto, como indices de progresso do caso . A plexidade e de seu determin,ismo .
( reac;ao verdadeiramente catartica tern urn valor terapeutico, que ninguem l' --
pensa :1egar. No entanto, quando ela e provocada por meio de condi- Esta concepcao do desenvolvimento levanta, evidentemente, uma
( cionamentos Cisto e, pela aplicagao sistematica de recompensas, verbais questao fundamental: como a personalidade toma esta direcao positiva
ou nao-verbais) , o valor destas reagoes violentas parece duvidoso. Por orientada para a autonomia e a responsabilidade - caracteristicas essen-
(
outro lado, do ponto de vista do born funcionamento psiquico, isto e, da .., iiii1~ - dais da maturidade? De fato, esta direcao rtao e a manifestagao de urna
( correspondencia entre a experiencia e a representagao, estes metodos e necessidade interna tal qual a que rege o desenvolvimento fisico . Nao re-
os metodos tradicionais sao identicos. Ambos falseiam a tomada de cons-
......,~·
sulta, unicamente, tampouco do processo de unificacao social, ja que o
(
(
ciencia da experiencia, urn no sentido da repressao, e outro no sentido
c'r. intensificagao.

.,
a' 2 • cliente esta cercado tanto de exemplos de maturidade como de imaturi-
dade . E nao resulta, necessariamente, da satisfa<;ao imediata buscada pelo
( comportamento aut6nomo ja que este comportamento e acompanhado fre-
qlientemente de frustrac;oes suscetiveis de dificultar o crescimento. Quan-
( --· to a direc;ao externa, sistematica, por meio de conselhos, recompensas ou
(1) Em ingl"s no original. (N.T.) · .., ""1-· • pwtic;6es, esta teoria a exclui por c!efinicao.
( a
( 52 53
~ ......... ;. _
/
(
Vejamos como o rogeriano explica a tendencia do ser humano de
( evoluir no sentido da maturidade . Se o cliente pode "viver sua experien- recem ama-la cada vez mais, que apreciam seus esforc;os, que tern con-
sa", particularmente as experiencias que se referem ao "eu", se pode to- !ianc;a nela, que estao orgulhosos dela, etc . A crianc;a reencontra e afir-
( mar plen a consclfuicl a_._de SCUS se_ntimentos, pensamentos e desejos, SCI~?­ ma seu sentimento de seguranc;a e de satisfac;ao. Nao somente se con-
( ter que recorrer a manobras defensivas, havera correspondencla entre su~ duz bern (dado exterior), mas, funciona bem (dado interior) pelo fato
~xperien.~!a__!~ __yt~·i~Le_ . ~;u.as _ pe!"cepc;6es. . As . ~~e!"~~~~_l\s __.!!eg~tl~~ _- de que sua experiencia e sua representac;ao dela estao em harmonia, e
( de hostilidade, de inferiorldade, de medo - serao . representadas na co~­ que o comportamento q . e disto resulta lhe proporciona a satisfagao que
d~ncia, tao facll e- fieimente qua.rito as - exlieri~nC1a8 --positivas de segu- procura.
( ranca. de sucesso e de afeto_:__Se hi{ estrelta correspOiid~ncia entre a expe-
( riencia e a perce:Qc;ao, __dl.s_~o se seguira que ~- comportamento sera ade- Em resumo, ~.PQ~~_ q_ue _!L~ndlvf~_m:?-camlnh~ . par_a,__Q__e~.­
quadamente guiado, pois, e a percepc;ao, sobretudo a percepc;ao do "eu", tado adulto, toma consciencia da dl.versidade e tr,I..M.ffiQ....J,\lL dixergencia de
( que determina a .. dtreciio do c~I_!!Portamento. Dizemo:; "adequadamente" suas necessidades fundamentals__,_bio16gi.cas, ...so.c iais ..e __especificamente_bu-
( e niio_ "p~~!E!!tamente" . Esta direc;ao interna sera "adequada" nao por- manas. Se lhe e permitldo avaliar a medida de prazer e de proveito que
que 0 homem "nasce born" ou porque ele e determin.ad.o pelas tendencias lhe proporciona a satisfac;ao - nao necessariamente completa, mas equi-
( a autonomla e a responsabUidade, mas, pelas raz6es que se seguem . librada - de suas necessidades, seu comportamento sera, no conjunto,
adequado, racional, social e moral. Em outras palavras, se o cliente to-
( A medl.da que o cliente se desenvolve, a soma de suas experiencias rna consciencia dos d_ad~de . sua eJtp__!)riencia, podera ~!!_bmete-los a UI_!l
( .!resce , Mas nao ha apenas crescimento. No plano cada vez malor do processo - implfclto ou explicito - de avaliag~Q.,___il_~_ verificac;ao e, _S!'!
( 'llundo interior de suas necessidades, e do mundo exterior dos meiaS de necessaria, de corresao . Portanto, tendo em vista a variedade de suas ne-
satisfazer estas necessidades, sua estrutura experiencial se modifica. A cessidades, tratara de satisfaze-las a todas, harmonizando, o melhor pos-
( . ;ignificac;ao e a lmportfulcia subjetiva de certos elementos muda . Estas sivel, sua experiencia com seu compprtamento; disto resultara , entao, um
transformac;oes se fazem, geralmente, no sentldo de uma apreensao mais ( certo equilibria . Em Ultima analise e. pols, ~-g~paeigp.de @_§.f!J.:.J:l.w..mw.O
( .cealista dos dados da experiencia . Sendo melhor apreendida, ela e melhor ) ~e tomar consciencia de sua expe_!iencia,_!l~.-~.Y!!ll!l.-la, verifica-la, corri-
( waliada e, portanto, se adapta ao conjunto das necessidades . Sabemos ) rQ::!!h__qQEt . elCPiim~_!!l~--~!.l~~llCi.ll .. im!teg.~ ap_ desenv-olvimento __em._di.r.e-
que uma das necessidades mais fundamentals do homem e a necessidade \. ~ao a Il}!_~~r.!c:t_~_c:t_~ __e, P9.!~t_g..__~m direcao__!_!lt!tonomia e a resp_o__n_sabilidade.
( lo afeto e do respeito de seus semelhantes . E, a medida que sua expe-
( de1_1cia cresce, o indlviduo se da conta de que a maneira mais segura e .!'~-..,. A marcha positiva do desenvolvimento nao e, pols, o efelto de me-
ma1s econ()mlca de conqulstar este afeto e este respeito consiste em com- canismo ou de agentes especial~, externos ou internos. E o produto da
( )Ortar-se de uma maneira razoavel e social . Em resumo, -~ a dlsponiblll- conjugac;ao de forc;as internas, positivas em sua orientac;ao, mas flexi-
( d~~~- !'.~rl~J!~,_~l)_S!!J:l_ como seu enriguecimento progressive, que pez:- veis, ate mesmo instaveis, e de forc;as externas, favoraveis a atualizac;ao
·l_llte _g __jogo das fun95.~c:1.e 9._1:1to~ avaliac;~ . e · ~e . au~ogorrecao. Estas fun.-
-"·'...,.... ......_ destas forc;~s .
Jf•
( -;oes, po~-~-~ vez, dirigem_Q___.9_0_Il!P~-r~aiJ1eg.to no sentido da maturidade.
pessoal . ~~· __.....· -
........ ·~
Para concluir, lembremos uma vez mais que este desenvolvimento
( . - ·' favonivel - e os processos de auto-avaliac;ao e de autodirec;ao que pres-
( Aplicado ao nosso exemplo, isto significa que a cri-anc;a ciumenta

.·,_.,_==
w ,...,.........__
supoe - depenpem, antes de tudo, da medida nJL.Q.~~L !!_(lxperienc~ est!l
disponivel a consciel).cla_. Se faltam dados experienciais importantes, o
descobre que seu irmao menor, ao mesmo tempo que urn rival e, por-
( .anto, uma causa de desprazer, e tambem um companheira de brinque- a <'"' . ... ~. equilibria sera falseado e as escolhas serlio inadequadas . A titulo de exem-
( <:los, e portanto, uma fonte de prazer . A presenc;a do bebe, de inteira- plo do mecanismo e dos imprevistos de uma das mil decis6es de que se
m.:.Hte detestavel que era no comec;o, vai-se fazendo menos penosa e, compoe a existencia, tomemos o caso do indivfduo que quer se dedicar
( )01JCO a pouco, toma-se atraente . Ao mesmo tempo, a crianc;a descobre a uma profissao que exija urn forte espirito de grupo . Suponhamos que
q ,':; o a to de compartllhar n.ao e de todo sem proveito; que dele se de- ignore a intolerancia, a rigidez mental, e a necessidade de dominar
~-
( rtv~. :•IT'.a r.erta satisfac;ao - um certo sentimento de riqueza ou de po- de seu carater - iguorancia devida a falta de oorrespondencia entre os sen·
p
,..... ..,•.• timentos e atitudes que de fato experimenta, e aqueles que acredita dc-
( ie • . _._..__ ;:; bre, igualmente, que uma das condic;oes de aumentar o amor
de seus p:2.!s, e aquiescer, nao somente as suas exigencias, mas tambem,
....-... ver experirnentar para ser aceito e respeitado pelos que o cercam . Esle
( aos sewi desejos . A medida que se esforc;a por comportar-se de acordo individuo nao poderia, eJ.identemente, tomar uma decisao adequada, sus-
( ~on . suas descobertas, ela. se da conta, com efeito, de que seus pais pa- cetivel de ser fecunda . ' Pois, ocorre com a avaliac;ao da experiencia o
- mesmo que com qualquer outra. avaliagao. Se os elementos significati-
( vos sao inacessiveis ou falsificados, as conclus6es nao podem ser validas .
, ) ·, -
- ,~---~
•- . ·~ -· ......
(
(
(
(
( Isto e, se o individuo faz de si mesmo uma imageni que coniporta lacunas
( e erros importantes, sqas decisoes apenas poderao condtizi-lo a 'fracassos.
Neste caso, a confusao e o desequilibrio existentes se agravam ·com no-
( vas frustrar;oes.
( Depreende-se, portanto, do que ficou dito, que a ideia mestra da
( concept;;iio rogeriana nao se refere a alguma coisa evidente, diretamente
observavel . :E essencialmente uma hip6tese - e todo o apoio dos dados
( lcumulados para pesquisa nao altera este fa to . .:E, por outro lado, uma
hip6tese que nao se adota sem alguma hesitar;ao . Uma concepr;ao posi-
( civa - senao otimista - como esta, baseada na existencia de uma ten-
( iencia inerente, ainda que instavel, para a maturidade psiquica, e dema-
siado diferente das teorias, tradicionais ou correntes, para ser admitida
C .:acitmente e sem reservas . Nao e, alias, desejavel, no nivel presente dos Capitulo m
( (!Onhecimentos psicol6gicos, que uma teoria seja aceita desse modo. (Pes-
soalmente confesso que, ainda que esta teoria me atraia mais que qual-
( 1uer outra, nao me satisfaz inteiramente . Vejo-a como urn passo, im-
portante, em diret;;iio a uma melhor compreensao da personalidade, nao
( .!Omo a ultima palavra sobre a questao).
PROBLEMAS DO AUTOCONHECIMENTO
( Alem disso, esta concept;;iio se choca com urn sistema praticamente
( universal_ de habitos mentais e sociais que tendem a dirigir e a corrigir
o comportamento do exterior. Enfim, a crenr;a numa tendencia intrinse- No que se refere ao individuo que teve a boa sorte de poder de-
( ca para a maturidade psiquica e, evidentemente, dificil de se admitir, dian- senvolver-se em condic;6es favoraveis, a hip6tese que acaba de ser enun-
( te do espetaculo pouco convincente que nos oferece a hist6ria e o pano- ciada niio parece colocar grandes problemas . Mas, quando se trata de
rama contemporfmeo. ec - , ~. indivfduos cujo desenvolvimento se efetuou em condic;6es menos favo-
( raveis ou altamente prejudiciais, esta concepr;iio positiva do desenvolvi-
Em resposta a esta ultima observat;;iio, lembramo-nos da segqnda
( proposi<;ao da tese rogeriana, a saber, a necessidade de condir;6es favo- & ':lwa mento _.:. e, em conseqtiencia, do tratamento - parece duvidosa, pelo me-
( raveis a atualizagao das capacidades . Se e verdade que a hist6ria do ho- nos a primeira vista. Sera razoaveJ supor que o potencial de auto-ava-
mem nao se distingqe quase nada pelo equilibria, harmonia e · responsa- liac;iio e de autodir~iio pode ainda atuar no indivfduo cujo funciona-
• ("'' 1
... . ...,.~.- .
( bilidade daqueles que a fizeram, e igqalmente verdadeiro que as condi- L mento esta a tal ponto transtornado que precisa recorrer ao profissional
r;oes eram muito pouco favoraveis a realizagao destas qtialidades . No para se "desembarac;ar"? Em outras palavras, podera a terapia produzir
resultados em tats pessoas?
( momento atual, em certos paises, estas condit;;6es comegam a ser esta-
( belecidas numa larga escala . No entanto, o homem contemporaneo esta, Observemos logo de inicio que o problema da eficacia e uma ques-
naturalmente, absorvido pelos produtos e problemas da mais recente das tao que se coloca com reJac;ii.o a toda forma de psicoterapia, qualquer
( inanifestat;;6es de sua capacidade criadora - a tecnologia que se revelara, que seja a teoria do desenvolvimento em que ela se ap6ia. Contudo, como
( talvez, como o teste crucial da capacidade do homem em investir na sua ~ -·· aqui se trata da terapia rogeriana, limitaremos o exame desta questiio
preservac;ao e na sua revalorizaGfio .
(
;;-1.....,._._
; ,J...,_,
L ,..
_ ...•
.• a este tipo de terapia.
( Esta questii.o, e as duvidas que a inspiram, sao completamente na-
, ·
turals . Sao ainda mais compreensfveis uma vez que a hip6tese da capa-
( ~-·· cidade do indivfduo traz certas conseqU~cias praticas pouco atraentes
..
: :;---.,..• para o homem de profissii.o liberal que e o terapeuta. Com efeito, se se
(
~,_, admite que o cliente e potenclalmente capaz de resolver seus problemas,
( • 1 -. o pape] do profissional e - ou pareoe ser - posto em questiio. De acordo
com a concepcii.o tradicional, o profissionaJ goza '!as prerrogativas do es-
(
"""""'!!" . ~ . . . ......... -
(
(
(
pecialista, do conselheiro, do guia - numa pal:1vra, do agente. 0 roge-
( riano reconhece que esta concep<;ao do papel do profissional e perfeita-
( mente valida - exceto quando se trata de psicoterapia. Esta, consistin-
do na reorganizac;ao da experiencia, s6 pode ser efetuada par aquele que de c.eticismo . A maior obje<(ao gravita geralmente em torno de uma uni•
( vive esta experiencia, isto e, o cliente. E, ainda que a concepc;ao tradi- ca e mesma ideia que, alias, se formula freqUentemente em termos iden-
cional do papel do cliente o considere como centnl no empreendimento ticos a saber: "que o individuo e incapaz de compreender .a dinamica de sua
( <naquilo que ele e o seu beneficiario), ela destina 11 ele, contu?o, um pa- pr6pria personalidade" e "que e uma contradigao de termos afirmar que
pel essenciaamente passivo: ele sofre a operac;ao, recebe os cuidados, os seria capaz" .
(
conseihos, etc ., que o profissional lhe oferece. N a psicoterapia rogeria-
( na, por paradoxa! que seja, Q.. individuo tern ao mesmo tempo as pape1s
( de a,ge~te e de cliente. Quanta .ao prqfi!;;siolljiL=._deno.min~a panco
adequadanesfaocorr6ncla seu papel se limita a criayao de cgpdici'\es A dinO:mica da personalidade
( favnrAveis para que complete o papel.Jlo_..cliente. Em conseqi!Pncia, ele
15e absttiDt de to~- atividade lntervenclonlsta. como a de exnlorar a ex- Afirmar que o individuo e capaz de se compreender e de resolver
(
p~l~r:!Cia do cliente, . de illt~rp_!_eta-ta. __()'l.l_ __<:l~L_g!.l.iar o cliente_.nas snas ex-
seus conflitos internos, nii.o e ignorar a natureza da psicodinamica? Esta
:P!!>!a.~Oe~ _Qu lnterpretacoes. Esta abstenc;ao se impoe, tendo em vista
e uma questii.o que se coloca de inicio a quem quer que empreenda o es-
o fim perseguido: ~ au~Qll:OJ:ll~__cfQ_cl~!l-~~- ~!l<l~tl:~tC>. pessoa.. Ora, a ma- tudo da abordagem rogeriana e que deve ser esclarecida antes que se ve-
( neira mais direta e mais segura de atingir este fim, nao e falar nele, mas nha a adota-la.
( criar condic;oes que permitam ao cliente se empenhar diretamente na
pratica desta autonomia - par elementar que seja, no comec;o, o nivel Admitamos, wna vez mais, que nao e facil acreditar que o indivi-
( . no qual ~le se empenha. Pols, contrariamente a qualquer outra apren- duo confuso e cheio de conflitos internos que foi "confiar-se" ao tera-
dizagem, nao se pode adqulrir autonomia por meio de ensino au de con- peuta, possa, em principia, se reorientar de uma maneira essencialmente
(
dicionamento. Como Rogers o diz muito bern, "o ensino destruiria a autonoma. Todavia, e francamente impassive! admitir que ele seja ca-
( aprendizagem". 0 -£apel do protfssional nesta concepciio da tera,pia 6, por- paz de decifrar o que o profissional chama de a "dinamica da sua perso-
ta.!l..tO, o de um ca !lllzador, de w:g._~~l~__ QlJ!L~~cllita um processo dado, nalidade". Felizmente, nii.o e disso que se trata. Contudo, isto e o que o
( . wa·s·· gue nap o ·determi».a; · ·' interlocutor tende, quase que invariavelmente, a compreender (pelo me-
( nos o interlocutor de formaQii.o psico16gica, seja psiquiatra, psic6logo cli-
:!!: precisamente para colocar em relevo o carater ativo do nico ou assistente social psiquiatrico).
( papel do interessado, que ·Rogers introduz o termo "cliente" .
Este termo nii.o e ideal, no sentido que tem de lmplica(foes co- Como explicar esta reac;iio do profissional diante da proposi<;ii.o cen-
(
merciais que sao - ou deveriam ser - fundamentalmente tral da terapia rogeriana?
( alheias a toda a obra terap6utica. No entanto, tem o merito.
de evocar as noc;oes de ~~~~ ·que sao as Meus contatos com varias pessoas, principalmente com profissio-
( prerrogativas caracteristicas do indrviduo no seu papel de clien- nais recem-formados - versados em teorias e sistemas, mas freqiiente-
( te. Representa, em conseqUencia, um progresso em relac;ii.o ao mente muito distanciados da realidade humana .individual, concreta, viva
termo "paciente" - bastante evocativo da passividade e, par - sugeriram-me as seguintes explica<;oes:
outro lado, bastante contaminado pela patologia, para cortes-
( ponder a noc;ii.o contemporanea de psicoterapia atraves de en-
trevistas
( 1. UMA PALAVRA E DUAS SIGNIFICA(lOES
Da mesma forma, o termo "cliente" e mais adequado que
"individuo", termo bastante impessoal para designar o in-
terlocutor de um dialogo que se considera cada vez mais co- A palavra "psicodinfunica" e uma destas palavras --:-- nao raras no
mo uma aventura humana, no sentido mais elevado deste termo. vocabulario de uma ciencia jovem - que se aplica a duas noc;Oe.s apro-
( ximadas, mas nao identicas . De um lado, a palavra designa uma reali-
Este ponto de vista, e a transposic;ii.o de papeis e competencias res- dadP psiquica, um conjunto de forc;as internas, na maioria inconscientes,
( que exercem um papel importante na detenninac;ao do comportamento .
pectivas que se segue, provoca geralmente um sentimento de oposi<;ii.o e
( Par outro lado, refere-se a urn sistema de abstrc>.c;5es relacionado com
estas forc;as. Ora, este conjunto de fort,;as vivas, Un.icas e subjetivas, re-
( 58 presenta a materia-prima de toda osicoteraoia como orocesso dP. intP.rn-
(
.:..AJ nll'u:~ ca c ltrl.-Ci 1
(
(
Qi.O, enquanto que o conjunto das noc;aes abstratas constitul o objeto mesmo em linguagem corrente - e importante ter em considerac;ao em
( de toda terapia enquanto sistema te6r1Co. toda a discussao, de que ttpo de inconsciencia se trata.
( No curnprimento de suas func;Oes, todo terapeuta se serve destas Comecemos a discussao pelo exame de urna questao freqiientemen-
abstrac;Oes, numa medida variavel, e de uma forma implfcita ou explf- te colocada: ·Qual . ~ o significado da no9io de inconsclencla na teoria ru-
( clta. Mas o cliente nada tem a ver com estas noc;t>es te6ricas. · Seu campo-' prlana? J ... .. -
( 1 a realidade com a qual ·elas se relacionam, isto 6, seus pensamentos, Assim formulada, a questao nao se deixa tratar, com facilidade, pois
' sentimentos, atitudes, confUtes, medos, necessidades ·- ·em resumo - · sua · nao sabemos exatamente a que ela se refere . A noc;ao de inconsciencia
( experiAncia vivlda. - ou de Inconsci~ncial - tomou-se urna noc;ao que a tudo se aplica,
( Quando urna palavra, ou qualquer outro simbolo, tem dots signlfica- urn pouco como ocorria no passado com a noc;ao de "instinto" Tudo
aquilo que se ~ incapaz ·de explicar, tudo o que nao se quer compreender
( dos, • inevitavel que se produzam erros de comunicac;ao. A probabill-
dade destes erros '· naturalmente, mats elevada quando o objeto real ou n8.o ·se deseja assumlr, atribui-se atualmente ao inconsciente .
( (por oposlc;iio ao objeto abstrato> desta palavra niio .S diretamente obser- Digamos em seguida que o rogeriano reconhece perfeitamente a exis-
vl.vel - como t5 o caso do vocabulo em questio. A confusio que cerca a
tencia de experl~nclas incopsclentes. Notemos, no entanto, que, servindo-
( noc;iio de "dinAmica" e, por outro lado, de tal forma evidente, que 0 novo
se desta expressao, ele nao se refere absolutamente a urna especie de
( Dletlonnary or Psychological Terms (28) descreve o termo como "um nio
func;ao ou de entldade tntemn, relativamente autOnoma e provida de po-
r sei quo pseudo-erudito". (1 >
\
deres e de desfgnlos pr6prios . Tudo o que tende a reificar a experi~n­
A este respeito, notemos que o termo "psicoterapia" e igualmente cia inconsciente e representa-la como um agente de certa forma distin-
( 'Lunn destas palavras com duplo objeto. Ele se refere ao mesmo tempo to do resto do psiquismo, e fundamentalmente alheio a esta teoria. Se-
( a urn processo extemo, de interac;iio, e a um processo intemo, de mu- gundo ela, todos os pr<;>cessos vitals sao regldos por uma 'llnica e mes-
dan~. · Praticamente, em qualquer outro campo, a linguagem distingue ma forc;a, a tenq~ncta atualizante - que e o organismo total enquanto
( entre a ac;ao e seus resultados, entre o processo e o produto. Ass~ em conjunto de fun~oes orientadas para a realizac;ao de uma finalidade ge-
( medicina, 0 processo interatlvo ou extemo e denominad6 trataniento, en- ral, que e sempre a mesrha, a saber: sua conservac;ao e seu enriquecimento .
quanta que OS resultados (Se sao positives), sao designadOS pelo nome
( de cura - urna distinc;ao em nada desprezivel. Evidentemente, nenhuma pessoa que possua urna formac;ao
psicol6gica admltira que tern pontos de vista reificantes a res-
Admitamos, para concluir a discussao deste primeiro ponto que, nurn peito do inconsciente. Repudiara a ideia como urna coilcepc;ao
( sentido acad~mico, o indivfduo nao tem a capacidade de se compreender. primitiva e grosseira . E no nfvel puramente intelectual, tera
Seria absurdo postular urna tal capacidade como uma tend6ncia ineren- razao. Mas, no nfvel das imagens - nfvel em que a terapia
( te ao organismo. Esta objec;ao tambem se dissipa facilmente, quando se se exerce bern amplamente - nao parece acontecer o mes-
( tem ocasiao de discuti-la. Mas este esclarecimento nao serve, em geral, mo . Com efeito, a maneira pela qual bom ntlmero de pro-
senao para preparar o terrene para a objec;ao seguinte, mais substancial . fisslonais se exprime nas suas apresentac;oes de casos, par~:­
( ce revelar que eles quase nao tomam o inconsciente pelo que
e, a saber, urna blp6tese sem realidade concreta, uma propo-
( 2. 0 CARATER INOONSCIENTE DA PSICODINAMICA sl~io que tem slgnlfl~ao apenas no oontexto da teori3 de
( que ela faz parte - neste caso a teoria pslcanalftica. No pla-
( Como reconciliar a afirmac;ao da capacidade do indivfduo com a no de outras teorias, tats como as teorlas experimentais de
aprendizagem, ou as teorias do eu (Self-Theories) (1), a no-
tese do carater inconsciente da psicodinamica? Obs~rvemos que esta tese
nao e especificamente rogeriana. Todavia, como a noc;ao da inconscien- c;ao de '1nconsciente", nao tern sentido. Infelizmente muitos
t cia da psicod.inAmica conquistou seu Iugar em psicologia geral - e ate.' psicoterapeutas ignoram att§ a existencia destas teorias . Daf
( sua tend~ncia a tomar absoluta a Unica teoria que conhe-
(
( ~
I
(11 Cfr. "dynamics" e "dynamics/behavior", na obra citad&. Ii
(1) Em lngltt no orlgiMI. (N.T.)
f
(
(
( campo da percepQao sob a influencia de urn estimulo adequado - seja
( urn estimulo externo, fisico, ou interno, . proveniente . de associaQ6es de
imagens, de pensamentos, etc . Quanto aos elementos experienciais que
( cern . (E verdade que as novas teorias da personalidade nao nao estao disponfveis a consciencia, sao designados pelo nome de expe-
( sao quase conhecldas fora dos cfrculos da psicologia acade- :·rienclas .. nio-slmboljzadas : Estas se com poem de duas especies - uma
mlca . Alem disso, sendo bastante rigorosas, falta-lhes a atra- ,.. eng_loba, os .~lemeritos de experiencia cuja simboliza<;ao e impedida em ra-
{
\. Qao emocional caracteristica de sistemas cujas proposiQ6es evo- : zao .de sull · significa!;ao amea!;adora em rela<;ao a imagem do eu. Estes
cam as personagens de urn drama universal . Por isso estas elementO!W,~RQ indiQados · p~~o riome de experienclas potencialmente sim-
(
teorias nao tendem a se fundlr em grande escala) . Quanto r~ bo~VJ:'IS; A- outra especie compoe~se de experiencias nio-simbolizaveis,
( ao objeto pr6pr1o das diversas teorias da personalidade e, evi- ·· ..isto e; pefinitlvamente ~acessiveis 'a consciencia, seja por terem sido per-
dentemente, sempre o mesmo: · uma inc6gnita que cada urna i cebidas pelo iridlvfduo como nao tendo importancia em rela!;ao ao eu,
( delas se esforQa em captar - com margem de · erro igual- : &eja .: por sua intensidade ser multo reduzida para ultrapassar o limiar da
( mente desconhecida mas que, aparentemente; · vat pouco a ; percePQiio 4
pouco diminuindo .
~ Uma quantidade considerlivel de experiencias pertence a
Em sentido estrito o termo "inconsciencia" nao pertence ao voca-
( bulario rogeriano. <tJ A eliminacao do termo permite aos te6rlcos desta · categoria nio-simbolizavel. Assim, ap6s uma conversa absor-
( ,/ terapla caracterizar sua posiQao - senao contraria, .ao m:nos diferente vente · aconiece, muitas vezes, sermos incapazes de recordar
- em relaQii.o a posiQao tMrica e filos6fica na qual a noQao de incons- como se vestia o interlocutor . Estes elementos da experien-
( ciencia e o elemento central. (!sto nao quer dizer que os representantes cia nao tinham significado para o eu . Foram registrados, ja
( . desta teoria nunca utilizam os termos "consciencia~ ou "lnconscienci~". que a retina esteve exposta durante toda a duraQao da con-
· Recorrem a eles, as vezes, a titulo expllcativo, por exemplo, quando o m- versa . Por outro lado e, as vezes, possivel fazer reviver cer-
( terlocutor ou leitor esta pouco familiarlzado com sua terminologia . ) f2l tos elementos com o auxflio de processos experimentais; por
exemplo, se a cena fosse reconstituida, e se o interlocutor apa·-
( Antecipemos urn pouco o conte'lido do capitulo VIII e introduzamos recesse vestido de maneira ostensivamente diferente, a mudan-
( duas noc;~-cha1vle da psicodinamica {3) tal como e concebida -aqui. Estas Qa seria observada e . certos vestigios da primeira imagem po-
no!;6es sao representadas pelos termos "percep!;ao" e "experiencia". Estes deriam :rea.parecer no aampo da percepqao . Ma.s, sem pro-
( termos correspondem em parte as noQ6es de "consciencia" e "inconscien- cessos tao penetrantes da atenQao e da mem6ria, estes ele-
cia", mas nao Ihe sao, no entanto, equivalentes- como se vera em seguida . mentos permaneceriam inconscientes . Em termos "gestaltis-
tas", poder-se-ia dizer, que eles pertenciam ao "fundo" e que
0 vocabulo "experlencia" refere-se aqui a tudo o que constitui o nao tinham rela!;ao com a "figura" da experiencia .
psiquismo nos seus elementos tanto conscientes quanto inconscientes em
cada momenta determinado . Os elementos conscientes sao designados com Porem, urn born n\lmero de outros elementos, como os
o nome de · percep~oes ou experiencias sbnbolizad.as. Estas englobam tudo pequenos detalhes da convers;1Qao ou da aparencia do inter-
aquila de que o indivfduo se da conta atualmente, assim como todas as locutor, nao deixam nenhum traQo denunciador porque seu va-
( experil3ncias passadas ou periferioas capazes de entrar imediatamente no lor como excitante e bastante pobre para poder penetrar no
( campo da percepQao . Isto nao quer dlzer, no entanto, que
eles nao influenciaram os interessados - como o atestam, de
uma maneira quase inquietante, as pesquisas que se relacio-
( (1) Assim se da tamMm com o termo "consciancia". Os rogerianos, asslm como os represen- nam com a percepQao subliminar (59).
' tantes das diversas "Self-Theories", preferem usar o termo "awareness" que Qllo tern o colorido
jo termo psicanalftico "consciAncia". No entanto, pelo fato de que "awareness" nft'o tern equi- As pesquisas sobre a percePQao subliminar nao sao des-
valente frantas, n6s nos veremos obrigados a recorrer aqui ao .termo "consciAncia" e percep4;:!ro. titufdas de interesse para a psicoterapia, pois demonstram que
I uma psicanalise "completa" e coisa falaciosa. A mais profun-
(2) No texto, consciAncia deve ser entendida "" ~au sentido fenomenol6gico - estar no campo
perceptual. (N .T.l da analise de uma existencia pode fornecer apenas uma ima-
gem parcial da genese de uma personalidade . Isto devido ao
{3) A palavra " psicodinlimica" ~ ainda urn destes termos que, no sentido estrito, nao pertence fato de que uma porQao de experiencla - de importancia in-
ao vocabulario desta teoria. Contudo, como ela se tornou moeda corrente na linguagem da psi-
( cologia, utilizamo-la para facilitar a comunic~ao e tamMm porque sua . signific~llo nllo difere
6.3 ·<
( "'nsivelmente da conce~o rogeriana de seu objeto.
detenninavel - e, nao simplesmente, bloqueada, mas nao-sim- que pode te:r apenas mnn ! t:'lagrtn ~uperficial ou v:v;saf ·.:'ira com o e''-·
bolizavel, tendo-se apagado definitivamente. Somente seus efef- Ao contrario, a segunda rn<\•.:3lra atin ge o eu em cheio . Assim, ns ef8l·
tos subsistem, e estes se amalgamaram com a experi~ncia sim- tos destruidores desta genera.lizac;ao pouco h abil n ao se limitmn a dete-
bolizada - obscurecendo, desta forma, a g~nese desta expe- riorac;ao das relac;oes interpessoais . Afetam a pr6pria personalirlade do
ri~ncia e, dal, alterando a validade de toda interpretac;ao. Alem indivfduo. Em algum nivel semiconsclente, o individuo a c:~.b a efetiva-
disso, independentemente da questao da disponibilidade da ex- mente por considerar-se urn revoltado, um neur6tico, urn paran6ico, etc .
peril!ncia, o significado flUe o individuo atrlbui k sua experil!n- E ja que e a imagem do eu que guia a conduta, nao e surpreendente que
( cia muda constantemente. Esta signiflc~ modifica-se pa- ele se ponha, finalmente, a aglr de acordo com essa id1:Ha .
ralelamente u mudanc;as que se operam nele em cada mo- Tais jufzos e conden~oes, e a desvalorizaQao do eu que deles re-
( Inento de sua evolucao. sulta, constituem, evidentemente, uma ame~a . Esta e a razao por que
( o indivlduo logo aprendeu a iniblr a expressao observavel - pelo menos
( Destas duas variedades de experil!ncla nao-stmbolizada, aquela que verbal - de seus lmpulsos e sentimentos "prolbidos" . Infelizmente, co-
importa para a psicoterapla - rogerlana ou nao - e a experil!ncia po- mo vimos, esta aprendizagem nao se llmita a expressao dos dados da ex-
( tenclalmente simbollz4vel, J4 que, por definlcAo, esta experil!ncia e lm- perimcia. Ela se estende, gradativamente, a represent~io, submetida, gra-
portante em rel~ao k d.lnA.rn1ca da persoilalldade. Com efeito, o que dativamente, a uma censura intema, sem que o sujeito se de conta dis-
Impede sua simboliz~ao e, como vimos no capitulo anterior, a ausl!ncfa so. Pols'' "ele "' adota inconsclentemente ( ou, em linguagem psicodinamica,
de liberdade experiencial . l!l a ameac;a k imageni do eu que se llga k trans- · ele ·•tnternallZa">' as norinas que govemam seu grupo e que lhe sao trans-
gressao das nonnas socials e morals. Sem dt1v1da, estas normas e as san- mltidas ,· por:: suas ·: pessoas-crlterio, lsto e, por aqueles que representanl
( cOes que trazem conslgo sao, em conjunto, legltimas naqullo em que se um papel importante em sua exis~ncfa . Por isso, a fun<;iio punitiva que,
( relaclonam com acOes que, para o bem do indivfduo, tanto quanto da so- num estagio anterior, era exerclda por outra pessoa, toma-se parte iDe-
ciedade, devem ser exigidas ou proibidas, recompensadas ou punldas. In- rente de sua estrutura psfquica. Em conseqtiencla, o simples fato de se
( felizmente, os que se encarregam da educac;ao - pals, mestres ou ou- dar conta da presenQa, em si mesmo, de pensamentos e sentimentos proi-
tras pessoas - esquecem-se multo freqiientemente de distinguir entre o bidos, e tao penoso e humilhante, como a condenagao por parte dos de-
ato e o agente . Mais precisamente, tendem a condenar nao somente o mais . 0 indivfduo se sente envergonhado e culpado; isto e, sua auto-
ato repreenslvel, mas a englobar a pessoa lnteira na sua punic;ao. estima baixa . E esta desvalorizac;ao da imagem do eu esta diretamente
oposta a tendencia atuallzante, a quai visa a conservac;ilo e ;a revalori-
A titulo de exemplo, retomemos o caso da crianc;a clumenta . Su- zac;ao desta imagem.
( ponhamos que, nos seus esforc;os para recuperar sua posic;ao t1nica, ela
ataque o recem-nascido de uma fonna qualquer. Esta conduta exige, sem Que acontece neste caso? A fim de escapar a autocondena<;ii.o e
( duvida, uma punic;ao, verbal ou nao . No entanto, em muitos casos, cons- ao Sentirnento de desvaloriza<;ii.O que esta provoca, 0 indivfduo nega OS
tatamos que esta punicao nao se limlta a ac;ao cornetida. Tende a en- elementos ameaQadores de sua experiencla. Is to e, ele omite a simboll-
globar a crianc;a inteira: ela e tratada de "crianQa rna", ou de "malvada" ~o destes elementos, ou os modifica de modo a toma-los aceitavets.
( - como em outras ocasioes e tratada de mentirosa, gulosa, pregulQosa, A nao-simbolizaQiio e a deformac;ao aparecem, portanto, como formas de
.,tc . Este mesmo erro se observa, alias, com freqii~ncia, entre adQJ.tos . protecao do eu postas em pratica pela tendencla atuallzante, que 'se ope-
(
Assim, quando um indivlduo sustenta opinioes que urn outro julga exa- ra no nfveJ. da subcepc;ao (ct.r . p. 164). ( t )
geradas, insustentaveis, hostis ou estranhas, este n8.o se contenta freQiien-
temente com uma resposta ad hoc, dizendo quFt suas opinioes parecem exa-
( geradas, insustentaveis, hostis, ou estrarihas . Ele se deixa facilmente le-
( var por coment4rios que se dirigem a pen~onalldade do individuo "voca
divaga", "voce esta louco", "voc~ e um r«~voltado" ou - adjetivos cada vez
( mais em voga: urn neur6tico, ou mesmo um comunista ou um "existen-
cialista" .
(
( A diferenQa entre estas duas fonnas de desaprovar · ou de expressar (1) Subcepfi , do. neologlsmo franctls subception, deve ser entendida-como a percepc;:lo subll·
o desacordo e consideravel. A primeira se dirige a qualquer coisa de mlnar vista num nfvel fenomenol6gico. Tal ·termo sen! usado no decorrer deste livro, l8r'l1pN
( passagelro, de limitado, ate mesmo de trivial - uma palavra, uma aQiio, que o original empregar o correspondente subreption. N.E.
(
64
l
I
, real, vivida, mais seu funcionamento ser
A representa~ao completa e de acordo com a experiencia vivida f!.,.f-nPln
. ~·
e, pois, a condi~ao essencial para o born funcionamento . Com efeito, se
( ~ representa~ ao e completa, ela englobara os m6veis profundos postos Eis, em algumas linhas, como o problema da compreensao e da di-
. em jogo a cada momento da existencia (caso ideal que, deve-se admitir, re~ao do eu se coloca e se resolve de acordo com o rogeriano. Como se
( nunca e complet:a.mente realizado) . Se o individuo e capaz de descobrir percebe facilmente disto, a solu~iio deste problema depende inteiramente
( ·~us m6v.eis profundos, e potencialmente capaz de modifica-ios ou, no da ausencia de condi~oes de amea~a. isto e, da presen<;a de condi<;oes de
caso de fatores irreversfveis, de se adaptar a e!cs . seguran~a emocional.
(
.nm resumo, dizemos que e pr6prio da psicodinamica relacionar-se Existem, evidentemente, outros modos para estabelecer
( om experiencias ao mesmo tempo signlfic!ltivas e nao-simbolizadas . Se urn acordo mals completo entre a experiencia e sua represen-
( ..stas experiencias sao signiflcativas, elas sao potencialmente .simboliza- ta~iio . Os procedimentos mais usuais sao geralmente designa-
veis ou cognisciveis . Se, de fa to, elas nao o sao, e que . as condi~oes s.a o dos pelo nome de psicami.lise . Nela o individuo e convidado
( or demats amea~adoras · para permitir a simboliza~ao delas . Isto e, o a se descrever o mals completamente possivel . A partir des-
( ;ndividuo vagamente ·as percebe como potencialmente perigosas para a tes dados, o profissional ja pode formar uma ideia das linhas
vOnserva~ao da · imagem que tern ·de si mesmo . Q1,1ando as condi~oes sao de for~a da personalidade do individuo . Este primeiro esbo-
( 10dlflcadas no sentido de maior seguran~a. a simb()liza~ao se · toma pos- ~o. baseado nos dados conscientes e, em seguida, completa-
sivel. J~tft ft . : flSSeDCiaJmente · 0 811Jfljg p§fcot.eragAtJ.tiQO Q,JlA est8, -,-,m ~·(lJleS.,;;~" do por uma "imagem em profundidade", deduzida, pelo tera-
( ,d,Q 'aqui';; a · CriaciO de COndfcOes eJCepcionais QUA perm!tam fl, . eXJ;IetH\n- ~ peuta, a partir de um conjunto de dados "irracionais", isto
.t ( ·' ' blogYea® se · U~berar e se pOt a ..seryico do comgortamentn. ~ . e, nio estru~urados pelo ' pensamento consciente do cliente, e
;A seguinte ,serie de proposi~oes formula este processo: obtidos com . 0 uuxilio d~ tecnicas especiais, tais como a ana-
lise de sonhos, a livr~ 'associa~ao, e ate a aplica<;ao de t estes
t /'Yt.Ldmet..i.Co projeti:vos .
Quanto menos goza o -lndivfduo de llberdade experiencfal,
mats tend erR 3 lnliBr-t;e e nrlent.ar-se em funciio . de criterios .Ap6s haver decifrado 0 conjunt o, quase sempre vasto,
' externos; destes dados emaranhados, e ap6s haver verificado devida-
(
mente a coerencia (1) de suas e onclusoes, o terapeuta inter-
Quanta mats se Ju1ga e se ·orienta' 'em funcao de crite- preta para o lndividuo o que !he parece indicado comunicar.
(
rios externos, tats como opini5es de outras oessoas. ' mais esta ISto, ele se esfor~a por fazer, n ao temos nenhuma duvida,
( suleito a an2Jlstia·
oom tooas as precau~ oes nlecessar'ias. Po is, todal -a. con-
( ,Quanto mais .esta sujeito a angUst~!h:.I!lat.~ J~nctera . ne: a. fronta~ao do indivfduo com fragmentos de experiencia nao con-
gar ou a _defo_~r' ~~z:!os elemi!?:~os de SU8 · e~ri~ncia · de mo- fessada ou deformada, constitui, por defini<;ao, uma amea<;a
( ao eu. Por coriseguinte, uma tal conf rontaQao t ende a elevar
do a toma-los de acordo com as ex:lg~ncias, reais ou percebf_.
( das de seu ambiente; · o nivel de anglistia - fen6men.J antiterapeutico . Por ·isso 6 pro-
cesso de interpreta~ao se faz geralmente - e de acorc]fl _com
( Quanta menos ele funciona de manelra · autOnoma, - me.:' as teorlas correntes da per~;uasao discnt.a --- de marieira a
nos autentlca sera a apreensiio das dadns de sua experjencia; faz_e r . _a creditar que esta;, explic a.;oes .. provem. nii.o tera-- do
(
.._.peuta mas do propri o individuo .
( Quanta menos aut~ntlca> 6 a. a.preeusio dos dados da ex-
periencil!, _meno§ adequado seri o comoortameuto - ja que
este se att1Qula spbre os dadps da exneri6ncia, particularmen-
te aane!es que se referem ao eu;
(1) A este respeito, lembremo-nos que pode haver verificat;:iio apenas em relar;:iio a coer{}ncia
das conc;lus15es,. nao, -gua11to ll sua valicjade. Po is, toda conclusii() desta esp~cie -~ formulad a ern
Quanto mais o indivfduo se sente ao abrigo de qualguer-
funcao de certas teorias, nao em funcao de crit~rios objetivos. Desta forma , os ade ptos de
(
ameaca, isto ~ •. ao abrlgo de qualquer jufzo alheio, mats ·. com.., Freud, Adler, Jung, Sullivan, Horney ou outros chegara'o respectivamente, a conclusoes igual-
I'
Pleta sera sua a.preensiio de sua f!XP!ri.§J?.Cl!. _(Jo , au; I
' '
. . ' .. mentii coerentes - aihda qu ' diferentes - ~ igualrnente inverific~veis do ponto de vista de sua
( validacte: i
· Quanto mais completa ea apreensao de sua experi6nci!l
(
67
( ~() l
I( Cer tas !ormr~s de compreensao de si impocm a atenc;;ao sobre elas,
A intem;ao que inspira esta pnitlca P., indubitavelmente,
I enquant:o que out.ras sao tao implicitas que patecem inexistentes. N~ sua
boa - e representa uma hornenagem, involuut::iria talvez, con-
1( forma na:,nral, de ccrto modo organica, o conhecimento de si esta intrin- ·
tudo real, as terapias que visarn essencialinente ao desenvol-
secamentl?. ligado a vida e e dificil distingui-lo dela. Mesmo quando e ad-
lc ) vitnento da autodcterrnina<;lio . No entantot a E'xceleucla da in-
tenc;ao nf\O poderia, nos parece, compensar a falta de auten- quirido por meio de um processo especial, tal como a psicoterapia do
ticidude do procedimento. Contudo, a utilizagao destes "anes- t.ipo rogeriano, esta compreensao de si quase nao comporta rclevo inte-
tcdcos", unida a coerencla perff•i.ta da imagem de si que n lect.nal . Ao contnirio, aqucla que resulta de leituras ou de terapi:ls in-
individuo acredita haver descobcrto, sf'o suficientes, em mui- . ter!)re.tativas toma geralmente uma forma articulada, verbal . .A.queles que
tos casos, para restabelecer o fw1cionamento. a possuem tendem geralmente a falar de si mesmos da maneira obje-
~( jetiva e desligada, como se fala dos objetos que lhe sao exteriores
,: ( I E inegavel que metodos diferentes, ate mesmo opostos aqueles pre- ou a maneira do especialista c na lingua gem deste.
:( . conizsrlos nesta obra, produzem resultados apreulaveis . Pod~m r~duzir a
~ augustia, abaixar a tensiio, eliminar conflitos, livrar o cliente de certos 0 leltor psicoterapeuta conhece, sem duvicl.a, o tipo de cliente que
( stntomas, e ate mesmo sustar o processo neur6tico. Contudo, o fato d3 marca suas narrativas com distinQoes entre "consciente", "subconsciente",
"reduzir", de "abaixar", de "eliminar", de "sustar", tern valor apenas com e "inconsciente", e comentarios tais como "Tudo lsto e provavelmente ape-
:JC re~ aos criterios negativos, patol6gicos. Dito de outra forma, estas nas racionalizac;;ao", "Estou ainda muito defensive", "Trata-se, evidente-
1( operac;Oes parecem despidas de valor intrinsecamente positivo. ~ du- mente, de urn fen6meno de compensaQiio", "Eu me pergWlto se sou para-
vtdoso que elas contribuam diretamente para o crescimento e a matu- n6ico ou megal6mano ou qualquer coisa deste genero", "Poderia pres-
"( . cindir disto ou daquilo, mas meu ego o exiF,C", "Meu superego me esma
ridade. Alem diSSO, 0 fato de que t1Staa OpeTagoes sao efetuadas por OU-
1( tro ageute que niio o interessado, 1\~duz seu "valor de treina.mento" ou ga", etc . :E quase impossivel deixar de duvidar que o 'individuo tiio preo-
do exercfcio. Urn processo em que cmda pa..c;so e deterrninado por ouLra cupado com noc;oes psicologicas possa, verdadeiramente, absorver-se nos
•; ( dados - as vezes muito humlldes - de sua experiencia viva imediata,
pessoa - ainda que fosse sob aparcndas contnirias - e muito pouco
suacettvel de condwnr ao comporta.mento autOnomo descritx> no capitulo XIII. que SUO OS uniCOS que contam.
~! (
Mas nao existem apenas estes riscos, de certa forma deficitarios. Isto nao significa que a compreensao explicita que certos indivi-
( Lembremos que, de uma parte, toda teoria depende de proposigoes pro- duos tern de si mesmos nao possa ser valida. 0 conhecimento de teorias
( vis6rias, hipotP.ticas e, por outro lado, que carecemos de uma noc;ao ob- psicodinamicas e de ~ua terminologia nao so opoe necessariamente a uma
jetiva do normal. Nestas condic;;oes, a intervenc;;ao ativa de out.ra pessoa compreensao adequada de st. No entant o. nao esquec;;amos que, em se
c - ainda. que seja classificada como especialista - corre o risco de trans- tratando de fertomenos vitals, as palavras est an, rnuitas vezes, Ionge de
c tamar as forc;;as do equilibrio psfquico natural . Assim, como certos agen- corresponder a realidade vivida. 0 que eles exprimm n e, freqiientemente,
tes qnimicos podem perturbar o equilibria fisiol6gico do organismo, as- urn produto retratado pe!o prisma de algumr, ter,r.ia. Isto porque a qua-
sim tambem a influeucia profunda dos pensamentos, dos sentimentos e lidade original da e;cperieneia verdadeiram<::nte s entid~. e por isso mes-
( dos valores de outra pessoa. pode afetar o equilibria natural das for~s mo si'gnificativa, traduz-se talvez mais adr; c:Wid amcnte por meio de pa-
( padqulcas. lavras simples, diretas .e ate mais ou m eno.-> prim!tivas, tais como "eu
amo", "eu nao amo", "estou triste", "tomo", "tenho vontade . . . ", e dcs-
( Em conseqiiencta de tudo isso e em conseqiiencia da filosofia auto- cri~;oessemelhantes que "aciercm" a experiencia tal qual e vivida .
rlt4ria - humanitaria, mas niio humanista - que sustenta estes m~to­ Por outro lado, o conhecimento da linguagem tecnica pode con-
(
dos, o terapeuta de orienta~ rogeriana niio pode aderir a utilizac;;ao deles. tribuir para uma melhor apreensao dr~ sl, ao facllitar uma expressao pro-
pric.mente diferenc:ie.da e rlca em nuancel' . No en tanto. minha experii!m-
( cia como terapeuta, junto do futuros ternpeutas, ist.o e, de individuos ver-
sados em psicologia. confirm<1, no conjunto, minha. impressiio de que os
I. OOMPREF.NSAO I.MPUCITA E COMPREENSAO EXPUCITA DE SI conhecimentos tecnicos tendem a r.onstituir urn obstaculo a apreenslio
( de si. 0 uso de uma term!nologia tfkn:ica tern a desvantagem de tender
0 problema da compreensiio psicodinA.mica se coloca, ainda, de urn a Ian~;ar uma especie de cortina verbal entre a experiencia e sua tomacla de
( outro modo. Trata-se, desta vez, da forma sob a qual esta compreensao consciencia. Alem disso, o !ndividuo !niciado na psicologia dinfun ica est:.i
~ manifesta no tndtviduo. constantemente inclinado a investigar sua cxperiencia com o fim de nel:l
(
(
( \
( achar os dados postulados par essa ou aquela teoria que lhe e familiar. Ele uma peca deste generq esteja em cartaz produz em mim uma
c tende a lmpor certas formas a sua experiencia em vez de permitir a esta especie de conflito . Por urn lado me sinto atraido pel a pro-
(
de emergir na sua qualidade -original . Enfim, o uso ci.e uma linguagem messa de sensac;:lio con tid a nos programas. Como voce sabe,
( academics na explorac;:ao de si, constitui geralmente urn desvio e, por isso, sin to uma atrac;:lio compulsiva por excitac;6es fortes . Suponho
torna mais demorados os progressos . Pode mesmo opor-se a todo pro- que. encontro nelas urn sucedaneo emocional de qualquer ne-
( gresso verdadeiro, o que se da quando as entrevistas se transformam em cessidade inconsciente . E, par outro lado, tenho medo de ce-
( exercicios de verborreia psicol6gica pura e simples. der a esta atrac;:lio . Sei, antecipadamente, que pegas deste ge-
nero, sao capazes de desencadear em m i.m urn potencial de
( Examinemos agora as caracteristicas da compreensao de si, tal co- angt1stia terrivel. Parecem agitar toda especie de semi-recor-
mo o rogeriano a concebe. Esta compreensao quase nao apresenta um da<;6es - sonhadas ou realizadas, nao sei muito bern - e elas
(
carat~r verbal pronunclado. Sobretudo no individuo que a possui em con- me deixam de alguma forma vazio ou esmagado por senti-
( sequencia de urn desenvolvimento realizado sob circunstancias favoraveis, mantas de . .. futilidade ou mesmo de culpabilidade. Pode-
esta compreensao e lnseparavel do comportamento . Nao e, pois, refleti- ria mesmo dizer, as vezes, que certos elementos da vida dos
(
da ou articulada . E um tipo de conhecimento essencialmente implicito, personagens, mesmo elementos que nlio apresentam analogia
( existindo na experiencia mais do que no assunto da experlencia. Aqueles alguma com minha hist6ria pessoal, organizam-se com resi-
que a possuem quase nao parecem se dar conta disso, e nao estao, par- duos de alguns de meus problemas passados e lhes dao uma
( tanto, tentados a fazer exlbi<;ao dela . E raro ouvi- los fazer o quadro de especie de realidade nova. Pergunto-me, as vezes, se o mal-
( sl mesmos ou a amilise explicita de algum fragmento de sua experiencia. estar que me invade ap6s espet:iculos desta natureza, nlio e
E em razao de tudo isto que sua compreensao de si e muitas vezes con- o resultado acumulado de impress6es criadas por estas pe-
(' siderada como superficial por aqueles que representam o problema como c;:as, pais vi tantas delas! Por outro lad6, seus temas nlio tern
( um processo de dissecac;:iio e de etlquetagem psicodinamica. Em resumo, geralmente quase nenhuma relac;:lio com minha historia pes-
este tlpo de compreensii.o de sl e mcnos urn conhecimento do que urn mo- soal, alias, bastante mon6tona . Mas sei que estou fazendo uma
( do de funcionamento, uma capacidade de interpretar a experHincia da rea.-
racionalizac;:lio . E. preciso admitir a existencia de urn fundo de
lidade viva, e de nela. fazer articular o comportamento de um modo eco~ angt1stia latente bastante forte para explicar o efeito que es-
( n6mico e, no conjunto, eficaz.
tas coisas produzem sabre mim . Por outro lado, sei muito
( Para ilustrar a diferenc;:a entre a forma vital, imediata, bern que esta angt1stia latente existe em mim. Enfim, nao
( e a forma intelectual, refletida, do conhecimento de si, veja~ sei. Talvez exagere, pais, os efeitos de tudo isto nlio me atra-
mos uma amostra de uma especie de "introspecc;:iio publica", palham realmente no meu ttabalho. Pelo menos e o que me
( que se encontra cada vez mais. parece. Mas nlio sei porque eles me dlio cada vez mais esse
( sentimento estranho de uma especie de desdobramento da per-
E tirada de uma conversa que tive recentemente com sonalidade . Por outro lado, penso que estas pec;:as me fazem
( d ois estudantes de ci«3ncias sociais, ambos - como todo es- · bern enquanto podem servir de experiencias cat:irticas . Mas,
tudante americana - mais ou menos familiarizados com a psi- evidentemente, e preciso que estes purgativos sejam tornados
(
cologia dinamica . Discutia-se a pec;:a de Eugene O'Neill: no momenta adequado, quando a conjuntura emocional o per-
( Long .Journey Int o the Night, que estava em cartaz e que pro-:- mite . Etc ., etc."
vocava uma certa celeuma nas revistas por causa do pessi-
( mismo extrema que nela se exp5e . Pei:gunt ei-lhes se haviam Esta analise, par banal, confusa e aborrecida que seja, nao deixa
( visto a pec;:a . Urn deles respondeu-:me: ." Este ge11ero _niio e de ter, provavelmente, urn certo realismo .;;, Pode mesmo ter uma validade
para mim", enquanto que o outro s~ . en~olvera numa introspec- bastante geral, aplicando-se numa certa niedida, a todos os apreciadores
( c;:ao alongada, que tentar~i de . certa forma reprociuzir: !'Nao, de espet:iculos deste genera. Nao e, alias, par causa de sua falta de rea-
( ainda nlio. No entanto; tinha-:me prometido, ja ha muito tem- lismo, que este tipo de rumimi.c;:6es e pouco propicio ao born funciona-
po, ir ve-la . Mas nao o conseguj ainda . Nao sei porquEL Ou mento . t: pelo efeito parasitario que elas devem exercer sabre a ativida-
( melhor, suponho que sei muito bern porque, mas nao me agra- de mental fecunda, suscetivel de conduzir a urna satisfac;:lio, mais real
da confessa-lo . Pais me serla necessaria reconhecer minha
e duradoura, de necessidades mais importantes .
ambivalencia com relac;:ao a este tipo de experHincia e, tam-
bern, minha vulnerabilidade . E curiosa, o . simples fato de que Parece que uma inclina<;ao introspectiva tao marcante, alimentada
l
(
(
( de conhecimentos e de uma terminologia tecnica, deve agir sabre o espf-
rito a maneira de uma esponja sabre uma tijela de agua - absorvendo
( ate a tlltima gota . Este tipo de analise pode, sem dtlvida, ter urn certo
( valor para o escritor, o psic6logo e outros profissionais, que o usam ten-
do em vista certos fins objetivos. Mas a amilise, ou antes, a auto-analise
( pela auto-analise, apresenta-se como uma variedade alga sadica do nar-
cisismo, ou como uma especle de hipocondria mental; uma concentrac;ao
( sobre sl tao intensa e consciente tern qualquer coisa de comparavel a
( atlvidade das visceras.
joi
( 'Sem dU.vida, "o homem ~tanto mals bomem
Mas conscientl .. ___ _.•., ·
( , --_)
( Retornando, por urn instante, a forma pratica, existencial, do conhe-
cimento de si, notemos que o capitulo XIII fomece, a respeito, uma des- ·Capitulo IV
( crlc;ao mais <ietalhada e mats aprofundada. Quauto as aproxlmac;Oes des-
te fenOmeno na vida cotidiana, podem ser encontradas em todos os meios
(
e em todos os nivels de educac;ao - ainda que, por toda parte, sejam
( raras. Todos n6s podemos, sem duvil::la, reconhecer entre nossas rela·
QOes, algumas pessoas desta espec1e. Passando-as em revista, per..
c cebe-se que se trata geralmente de, individuos que gozam de uma me- A ATMOSFERA
( dida pouco comum de seguranc;a e autonomia intemas. Isto nao signifi-
ca que sejam imunizados contra a angtistia. Mas, conhecendo suas ne-
( cessidades e seus limites, eles sao capazes de reconhecer sua angt1stia
aos prlmeiros sinais e, a partir dai, de tomar as disposic;6es necessarias ·§ I - Tecnicas oti atitudes?
(
a fim de conservar seu equilibria interno .
c Ate aqui tratamos apenas dos fatores intemos da reorientac;ao pes-
No entanto, qualquer que seja o conhecimento que urn individuo soal. A prioridade concedida desta forma as forc;as de cresclmento e de
( tern de si mesmo ·e qualquer que seja o modo pelo qual o adquire, parece recuperac;ao, explica-se, evidentemente, pelo carater especifico da terapia
( que ele deve, necessariamente, permanecer incompleto e provis6rio. Pais rogeriana, centrada nos recursos intern as do individuo . Quanta a posi-
o mimero, a natureza e a lnterac;ao· dos fat.o res que constituem a psicodi- (}iio secundaria que, por causa disto, cabe ao papel do profissional, ela
( namica e as condic;Oes externas que influenciam sua expressao, parecem reflete, por sua vez, a estrutura da colaborac;iio terapeutlca, tal como e aqui
( incalculaveis. Nestas condic;Oes, urn conhecimapto total e permanente da eP-tendida. Esta ordem de api'esentac;ao tern por firh recordar, uma vez mais,
personalidade e impraticavel. Pretender atingi-lo, e acreditar na sua pos- que nao e o profissional que opera: a mudanc;a terapeutica . A concepc;ao
( sibllidade, o que e uma Uusao atraente, mas nao deiXa de ser uma Uusao. da terapia ·como representando uma operac;ao, em certo sentido, ortope-
dica, realizada pelo terapeuta, e niio somente falsa, como se opoe a ati-
(
vac;ao das forc;as vi vas da reorienta<;ao.
(
Concentrando··Se assim sobre o cliente, niio subestimc mo~ . no en-
( tanto, a importancia de seu parceiro no dialogo repnrador qu(' c a psl-
cotcrapia por meio de entrevistas. Se e verdade qu P a sau,le <' o equi-
( libria pessoais sao essencialmente "self-made" (1) , e ir,ualment t• verda-
( deiro que nao se desenvolvem no vazio. Nao se deve tomar no pe da
tetra expressoes como "cura espontanea", ou "auto-recuperac;iio" ou mes-
(
(
( 11 I Em mglh no original. (N.T.l
( 7:3
72
c
no& catalogos academicos, titulos que prometem, por exemplo, urn exa-
~ mo "cresc1mento natural". Estas noc;Oes sign!fic~. simplesmente, que as me dos principios filos6ficos subjacentes as diversas abordagens terapeu-
( condic;15es destes fenOmenos nao siio · conhecldas ou nao foram apresen- ticas, ou do~ problemas sociais e morais colocados pela aplicac;ao, em
tadaR de modo · dellberado ou sistematico. uma escala cada vez malar, deste . novo tipo de tratamento.
(
( Mafs preocupado com o fator humano do que com o fator ~cnico,
A noc;io de ··condlc;ao" engloba geralmente coisas sensivelmerite di- o profissfonal de orientac;ao rogeriana entende as condic;oes de seu tra-
( ferentes, umas mais manlfestas do que as outras . Algumas delas sao maitr
.. balho em termos de atftudes ~ A atitude principal, aquela que rege todas
ou menos exteriores, claramente definlveis e por lsso, facilmente identi-
as -' outras, ' e a 'atttude de conslde~ posltlva incondfclonal. ~ pr6prio
flc!\veis . Outras t~m urn carater mais geral, mais difuso e intanglvel e,
por isso, correm o risco de serem mantidas no silenclo ou ignoradas. ,desta ·atitude · -~ alem do seu carater incondlcional - a sua autenticfda-
( de·;" Com· efeito, ' o - terspe1.1ta · deve, niio somente testemunhar tal atitude.
A distinc;iio baseada. no carater manifesto ou lmphcito das condi- como ' d~e ~te 8XJ*!rb:Oeaaa-la Para ser terapeutioamente fectin·
(
c;oes se encontra igualmente em psicoterapla . .Por urn lado, a terapia exi- f da; ' esta · atitude deve se ancorl!.l' profundamente no sistema de tend~ncia&
( .e ' necessidades ' do 1 profissioniu ·como pessoa . E apenas quando ela repre-
ge urn conjunto de disposlc;oes e de atividades que se prestam k obser-
. va980 e ·a gravac;iio e que podem facilmente ser adquiridas por meio de ; senta ··urna '' expressao ··de·' sua personalidade, mafs precisamente, sua con-
aprendizado. Esta categoria de condic;oes se deslgna, geralmente, com o cepc;iio ·do ' homem e . das rela<;5es hurnanas, que podera ser exercida de
( · nome de tecnlcas. A caracteristica essencial de urna tecnlca psicotera- urn modo dlreto, facU e re1ativamente constante, enfim. de uma maneira
1amplamente ·autOnoma.
-~utica reside. no fato de que seu uso ~ fundamentalmente independente
(
da personalldade daquele que dela se utiliza. Em outras palavras, ela nao
( requer nenhurn compromisso pessoal por parte · do profissional . A considerac;iio positiva lncondicional, como expressao ·de urn sen-
tfmento autentico, vivido, represents urn fen6meno inegavelmente novo
·( Por outro lado, as func;Oes do terapeuta apresentam certOs fatores no terreno das relac;oes humanas . Reconhe<;amof? que, em estado pirro, ela
( morals e hurnanos que coirespondem a noc;io de atltude . Esta se define e raramente encontrada - mesmo entre muito~ terapeutas que dela se
geralmente, como urna tend~ncia constante para perceber e reagir num vangloriam. Nao que se trate de urn ideal, no sentido de ser inacessfvel
( determinado sentido, ·par exemplo, no sentido da tolerA.ncia ou da tnto- por defini<;ii.o. Digamos antes que urna atitude como esta ocupa uma
lerfmcia, do respeito ou da crftica, da confianc;a ou da desconfianc;a, ete . posic;iio avanc;sda a frente da evoluc;ao psicoSISocial. Como poderemos ver
( nas paginas seguintes, e urna noc;iio excepcionalmente fecunda em rela-
Disto se segue que a atitude se enraiza na personalidade, e esta pode ser
( definlda como o conjunto das atltudes de urn dado indlvfduo. Contraria- Cio a melhora do comercd.o interpessoal, terapeutico ou nii.o.
mente as tecnicas, as atitudes nao siio· passivels de serem adotad~ a
( vontade e segundo as necessldades do momento . . A descri<;~o destas atitudes e urn primeiro esbo<;o de sua prati"ca
(esbo<;o que sera completado no Volume II) e o objeto do presente ca-
( pitulo e dos dois seguintes . Neste capitulo tratamos daquilo que se cha-
Em psicoterapia, como em outras llreas, as condic;Oes extemas, ~c­
( nlcas, foram as P.rimeiras a despertar a atenc;ii.o, enquanto 'q ue os aspec- ma comumente a atmosfera terapeutica, isto e, das caracteristicas gerais,
tos hurnanos de interac;ao foram muito mais lentos em revelar sua lm- dominantes, da situac;ii.o; o capitulo V trata de certos atributos requeri-
( dos por aquele que quer fazer-se interprete dos principios desta abor-
portancia . A hist6ria da psicoterapia, por curta que seja, revela multo
( claramente esta ordem de sucessiio. Originarlamente, a atenc;iio dos au- dagem, ou seja, do tera~uta; o capitulo VI, finalmente, trata das ca-
tares concentrava-se, com urna intensidade quase m6rbida, nas ~cnlcas racteristicas da rei~iio que se desenvolve quando estes princfpios sao pos-
( - as vezes bastante sensacionais - de explorac;ao e de interpretac;ao . tos em pratica.
( Atualmente o interesse se orienta cada vez mais para os fatores menos
mecanicos, menos espetaculares e menos "sabios" da interac;iio terapeuta- Deve-se acrescentar que esta divisiio corresponde as necessidf!,des
cliente. E o que se observa, pelo menos, na literatura profissional recente . . da exposic;ao e nii.o a realidade das condic;oes, que formam ·urn todo ln-
r-·· ·~ 1··
divisivel . Nas paginas que se seguem n6s pos esforc;aremos para niio per-
( der de vista a unidade exiStencial destas condic;oes . Por is to, a apresen-
Na pratica, por outro lado, a noc;ao de condic;iio se reduz airida ·m ul-
( to amplamente a de tecnlca . Ocorre o mesmo com os programas de for- tac;ao seguira urna especfe de trac;ado em espiral: nossa exposic;ao, pro-
macao . Neles, a atencao consagrada aos fatores especificamente burna- cedendo de urn a outro dos tres pianos anunciados, retomara, por diver-
( sas vezes, os mesmos eixos de pensamento. Desta maneira, esperamos
nos conserva-se minima . Os cursos sobre a maMria apresentam-se ge-
( ralmente sob tftulos reveladores tais como: "Metodos e Tecnicas", "La- conseguir a evoc:ac;ao de um quadl'o grBdativamente mais extenso e mais
borat6rios (e mesmo, Instrumentos!) Terapeuticos" . Procm;a-se em vii.o .
(
(
i (
( detalhado das condic;6es suscetiveis de despertar e de atualizar as for- difusa, isto e, 0 individuo e geralmente incapaz de ligar estas impressl.h•-;
( c;as Iatentes de crescimento. a fatos claramente observaveis, palavras ou outras formas de comporta-
mento do terapeuta. Sentindo-se incapaz de justificar estas impress6es,
( geralmente renuncia a discuti-las - ou mesmo a representa-las com cla-
( reza, em sua mente. l!: importante, pois, que o terapeuta exerc;a uma vi-
§ U .:. 'Caracteristicas essenciais · da atmosfera gilancia empatica •(1) delicada, a fim de descobrir os sinais eventuais dcs-
( ta dificuldade · da relac:;ao.
Em toda situac;ao vivida percebemos certas qualidades afetivas ou
( Por outro lado, a discussao destas primeiras impress6es ofen cP,
morals dificeis de se descrever sem recorrer ao vocabulario da percep-
( c;ao sensivel. Nao dizemos de nossas rela~oes com outra pessoa que elas . muitas vezes, um atalho em direc;ao a dinamica ou a problem ~i tka do
sao estreitas, calorosas, frias, carregadas, tensas . Da mesma forma, ser- cliente . Com efeito, estas impress6es explicam-se, em parte; por uma
( vimo-nos de palavras tais como "atmosfera", "clima", "calor", etc., para., sensibilidade que toea a vulnerabilidade, e que, muitas. vezes, se relacio-
( designar urna combinac;ao de elementos tenues e impalpaveis, mas pe- na com a problematica pesl?oal do cliente. Ao contrario, se estes sinais
1
netrantes e relativamente permanentes, que caracterizam a qualidade hu- - hesitac;6es, palavras evasivas, pausas numerosas - sao ignorados pelo
( mana da situac;ao terapeutica . terapeuta, o processo tende a encaminhar-se para urn rapido nialogro . \
( Notemos que estas- noc;6es sao menos vagas que gerais . Isto e, aln- IQuer se -trate do consult6rio do terapeuta ou de qualquer outrJt si-
da · que se refiram a realidades rnenos observave~s do que apreensiveis, tuac;ao interpessoal, uma atmosfera sera terapeutica apenas se for im-
(
estas noc;oes nao escapam a toda tentativa de descric;ao. Repudiar o seu ' pregnada de · seguran~a e· de calor; Setn estas qualidades pode-se, sem du- , ,?
( uso. sob pretexto de que elas tem colorido poetico - senao mfstico
wn vida, anallsar, explorar, informar, ensinar, condicionar, enftm, lnfluenciar ( ,(~-
- e renunciar a tentativa de descrever a terapia como urna realidade e, portanto, mudar o indivfduo. Mas, estes procedimentos ativos - ou 'fJ I
(
humana - imperfeitamente compreendida; sern duvida - mas atuante, melhor,• transitivos - nao poderiam produzir o genero de mudanc;a que !-.
( contudo : Por outro lado, os trabalhos de pesquisa em curso ja consegul- corresponde a ·noc;ao de crescimento . Pois, esta mudanc;a represents urn
ram estabelecer uma "cabec;a de ponte" sobre este territ6rio que se jul- processo de natureza orgftnica, em certo sentido, partindo de dentl•o e
( gava impalpavel. englobando o indivfduo na sua totalidade. Ora, e a movimentac;ao dests \ 1.. :
( processo - e nao qualquer modiflcac:;ao clrcunscrita, efetuada de fora, ~
· A importancia do fator "atmosfera" e notada principalmente ' no co- · suscetfvel de se limitar aos sintomas do conflito - que julgamos como
( mC9o da relac:;ao, quando o cliente esta preso a uma -. ang'listia ; as vezes -· o fim da terapia . '
aguda, que o torna hipersensivel. A tensao que o leva a procurar esta
(
forma de assistencia, a inquietude que experiments ·em ' relac:;ao aquilo
( I que ela exigira dele, seu amor pr6prlo posto a flor da pele pela necessi-
dade_deste recurso - sem falar da natureza de seu · problema ,_ provo-
( A - A SEGURANCA
ca. nele, uma especie de estado de aiarma:. Neste estado ele e, muitas ·
( vezes, capaz · de apreender os elementos sutis do .'comercio · interpessoal
com uma perspicacia espantosa - ~nda que . sua ang'listta o. Ieve, com Se o rogeriano coloca a seguran~;a no primeiro plano das condi~;Oes,
freqtiencia, a . exagerar sua importAncia. -· e porque ela represents o pensamento capital de toda reorganizac;ao psf-
( qulca. Lembremo-nos de que o conflito neur6tlco consiste numa oblite-
Minhas func;6es de supervisors de terapeutas,..estagiarios - func;oes racao progressiva de experiencias importantes que se relacionam :com 0
( que me colocam, as vezes, em contato com os clientes destes estaglarlos, eu . Esta obliterac:;ao resulta da percepc;ao, realista ou nao, de condit;Oes
deram-me, mals de uma vez, a ocasiao de constatar que estes clientes ha- de ameac:;a. H8 ameac;a quando a tendencia a conservac;;ao e ao enrique-
( Vlam observado ou adivinhado sem dificuldade, certas caracteristicas ln- cimento do eu e experimentada alem das capacidades de resistencla do
( trinsecas, alnda que quase nao manifestas, da personalidade de seu tera- indlvfauo. Quando esta obliterac;ao se torna habitual ou sistematica, ela
peuta _ () cli-ente parece, pO:r exemplo, particulannente apto a descobrir ' provoca urn estreitamento fatal do campo da percepc;ao _ Por isso, o caso
( em seu terapeuta a presenc:;a de preconceitos racials, . de sentlmentos de
( inseguranc:;a ou de lnferiorldade, do desejo de agradar ou de. dominar, etc :
( .. A percepc;ao, pelo cliente, de sentimentos deste. tipo e, no entanto,
I1) Para a definicao deste termo, ver p. 105 e p. 17.9-180.
( 76
(
(
( cY-
( do neur6tico e companivel ao do cego: no primeiro, e a percepQao que
e atingida; no segundo, a visao . Tanto urn como outro e incapaz de re- A seguranQa lntema, por outro lado, e urn estado psiquico propicio
( conhecer claramente as situaQoes com as quais esta envolvido e, por isso, a ' tranqUilldade emocional e a reorganizaQlio das atitudes . Esta seguran-
c. esta sujeito a dissabores que conduzem a outros dissabores, e assim por •c;a nio se reduz slmplesmente a urna conflanQa no terapeuta. Alnda que
diante. esta · confianc;a .s eja lgualmente necessaria, ela niio basta para estabele-
( cer · o bem-estar intemo de que aqui se trata. A capacidade do cllente
No caso do neur6tico, estes dissabores sao experimentados como der- em -superar o incOmodo e a vergonha que sente ao se revelar' a outra pes-
( rotas - isto e, como ameac.<as ao "eu" - as quais ele se esforc.<a por igno- fsoa e ·apenas uma manifestaQao particular do sentlmento de Ubertac;ao pro-
( rar. Umas ap6s outras, estas experMncias sufocadas ajuntam-se a massa duzldo 'por esta ·seguranQa - pois a testemunh& que ele mais teme nao
de experl~ncias interceptadas a · consci~ncia . Assim, o mal se torna uma tf''o terapeuta ' :....._ ·e o seu- pr6prio eu . A seguranQa interna nao suprime
( bola de neve e pode conduzlr ao bloqueio completo, isto e, ao desmoro- . e:mtamente'" a. ang1lstia que o cliente sante ao confrontar-se. Ela e antes,
namento psiquico . a·:forc;a "'necessaria·:para ·afronta-la, em urn combate - incerto, mas prome-
(
'~or.~ . r. .. .
c Como remediar este erro da percepQao que e o conflito neur6tlco?
Vejamos, agora, como se estabelece esta seguranc;a .
c Muito simples: pela inversao das condiQoes que sao a origem do
mal. A. experiencia de ameaQ.a excessiva, deve-se substituir a experiencla Sendo a seguranc;a interna urn sentimento .b astante raro, nao e fa-
c de seguranQa excepcional. Esta existe quando o cliente se sente ao abri- cil defini-lo e, ainda menos, descrever como ele se estabelece. Comece-
( go de qualquer dano a imagem que faz de sl mesmo, e quando sua ne- mos por urn esboQo de procedimentos que se opoem ao seu estabele-
cessidade de revalorizaQao pessoal obMm, de modo realista, a satisfaQao cimento . Ap6s haver eliminado estes procedirnentos, poderemos abordar
( necessaria ao born funcionamento . ReconheQamos, de inicio, que o re- a questao de maneira mais posltiva.
( medio proposto nao se presta a uma administraQao direta, como em uma
prescriQao medica. Com efeito, as condiQoes de que aqui tratamos con-
( sistem menos em fatos observaveis que na manelra pela qual estes fatos
1. ATITUDES TUTELARES
sao experimentados pelo individuo. Disto se · conclui, portanto, que nao
(
ha meio de criar uma situaQao garantida sem ameac.<as. Nao se podendo
( garantir nada, pode-se contudo, aflrmar que ha urn meio de estabelecer Os meios mais freqUentemente empregados para criar urn sentimento
uma atmosfera na qual a percepQao de ameaQa quase nao e suscetivel de de seguranQa consistem em tranqUilizar, reconfortar ou encorajar o
( clienta de forma direta, explicita. 0 recurso a estes procedimentos fa~is, ru-
se produzir e em que, caso isso aconteQa, ela e capaz de se corrigir, au-
tomaticamente, ou por meio de dlscussao. dimentares, e;· talvez, justificavel, quando se trata de crianQas pequenas
(
ou de adultos extremamente deficitarios na sua capacidade de "self-
( Antes de passarmos ao exame desta questao, eliminemos uma fon- help"' <t l . Excluidos estes casos, o emprego destes procedimentos repre-
( te de mal-entendidos, estabelecendo a distinc;ao entre seguran~a externa senta uma forma de patemalismo que e urn obstaculo ao crescimento e
e seguran~a intema. ao amadurecimento do individuo. Vale dizer que seu emprego e dlreta-
mente oposto aos fins da terapia, tal como e cortcebida aqui.
( ,... \·( "( A seguranc;a externa decorre do slgil~. profissional,- isto e, da dis- .
) ( ~ )l~riQiio do terapeuta . Ela protege o ciie~te contra as · crfticas," censuras ou : Sob uma forma mats ou menos disfarc;ada e, sem duvida, com as
/' repres~lias de terceiros e, por iss9, ~fer~~-lhe 'uma · Sei:\lranQB ~· de. melhores intenc;oes, esta tecnica se apltca correntemente, em psicoterapia .
·t- ordem social e, eventualmente, legal. Porem, · nAo e .isto que esta em . De fato, muitos profissionais parecem tudo tgnorar no que se refere a
questao aqui. A discriQao e uma exig~ncia too elementar ..da . t!tlca pro~ ' existencia ou a possibllidade de outros meios de colocar seu cliente a
fissional e de civilldade que nao nos qemor~emos em sua -discussao. : <t > · vontade e de atenuar sua angtistia. Seus procedimentos tomam, .geralmen-
( te, a forma de afirmaQ6es - aparentemente com fundamento, mas na rea-
( lidade, gratuitas - que tendem a reduzir o problema ou a mitlgar o em-
barac;o ou a vergonha do ellente . Como exemplo destM afirmaQoes cite-
( mos: "Todo mundo faz" (ou sente, ou sofre de) tal ou tal coisa de que
(1) Aqueles que st: interessam pelas disposl~lles relatives ao sigilo profissional existentes nos
Estados Unidos podem consulter o C6digo ~tlco estabelecido pela American Psychological
~iatlon (3}.
(
(1) Em Inglis no original. (N.T.I
( 78
~i
·~ (
',j ( o cliEmte se queixa ou -se acusa; "Nao ha nisso nada de grave" (ou de
II,, (
mal, ou de extraordinarlo>; "Tranqiiilize-se, voce leva ·a vida muito a se- que se sente lnfeliz porque nao consegue satisfazer certas ambic;oes per -
1[
'• rio"; "Acredite, estas coisas existern apenas -na sua iinaginac;ao"; "Mas, tu· feitamente irraciorlais, e o que se atormenta porque niio consegue domi-
( dQ isto e perfeitamente normal" e outros Iugares comWlS que, vindo da nar certos lmpulsos infantis, sofrem com atitudes muito diferentes . Tan-
bOcJl do ~speclalista, adquirem urn - tom profissiona1. lp uma e estern -~ impede o am~durecimento emocional, quanta a outra
;( parece ser o estimulante mesmo deste amadurecifV.ento. Eliminar a ati-
i
. Ora, por mais exatas que possam ser no fundo, estas afirmac;oes tude negatlva no segundo caso, e atacar a pr6pria fonte dd desenvolvi-
(
siio de ordem estatistfca, nao pstcologica. E ·certo, o problema expos to mento em direc;ao a rbaturidade. 0 tratamento podetia levar a paz ao
pelo 'cliente nao e, ks vezes; mais que uma variac;ii.o sobre urn tema multo lndividuo, mas a custa de seu progresso . ·
comu.m . · - ~. o que i!OPorta para a .terapia,e ,para ·o -cliente,' na.o :·a a fre-
qii~ncta de.· incid~ncia -.- ou, se· se ; prefer~, ·· a banalidad~ - - ,: do . tema.-· lC · '· Voltando a aflrmac;ao de que "todo mundo" experimenta (ou faz, ou so-
a - ~atureza da vari&Qiio .' Em Ol:ltl'IUI Pala~~)' ,4!;•.,~9ira; subjetiva-e ,Unl...: fre de) tal ou tal co1sa, e que "nao ha nissd nada de grave" (ou de mal,
ca do cliente sentir este tema ;' .. ou de extraordlnario), digamos que ela reflete essencialmente os val ores
do terapeuta ou os de sua ~ultur~ e de seu meio. Aiem di~so, d).llh ponto
0 profisslonal adepto destes procedimentos "anestesicos" - tern cui- de ;1vista terapeutlco, sao !rases vazias e fora de prop6sito . Pols, o indi-
dado, no entanto, de introduzir igualmente 0 &,ngulo psicol6glco, isto e, V:idUO; enquanto for capaz de pensar e de escolher - por pior que o far;a
subjetlvo . Com efeito, sua "absolvic;iio" acompanha"'Se. ·geralmerite, de al- · -1 nao tern que ser uma replica de urn modelo chamado "todo mundo"
guma explicac;iio que tende a demonstrar que . a causa do problema e a E~~ e.\ por ,definic;ao, urn ser linico, portador de identidade ~ de respon-
atitude do cllente e sua maneira de reagir diante de certos fatos de sua sabillqade. Por isso, e de seus valore;;, de seu ponto de referencia, que se
extst~ncia.
' ( ' trata, .e. niiq .de normas estatistlcas, ainda menos , das de urn outro indl-
viduo, cuja . autorldade enquanto jUiz e conselheiro . em materias supre-
( A mudanc;a de 6ptica do cliente, resultante das declarac;oes deste mamente humanas, sao certamep.te dlscutiveis.
g~nero, niio pode deixar de desorienta-lo . Mas, ao mesmo · tempo, estas .·,,
(
declarac;5es iendem a liga-lo ao terapeuta - este -ser que "sabe tudo .. ' Por outto ' lado, quem podera dizer se o indivfduo leva as coisas
( sobre os · problemas humanos e que, _evidentemente, "compreende tudo" .e "demasiado a'· serio"? 0 peso e o valor que atribui as suas experienclas e
( "perdoa tudo". Assim, os fins · e os interesses das duas partes se encon- urna func;ao de sua estrutura psfquica total atual. Querer mudar 0 sen-
tram reconciliados, e · a . continuac;ii.o da terapia esta assegurada. tldo e; a importil.ncia de certos elementos antes que a estrutura tenha
I ( tido. oi:asllio de ' desenvolver urn modus operandi mais flexivel e mais "aber-
·:E 'incontestavel . que 0 problema do cliente e urila questiio de ati- to", . i acrescentar 0 desequilibrio a tensao.
e
( ~udes. Podemos afirmar, sem medo de nos engana_ r, que, no campo emo- ·.J . ·•
clonal, tudo e uma questao de atitudes: felicidade e sofrimento, paz e con- '· ~ certo que o campo da percepc;ao, isto e, o mundo subjetivo do
Ilito,· pr~er e dor, ·padem reduzir-se a estados de, espirito - ate mesmo cliente e, com !f~qiiffil.cla, extremamente rigido, estreito e estranho . Nao
saude e enfermldade · (ao menos no que se refere a seus aspectos psiqui- esquec;amos no e11tanto de que, por estranho e deformado que .seja, este
C9S, aparentemente importantes) . Dizer que os conflitos emocionals sao mundo represents para ele a realidade, a +us\Uicac;ao de seu problema,
problemas de percepc;ao, e erriitir urn Iugar comum, nao urn comeritario de ·sua dor e de sua frustrar;ao . Dizer-lhe ou fazer com que entreveja
( proflssional sobre urn caso particular. · · quei sua "realidade" niio e "real", equivale a negar a exlstencla de ·seu pro-
( blema, de sua do.r· e, ' principalmente, de sua capacidade de julgar. ~ "pu-
0 que e menos exato nesta afirmac;ao e que, ao transportar o pro- xar o tapete de sob os pes" do cliente - com os efeitos, nao necessaria-
( blema do nivel ·"real" ou "objetivo", em que o cliente tende a situa-lo, mente espetaculares, mas sempre prejudiciais que daf resultam .
ao nivel perceptual ou subjetivo, onde, de fato, se situa, o profissional
( admite implicitamente que a atitude particular, que impede a felicidade Para qu~ a reorientac;ao de uma personalid:kle seja "asseptka" e du-
(
do cliente, deve, necessaria~ente, ser rriudada . Isto, alias, niio e somente radoura, e preclso que seja feita a partir da realidade subjetiva . Com
o que o terapeuta medio admite implicltamente, mas, tambem o que efeito, se o lndivfduo niio consegue funcionar adequadamente baseado nos
( ele, em geral, se propoe executar. Ora, na sua natureza e na sua func;iio, dados de sua propria experiencia, vivida, como poderia faze-lo b~eil.do
( a atitude-problema nao e necessariamente urn fenl>meno negativo. E cer- nurna traduc;ao destes dados em termos "normais", talvez, mas alheios
to que pode representar urn fa tor t6xico para o psiquismo. Mas aquila que sente? Pols e a isto que se reduz a interpretac;ao ou a corre-
( podc, igualmente, 'representar urn antidoto . Com efeito, o individuo r;ao da experiencia pelo especialista . 0 individuo que recebe uma ' inter-
pretac;ao, lsto e, uma versao revista e corrlgida de sua realidade, nao
( xo
( ~1
'(
l(
( adquire, por isso, a maneira de perceber de quem a transmite a ele. Con-
tinua a sentir em fum;ao de sua pr6pria sensibilidade, de suas convic-
( tempo de sabra para modificar segundo as exigencias da psicologia e
~oes, de suas necessidades, em resumo, de seu eu . Em verdade, este in-
do "bom-scnso". :E da propria substancia de sua personalidade que se
divfduo se confronta com a dupla tarefa de substituir uma versao alheia
( a realidade experimentada por ele e de fa.zer articular seu comportamen- trata, do sistema de stias necessidades .
( to sobre ~sta versao imposta. Setia, no minimo, temerario, esperar que Evidentemente, se a cliente revela-se capaz de adotar, autentica-
uma pessoa confusa e perturbada possa realizar com exito uma "bata- mente, nao apenas as conclusoes do terapeuta, mas tambem o ponto de
lha" deste genero.
vista deste, os resultados seriio mais positives. Esta alternativa pressu-
( poe, no entanto, que uma mudanc;;a significativa se tenha produzido na
Esclarec;;amos isto com urn exemplo . Tomemos o caso da mae
( cliente . Contudo, e apesar dos efeitos imediatos, benefices, e~ta mudan-
que se queixa de seu filho-problema, dizendo que ele tenta, por todos
c;;a nao representa necessariamente urn fenomeno de crescimento . Sem
os meios imagimiveis, aborrece-la, humilha-la, contraria.r seus pianos -
( duvida, pode corresponder a uma atitude mais aberta e mais flexivel em
acrescentando que ele faz isto tudo deliberadamente, enquanto ela,
por seu lado, faz tudo o que esta ao seu alcance para torna ·lo feliz . Su- relac;;ao as necessidades de ·outra pessoa, neste caso, as da crianc;;a . Po-
(
ponhamos que a descric;;ao do comportamento da crianc;;a seja, no con- rem, esta mudanc;;a pode representar, igualmente, a manifestac;;ao de uma
( junto, exata .. Suponhamos, inclusive, que outras fontes, por exemplo, os tendencia profunda a dependencia com relac;ao ao terapeuta - depen-
relat6rios da escola, confirmem claramente isso com e>;atidao . Suponha- dencia que predispoe o individuo a "ver pelos olhos" deste e ref1unciar
( ao uso de se'ij pr6prio julgamento .
mos, enfim, que do ponto de vista do contexto do caso, se evidencie que
a conduta da crianc;;a constitua uma defesa muito natural de urn orga-
De qualquer forma, a probabilidade de que uma explicac;;5.o "pron-
( nlsmo Sadio e vigoroso, orientado em direc;;ao a urna certa autonomia
ta", vinda de outra pessoa, possa resultar num ponto de vista autentica-
de expressao. A oposi~iio do menino parece dirigir-se, em particular, con-
( mente novo, e pequena. Pelo fato das rafzes desta nova 6ptica nao se
tra aquilo que a mae chama de "seus esfo~c;;os constantes para torna-lo
originarem na experiencia vivida da cliente, as diretivas que dela ema-
(
feliz" . No en tanto, a medida que o relata vai-se desenvolvendo, estes
esforc;;os revelam-se como uma especie de tirania benevolente mas, no nam sao !lOr d~mais superficiais para que possam opor-se eficazmente
( entanto real, por parte de uma pessoa cujq ponto de vista e rigidaments aos impulsos que acompanham as percepyoes.
adulto, e que e, por isso, incapaz de perceber as necessidades de uma.
( crianc;;a . Alem do mais, as interpretac;;oes deste genero - que procuram de-
monstrar a existencia de m6veis egocentricos ~;ob a capa de amor mater-
( nal - representam urna ameac;;a aguda a imagem do eu que faz de si,
Incidentalmente, este tipo de problema encontra-se, com. mais que provavelmente, uma pessoa conformista como esta cliente. A
(
freqiiencia, em setores da populac;ao que sobem rapidamente diminuic;;ao do eu que resulta disto arrisca-se, a partir dai, a introduzir
na escala social. Os pais querem que seu filho - pela exce- urn elemento sutilmente negativo em seu comportamento "positivo" em
lencia de seus modos, pelo refirramento de seu gosto, o nivel relacao a crianc;;a - e mesmo em relac;;ao ao seu terapeuta.
de su~ "performance" escolar e social, etc. - lhes sirva de
referenda . Ora, a crianga, :aendo urn ser imperfeito e incom- Por outro Iado, se Ihe e permitido formular suas pr6prias conclu-
pleto, e incapaz de representar 0 papel de jovem embaixa- soes, a cliente nao estara exposta a este subproduto nocivo de uma
dor . Daf, como todo organismo sadio, esforc;;ar-se em man- "boa" relac;;ao: a dependencia. Alem disso, e muito provavel que seu no-
ter seu status com. os priviiiJ,'glos que !he pS.recem inerantes vo comportamento venha a ter urn carater mais natural e, por isso, mais
a ele . eficaz, porque mais convincente .em relac;;ao a outra pessoa e, emocional-
( mente, menos oneroso para ela pr6pria.
( Em casos deste genero todo terapeuta percebe facilmente a dinft-
mica familiar que esta na base do problema . Sendo esta dinamica ele- Com efeito, se seus esforc;;os a fim de resolver seu problema t~m
( mentar, a maior parte dos profissionais julga compietamente natural ex- oportunidade de se desenvolver na ordem . que lhes e inerente ( cfr. v II).
plica-la a mae. Ora, esta explicac;;iio tern poucas probabilidades de pro- elee logo se dirigirao - conforme a investigac;;ao sabre a materia o tern
(
duzir frutos, mesmo na hip6tese, urn pouco otimista, de que a mae nao ~ ctemonstrado (ofr . capitulo XII) - para o exame ae suas necessidades, da
recuse, mas se esforce, ao contrario, por coloca-la em pratica . Pais nao maneira pela qual procura sa.t sfa.ziHas e da maneira pela qual sua neces·
se trata de uma situac;;iio objetiva, puramente externa, que a cliente tern. sidades afetam seu ambiente. Pouco a pouco, a necessidade de certas
mudanc;;as de atitudes e de comportamento val-se tornando evidente. No
82 quadro assim reorgani7!ado e autocorrigido, o comportamento da criari-
(
(
I (
:
i (
1: (
)., ~a aparece, necessariamente, sob uma luz muito diferente. Uma expli- que falamos, implica urpa especie de ratificagao deste nivcl. Em outra~
( cac;;lio bern pr6xima da indicada mais acima (ambigao social, rigidez) emer- palavras, . ela tende a propor o nivel da media como urn nivcl aclJilquado,
ge gradualmente no espfrito da cliente . Esta explicagao pode ter uma como a nornia. Sem duvida, esta conclusao nao e a que. se segue, · neces-
( apar~ncia mais fluid~, menos articulada, do que a que foi fornecida pelo sariamente~ · Ma..o:;, praticamente, podemos acreditar que muitos clien'tes se
especialista Mas se e menos articulada, e tambem, menos superficial. p.eixarao guiar por esta atraente implicagao. ~.
: (
A ·ex_t>llcac;;ao que nasce dos esforgos do interessado, e que tern rafzes no ·•
( seu pensamento e nos seus sentimentos, · e .verdadeiramente sua; ela faz Eviderit~mente, urn boin nt1mero de terapeutas dini que isto e, pre-
1
parte da "fibra ' de sua personalidade. Conseqiicntemente, as regras de cisamente, o~,que era . necessaria realizar para o individuo em conflito:
( a adaptac;;ao 4 ~ociedade em qile ele deve viver, isto e, o acordo entre seus
conduta que se depreendem de suas pr6prias -conclusoes, nao sao - ou
( sao menos - opostas aos impulsos provocados por suas percepg6es. Es- valores e os d.~ maioria dos ~mbros desta socledade . Po rem, outrps te-
tas duas fontes de seu comportamento tendem para a cqmpatibilidade e rapeutas tomarijo uma posic;;ao dlretamente contraria. Objetarao que isto
I ( seria reduzlr o· \ndividuo ao nfvel da mediocridade e entravar suas ten-
o r~forc;;o da conduta que ela se propoe a ado tar.
d~ncias para a aVOlU<;ii.O. I
( Enfim, a experi~ncia de solm;iio · autflnoma de urn problema parti- "
( cular atua como urn trampolim para as tentativas de soluc;;iio de outros Esta questao diz respeito a·os graves problemas de ordem social
problemas. Assim, a terapia aparece como uma aprendizagem - primei- que se colocam efu relagao a psicoterapia - problemas de que poucos
ramente no plano verbal e restrito da entrevista, a seguir no plano pra- membros desta profissao parecem se ~ar 'conta ou ' com eles se inquietar .
tico da vida real - de atitudes e habitos pr:opiclos a soluc;;ao de proble-
mas (problem-solving habits) Ora, estes habltos e o processo de sua
( aqutsic;;ao, representam urn passo importante para a maturidade.
3. CONVITE A DEPENDll:NCIA
(
( Apos ,a primeira impressao de "absolvic;;ao" e de alivio, impressii.o,
( sem duvida, .estimulante, o cliente nao pode escapar a uma conclusao
desconcertante ...... comprometido como esta em urn processo de. auto-
( 2 .. ESTANDARDIZACAO AO N1VEL DA MJ!!DIA • exame. Com efeito, durante meses, as vezes anos, viveu na certeza angustlante
( de que certos aspectos de sua personalidade eram ou diferentes, ou inferio-
res, ou "maus" ou ~anormais". Ora, eis que aprende "de fonte segura"
( Tentar estabelecer a seguranc;;a por meio da .. absolvic;;ao", comporta
que estava completamente eqtiivocado. Nao deve, pois, concluir, de. tudo
ainda outros riscos. Urn deles pode ser designado pela expressao: estan-
( dardizaQiio ao nivel da media. isso, que .nao :god_e confiar em s~u julgamento?
( Uma vez mais,-,certos terapeutas 'irao dizer que este e urn elemento
Reconhec;;amos que a ma10r parte dos clientes experimenta urn real - ainda que provis6tio, do fim a , realizar. 0 que importa, dirao eles,
( alfvio ante a notfcia de que sao "como todo mundo .., que niio sao mats ,e destrutr 'a falsa. confianc;;a que o cliente tern em si mesmo, antes qe
diferentes, mais fracos, mais culpados, em resurno, piores do que os ou- ,estabelecer uma nova, mais sadia e mais bern fundada.
( tros. Porem, e o efeito desta tecnica de "panos quentes" tao benefico ,
(
quanto agradavel? E favoravei ao crescimento e ao amadurecimento? .E Esta concepc;;ao nos parece conter urn duplo erro. Prinkiramente,
de natureza a lanc;;ar o lndividuo no camlnho de sua atualizacao? o fato de que o indivfduo se engane, mesmo freqiientemente, mesmo se-
( riamente, niio significa que sua capacidade de julgamento nii.o seja,
Poderia ser respondido que, do ponto de vista do cliente, o fato fundamentalmente, digna de confianga . 0 fato de ter-se mostrado capaz
·. de ver-se classificado ao nivel da media, representa urn estimulo posi- de reeonhecer sua necessidade de assist~ncia psiquica, unido ao fato de
'uvo a sua auto-estima, ja que, evidentemente, o bidivfduo se classificava que efetuou as diversas diligencias que o conduziram ao consl,llt6rio do
bern aquem deste nfvel. Ora, ~como a auto-estima e uma condigao do terapeuta, constituem provas tangfveis de uma capacidade apreciavel de
crescimento pessoal, todo o aurneQto desta condl<.;ao favorece o crescimento. julgamento autonomo. Uma das razoes pela qual se engana freqiiente-
I'\ mente reside, e bern provavel, na falta de confianga que tern em sl mes-
Este raciocfnio e correto ate urn cert6 ponto. Infelizmente, o tipo
mo. A confirmac;;ao profissional - ainda que implicita - de sua suposta
de "promoc;;ao" ao nivel da media, que de~orre de declarac;;oes como a
falta de capacidade de julgar, nao e de natureza a substituir esta con-
84 n.-
.lk'di i
l!r
:!
i1C
4. ABERTURA A EXPERI.f!:NCIA
II!( .. flan~a . Ao contrario, esta afirmac;:ao pode, apenas, faze-lo mais depen-
11 ( dcnte em face de terceiros, em particular, de "especialistas" . A glorifi- A seguranc;:a propriamente terapeutlca e de uma ordem completa-
1
cac;:ao deste estado de dependencia pelo nome de "transferencia" nao al- mente diferente destas manobras de alivio . Primeiramente, seu objeto e
I,
tera em nada o carater prejudicial do fato
mais amplo . Esta seguranc;:a nao se limita ao material carregado emoclo-
li
I~ nalmente - deficiencias pessoais, ac;:oes e omiss6es reprovadas . Este ma-
• Quanta a necessipade~"de ·destruir 'antes ·de "construir'' e/ 'e vidente- terial ocupa, sem duvida, o primeiro p lano da consciencia do cllente e
i
1( ' rnente, apenas uma analogia; Contudo, seria arriscado deixar.:.se· inspirar tde-~'
j
nos da conta de seu inal-estar. Para ser fecunda, a seguranc;:a deve es-
,. masiado por ela. Pols, se da com ·a 'autoconfianc;:a' o 'mesma ··que com' a 'con•>
:( !ianc;a nos outros: uma vez ' abalada, e bern dificil •restabelece-Ia} tender-se a sua experiencia total, !~g__ ~'- ~-!od~~~J?_~ri~ncia potencialmen-
te disponivel a cada passo do processo . :E, alias, grac;:as a esta seguran-
' (
o vicin fundamental de raciocfnios deste genero, provem do fato c;a, e somente a ela, que ·e ste potencial pode se atualizar . :E ela que per-
de que siio tl:~ _..,:; ..to mundo dos objetos - entidades compostas de par- mite aos elementos de experiencias reprimidas, ou simplesmente negli-
tes distintas . Ora, no campo experlencial niio ha partes independentes . genciadas, emergir no campo da consciencla e mudar sua configurac;:ao .
Tudo se funde, tudo e modificac;iio reciprocn . Assim, o conflito psiquico, Mais que urn sentimento, e urn modo de funcionamento que permite ao
contrariamente a nossa maneira de pensar - ou, pelo menos, de falar - indivfduo confrontar os segmentos penosos de sua experiencia, mas tam-
nao se relaciona com um aspecto determinado do funcionamento : timi- hem, e principalmente, estar aberto a sua experiencla, qualquer que seja ela.
dez, irrltabilidade, impulsividade, desordens sexuais, depressiio, tendencia
( ao suicfdio, etc . Os sintomas tern, certamente, um carater especffico - Outra maneira de evocar a natureza deste sentimento consiste em
isto necessariamente, ja que . se traduzem atraves do comportamento . Mas, descreve-lo como uma combinac;:iio qtima de vlgilancia e de relaxamen-
( to mental ou ainda, como um equilibria particularmente produtivo en·
quanto a desordem, ela se estende a tudo 0 ser, ao seu modo de perce-
( ber, ao sistema de suas necessidades, em suma, a sua personalidade . "Des- tre a tensao e o relaxamento psiquico . Em tal est:1do de espirito, o in-
truir antes de reconstrulr", · ~orna-se aqui, · "matar antes • de nascer" dividuo e capaz de adotar em face de si mesmo uma atitude de certa
( ~a objetiva, isto e, despojada desta lntensidade de emoc;:iio ou d(WJ
Conclt.i-se, do que ficou dito, que certos procedimentos, visando es- -~ que constitui obstaculo a uma tomada de consciencia Iucida e realista.
tabelecer a seguranc;:a iilterna podem, de fato, chegar a despojar o cllen-
te de aptldiio mesma para a seguranc;:a e para a confianc;:a em si . 0 fa to Do ponto de vista do comportamento, a seguranc;:a terapeutica se
de que estes procedimeritos allviem a angtistia niio os justifica, pois nao revela pela maneira espontanea, nao-seletiva, pela qual o cliente proce-
( ha proporc;:ao entre o bern que representa a confianc;:a na capacidade pes- de na exploracao de sua experiencia. Em_.put!:.f:.S .P~~_a:'{I~...!!!.~!ra-se dg>_:_
( soal de julgamento e o que decorre de urn decrescimo da angtistia . 0 posto e capai de empenhar-se em qualgu~r. .. .ell1.Rf!il§~. _§.em .. nr.e.ctsar __de
primeiro e consideravelmente mais precioso do que o segundo . Alem dis- ~~~~~r-~_r__P~.Y~!'-!!!e~~-A~ - Q,l.!e _ ela ..P.a~ __ of~r_ece _ _r.isco~ . .Esta abertura
( so, niio esquec;amos de que a angtistia e uma fonte de protec;:ao tanto 8' experiencia e importante para a operac;:iio de inventario que e, em certo
( quanta uma causa de tormento . Quando nos esforc;amos para abaixar o sentido, a psicoterapia - pelo menos aquela . que busca uma\ certa reor-
seu nivel, e importante que nao a . extirpemos . Ora, is to e 0 que OS me- ganizac;:iio da personalid!l;de (nao necessariamente aquela que tenta re-
( todos "ativos", intervencionistas, arrlscam-se a fazer . mediar qm1lquer dificuldade passageira). Com efeito, uma concentrac;:ao
praticamente exclusiva SObre OS aspectos /negatlVOS da..- experiflncfi'" pode
As implicac;:oes perturbadoras deste modo inabil de dar seguran~a r~presentar uma forma singular de defesa, uma maneira de evj.tar o cer-
nao deixam, evidentemente, de repercutir sobre o sensa de responsabi"- ne do problem_a._ Por exemplo, uma categoria de problemas muito difun-
lidade do cliente . Sentindo-se incapaz de julgar, ele tende a abdioar a didos, diz respeito as relac;:6es do individuo com seus superiores . Ora,
todo esforc;o de pensamento e de ac;:~o que nao oonduza a satisfac;:iio de verifica-se, freqiientemente, que a origem deste genero de problemas re-
suas necessidades imedlatas . Mas estas, sendo amplamente determinadas sirie - niio em qualquer conflito remoto com o pai, como pretende a
pelos automatismos biol6gicos e as pressoes sociais, fazem intervir ape- interpretac;ao standard - mas nwna con~ao poT demais idealista
nas em urna estreita margem de escolha, geralmente sem significac;:ao aa autoridade, da justic;:a e dos deveres do mais forte . (Notemos que uma
Em outras palavras, o individuo vive cada vez menos como urn ser ca- tal atitude, longe 'de ter- se orlginado de urn conflito, pode enraizar-se
paz de julgar e de escolher e, dai, capaz - seniio de arquitetar seu des- numa relac;iio excepcional.mente boa cOm o pai . ) Uma explorac;:iio do eu.
tina a sua maneira - de dar a sua existencia uma forma urn pouco pes-
soal. guinda unicamente por hip6teses negativas - que fazem intervir senti-
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87
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II (
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mentos de hostilidade, de inveja, de inferioridade - arrisc;t-se a falsear no cliente a seguranr;a e o sentido da competencia pessoal. Antes de tail~.
as conclusoes . • A validade das conclusoes depende, muito . afnplamente, da 9. -~rapeuta __pr_®Jira_cbntunfcat a pessoa que . sQUclb_J!!WL.3S~J.tr:a~--qal!
i( atitude de abandono e de abertura que o cliente traz a explora«;iio de _ela p~-~--~~-c~~~_,_ q1Je_..!__~p~z de rec()nh~! a origem de suas difical-
sua experiencia. 1 · 4~~- e e_~es_m..L.~P~---c.I!L~~!ye-~ por _seus _p~6prios liiciOS. -Dest,
I MOdO:,_ 0 '
terapeuta; 8&5egura tambem SUa fe em que 0 cllente 00 -~rvii
e£e¥vamenti'7de""seus ·· r~ ~ -, · · -- -- ·· --- -- -----
/(
5 . COMO ESTABE~R A SEGURAN{:A INTERNA? - Salientemos que,, nisto · tudo, trata-se de comunic~ao - nio de in-
~ fonn~ao. Em ·· outras ~aV!~.__Q ...!~!?-.Pil!!.t.LtOO>.!'.~~.?- tudo isto t»or sua
;maneira ' de agir, ' nao por palavras 'e !rases. Informar o cUente sobre o
(
Digamos, inicialmente, que uma resposta completa a esta questiio· r ~ue 'lhe ; e-~erliiilldOesobre 0 que ' se espera iieie;-·em '.Si.iiiji,":" S:Ol:)i88s
niio - esta contlda, nem nesta se«;iio, nem em qualqtJer outra. ~!'!«;iio parti- . ~ . reg~s - •do logo", 6 dlflc\lltar mats ·que taclHiar a- maraii a;; seus pro:.
( lar deste livro . Pois a seguran2a interna nao e- o proauto;_Ae_,_~ - ,gre-ssos :a· caiilieciriieiitos~--aeste- i~nero "podertairi -somenunmo~:ro:-ms-
~'l.;,--~ - - ~·-
- - ·· ..... . .
(
t¢'Cnica limitada. Ela resulta de certas atttudes, de certo es:Dfri~e·
;o terapeuta poe em prat~ Ora, para se compreender bern urn certo ·1trai-lo " e"' mesmo · des~·:l~.J!~!'~!'l~~~P.~-~~- -~e!'.!LP.~.!.:._9_J~.!~.~~
'flU~ · sa~ eni'"'que constste () fenOmeno do crescimento ~onfia . ~
( espirito, niio e preciso, de certa forma, participar dele? Assim, somente
d!~~los ·_v_~ilS--p:or sere!!t]iemiSlaao1iiciis~-~r a---wna-~ssoa:·
. em eon..
a medida que o Ieitor penetrar no pensamento que fund'amenta esta te- flito que eia e·capaz -de re8o1ver probiemiiS -OOrii os Q.uiis se· aet:iiteii m.-,
( r.~pia - e se delxar penetrar por ele --r- e que se dar~ conta da maneira
pela qual este sentimento de bem-estar mental~ emoclonal se estabelece. .tJIDt~_1Jlrij;erijpo ·u ..!~::~ml¥~:)~n~o _s~rvirUi -~pe~ .P.~~ ~o~:::Ja;
( " . desenP,qraJa-la e aW me,mo. par~L9!~~g~~ - '
- ' ,f ;
( Lembremo-nos de que a seguran<;a interna, condi<;iio primordial do
progresso terapeutico, :.CO.nsiste ~em ..JJma... d.i.w..i.n:ulciig do niyel· de angt1stia . ~as. poderfa se ,p erguntar, como pbde o cllente ter tpna · D01,;3o
( Pelo fa to de se tr_atar de, angUstfa. de urn estado Wll!I$_Q. e niio de medo r clara e util daquilo que e sua tarefa se 0 terapeuta nii.q 0 infonna a res-
- que e uma rea«;iio a uma sittia<;iio ou a urn objeto bflm definido - peito deia?
( ,.
.
esta diminuic;iio nlio pode se produzir por urn esfor«;o de · vontade. Pelo
( menos, nao poderia resultar de maneira direta. Com efeito, a anglistia A 'este respelto, nao · percamos de vista que, para ser tera~ca.
niio e uma emo<;iio especifica; e urn estado generalizado gue penetra todo a tarefa do cliente deve repre:sent!J.r 1~ma ativ.idade._lin:e_. Deve ser uma
( tomada de consciencia aut6noma - · ver.bal ou n!io-verbal - de 8spectos
~- organ!smq . !1QU~§ aspectos tanto fisi.QJ.Qg!cg~_-:::::._t.ensao muscular clr-
nao confessado~i; · do eu, "ignorado:!!" em conseqtiencta de uma falta de li-
( ~_2~_,_~~c~:?-o e~d6cr~tt~ - guanto.-..llQLf;l~etie.nciajs ·-·-r0s.._efeitos ..psi-
_cosso~~ico~:.. .9':1.~ co_Il}_J:>i~!ll:ll._ ?:· ~a!-:estar :p_~ic;ol6~co. __ CO!ll __:_!l. gis_ftm<;iiQ..Jt berd8{le experiencial . Ora, se o terapeuta propr;>rciona, verdadelrameote,
l!iol6gica, demonstram claramente o carater difuso do mecantsmo da .J~.p- a ocasi~o ap cliente, este desempenhara esta tarefa de maneira conti-
_g_ll~llrecorrendo-auriia-anaiogia; ·iu11pou~o-terra-a-terra, POSfe-se di- nua (ainda que numa medida V.¥ilivel de supesso) - e isto, quer ele o:
zer que os efeitos- do medo sao -comparaveis a urn espinho no pe; os da queira ou nao, e mesmo quando se mantem em silencio . Pois o sili!ncio
ap.glistia, a uma infec<;lio . Urn _pode ser estirpado, enquantd que o outro nao significa ausencia de comportamento. 0 sil~ncio ~. fregii~!l~te.
requer urn certo saneamento geral) . '" ~. L~JX?.rta~~~~--!I_!~t_?.___!~~!.~J.~dor!-. ~~ ~ue !!l__!i_~_tfcu!ad~~-val~!._~­
ticular de !e!'l6menos nao-ve11bais, tais como as pausas, ~ que eles repre-
Como a anglistia, a seguran<;a ' de que aqui se trata i''e urn estado ~entam _l.· n~~descnQ'a<>oii-iliria"liiterpretii;ao-da eXj)eH~-eom
generalizado ou difuso, que escapa a influencia direta. Desenvolve-se de virictir~Ji=esJ;~--mP<!os· -mr:_ttmlada
~Q.PJlitiiiildiidei~.:ei"icL.Q.ue.: .Se __
'maneira imperceptive!, de certa forma par cont!iglo . Pelo fato de se es- ~~ _ £~~S~ · _:m!!~, .-'l}lA~_J.m.~;rs~__Q!~eyL.!U~J!~.ntL~nda_qqe__JIDl-
tender a todo o organfsmo, em seus aspectos afetivos tanto quanta cog- .. b~gJia
~D.Q __Quxo __ da experj~ncfa .
( nitivos, P.O.de.::.se dizer QUfLfl:i1a.~r~~-enta uma resoosta 3 ~­
,1 ~~o __te':"~P-~t1ta lJ!~is_ do __ qu!'l__uma reacao a sua atividade. Qom efeit.P,
Quanto a maneira concreta pela qual o terapeuta efetua essa co-
\ ·o terf!E~.t~...!Qgeriano niio sendo "~tivo", no _§_eptido de que ele nao toma murlica<;iio nao-verbal das "regras do jogo", nao poderia ser plenamente
/ J!_igiciativ!!.._!!g_Q_Jp.~l@.. e nao ~ - gua§e nan provoca rear;;fies n 'o descrita neste primeiro volume . Contudo, esperamos que ela transpal'ef,;a
\.. s~~~id~:t.J.!~t1y1d~¥i~Ldes.en.c.adeadas__d • suficientemente ao Iongo dos capftulos que tratam das condi<;oes e que
ela seja suficientemente ilustrada ·no Volume II, "para que o leitor possa
Ja que o terapeuta e o objeto do capitulo seguinte, nos Iilnitare- formar uma ldeia a seu respeito, incompleta, sem duvlda, mas, no en-
mos ·~qui a destacar entre suas fun26es aquelas que tendem produzir tanto, util.
~ .. - ..iiiliiiiiiWI
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II!~~~ •do •as conclusl5es que parecem impor-se. l!: abster-se - nos limites da
!J ( 8 . . ESTIMUIAR A ATIVIDADE DE. AUTOD~(!&O
( consemcao ·da estrutura - de chamar ~tencao do cliente sobre as va-
'i riacoes, lacunas, repeti<;oos e outras singularidades, que marcam seu re-
( o que import ., prjncipalmente . no comeco, Ǥ p6r em prati<:a as lato e. que, em qualqtier outra circunstancia, lhe valeriam comentarios ou
energias da atividadto autOnoma do cliente - por fracas que sejam e~ta.S
criticas." ;l!: por, meiOo de atitudes deste' genero que 0 terapeuta comunlca
energfas nesse momento preciso . Se ele pode ser levado a falar por
vontade pr6pria, de temas que ele mesmo escolhe, e de8envolve a me- 80 cllente . sem lnstrui~lo a respeito, que a dlrecii.o da con versa esta etn
suas· ·maos; 'que sao suas fdtHas, su&S escolhas, suas dec~oes que impor-
dida que 0 deseja, .e unicamente nesta medida,. 0 <:liente encont:rara nisso
t tam, que 0 ter&PElUta e Apenas · um assistente - um aSSiStente compettm-
·uma satisfa<;ao que e partfcularmente titil para seu restabelecimento . Pois,
r · te,' sem duvida, que tern Uni papel e pterrogatiVaS bern de~ri:nfnadas, mas,
a . satisfacao e um fator primordial do bom funcionamento ou, se pre- ' l]-)l888r de tudo, um assfstente. . · · ·· · · ·
'· ferem, da satide mental. Nao qualquer tipo de satisfacao, · evidentemente.
Nao a. ~atisfacao que o neur6tico experiments, por exemplo. em subme-
· Esbo~ada desta manelra tudfmeritar, a adaptac;ao ao passo do clien-
ier-se P outras ·'p essoas ou que elas se submetrun a· ele - o que ele ten-
te pode parecer multo simples .· Na realidade, e dificll coloca-la em pra-
'• ta··por em prattca mesmo na sua relac;So com o terapeuta. ~·~~!&~8<18G1,. tica de maneira convincente e continua. Esta dificuldade e particular-
sadla~-· teta})l!utica,' · ~ aquela que decorre' de tod~;a:'atividade''9.ue::"admi~ mente grande para 0 indi.vfduo de. formac;ao academica, inteligente, ali vo
~!~rmedida~:; adequacla":det~lha~· 1iecisio;:~ e · fie,~;(;;PJnptpqj!~J ~Jt~ e independente, em suma, fnclinado a tomar as redeas de; todo cm nreclt-
dimento ao qual se asso<:la intimamente:
0 alto valor terapeutlco da · satisfacao assim obticta reside no fato de
que ela e lnerente a atJvfdade . Como niio e proveniente d~ causas externas. Contudo, nao e ·tanto o aspecto aparentemente passivo que torna
nao corre o risco de acarretar a dependencfa ou o luibito. Este tipo de este papel pouc0 atraente. 0 obstaculo principal e a dinamica pessoal
satfsfacao protege o individuo contra os conflitos e frustracoes que de-
do terapeuta. Com efetto, o papel do profissional centrado sobre o clien-
correm do conflito psiquicr- conheeido pelo nome de ·"eeteronomia ex- te se reveste, p~lo menos exteriormente, de um carater de subordinac;ao,
periencial" que se re!ere a um comportamento ou ritmo estrltamente com-
e ate mesmo, de submissao. Mas, na realidade, Pelo fa to de que e ace ito
plementar (que consiste em !alar poueo quando o cliente fala muito e
racional e livremente, este papeJ nada tern de uma submissao. Po rem,
vice-versa) O> ou ldentico (aprofundar ou ser superficial quando ·o clien-
na situa<;iio- concreta, o terapeuta nem sempre tern consci ~ncia, de ma-
te a profunda ou e superficial em sua dinamica) . Trata-se de um com-
nefra suficiente, deste fato e, portanto, nao consegue veneer facilmenta
portamento menos mecanico e mats perceptive. Para fazer com que seja
as resistencias que experimenta, como representarite de uma profissao
adequadamente compreendido, serta necessaria citar uma variedade de
liberal, cllante de um papel aparentemente subordinado . Enfim, o fa to
·e xemplos acompilnhados de comentarios detalhados - o que ultrapassa-
de que ~e trata de "subordinar-se" a uma pessoa que, sem lhe ser neces-
.r fa os limites desta obra. · Esclar~amos, no entanto, por &lgumas indi-
sariamente inferior, funciona, no entanto, num nivel inferior, pelo me-
cacoes que o leitor podera verificar no material verbatim reJacionado QO
VolUme II . . ' • nos temporariamente,, nii.o e de natureza· a facilitar as coisas .
Sera necessaria acrescentar que o aspecto, em certo septldo, "abs-
Colocar-se ho mesmo passo do cliente Ǥ fazer com que este com- tencionista", que parece depreender-se desta parte do papel ',do terapeuta,
preenda - pela flexibilidade do acompanhamento que lhe e oferecido -;- nao · basta para despertar a iniciativa do cliente . ·.E preoiso, ainda, que
que qualquer que seja o carater de sua eJocu<;ao, lento ou rapido, con~ ~ atividade verbal e nao-verbal comunique de modo positivo, ainda que
cehtrado ou superficial, este sera respei tado . l!: conceder;..lhe o direito de lndireto, o espirito que anima os esfor<;os do terapeuta.
mudar de ritmo sem razao aparente e sem que tenha se justificar .
que
.t: permttir-lhe - . sem tomar esta perrnissao explicfta ...-. lnterromper
( seu relato; fazer pausas, mesmo longas; mudar de assunto sem ter tira-
7. FACILITAR A EMERG:f!:NCIA DOS RECURSOS
A angtistla do cliente pode vir de !onga data . e pode exercer . sobre
(
(1) Como seria, sem duvida, de se esperar, a atividacle verbal do terapeuta rogeriano I! geral- ele uma tal impressao que o torna incapnz u~ • ~ onhecer uma atmosfera
( mente reduzida. Notemos a este respeito que, de acordo com um trabalho de. pesquisa, o pro- de seguranc;a, ,;mesnio quando esta imerso ne1a . Por isto, a cria<;;ao de
gresso
do e o valor dos resultados teral)t!uticos revelam-se em proporcfo inversa 4 atividade verbal
profissinnal. condic;oes d~ seguranc;a verdadeira, sentida pelo cliente, e. um dos as-
pectos mais diffcefs da tarP.fa do terapeuta . .E aqui que se tern. oc~
90
91
l
(
(
c
-,..,~ 0 caso 'do Sr. Lin '(120), ctiJa Prlm~ra entrev!•ta - corn RogerS
de COD8&atar que import&lcia . daquilo que 6
a 0 terapeuta, ultrapassa de
multo a lmportlncia ·do que ele faz. · ·
8 ~omo terapeuta - fo) integralmente filmada e gravada em discos LP,
( . ~mece urn exemplo de franqueza """"" temenlrta de que o cllente po-
Pelo fato de que a angustla 6, fundarilentalmente, uma forc;a de dar mostta quando se trata de material consclente . Por outro lado,
8 Q::::?e
( · • mesmo cliente evita manife~tamente, tocar nos aspectos dinA.micos
ptot;ei,;lo · tanto quan\o dt\ destrui~ao. pode 8gir como urna arma de .dots
( game$, e.· por lsto, exercer tun efeito paralizante. '(J ' cliente ' tem"medo 'dec:' seu ·caso . Ap6s ter indic~ ., iUi.tureza de seu problema, ,Passa prati-
mpdar e tem igualmente, medo'de . p6rmanecer ..~mo ; esta'.' .0 . tre<lho se- o resto do tempi)• replsando_ o mesmo assunto. (t)
-.unen~ ·
c ~. Urado das notas. p63-tera~uttcas de urn cliente de Rogers, ofe-
( ftiCB' ~ exem.plo multo claro deste co~to: . . este respelto, 6' ntbital$ vezes interessante escutar os comentarios
I .
i
~ltidos pelos espectadores - terapeutas de ' fi:tac;ao diversa - aos quais
( genero de f'tlme "& apreseotado em ~ssos, aulas, semanas de
"Lembro-m$ de uma . forte tensio emoclonal, na seguno~
e ocasiOes slmllares . Muitos destes espectadores ·criticam o tera-
~~:t.udo
( da entrevilta, q\iando, pela primeira vez, mencionel m1nha ho- 1
mossexualidade. Recordo de que me sentia atraid()· para reglOes porque "ele deixa escapar tada ocasiao .de tomar manifesta a di-
( d~ experi6ncla o~e nio desejava lr, .qpe nao'' hav~ explorado
· - -~ca do cliente... <2>
antertormente, e .o nde. no entanto, erii. ,'n8oesSar:to' ·que eu pe-
l • j 1 1 It ' I ,, \ (
netrasae . . . Ji antes · de com~ ~ terapla,' .t lnha medo Com efeito, durante os cinqiienta minutos do diiUogo, nio falta-
( de ter que tocar neste assuntO, e med.O;, tam6em; 'd e nio ou- ocasioes como esta8. Contudo, aproveitar-se delas serta, para Ro-
sar farA-lo ..... (87, p'. 72). .:.:·· · . , ' ·, ' ._P.rs, nib uma reve~, mas, uma vtola~io da dlnAmlca do 'clleote. Pa-
( . -ele, a terapta nao representa, acima de tudo, trazer k luz elementos
( ou presumldos .- da experjencia inconscient-e do cliente. :lt uma
fxeste exemplo nao se trata de material inconsciente. 0 que assus-
( ta , o cllente 6
o cariter social e moralmente reprovado dos fatos a rela- -.mergencla dos returSOS do cJlente, nio uma mterven~ ortopedlca por
. tar. No entanto, nio 6 o material tabu que parece ser a causa da ang\ls- . --- : 7teparte do terapeuta.
( tia mala forte. :1!! o material dinAmico, o conjunto de experiencias inl?ons-
( ) Cleldes e semiconsctentes, pressentidas, mas nio claramente · representa-
du. J!f:, particulannente, tudo aqullo que constitui uma ameac;a fl. ima-
( pm que " individuo faz de sl mesmo. A urn certo nlvel de· conhecimen-· S . . EVITAR A lt'IVERSAO DAS
I
FORCAS DE CJt,ESCIMENTO
(
to, ele sabe que esta imagem 6 uma mlstura de verdade e de mentira;
mas uma te~cia profunda a conserv~ e a reovalo~ do eu <ten- 0 proces8o de revel~ao,. isto 6, a interpretat;io da dinAmica, po-
( d&lcia fundamentalmente positi~a) o poe em guarda contra toda ac;ao
• .r , · ·~ pareeer fruttfero fl. prlmeira vist~, ja que da origem, geralmente, a
suscetivel de comprometer esta imagem . Esta 6 a razio pela qual certos ~ a mudan"" notave! na conduta . Mas, a mudan"" ass1m provocada.
elates se esgotam em estratagemas inconscientes 'a firrt de evitar ou 8 ~ eralmente nao se revels construtiva. 0 ataque do exterior pode alte-
( de adiar esta confrontacao tao temida . .~ rar. de diversas maneiras, a ·estrutura dinamica. Primetramente pode des-
( Os cllentes que se submetem fl. pesquisa e cujos casos estao 1nte-
gr8Jmeote gravados em fita, demonstram de urn modo ll.s vezes surpreen-
deote, que a angtistia que aeompanba as ejq>erienclas conscienteS', reco-
( nber:idas cotno proibidas, 6, geralmente, menos forte do que a que acorn• ~111 . Eeta flutuac;lo evidente na impor'tlncia d6 ~a~erial produzl~ POl' lite ~lente, expllc:a-
paoba o material dinamico. Muitos destes clientes pertencem aos meios ~· sam duvida, numa large medida, pelo carliter pubhr.o de entrevtsta terepluttca. No entanto,
( acadhnicos nos. quais ocorrem estas pesquisas. 0 pseudOnimo empre- ' ....,...,
...... flutuat;:lo 6 tfplca do que • produ;E treqiientemente na situat;:lo comum, nlo fllmada.
( g8do para a identificac;ao do caso nii.o lhes o!erece, pois, mais que uma
~ limitada. Alem disto, nao sendo geralmente alheias aos proces- A tim de fazer justi~a aos autores destas crfticas, corwtm acrescentar que ales "perdoem"
sos da: pesquisa, estas pessoas tern perfelta consciencia das "fugas", sus- mente estes "erros de t6cnica" tendo em vista o feto de que sa treta de uma entreYista fll·
( cetiveis de se produzirem no decorrer da transcri!;ii.o e da analise das ~ada sobre um problema com implica~l5es socials e legais ·muito delicacies, e que fa prlmelra
' entrevh;~as. Apesar disto tudo, elas sao levadas freqiientemente a reve- • . ,. entrevista do caso. ~ possfvel, por outro Iado, que estes fetores ten ham ixercldo uma lnflulncla
CJ&4~ -- um pouco inibidora sobre 8 conduta do tarapeuta. 0 filr:ne d, no entento, muito representetlvo
( lla4;0es que poderiam dar origem a conseqiiencias socials, e mesmo legals,
I ( muito desagradaveis. j --· ~* .de seu tipo de intere~A'o terap&utica.
n<:l
( trutr as .defesas. Em rela~:;iio a lsso, certos terapeutas diriio, uma vez mais, gere - e numerosas .observag6es tendem a confirma-lo - que os moti-
( que este e mesmo um dos fins da terapia. Em urn certo senttdo - urn vos desta mudanca quasc sempre nao sao .de natureza pos~tiva . 0 clien-
sentldo perigosamente superficial - esta afirma~:;iio e correta. As de- te nao parece animado por uma necessidade autentica 'de · se liberar de
( fesas constituem uma· barreira ,entre o :individuo e sua experiencia en- obstaculos que se op6en1 a seu descnvolvimento, mas antes, parece que-
quanta que 0 espirito aberto e 0 crescimento que dele resulta podem rer tmpor-se ao terapeuta, a provar-lhe que ousa mostrar-se tal como e, sem
( definir..:se, precisamente, como uma apreensao mals plena e mals eflcaz · que lhe obriguem a isto, em suma, a provar-lhe que niio foi verdadeiramente
( da experlencia. Trata-Se, pois, de eliminar umas ·e favorecer outras . COn- · derr•'ltado, quando o terapeuLa o surpreendeu, um dia, em flagrante delito
tudo, no nlvel de suas ralzes, as tendencias · defenstvas e as tendencias de racionaliza.~:;ao . Este tipo de comportamento pode ser considerado como
( ao crescimento se emaranham de tal modo que ao arrancar umas, cor- uma forma, rara, sem dtivida; de defesa por sacrificio - a maneira do
( re-se · o risco de destruir a's outras. Nao e, simplesmente, um jog() de .. potlach" de certas tribos da America do Norte, que poem fogo em suas
palavras dizer que 'l!Jft ser.r despro~~·de:~ .uas deresas ~ e;-'um·-ser '~' 1lei ' possessoes para deslumbrar seus vizinhos pela extensiio de desperdfCio
( : !esa! Eni "caso de · ·amea~:;a ' de'i erise •ou ruFC()IlflltOJ'&erle!i flo:tl'ecurs()~ ~ba:t.# a que ·se podem permitir. ·
relnis • pode Fser;r:temPQrarlamente~t,o· :-'llnico i:meto~'-' rut~ proteQAG1!contr&~.ol~
.:, de8moro~amento'/ . Import,;· •poia;··proteger ·~ a ~.· posaibtUdadeT\ de'."'r,~rer4::a l
Esta tatica de dlfamar o pr6prio eu nem sempre se .- explica, con-
( seu uso. 'AquUo de que o terapeuta deve · esro~;; se •por·'uberar~ ·oT\'eUen&ef
tudo, por motivos agressivos ou de vingan~:;a. Ela pode · representar uma
nio 6 de aaas defesas;,e de aua anaUstla. Eata e - uma ·. dia~ "$. ' qualf
( certos 1 proftsatonais :·p.Jecem 1 nAO'I_se;· dar i ~tan~. fpoil~~. . ·~··:~ • .· .- ·:·· :. especie de mendicancia afetl,·a . A pessoa neur6tica ·e, muitas vezes, mui-
to sagaz em descobrlr as ocasi6es de explorBQao afetiva neil; outros . Por
( isto reconhece logo o que o terapeuta gosta de ·ouvir . Como o profissio-
( 0 indlviduo cujas defesas 'sao destrufdas e, ou extremamente vul- · nal medio. tende · a avaliar os progresses qe seu cllente de acordo com
nerlivel, ou tnsensibilizado e, por isto, est4 exposto a uma. ~ie de in- · a quantidade de material tabu prodmido por este - ja que se considera
( versao das · for~:;as de cresciimento. Este individuo evolui, niio em dir~iio como o principal agente destes progresses - a produ~:;ao deste material
k autodetermina~:;iio, · mas em dire~:;iio a algo que lhe parece estranho e lhe da uma es:PeClal satisfac;iio . Esta satisfa~:;iio nao · deixa, evidentemen-
(
niio e, no en tanto, senao sua caricatura . A pseudo..:autonomia que e1e 'os- ·te, de comunicar-se, de maneira volunt<iria ou involuntaria, verbal ou nao-
( tenta, geralmente, ap6s um tal tratamento, . nao e, de fato, seniio uma vcrbal, e de dar ao cliente a . sensa~:;ao de ser apreciado, amado e ate
. independencia arbitniria das conven~:;6es de sua cultura ou de seus fa- mesmo admirado . Ora, como um ser em conflito, o cliente prefere, na-
( .miliares , Este desafio "em bloco" as conven~:;oes, ocasiona, muitas ve- turalmente, este tipo de satisfar;ao - precaria, mas imediata - a s~tis­
( zes, rupturas de la~:;os precibsos que se · emaranham nas pr 5i:Jr~~ raizes fa~:;iio que decorre do sentimento de autonomia do qual ele nada conhe-
da existencia do individuo . E urn niio-conformismo que, lugo, se'1 institui ce. Por isto niio deixa de estimular a fonte disto! Em casos semelhan-
( a si mesmo corno sistema. 0 pior em tudo is to e que, com demasiada tes, a re!a~:;ao. terapeutica se reduz a uma especie de estimulac;iio emo-
freqiiencia, o cliente considera esta marcha retr6grada como um progres- cional reciproca .
so, uma liberac;ao - ate mesmo uma obra criadora! <Notemos, contudo,
qpe um comportamento analogo a · este pode se manifestar, temporaria- Tlve, mais de uma vez, a · impressiic nitida, quando da apresenta-
mente, no curso da mais "asseptica" terapia.. Neste caso, trata:-se antes ~:;ao de casos ilustrados . com trechos gravados. de que o clier.;.te, cons-
de uma crise, geralmente bastante benign a e passageira . Em outras pa- cientementc . ou nao, deformava seu problema a fim de torna-lo mais "in-
lavras, trata-se . de tentativas por parte das for~:;as de crescimento, teressante". ·\. imagem que dava de si mesmo, talvez fosse,. no fun do, .i j
~ dO que uma inversao ~las.) verdadeira . Mas, pela enfase, intensidade, e pelo carater unilateralmente
m6rbido r:' '! apresenta~:;ao, parecia .falsa. A realidade niio tem, geralmen'- :
Outro efeito que pode resultar do ataque, P.rincipalmente do ata- te, esta J·n1 r~·Y ~eneidade. Em tocto homem, born ou mau, a motiva~:;iio e
que direto das defesas, e uma especie de formaQiiO,c~~ea,Clonal". Em VC2 as inteu • ; f..8~ •::s tao ordinariamente. mals ou menos mistw-adas. No en-
de tentar racionalizar SeUS defeitOS e deficiencias __; COnfOrllle eJP e na- tanto, quHn::Jo o cliente ·experimenta uma necessir' :1de neur6tica de . afei-·
~ao, e capaz de chegar a extremos tais como a ''demolir;iio" de seu eu, .
turalmente propenso - o . cliente tende '. a se concentrar sabre e~. ·s as ..
pectos negativos e a acentmi-los . Ele se exp6e com uma franqueza des- . , . a fim de ofci"ecer ao terapeuta aquilo pelo qual se . mostra intere3sado
concertante, , quase cruel, diante do terapeuta - ' facilfnente convencido • JQC• e reconhecido.
de que se trata de urn progresso alcanc;ado por sua astticia profissional. '
0 perigo desta especie de deslocamento do cen~ro de gravidade da
Mas, o carater de certa forma espetacular desta mudan~:;a de atitude su- terapia, do cliente para 0 profissional, e ilustrac1o de !' i<:neira notavel ·
l
no famoso caso descrito - ou .ptelhor, con!essadd - po7; Lindnel'j (61
;· ressado . ~<:ta qualidade esta implicita no comportamento do terapeuta
Sob o titulo The Jet-propelled COuch, Lindner relata .o caso de um
e, ~uito poucas 1vezes,. toma formas explfcitas. suscetiveis de obstruir a
te que, durante ineses - isto e, no decorrer de umas cem entrevistas relac;ao e, desta forma, de impedir os progressos do cliente .
havia elaborado seu problema . d. e uma maneira ·absolutamente fantastic~
porque pe~bia que seu relato apaixonava o terapeuta, e que !he cust~
va prtva-lo ,dele. Lindner reconhece, por outro !ado, com todos os
lhes nec;ess4rlos, que tinha tuna necessidade irresistivel 'd e evadir-se
1. "OPTIMUM", NAO .. MAXIMUM" , DE CAWR
um muildo )rreal, capaz de oferecer-1}\e um derivative ao
to e "" frustrac;aes pessoais !! prof~slonais a que estava sujeito.
Para ter efeitos posltivos, a atitude afetiva do terapeuta deve man-
.AlRO amilogo a esta farsa se adivinha na:; relac;oes de certos ter um certo equilibria . Se e comedida ao ponto de sugerir que o pro-
tes com alguns terapeutas de interesses rq.uito "e:;;};lecializados" e de fissional nao tem conflanc;:a nos seus pr6prios sentimentos, nao poderia
dAncias muito fortes para a interpr~tac;ao. chegar a ativar no cliente as forc;as de crescimento e de atualizac;ao de .si.
·P or·:·outro Ylado, se · o calor e demasiado intenso, compromete tanto
o processo ·como' o . resultado terap~utico . ·primeiramente, tal grau de ca-
11$- . 0~R ,lor · t§ diffcil de ser mantldo de um modo constante durante todo o pro-
;cesso; assim como uma melodla entoada numa nota muito alta nao pocie
0 camtnho percorrtdo pelo pansamento psicotei'ap~utico de s.uas ser mantida sem' que seja forc;ada, ou cala em falsete em alguns memen-
gens a~ os nossos dias, se manifesta,, de manefra surpreendente, Jla mu~ tos . Ora, para o rogeriano, a falta de sinceridade e mais prejudicial ao
danc;a, praticamente co,mpleta que se o1:\!;erva na concep<;ao eta atJp!~ ~xlto dos esforc;os do profissional do que qualquer outra lmperfei<;ao de
afetiva que o terapeuta deve adotar corh relac;ao a seu clfente. metodo.1
No infcio da terapia, o pap~I destinado ao clfntco era o
".tela neutm" sobre a qual ·o cliente se projetarfa a sl mesmo assim Uma certa variabilidade na afetlvldade e, sem dtivida, inevitavel e pode,
os seus ~ problemas. Os au~or~ contemporAneos," ao contrarlo, sao alias, ter utilldade. 0 que imports- e a nota de base. Com efeito, para que as
ticamente unarumes rui sua irisist~ncia sobre a necessidade de varla<;oes sejam beneficas e necessario que possam realizar-se no senti-
com um carater caloroso e recipr9co. Na psicoterapia atual, contempoW do de um crescimento. Se o tom afetivo e estabelecldo ao "maximum"
rAnea, pode-se dizer que a noc;iio de uma relac;ao de carater desde o infcio, toda varia<;ao devera se fazer, necessariamente, no senti-
, If
l~n- do de uma diminui<;ao. Se esta mudan<;a e percebida pelo cliente, ela de-
"" !~i objetwo e unilateral cedeu lugar. totalmente, ~ uma relal{ao autentica~
mente pessoal que. se aproxima cada vez mats da ,relal{iio tal como ~ ve exercer um efeito desfavonivel sobre o relacionamento . Pols o clien-
fl
,I concebemos aqui. 0. papel do pensamento de Rogers nesta mudanc;a ~ Jie te tende, naturalmente, a interpretar todo o decrescimo do tonus afeti-
pOderia ser determinado COIJl precisiio mas, pode-se acreditar Que te .~ vo de um terapeuta como um declinio do interesse ou um sinal de desa-
sido consideravel. provac;ao pcJr parte deste .
II
jfl A descrfc;iio da qualidade afetfva ,qu, .fmpregna a situac;iio , L~::u.ptru- Alem · disto, um calor demasiadamente intenso pode induzir o cllen-
·tica verdaqeiramente centrada-nq-cliente e diffcii de ser feita. As , te a um equivoco quanto a natureza dos sentimentos em jogo . Lembre-
~
lavras violentam facilmente aspe,c tos afetivQS tii,o delicados. 0 termo ___ . . . mq,s, uma vez mais, que pessoas que recorrem a assistencia psicol6gica
lot" na~ me parece, por outro lado,_ inteiramente. ~atlsfat6rio . .;.Tende .•. se encontram, g~ralmente, num estado de priva<;ao emocional que as tor-
Sugerir uma certa ' intensidade, •-eordi~lidad~ 01.1 ardor, ate rnesmo W11 ceri' , . .. na vulneraveis a todo testemunho manifesto de interesse ou ·de calor .
~
( .to sentimentalismo que esta no polo oposto d.,a relac;ao '·verdadeitamente - · · ·, Se o terapeuta cria uma atmosfera afetiya demasiado envolvente, alimen-
( terapOtifica : Observamos que a "pot'"i!.... llf0itva• que caracterl"' a at _ • tara no seu cllente a ilusiio de que e amado da forma pouco realists
I mosfera tern.ph1tica 6tima, nada tem de manifesta . Nao se. trata pela qual este quer ser amado . Tal engano submete o cliente a uma pro-
(
de amizade, nem de amabilidade, nem de ·b enevolencla (pelo menos . '1" . . .. _ va por demais dura para nao prejudicar urn ser precariamente organi-
( sentido corrente, um poduco l)a~ern~Jistab, . ddesta palavra), mas de ~I
umL,... zado. Esta e, alias, uma das razoes subsidiarias pelas quais o rogeriano
qualldade feita de. bonda e, de responsa 111 ade e de interesse . desinte~:.~ ~~ se op6e a toda incita<;ao sistematica ao apego intense, chamado "trans-
(
lc 96 97
j(
(
(
ferencia" <t>, Considera esta prova emocional como imitil, arriscada e, que deseja .ser amado. sente-se amea<.;ado por .m anif.estac;6es afetivas . Is to
rc pode ser julgado· pelo seguinl.e testemunho, extraido das notas p6s-tera-
apesar da excelencia de intenc;;ao, iricompatfvel c:om o tespeito devido a
I( pessoa. peuticas de uma cliente:
lc "Urn dia voce se pos a nr comigo de um modo muito
Por outro lado, _c;e o cliente e semp!"e vulneni.vel, o terapeuta, por
sua vez,. nao esta acima de qualquer prova . Se 'sua· maturidade., emocio- natural, e ainda que isto me desse prazer, parecia-me que ha-
via €'m seu tiso urn tom levemente pessoal que me inquietou
. nal equivale a sua corrtpetencia profissional, tenl.1 geralll,lente, uma com":'."
<c prqensao adequada da · dinfunica d!'l ' seu ';comportamento _..: Mas, compreen.: ·· urn pouco . Ni?.o que eu ·o ·tnterpretasse como uma zombaria
ou um insulto: mas evocava alguma coisa· da ·· intimidade
sao nao _slgnifica controle . Nao e dificil entrever que .uma relac;;ao inter·
c pessoal tao intima quanta esta pode insidiosamente modificar e· mesmo que existe entre amigos quando brincam sabre suas exlrava-
I
( interromper seu desenvolvimento . gartcias rriutua8" , (87, p. 105)
De saneadora que se propunha a ser, pode tornar-se manifestamen- . E: necessaria c.onhecer· o te.r apeuta a que esta. cuente se refere para
(
te m6rblda. Sentimentos mal c'n nfessados e pouco . desinteressados, po- que se · tenha plena consciencia da suscetibilidade que aqui transparece .
C dem ai se insinuar e prossegu:r num t'tirso neur6tico, sob a capa da Este terapeuta .e, , geralmente, reconhecido como urn homem de nature-
;c "transferencia;, e da "contratransferencia" 0 t~rapeuta realista· reconhe- za reserv~da, .equilibrada e; acima de . t9da suspeita, de familiaridade asse-
I gurada . .Alem distO, evidencia-Se nas notas da cliehte, que eJa havia dPSei<\-
ce, 'ainda, francamente a possibilidade dE' ·eomplicac;5es afetivas e nao .se
( deixa enganar pela ideia de que esta emotionalmente imunizado. ·cto ·manter relac,;6es mais estreitas com .ele:
( .Mesmo na ausencia de · complicac;;oes deste genera, urn clima · afe- No entanto; havia sonhado com lac;os rriais estreitos coin
tivo demasiadamente intenso e de naturez!l' a incitar o cliente a se mode- . voce. E '€is que no momento em que percebo algo que se ·pa-
I ( rece vagamente com isto, tenho. medo. Nao e absurdQ?
lar muito estreitamente ao terapeuta. Sob tals condic;6es, as leis inevl-
( t.aveis da identificac;ao e da imitac;;ao social podem . representa:- um obs- Uma coisa ~ imaginar esta possibilidade, e outra. ve-la
( taculo a atualizac;ao do cliente segundo sua pr6pria ·inclinac;ao. Conscien-
temente e, sobretudo inconscientemente, o cliente tende a se modelar de realizar-se" (Ibid.)
( acordo com a pessoa que preenche tao maravilhosamente suas necessi- No presente estagio da exposic;ao; o leitor pode ter a impres:iflQ de
dades afetivas. Assim, sob a aparencia de progresso; corn, o . risco de . que a criac;ao de urn clima afetivo favoravel exige urn verdadeiro talento
( se afastar uma. vez mais de sua pr6pria linha de desenvolvimento. de equilibrista. Porem, nao se trata dis to. Parece que este clima tern mais
( probabilidade de ser alcanc;ado, quando decorre naturalmente da atitude
A criac;ao de urn clima afetivo .verdadeiramente terapeutico revela-
de disponibilidade afetiva e mental do terapeuta, e sem. esforc,;os partic\1-
( se, pois, como urn dos aspectos mais· delicados do papel do profissional.
Nao e f~kil, com efeito, saber onde se encontra, em cada caso individual, lares .
( . este ponto de equilibria entre a intimidade terapeutica e a distancia te- Nesta area nao ha. evidentemente, urn meio de se estar seguro quan-
( rapeutica. _Nfio podemos nos esquecer de que, em materia de sentimento to ao efeito produzido . Como criteria, 0 terapeuta tern apenas OS dados
e de outras experiencias, nao e de dados objetivos, mas de fen6menos sub- de sua percep<;ao imediata a cada mom en to do processo . Contudo, se se
( jeth·os que se trata. · sente emocionalmente tranqiiilo, se e capaz de se empenhar sem temor
( Ate que ponto o calor facilita a tarefa do cliente e a partir de numa perm uta afetiva profunda e, ao mesmo. tempo , "asseptica" , tudo
que ponto representa urn obstaculo a sua liberdade emocional? indica que alcanc;;ara o clima procurado .
(
( Esta e uma questao que o terapeuta deve se colocar a respeito de
cada cliente e que deve esforc;ar-se por resolver, levando em considerac;ao
( sua· propria personalidade e a ambigiiidade e ambivalencia que caracte-
2. 0 PAPEL DO CALOR
rizam, multas vezes, o campo afetivo. Assim, o cliente, ao mesmo tempo
Em primeiro Iugar. este papel e de refon;ar o sentimento de se-
guranc;a que decorre da atitude de nao-julgamento, condi<;ao essencial
(1 I Para urn esclarecimento do ponto de vista rogerianoa respeilo da questao da Transferencia desta terapla. Mas, alem deste papel evidente, presume..:se que o calor
eo Diaqn6stico, 4. Urn caso extrema. tenha agido a rnaneira de un1 fator vitalizante, que os terapeutas nao es-
9R D!J .
:(t .
clareceram ainda teoricamente, mas que constatam clfnicamente e que co-
meQam a confirmar nos resultados das pesquisas. Rogers, aventurando-
se a formular aquilo que, de acordo com ele, e o fator crucial da mu-
danQa construtiva que se opera no cliente, exprime-se no comentario pelo
I~ qual termina urn de seus filmes, da seguinte forma: " ... 0 que expert:..
menta o individuo em terapia e, ao, que parece, a experiancia de ser ama-
do. Amado nao de forma possessiva, mas de uma ,forma qu~ lhe permita ser
.wna pessoa distinta, com 'tdeias ' e' sentiinentos , pr6prios, e.,uma ' maneka
/c de ser que lhe e exclusivamente pessoal'"i. (121)
(
c Pelo que sei, estas palavras sao as primeiras a formular o fenome-
no terap~utico em termos essencialmente afetivos. Vindas daquele que
c ~ o pioneiro da fuvestlga«;ao cientffica em psicoterapia, nao poderiam ser
desprezadas como se fossem uma expressao de s~ntimentalismo. Ao con- Capitulo V
c tn1rio, pode-se ver nelas a dimensao profundamente humanltaria da no-
c va perspectiva que Rogers abriu a·terapia. A abordagem deste inovador
se baseia, pois, nao somente sobre o direlto do indivfduo- a autodeter-
(
minac;;ao, mas, tambem, sobre sua necessidacte·"vital c~e'~! ser i' amado en-
c quanto ser llnico.- livre e criad'or-~
(' 0 TERAPEUTA
c
( A pn\tica da psicoterapia como a de toda profissao que faz intervir
urn !ator humano importante, requer dois generos de competencia: uma
c formac;iio especial e certos atributos pessoais . A primeira e geralmente
( considerada como primordial - o que se compreende facilmente. Por
mais atraente que possa ser a personalldade do cirurgiao, do dentista ou
c do alfafate, niio atraira a clientela se esta personalidade niio e acompa-
nhada da competencia profissional desejada. Contudo~ existe uma pro-
c fissao em que parece que ocorre de outra forma - e a psfcoterapia. Quan-
( to mais a experiencfa cresce neste campo, mais a importAncia da perso-
.nalidade do terapeuta parece impor-se. sobre sua for~o profissionaJ.
c
( A.inda que os terapeutas evoluam cada vez mafs para esta concep-
Qiio, eta quase nao e mencionada. De !ato, o assunto parece, antes, em-
( barac;;a-los. Em nossa era cientffica, o reconhecimento da subordina«;ao
da forma<;;iio te6rlca e tecnica as qualidades pessoais, tende a colocar
c uma · profissiio sob uma luz pouco favoravel. Ora, o terapeuta contem-
( poraneo e bastante preocupado em consolida;r o sta.tus e o prestigio, algo
( especlais, de sua profissiio. Por isso evita declar.,,~oes que tenderiam a
fazer aparecer seu trabalho como uma r' r~e. ist:> 1!, algo essencialmente
c .mbjetivo ou- intuitive.
( A id~fa da' prima?.ia das qualldades pessoais ~ mais reconhecida pe-
, fos roger:ianos, provavelmente, que por qualquer outra escola de tera-
~utas. ·Alias, quase nao se mostram :reticentes sobre este assunto. Esta
I.
(
1~ 101
(
•t
,,
t' . quele que assume, por exemplo, a tarefa quase sobre~humana de "ex-
/ maior liberdade de expressao se explica, sem duvida, pelo fato de que 'plicar 0 cliente a si mesmo", difere sensivelmente da personalidade do
i sua escola seja reconhecida particularmente por ter introduzido a pes- profissional que se considers como urn simples intermediario, isto e, urn
~
!
,!
quisa no campo da psicoterapia . Este fundamento cientifico (t), por pro- eatalisador .' Mas dai a concluir que as divers as terapias sao praticadas
vis6rio e incompleto que seja, lhes oferece contudo uma protec;ao contra por.. ".t.ipos" .distintos, · ha alguma diferenc;a!
a ac1;1sac;:ao de diletantismo, que se dirige ~s vezes . ao trabalho do tera-:
peuta, . de qualquer linha que seja. Quanto a saber se o exercicio da psicoterapia exige qualidadcs "su·
tjC Este deslocamento da irnportancia na avaliac;ao das qualifica~;oes do periores", esta questao propoe, claramente, urn problema de valores . Isto
I( significa que ela se coloca sobre urn plano bastante subjetivo . A este
terapeuta nao implica absolutamente num declinio do interesse por sua
( formac;ao. Se a hip6tese da primazia das qualidades pessoais se confir- respeito, ressalvemos que a insistencia dos rogerianos sobre a importan-
mas!le urn dia de modo objetivo, se seguiria nfio uma diminuic;ao no in- eia da personalidade nao implica nenhuma exigencia de superioridade .
( teresse concedido a forma.c;ii.o, mas uma reorientac;ao, e sem duvlda, uma Sem duvida, o exercicio pratico de qualidades verdadeiramente superio-
.unlficac;ao dos programas. Em vez de se sobrecarregar o futuro profis- res nao poderia deixar de ter efeitos favoraveis - onti.t' quer que elas ·
(
'storial com uma ba,gagem cada vez tnais vasta de conhecimento& especia- se exergam . No entanto, no plano pratico, ha muitJ poucas qualidades
( lizados - que, as vezes, se referem bern pouco ao campo das · relac;oes que podem prevalecer-se de ser universalmente superiores, isto e, primor-
interpessoais terapeuticas - este poderia se d€dicar a desenvolver as di- diais em todas as situac;oes. Assim, a firmeza, a flexibilldade, a modera-
(
mensoes afetivas e morais de seu potencial humano . A este respelto e .~;ao, a originalidade,· uma vontade a toda prova, uma visao ampla, o es-
( interessante notar que, peio menos no meio rageriano, a formac;ii.o evo- queclmento de si mesmo, representam qualidades de carater dignas de
lui neste sentido, englobando uma variedade de atividades que tendem multo respeito. Mas a superioridade delas e valid a apenas em certas
( a d~i'senvolV'er :. a responsabilidade e a criatividade pessoais e socials . situa<;oes, nas quais se· requer que sejam postas em. praticas. Eis porque
. ;. ·, ' . .. . . . ,'· ' · ! -~··
( a nQGiio de "superior" carece de .utili dade no contexto presente.
A respeito de quallficac;oes pessoais, uma questao que se coloca
( freqiientemente, tanto no que se ·ref ere a psicoterapia em geral quanto a Por outro lado, se o termo "superior" e tornado no sentido de
( abotdagem rogeriana, ~ - a-·seguinte: o exercicio deste . g~nero de trabalho "extraordiriario", de "impressionante", de "magnetico", etc., a resposta
requer urn certo tipo de personaiidade ou de quaJidades pessm:iis "su- quanto a utiiitlade de atributos deste genero parece antes negativa . Por
( periores"? exemplo, as qualidades absolut;1i:nente extraordinarias que certos bicgra -
( . fos e amigos de terapeutas. de renome tendem a atribuir a estes ultimos ,
Nao se poderia respond~r senao com opinioes. No que concerne a
parecem constituir urn obstacu1o mais do que uma vantagem . 0 tera-
( quesUio de tir >c;;, longe de poder dar uma resposta. valida, nos nem mes-
peuta de estatura tao manifestamente imponente corre o risco de exer-·
mo dispomos de uma. definigao adequada da nogao de tipp . Uma obser-
cer urn efeito esmagador sobre o cliente, tiplcamente obcecado por sen-
( vru;_ii.p carrente mostra que uma variedade · bem grande de personalidades
timentos · de inferioridade, reais ou aparentes . Urn tal cont.raste de for-
enc0ntra-se entre, os terapeutas, e isto, tanto . entre -a queies que sao re-
( magii.o hu.mana e de natureza a produzir uma transferencia de uma na-
co{lhecidos como eJ!:Celentes quru;1t0. en.t re aqueles que parecem ser me-
tureza _quase metafisica da q:~al o . cliente e. suscetivel de nfio se libertar
( nos bern sucedidos. 'I'alvez. que no futuro a investigagao - multo mals jamals .
· rigorosa que .-a que · se realiza no esta.do atual das tecnicas de pesquisa -
( revelara a existencia _de fatores de personalidade comuns entre os repre-
":.£ A prop6sito de transferencia, ainda que o rogeriano quase nao . fac;a
sentantes de . uma · determinada a,bordagem: Enquanto isso, e permitido
mengao a ela, ele ' nii.~ a nega enquanto manifestagao aguda, infantil, de
supor que, em presenga da grande variedade de abordagens, uma certa
( selet;ao . se opera automaticamente entr"" os · candidatos · ao exercicio de ca- dependencia. Contudo, a transfereneia quase nii.o se produz no contexto
de uma abordagem verdadeiramente centrada no cliente ·. Sem duvida, pra-
da uma dela,s. Com efeito, parece ·16gico admitir que a personalidade da-
ticamente todo cliente sofre de tendencias profundas a dependencia . Este
e precisamente urn dos elementos primordiais de seu problema. Mas estas
tendencias niio se desenvolvem numa relac;ao de transferencia senao sob
a influencia de uma certa atitude e de um certo trat.amento por parte do tc-
i 1) Esta afirm~ao nao pode ser interpretada como significado que o trabalho dos rogerianos rapeuta. Se o terapeuta adota urn papel autoritario ou uma atitutle ~le
( 6 cientlfico no sentido ·de "seguro" i ou "preciso", ou "eficlente''. Ela se refere simplesmente
superioridade, o cliente reagira, naturalmente, por uma atitude. de sub-
ao fato de que as proposic;:oes te6ricas que· sustentam a imwca desta terapia sil'o constantemente
verificadas e modificadas por trabalhos experimentais. missao e de dependencia. Em outras pala.vras, se um representa "o pui",
II)'!
~I c
l
1(
terminada por convicc;oes, necessidades e interesses profundamente fir-
I; r o outro,· representara "o filho" . "Ao · contrario,· se ' o terapeuta se apresen.:. mados . na organizac;iio pessoal. Sem duvida, como praticamente toda ou-
!
ta em pe ·de igualdade, . o cliente tendera · a rea~ir : da mesma forma ....:..: se ', tra qualidade, ela e suscetivel de desenvolvimento. No entanto, sua aqui-
nao imedlatamente, pelo menos gradativamente·. sic;ao parece exigir uma certa rnodificac;ao da personalidade total, pois o
comportamento empatico nao se deixa adotar a vontade, segundo as ne-
Observemos que a atitude nefasta de superioridade niio toma, "le·· cessidades do rnomento. Todos n6s sornos capazes de agir temporaria-
' ( cessal'iamente, formas grosseiramente manifestas, pretensiosas ou condes- mente de urna maneira tolerante, generosa, compreensiva, guando a si-
cendentes .' Ela pode emanar de uma conduta extremamente simples - tual(i'io o pede ou nossos interesses o exigem . Nao se da o mesmo com
quando estn. se produz numa situar;ao que se presta a percepr;iio de re1a- a empatia . Nao podemos nos mostrar rnais empaticos do que somos, da
Q~es de superioridade-inferiorldade, como e o caso da terapia. Assim, mesma forma que nao podemos nos mostrar mais inteligentes .
concedendo-se a prerrogativa de formular qualquer -questio, de julga-r Assim como urn radio nao capta ondas curtas se nao e fabricado
o valor racional, moral ou pratico daquilo que lhe confia o cliente, e in- de uma certa forma, um individuo niio e capaz de empatia se niio for
clusive de guardar urn silencio prolongado e observador, o terapeuta po- lnteriormente organizado de um certo modo . Para fazer crescer seu· po-
de produzlr uma impressiio de superioridade indubitavel . De acordo com der de empatia, ele tern que, numa certa medida, reorganizar o sistema
0 rogerlano uma tal lmpressiio e diretamente contrarla a ativa«;iio das
de suas - ecessidades ' · lor - - ~
for.;;as de crescimento . ~ Na · medlda'' em 'que .. o·,. terapeuta'l'afirma' f'sua~8upell
rlorldade, o cliente .: 'experiment&·!·suan inferloridadEt·.f:i:;,;,Jloui:.aquilol'l'que .;.-:818' Praticamente, toda situac;ao social nos da a ocasiao de observar
·consldera · como ·tal : · · quem e dotado desta sensibilidade social e quem nao o e . Aquele que
nao se da conta de que certas pala\rras causam prazer ou desagrado , quem
Se a · pratlca da, terapla rogeriana niio . pre~upoe nem personalidade nao reconhece as necessidades do outro, a direc;ao de seus interesses ou
( ,'e special nem talentos- superiores, ela requer, no · .entanto, · certos · atrlbutos a natureza de suas preocupac;oes, tern poucas disposic;6es naturais para
sem os: quais nao poderia pretender:. ser "clfent-centereq".' Estes atrlbu- obter sucesso na pratica de uma terapia centrada no cliente. Ao con-
(
tos sao: a capacldade empatica, a autentlcldade, e ·uma conce})9ao posi- trario, 0 individuo que e receptive as rea«;6es do outro, que percebe OS
( tlva e liberal do homem. Alem disso, sao necessarlas duas qualidades, de tons positives ou negativos inerentes as relac;oes que mantem com as
que, provavelmente, nenhum terapeuta, qualquer que seja sua filla~;ao te6- pessoas que o cercam, que reconhece o antagonismo profunda qHe po-
( rlea, poderia prescinidir: urn grau elevado de matwidade .emociOinal e de. de se esconder sob urn desacordo aparentemente fortuito, que e capaz
compreensio de sl. de reconhecer a crianc;a infeliz numa classe, que reconhece as nuances
sutis que revelam a qualidade das relac,;oes entre pais e filhos ou entre
casais, esta pessoa tern aquilo que e necessaria para se empenhar nas
relac;oes interpessoais profundamente significativas e, conseqiientemente,
§ I - Capacidade empcltica terapeuticas.
(
( 0 termo "empatia" foi criado pela psicologia · clfnica · para indicat
a capacidade de se imerglr no mundo subjetivo do outro e de participar'
da sua experiencia, na extensiio em que a comunica~;iio verbal e niio-ver- § U - Empatia. simpatia e intui~ao
( bill o permite.~Em termos mais simples, e a capacidade de se coloc?-r no diagn6stico
verdadeiramente no Iugar do outro, de ver o mundo como ele o ve.
(
Estas tres noqoes empregam-se muito freqiientemente e de modo
~Sendo util a todo terapeuta, esta capacidade e indispensavel ao ro~
indistinto, erronearnente .
geriano . Lembremo-nos de que o papel deste consiste em captar e re-
fletir sobre a signlflc~ao pessoal das palavras do cliente - bern mais;· A 1iferenc;a entre a empatia e a simpatia e importante mas dificil
do que em responder a seu conteudo intelfle?tual. Para ser bern sucedido de descrever. Estes sentimentos sao parecidos enquanto representam, am-
nesta tarefa e precise que o proflssional saiba · fazer abstra~;io de seus bos, uma ressonancia ao sentimento do outro. No entanto, pelo fato de
pr6prios valores, sentimentos e necessidades e que ' se abstenha de apli- que a sjmpatia refere-se essencialmente as emogoes, seti campo e mats
car os criterios realistas, objetivos e racionais que o guiam quando esta reduzido que o da empatia, t1. qual se refere a apreensao dos aspectos tan-
fora de sua intera«;ao com seus clientes. to cognitivos quanto emoeiQnais da experiencia do outro . Alem disso ,
• • . ' z 1 .
~ Esta sensibilidade alterocentrica, que e a empatia, parece ser de-
105
104
-c
(
' (
(
( no caso da · simpatia a particip~ao do indivfduo nas emoc;c3es do outre vida, sincere . Contudo, o acordo de que se trata · aqul pressupoe que
se faz em tei:mos da e~rlancia do pr6prio lndividuo. Por exemplo, urna nao ha erro na perce~iio da experiencia, e que sua representac;ao ·e, par-
( pessoa pode partilhar do problema de uma outra pessoa, porque as ma- tanto, autentica .
( nifesta<;oes deste problema evocam algum acontecimento triste de sua
pr6prla vida . No caso da empatia, o individuo se esfor~;a em participar nesta detmic;ao concJui-se que a apreensao aut~ntlca de sl corres-
( da experH~ncia do outre, sem limitar-se aos aspectos simplesmente emo- .ponde multo amplamente a compreen5iio · de sl tal como I§ aqul conce-
cionals. Alem disso, esfor~;a-se por apreender esta experiencla a partir .bida. · Ora, esta compreeilsao depende dfretamente do nlvel da angU5tia.
( do angulo da pessoa que OS experiments - nao a partir dO angulO subjetivo. Em .consequ&ncia, quanta menos sujeito a angtlstia esteja o lndlvlduo,
melhor ele se compreende (ou, melhor ele e capaz de se compreender).
(
.Seria incorreto dizer que a empatia e objetiva enquanto ·que ·a sim--· Quanta . melhor se compreende, mais pr6ximo esta de atingir o acordo
( patla e subjetiva. Ambas representam formas subjetivas·: de ,conheclmen- :' , ~temo de que. se trata aqul .
to . Mas no caso da empatia, e da sub!ettvidade . de outrem \'-'~ no caso, ·
( •do cllente ...... que se trata . 0 terapeuta participa, · pols, J~«f urna'"maneira Resulta tambem do que precede, que a autenticidade, cqmo a em-
( tao intima · quanto possivel, da experi&ncia do cUente ; - ·; permanecendo, patia, niio ~e deixa adotar a vontade. Estas noc;oes se referem nao a sim-
porem, emocionalmente independent~.~ ples formas de comportan_1ento, mas a pr6pria personalidade tal como
( ela se expressa na ac;iio. ·
Qunnto a empatia e a intui~ao para 0 diagn6stico, sao praticamen-
( te opostas uma da outra . A lntui~;ao para . o diagn6stico ·corresponde a Para que· sua assistencia seja eficaz o terapeuta nii.o pode, pols,
( . uma capacldade de revelar, de anallsar e de formular as tendenclas e ne- contentar-se em aglr:
cw.sldades insconcientes de outrem, Nao e urna participa~ao da expe-
( como se experimentasse sentimentos calorosos em relac;ao ao cliente;
rifmcia consciente de outra pessoa, · mas urna observa~ao e uma ·inter-
pretac;ao das manifesta~;oes desta experiencia. Enquanto que a empatia , .. como se se colocasse sob o ponto de vista deste;
( como se se abstlvesse de julgar;
procura evitar toda 'avaliac;ao, a fun~;ao diagn6stlca visa diretaml'mte uma _ _ _ .. •
( avalia<;ao da pessoa observada. Enfim, a capacidade de diagnosticar e como se aceitasse o cliente tal qual e;
uma fun~;ao essencialmente intelectual, que se adquire por meio de uma como se quisesse que o cliente tomasse a direc;ao da entrevlsta, etc.
( forma<;lio profissional especializada, como a do psic6logo clfnico, enquan- 1 :E necessaria que, de urna maneira geral, ele experimente os senti-
( to que a empatia ja se enraiza na personalidade daquele que a pratica. . mentos que manifesta . ..._
(
Mas o terapeuta e sempre capaz de experimentar os sentimentos
( desejados, com rela~ao a cada urn de seus clientes?
(
§ m - Autenticidade ou acordo interno Acontece, com efeito, alnda que raramente, que por uma razao ou
outra, ele se sinta lncapaz, seja de desenvolver, seja de manter urna ati-
( " · )> Estas no~oes se referem ao estado de acordo que existe entre a tude de considera~;ao positiva incondicfonal, para com determinado cllen-
experiEmcia e sua representac;;ao na consciencia do individuo "normal", te. Neste caso, e necessaria que ele remedeie a situa<;ao, como aparece
( isto e, que funciona adequadamente. A primeira vista, .estas noc;;oes pa- no capitulo IX: A3, p. 182-185 e no oapitulo XI: A e B, p . 214-217 . Pais a
( recem sinonimas de sinceridade. Originarfamente, Rogers servia-se de urn aus~ncla de autenticidade conduz a uma detericirac;ao da rela<;ao, o que
termo que se aproximava multo da no<;ao da sincetidade (genuineness). a torna nao somente lneficaz, mas prejudicial . Para estabelecer este es-
( Contudo, traduzindo sua experiencia em conceitos te6ricos, tomou cons- · tado de autenticfdade, o terapeuta podera tentar elucidar o problema dl-
ciencia de que o termo nao convinha as necessldades, mats r!gorosas, da retamente com o cliente. Se o estado deste nao o permite, pod era dis-
teoria . Com efeito, a sinceridadc consiste em !alar ou em agir de acor- cutir o problema com urn colega ou com qualquer outra pessoa capaz
do com a representac;:ao consciente, isto e, com a experienC'ia tal como de compreender este genera de dificuldade. Se este proc~dlmento reve-
ela aparece na consciencia - nlio necessariamente tal como e experimen- lar-se ineficaz, o terapeuta providenciara, usando, evidentemerite, de to-
tad.~ . Por exemplo, o individuo que se ere sem preconceitos socials pode,
da pre·cauc;ao passive!, o encaminhamento do cliente a urn colega .
com toda a sinceridade, descrever-se como nao tendo preconceitos deste
g{me to . Suas palavras estao de acordo com seus sentimentos tal como
(
os pn~: ~ bc, aiuda que nao necessariamente t al como se ~ressam no Ha uma outra questao relatlva a necessidade deste acordo interne
( !:eu comportamento. Neste sentido particular, todo terapeuta e, sem dtl- Com efelto, ha urna diferen<;a observavel entre expressao de sentimen-
I(
JI
·r
'
Tendo ja descrito suficientemente a natureza ttestas concepc;oes, nao
tos autenticamente· positivos e o simulacro; benevolente e bern sucedido,
dest<:>s sentlmentos? Se 0 terapeuta e born ator, isto nao e 0 suficiente? nos parece necessario estendermo-nos mais sobre este tema . Resta-nos,
no entanto, responder a uma questiio pratica que se coloca muitas vezes
Para comec;ar, a autenticidade facilita a colocac;B<- (>. •. pratica pelo . neste contexto: os individuos adultos - profissionais atuais ou futuros
c terapeuta de .urna exigencla de nivel pratico: a constancia do ·comportamen- terapeutas - aos quais se dirigem estas teorias, sao capazes de adqui-
to; Se .o terapeuta nao se comporta de maneira autentica, 5era . dlficil' para rir atltudes que, para muitos deles, esUio diretamente opostas aos sen-
ele, sEmao lmpossivel, manter esse, ,comport~ento. a~ravesJ:la1f~c~~~~es __q,e timentos e convicc;oes firmemente enraizadas? Por exemplo, urn indivi-
· urn ; proc,:esso as vezes .lO.f!iO,, · · ·· duo de orientac;iio essencialmente autoritaria, tern possibilidades de ser
bern sucedido na busca de atitudes essencialmente lgualitarias?
Quanta a diferenc;a psicol6gica entr.e a expressao de · sentimentos
autehticos e sua imita<.;;iio, acontece, sem duvida, nao ser esta diferenc;a Em princfpio parece qu~ . a resposta tern que ser afirmativa . A per-
percebida pelo individuo - e ate mesmo ser imperceptive! ao olhar ex- ;>ona.lid~e '" pormru;·'· entendlda · nurn sentido limitado, puramente funcio-
perimentado. Contudo, a experlencia nos mostra que ela e, geralmente, n~ ,(~to " e,'1'ci;jmo · ~engajada" m.un processo de crescimento) e um Siste-
,."~;. ,,
;.·f(i ,_l_, ~ '• •• ' . ' ·' : 1 ' •
( reconhecida. E verdade que nem semp:r.a e possivel descreve-la em tei''- ' rna ·de" hecessidades e de valores movido por tendencias que visam a con-
mos objetivos, pois os elementos diferenciais sao l>ercebidos aparente- r'servac;iio';deste sistema pbr 'tendehcias que buscam ultrapassa-lo. Aque-
e
( mente num nivel subconsciente, como as experiencias sobre a percep<.;;iio )e8~1tiuf' estact'fuais '' ou~'menos "a.bettos" a sua experiencia acham-se ine-
( I subliminar (59) tendem a prova-lo. Mas o fato de o cliente ser lncapaz ~vitavelmente'·"eomprometidos hum: processo de modificac;ao constante . . Por
de justificar a impressiio de artificialidade que Ihe da o terapeuta, niio exemplo,: o ' acaso nos coloca em contato com uma coisa, material ou mo.,.
l( impede esta impressao de a.Iterar. a relac;ao entre os interlocutores. :rat; '· que ' · nos ' toea por · certos aspectos suscetiveis de revalorizar nosso
C · eu . · Imediatamente · o pensamento e o esforc;o se dirigem em direc;ao a
Enfim, existe uma considera<.;;ii.o que, ate o momento presente, ca- posse· ·ou a realiza<;ao desta coisa: ela se torna, para n6s, urn valor . Tor-
( rece de base empirica, mas que parece, contudo, plausivel . Parece pos- nando-se ·urn valor, tern o poder de atrair nossa atenc;iio . Assim, nos
sivel acreditar que a unidade interna caracteristica da conduta autenti- nos damos conta, cada vez mais, d.os diversos aspectos sob os quais ela
( ca implica uma forc;a, ou se exprime com urna facilidade ou com uma se manifesta . Em conseqiiencia, aprendemos a conhece-la melhor e ama-
( convicc;iio que !alta ao comportamento desprovido desta unidade . (Da- ,la mais. (Este melhor .COnhecimento pode, evidentemente, conduzir
dos como os fornecidos por testes psicogalvanicos oferecem urn certo a um repudio do objeto que perseguimos. Seja como for, uma atitude
( ~poio a esta hipotese) . De qualquer forma, os adeptos da terapia rela- afetiva, · positiva ou negativa, se enraiza no sistema de necessi-
( cional estiio convencidos de que a unidade interna decorrente da auten- dades.) Isto e, urn processo de identifica<;iio se estabelece; o que, a prin-
ticidade represents urn papel, ainda niio plenamente compreendido, mas cipio, era exterior a personalidade, torna-se parte integrante dela . Quan-
( decisivo nas relac;oes interpessoais. . do·· este processo esta alimentado por urn esforc;o consciente, certamen-
( Uma explicac;iio mais completa e mais sistematica desta questiio, te a . assimilac;ao de valores novos se faz de urn modo muito mais nipido .
( isto e, uma explica<.;;iio em termos teoricos, e dada por Carl Rogers na
segunda parte desta obra. Nao vamos acreditar, no entanto, que seja facil reorganizar urn
( sistema de atitudes e de valores que se desenvolvem durante muitos anos,
em simbiose, por assim dizer, com o proprio- organismo . Uma tal "con-
(
versao" exige urn esforc;o concentrado de introspecc;;ao e de reflexao cri-
( §IV' .. Conce~ao positiva e liberal do .. homem tica, e comporta numerosos ensaios e erros . Sob condic;6es excepcional-
mente favoraveis, tais como o contato estreito e relativamente prolongs-
e das rela<:oes humana · do com pessoas que traduziram estes principios no seu estilo de vida,
( esta transformac;iio pode ser realizada quase sem haver . esforc;os cons-
Estas noc;oes correspondem a tendencias que tornam possivel, fa- dentes. No entanto, mesmo nestas condic;6es os progressos podem ser
( oil e eficaz a colo~ em pmtica dos principios expostos no capitul~ II. ., lentos. Desejar niio e possuir - ainda que, no campo das atitudes o de-
Uma vez mais, trr.ta-se de mOdos de pensar e de reagir que se enraiZa.m ' /\. sejo seja o · come<;o da posse. Felizmente, a satisfac;iio experimentada na
na personalidade a que tendem a expressar-se nurn estilo de vida . Em perseguic;iio apaixonada de algo reconhecido como urn valor, estimula o
outras palavras, o entusiasmo pelas concepc;oes liberais e humanistas ou esforc;o e favorece o exito . Por isso, pode-se acreditar que o terapeuta
adesao nominal a ideais deste tipo nii.o e o suficiente. autenticamente comprometido no esforc;o de por em pnitica certas ati-
(
(
lk
lc
,i( !armadilha para uma ou outra das pessoas em causa e para ambas .
'ji
" 'tudes, obtenha tanto exito no exercicio·,de · sua .profissao,; como aquele Uma tal capacidade pressupoe, parece-nos, que as necessidades fun-
1k . q1,18 . assimllou estas atitudes. . .. damentals do terapeuta sejam organizadas em torno de certas fontes de
Uma definil;ao completa desta noc;ao, apenas, admitindo-se ~ue fos- satisfa~;ao que deem um sentido e um valor a sua existencia, compreen-
!( se possivel, exlgiria provavelmente um volume .
~'lc
1 •
dendo-se ai seu trabalho profissional. A natureza destas fontes, seja con-
creta ou abstrata, ordinaria ou extraordinaria, importa pouco . 0 que con-
ta, e que as necessidades que ele experlmenta .como fundamentals, tenham
I~ :S·Vr~ -,Maturidade emocio~a1 1 (~~,...~- -~9-_li:>-;.._~) safdas adequadas. (Notemos que se trata de necessidades subjetivamen-
te fundamentals - nab necessariamente daquelas que sao catalogadas co-
( A maturidade emoclonal completa, pelo fato de implicar o equill- mo fuildamentais, exceto, evidentemente, as que asseguram a sobreviven-
brio emotivo-racional, parece muito pr6xima da perfeic;ao humana. Ora, cia . ) · Quando estas necessidades sao satisfeitas, exercem um efeito r.egu-
c uma noc;ao ideal como a perfeic;ao tern pouca relac;ao com o fim, .essen- lador sobre a economia psfqulca, de tal modo que as satisfaqoes e. os
( cialmente pratico, que perseguimos aqui. 0 que se segue, e, pols, uma aborrecimentos da vida cotldiana tendem a ordenar-se favoravelmente na
( deftnic;ao fragmentaria; limitada as exigAnclas da tnterac;iio ' ~rapAutica . estrutura total.
. - . ~~- -.:,.,_ . ·r· ...,.:..... ~""' - . ,_ •-•
- .·os ~ aspectos .da maturidade emoclonal que parecem ;PJ~rticularmen· 0 terapimta assim ancorado descobrlra que a criac;iio e a manu-
tet. lmportantes para · o · exercfclo ' do '.papel do tera~ta~ do :'os· :Se~tes: 'f ten«;ao de uma relac;ao sadia se fazem geralmente sem esforc;o excessivo,
o -i :P-rimelro ,.Teslde , ·na ~ capacidade ~de,, parijcipar.fdo~ empreen@nen~o 'fide'"
I~ ainda que exijam sempre um esforc;o real e, as vezes, consideravel, pois,
transformar 'uma' outra pessoa sem se ·ter a .tentac;io 'de moldar' esta trans;;;i"' pela 'SUa pr6pria estrutura, a situa«;ao terapeutica esta chela de ciladas .
( formac;ao segundo a sua .pr6pria lrrtagem. · Esta; ' tenc;tAncta,· e, ·nat1J!8lmen• Com efeito, ela coloca em presenc;a duas pessoas; das quais urtui · esta
( te, muito forte. Com efeito quem quer que goze de um certo grau de satlsfa- · privada, e numa medida as vezes extrema, de satlsfac;iio emocional, e a
c;iio e de sucesso e 1nc1inado . a; ·pa;ssa;r sua ·receita ·aquele ·Que-· .e sta ' des-·:··
outra manifesta um calor e uma compreensiio que a primeira talvez nun-
( { provido ·de ambas ·as colsu ,_ Isto ocorre sobretudo quando ··e.' expressa-
ca tenha encontrado . A atitude incondicionalmente acolhedora de uma,
:mente consultado em rela;c;iio a.manelra de reallzar ' estes .valores . torna mais aguda, .portanto, a fome afetiva da outra . Em tais condic;oes,
(
A intenc;ao subjacente a este desejo de transmitir os processos que opera-se, quase inevitavelmente, uma polarizac;ao a~uda de. sentimentos .
( se revelam eficazes em relac;ao a si mesmo e, sem duvida, louvavel. Esta Isto e um encadeamento completamente natural e que nao exige nenhu-
( e .a f6rmula de assistencia · a qual se recorre, naturalmente, quando se ma explica~;ao complicada por melo de fatores psicogeneticos distanU!s
trata de realizar quatquer outro bem, isto e, qualquer objetivo. Pols, mes- como os que fornece a psicanalise. (Em certos casos, tais explicac;oes po-
c , mo as pessoas de formac;ao psicol6gica, a;s quais, deveriam estar lmpreg- dem, evidentemente, ser perfeitamente validas e ter uma utilidade muito
( nadas, e nao simplesmente lnformadas da subjetividade da experiencla, real para as necessidBdes te6rioas . ) Ora, uma polarlzaQiio semelhante po-
agem,· na maior parte, como se a felicidade. a p~ interior, a satisfac;ao .de estabelecer-se, igualmente, por parte do terapeuta. A natureza dos
( pessoal, fossem fenOmenos objetivos, que pudessem ser realizados a par- sentimentos em· causa, .nao e, evidentemente, a mesma que no cliente, ja
(
tir de f6rmulas determinadas. que o terapeuta, como acabamos de pressupor, nao se encontra em um
Em termos mais positivos, .pode-se descrever esta primeira quali- estado de frustra;c;ao aguda.
( dade, como a capacidade e a vontade au~ntica de servir - nao de guia, Infelizmente, no terreno dos sentimentos, como em qualquer outro
( juiz ou modelo - mas, simplesmente, de caixa de ressoniincla e de am- plano, a atitude de abandono por uma das partes, incita a outra a uma
plificador dos esforc;os do · cliente para se reorientar. Ou ainda, e a ca- tomada de posse . 0 cliente acaba, facUment!3, por ver sua salvac;iio apenas
( pacidade de se pres tar, enquanto pessoa, .as necessidades do indlvfduo em na pessoa do terapeuta, e tende a entregar-se a ele sem reserva, ofere-
( confiito, empenhado na procura de si mesmo . cendo-lhe, niio somente o .ponteudo mais profundo . de seu pensamento,
~ Quanto a se~da qualidade, e mats especiflcamente afetiva, ainda mas, tambem, o abandono mals crucial de suas prerrogativas de julgamen-
que tambem esteja mpregnada de razao, e pressuponha um compromis- to . Pode-se dizer, sem exagero que, em certos casos, o cliente pratica-
so de toda a personalidade. :£ a capacidade de se comportar de m&neira mente implora ao terapeuta para que este tome em suas miios sua per-
"asseptica", no estabelecimento a na conservac;ao de la;c;os afetivos estrei· sonalidade e seu destino, e de ' que os molde a seu bel-prazer . Ora, qual-
tos, p~rem subordinados a um fim que os ultrapassa. Mats preclsamen- quer homem, exceto aquele que atingiu um grau elevado de maturidade
te,. e poder de e.xperimentar e de comunicar sentlmentos autenticamen-
o e .de integridade, sera sensivel a esta homenagem verdadeiramente su-
ta calorosos, sem que estes· se transformem sub-repticiamente em uma
lll
(
(
(
prema, e se deixara embalar pela ilusao de que esta a altura de aceitar dade de situac6es carregadas de emocao, ao mesmo tempo que mantem
(
um tal "mandato". Reconhecamos que, exceto em casos excepcionalmen- sua eficacia terapeutica e seu bem-estar . pessoal .
( te raros, esta "gerencia" do pensamento e da vontade do cliente, por par- Tudo isto pressupoe que o terapeuta tenha escolhido e exerga sua
( te do profissional, e feita sem e~ilculo . Niio ha duvida de que, aceitando profissao porque a considera util, eminentemente digna de esfon;o e em
esta homenagem, o terapeuta medio esta animado de intencoes funda- harmonia com uma concepcao elevada do homem e das relagoes huma-
( mentalmente generosas . Contudo, o simples fa to de aceita-la, prova que nas. Se se agarra a esta profissao por que ela lhe da a oportunidade
carece de. maturidade emocional e competencia profissional. A "genero- de parecer importante, forte, sabio, enfim, superior, e pouco provavel
(
sidade", que nao esta acompanhada de maturidade, e multo pouco sus- que podera desempenha-la com a "assepsia" que ela exige.
( cetivel de produzir resultados satisfatorios. Isto, ao menos quando se
exerce em terrenos extremamente delicados e complexos como o dos sen- Isto, no entanto, nao significa que seja necessaria, ou mesmo de-
( tinientos. sejavel, que o terapeuta permaneca indiferente aos sentimentos positivos
( que o cliente demonstra ter para com ele. Mas, para que ele possa ser
Quando se considera o papel do terapeuta a partir de angulos cru- considerado como emocionalmente maduro, · e necessario que a satisfa-
( ciilis como estes, verificamos o quanto a tecnica esta subordinada as ati- cao que experimenta ao se sentir importante na economia presente do
( tudes, e a formacao a personalidade. Pois as dificuldades afetivas sao dlferen-. cliente seja subordinada ao desejo de perder esta mesma importancia,
tes· em cada caso . Isto quer dizer que o treinamento mais completo nao po- a medida que o cliente descobre a satisfacao de ser e de se sentir auto-
( deria equipar o terapeuta com as tecnicas . necessarias para interagir de nomo. Pols, se o processo e fecundo, o cliente chega a considerar os
urn modo ao mesmo tempo fed.mdo e "asseptico". Nao e principalmente o Iacos que o ligam ao terapeuta como slgnificativos, sem duvida, mas cla-
(
conhecimento, nem a habilidade do profissional que tern mais valor no ramente secundarios.
( trabalho terapeutico. E a sua integridade pessoal.
( Alem da estabilldade que decorre da satisfacao das necessidades fun-
( damentais, a maturidade emocional pressupoe a seguranca interna. CCon- § VI - Compreensao de si
sideramos como certo que a seguranca externa, economica do terapeuta.
( csta assegurada. Se nao o esta, isto e evidentemente, uma Jonte de se-
Tomou-se urn Iugar comum dizer que as pessoas veem o mundo
rios obstaculos) . A seguranca interna permite ao terapeuta ver as vicis-
( pelo prisma de sua personalidade. Esta af'rmagao e valida igualment~
situdes do processo na sua propria perspectiva e conservar a equanimi-
para os terapeutas. Estes cometem com facilidade o erro de acreditar ""
( dade ante as oscilagoes inevitaveis das atitudes do cliente. Assim equi-
que urn dlpl9ma de psicologia - ou de uma ciencia conexa - confere
pado, nao se deixara desviar nem perturbar pelo desenvolvimento ines-
( automati((amente a seu possuidor uma compreensao aprofundada de si . ,.- (
perado e angustiante que nao e raro neste tipo de trabalho. Acontece,
mesmo. Para os que adquiriram urn melhor conhecimento de si, por via :( ?
( com efeito, que o processo se revele tao . dificil para o terapeuta quanto
terapeutica ou outra qualquer, e interessante olhar para tras e constatar ·
para o clienta - ainda que, evidentemente, de uma forma diferente. 0
( o quanto era estrelta a compreensao que tinham anteriormente de si mes-
caminho que conduz a reorientacao de uma pessoa em conflito e sinuoso
e dificil, e aquele· que dele partilha esta exposto a uma extensa gama de mos, apesar da impressao que tinham dP s~ conhecer .
(
provas emocionais. 0 cliente pode manifestar uma conduta que parece Se e verdade qtJ.e 0 "instrumento rn·incipal do terapeuta e a SUI'!
( pressagiar urn "desmoronamento"; pode amea9ar abandonar elementos vi- -.Jlg~sonalid~" (117), conclui-se que o conhecimento deste lnstrumento i
tais de sua existencia - sua familia, sua situacao, seus estudos; pode par aquele que o utiliza, e de irnportarda primordial. Com efeito, que
(
fazer alusao ao suicidio, a violencia, ou dirigir sua hostilidade contra o se poderia esperar de urn artesao que nfio conhecesse as possibilidades e, :
terapeuta. portanto, os perigos dos instrumen Los de que se utiliza? Esta ques-
0 terapeuta deve igualmente poder enfrentar periodos estereis, quan- tao alcanca suas verdadeiras propor.;oes quando se considera que o ins-
do sua acao nao tern efeitos visiveis ou quando o cliente passa e repas- trumento do qual !alamos e utilizado sobre urn material humano: a ex-
sa os mesmos temas, aparentemente insignificantes, obstina-se em man- ~I1~ncia do cliente e, potencialmente, seu futuro e seu destino .. E como
( tal, este gene~o - de . materlal ··=--de experienc1a ' individual - e uma fonte
t.Pr uma atitude dependente, ou impede o desenvolvimento normal do pro-
~~Psso. Por outro !ado, o terapeuta deve ser capaz de manter o equili-
de problemas, nao somente porque e infinitamente complexo, mas por-
( que e ambiguo e, necessariamente, lncompleto. A experiencia cotidiana
hrio ante a adulaGi'io de que e, as vezes, objeto . Sem urn 'grau elevado
( de seguranga interior, o profissional nao e capaz de afrontar tal varie- mostra - e a psicologia experimental o confirma abundantemente - que
113
112
que al:;o adquirldo . Co!1t 1..ldO, e bern possivel que a • persegui«;;ao · sincera
a percep~;ao de todo material de carater complexo, ambiguo e incomple- de ta.l ideal seja suficiente para. produzir· efeitos . multo apreciaveis .
to, IS feita, em larga eiScala, em tun~;ao da personalidade daquele que o
percebe. Este e, alias, o . principia dos testes projetivos . Urn determina- Qual o tipo de conhecimento de si que deve ter o hom terapeuta?
do material ..:... manchas de . tintS., esbo~;os de desenhos, imagens fluidas A resposta te6ri<;a, tal como se apresenta ao terapeuta rogeriano,
- IS ap;resentado ao individuo, e pede-se que ele o organize de maneira esta descrita no epUogo des'ta. obra:,..Q.JUnciopaJP.,e.P.tO _~tlmo da perso-
plausivel. Ao faz;er isto, o cliente projeta, neste material plastico, certas nalidade. Antecipando urn pouco do seu conteudo, digamos que nao . se
tendencias. caracterfsticas de sua organiza~;ao interna; Em outra5 pala- - t~ata;-em absoluto, de urrta lmaget;n intelectual do eu, mas, antes, de
vras, suas respostas levam o seio de · sua pe_rsanalidade. qualquer coisa de vital ou de exlstenpial. l!l urn co~e.ctmento do ~e.u__ ..t.~l
c.o~p__ele_age,.,_a_11._ada moinento, na sltua~;a;Ttneiiiata . como nas paJavras
Por sua pr6pria natureza, as comunica~;oes do cliente conduzem a CieRogers: e uma '"abt;rtura:t;O.isianie . A e~eriencta. . -'
- - , •
-- ·---···-· - ·-~·~ ... --.- _...... ~ -.. . ~ ...... -~--·~ . ··- ·-· .. . ' ' .
certos erros de percep~;ao. Se o terapeuta ignora as tendencias sistema-
ticas - fontes de erros sistematicos- de sua percep~;ao, ele_ ~ incapaz q~ Esta compreensao de si esta, port~to, no lado oposto do·1 conhe-
reaUzar as corte~;l5es . necessarias. Em outras palavras, se nao tern ·co~­ clillento gen~tico-hlst6rico que decorre do exame do eu em fim~;ao de
ciencia das atitudes e necessidades dominantes que determinam suas if.~ ce~ teorias psicol6gicas . · Semel~te a.ventura intelectual pode ter seus
clina«;;l>es e aversl5es, seus ·preconceitos, temores e desejos, e incapa:?~ ~e merttos. Mas, para as. extg@rtcias .da acao interpessoal concreta e lme-
fazer uma representacao realista das coisas que lhe conta o cli~IJte . Na diata, seu valor parece duvidoso. A compreensi'io que resulta de urn exa-
'penumbra psicol6gica em que opera, cometera muitos erros as expen- m{' .tetrospectivo deste g@nero . e demaslado hipo~ica, demasiado te6ri-
( s&s do cllente: · ca, demasiado chela de palavras e de no~;l5es "erudltas" para ser de uti-
Udade pratica na discussao das sttua~;6es humanas quase sempre humil-
( '
Uma co~preensao aprofundada de .s i mesmo nao e, evidentemente,. des das quais se compl5e o relato do cliente. Em vez de facilitar a lmer-
( · tAo imperatlva para. o terapeuta empatlco rogertano, quanto para o que sao no mundo subjetivo do outro, tal conhecimento. tende a erguer uma
assume as fun~;l5es de avalia~;ao, explora~;ao e do interpretacao -... e,· por- cortlna intelectual entre a experi6ncla imedlata e a apreensao desta . Ora,
( 0 ti'einamento para. a.icancar urna apreensao correta d~ experlencia ime-
tapto, de direcao do cliente . Pelo fa to de qp.!L!)_r_oge~ano se esforca pa-
diata e precisamente a opera<;ao crucial da psicoterapia.
( '~""' ~ ra agir e:ltcluslvamente no contexto do cliente, os rlscosae.e!'fO'SlD,Sem
;II ( di1vida; -coiisiaeravelmente menores do'-que:BeagisSe· ~-partir:-cioseu ~-pr6:
pri~. __cont~ '"'Em- outras-palavras; ·c,s ' riscos - de~~erro ~se' elevam . quanto
I (I
( mais o pi'ocesso · se apoie sobre fatores tats como · as percewoes e as '9 . o- .
teorias do proflssional. Da mesma Jorma eles sao tanto menores quanto ._.,)J-..'';'. ('·.,_.- .,'•, ''
mais o processo se baseie sobre a expeTiencla viva e imediata do interessado~
Apesar de que uma abordagem empatica reduza consideravelmente
os perigos de "contagia" interpessoal, a compreensao de sl continua como
( urn ·atributo Impqrtante do terapeuta. Com efeito, a adesiio intelectual,
mesmo a mais entusiasta com relacao aos principios de urn dado metodo, nao
garante a pratica destes principios ao encontrar-se o individuo ante a
'I( realidade concreta . Como acabamos de ver, a · 8doci'iQ do ponto de refe-
!II c I
rencia de outra pessoa .ni'io e uma que8ta0 · de conviccao. ou de de_termi- /
~. Nio e o reeultado de uma c0mpet1Qio. lt o lresultado de urn pro-
Ic
(
cesso de cresclmento s6cio-pslcol6gico - camo.. e o. tlpo de te~apia que
se esfor~;a para servir. Enflm, pode-SA perguntar se ·a pratica integral
e cons~ante de tiio novos principios de 'interacao huma.na - pelo roonos
em sua aplicaQio, se n~ na sua l,rispirac;ao - esta ao. alcance da gran-
. de maio ria das pessoas. De minha parte, penso que e dar provas de urna
I: excessiva seguranca, senao de ingenuidade, alguem_ considerar-se repre-
sentante puro da abordagem rogeriana . Ni'io h4 dtivida tie que, para
muitos de seus 8deptos, esta f6rmula de int~a«;;ao e mats urn ·ideal de
115
114
(
(
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(
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I
( Capitulo VI I
i
(
(
c
( A BELACAO
( ,.,,
( I - Alguns pontos de vista psicoterapeuticos '·
( Todos os autores contemporaneos concordam ao sublinhar a im-
( portancia da rela~iio existente entre o terapeuta e o cllente. Examinan-
do o problema, ve-se, contudo, que eles niio falam a mesma linguagem.
( Com efeito, o termo "rela~iio" e uma destas palavras "que a tudo se adap-
( tam", e sao demasiadamente encontradas no vocabuhirio psicoclinico, po-
dendo referir-se a no~oes muito diferentes, ate mesmo incompatfveis .
(
A guisa de introduc;;iio, passemos em revista, rapidamente, algumas
' ( "noc;;oes gemeas", empregadas correntemente para caracterizar os polos
(( em torno dos quais gravitam os diferentes pontos de vista psicoterapeu-
ticos. (Algumas destas noc;;oes seriio apresentadas sob seu nome de ori-
c gem - alias tao facil de serem compreendidas quanto diffcil de serem
traduzidas sem Utes alterar o .sentido. >
,'\ (
( ·"Relationship Therapies" e "Insight Therapies"
( As abordagens que pertencem a primeira destas categorias atribuem
o fenOmeno terapeutico essencialmente a relac;;ao. .As que se agrupam sob
( a categoria "Insight" o expllcam, principalmente, pela explorac;;iio e inter-
( ,pretac;;ao do inconsciente. Estas duas explicac;;6es niio se excluem, no en-
tanto. Em todos os casos de tratamento bern sucedidos elas se unem:
( a relac;;iio entre cliente e terapeuta e sentida como excelente, e uma quan-
tidade varia vel de material inconsciente e explorado.
(C
( .......
(
(
( Para que estas noc;oes possam servir de criterios validos e necessa- Teraplas de orient&9io existenclalista e de orient~ao intelectu::.Usta
ria que elas sejam precisas . Por urn lado, importa saber o que da urn
( valor terapeutico a relac;ao. Esta questao 6 -objeto da segunda se<;ao .des- Por sua vez, estas denominacoes caract~rizam - de urn modo, alias,
( te capitulo, que trata das qualldades da relac;iio. Por outro lado, e ne- em Iarga escala, paralelo ao anterior - as principals correntes que mar-
cesslirlo espP-ciflcar quem se incurnbe das func;oes · de explorac;ao ou.' de cam o terreno da terapia.
( tnterpretac;ao, se o terapeuta ou se o cliente.
0 profissional de orientaciio intelectualista manifesta uma predile-
( A classificac;ao seguinte responde, rapidamente, a ·esta questao . c;ao pelos metodos de analise de deduc;iio e de inferencia. Julga que sua
( tarefa consiste essencialmente em descobrir e em demonstrar as rela- ·
c;;oes mariifestas ou escondidas, existentes na experiencia do individuo .
( "Client-centered Therapies" e "Therapist-centered Therapies" 'Alem disto, este terapeuta utiliza-se, de . born grado, do vocabub1rio psico-
( 16gico · na sua interac;ao com o ·cliente.
A questao de saber quem se faz de interprete .d o inconscient.f pa-
( rece simples, seja este essencialmente o terapeuta, seja essencialmente o 0 profissional de orientacao existenciali.sta, ao contrario, evita cui-
( cUente . Convem dlzer "essencialmente" porque, em toda a relac;ao qUe me- dadosamente · todo o usa de analise, de deduc;iio ou de linguagem tecnlca.
rece ser chamada terapeutica, a tn~erpretac;ao e o fruto de urna colabo- . lHio. porque se oponha as operac;oes intelectuais . Antes, pelo contnirio,
( rac;ao ..:... ' exceto nas variedades-choque ..(choque verbal), dos quais a ~e como o demonstram, par exemplo, o nllmero e a importftncia dos tra-
Rosen (100) e, sem dt,ivida, a mais pronunCiada. No entanto, qualctuer balhos te6ricos e de pesquisa do grupo rogeriano. · Contucio, este ·tera-
(
que seJa esta colaborac;ao urna das partes represents geralinerite o· papel peuta distingue claramennte entre as exig@ncias da p.ratica e aquelas, mul-
( da agente, a outra, o de auxillar. Isto nao quer dizer que e excl~i"a­ to diferentes, da teoria; do ensinamento e da pesquisa . Em outras pa-
mente o agente que realiza e a profunda as interpretac;6es. Com relagiio lnvras, ele · se ·esforc;a par separar o processo pslcol6gloo ..;.... de interac;iio
( a · isto, h& urn certo emaranhamento dos papeis. . · e de· mudanc;a de atitude!! - do processo academloo de descrir;;ao e de
( investigac;8o . Par serem estas Ultimas operacoes intelectuais, requerem
o emprego de metodos · intelectuais . Mas, a terapia em si, a modifica-
( TJ~l emaranhamento sendo reconhecldo, pode-se afirmar; sem hesi-
r;ao da economia emocional, sem1 o urn processo vital - uma especie de
tagao que, no que diz respeito a terapia rogerlaria, e sabre o ctiemte "metabolismo experiencial" - desenvolye-se segundo suas pr6prias leis.
( que recal a tarefa de 'dlrigir a explorac;ao do eu e de P,rOpOJ! a. interpretagao A natureza destas leis e multo pouco conhecida, .mas, nao e, evidente-
do material assim descoberto, ou, antes, as interpretac;oes deste mate• mehte, r;ie ordem . primordialmente intelectual. Par isto, o recurso a 16-
rial. Com.. efeito, a signlficac;ao dil. experiencia, varia~do com o grati de gica e a abstra~ao serve apenas para desviar 0 curso do processo: de
coinpreensao de sl mesmo . (ou, se se .prefere, com o nivel .de 'anffllstia), vital que devmia ser, torna-se verbal, isto e, simb6lico . Em vez de trans-
acohtece com freqii~cla, no decorrer do processo, que o cllente mo- formac;;i!o, niio ha mais que informac;ao,.
(
diUque muitas vezes sua tnterpretac;ao de urn dado ·material e£Periencial .
( Esta exposic;ao das linhas de forc;P ·· r psicoterapia contemporanea
( nos da uma ideia das divergencias ide;;·, ;,1)as que nela se encontram
Nas outras abordagens - e sempre levando em consid,erac;ao o ema- 0 carater ·bipolar ae sua apresentacftO nao sugeri.ra, esperamos, que ·~
ranll&mento dQS papeis que aca~amos de assinalar ...._ t§ 0 ~rapE~Uta que · psicoterap1a csta dividida em dais campos bern delimitados . Nada seria
• se encarrega das func;OeS de interpr:etac;iio. ror isto estas al)ordagen,S po- mais alheio a realldade dos fatos, complexes e confusos . Sem duvida, as
( dem agrilpar-se,· al~m das diferenc;as que separam suas mUltiplas varie- posic;6es delineaaas, correspondem a abordagens realmente existentes.
dades, · ~ categoria de "therapist-centered". Mas elas representam os pontos extremos de . uni continumn que apre-
( ' .
Notemo5 que o vocabulo "therapist-centered" tende a ·indispor os senta numeros~ escalas .
~iooais que pertencem a .oa.t;esoria designada por ele . Est-es Pe.rec ~m
ftl' no tenni> ·uma otena ao ·ca..ater desilitei-esaadO ou "d:mtacrait.·oo" de ~ sao as conseqii@ncias deste estado heterogeneo, seniio con-
'· . . . . . . . . . ·- . . .
sua abordagem , Em verda~. este termo nada .tern de d~rec•ativo. Con- fuso, no que se refere a nosso tema: a relac;ao?·
(
tudo, na prat:ca. esta denomina.c;io · ~. sem d:UVida; ~eerril.r uma nota
( crttica;. notadamente no caso em que o profissiomii s~ atr"oga prerrogativas Se a noc;ao de psicoterapia e conceb!da de maneira tao diversa, €
que pertencem manifestamente ao cliente. ·' inevitavel que a noc;ao de relac;ao participe desta diversidade, ja que a
(
(
(
( a seu benfeitor sao, geralmente (ou pelo menos temporariamente), po-
significa~;ao da parte e fun~;ao do conjunto ao qual ela pertence . Nao sitives - sentimentos de afeto, de gratidao e de devotamento, que po-
esta claro, pols, a que. se refere a unanimidade, real ou presumida, dos dem ir ate a identlflcac;ao, a dependencia e a submissao totais . No en-
terapeutas, no que concerne a importancia da rela<;ao . tanto, peJa natureza da · estrutura em que se inscrevem, estes sentimentos
Tentemos esclarecer a questao e, ao mesmo tempo, familiarizar- sao suscetfveis de se acompanhar de tonalldades negativas - de anglis-
nos com uma no<;ao de importancia central em rela<;ao a terapia rogeriana. tia, de ci\lme, de rev.o lta - e suscetfveis de se alterar ou mesmo de se
inverter, sendo substituidos o amor e a dependencia, pelo 6~io e o res-
sentimento. Alem disso, a , expressao destes elementos negativos e sus~
cetfvel de · se "tra~ferir"; quer dizer, de se dirigir a outras ·pessoas
que nao o seu pr6prio .objeto, au seja, o benfeitor. Os imprevistos que
§ .U - Estrutura e qualidade da relac;ao psicoterapeutica costumam acompanl:lar os sent~mentos. que se llgam a uma rela<;ao de
estrutura hierlirquica verificam-se .com demasiada freqi.ilmcia - qualquer
Por mais singular que possa ser, toda rela<;ao interpessoal partl- que seja a natureza da. assistel)cla, ,material, psicol6gica ou polftica, e qual-
lha r.ertas propriedades com toda outra rela~;ao interpessoa~ . El!l mani- quer que seja o p~ano, , lndi:Vidual; familiar au internacional, no qual esta
fests certas caracteristicas tundammtais que formam sua estrutura QU. assistencla e fomecida.
arma~;iio, e certas qualldades afetivas cuja variedade da a rela<;ao sua cor
( individual e, muitas vezes, seu valor humano . · Suponhamos; par outro !ado, a relac;iio existente entre colegas ou
A estrutura define a rela<;ao em termos de seu ob!eto, de sua fina- companhelros de trabalho <trabalho que devemos supor como de or-
(
lidade e dos papeis das partes empenhadas. Do ponto de vista do objeto dem niio competitlva) . Em igualdade de cond1<;6es, as sentlmentos que
( e da finalidade, as rela<;6es podem variar ate o infinito. Do ponto de vis- acompanham uma relac;ao deste tipo · estrutural tenqerao a ser favorave~s.
ta dos papeis, elas podem se classlficar em uma serie de categorias des- moderados e estliveis - sentimentos de liberdade, de respeito mutua, de
(
critas como: hierarquica, igualitliria, autoritaria, profissional, variavel, es- solidariedade, de satisfac;ao tranqi.iila e igual. Uma tal rela<;ao, Ionge de
( tavel, intermitente, etc . A estrutura da rela<;ao e fundamentalmente in- admitir imprevistos socials, tanto para as pessoas envolvidas, quanto para
dependente das qualldades afetivas que a acompanham. Assim, as re- outras pessoas, e de natureza a facilitar as relac;oes que as pessoas tern
( la<;6es existentes entre pais e filhos, entre empregadores e empregados, com os demais.
( entre professores e alunos, podem acompanhar-se de sentimetitos positivos
ou negativos sem que a estrutura da relagao seja afetada . Por outro !ado, 0 efeito da estrutura sabre as sentimentos e, conseqi.ientemente, so-
( existem relag6es, como as que se dao entre amigos, cujo estabelecimento bre as qualldades de uma relac;ao pode, pais, ser consideravel e mesmo
e continua<;ao dependem inteiramente da natureza das qualidades afeti- sistemlitico, no sentldo de que certas estruturas tandem a suscitar certos
( sentimentos.
vas . Se estas qualidades nao sao sentidas como positivas, a rela<;ao dei-
( xa de existlr - ou perde sua significa<;iio, o que vern a ser a mes~a coisa Por ser a anlilise da no<;iio de estrutura de urn interesse mais te6-
( por mais adequada que seja sua estrutura . rico, n6s nos limitaremos nesta exposl<;iio a descri<;ao das qualldades
~ rela<;iio psicoterapeutica.
(
A relagao e.n tre terapeuta e cliente pertence a esta ultima catego-
ria. E, pois, urn tipo de rela<;ao em que a significa<;ao e os efeitos sao
Nao e dlficil eiltrever que, ao nfvel da linguagem, uma determi-
( determinados por certas qualidades - ou verdadeiramente terapemticas,
nada qualidade pode ser atribuida a rela<;oes que, tanto do ponto de
au simplesmente sentidas como agradaveis e estimulantes . vista de sua estrutura, como do ponto de vista dos sentimentos real-
Pode-se acreditar que seri&. suficiente, portanto, examinar unica- mente experimentados, sao extremamente diferentes . Por exemplo, as sen-
( mente as qualidades da relagao. Contudo, o que complica a questao, e timentos que existem no selo de uma relac;iio de total dependencia tal como
( que a natureza das qualidades ou sentimentos que se vinculam a uma a que une a crian<;a pequena a sua miie, podem ser designados pelos na-
determinada relagao e geralmente afetada (e, as vezes, determinada) peta mes de afei<;ao e de confian<;a . Par outro lado, estes mesmos nomes po-
( estrutura. Ilustremos este ponto com uma comparagao entre duas rela- dem se aplicar · aos sentimentos que caracterizam a rela<;ao de indepen-
( G6es de tipo estrutural multo diferente, uma nitidamente hierarquica, a dencia fundamental que existe entre amigos que ja atingiram a maturi-
outra fundamentalmente igualitaria . dade mental e emoclonal. Ora, no caso da crian<;a, o afeto e a confian<;a
,( sao baseados no afuor, na ajuda e na proteQao que ela recebe de sua mae
Suponhamos, por urn lado, a rela<;ao existente entre urn benfeitor e .e na percep~ao que tern da onipotencia e da onisciencia deJa . No caso
( scu protegido. Os sentimentos que o protegido experiments em re!agao
( 121
....
-
) (
dos amigos, estes sentlmentos se baseiam ou no conhecimento reciproco Antes de passar a desciic;ao destes atributos e a fim de evitar qual-
experimentado, ou nurna similitude . de gostos e de valores, ou em qual- quer confus~o . entre . a rloc;iio espeeificamente terapeutica de uma boa re-
(
quer outra forma de compatib1lidade . intelectual e afetivll. . . Vemos, pols, Iacao e noc;oos parecidas, assinruemos as seguintes diferenc;as . o tipo de
que certos sentimentos podem ser·· indicados pelos mesmos nomes quan- relac;iio de que aqui. se trata nao pode .ser confurtdido com 0 tipo de re-
( do, na realidade, tern multo pouco , em comurn. . A identidade d.as .qua- lac;ao existente entre pais e filhos, com seus iac;os afetivos profundos e
liduoes pode ser, pols, slmplesmente'.nominal, nao _real ou experimentada . duradouros, .seu , devotamento ilimitado .e seu total compromisso. Nao e
( tambem o tip() de. relac;iio que existe entre amigos . Com efeito, ainda
De qualquer forma ' a ' unaniinidade real ou presumida dos terapeu- que igutlitaria, ( acima . das diferencas . do . papel de cad a uni >, ela exclui
tas a respeito da · relac;iio, niio · parece ·multo substartcial. Sem dtlvida, to- a recipr~idade que .existe ou que pode .existir entre amigos. Nao e.. mui-
( da relac;ao; · sentida como boa,' deve ter cei:tos ·'elementos · em ·comU1n com to. meno$, a relac;a() de medico. e doe.n te com, . de' .urn. lado, a responsa-
qualquer outra relac;iio sentida como bOa : Petb menos urila' d.as partes billdade 'tompleta: pelo . ,exame . Pel~ . ~rata:mento e, de outro a confianc;a
e.
( comprometldas' encontra nela . ou ' uriia certa satisfa<;ao, au urn certo re• pr6xirna .4o abanqono e da submissa9. A llsta poderia ser estendida . As-
( conforto ~ interesse, ou 'qualquer butrb serttiinerito ·agradavet · ou provei• sim, nao 1 a relac;ao que existe''entre compariheiros cie trabalho; uma tal
toso. Contudo, tais ~entiinentos nio seriam :stificientes para produzir. ·efei• colabprac;iib pressupeie, geralmente, urn objeto exterior S: personalidade
( tos: ' tei:ap~uticos. ·' · · :" :" · ·
. ' !· dos indivfduos. Na. sltuac;ap terap!utica, o cliente e, ao mesmo tempo, o
( objeta e. o . agente . lm!im, . na.o e ·a relac;ao de transferencia, caracteris-
Se assbn fosse, a : terS:pia como atividBde profissional niio · teria tica da terapia pslcanalftica, na. qual o cllente deve perceber o terapeuta,
razao · de ser ; Coin · efeito; ' o · comerciante esclarecido, o politico; o ator; pelo menos durante as pr.meiras fases do processo, como .uma figu.r a im-
todos · eies visam provocar · sentimentos deste · gener'o no consumidor, no portantlY de .eu pas~ado, como urn dos pais ou qualquer outro represen-
(
eleitor ou no espectador : · Alem · disso; e · com mais ·· forte razao, urila tal tante da autoridade ·
( d~finic;iio vaga e quase senihnerltal ' implicaria que toda relac;iio, sentida
como agradavel ou interessante, seria terapeutica . Ora, a experiencia con-
( tradiz isto, ja que estes sentimentos podem ser encontrados tanto nas
( relac;oes perniciosas como nas relac;6es beneficas . ·.
1. COMPREENSAO.
( Dizer que a relac;iio entre o terapeuta e o cliente deve ser boa, niio
e, pais, suficiente. Trata-se . de especificar liS qualidades de uma boa re- A condic;ao primordial do dialogo terapeutico, como a de qualquer
( outro dialogo, e, sem dtlvlda, que as partes nele empenhadas se com-
Iac;iio . Niio simplesmente dar-lhe urn nome . Isto os terapeutas sempre
( fizeram , Na lltei:atura psicoterapeutica contempora.nea, os termos em vo- preendam. Esta condic;iio e de tal modo fundamental, que se pergunta se
ga sao: tolerancia, calor, seguranc;a, . compreensiio, aceitac;ao e respeito . e possivel variar sensivelmente de urna forma de terapia para outra . No•
( 0 seu emprego, par outro lado, tern sido tao excessive que estas pa- entanto, e precisamente no nfvel da compreensiio que se acha uma das
lavras perderam sua forc;a, sua : capacidadE: de despertar atenc;ao e de in- diferenc;as mais rnarcantes entre a abordagem rogeriana e qualquer ou-
citar a curiosidade . · Chegaram a representar os lugares-comuns da · lin- tra ahordagem.
( guagem profissional. No entanto, deve-se acredita~ que, em ' eonjunto, elas
tern o poder de evocar, tanto no espirito do terapeuta quanto no do clien- Observemos, inicialmente, que o termo "compreensao" e tornado aqui
( no seu sentido essencialmente cogrutivo, referindo-se a apreensii.o do sen-
t~, uma noc;iio global de urn sentimento positivo, ainda que aparente-
tfdo das palavras ou de outros meios de expressao empregados pelo clien-
( mente nebuloso.
te. A Uteratura psicoterapeutica emprega com freqiiencia o termo "com-
( Se a relac;ao e tiio importante, merece ser mais · bern definida. 0 preensao" para fndicar uma atitude essencialmente afetiva, simpatica e
resto deste capitulo apresenta urna tentativa de descric;iio dos atributos acolhedora, &emelhante aquela que se define aqui sob a noc;ao de calor .
(
essenciais de uma relac;iio terapeutica tal como a concebe o rogeriano. 0 essencial daquilo que se deve observar a respeito da compreen-
Ainda · que estes atributos teriham urn carater sensivelmente dilerente da- sii.o, tal como aqui e concebida, ja foi mencionado sob a noc;iio de "empa-
( queles que se encontram geralmente sob esses mesmos nomes, nos abste- tia". Porem, como esta forma de compreensiio e bastante rara, seria
remos de introduzir urna serie de termos novos . Isto significa que a tltil nos determos nela mais longamente a fim de evidenciar o que e pr6-
( apresentac;ao que se segue utilizara os vocabulos: respeito, tolerAncia, com- prio de seu carater . Com este fim n6s a compararemos com as formas
preensao e aceitac;ao. (Ja tendo sldo apresentadas as noc;oes de seguran-· de compreensao mats familiares e vejamos, ao mesmo tempo, a parte que
ca e de calor.> cabe ao rogeriano em cada uma delas, na sua interac;iio com o cliente.
(
(
122 12.q
.) -
(
(
(
nivel de cada urn destes tipos . No nfvel puramente verbal ou descritivo.
( Revend.o as diversas formas de compreensao, reconhecemos, logo de
o .dado poderia ser asslm enunciado:
lnfcio. duas categorias que, ainda que conjugando-se coritinuamerite, dis-
( tinguem-se, no entanto, por uma caracteristica marcante: seu carater X, o estudante de aparencia seria que geralmente che-
( verbal ou nio-verbal'. ·' , ,,. " ·· · gava atrasado a aula, acaba de aba~donar seus estudos.
( A eompreenalo nlo-verbal ou flslon6mlca. Esta representa uma for- Um dado como este pode, ou simplesmente despertar uma leve aten-
ma lmediata e, em certo senttdo, primitiva da compreensiO. Consiste em · Q&o, ou deixar o espirito num estado de suspensiio ou de tensiio, segundo
( ' apreender alguma coisa da expertencia do 'outro, a partir de um conjun- o interesse que se tenha por X. 0 carater superficial e incompleto do
( to de stna18 ffslcos u vezes sutfs - expr~ do · rosto~ da voz, ·.dos · ges- tipo de compreensiio que disso resulta, niio satisfaz manifestamente as
tos, da postura do 'COrpo. Estas marilfes~()es l'evelam, mtlitas Vezes . ine- necessidades da inteHg6ncia.
( lhor do que as palavras, e as vezes de · mOdo contr&rio· a estas, certos
estados lnferlores, sobretudo ·afetivos. Ainda que global · e tnartictilada, Compreensio · loglca. Esta forma se distingue da anterior porque
( comporta ou implica certas rel~oes de causalidade ou; pelo menos, de
esta forma de comunic~iio representa um meio : poderosb a servi<;o da
( rel~iio. Os mecanismos psicol6gicos que ·· eta faz iritervit' niio sio 'Binda seqUencia 16gica. Transposta a este nivel, nossa compreensiio do caso de
bern conhecidos, mas sao objeto de um intereSse ' crescente' por ' parte X p0deri8 apresentar;.se dK segutnte forma:
( dos pesquisadores. Este modo bilaterai de compreensio atua prlncipai- X !oi obrigado a abandonar seus estudos por ordem mt\-
( mente onde a rela~;iio e estreita e positiva . Por · tsto constltul ·um awd- . dica em virtude de estaf.a. Atem de seus estudos universita-
liar precloso da terapla, ao facilitar · ~ acentuar · as forinas de comunlca- rios, tinha dois empregos, o de contador em uma firma indus-
(- cao mats articuladas, verbals. trial e o de . professor de curso noturno. :1!: casado e pai de
( Tlpos de eompreensio verbal . Sem se representar a compreensiio ,dois filhos.
( como alguma coisa com compartlmentos, podemos distinguir nela dl- · Neste nivel, a compreensiio engloba elementos que nos mostra o
versas especies que merecem ser alinhadas e examinadas rapidamente. dado, seja em termos de clrcunstancias e acontecimentos observaveis (co-
( Primeiramente, existem as forma.S gerais, lntelectuais, da compreensiio. mo parece ser o caso de X), seja em termos de forc;as interiormente cons-
( Uma delas e superficial e puramente verbal; outra e 16gica ou propria- tmngedoras (como no caso em que X teria abandonado seus estudos em
mente intelectual . Em seguida existem as formas especlalizadas ou psi- virtude de uma mudan~;a em seus interesses, de um sentimento de fra-
( cologicas. A m&is conhecida e a compreensiio psicodinD.mica ou de diag- casso, ou de qualquer outra causa psicodinamica).
n6stlco; a outra, a que particularmente nos f.nteressa, e a forma empatica.
(
Esta forma de compreensao e capaz de alivlar a tensao provocada
( Compreensiio puramente verbal. Este tipo pode se caracterizar pelo eventualmente pela simples afirmac;iio. (Observemos que nos referimos
fa to de que quase nao ultrapassa o nfvel das palavras. Seu conteudo e aqui a tensao intelectual e niio necessariamente a tensiio emocional; esta
( geralmente nftldo e claro, mas desprovido de valor explicativo. Esta com- ultima pode ser tanto ·aumentada quanto diminuida por uma compreen-
( preensao resulta de dados descritlvos cujo prot6tipo e a afirmac;ao . Em sao mais profunda do dado como, por exemplo, no caso de que X ti-
conseqtiencia, ela e muitas vezes falaciosa. A afirmac;iio pode ter uma vesse tentado o suicidlo. > Ela satisfaz as necessldades racionais do in-
( aparencia de justificac;iio quando utiliza termos tecnicos, profusao de de- dividuo, sua necessidade de conhecer o porqu~ eo como das coisas pelas
tallies ou uma preclsiio matematica, produzindo, deste modo, uma ilusiio quais se interessa . Por isto exerce uma atrac;ao poderosa sobre o espirito
de compreensiio. A entrevista terapeutica pode comportar uma boa parte do homem, principalmente do homem culto. Alem disto, a compreensiio
de comunicac;ao puramente verbal proveniente de qualquer uma das par- 16gica constitui a base concreta do controle intelectual e, portanto, a
tes. 0 terapeuta pode exibi-las sob forma de diagn6sticos impressionan- base · de numerosas formas do poder. Isto e o que explica, sem duvida,
tes que, mesmo nos cfrculos profissionais, podem ser praticamente des- a avidez com qtie 0 ho~em a persegue.
( providos de significa~;iio. Por seu lado, o cliente pode enganar seu in-
terlocutor lanc;ando-se em descric;6es que pare~;am carregadas de signi- Vejamos, agora, as formas de compreensao psico16gicas .
' • ( \ .~ < • j' , .
( fic~iio mas que na realidade, sao simplesmente "epicas" ou sensacionais,
isto interessantes de se ouvir, mas que conduzem a muito pouca coisa. ·
e, Compreensiio dinimlca. Esta variedade corresponde a uma compre-
( ensao do psiqulsmo em termos cie m6veis profundos, impulsos, tenden-
( Para tornar mats concreta a diferen~;a entre os diversos tipos de cias e necessidades inconsc1entes e semicODScientes. POr nao serem
compreensao, tomemos urn exemplo e, transponhamos seu conteudo ao imediatamente acessiveis ao cliente, a compreensiio destas forc;as e do
( ._
(
(
( dominio do especialista. Este deduz a natureza e. a interagao delas a sc::tide por uma soma de responsabilidades e de obrigac;5es. Se-
( partir de um cor{junto de dados que o cliente lhe fo:mece, espontaneamer..- gundo ele, seu emprego de contador representa uma obriga-
te ou por intermedio de dlversas do . inconsciente. r,;ao para com um membra da familia, idoso e incapaz de en-
' . ' .
tecilicas de. . investigac;;ao
. - ! '- ' ' .
( "-' contrar urn homem ~o mesmo tempo honesto e competente
Alnda que seja de · natureza essenciaimen.te intelectual, esta com- J;:· para substitui... lo. Quanto as aulas noturnas, considera-as co-
( preensiio nao e, no entanto, estritamente 16gica. Ela e, ern. certo sentido, cf\,., mo urn dever para com a comunidade que sofre de wna pe-
meta-16gica, ja que opera Iargamente por meio de analogias; de simbolos, .i ' -~· ntiria, alias bern conhecida, de bons professores de matema-
de paradoxes e de 'in.tui<;oes. Tendo em vista a varledacte, senao a arbi- :.Jc 1 ? . .. tica. E, quanto a seus estudos, representam umw conce~~() _a
trariedade de sua nietOdologia, suas conclusoes ' sao' multo . mais rica.;; ou
mais . "profundas" (como dizem OS il.deptos) do · que as' COilCIUsoes obti-
-~~~··· .'··· \?_' .· ~ sua mulher, que ~eseja v~-10 obt;,~~~~<_>~~-u~~~-r~i~~io
( g_ ~ - ,~~ · ' e, .assfiri, tom&;...!o mafSOem ace1to na .familia dela. X nao
das por via puramente 16glca a partir de dado$ verificaveis . · ,. +<:,- _, , L menclona nem a necesslaaoe, nem-o desefo- de ganhar dinhc! -
( o<' L "-
~ _'s,, . ro . Niio demonstra, tambem, a menor necessidade de suces-
Em termos dinamicos, p , caso de nosso estuc;lante poderia tomar
( & J..- · so ou de prestigio . Evidentemente, considera-se um homcm
a seguinte forma: ' . l:; , ' ~
consciencioso, generoso, devotado, inteligente, em · resumo, · um
( adulto dotado e responsavel.
' ~ou OS testes projetivos) revelam que X e pre-
so de um conflito entre impulsos agressivos, particulatmente
(
· fortes, e inibic;;Oes ' i&U'B.lmente fo~; que esta dominado por A. disparidade entre .a versiio .din!l.niica e a versao empatica do cas~1 .
urn superego primitivo, :tigido e exigent~ : que Jhe cia tim · szn~ salta a vista . Em uma, X . aparece como uma psrsonalidade 1niantil, an-
( tiniento cfe iriferiorldad& que 0 marltem ntim estado de an.~ siosa, ambiciosa, compulsiva, possessiva •'· mesmo mediocre l Na m~trd.
gtistia constarite; que seu egO runcfona · de modo extreniamen- aparece . como uma' personalldade forte, altruists, quase hertsica! Acres-
( te defenslvo e que as ·suas func;;oas realistas: (sua apreensiio centemos desde ja QUe a validade da versao dinamica de urn determi-
( da realidade extema e · lnterna) · siio grosseirament:e deficien.;. nado. ca·so revela-se, muitas vezes, mais elevada que a da vers1io empati-
tes; que sua organizac;iio emocional e' precarhl, : esquiz61de e ca - ao menos tal como esta Ultima se revela no comer,;o do processo,
( carece de. maturidil.de. quando o cliente, domlnil.do pela angtistia, funciona .da maneira defen-
( s:va que se tornou habitual nele . Contudo, a superioridade da compreen-
- As conclusoes da compreensao. dinamica, ainda que coerentes, tal- sao empatica nao se relaciona com o plano da verdade "objetiva", mas
vez, niio podem, no entanto, se prevalecer da validade lnerente as con- com o plano da terapia . Ela e terapeuticamente superior a compreen-
clus5es 16glcas. As conclusoes psicodinil.micas nao se · deduzem direta- sao dinamica ou de diagn6stico porque permite ao cliente apreender-se
( mente dos dados mas sao simplesmente compativeis coni estes - orga- a si mesmo tal como e ou deseja ser (ou se ve obrigado a ser) ·Deste dado
( nizados segundo os princfpios de uma teorla ou de outra. Co!!clus5es momenta - .porque ela !he permite modificar esta imagem de si mesmo
multo dlferentes e mesmo contrarias, poderiam, pols, ser deduzldas dos <:onforme as mudanc;as que se operam nele durante a terapia (alarga-
( Il?-.~smos (!~~Q!_ organizados segundo outras teorias. Em resumo, as con- mento do campo da . percepc;;iio, modificac;ao de suas atitudes para cons'. -
( clusoes din.amicas nao tern m~s que uma presunc;iio de validade. Esta go mesmo, funcionamento mais aberto, etc . ) - enfim, a compreensuo
e a razao pela qual sao chamadas comum{mte interpretac;oes. · · ~ffiPJ!.~!<;~JLsuperior porque da ao cliente ocasHio _de realizar uma apr en-
_ _A_ - ._.,~( r~.-;; (q,, ,_'T r(' r"...)~~ (1 r' )-1'1 · •C r .,- - ~
- --·~ Compreensio empatlca. Esta forma, como a forma din!l.mica, e re- dizagem de que devera dar conta durante toda a sua vida: a verificac;li.o
Jativa a economia intema, sobretudo emocional, do in.divfduo. A diferen- ~~~~rc_!:!p_9~es _f:!, SE! preciso, . sua_.J:.Q.rr~!()_, .
( .;a essencial que as separa - em verdade, que as toma opostas - ...Jro.:
'~; Infelizmente, a compreensiio empatica e multo dificil de ser posta
~ntra-sl! no P<:>llto de . ref_e rencia_ a .P-!Il.:~l!' d() q':J"l _cad a .uma ~atica2.:. em pnitlca, principalmente no inicio, pois exige a adoc;ao do ponto de
( A compreensiio empatica, Ionge · de interpretar os dados fornectcro;-'pelo
referenda de uma outra pessoa - o que e pouco natural. A dificuldade
cllente, esforc;a-se por apreende-los (at face value) tais como o cliente e particularmente grand~ para 0 individuo de formac;ao academica, prin-
os apreende - ou os apresenta .
cipalmente para o profissional de psicoterapia, qualquer que seja sua as-
Para ilustrar a diferenc;;a entre estas duas formas de compreensao, cola, pois sua formac;ao esta centrada quase exclusivamente na fungao
formulemos o caso de X em termos empaticos: de diagn6stico, isto e, na utilizac;iio da compreensao dinamica. "Pox isso
e raro que o encontremos apto ,_ e, principalmente desejoso! - de des-
X explica sua existencla sobrecarregada e seu estado de pojar-se de seus conhecimentos e tecnic~__.p_!()fissionai~c!~---~u~ j.nclina-
.12t) 127
'-
(
( Qiio para exercer seu julgamento critico, enfim, de renunciar a satisfa-
Qiio de suas necessidades intelectuais de ordem 16gica e de explicac;ao:-- clmento psiquicos . 1 Oh servemos a este respeito, os casos - sem dtivida
(
extraordinarlos - de crianc;as e adolescentes relatados por V. Axline (9)
(
Compreender de manelra empatica equivale, de algum modo, a fa- em que a palavra nao representou, praticamente, nenhum pap ~ l .
'3er corri "-qiie-suaiiitellgeiicfase~ste, com suas exigencias racionals e
( r~ruistas:-li.:- tiitri:ispec~locoiifiiSa, aos rrieandros e mano6railiiiilsoii"Iiie: Formulemos es ta questao em outros termos: uma compreensao in-
nosdefensi~os_,_cio1iidivlaiio'eriiCOn11lto . Por isso o novato desta tera- tt'lectual, em termos de causas e de outras relac;o_es 16gicas ou hist6ricas
( -p ia:·niioliode- se""·fiiipedlr totalmente de perceber a:s ·tonalidades dinami- ( anamnesicas >, nao e estrftamente necessaria ao progresso da terapia .
·cas ·'qtie "'contelll; .paril' ele; ·-a-iiarral;ao-do~1lente:-':Enquanto nao dominar Isto vale tanto para o cUente como para o terapeuta - ainda que, para
coii:ipletairiente-•estenovoin()dd defiiiiCionatnento, vtl-se ·, obrigado a com- este ultimo, principalmente . A imagem que o terapeuta faz do caso pode
( bateratlvamente a iritniS~tes elementos : alheios a empatia. ) admltir lacunas e contradlc;6es conslderliveis sem que o valor de sua assis-
( tencia seja necessariamente afetado.
Em · resumo, . o · .q ue ,·deverla .ser · urn moclo · de interac;ao natural e
( racil para o terapeuta devidamente formado . <a imersao nurn _mltndo sub-
jetivo . do .outro> ~ sentido.• no prlricipio, como um sacrificio que exige o argumento de que uma compreensao completa e coerente coloca
( iim esforco muito . grande. Felizmente, a satisfa<;ao que ) acompanha o de~ o terapeuta em condic;oes de gular melhor o cliente em seus esfor<;os de
senvolvimento deste mcido de escutar e de responder compensa ampla- explora<;ao e de reorganizac;ao carece, evidentemente, de sentido dentro
( do pensamento rogeriano . 0 papel do cliente e a( concebtdo, precisamen-
mente os esforcos despendidos . Porque o profissional desta forma de
compreensio descobre rapidamente que · a aquisi<;ii.o desta capacidade al- te, como a aqufsfc;ao de meios aut~nomos de se examinar e de estabe-
(
terocentrica de interacii.o, represerita urn enriquecimento pessoal, cujos lecer as aproxfmac5es experiencfafs que se fmpoem para que ele possa com-
( esforcos . favoraveis se comprovam, por outro lado, no plano de sua vida preender e resolver seus problemas. Com efeito, de acordo com o rogerfano, o
diarta. . - grau de mudanca no modo de percewiie. e urn indicfo mais significativo do
(
prOgresso terap~utico que o crescimento da tomada. de consclencia (isto
( Valor terapeutlco dos dlversos tlpos de compreensio verbal. Diga- e, o grau de rnudanc;a interferindo na imagem que o clfente faz de si mesmo>.
mos, inicialmente, que todos estes tipos se encontram, geralmente, em
( Se as mudanc;as na imagem do eu sao reallstas, fsto ~. se corres-
toda forma de terapia, exceto o psicodinA.mlco, que o rogeriano se es-
( foi'Qa por abolir em toda extensao que sua formacao anterior o permite . Pondem ao eu real, autenticamente sentido e manifestado pelo cliente,
a correlaciio entre estes dols indices sera, evfdentemente, elevada . Porem,
( A questao do valor terapeutico de cada urn destes modos de com- .a nova Jmagem do eu que emerge da terapfa e raramente urn produto
preensao nao pode, evidentemente, ser determinada de uma maneira ab- acabado. ~. geralmente, uma imagem provfs6ria que continua a se mo-
( soluta. Toda avalla!;ii.o pressupoe urn certo ponto de vista. 0 angulo dfffcar ranhando- preefsiio, ampUando-se, trans!ormando-sr. em algumas
( sob o qual se abordara aqui a questao, sera, naturalmente, o Angulo partes - bat depols do tennfno da terapfa.
rogeriano . .
( Quanto i compJWenSao JnteJectuaJ, completa e detalhada do caso
A compreensao puramente verbal represents, evidentemente, urn pa- pero terapeuta, Hobbs clefiae .seu •vazor- com uma ponta de humor !n-
( pel importante enquanto condi<;ao necessaria as fbmas mais articuladas fttfzmente fntrad'uzivel: •tt makes the therapist teet good, but it doesn't
cia ' compreensao . Quanto a forma intelectual proprlatnente dita, isto e, make the client feeJ better ....
(
a compreensao em termos de causas e efeitos, nao parece· ser necessa-
( ria para que se produzam os resultados terapeuticos . · (Esta afirma<;ao A affrma\;ao de que a compreenslio inteiectua1, mesmo. ao nivel da
deixara, provavelmente, escandalizados certos leitores - como aconteceu simples coerencfa, nao e sempre necessaria para o sucesso da terapia, 1'2-
( ' rece, sem duvtda, absurd a a primeira vista . Todavia, esta alirml\!tiio se
com muitos daqueles que, finalmente, adotaram a orienta:<;ii.o rogeriana) .
( De fato, esta forma 16gica da corrtpreensao intervem em uma medida va.2 ap6ia na observac;iio de muftos casos, alguns deles gravados em fita .
riavel (e geralmente consideravel), em todos OS C.SSOS tratados segundO Em um destes casos o cliente, pessoa com muitos conflitos, tinha nurne-
( OS principios desta terapia . Mas, 0 que ~ preciso ter em conta e que OS rosos momentos de incoerencia. Nestes momentos a tarefa do terapeu-
resultados desta compreensao ,· nao repr~sentam urn ' fim · para ela, mas, ta - de sustentar o relato do cliente e de favorecer seu desenvolvfmen-
slmplesmeote, urn subproduto . positivo e fecundo . Contudo,' por util que to inerente - era, sem dlivida alguma, diffcll . No ~ntanto, constata-se
possa ser, este tipo de C01J1preensao nao e. indispensave~ aO sucesso do que quando ele consegulu "colocar-se no Iugar" do cliente, tentando re-
empreendimento que visa essencialmente QO crescimeiito e ao restabele.:. I
presentar para si mesmo a confusao, as tentativas e a obscuridade em
' ' • •"' ' , , · ' ' ' ·: ' · · · · ' ' i o; ; " ·
que este
rencia . se debatia as vezes, o cliente tinha tendencia a retomar sua coe-
l2R
' \
\
.
(
(
( Nestes casos, lmporta, principalmente, que o terapeuta se abstenha
de perturbar o processo subjetivo em que o cliente se acha mergulhado . da apenas pelas exigencias da estrutura da situac;iio. Recordemos que a liber-
( Convem que evite comentarios e questoes, tais como: "0 que voce quer dade estruturada se refere a toda Iiberdade compativel com os fins da
dlzer?" "Nao compreendo", "Niio vejo como , . . ", "Onde esta isto que voce terapia (tal como ela e concebida pelas diversas escolas) e com respeito
( a integridade fisioa e moral do terapeuta . Ora; sob este aspecto, os te-
ve?", "Falta alguma colsa no seu relato", e outras chamadas a "realldade"
( rapeutas quase ·nao · se mostram suscetiveis . Tern consclencia de que a
Se o terapeuta se abstem de lnterrupc;oes e de intervenc;aes deste pessoa pertUrbada e suscetivel de ·se mOstiiar hostil agr.essiv:a, oti de
( tipo, o cltente tendera a retoml>r sua coerencia. Em resurno, a entrevis- qualqtier outra m!tilelra iiljusta ou dificil . ·Assim, o · cliente pode entre~
(
ta e o progresso do caso em seu conjunto niio ..parecem ser negativamente gar-se a ataques, mesmo violentos, enquanto se mantern ao riive1 verbal ·'
afetados pela eventual falta de comunkac;ao intelectual entre terapeuta e se abstem de calunia publica seria .. Quanto a tntegridade fisica do
( e cliente , 0 que importa e qu_e a comunicac;iio empatica im~diata .seja. terapeuta, ela corre, em geral, pouco perigo no cont.~to de adultos'· susce-
mantidR- . tiveis de . tratamento por via puramente verbal. (Niio ocorre o mesmo,
no entanto, corn clientes . jovens, em .iud9terapia . Estes . se revelam rout-
(
Quanto a compreensiio diniimica, ela se infiltra provavelmente, ate to capazes, seniio. inclinados a tomar o ter tpeuta como alvo da expres-
urn certo ponto, em pratlcamente toda ·e ntrevista terapeut~ca . Contudo, o
(
sao diret.G. des~~ _: · reais ou p~urnidas , ) Do mesmo modo ,
profissional de orientac;iio rogeriana nunca a pratica de forma deliberada, 0 cliente pode' expressar sentimentos, . mesmo' "deslocados" de amor e
exceto nos ca~:;os em que, trabalhando em urna clfnlca de prlentac;ao .plu-
( de de~;ejo; , mas raros sijo os terap~m.tas ' que aceitarao a demonstrac;ao fi-
_ralista (isto e, nao estritaniente 'rogeriarm) ; e ericarregado da admissiio
sica dos sentime:r;ttos deste tipo. (tl
( .'de riovos clientes . Nestes casos, suas ri.mc;oes de selecioriador · clinico o
obrigam a utiiizar ativainente todos os recursos de que dlsp6e, incluindo Dir-se-a que em nossa era democratica, a tolerancia e urn gesto
( sua capacidade de diagn6sti.c o. que se impoe . Assim, o terapeuta prevenido, te6rito ou profissional, niio
( ' Em todos os outros casos ele Julg:a. que a. pratica da abo.rdagem deixa de se prevalecer de sua tolei"ancia . No eritanto, nao se entende
psicodlnamica:· e, pelo menos teoricamente, perniciosa ao cliente . Saiien- multo bern como uma tolerancia tao completa esta em acordo com os
principios te6rlcos, fundamentalmente autoritarios, aplicados pela maior
temos que isto nao significa que ela e prejudicial em cada caso parti-
( parte dos terapeutas . '·
cular . 0 terapeuta· adepto da abordagem psicodinamica pode, no en tanto,
(
exercer urn efeito benefico. Pelas stias qua.lidades pessoais, pode neutra- De qualquer modo, qualquer que seja a importAncia concedida a to-
lizar ou corriglr os efeitos de urna abordagem na qual o cliente e o ob- .lerancia, esta nao nasceu de lnfluencias socials ou "politicas" tais como
( jeto ·dos julgamentos, da analise e da lnterpretac;ao por parte do outro . as que dominam o cenario contemporaneo. ·A necessidade de condic;oes
E af, lias qualldades pessoais do terapeuta, que se deve, talvez, buscar a de liberdade excepcional foi · reconhecida desc:j.e as origens da terapta -
(
explicac;ao do fato de · que todas as abcirdagens terri possibifidade de alcan- ainda que este fosse urn periodo pouco propenso a tolerancia - e foi ve-
( c;ar uma certa eficacia. · · · · ·· · rificada por observac;aes reiteradas a medida que o campo terapeutico
., se estendeu e se diferenelou .
! ~
Porem, tolerancia excepcional nao quer dizer tolerancia incondicio-
@> A TOLERANCiA !· l i·.·· · , ._: nal. Ora, e desta ultima que se trata aqui. Portanto, qual e a diferen~
( entre . a no!(ao tradlcional e a no!(ao rogeriana da tolerancia?
·": . .
'
( A noc;ao ti:adicional, que tern sua origem em Freud, e que perma-
Observemos, iriiciaimente'; que a palavra "tolerancia'' nao e uma tra-
(
nece sendo a noc;ao mais difundida da tolerancia, e relativa essencialmen-
duc;ao .feliz para a ideia de permlssividade de que aqui se trata . No seu
te ao material tabu . Ela se refere as experiencias social e moralmente con-
uso corrente esta nor;ao oomporta urn certo tom de ihdulgencia ou mes-
( denadas, como certas manifestac;oes de sexualidade, de agressivldade e de
mo de condescendencia, que concorda muito pouco com o re:,c;peito com
infantilismo, assim como tudo aquilo que nao e "permitido" ao indi-
que e aqui concebida . Contudo; o termo evoca elementos considenivels
viduo experimentar ou desejar, nem mesmo dlscutir em seus contatos
da ideia em questao para ser · ad'o tado preferentemente ·a urn vocabulo
novo e estrangeiro .
....
De urna maneira geral, comum a todas as terapias, a tolerancia se
refere cliente - liberdade que e limita-
a liberdade excepcional concedlda ao (1) -Como exemplo de urn caso deste tipo, verA Transfertncia eo Diagn6stico, v. II, capftu-
loVI.
( 130
l
/
\
(
(
( o cliente pao ousa abordar - as r P!!:I-1es dL: seus impulsos c exper ifmdas
sociais ordinarios. Com seu analista, ao contrario, ele pode abanuonar-
"proibidos" on "estranhos" . Por is:,o. cncc ntra-se encurralado entre as
( se a mais completa expressao deste tipo de coisas, sem incorrer na me-
exig(mclas . de seu eu e as de seu tarapeuta . Se se mostra tal como e,
nor desaprova~ao . arrisca-se a perder a estima de seu t.>rapeuta, e sc recorre a mecanismos
A tolerancia do rogerl~no, por outro lado, nao se limita ao mate- protetores, perde sua aprov~iio - pelu menus e assim que a pessoa em
( rial tabu. Ela e incondicional, no sentldo de que se estende a tudo que conflito tende a percebtw a sttu~ao .
( o cliente julga ser necessarlo relatar, quer se trate de .confidencias im-
portantes ou de colsas aparentemente triviais, ~ mesmo de manobras
{ manifestamente defenslvas . A tolen\ncla, tal como d geralmente pratlcada, de acordo com o
ponto de vista de outras teraplas, ~ pols, nao somente limit.ada, mas mul-
( Qual ea l6gica de tal atltude? to especificamente condlclonal. 0 indlviduo goza, e certo. de uma Uber-
( dade e"R:cepclonal, mas deve se servir dela para explorar e descrever re-
Recordemos que a condic;io lndispensavel do progresso terapeutico gioes de experlencia bern determlnadas. Em outras palavras, e por para-
( e a reduc;ao da anglistia, Ja que esta conduz a atltude de defesa que e doxa! que seja, 0 cllente e pratlcamente "obrigado a !alar livremente"
inimiga do erescimento . Para que o nlvel de angdstia possa balxar e ne- de coisas sobre as quais nAo ousa ou nao quer falar - pelo menos,
(
cessarlo que o indivfduo se sinta ao abrlgo de todas as exlgenclas, amea- por enquanto .
( ~ ou outras pressoes, quaisquer que sejam . Esta Uberdade deve, par-
tanto, lnclulr o dlrelto de recorrer a mecanlsmos de pro~iio tempora-
( ries, tanto conscientes como lnconscientes . Se o cnente se comporta de Sem duvida, a maJor parte dos terapeutas se abstem de exiglr a
maneira defenslva numa sltuac;iio que e claramente destitufda de amea- discussiio da.quilo que o cliente procura se esforc;'hr por evitar . J:xpri-
(. c;a, lsto e sinal de que sua angtlstia e extremamente aguda ou profunda- mir de modo demasiadarnente expliclto exigencias deste tipo, poderia pro-
( mente enraizada e, portanto, que a tolerA.ncia se impoe mais do nunca . vocar uma crlse, ou o cliente poderia simplesmente abandonar a terapia.
Quando ele consegue descobrlr que qualquer que seja o seu modo de se Contudo, o profisslonal treinado pode guiar facilmente o processo sem mes-
( expressar - reticente, loquaz, deslgual, cheio de digressoes - o tera- mo ter que se servlr de palavras. As manlfesta~oes flsionomlcas, de postura,
peuta nao manlfesta sinal algt1m de impacil!ncia ou de insatlsf~ao, o c1ien- de gestos, sao sufieientes para mostrar ao cliente, ou que suas estrate-
te experimenta aquilo que se chama uma "experlencia emocional corre- gias sao tr;1nsparentes, ou que ele nao esta tomando a dire<;A.o desejada.
( tiva". Descobre, muitas vezes pela · prlmelra vez, que ele pode se mos- A malor parte dos manuals aconselha, alias, o recurso deste sistema de
( trar ansioso, desconfiado, hostil ou trapaceador, sem que o terapeuta ma- slnais fislonOmicos :PQsitlvos e negatives para canalizar a elocu~ao do
nlfeste o menor desejo de surpreende-lo ou de frustra-lo. Ao se sentir cliente. Estas exlgencias, por mltigadas que sejam em suas formas, niio
( que pode se mostrar embar~ado, o cliente comec;a a se sentlr a vontade. sao menos coercltivas. Pois, o cliente - por sua vez vigilante, e com ra-
Quando compreende que o terapeuta nao pensa em ataca-lo, tende a es- zio - enxerga atrav~ da "paciencia" de seu anallsta. Durante o temp<'
( I
quecer suas defesas, e mesmo a renunciar a elas voluntariamente . As- que esta guerra fria continua, atraves de urn mimero varilivel de entre-
( slm, pouco a pouco ele se descobre - no duplo sentido da palavra. vistas, 0 cllente passa por um tormento que, a medlda que se prolonga,
se torna lntoleravel. Finalmente' ele se rende, porem, e mais por esgo-
( Quando o decrescimo do nivel de angtlstia se opera desta maneira, tarn~to do que por decisao.
( a elimina~iio das .defesas representa urn passo importante para a 1nte-
grac;ao da experHincia. Longe de ser uma operac;ao mecamca, praticada
( sob o efeito de pressoes exteriores, ela representa um impulso orgfmico, 1: necessario insistlr sobre o fato de que tats procedimentos nao
interno, que se substitui a angill;tia, que Iibera as for~as de expressao, sao de natureza a fazer com que a conflanc;a substitua a ansledade, e o
( crescimento o condicionamento . Certamente o terapeuta conseguiu -
de expansao e de sadla afirmac;ao de si.
( segundo a expressao favorita - quebrar as resistencias do cliente . Mas
Ao contrario, se o terapeuta demonstra, de uma manelra ou de nii.Q poderfa ter acontecido que tenha ao mesmo tempo destruido os re-
( sfduos de sua tendencla a autonomla? 0 uso que o cliente fazia de sua
outra, que as palavras do cliente sao superficials ou defensivas, ele re-
( vela ou recorda atraves disto, que sua tolerancia tern limites, facilmente capacidade de autonomia era, sem dllvida, imibil, e contrario a seus ln-
atingivels . De uma maneira direta ou indireta indica que o cllente deve teresses reals . Mas, a arte e a ajuda do terapeuta deveriam consistlr, pre-
falar de coisas "pe"tlnentes" e "significativas". Contudo, aquilo que o te- cisamente, em colocar o cllente em condic;ao de melhor usar esta capa-
rapeuta considers pertlnente e significative e precisamente aquilo que cidade, 'niio em destrui-la quando nao e exercida da maneira desejada .
132 133
(
(
(
(
de urn respeito profunda e a priori . Com efeito, tudo aquila que esta vivo
30 RESPEITO
( 0
-e tinico Particularmente tinicos sao os neur6ticos, os "diferentes" e os
( inada.ptados o Mas, isto to~ dignos de urn respeito particular?
Em se tratando disto, expliquemos melhor o objeto deste respeito.
( Parece~nbs permitido afirmar que a noc;ao de re5peito, tal como a
concebe o rogeriano, e uma dimensao verdadeiramente nova no campo 0 ~speito aqui referido nao corresponde a noc;ao de "reverencia pela
( 0
vida" Ainda que esta noc;ao represente uma atitude louvavel, e, ao que
das relac;6es humanas o De inicio, este respeito e incondicional. 0 cliente
e respeitado, nao devido a qualquer merito, dignidade ou competencia parece, uma noc;ii.o urn pouco metafisica. Ora, aquilo de que se trata
(
particular que pode~ia ;ter ' adquitido 'rio decorrer de . sua ~xistencia; ou aqui e algo de essencialmente pratico : o respeito pela estrutura Unica,
( deviqo a qualquer qualidade particullir ....:.. sinderidade, ,coragerrt, coopera- de certa forma concreta, da experiencia acumulada e do modo experien-
c;ao, inteligencia, flexibilidade - ·que poderia demcinstrar" n6 ·. decorrer" das cial pr6prios do cliente o Esta estrutura nasce da conjugac;ao de urn equi-
( -' pamehto genetico; constitucional, tinico, com utn conjunto de influencias
entrevistas o o i:espeito · do terapeuta e, pois~ gratuito : o cliente nada· tern
do · meio igualmente tiruco 0
0
( que fazer para merece-lo ° Esta atitude Ihe e proporciori.ada ' antes de
tudo, pelas razoes que veremos a seguiro . . ·. . . ..
( A partir desta exposic;ao, vejamos o que justifica o respeito con-
~- ..
( 0
Respelto com,encionai e respeito terapeutico Nao ha dtivida ·de. que '. ; cedido a esta estrutura tinica o Este respeito se justifica, de urn lado, pelo
todos os terapeutas, quaisquer que sejam suas concepc;5es te6ricas, res- fato de que esta estrutura existe num ser capaz de escolher - capaz, nao
( peitam seus clientes. Isto e, conduzem-se em relac;ao a eles com toda de modelar seu destino de acordo com sua vontade, mas, de influir em
a polidez, 6 considerac;ao e a dignidade do homem educado empenhadq seu curso de uma maneira apreciavel . E, por outro lado, esta atitude se
( . .. ' ' . J. . ·, . justifica pelo fato de que ela deve efetivamente servir de base as mul-
0
no exercicio de suas atividades profissioriais Aiem disso, e na medida
( em que suas func;oes lhe permitem, tern a preocupac;ao .de evitar toda a tiplas escolhas - aparentemente modestas, muitas vezes, mas, . no en-
contrariedade, todo o desgosto e toda a provac;iio a pessoas cuja sensi- - tanto, bastante decisivas - que constituem o processo de reorientac;ao
( no qual ·esta empenhado o cliente 0
bilidade estli a flor da pele, como e 0 c~o. mtiito freqiiente, no cliente .
' . ·. '
(
E evidente, contudo, que semelhante conduta, por louvavel que seja, Nlio ignoramos que afirmac;oes deste tipo, que tendem a evocar as
( beneficia sobretudo aquele que a praficao Com efelto, qualquer outra con- noc;oes de dignidade e de integridade da pessoa, soam de urn modo de-
( duta seria diretariiente contraria a. seus interesses ·e a sua reput~ao 0 '·
clamat6rio, que corre o risco -de ferir a visao positivista do homem mo-
Assim, nao ha em tal atitude nada de especificamente terapeutlco Esta 0
derno. Por que, entao, sao estas afirmac;oes reiteradas num contexto que
( forma de · respeito se encontra, alias, em todo indivfduo empenhado no procura (!ntrever certos aspectos da pratica desta terapia?
exercfcio de sua ptofissao .......:. quer seja ele dentista, cirurgiao, erifermeiro,
( A razao disto e que o pensamen~o rogeriano relaciona estas afir-
0
advogado, empregado ou comerciante Por isto, o que valeu a esta no-
0
mac;oes com questoes eminentemente praticas Com efeito, a pnitica des-
( c;ao a importdncia de que goza no pensamento, ou; pelo menos, nas afir-
mac;6es dos terapeutas? ta · terapia· articula-se tii.o estreitamente sabre os principios e valores que
( ·a ·rundamentam que e quase impossivel tratar de urn a parte dela sem que
Trata-se aqul, evidentemente, de urn problema de terminologiao Por outras intervenham : Assim; se o profissionai toma· consciencia, :ativame:l-
isto, e a fim de e,vitar controversias acentuadas nq sentido atribufdo ao -'- te, de{ fato de que' 'Seu cliente ~ portador de uma expertencia: unica que
termo, seria titil distinguir por urn lado a forma elementar, ocivil, do res- · se desenvolveti por urn · ·nilmero as vezes consideravel de · anos, ele ten-
peito e, por outro lado, a forma psicoterap&utlca, que e a que nos inte- dera a tamar consciencia, ao mestno tempo, de que esta experiencia tor-
(
ressa . Nao e preciso dizer que a primeira se impoe no comercio com o na o · cliente mais cdmpetente que qualquer outra pessoa para determinar
cllente mais do que com qualquer outra pessoa o Quanto a segunda, sua uma linha de conduta compativel com suas necessidades, seus desejos,
valores e capacidades0
(
s!gnificac;ao e suas expressoes variam, sem dtivida, de acordo com 8s con-
cepc;oes do profissional sabre o fenOmeno terapeutico; em outras pala-
0
( vras, de acordo com a estrutura da relac;ao 0 que torna as capacidades do cliente - capacidade de avaliac;ao,
de escolha, de decisao, em suma, de atualizac;ao - eminentemente dignas
Vejamos o que signiflca o termo na perspectiva rogerianao Nela, o de respeito aos olhos do rogeriano, e que, na situac;ao terapeutica, estas
respeito se fundamenta, em ultima analise, sabre o fato de que o cliente capacidades deixam de ser abstrac;oes , potencialidades, ate mesmo fra-
0
ses Pelo simples fa to de que o cliente se encontra comprometido, deli-
e urn ser tinico o Poderia ose perguntar, talvez, em que este fato e digno
(
1!>A
,<
Ic
!(
I(
·! ( beradamente, num processo de melhoramento e de saneamento .do eu, ele lgnifica que 0 terapeuta considerS. nao somente 0 materl&i . posi-
I se reve!a ativamente como urn ser que escolhe verdadeiramente supe- tivo e negativo - o ativo e o paasivo - trazldo pelo cliente, mas, tambhn
.( rar seu estad0 atual. Esta ·capacidade efetiva de escolha se revela no a configurac;io particular que este material apresenta no momenta da en-
cllente que nao se decldiu por si mesmo procurar a terapia - que nela trevlsta. Neste preclso momenta, essa configura~ao e detenninada pelo
;( se encontra em conaeqti6ncia de certos acontecimentos ou pela interven- ato de relatar, lsto e, pelo desejo de mudar..J de superar o statu quo. Esta
<;ao de outras pessoas - mas, que por sua coopera~ao, seu empenho pes-
orien~iio positlva do cllente e, inegavelmente, pred.omlnante em sua eeo-
soal crescente, manifesta este mesmo desejo de se superar.
( nomla no momento da entrevlsta - ja que e a razi.o mesmo de sua pre-
Quem quer que tome conscienela da opera~ao efetiva, imediata, des- ae~ DO consultcStio do terapeuta.
( ta tendtmcia a autonomla e a revalorlzac;iio do eu do cliente, nao pede-
( ria delxar de experimentar o tipo de respefto de que squi se trata. E, Em outras palavras. o material produzfdo durante as conversas po-
conhecendo o carater fraco e facilmente lnfluenchivel · destas tendencias, de, certamente, representar um tipo passivo bern carregado. · Mas, o fato
( dificilmente poderia ser tentado a rntervlr em seu natural desdobramento. de revlv6-lo num contexto tera~utico muda sua signific~o. Tal fato
( modlfica, num sentldo positivo, a balan~a pslcolcSglca daquele que o re-
lata. 0 que e aceito, tl, portanto, a totalldade do dado exlstenclalr a JJCS-
( soa enquanto sistema dinimlco de atitudes e de necessldades, na sua
4. ACEITAc,\0 orlentapo atual.
(
(' A combinac;iio das atitudes de tolerancia, de respelto de compre-
e A ACEITAQAO INCONDICIONAL PODE SER AUTI;NTICA? A rela-
( ensao empat1ca se funde, naturalmente, numa atitude de acolhida que, c;ao entre aceitac;iio incondiclonal do cliente e o decrescimo do nivel de
na linguagem dos terapeutas, e geralmente lndicada pelo nome de acei-
( sua ang\istla e facilmente perceptfvel. Assim, profissionais de orientac;ao
tac;ao . Como o con junto do qual fu parte, eata atitude e f:oncebida aqul
como inconclkional. bern diversa reconhecem os meritos de tal metodo. que se recusam,
/2
( geralmente, a admitir, e que o mesmo possa represemar a expressiio de
( Em conseqiiencia de seu carater incondicionai esta noc;ao susclta, uma atitude verdadelramente experimentada pelo terapeuta: em outras pa-
com !reqiiQncia, reservas e mesmo protestos por pute do novic;o desta lavras, que possa ser autentica . Conside~nqq-se que a hist6rla confiden-
( terapia. Esta e uma reac;ao_ que e facllmente con;wreendida .LNa lingua- cial da vida de muitos clientes .COntem elEimentos incorr:.pativeis com OS
gem corrente, o termo ~eU&.Jao• si~!lca ~pro~':) Ora, qualquer pes- vaiores- dot~~~peuta -=-e,--B.ifis,-· fncompatfveis com OS ide:tiS dos pr6prios
(
soa famlltarlzada com o g~ero de matertal prOduztdo em terap~ dint que clleiitei -:..= -eie iiio- poderla-exPerimentar -um.li iw·ondlcioniil sem
. a aprova9io incondlcional ,. pouco lndicacla. ~tarseiiiSentmienios : ·---------- ---···· ·9.ceita~iio
- · ·- - -
c
( Felizmeute"' nlo 4 de aprovac;ao que ae trata aqul. Em Pl'imeiro Iu- Esta objec;iio repousa ou sobre uma falsa ccmnp<;ao da ideia de
gar, uma taJ atitude seria fncompatSvel com os prinefpla&- desta aborda-
( aceitac;ao, ou sabre um mal-entendido em reliU;iio a seu objeto . Como
pm. Qualquer que &eja sea obJeto. posiUv~ Ol.l negative), a aprova~~ d
( tuna fonna de JuJpmento • de a\'ali~. ~ pols. uma atiYlcfade que estes dois pontos fundamentais acabam de ser esclarecidos, algumas ob-
S£lrva~Oes suplementares de ordem pratlca ser~ sufic.l entes .
procede do ponto de vista daqueJe que a formuta. Jit que- esta ~pla
(
pressupoo que o clinico aeve se prlvar de seu ponto de- vista pessoal, nllo
Dada a natureza verdadeiramente se1~ pz, ceder.:.es (pelo menos na
( seria uma questao ftem de aprova~Ao, nem de desaprovac;ao. AI~m do
mals, se o terapeuta &provnsse, afirla mals freqUentemente em contra- sfera pr11tica) dos principlos postos em pratlca nesta terapla, aquele que
( dic;ao com o cJiente, o quat manitesta wna atttude getalmente negativa . conhece apenas os procedimentos de interac;ao tradicibnais, nao pode evi-
r:
com relac;iio a si mesmo - oelo menos no comec;o do P.rocesso.J tar uma atitude cetica. Para quem nunca escutou, falou e agiu baseado
( num ponto de vista que nao- fo~eo~~~~\- pr6prto~: ~ iiicondiclona~~
ntitude-
( 0 QUE SE ACEITA EXATAM:ENTE? 0 objeto desta atitude lncon- mente posltlva·,---a-ao- mesriio . tempo . autentica, .e coni efeit.O .aigo-dilicn
diclonal nao e alguma abstra<;ao tal como "o cliente enquanto ser hu- ae se ...C?e>_~iief.---·----- -- - - ·· - .
( mano", "ser potencial", "a personalldade que podera tomar-se, ou pode-
ria ter sido" . ~ o cliftlte na sua totalidade, tal qual existe, hie et nunc. Ao contrario, aquele que adqulriu a capacidade de abandonar os
0 que significa tsto? criterios "realistas" e "objetlvos", que aplica na conduta de seus assun-
tos e nos seus contatos dlarios, que aprendeu a lmergir no mundo su~-
jetivo de o.u tra pessoa, descobre que a aceita<;ao incondiclonal nao cons-
titui uma violencia a sinceridade. Quando os elementos negativos, "con- A .aceita9ao incondicional esta livre de riScos?
demiveis" do cliente sao percebidos segundo a . 6ptica destei ' isto e, no Mesmo apos haver compreendido o objeto desta atitude, tal como
emaranhamento das circunstanclas tais como eram percebldas e vlvidas o concebe o terapeuta, o novigo desta abordagem continua hesitante .u ma-
c pelo cliente, este comportamento se torna perfeitamente coerente, neces- gina que o cliente devera, quase inevitavelmertte, interpretar urn compor-
( saria quase. Por isto, torna-se psicologicamente (nao necessariamente do tamento tao pouco comum como uma expressao de concordancia muito
ponto de ,vista moral) aceitavel. 0 que exteriormente parecia estra~o, . pr6xima da aprovagao. Em conseqiiencia, julga que tal engano correria
( destrutivo ou perverso, passa a ser visto como a aspera defesa de urn o risco, nao somente de. confundir o cliente, mas, de embotar seu senti-
( ser· ameagado alem de suas capacidades de resistencia. Na sua luta que menta de culpa e de arrependimento - mecanismos preciosos da edu-
se poderia chamar sua sobrevivencia ell}ocional - luta, positiva, portan- ca<;ao e do amadurecimento emocional.
( to - o individuo comete agoes cuja natureza e momentaneamente inca- Se o cliente se engana por tempo prolongado sobre a significagao do
(
paz de reconhecer e que .~m qualquer outra . clrcunstancia, repudiaria ate comportamento de seu terapeuta, acontecera, sem duvida, o mesmo que
o pensament~ acontece em todo o caso de erro. Os resultados esperados nao se produ-
( zirao. Eis porque e extre~me_n,~ importante que o terapeuta se abstenha,
( de modo autenHco:-eGonstante, de julgar :..... tanto nos casos em que OS
EsclareGamos. Tomemos o caso de urna mulher e mae, abandonada !11tos reHWidos · pelo · ciiente estao de acordo com os . seus valores quanto
( por seu marido, em circunstancias particularmente penosas, com unia fi- .nos casos em que-eles . .se_.opOenL. Se o terapeuta adquire e pratica esta
( lha de uns dez anos. ' · atitude de modo constante, parece que nao tera que se inquietar com
equfvocos ..1os dados da observa<;ao e da pesquisa acr~ulados durante
( mais de vinte anos desta terapia lndicam que quando l2 individuo esta :
( Por se encontrar sozinha, hurnilhada e impotente, ela teme os con- · em condi<;oes de liberdade e de seguran<;a excepcionais, - e, portanto, 1i
tatos exterlores, ao mesmo tempo que experiments urna necessidade mui- de responsabilidade excepcional - as for<;as positivas de seu comporta-
( to forte de expressar seus sentimentos tanto de afeigao, quanto de amar- men to tendem a se sobrepor as for<;as negativas. Nestas condi<;oes, lon- \
1
gura . Nestas condlgoes - e com urn grau de lucidez e de responsabili- ge de parecer fundamentalmente associal ou amoral, o individuo se mos-
( dade qtie demonstraria presungao por parte de quem quer que quisesse deter- tra profundamente desejoso de viver em harmonia com seu pr6ximo, de:
( mimi-lo - ela se empenha em garantir para si, atraves da filha, urn& respelta-lo e de ser respeitado por ele. \ --··
fonte constante e ,segura de satisfa<;ao emocional. Com este fim, ela orien-
c ta seus esfor<;os e seus interesses exclusivamente sobre a menina, condi· · Para concluir, citemos o texto seguinte de Rogers . Sob a forma de
( cionando-a ao mesmo tempo, para que lhe seja reciproca nesta atitude. uma proposigao condicional este texto exprime aquilo que e essencial do
Al!~m disto nao perde oportunidade de falar sobre "a falsidade; a cruel-· que fol descrito nestes capftulos que trataram das condi<;oes:
( dade e a malicia" dos homens, e redobra o~ esfor<;os a medida que a me-
nina cresce . Quando ::!Sta, ja · adolescente, manifests algum timido dese- "Se me mostro capaz d ~ criar uma rei~ caracterizada, de minha parte,
(
jo de independencia · ou de interesse pelos jovens, a mae lhe opoe sua por uma autenticidade t.ransparente,
( teoria sobre os homens e censura-a pela sua ingratidao . Deste :q)odo, ela por urna acolhida calorosa e por sentimentos positivos em face da-
p~iva a mo<;a de todos os priviiegios de sua idade, obrlgando-a a pas- qullo que faz com que sua personalidade seja diferente da minha,
( por uma capacidade de ver o mundo e o eu do cliente tal como
sar sua juventude, se nao sua vida, num mundo neur6tico, do qual so-
( mente algum acontecimento imprevlsfvel - e que podera ser ate mesmo teJe OS ve.
deploravel - podera subtrai-la.
( Ent&O, a pessoa com a qual mantenho tal rela~ao se toma capa.z de
( ver e compreender por si mesma os aspectos que ela havia, ate
Vista do exterior, esta tirania afetiva e vingativa, suscetivel de cau· entao, rtlcusado a sua consciencia; ·
( sar prejuizos talvez irrepaniveis, inclta a revolta - nao a aceita<;ao . Mas, evolui, cada vez mais, para o tipo de pessoa que deseja ser;
vista no contexto do desespero e da priva<;ao emocional extrema que fa- funciona com urn desembara<;o e urna confian<;a maior!:)s;
\ ram a causa da mesma, esta conduta aparece como a luta patetica de atualiza-se como pessoa, isto e, como ser tinico que pensa e age
( uma pessoa desprovida, em certa epoca, da maturidade emocional neces- de uma forma que lhe e pessoalmente caracteristica;
saria para superar urna prova afetiva de maior importancia. torna-se capaz de abordar os problemas da vida de urn modo ade-
(
quado e emoclonalmente menos dispendioso .
() ...
()
( )
( \
Em minha oplniii.o, esta proposic;iio t! vlllida, nii.o somente no que
c conceme hs minhas relac;6es com o cllente, mas, tambem, quando se apli-
( )
ca u relac;6es que mantenho com meus alunos e colegas. com minha
familia e meus filhos. Tenho a impressii.o de que se trata aqui de urna
( ) hip6tese geral que apresenta vastas possibilidades em vista do desenvol-
vimento da criatlvldade, da adaptac;ii.o e da autonomia nos lndlvlduos". <81>·
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( SEGUNDA PARTE
c' TEORIA E PESQUISA
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c) CARL R. ROGERS.
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( Capitulo VU
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(' GENESE E ESTRUTURA, DE NOSSAS TEORIAS
(
Nos capitulos .anteriores, fizemos wn esboc;o do quadro da psicote-
( rapia "nao-diretiva", enc,:uanto realidade viva e mutavel. Descrevemos,
( igualmente, o.s principios e atitudes cuja eficacia foi demonstrada pela
experiencia clinica. No Torno II desta obra, apresentaremos a aplicac;ao
( pratica destes prin.-.ipios, e forneceremos urn exemplo do processo tal
( como foi observ.ado num caso completo gravado ~
c Passemos, agora, a urn nivel mais abstrato e examinemos a estru-
tura ;te6rica elaborada a partir de nossa experiencia como terapeuta. Esta
( nova apresentac;ao sera acompanhada de referencias aos trabalhos de pes-
( quisa empreendidos com o fim de comprovar os diversos elementos de
nossas teorias. Ap6s esta exposic;ao te6rica, examinaremos mais de perto
c a dimensao experimental de nosso sistema - descrevendo os metodos e
( resultados ·de alguns trabalhos de pesquisa, assim como as tendencias
te6ricas deles decorrentes. 0 leitor tera assim, wna visao de conjunto
( de nosso pensamento, tal como se manifesta, na pratica, a teoria e a
pesquisa.
(
( E importante remarcar, no entanto, que a ordem que seguiremos
nesta exposic;ao nao corresponde aquela em que nossas teorias se desen-
( volveram . Uma descric;ao fiel de seu desenvolvimento real e concreto nao
( seria util por ser demasiado confusa e multo sobrecarregada. Com efeito,
os ultirnos vinte anos foram marcados por wna acumulac;ao desordenada
( de experiencias clfnicas, de enunciados de hip6teses provis6rias, basea-
dos nesta experiencia pratica, de pesquisas - a principia rudimentares,
(
( U!l
(
..
(

(
( px:lmeiro se ofiginou das necessidades de nossas pesquisas, cujo rapido iJn..,
mas, pouco a pouco mala reflnadas - procurando vertncar estas bip6- pulso exigiu urna estrutura te6rlca mals compreensiva e mais sistemati:-
( teses, de obsena«;Oes clinicas novas, de bip6teses revlstas e de Jn\lmeras ca, capaz de explicar os dados resultantes de nossas pesquisas e de ser-
( outru aUvidades inerentes l explora«;lo e i expUcaqio alstemd.ticas do vir de base a enuncia«;ao de hip6teses verificaveis atraves de processes
fenOmeno terap6utlco e dos fen6menoe conexos. Importa, portanto, que visando desenvolver o campo experimental. A segunda ocasiao surgiu
( o leltor se recorde, no decorrer doa capftulos seguintes, que o desenvot- quan~o a American Psychological Association me convidou a partlclpar
vtmento- de nosso .s istema - como, aUu, de qualquer outro sistema clen- de urn conJunto de publtca<;5es sobre as teorias contemporaneas da per-
(
tiflco - nio se efetuou segundo. a ordem 16gica adotada para a sua apre- ceP«;ao, da aprendizagem e da personaJidade. A terce ira opor~unidade me
( 1811~. fol dada por um ntimero crescente de psic6logos europeus desejosos de
obter uma exposi~iio · atualizada das teorias e pesquisas relatlvas . a esta
( Na realidade dos ratos, todos os elementos constltutiYOS do siste- terapla .
( ma se emaranhavam e se mostravam de maneira praUcamente inextrinc4vel.
.9s capftulos se~ntes co~tituem a resposta a estes diversos con-
( vites.
(
§ I - Origem da teorla em seu estado atual
(
Considerando-se a opinlio largamente difundida de que uma teorla .COntexto cultural e peasoal
(
.s bern ma1s compreendida quando se conhece melhor o autor, o capitulo
( presente tratara, sobretudo, do papel representado pessoalmente por mtm. Na solicita~ao dirigida aos te6rlcos da psicologia, a coinissiio orga-
no desenvolvimento desta terapia e do sistema te6rico experimental so- nizadora do programa 'de publicac;;oes que aeabo de mencionar, pediu aos
( diversos partictparites que indicassem todos .os fatores, tanto pessoais ~o­
bre o qual ela se baseia. Com efeito, ainda que o movimento "nio-diretivo"
( tenha se desenvolvido multo amplamente como urn empreendimento co- mo proflsSlonais, suscetiveis de explicar o -c arater particular de seu pon-
letivo, tive, no entanto, urn papel importante com relac;Ao k origem e '- to de vista. Foi com prazer que acedi a esta solicitac;;ao ja que, come
( orienta«;iio de suas ideias mestras. Nos paragrafos seg:uintes, apresentarei, acabo de indicar, estou convencido de que s6 se pode coinpreender ade-
( pols, alguns dados biograficos relatives a minha forma«;iio e a elabora- quadamepte urn pensamento quando se conhece algo do contexto cultu-
~ao de meu ponto de vista terap~utico, seguidos de uma breve discussao ral e pessoal em que este tern sua origem. Procure!, pois, distlnguir d ·
( sobre algumas oplnioes e convic«;6es profundam~nte enraizadas em minha • •1 njunto de mlnhas experH~ncias alguns fatos e acontecimentos que n
experiAncia. paxecem ter podido influenclar minha formac;;ao. Vou me abstcr, cont1
( do, de determinar se estes fatos representaram realni.ente urn papel na r. -
( No fnfclo de minha carrelra, meu interesse pela pslcoterapia se nese das concepc;;oes te6ricas descritas nestas paglnas e, se for o ca~- ·.
restrlngia unfcamente k pratica. Este interesse - e seus limltes - estiio de indicar qual o seu alcance e sua significac;;iio - considerando-se qu,
( evidenciados no meu primetro livro (81), desprovido de qualquer preo- em questues semelhantes, o interessado nao costurna se revelar born juiz
( cupac;Ao de ordem te6rica. A minha attvidade de terapeuta se acrescen-
tou, no entanto, multo cedo, um prog_rama de pesqulsas. A princfplo, Mlnha infancia transcorreu no seio dr: uma familia ·nurnerosa, feliz
( estas pesqulsas eram, sem duvida, rudimentares - como tambem o eram - e extremamente unlda, onde reinavam o esptrito de trabalho e os princf-
<1S processos e instrumentos disponfvels na epoca. No entanto, a medida pios de urn protestantismo austero. Eu tlnha mais ou menos doze anos
( quando mlnha familia foi se inst:•lar no campo para explorar uma fa-
que estes trabalhos e os de meus colaboradores progrediam, sentfamos,
( cada vez mais, a necessldade de uma base te6rtca suscetivel de expllcar nos- zenda . Neste ambiente, logo com•.•cei a desenvolver urn interesse apaixo-
sos resultados e orientar nosso programa de pesquisa . Em 1947, esbocel uma narlo pelos metodos experimentais da agricultura e da criac;;ao de gado ·
( e, por minha pr6pria iniciativa mergulhei no estudo de enormes volumes
serle provls6ria de proposi«;oes te6rtcas relatlvas k organiza«;Ao da per-
( sonalidade (84). Quatro anos mats tarde, inlciei urn prtmelro ensaio de que tratavam destes assuntos . Desde estes pi'imeiros contatos com o
apresentac;Ao de uma teorla da personalidade e da terapia (87). metodo experimental, nunca mais deixel de sentir uma atrac;;ao e urn res-
( peito cada vez maiores pela maneira cientifica de abordar urn problema
Os defeltos e insuflciAnclas desta primelra apresenta«;ao nao tar- e de promnn.'r o conhecimento . Durante os meus primeiros anos de uni-
( versidade, decl!cados principalmente ao estudo das ciencias ffsicas e bio-
daram a se revelar e compreendi a necessldade de reformular o conjunto
( de nossas concep«;oes te6rlcas de modo multo mais rigoroso. Tr~s fatores, de 16gicas, esta inclinac;;ao para 0 metodo experimental nao ueixou, eviden-
ordem diversa, me levartm, recentemente, a me dedicar a esta empresa. 0
(
(
(
(
temEmte, de reforc;ar minha rctitude positiva com relac;ao ao espirito cien-
( tifico - ainda que outras materias, como a hist6ria, tenham igualmente
( contribuido em uma lar.ga escala, para o desenvolvimento de meu gosto dia ser descrita, no conjunto, como ecletica. Contudo, tinhamos freqiien-
pelo trabalho intelectual . tes intercambios de pontos de vista a respeito dos metodos que utiliza-
( vamos nos nossos esforc;os para tentar ajudar as crianc;as. adolescentes e
( Tendo abandonado a religiii.o tradicional de minha familia, senti- adultos sob nossos cuidados profissionais . De minha parte, estas dis-
me atraido por concepc;oes religiosas mais moder~. Dirigi-me a Nova cussoes marcaram o comec;o de urn processo, ainda em curso, que visa-
( Iorque e ali me inscrevi ~ um inatituto de estudos filos6ficos e religio- va a descoberta da ordem inerente a minha experien cia de terapeuta.
( sos (Union Theological Seminary). Esta lnstitui<;ao defendia a liberdade Meu primeiro livro (80), sobre a crianc;a-problema, reprrc;enta o fruto da
de pensamento e respeitava qualquer esforc;o de reflexiio sincera, mesmo experiencia pratlca acumulada durante estes anos em Rochester.
( se este esforc;o terminasse por afastar o individuo da fe . . Isto e o que
Durante estes allOS, diverSOS membros da clfnica introduziram OS
( deveria me suceder . Abandonei, pols, o estabeleclmento em questiio, e
pontos de vista do psicanallsta Otto Rank e do grupo de psiquiatras e
entrei para o Teachers College da Columbia University. Nessa epoca a
( asslstentes socials - conhecido, nos Estados Unidos, sob o nome de "Es-
inflti6ncia de John DeweiY estava no aeu apogeu e tui inici8do em suaa
cola de Filadelfia". Ainda que meu contato pessoal com Rank tenha se
COlll!ePQOeS por seu dlscipulo W. H. Kilpatrick. Foi igualmente no Teachers
( limitado a tres jornadas -de estudo, organizadas por nossa clinica, suas
College que descobri a psicologia clinlca atraves do ensinamento, im-
( pregnado de born senso e de ca.or hurnano, de Leta Holllngworth. Pas- concepc;6es exerceram uma profunda influencia sobre meu pensamento
- como, alias, sobre o de ~odo o pessoal da clfnica. Mais precisamente,
aei, em aeguida, . urn mo como estagilirio no Institute for Child Guidance.
( um8 CUDica psi<i0Pedag6gica 'que aCaibava de ser a.beria em Nova Iorque. as oplniOes de Rank tiveram como resultado cristalizar certas concep-
Q15es te6rlcas que eu ja possuia em estado embrlonarlo . Este encontro
( 0 pe5soal psiquilitrlco desta instituh;ao era de orlentac;iio profundamen-
te freudiana. Por seu intermedio, e em particular, por meus contatos com com Rank coincidiu, particularmente, com a epoca em que me sentla
( David Levy e Lawson Lowrey, tive ocasiiio de me famlliarizar com · o pen- tQrnar :mais oompetente, mais eficaz .como terapeuta e em que comec;ava
samento psicanalitico. Foi sob sua dire«;iio, e nesta mesma clinica, que a perceber urn~ certa ordem no processo terapeutico. Desde este mo-
( mento •. esta ordem pareceu-me lnerente a experiencia terapr utica. Isto e,
dei meus primelros passos como terapeuta. Lembro-me deste ano de
( estagio como de urn periodo particularmente fectmdo, porem ~xtremamen­ ao contrario de certas teorias pslcanaliticas - cujas propo ciG5es se afas-
te ca6tico . Com efelto, como ao mesmo tempo preparava meu doutora- tam excessivamente de sua fonte experiencial - esta ordem nao era alheia
( a experiencia, e nao devia lhe ser imposta de fora .
do, sentia de manelra aguda a incompatibilidade radical existente entre
( o espirito altamente especulativo caracterfstico do Institute for Child Gui·
Pouco ap6s estes progressos de meu pensamento, foi-me ofereci-
dance e as concepc;6es rigorosamente experimentais e estatisticas que rel'-
( da uma cadeira de psicologia clinica n a Ohio State University . Ainda que
navam em Columbia - isto e, entre o pensamento de Freud e o de
o meio universitario nao me fosse estranho - pols havia ensinado na
( Thorndike. Universidade de Rochester durante toda a minha permanencia nessa ci-
( dade - encontrei-me, no entanto, ante uma situac;ao completamente no -
A esta perman6ncla em Nova Iorque seguiu..se urn ~fodo de doze va . Descobri, para minha grande surpresa, que os principios terapeuti-
( anos durante o qual fui diretor de uma clinica pslcopedag6gica em Ro- cos que havia elaborado e que me tinhElY. guiado de mane ira, pelo me-
chester ao norte do Estado ~ Nova Iorque. Foi este urn perfodo em que nos implicita, durante meus anos de pr;:lica em Rochester, estavam lon-
( permaneci relativamente sem contatos e estfmulos profissionais . Os pro- ge de ser evidentes aos jovens profissi:Jnais - estudantes e colegas -
( fessores de psicologia da Universidade de Rochester nao se lnteressavam, que me esperavam em Ohio . No d ec orr e ~ de nossas discussoes, tornou-
absolutamente, pelo trabalho clinico, que, segundo eles, nao se enqua- se claro que minha concepc;ao da psi c'~ terapia revelava urn estilo mai .
( drava no campo da pe1cologia. Gonsiderando-se o carater estritamente independente e pessoal do que eu tinha imaginado, e que meu pensa
( acad6mico 'da psicologfa nessa epoca, esta atitude era perfeitamente com- mento como profissional seguia uma linha que se afastava consideraveJ ..
preensivel Por outro lado, o pessoal das escolas, pbras sociai~. tribunals mente do pensamento estabelecido.
( e outras f••ntes de nossa clientele, nao se preocupavam multo com teo-
( rias psicol " gicas . 0 que lhe interessava, era o aspecto pratico de nosso Ate entao tinha vivldo sob a impressao de que minhas ideias e pu
trabalho, ;sto e, os resultados que obtinhamos com as crianc;as-proble- blicac;6es representavam simplesmente urn esforGo para o esclarer·:mentc·
( ma que ' .os enviavam . Quanto ao pessoal da clfnica, compunha-se de dos principios que guiavam "todos os terapeutas" A tomada de cons-
pessoas d formac;ao diversa e desigual, cuja orientac;ao psiCo16gica po- ciencia da distancia existente entre meus pontos cle vista e concPPQ5e c.
(
correntes levou-me a formular urn enunciado, de modo mais ou meno -:
( 146 sistematico, dos meus principios. Apresentei este docun 1ento em 1940 a
(
1 fj
( )
(
(
( sociedade honoraria Psi Chi (divisiio de Minnesota). 0 manuscrlto desta pertinentes. 0 lei tor nada ericontrara, talvez, de intrlnsecamente no-
conferencia se tornaria, pouco depois, o capitulo II do livro Counseling vo, nos pontos de vista que serfio expostos . Por is to menciono-os com
( o linico fim de situar melhor meu trabalho .
· and Psychotherapy (81) .
( 1 . Uma das minhas convicc;oes · mais profundas diz respeito a raziio de
Alguns anos mais tarde, quando entrei na Universidade de Chica-
( go, as contribuic;e>es intelectuals que, dunmte meus, anos em Ohio State ser da pesquisa cientifica e da explicac;ao te6rica. Em minha opiniiio, a
tinham vindo integrar-se a meus pontos de vista, continuaram a afluir . finalidade capital deste tipo de empreendimento e a organizac;iio coeren-
( Estas contribuic;e>es provinham de estudantes - rapazes e moc;as - anl- te de experiencias pessoais signiftciitJ,vas. A pesquisa niio me parece, pois,
( mados de uma viva curiosidade intelectual, orientados para a elaborac;iio alguma atividade especial, quase esot~rica, ou urn meio de adquirir pres-
de estruturas te6ricas e avi(los de desenvolver os ensinamentos contidos tfgio. Vejo a pesquisa e a teoria cmno urn esforc;o constante e discipll-
( I na experiencia direta, em suma, desejosos de se exercitar no plano da nado visando descobrir a ordem inerente a experiencia vivida. Este es-
teo ria e ·
da pesquisa . Intlmeros elementos te6ricos aiu~s que lremos forc;o se justifica pela satisfac;iio pessoal decorrente de urna compreen-
(
apresentar aqui resultaram do trabalho destes jovens - do seus erros sao ordenada dos fenOmenos que nos rocieiam, e pelos efeitos uteis e sa-
( e de seus acertos e do intercA.Inbio de pontos de vista que ·h8Via .e ntre n6s. tisfat6rios que resultam muitas vezes da compreensiio das leis que regem
..· eS.res fen6menos· atem dO mais, a integl'f'~Ao de urn novo segmento de ex-
Os dez anos que passel em Chicago foram caracterlzados pela' con- · ritm.cia a uma ieoria apresent;a, a vantagem' imediata de ampliar as ex-
( cretizac;iio de programas de pesquisa corisideravelmente ampliados e sub- j>ectativas de investtgac;Ao, de pesqUisa·.e de 1- .mSa.mecto - que, por ~.
vencionados; pela integrac;iio de nossos diversos programas · - de ensino, vez, desencadeiam novos progressos. ·
( de treinam.ento, de administrac;iio, etc. - de estudantes provenientes de
outras areas que niio a pslcologia clfnica, isto e, da pedagogia, da socio- Asslm, no campo da psicoterapia, q que nos lncita a ir, cada vez mais
( adlante no caminho da pesquisa, e o sentimimto lntoleravel de perder a
. logla, da psicologia industrial; e tambem pelo efelto estimulante do pen-
( samento de meus colegas, particularmente daqueles que estavam ligados · experlencia contida nas inumeraveis entre-vist~s com nossos clientes. Com
ao Counseling Center.. efeito, o terapeuta interessado no seu traba1lio, niio pode se impedir de
( ter a convicc;ao de que os acontecimentos que se desenrolam ante ele
( Resta-me meneionar, ainda, uma fonte de contrlbuic;5es particular- obedecem a uma ordem oculta, mas que pode, no entanto, ser revelada.
mente importimte e que facilmente passa despercebida, ou seja; as im1- Em realidade, esta obcecado pela questiio: "Qual e . a natureza desta or-
( meras pessoas as quais tive o privilegio de ajudar em seus esforc;os de dem?" Por isso, cada vez que !he passa pela mente uma conjectura ou
saneamento e de crescimento psiquico . Durante mais de trinta anos - uma hip6tese, niio deixa de se perguntar se esta afinal na pista certa
( mais precisamente, desde 1928 - passei uma media de qUtnze a vinte ou se se deixou enganar por urn intenso desejo de compreender. Assim,
( horas por semana, exceto nos periodos de ferias, com estas pessoas, ten- pouco a pouco, acumula urn conjunto de fatos que logo se completa por uma
tando compreende-las e contribuir nos esforc;os que elas se tinham im- serie de proposic;lies sistematicas visando explicar estes fatos . 0 ,n6vel
( pasto, ou por vontade pr6pria, ou segutndo o conselho de outros. Em proflindo desta cadeia de atividades emana da necessidade profundamen-
( ultima analise, foram estas pessoas que, acima de tudo, estimularam meus : te · humana de conhecer e de compreender as relac;oes que unem os fen6-
esforc;os, te6rlcos ou praticos. As horas que passel com elas represen- menos que se oferecem a observaQiio.
( tam a Ioote e6Sellclal em que se alimentou . minha compreensao do fenO-
meno terapeutico, 'lia estiilttira d.a · personalid.8.~e· e <los fooomenos conexos (A respeito dos m6veis qtie sustentam a pesqui§a, devo no entanto,
( reconhecer que me aconteceu algumas vezes dedlcar-,me a estes traba-
apresentados nos capitulos que se seguem.
( lhos, por outras razoes que niio as que aca'Qo de indicar; principalmente
para · aceder aos desejos de outros, para con1i.encer adversarios ou ceti-
( cos; para adquirlr prestfglo ou por outras razo~s pouco edificantes . Po-
( rem, ·6 efeito destes erros de julgamento foi reforc;ar minha convicc;iio de
§ n- Algumas atitudes e convic~oes fundamentais que os verdadeiros m6ve1s da pesquisa cientifica 'sao os de ordem positiva
( e pessoaJ,)
No contexto cultural e experiencial que acabo de delinear, desen-
( volveu-se uma 6ptica intelectual profundamente ancorada em certas con- · 2. Outra convicc;iio de que estou profundamente compenetrado e a de
vicc;oes. Por isso, esta 6ptica exerceu, provavelmente, uma sensivel in- que o ponto de partida da especie particula~ dP compreensao, que se
(
fluencia sobre minha abordagem terapeutica e minha posicao te6rica. designa pelo nome de ciencla, pode se situar ni10 ,, ;::porta onde e em que
( Nos paragrafos qne se seguem tentarei ressaltar os seus ele~e~ mais• nivel de complexidade. o-'·que importa, em rela~:..v ao conhecimento, e
( 148 149
\
:( \
1r
(
(
samento criador sugeriram que o fenomeno se relacionava, talvez, com
( a presen<;a da pechb!enda . Em conseqtiE'mcia, formularam uma hip6tese
( a. agudeza da observac;ao e o carater disciplinado, criador, da reflexao - provis6ria e estabeleceram sua validade por processos relativamente ru-
nio o 11&) de instrumentos ou laborat6rios . A origem de uma corrente dimentares . Verificou-se, todavia, que nao era a pechblenda como tal,
!(
de pensamento cientffico pode se situar na simples observac;ao de que, mas urn dos elementos constitutivos desta substancia, que causava o . fe-
.( por exemplo, uma certa semente atinge urn nivel de rendimento mals nomeno em questao. Ap6s haver isolado este elemento, era preciso cons-
elevado sobre a collna rochosa do que sobre a terra fertil da planicie; truir uma teoria suscetivel de integrar este fato novo no sistema cien-
( tmco existente . Ora, enquanto que no seu inicio esta teoria se relacio-
ou, para citar urn exemplo classico, que a maior parte dos marinheiros,
cujos navios quase nao fazem escalas, sofrem de escorbuto, enquanto aque- na.va unicamentc com os efeitos do radio sobre as placas fotograticia&;
·c les cujos navios fazem regularmente provisoes de legumes e de frutas fres- seus progressos uiteriores, mais especulativos, se uniram a explicac;ao da
I( I cas •. nio sofrem de tal doem;a. Desejo subllnhar esta convicc;iio como urn natureza da materia e da composic;ao do universo. Mas, comparado com
protesto contra a atitude por demais difundida entre os psic6logos america- o estado atual das dencias fisicas, este exemplo represents urn estagio
,( prlrnitivo de pesquisa e de conceltuac;ao te6rica. Esperamos que a pslcologia
I nos, segundo a qual a ci~ncia comec;a no laborat6rio ou com a m&quina de
'( ca1cu1ar. ' . . ja tenha chegacto a este estagio. Seja ele qual for, e certo que niio o ul-
I! trapassou.
.lc
I 3. Urn ponto de'' vista intimamente ligado ao que acabo de exprimir,
5. Outra atitude profundamente lmersa -em minha 6ptica intelectual, re-
refere-se k exist6n~ia de uma es~ie de hist6ria natural da ci~ncia. Pa•
.tere-se .a teoria . Em minha opiniao, ha somente uma afirmac;iio que po-
I-~lc
rece, com efeito, que cada ramo da ci6ncia passa por urn processo de
de ser igual~~nt.e eplicada a todas as teorias - da teorla do flogfstico
II c desenvolvimento marcado por um certo numero de estagios. ~ natural,
portanto, que OS primefros estagios deste desenvolvirnento COrnportern ob-
a teoria da relatlvidade. ~ a da teoria que apresento nestas paginas, a
~ ~, c servac;oes e hip6teses grosseiras, aW mesmo falhas e criterios imper- que a substituira, espero, dentro de uns dez anos - a saber, que toda
feltos . Apesar destes erros, penso que se pode qualificar estes trabalhos teoria contem, no momento de sua enunciac;ao, uma medida desconheci-
' ,(
de cientfficos, tanto quanto os trabalhos cientfficos mais avanc;ados, que da <e neste momento, sem duvida; desconhecivel) de erros e de defini-
( c;oes falfveis. Esta medida pode ser ampla, como na teoria do flogistico,
se prestam a enunciaQao de hip6teses refinadas e ao emprego de criterios
( rigorosos. Com efeito, o que importa em relac;ao ao progresso de uma ou reduzida - como suponho que e o C:!SO - na teoria da relatividade .
ci6ncia nao e o grau de refinamento dos instrumentos. E a oritmtac;ao da Porem a menos que tomemos a conquista da verdade como algo con-
,c pesquisa . Se esta se orienta para o estabelecimento de criterios mais cluido, deveriamos esperar que toda a teoria, mesmo a mais firmemente
exatos, de hip6teses mais especifioas, de enunciados te6ricos mais betn estabelecida, venha a se modificar sob o impulso de novas descobertas.
i(
fundados, de definic;oes mais validas, estamos diante de urn ramo da cien- Por isto, a consciencia aguda do fato de que o conhecimento cientifico
cia saudavel e vigoroso . Ao contrario, se a investigac;ao nao se efetua e essencialmente provis6rio, parece-me uma exigencia primordial da ati-
/c tude cientifica.
( no sentido de uma precisao, de uma diferenciac;ao e de uma validade cres-
centes, trata-se de uma pseudociencia esteril - mesmo que os meto-
( dos que utilize sejam os mais exatos. fl'oda a verdadeira ciencia impli- Confesso que me angustla a maneira pela qual certos espfritos estrei-
( ca mudanQa e progresso e nao tolera a imobilidade e a rigidez. tos se apegam a uma teoria qualquer e a elevam a condigao de verda-
de ou de dogma. Se estivessemos dispostos a tomar os sistemas te6ricos
( 4. Conclui-se daf que e absurdo comparar certas ciencias que, como a pelo que sao, isto e, especies de envolt6rios de filigrana contendo OS
psicologia, estao ~m seu estagio inicial, com outras que, como a fisica dados macic;os da realidade, estes sistemas poderiam, entao, cumprir sua
( te6rica, atingirarp urn estagio avanc;ado de desenvolvimento. func;ao pr6pria: o estfmulo do pensamento criador.
( Para se chegar a conclus5es validas, seria preciso comparar o es-
( tado atual da psicoterapia com urn estagio anterior, multo mais primi- A importA.ncia que atribuo a esta questao, explica-se, provavelmen-
tivo, da fisica . Como a epoca da desooberta do radio pelos Curie, por te, pelo menos em parte, pelo penoso espetaculo da hist6ria da teoria
( exemplo. Recordemos que estes pesquisadores haviam conservado uma freudiana. Nao ha duvida de que o pr6prio Freud considerava suas teo-
certa quantidade de pechblenda - utilizada em algum estudo anterior - rias como altamente especulativas, com efeito, niio CfeSsava de rever seus con-
(
no local em que guardavam placas fotograficas . Quando quiseram utili- ceitos e de redefinir suas noc;oes. Esta oonduta demonstra que dava uma
( zar estas placas, notaram que as mesmas estavam estragadas . Isto e, cons- imporUl.ncia nitidamente superior aos dados da observac;ao do que as
tataram uma mudanc;a . Este acontectmento se prestava a diversas expli- deduc;oes feitas a partir destes dados. Infelizmente, a ac;ao de discfpu-
(
cac;oes . Poderia ter resuUado de urn defeito de fabricac;ao, da umidade,
( de variac;5es de. temperatura, etc . Contudo, a observac;ao precisa e o pen- 151
( 150 ..
,( \
(
(
( de que se trata de uma crenqa baseada na orientac;ao e na estrutura
los 1\ _quem, a meu ver, faltava a necessaria maturidade, substltuiu a fili- contemporanea do conhecimento cientifico. Se tivesse vivido do is secu-
( gr&.nf do pensamento especulativo pelas cadeias do doginatismo de que los antes , ou se vivesse daqui a dois st:lculos - alguma outra aborda-
a ._pstcologla dinflmica comec;a apenas a se libertar. .. • gem me teria parecido - ou me pareceria - igualmente valida, ou mais
(
valida .
( Toda a teoria esta exposta a este perigo de petrifica~ao . Por isto,
~ importante que seus arquitetos tomem as precauc;oes neeessarias pa- Em- suma, ainda que eu me de conta ~a possibilidade da exis-
( :ra que suas proposic;6es nlio se transformem em mon6Iitos. tencia de uma verdade objetiva, dou-me conta, igualmente, de que nao
( poderei jamais conhece-la plenamente . Disto se conclui, que o que se
6. Partilho da convicc;iio, largarnente difundida, de que a verdade e
considera geralmente como "conhecimento cientifico" nao existe . Ha, ape-
( wna s6 ...,. . a1nda que me d6 conta de que o nosso conhecimento desta. nas, percepgoes individuals daquilo que parece, a cada urn de n6s, repre-
unldade jarnals sera complete. Por elta razio, se uma determlnada teo- .
( sentar esta especie de conhecimento .
· ria .· ~ qualquer que seja o campo ao qual se relacione - fosse compte-
( ta e completamente correta, poderia ser elaborada a~ o lnfinlto e' .apli- . Considerando-se que se trata de uma questao vasta, . de ordem fi-
ear-ae a campos cada vez mais distanclados de sua origem. Tennyson, em : los6fica e .sem relat;iio imediata com o objeto dessa obra, me absterei de
( .leU tao conbec:ldo Poema "Flower in the Cl'annied wan.., apressou estes ·
desenvolve-la mais amplainente nestas paginas. 0 leitor que se interes-
( meSnios pontoa de vista, em termos lntultlvos. Como ele, estou conven- sa pela questao, podera consultar urn artigo (91) no qual procurei dar
cldo de que a plena compreenslio de uma slmples plant& revelarla "a · uma explicat;ao urn pouco mais detalhada da minha posic;ao a este res-
( naturez6 do hoJtlem e de Deus .. peito. Se toco nesta questao nestas paginas, e unicamente porque ela
( Niio nos esquec;amos, porem, de que o ~orolario desta proposi~ao representa uma dimensao do contexte no qual minhas convicgoes te6ricas
.( e lgualmente valido . e que se lhe presta, geralmente, pouca atenc;ao' As- se desenvolveram .
' · ,s lm, o efeito de urn pequeno erro pode ser negligenciado quando se
( trata de fenOmenos que sustentam diretarnente a teoria em causa. Con- ·
( tudo, quando a teoria e aplicada a fenOmenos que ultrapassam de mul-
to aqueles sobre os quais se funda, o erro pode crescer desmensurada- § III - Estrutura geral de nossas teorias
( mente e as deduc;6es feitas a partir da teoria podem ser completamente
( falsas. Assim, urn ligeiro erro na eJ~~PliO!l!Ciio de "a nor de 'I1annyson" pode
..::onduzir a wna explicac;ao grosseiramente falsa quando se aplica, por Antes de iniciarmos o exame detalhado dos diversos setores de nos-
exemplo, ao ser humano. Por isto, enquant'o uma teoria tern direito ao so sistema te6rico, seria util apresentar uma visao sin6tica do mesmo e
(
respeito mais profunda, desde que se mantenha no nivel em que tern lndicar suas inter-relagoes .
( seu ponto de partlda, sua validade nao deixa de diminuir a medida que
A primeira parte deste sistema, a que esta mais · estreitamente li-
( t'az enunciados relatives a pianos cada vez mais distantes de suas ori- gada aos fatos observados e que, do ponto de vista da pesquisa, e a
gens. Isto e valido tanto para as teorlas apresentadas nestas paginas, mais bern esta'Delecida, e a teoria da psicoterapia e da mudanc;a da per-
( como para qualquer outra .
scnalidade (capitulo IX) Tanto do ponto de vista da cronologia quanto
( do ponto de vista da validade, essa teoria ocupa o primeiro Iugar. Ela
7, Entre as minhas atitudes e concepc;oes fundamentals , existe uma
que se deve levar em conta, de modo particular, na avalia~iio de minhas represents o produto dos esfor!(os I'!Onjugados de meus colaboradores e
(
teorias . E minha fe inquebrantavel na primazia da ordem subjetiva. 0 dos meus pr6prios, a fim de ordenar nossas observac;oes enquanto te-
( homem vive, essencialmente, num mundo subjetivo e pessoal. Suas ati- rapeutas .
( . vidades, mesmo as mais objetivas - seus esforc;os cientificos; quanti-
Logo que · a enunciamos, percebemos que esta teoria comportava
tativos, matematicos, etc., ....:... representam a expressao de fins subjetivos
( certas hip6teses relativas a estrutura da personalidooe e a dinamica do
e de escolhas subjetivas. Por exemplo, no que diz respeito ' a conduta .da
comportamento . Algumas dentre elas ligavam-se diretamente a teoria da
( pesquisa e a elaborac;ao de teorias, minha percept;ao subjetiva eilsina-me
terapia, outras eram simplesmente sugeridas por ela . Esforgando-nos por
que a investigagao cientifica, tal como a conhecemos atualmente ·---" e
(
distinguir e formular estas hip6teses, chegamos a construc;ao de uma teo-
que se realiza por meio de defini~6es operacionais, metodos experimen-
ria da personalidade (capitulo X). Tal teoria nos fomecia uma base coerente.
( tais, veriflcac;oes matematicas - e a maneira mais segura de atingir a · ·
ainda que provis6ria, para a organiza~ao de nossas observa~oes relativas
verdade e de evitar o erro. Mas, nao posso evidentemente, negai' o fato
(
153
(
152
11. Teorla da
Persunal ldade
H. A 1, 2, 3, 4, 5, 6
B 1, 2
c 1
o 1, 2, a, 4
E 1, 2, :1
F 1, 2, :~
G 1,
·H 1, %, :1, 4
I 1, :t, :1, 4
J 1, 2. ll,
t. Teorla da
Pslruteraplll
Natureza do Organlsmo Humano
.,; _/' 1, D; I, 2, S """ r'
.!"c. .
... Condlc;oes Processos J:feltoA .., -'I
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L 17 14
' l 15
Impllcac;oes Te6rlcas a diverus Relac;<let Humanas
(
(
(
(
ao •organlsmo hurnano" e ll din~mJca da personalfdade: mais preclsamen
{ te, permitia-nos compreencier melhor o fenOmeno representado pela pes
soa que sollcita servigos terapeuttcos
(
A teoria da terapia e a teoria da personalldade deram Iugar, con
( juntamente, a urn novo segmento te6rico . Com efeito, estas teorias im
( plicam certas hip6teses relativas aos resultados da terapia; em outra.c
palavras, hlp6teses relativas ao melhor funcionamento psfquico . No de
( correr dos dez Ultimos anos, dedicamo-nos a precisar estas h1p6teses e
( formar uma lmagem te6rica do termo ultimo da terapia - urna ima
gem, portanto, da personalidade crladora, que se atualiza plenamente; e
( suma, da personalldade que funciona de urn modo teoricamente 6t1mo.
Tendo estes trabalhos nos levado a urna compreensao mais profunda d
( rel~o terapt!utica - que, de fato, nao representa mats que urn tip
( particular de relagoes hurnanas, entre as inllmeras outras - chegamo
a elabOra.T uma teorla du reJ.a.c;Qes humanas em geml (oapftulo XI) . Esta
(
nova perspectiva nos permJtiu enxergar cada vez mai.os claramente qu
( nossas teorias sao suscetfveis de se aplicar a qualquer campo de ativida-
de e de experiencia que tenha relagao com: 1) as relac;6es humanas e
( 2) ll. mudanc;a atual ou potencial da personalidade. Por lsto esbo~os
( 1.nn conjunto de teorias relativas a diferentes areas, tats como a familia
a educaQi:io, a admJnistrac;ao de empresas coletivas, industrlais ou outras
( & solucao dos problemas sociais e a arbitragem de conflltos entre grupos.
( 0 esquema a.qui apr~sentado (figure 1) auxiliara o leitor a fazer uma
\deia da. estrutura deste sisterrla te6rico, e das relac;oes que existem entre
(
seus diversos segmentos. Para compreender adequadamente estas relac;oes,
( convem examinar 0 esquema partindo do centro, pois e deste ponto de
origem que cada uma das quatro ramificacoes em questao se desen-
( volve . Obeservemos em particular que o lei tor deve ter em considera-
( c;iio o fato de que a margem eventual de erro e suscetfvel de aumentar
b. medid:a q1.11e as proposiQ6es constitutl.vas .das diversas teorias se afas..
tam do centro . Em outtas palavras, a medida que estas proposic;oes
( se aproxlmam da periferia do esquema apoiam-se sobre dados me-
nos solidamente estabelecidos . 0 esquema e nurnerado de modo a per-
mittr a idehtificac;ao das diversas proposigoes que serao enunciadas nos
c'apitulos relativos as teorias em causa . Ao estudar estes capftulos, o
(
leitor estara apto a descobrir a todo momenta o lac;o organico que
( liga urn setor determinado a outros setores do sistema .
(
(
(
(
154
(
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(
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(
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(
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(
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(
( Capitulo vm
(
(
(
(
DEFINICOES DAS NOCOES
( TE6RICAS
(
Ao 1ongo do processo de elaborac;ao de nossas teorias, desenvolve-
( mos urn certo nt1mero de nocoes sistematlcas nova.S cuja signlficac;iio foi
se enriquecendo e se precisando gradativamente . Alem disso, certos ter-
(
mos de uso corrente adquiriram uma slgnificac;iio especializada no con-
( texto de nossas teorlas . Como estas noc;oes formam o arcabouc;o de nos-
so sistema te6rico, a importante que sejam bern compreendidas . 0 pre-
( sente capitulo representa urn esforc;o para definir, tao rigorosamente
( quando poss.fvel, cada uma destas noc;6es.
( Esta lntroduc;ao ao vocabulario te6rico comporta, de inicio, uma
lista numerada das noc;oes que constituem este vocabuHirio. (Ver esta
( lista de 40 ~&cluwe na p se§uinte> . A lista e diiVidida em ·u gru
( pos e cada grupo esta organizado em torno de uma noc;ao-chave . Se o
leitor conseguir compreender corretamente esta" nor;Oes-chave a com-
( preensao das noc;6es conexas sera feita sem dificul1r.de, ja que estas
( tiltimas estao estreitamente ligadas as noc;oes fundamentals.
( A esta lista se segue a definic;ao de cada uma das quarenta no-
c;oes em causa . A ordem de sucessiio destas d~finic;oes corresponde a
( ordem numerlca da lista.
( Muitas destas definic;oes estao acompanhadas de urn comentario
( explicative . Alem disso, a definic;ao de uma das noc;oes .,-- a definic;ao
do eu - esta acompanhada de uma exposic;iio que descreve "o nasci-
1 l5i
(
( 18. nesaJustamento psfqu1co
mento e o desenvolvimento" desta noc;ao.A finaUdade desta exposic;iio e
( ilustrar a maneira empirica pela qual a maior parte das noc;oes VI - Rea\lao a amea\)8
de nosso sistema foi elaborada. Mais precisamente, este procedimento 19. Defesa. Comportamento defensive
( visa demonstrar que estas noc;oes nao sao de origem especulativa, mas, 20 . Defor~o -e rntercepc;iio da experiencia
o resultado de uma transac;iio continua entre a experiencia pratica, a 21. Rigidez perceptual Untenslonality)
( conceituac;ao te6rlca .e a verificac;ao por meio de pesquisas .
VII- No~oes de aoordo e no~oes conexas
( l!: multo provavel que a leitura de urn capitulo como este, que tra- 22. Acordo entre o eu e a experiencia
( , ta unicamente de definic;oes, seja cansativa. Assim, certos leitores pre- 23. "Abertura" a experiencia
ferirao comec;ar dlretamente pelos capitulos que tratam da teorla e re- 24, Funcionamento 6timo
( correr ao contelldo deste capitulo a medida que penetrem na exposlc;ao .25. Percepc;iio discriminatlva, realista (Existensionality)
( te6rica e quando sentirem a necessidade de uma compreensiio correta ·26. Maturidade psiqulca
das noc;oes em causa. E, alias, com a finalidade . de permitir este proce-
( dimento · - e de ressaltar o significado particular dos termos em ques- VIII -. Considera\)ii.o posltiva lncondlclonal e no~iies conexas
4ue as nocjoes ·basicas estiio impressas em negrito nos tr68 capl-
tao . :. . ,; 27. Contato
( 28. Considerac;iio positiva
tulos seguintes.
( 29. Necessidade de considerac;iio positiva
30. Considerac;iio positiva incondlcional
( 31. Complexo de considerac;iio
( List~ . daa DO~O~S .- · ch~e 32. Considerac;ao positiva de si
. I . -; i "' ·• '
'' . 33. Necessidade de cor:tSidera¢iio de si
( I - Tend~ncla. atuallzante e .n0(16es conexas 34. Considerac;iio incondicional de si
( <;: t: '1. ·; .Tend~cla atualizante
IX - No~ao de avalfa\lii.o c.ondicional
2. Tendencia a atuallzac;iio do eu 35 . Avaliac;iio condiclonal
(
II ~ Experlencla e no~o~ ccmexas X - N o~oes relativas a avalia\)ao
( 3. . Experiencia · 36 . Centro de avaliac;iio
c 4. Experlmentar . 37. Processo de avaliac;ao "organica"
5. Sent1II1ento. Experimentar urn sentlmento XI - No~oesrelativas a foote do conhecimento
(
38 . Ponto de referencia interno
Ill ...:. .NO(liies relatlvas . a represen~o consclente
( 39. Empatia
6. Representac;ao , Slmbolizac;iio. • Consciencia
40. 'Ponto de referencia.., externo
( 7. Disponibilidade a consclencia
8 .. Slmbolizac;iio correta
( 9.
Perceber . Percep<;iio
( 10."Subcepc;iio" e "Subceber" § I - Tendencia atualizante
( IV - 0 "eu" e noooes conexas. e no~oes conexas
11. Experiencia de si
(
12 .
"Eu". Ideia de si. Estrutura do eu 1. Tendencla atualizante. Esta noc;ao corresponde a seguinte pro-
( 13. Eu ideal posic;ao: todo organismo e movido por uma tendencia inerente para desen-
( volver todas as suas potencialidades e para desenvolve-las de · maneira a
V - Desaoordo e n-'l\)Oes conexas
14. Desacordo entre o eu e a experiencia favorecer sua conservac;ao e seu enriquecimento.
(
15. Vulnerabilidade Observemos que a tendencia atualizante niio visa somente a satis-
16. AngUstia fac;ao do que Maslow (63) chama as "necessidades por deficlencia"; isto
17 . Ameac.a e, a manutenc;;iio das condic;6es elementares de subsistencia como as ne-
I
158 159
(
(
(
c cessidades de ar, de alimentac;ao, etc. Ela preside, igualmente, atividades funciona de maneira · relativamente unificada. Ao contrario, se exlste con-
.mais complexas e mais evoluidas tais como a diferenciac;ao crescente dos flito enbe os dados experienciais relativos ao eu e os relatlvos ho "or-
( 6rgaos e func;6€s; a revalorizac;ao do ser por meio de aprendizagens de ganismo", a tendencia a atualizac;ao do organismo pode ser contraria a
( ordem intelectual, social, pratica; a extensao de suas capacidades e de tendencia a atualizac;ao do eu .
sua eficacia pela criac;ao de instrumentos e de tecnicas; o prolongamen-
( to e o enriquecimento do individuo por meio da reproduc;ao. ~ ~ Reconhecemos que esta noc;ao s6 podeni ser plenamente compreen-
dida depots que os termos "eu", ~·acordo", etc., tiverem sido definidos .
( - d t d" - t ~- t t f ·t d. . . . ldcr~\
A operac;ao a en enCia a ua 1zan e em por e e1 o 1r1g1~ esen- ComO' representa, · no en tanto, urn aspecto secundario da tend€mcia atua-
( volvimento do "organismo" no sentldo da autonomia_e da uniq ; isto e, lizante, convem introduzi-la desde ja. Seria util, sem duvida, 'que o leitor
num sentido oposto ao da heterono~ resultante da submissao as vi- retomasse a estas Unhas ap6s haver tornado conhecimento de todaS as
( cissitudes da ac;ao das forc;;~res. Nossa definic;;ao da tendencia definic;oes que se seguem.
( atualizante e a que Angyal (5) da sobre a vida sao praticamente identi-
cas: "A vida e urn processo autonomo que se desenvolve entre o organis-
( )
mo e o meio . Este processo nao visa simplesmente preservar a vida.
( Tende sem cessar a superar o statu quo do organismo. A tendencia a ex- ·§ U - Experiencia e no~oes conexas
' pansao do organismo e continua e impoe sua determinac;;a.f autonoma
( . a . urn campo sempre crescenta de acontecimentos"~')j ": r! c/,. ;_ C' .- -:\ "\ c 3. Experfenda. -' Esta noc;ao se refere a ttid.o que se passa: no orga- ·
( nisnio em qualquer rrtomento e ·que estli potencialmimte disponivel a cons-'
:E importante observar que a no~ao de tendencla atualiza!l.te e o ciencla; em outras palavras, tudo o que e sliscetivel d'e set :i.preeildido pela
( postulado fundamental de nossa teoria e que esta tendencia se manifesta consciencia . A not;ao de experiencia engloba, pois, tanto os acontecimen-
pelo organismo em sua totalidade, e unicamente na sua totalidade. Esta tos de que 0 indivfdUO e consclente quanto OS fenomenos de que e in-
(
. teoria nao comporta, pols, "homunculos" ou outras fontes especificas de
COnsciente. ~~. - •.
( energia ou de ac;ao. A este respelto, lembremos que a noc;;ao do "eu" -
elemento importante de nossa teoria - ·nao e urn "agente especializado" A titulo de exemplo do conteudo da no«;;ao de experiencia, cltemos
( que iuncionaria em conjunc;ao com a tendencia atualizante . 0 "eu" nada os aspectos psicol6gicos da fome (mesmo se, pelo fato do individuo estar
( ~\ "faz"; · representa simplesmente uma expressao de tendencia geral do or- absorvido por alguma preocupa<;ao, trabalho ou j~go, estes efeitos nao sao
ganismo para funcionar de maneira a se preservar e se valorizar . claramente percebidos); os efeitos da estimulac;ao fisica do organismo
( por excitarttes sonoros; visuais ou quaisquer outros ~ sendo estes acon-
Observemos ainda que a noc;ao de tendencia atualizante abrange tecimentas percebidos pela conscienc!,a ou simplesmente registrados sem
( a noc;ao de motivac;ao, enquanto esta se relaciona com a reduc;ao das efeitos conscientes; a influencia da memoria e outros trac;os da experien-
( ~\ necessidades, tens6€s e impulsos . Abrange, alem dis to, as manifestac;oes cia passada, na medida em que estes tracos afetem a experlencla imedia-
de expansao e de crescimento que ultrapassam a noc;;ao estrita de moti- ta, isto e, na medida em que reduzam ou ampliem a significaqfio dos da-
( vaqao. Como exemplo destas manifestac;oes, citemos a procura de ten- dos da experiencia; enfim tudo o que esta presente na consciencia ime-
( soes geradoras de prazer; ou ainda, a tendencia a expressao criadora e diata . Notemos, no entanto, que esta noc;ao riao abrange os fenomenos
emancipadora tal como e revelada - em seu nivel mais elementar - nos bioquimicos ou fisio16gicos tais como as descargas de neuronios ou as
( esforc;os da crianc;a que se exercita na locomoc;ao bipede . Tais esforc;os, altera~oes na composi~ao quimica do sangue, tais como as que acom-
( .\ a-inda que humildes, comportam experiencias mais ou menos penosas e panham a tome ou a fadiga - ja que este tipo de ocorrencia nao e aces-
contudo, eles jamais delxam de se produzir e isto apesar
.! · angustiantes; sivel a consciencia . Trata-se, portanto, de uma definic;ao psicol6gica e
( I
-l Cio fato de que as necessidades imediatas de locomoc;ao da crianc;a po- nao flsiol6gica .
(
l deriam ser mais facilmente satisfeitas, se esta engatinhasse.
Como slnOnimos da nocao de experiencia, citemos as noc;oes de "cam-
2. Tendencia a atualiza~ao do eu . Considerando-se que• a tenden- po experienclal" e de "campo fenomeno16gico". <Esta ultima no~ao tal co-
cia atualizante rege todo o organismo, ela se exprime igualmente no se- mo e concebida por Snygg e Combs (109), abrange tambem urn campo
tor da experiencia que corresponde a estrutura do "eu" - estrutura que que ultrapassa os fenOmenos conscientes). Observemos alnda que a no-
~ _'\ se desenvolve a medida que o organismo se diferencia. Quando ha acor- c;ao atual de "experiencia" substitui a nocao de "experiencias sensoriais
~ do entre o "eu" e o "organismo", isto e, entre a experiencia do "eu" e a e viscerais" ou de "experiencias organismicas" antes utilizadas por n6s (87)
( experiencia do "organismo", na sua totalidade, a tendenchi atualizante para sugerir o carater global ou totai do que se entende por esta noc;ao.
(
wo 161
_. .
(
(
l Sallentemos finalmente que a noc;;ao de experiencla e relatfva aos cfados
imediatos da consciencia - nao a uma acumulac;;ao de experlencias pas- tras patavras, n6s os considieramos sin6nimos ·Em nossa eonce~ao . CO·
( sadas. Como se poder:t ver nos capitulos seguintes, tal concepc;;ao e lm- mo na de Angyal {5), a conscit'l!ncia corresponde a representac;;ao ou a sim-
portante para as necessidades da pesquisa, ja que se presta a definic;;oes bolizac;;ao (nao necessariamente verbal) de uma parte da experiencia vi-
( vida. Esta sinibollzac;ao pode apreseritar graus variados de intensidade,
operacionais da experlencia - ou de uma experien:::ia, isto e, de urn de-
( terminado segmento do campo experiencial. desde o vago sentimento de presenc;;a de urn objeto qualquer, ate a cons-
ciencla aguda deste objeto. Na i!nguagem da pslcologia da. forma, esta va- :
( ..p 4. Experfmentar. Esta no~ao represents a •rersiio-processo - a ver- riabllidade de inten.Sldade da . consciencia poderia ser descrlta como se
( siio ativa - do que acaoa de ser descrito sob a noc;;iio substantiva de estendendo a partir de uma vaga consciencia de urn "fundo.. ate ft. per-
"experlencia" , Relnciona-se, pois, com o· aspecto vlvido, ativo e mutavel cepc;ao muito nitida de uma "ftgura".
( <;los acontecimentos sensoriais e flsiol6gicos que se produzem no· "orga-
nismo-". 7. Dlsponlbllldade a consclenela. Quando uma experlencla -e sus-
(
cetivel de .ser simbolizada sem nenbuma dificuldade, . sem ser .formada pela
( Por isso; "experimentar conscientemente" signifies "simbolizar corre- ac;io das defes.as, dizemos {lue ela e acessivel ou dlsponivel a consclencia.
tamente" uma dada experiencla. A simbolizac;;iio de uma. experiericia pode / '
( ser mats, ou menos, completa ·ou correta . Para indicar o processo ·de sim- I Sfmbo~io correta. Os simbolos de que se compoe a cons-
boliza~ao se tornando- cada vez mais correto. que represents urn dos ~­
( cienda niio correspondem nece8sarlamente a "experiencia real" .ou a "rea-
pectos. essenciais do progresso terapeutico, empregamos com freqiiencia
lidade". 0 psicotico, por exemplo, pode acreditar (se representar) que
( express<les. como: "experimentar cada vez mais conscientement~ ou · "ex-
correntes eietricas lhe atravessam o corpo, quando, na realidade, i.Sto nao
periincia cada vez mats consciente". t -t 1V"'-civ:1 acontece. Igualmente, pode acontecer que erguendo rapldamente o olhar,
(
5. stmtimento . Experimentar urn sentbnento . Estes termos ser- acreditamos perceber ao Ionge urn aviao, quando, de fato, se trata de
\ vem essencialmente para designar a siptlfica~iio pessoal de experiencfas uma mosca bem pr6xima do olho. De urn ponto de vista pratico, e evi-
( com um acento afetivo ou emocional. A noc;;ao de sent.imento aorange pois dentemente importante distinguir as representac;oes que sao reais ou cor-
ao mcsmo tempo a experiencia afetiva e a significac;;ao cognitiva desta retas das que nao o sao . Mas, sabre qual criteria se basear pam esta-
( experiencia, tal como e experimentada no scu contexte vivido._ imediato. belecer esta distinc;ao de modo rigoroso? ·
( A titulo de ilustrac;;ao, digamos que a noc;;a·o de sentimento se refere ao
que poderia se chamar "urn tema experiencial breve" tal como "slnto- Para resolver este delicado problema, seria titil adotar o ponto de
( me ansfoso"; "tenho vergonha do que sinto .Quando- estou perto dela'".. vista dos que definem a representac;;ao como uma construc;;ao mental esta-
( etc.; e que esta noc;;ao procura ressaltar a unidade emoclonal-cognitiva Jn- beleclda sabre a base de uma experiencia relativa ao passado, e de uma
divisivel de certas experiencias tais como sao vividas no momenta presente. bip6tese relativa ao futuro, Is to e, de urn progn6stico. Assim, os exemplos
( que acabo de dar, representam - pelo menos implicitamente ..:.... hip6te-
ses que se prestam a verificac;ao. Com efeito, se expulso a "mosca~' e se
ela desaparece, e provavel que se trate efetivamente de uma f!lOsca e nao
de urn aviao. Se o pslc6tlco tambern estivesse em estado de examinar as
correntes que acredita sen:tir e de comparar as caracteristicas destas com
as de correntes elletrieas porta a prova a hi~tese implicitamente presente-em
seu esplrito . A noc;;ao de simbolizac;;ao corrreta signifies, pois, que as hl":
p6teses implicitamente · presentes na consclencia serao confirmadas se fa-
( rem postas a prova . Esta expllcac;ao nos conduz, contudo, alem dos llmi-
tes da simples representac;;ao e introduz a noc;;ao seguinte .
9 Perceber . Percep~io. Estas noc;;oes (ver.b o e substantive) foram
§ III - Nocoes relativas ci r~presentacao consciente o objeto das mats diversas defini~;oes. Por urn lado, elas se definem
como "o efeito consciente de excitantes - px:incipalmente luminosos e
6 P~ . Slm~iO . Consctencla. Nos capittilbs scguin- sonoros - que afetam o organismo do ext~riOir" (55, p . 250) Ainda que
( tes. estes- tres- termos sao empre~ados de maneira intercambi~vel; em ou- esta deflnic;;ao parec;;a urn pouco generalizada demais, ela leva em con-
siderac;:ao os trabalhos de Hebb, de Riesen e de outros te6ricos, segun-
( ' J62
,. 163
r;
(
( I
( I do os quais o excitante e a signlfica~iio que lhe e d.ada pelo individuo o lndividuo reconhece como sendo relacionados com o "eu" . De uma ma-
represeritam elementos inseparaveis de uma · 'linica e mesma experiencia . neira · geral, pode-se dizer que a: experiencia de si constitui a materia 'de
que e formada a estrutura experiencial chamada "ideia ou imagem do eu"
. ·A noss~ ver, a perct;lp~ao e . uma hip6tese (u~ . 'progri6sttco) que
(
emerge na consciencia, em rt!spo&ta a a~ao de excitan~es que atuam sobre · 12. 0 ..en" . Idela ou imagem do eu (ou de si) . ~strutura do cu .
( o "organismo", e que se refere, pelo menos implicitamente, a certas ope- · Estes te:i'mos servem para designar a configurac;ao experiencial composta
ra~oes verificavels. Quando dizer:nos, por exemplo: "Isto e urn trHlngulo", de percepc;6es relativas ao eu, as relac;6es do eu com o outro, com o melo
( "lsto ~ uma lir"vore'', "Esta pessoa i minha rna~",. afirmamos unplicita- e com a·vida, em . geral, aSsim· como OS valoreS que 0 individuo atribui a
( .mente .que, se estas . afirma~6es fossem subr:netidas a.verl~ica~ao, ,os exci- estas diversas petcepcoes. Esta configurac;ao se en contra num estado de
tantes eom que elas se relacionam . manifestariam as . proprledades que nuxo continuo, isto e, muda constantemente, ainda que seja sempre orga-
( . nossa experi@n.cia passada nos ensinou como serido 'c aracterlstlcas de .trilln- nizada e· coerente . Outra caracteristica importa:nte desta configurac;ao ex-
( _gulo,: ~e uvores, etc, • periencial e que ela e disponivel a consciencia · ~ · ainda que niio seja
necessariamente consclente ou plenamente consciente . (A noc;iio de !rna-
( Daf se conclui que ·· as no~oes · de percep~Ao e consciencia · ainda gem niio pode, · portanto, ser tomada nilm ·sentido visual ()1,1 concreto>.
! . . . . .
que fUndamentalmepte slnOnimas, dlterem,· no entanto, pelo fato de que
( \
uma e mais restrlta do que a outra. 0 terr:no "percep~ao", se emprega, Quanto ao uso difeqmclal destas ~Uversas designacoes, digamos que
( geralmente, ~om ·rela<;ao ao eteito de ex:eitlintes de fonte externa, enquan- a expressiio "id~ia ou imagem do eu" se emprega mais freqiientemente
to que o termo ''consCi~ncia" pode abranger o efeito de excitMtes ·prove- quando se trata· da versiio subjetiva, \'ivida pelo individuo, enquanto que
nterites de fontes purim'lertte interrtas, como a mem6rla ou os processes a expressiio "estrutura do eu" se emprega . de preferencia quando consi-
fisiol6gleos; e tambem o efeito de exeitantes ·de fonte extema . deramos o eu a partir .de urn ponto de referenda exterior. (Estas no~oes
(
niio sao, no entanto, excluslvas e seu emprego nesta obra esta baseado,
( Esta concepciio puramente psicol6gica da nociio de percep~iio nao
numa certa medlda, nas exigencias da lingua) .
· ·~clui. no •ent.anto a validade de ~s fisiol6g'cas, como. a de que a
( percep<;Ao. corresponde ao ·efeito . de certas contlguracOes de raios ·lumi- 13. Eu-ideal. Esta nocao refere-se ao conjunto das caracteristicas
.nosos sobre certas celulas nervosas. No entanto, para atender ·as nossas que o indivfduo desejaria poder reclamar como descritivas de si mesmo .
(
pr6prias concepcoes, a definl~iio psicol6gica parece .mals ad.equada e mats Sob qualquer outro aspecto esta noc;iio se define como a noi;ii.o do "eu"
( fecunda. aclma .deserita.
( 1.0 ·. ~.. "SubCeder". .~..'l\09io. introduzi:!a par McClea·
( ry e Iaarus (66)1, signiftca.: diser~ <de excitant~) sem reo
presenta~~o consclente. Baseando-se em seus trabaJhos . experimentais,
( estes autores afimam .que o inqlviduo e, capaz de efetuar discrimina~~s
( em nfveis neurol6gicos inferiores ao nfvel requerido pela representac;iitl Nota
consclente - mesmo quando ~ incapaz de efetuar uma discriminacao visual
( consciente . Segundo estes autores, 1 o "organismo" ~. pols, capaz de distin- · G:£NESE DE UMA NOCAO. Ja que a abstracao que denominamos o
gl.!.ir ·.urn excitante e a slgnificac;iio pessoal que terp este wccitante para •eu" e uma das noc;oes-chave de nosso sistema, seria titil abrir urn pa-
( ele, sem utllizar . ~ centros nervosos superiore8 que intervem tomada
na rentese nesta serie d e definlc;oes, para apresentar a genese desta noc;iio,
de consci&lcia propriamente dita. :~!; esta nO!Yiio de "su~" que, no 1 flustrando o modo pelo qual se desenvolvera a maior parte das nocoes
( que eonstituem as nQssas teo.rias.
contexto de nossas teorias, explica a cap!\CJdade do indivfduo para distin-
( ltuir O · caniter amea~;ador de uma experifncta sem. ter plena eonhecimen-
io deste carater amea<;ador. Antlgamente, antes que me interessasse pela conceitua~tiio te6rica,
( estava convenc!do de que noc;6es como o "eu" eram destituidas de valor
( clentffico e que representavam simplesmente vestigios da psieologia in-
trospectiva . Levei tempo para reconhecer o fa to de que, quando o indi-
( § IV - 0 "eu" e nocoes conexos vfduo tern ocasliio de exprintlr e de discutir Iivremente seus problemas,
valores e atitudes, sob sEm pr6prio ponto de vista, na linguagem que lhe
11. ;Experiencla de st. Esta ncciio; introduzida por Standal (110), e peculiar - sem "interpretes" ou "especialistas" - manifesta uma ten-
· abrange todos os .fatos e acontecimentos qo campo fenomenol6gico que
I . den cia a falar em fun~tiio de urn "eu". Como prova desta tendencia, eis
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( _, ti ,f
165
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(
dizagens e condicionamentos efetuados na mesma diret;;ao . Sem dtlvida,
( alguns .exemplos correntes de observa!;6es em1tfdas por nossos cllentes: todas estas aprendizagens intervem na noc;iio . do eu . 0 "eu" nao e, po-
( "Nao me sinto verdadeiramente eu mesmo.,; "No fundo, quat e o meu rem, simplesmente a soma dest~s elementos . Essencialmente, ~ urna Ges-
verdadelro eu?"; "Se os outros conhecessem meu verdadelro eu!"; "Nunca talt cuja significa<;;ao vivida e suscetfvel de mudar sensivelmente e ate
( t.tve oc'asiiio de ser verdadeiramente eu mesmo"; "Pelo menos aqul, pos- mesmo sofrer ·uma reviravolta,, em conseqiiencia da mudant;;a de qual-
so ser eu mesmo. Posso mostrar-me como eu sou"; "Se pudesse retirar quer urn deste~ elementos.. 0 carater estrutural do eu pode se comparar
( as ·figuras. ambfguas. encontradas nos manuals de psicologia da forma e
a ~amada de estuque que cobre meu verdadelro eu, penso que descobrl-
( ria alguma coisa bern s6lida como uma constru!;iio em born tijolo". Es- que apresentam, por, exemplo, um trac;ado que se percebe cqmo o con-
tas expressoes revelam claramente que o •eu" e urn elemento central da tomo de ·urn vaso, e logo - em conseqiiencia de um ligeiro desvio da
( experi~ncla subjetlva do cllente e que, num certo sentldo - ,que nii.o re- u!.iturle perceptual - como duas figuras humanas de perfil . <Ver
( coimeci no iDJcio - o cUente nio parece ter outro fim que o de torna.r4e v . II, p.. 63). ,Ail~ ~isa deste genero pode prodiuzir-se na ima.gem
o seu -·•verd.adelro eu" · · que o cliente faz de si mesmo . Por. ocasiao de algum acontecimento, as
( vezes fnsignificante, sua atitude em face de si mesmo se modifica dan-
A primelra lnvestlgac;iio sobre o "eu" empreendida· pela nossa equipe do origem a uma mudan~a consideravel na ideia que faz de si mesmo .
( ' fol conduzida por Ralmy ('76} e obteve urna dellnl!;ao profunda e cuiila- 0 eu se revela entii.o, como uma Gestalt que se modifica, niio essencial-
( dosamehte estabelecida desta no!;iiO. Na.que1a epoca nao <lisptlnhamos aln- mente, por meio de adic;ao ou ds subtracao, mas por meio de organiza-
da de lnstrumentos capazes de deflnir esta nocao em termos operacio- ~iio e de reorganfzac;ao.
( nals. No entanto, constatamos que era possfvel abordar o problema me-
( dlndo-se nao ·o "eu", mas, as atitudes do indivlduo em face do seu ·"eu". Outro exemplo dos ensinamentos fornecidos pela experiencia clf-
Com o fim de descobrlr estas atltudes, Raimy e alguns outros membros nica se refere a no<;;iio de repressiio. De acordo com a concept;;~o tradi-
de nossa equlpe analisaram urn · certo ntlmero de entrevistas gravadas cional, somente os lmpulsos "maus", soclalmente condenados, sao obje-
( e ~lasslficaram todo o material - palavras e frases - relativo to da repressao . Segundo nossas observa!;t5es, esta concept;;iio da repres-
ao "eu.. do cliente, em uma serie de categorias. A const!ncia das cate- sao e filadequada . Com efeito, a experlencia clinica mostra, freqiiente-
.( gorias assim obtidas foi calculada e veriflcou-se satisfat6ria. Esta serie mente, que os sentimentos mals profundamente reprimidos sao sentimen-
de categorias constltuia. pols, urn instrumento suscetlvel de servir as fl- tos ppsitivos de amor, de bondade, de conflan<;;a. Como entao explicar o
(
nalldades da pesquisa . Ralmy apllcou-a a urn certo ntlmero de casos carater misto, ao mesmo tempo posltivo e negativo, da experiencia re-
( terap~uticos gravados e transcrito~S, e descobriu que conforme nossas pre- primfda?
visc3es, a noc;ao do eu se modlfica sensivelmente durante a terapia.
(
A medida que esta noc;ao passou a ocupar o centro de nosso inte- Pouco a.- pouco, a medida que nossa experiencia de terapeutas e
( de te6ricos foi crescendo ~ chegamos . a conclusao de que a disponibilida-
resse, a observac;ao clinica nos levou a perceber, cada vez melhor, a na-
( tureza desta "idtHa ou imagem do eu" ; Asstm; no decorrer do processo de da experiencia <e a fndiSponiblUdade, fsto e, a repressiio> deverla se
tt;!rap~utico, observavamos que se produziam, as vezes, . flutuac;oes raai- (~xpl ' ear pelo· principio do "acordo" ou "congruencla" (cfr . a definic;ao
( cais na idEHa que o cliente fazia de si mesmo . AconteCia, por exemplo 22~ p . 159). Mais precisamente, as ~riencias que niio concordam com
( que nurna determinada entrevlsta, o cliente descrevesse urn quadro per- a imagem que 0 indivfduo .faz de si mesmo sao interceptadas - seja 0
feitamente favoravel de si mesmo, julgando possuir qualidades reais, ter seu earater positivo ou negativo. Em decorrencia de observat;;5es deste
( os recursos ne.cessarios para confrontar a vida e seus problemas, poder genero; 0 eu nos pareceu, cada vez mais, 0 criterio que ajuda 0 "organis-
confiar em si mesmo, etc. Dois ou tr~s dtas mais tarde, apresentava uma mo" a selecionar a experiencla: os elementos de experi€mcia que concor-.
(
imagem . totalmente diversa da precedente, repudiando a opiniiio que ha- dam com a imagem do eu tornam-se disponfveis a consciencia, enquanto
( v!a expressado durante a entrevista anterior como destltuida de qualquer que os que nao concordam com esta imagem sao interceptados. A ideia
fundamento e constituindo a pr6pria prova de sua estupidez . Ora, constata- do. eu aparece, pols, como urn mecanismo regulador do comportamento. · ·
( (Observemos de passagem que concepc;oes multo pr6xlmas destas sao encon-
se freqiientemente .que o cliente se revela capaz de descobrir o momento
( preciso em que, ap6s algum incidente sem importancla, a id~ia que faz tradas igualmente na obra p6stuma - .independente de nossos trabalhos
de s{ thesmo muda raaicalmente. Nao e raro, alias, que urna nova mu- da Leek (60),
( dan!;a se produza no decor:rer da mesma entrevista .
Pouco ap6s esta descobe1 '• a Q-tecnlca de Stephenson (lfl) Ievotr-
0 exame dos feqOmenos deste tipo indica claramente que a ideia nos a'entrever " possibilidade- de· uma. defuuqio operacional da not;;ao
ou imagem do eu nao represents uma acumulaciio de lnurnerateis apren-
1\ 167
"' 166
(
(
( dq eu . A aplica~tao desta tecnica revelou imediatamente seus , frutos. Dis.,. Aqui termina nosso parentese . Esperamos que tera dado ao lei tor
( ptlhhamos, assim, de urn instrumento capaz de verificar inumeras hip6- uma ideia da genese dos elementos fundamentais de nossa teoria, tais
teses relativas ao eu. Desse modo, a empregamos num conjunto de pes- como: a no~tao de eu, de acordo interno, do comportamento defensivo,
( quisas relativas, entr~ outras, ao "eu real", a<i-.''"eu. ideal", aq ":eu passa- da consldera<;ao positiva incondicional, do centro de avalia<;ao, etc . Ain-
( do", ao ·~eu-tal-como-:-se-manif~sta-em-uma-determlnada-situa<;ao" ou "com- da que o desenvolvimento destas diversas no~t6es nunca tenha sido iden-
deternii.nadas-pessoas~·. etc. A. mais importante .e mais m~nuciosa destas·.. tlco, comportou sempre os . seguintes estagios: observaQao clinica, con-'
pesqub1s ~ a g_ue ; foi conduzida por Chodorkoff (18). Este estudo se pro., ceituacao provis6ria, enunciaQiio de hip6teses, ensaios de investigaQiio ex-
punha a. ~erificar uma hip6tese o. que, em potica,s palavras, re$ume-se nJ,s- . perimental destas hip6teses, observa~t6es clinicas mais preci,sas, concei-
(
to: Quanta maior o acordo entre a descri~tao s.ubjetiva do eu peio indi- tuaQiio mats rigorosa da relac;ao em causa e de suas relaQ6es funcionais,
( ~vfduo e .a descri<;ao . objetiva do diagn6stico, menos se percebera o indi-
definicoes operacionals mais · refinadas, pesquisas mais bern estabelecidas .
\'lduo de maneira defe.n~iva e melhor funclonarli. Os resultados demons-
( traram que esta hip6tese e, portanto, certos elementos importantes .d e .
( nossas . teorias, eram vaUdos.
( . § V - D~sacordo e nocoes conexas
De uma maneira geral, os resultados das . -dlye~sts pesquisas relati-
( vas ao eu mostram que este representa uma varlll1lel . lmportante na di- .
nArillca de personalidade, e que a mudan<;a · que se opera na id6la que· o 14. Estado de desacordo entre o eu e a experlenci.a. . Como se vera
( no capitulo que trata da persona.Lidade (capitulo X) exisbe freqiiente-
lndl.viduo faz .de si mesmo represents urn dos a~pectos mats marcantes
dos resultados . terape~ticos. . ·' .. • mente urn estado de desacordo entre · a imagem do eu e a experiencia real,
( vi vida . 0 lndividuo pode, por exemplo, se imaginar a si mesmo como
.( Tendo em vista o fato de que toda no<;ao te6rlca represents uma sendo caracterizado pelos atributos a,b, c, e como experimentado os sen-
abstra<;ao mats ou menos arbitrliria da realidade, -hti dfversas manelras tlmentos x,y, e z. Ora, se fosse capaz de fazer a si mesmo uma represen-
( de· .definir o eu. De acordo coil!. Hilgard ( 48), por exemplo, a defint~ao taQao correta de sua experiencia, descobriria que possui, em realidade,
do . eu inclui dados tanto conscientes· quanta inconscientes , Esta. 6, sem as caracteristicas c, d, e e e que experim(mta os sentim en tos v, w, e x .
duvida, uma maneira legitima de abstrair a partir dos fenOmenos. Nao Na linguagem de nossa teoria, chama-se este distanciamento entre o eu
6, contudo, em nossa opiniao, uma maneira cientificamente multo util. e a experiencia, de . desacordo interno (em ingles, incongruence).
( Com efeito, porque faz intervir dados inconscientes, tal defini<;ao nao se
presta, no momenta awal, a defini<;oes operacionais. Por lsto, parece- Quando o lndivfduo se encontra num estado de desacordo fica su-
( nos mais util conceber o eu como urna estrutuia de experH!nclas dispo- . jeito a t~nsao e a confusao . Sob certos aspectos seu comportamento e
niveis a conscjencia . Esta concepc;aq abriu, por outro Iado, o camlnho . regido pela tendencla atualizante e, sob outros aspectos, pela tendencia
c a urn poderoso movimento de pesq1,1isa. · · a atualizaQao do eu. Como resultado o comportamento parece incompre-
( ensivel e a personalidade fica desequilibrada. 0 comportamento neur6-
Apesar do sucesso que coroou esta concep<;ii,o do eu, nii.o perdemos tico e uma manifestaQao deste estado de desacordo. Este tipo de com- .
( portamento se confo~ ora com a imagem do eu, ora com as exigen-
de vista que - como acabamos de indicar - uma defini~tao nao ~· mais
( que uma abstra~tao, .u rn ponto de vista, e que ·outras definiQ6es podem cias do organlsmo. De modo que o neur6tlco e incapaz de se compreen-
der a si mesmo, pols, verifica que, por urn lado, faz as coisas que n!i.o
se aplicar aos mesmos fenomenos . Urn de nossos colaboradores, por exem-
( quer fazer e que, por outro abstem-se de fazer aquelas que deseja-
lo, ocupa~se atualmente em ~Iaborar uma concepcao que leva em conta
ria fazer. Na realidade, esforQa-se em vao em atualizar urn "eu" que nao
_o carater mutlivel do .eu em evoluc;ao. Outros pesqufsadores consideram
concorda - oti que deixou de concordar - com o que realmente sente,
uma defini!tii.O multipla. como majs adequada - Ul]la definiQiiO que pres-
is to e, com sua experlencla.
suponha a pratica, pelo individuo, de varios "eu". relativos aos diversos
oontextos de vida. 0 trabalho de Nunnally (70) admlte uma· concep~ 15. A vulnerabilldade . Dte termo designa o estado de desacordo
semelhante.
que pode existir entre o eu e a experiencia . Emprega-se quando se dese-
ja ressaltar o perigo de desorganizac;ao psiquica a que este estado e sus-
E.sta e, pols, uma amostra da marcha de nossos esfor~s ~ra for- cetivel de conduzir. Quando o individuo se encontra . num estado de de-
mular nossa ·experiencia p:ratica em termos te6ricos e . para A(efjn,!r estes sacordo sem .se dar conta dfsto, e potencialmente vulnenivel a ang\istia,
termos de maneira operacional. a ameaQa, e a desorganizacao. Por outro lado, se em decorrencia de mna
168 169
(
_
....
(
(
( experiencia critica, este estado de desacordo lhe e imposto de maneira
e manter a estrutura do eu; em outras palavras, a defesa representa uma
(
inegavel, o individuo se sente amear;ado e a imagem do eu se desintegra sob
o choque. · oposi~ao a toda mudan~a . suscetivel de atenuar ou de desvalorizar a es-
trutura do eu. A defesa atua por meio de deformac;ao perceptual e visa
(
16. Angiistia . De urn ponto de· vista fenomenol6gico, a angdstia E:\. a mitlgar o estado de desacordo existente entre a experiencia e a estru-
( urn estado de mal-estar ou tensao cuja causa o individuo nao · conhece. tw-a do eu, ou a ilnterceptar certos ·elementos amea~adores e, assim, nega.r
Vi&ta do exterior, a ang'listia corresponde a uma tomada de consciencia a existencia da ameac;a. 0 estado interno que leva o individuo a adotar
Iatente, pero indlvfduo, do conflito que existe entre o seu eu e a totali- atitudes ou comportamentos deste genero indica-se pelo nome de defesa.
( , dade . de sua experiencia. Quando esta tomada de consciencia se torna
manifesta, a atuar;ao das defesas se torna cad:t vez mais · diCfcil .. A angus-
( tia oonstttui a reacao do organismo a ;'subce~><;iio'~ deste estado de desa- . 20. Deform~ao e lnterce~io da experiencia . Como acabamos de
ver, as experiencins significativas que niio concordam com a imagem do
cordo e ao perigo de tomada de corisciencia - qut: exigiria uma modifl-
( car;iio da estrutura do eti. eu nao sao diretamente acessivels a consciencia. Para expiicar este fe-
n6meno, . introduzimos as nor;oes de deforma~ao e intercepc;iio
( · 17. F'alamos de arnear;a quando o individuo sc· da con-
Aml'a~a.
( ta de modo pleniunente . consciente, ou . de modo subliminar (por meio de Quando uma experiencia e vagamente percebida - ou e percebida
"subcepQao") de que cell'tos elementos de Stla ~xperiencia nao concordam
em urn nivel subliminar - como nao estando conforme com a ideia do
( com a idela que faz de si. mesmo . A nor;ao dE> amear;a correspon·- eu, o "organismo" se defende. Reage, deformando ou !alsificando o sig-
( de, a versao externa do .Que - visto a partir do ponto de rcferencia in- nificado desta experiencia de modo a tormi-la de acordo com o eu. Ou
terno - wdica-se pelo nome de angU.stia.
( entii.o, nega a experiencla a fim de afastar toda a amea~a a estrutura do
a · DlesaJustamento psiqtdco. Ha desajustamento psfquico quan- eu . A tntera9iio terapeutica nos da muitas ocasioes de obserirar este fe-
( nomeno. Se, pQr exemplo, uma certa resposta do terapeuta as palavras
do o organismo defonn1L ou intercepta · elementos tmportantes da
( experiencia . Consideraudo-se .que estes elementos nao sao representados, do cliente fosse corretamente compreendida por este, ocasionarla a to-
ou o sao incorretamente, na cstr J.tura do eu, result.a que o eu e a expe- mada de consciencia clara e irrefutavel do desacordo existente entre urn
( riencia tot'al niio correspondem - o que da Iugar a conflitos, tehs6es e elemento qualquer de sua experiencia e a ideia que faz de si. mesmo. Nes-
con!US()es. te · caso acontece do cllente responder: "Escuto perfeitamente o que me dlz.
(
Set que deveria compreende-;Io. Mas niio tenho ideia alb'1lma daquilo que
PrecisemOs urn pouoo o sentido eo uso destes termos, os quais repre - voce quer me dizer". No contexte terapeutico, a relagao entre as partes
( .:>entam, todos, a mesma nor;iio encarada de um angulo Iigeiramente di- e por demais positiva para que o cliente pcnse em deformar as palavras
( ~erente . <~uando conslderamos,. por exemp,o, o esta.do de desacordo de do terapeuta; por outro lado, 0 significado destas palavras e por demais
urn ponto de vista externo e quando supomos que o individuo se da amea9ador para que possa apreender-lhe o sentido. Nao lhe resta se-
( :onta deste desacorcto, falamos de vulnerahilidade; quando ele o perce- nao negar-lhe qualquer sigt1ifica9iio . E, pois, de certo modo se recusan-
( '-le vagamente, trata-se de amea~a; . quando consideramos o de,sacordo de do a compreender que o organismo consegue escapar a dificuldade. No-
urn ponto de vista social, dizemos que ha desa,iustamento psiquico; temos, no entanto, que uma recusa tao radical da experiencla se observa
( .e o pr6prio · individuo nao tern consciencia alguma do desacordo nele mais raramente que a· deforma9iio. Por exemplo, se a estrutura do· eu
( "X~stente, considera-se com.o adaptado, como funcionando adequadamen- de urn estudante comporta o elernento: "Niio sou multo inteligente" e se
Le; se tern urna consciencia vaga, subliminar disso, sente-se ansioso ou este estudante passa brilh11ntemente num exame, deformara pc:;te elcmen-
( e, de uma maneira ou outra, !he e impassive! nega-la, sent.e-se ameat;ade to de experffulcia dizendo: "TiVe sorte" OU "Este profeSSCil n ID" 't " ibe-
, 'lU torna"'Se deSOrganizado <o termo ingles aqui traduzido por "desajusta· l'al", etc .
( .nento, e "maladjustment").
21. Rigldez perceptual ( lntenslonality). 0 indivfduo !Ue percebe
de modo rigido, tende a . representar par~ si sua experiencia em termos
~VI· No~oes referentes a rea~ao a amea~a absolutes e incondicionatS, a generalizar indevidamente, a se deixar gular
- ou ate se dominar - por opinioes, crenr;as · e teorias; a. confundi os
\ 11 . Defesa. Estado de del~. Comportamento detens;ro. A defesa fatos e os juizos de valor; a con!iar em abstrar;oes mais do que e·r. -:m-
( ~epresenta a rear;ao do "organismo" a amear;a . A finalidade cta defesa frentar a realidade; em resumo, as rea9oes deste individuo niio est:': "fir-
madas no tempo e no espar;o", elas nao se enraizam ns realidade cr <1creta.
( .70
( 171
(
(
(
( (Em Ingles esta noc;ao e designada pelo nome de intensionality - como secdo "aberto" a sua experiencia . A atitru.de de receptividade ou de
termo emprestado do campo da semantica. Es~ termo sugere uma maior abertura e, pois oposta a atitude de defesa. Pode se empregar a noc;ao
(
diversidade de comportamento do que a que se se indica pela noc;ao de . ri- de abertura no sentido lato ou restrito - referindo-se ou a totalidade,
( gidez entendida em seu sentido usual). ou a urn · determinado setor mais ou menos amplo da experH\ncia. Qual-
quer que seja a. sua extensao, refere-se sempre a urn estado psiquico que
( Como conclusao . esta serie de noc;oes, observemos .que OS termos
a permite a todo excltante percorrer o "organismo" inteiramente, sem ser
defesa, deformac;ao, intercepc;ao, rigidez perceptual se relaclonam todos deformado ou interceptado por algum mecanismo de defesa, e ate mes-
(
com o modo pelo qual o "organismo" se dispoe para enfrentar a amea- mo sem que o mecanismo sublimnar (~iio) entre em jogo. Em
( c;a. A rioc;ao de defesa e a mats geral; a deformac;ao e a intercepc;ao sao outras pruavraS; quer se trate de excitantes externos (configurac;oes de
mecanismos de defesa; a noc;ao de rlgidez perceptual serve para caracte- linhas, de rnassas, de cores OU de sons afetando OS nervos aferentes)
( rizar o indivfduo que funeiona de maneira defensiva. quer de excitantes internos (trac;os de mem6ria, sensac;oes de medo, de
prazer, de desgosto, etc.), o organismo esta completamente disponivel ao
efeito · produzido . Dai se ·conclui que, no caso da pessoa totalmente aber-
( ta a sua experiencla, ha cor~espond€mcia perfeita entre a estrutura do eu
( § VII· No9oes de acordo e no9oes conexas e o conjunto das experiencias relativas ao eu. Tal pessoa --- hipotetica
nao conheceria, pols, . a expei'iencia de ameac;a:.
22. 0 estado de acordo. Acordo entre o eu e a experlencia. A noc;ao
de acordo e uma noc;ao te6rica central, elaborada a partir de nossa ex- 24. Funcionamento 6timo. Dizemos que ha funcionamento 6timo
periencia pratlca. Esta nos mostra, durante a terapia, que () cllente se quando a estrutura do ·eu e de urn modo tal que perrnite a integrac;ao
( encontra empenhado num processo constante de revlsao e de modifica- s!mb6lica da totalidade da experiencia. A noc;ao de funcionamento 6ti-
( c;ao de lmagem que faz de si mesmo, e que este ·processo procura esta- mo equivale, pCjlis, a noc;ao de acordo perfeito entre o eu e a experifm-
belecer um estado de acordo eritre esta imagem e sua · experlencia . No cia, e a noc;aa de receptividade ou de abertura perfeita a experiencia . No
( decorrer deste empreendimento, o cliente pode descobrir que, se slmbo 7 plano pratico, toda a melhoria do funcionamento psiquico representa, as-
( lizasse corretamente certas experiencias, deverla se con!essar, por exem- sim, ·urn passo na direc;ao deste 6timo .
plo, que odela seu pai ou .que tern . desejos homossexuais, etc . A medida
( que a terapia prossegue, a imagem; que ele faz de sl mesmo se reorganiza 25. Perce~ao discriminativa, diferenc1ada, rea.lista (Extensionality) .
de modo a incluir estas caractei"isticas, que erain anteriormente i.ncom- A percepc;ao discrimlnativa; diferenciada ou realista e a que corresponde
pativeis com esta imagem e que, por isso, nao podiam ser nela integradas. aos feoomenos realmente observados e experimentados . 0 individuo que
( percebe desta maneira, situa s1,1as percepc;oes no contexto espac;o"-temporal
Quando as experiencias relativas ao eu sao corretamente simboli- dos fatos; seu pensamento se deixa guiar por observac;oes, nao por opi-
( zadas e integradas na estrutura do eu, 4a acordo entre o eu e a experien- ni6es 01,1 teorias, avalia os objetos de sua percepc;ao baseando-se em mul-
cia. Se absolutamente todas as experlencias de urn determinado individuo
( tiplos criterios; reconhece que ha varios niveis de abstrac;ao; submete suas
fossem corretamente simbolizadas e integradas no eu, este individuo -
conclusoes ou suas teorias a prova da realidade.
( hipotetico - funcionaria de 'modo 6timo. (Uma discussiio mais detalha-
da deste funclonamento sera dada a seguir e constitui; alem disso, o ob-
(Na versao inglesa, a noc;ao de percepc;ao discriminativa e indica-·
jeto do capitulo •XIII desta obra). Na pratica, quando um determlnado
da · pelo nome extensionality. Como sua contraria, intensionality, esta no-
segmento da experlencia e corretamente simbolizado, dlzemos que, numa
~ao foi tomada do campo da semantica geral) ,
determinada situac;ao, ou em sua relac;ao com uma determinada pessoa,
ou em determinado momento, o individuo realiza um estado de acordo .
26. Maturidade psiquica. Ha maturidade psiquica quando o 1ndi-
Em linguagem mai.s familiar, a noc;ao de acordo pode se traduzlr por· viduo percebe de maneira difereilciada e realista; isto e, quando nao re-
termos como: integrac;ao, autenticldade ou harmonia, aplicados a perso- corre a defesa. Este individuo assume a responsabilidade de sua indi-
nalidade ou ao comportamento . 0 termo em ingles que traduzimos por vidualidade (reconhece que e diferente dos outros e se comporta de acor-
"aoordo" e COoD&TUencta; 0 correspondente a "desacordo" e lnCODgrUeDce. do com isso); tern coragem para suas convicc;Cies; avalia de modo auto-
nomo, baseando-se nos dados de sua pr6pria observac;ao e somente mo-
Z3. ~idade, a eq;Jeriencia. "Abertura" a experieDcia, . o indi- dlfica suas concepc;oes em presenc;a de novos dados; trata seus seme-
vfduo que nao experiments sentimento algum de ameac;a e considerado Ihantes como seres individuals, diferen,tes dele pr6prio; e experimenta urn
172 173
(
I
(
( ta de i:elac;oes que ultrapassam estas condi~;oes minimas, elas se indi-
sentimento positivo tanto em face de si mesmo quanto em face do ou- cam por meio de noc;oes elaboradas para este fim e que apresentare-
( ~ro . <Esta descric;ao talvez parec;a muito. academics, mas observemos que,
mos a seguir.
se o individuo e caracterizado pelos. atributos que acabamos de enurne-
( rar. manifestara na vida cotidiana o tipo de · comportamento que se de- 28. · Col\Sider~ao positiva. : Quando constato que uma outra pessoa
( stgna comurnente como maturidade) .. se da conta de uma experiencia qualquer relativa a ela mesma, e quando
esta constatac;ao me afeta de urn ~~A.-o ." ~tivo, experimento~-­
( As quatro Ultimas no~oes: receptividade ou "abertura .. a experien- mento d~_~r;:_onsidera~;ao positiva . este res~to . na · mesma forma, 0
a
cia, fl)ncionamento 6timo, percepc;ao discriminativa e maturidade, repre- inalvfduo que se percebe como o otiJeto da consfctera<;ao positiva por par-.
( sentain, todas elas, derivac;oes· da noc;iio de acordo lntemo. Vejamos co- te de . uma outra pessoa, se da conta de que afeta 0 campo experiencial
( mo estas noc;oe& se diferenciam. A noc;iio de acordo e relatlva a wn estado · dessa outra pessoa de uma maneira positfva. Em linguagem mais simples, ·
do "organismo". A abertura a experiencia e wn modo de comportamento; a considerac;ao positiva envolve geralmente ' os sentimentos e atitudes de
( · mais prPcisamente, € a maneira pela· qual o individuo, em estado de acor- ~r. de ~J:lida, de s~atia, de respeito, de aceita~;ao.
do consigo mesnjo, acolhe a nova experiencia. 0 funcionaniento 6timo . . -
( -corresponde a est.e estado de acordo vlsto do exterior; refere-se portanto 29. Necessidade de consi«;;er~ao positiva. Segundo . Standal 010) ;
( ao aspecto social do estado de acordo. · A· percepc;iio dlscrinilnativa se existe em todo ser humano uma ne::essidade fundamental de considera-
refere aos· coiuporta.mentos· especificos dos individuos em estado de acor- c;ao positiva. Enquanto que certos autores consideram esta necessidade
( do. Enfim, a noc;ao de mattiridade se relaciona com o eonjunto das ca- (que indicam por names tais .como afeto, amor, etc.) como uma tenden-
( racteristlcas da personalidade e do comportamento da pessoa que de uma cia inata ou instintiva, Standal a considera como uma necessidade adqui-
maneira geral e relativamente permanente, realiza este estado de acordo rida que · se desenvolve durante a prime ira inffmcia. Ao lhe dar •o nome
( de considera<;ao positiva, parece ter conseguido extrair, a partir das no-
c;oe~ ma~s va~as, anteriormente utilizadas, a varia vel -psico!6gica essencial .
(
r\.9\Lf~~ .
30 . . (:onsidera.;ao positiva incondicional. Esta expressao represen-
( S Vm - A considerd~O:o positiva incondicional e ta uma das n()((oes-chave de no:~so sistema pode ser assim definida: se
( no~oes conexas as experiencias de uma outra pessoa, relativas a ela propria, me afetam
Ctodas elasl como igualmente dignas de considerac;ao positiva, isto e, se
(
Vejamns agora uma serie de no~;oes · <i.ue resultaram do trabalho de entre todas estas experh~ncias nenhuma existe que eu distinga como mais
( Standal ( 110) e que. vieram substituir urn certo niimero de noc;oes menos . ou menos digna de ·considera<;ao positiva, dizemos que experimento com
adequadas · e menos rigorosas antes utnizadas por n6s. A noc;iio central relac;iio a esta pessoa uma atitude de considera<;ao -positiva incondicio-
( desta serie e a considerac;ao positiva . Como todos os fen~menos que apre- nal ( I' · Do mesmo modo, quando me percebo como objeto da consi-
( sentaremos sob este titulo pressupoem urn contexto de relac;6es inter- derar;ao positiva incondicional de outra pessoa, reconhe~o que esta pessoa
pessoais, comecemos . por uma definic;ao da relac;iio minima, que aqui se eonsidera todas experiencias relativas a ideia que fa~;o de mim mesmo .
( designa pelo nome de "contato" · como Irrualmente dignas de consideragiio positiva . ·
( Em linguagem menos complicada, experimentar urn sentimento de
27. Contato : Quando duas pessoas estao em presenc;a unia da
( outra e cad.ll ulna delas afeta o campo experitmcial da outra . numa considerac;ao · positiva incondi.cional a respeito de uma pessoa significa
· forma ou percebida, ou subliminar, dizemos que estas pessoas estiio em "apreciar" esta pessoa . No sentido que at::ribuimos a este termo - sen-
( tido tomarJo a Dewey - o individuo e estimado . como pessoa e indepen-
contato. Em outras palavras, existe entre elas as coridic;oes miniinas ne-
( cessarias a .rel~ao. dentemente dos criterios que se poderia aplicar aos diversos elementos
de seu comportamento . Como exemplo· deste genero de atitude, citemos
( 0 termo "contato" fol adotado preferentemente ao termo "relac;iio",
( · · parque este Ultimo e:;tava por demais sujeito a mal-entendidos. Este . (1) Paraftaseando em termos urn pouco mais simples : se tudo que uma pessoa exprime (verbal-
tenno tende, com efeito, a sugerir uma relac;iio de tal profundidade, de mente ou nao-verbalmente, direta ou indiretamente) sobre si mesma, me parece igualmente dig·
tal qualidade e de tal significac;ao como a que caracteriza uma rela~;ao no de respeito ou de aceitat;:ao, isto 1!, se niio desaprovo nem deprecio igualmente digno de res-
verdadeiramente terapeutica. Era necessaria introduzir, pols, urn termo que · peito ou de aceitaciio, lsto 1!, se niio desaprovo nem deprecio nenhum elemento expresso dessa
evocasse · urn tipO de relac;iio estritruminte minima, ou seja, urn esboc;o de forma, experimento em relat;:ao a esta pessoa uma atitude de consideraciio positiva incondicib-
/ relac;~o. Isto e o que ·o termo "contato,. procura indicar . Quando se tra- nal.
174 175
(
(
o caso do pai que "aprecia". (o termo "amar" · serla, evidentemente, mais : _,;~,,~\J/1-~ ..
lndicado nestle exemplo) seu filho, &linda que nio aprecie de modo igual considerac;ao positiva c( m relac;ab a si proprio, tal experiencia, condu.Z a
cada acao ou adtude particular da crlanc;a. Urn outro terino que, de uma uma atitude positiva '<f respeito de si que nao e mais em func;ao direta
manelra geral, e sinOnimo de apreclac;ao e de consideracao positiva in- das atitudes do outro l 0 individuo desempenha entao, em relac;ao a si
( condicional e o termo · aceita!;iio. Este se presta, no en tanto, a certos mesmo, o papel de "pessoa-criterio", desempenhado anteriormente por
mal-entendldos que a . nocao de aprecfa<;iip tende a afastar .. certas pessoas que ocupavam um lugar importante em sua economia
( ~O<J\. t. ~ . . . interna <ll.
Notemos, e~im, que esta nocao resultou diretamente de nossa ex-'
perlencia de tP.;:apeutas . Com efeito, urn dos fatores mats poderosos da . · 33 . ~e cons,ider~ao positiva de sf . Esta necessidade
relacao tera~utlca emana ao que parece, da atitude de apreciac;ao incon- e entendida aqm como secundaria ou adquirida, e se liga intimamente
. dlcional . que 0 terapeuta tes.temunha eni relac;ao ao cllente como pessoa. a necessidade de consideraQao positiva por parte do outro . ··
Nao ha duvida de que, experimentando e manlfestando tal atitude, tanto •
em relai;;ao· · as experiencias que o cliente teme ou. delas se envergonha, 34. Considera~ao positiv.a incondicional de sf. Ha consideraQao 1JO-
quanta em relacao aquelas que o deixam orgulhoso e feliz, o terapeuta sitiva incondicional de si quando o cliente se percebe de maneira tal
contrlbtit. para a · mudanc;a de atjtude que se realiza no cllente, que re- que todas as experlencia.~ relativas a si mesmo sao percebidas, sem exce-
presenta; essencialmente, o processo terapeutico . . Pouco a pouco, o cllen- c;ao, como igualmente dfgnas de considerac;ao positiva .
te chega a adotar esta .m esrna atitude de COnsideraQBO ern relaQBO a todBS
elementos ·d e suas experiencia. Como se pode adivinhar e sem duvida,
esta atitude de aceitac;ao incondlcional que cria as condlc;oes necessarias § IX - N oc;:ao de pvaliac;:ao condicional
·a realizac;ao ·do estado de acordo interno e, deste modo, do funcionamen-
to adequado . · . ·. . · +
1 35. Avali~ao condlcional ou considera~ao seletiva . Ha avaliaQao
. bAA. ~- {1 ·" - "
31. Complexo .de conslder&9io. Esta nocao, elaborada por Standal, condicional quando 0 individuo procura ou evita certas . experiencias pela
( tinica razao de que lhe p'arec;am (OU nao lhe pareQain) dignas da CODSi-
se refere a uma .configuracao de exp'eriencias relativas ao eu, que o indi-
( .viduo reconhece como tendo . para ele o valor da considerac;ao positiva derac;ao positiva de si. ·
de uma determinada pessoa (1 J • Esta noc;ao tern por fim <;lestacar o ca- ' '
Esta importante noc;ao foi elaborada por Standal para substitulr a
r;iter· estrutural e dinAmico das experiencias que acarretam a considera- . noc;ao, menos rigorosa, de introjec;ao. · Este modo de avalia<;ao condicional
( I c;ao positiva <ou r.egativa> por parte dos outros. Quando a crianc;a, por se desenvolve da seguinte maneira .' Quando certas "pessoas-criterlo" se
exemplo, percebe· que seus pais manlfestam · uma atitude de considerac;ao mostram seletivas na considerac;ao que manifestam a respeito de diver-
(
positiva em relac;ao a alguma de suas . ac;cSes (isto e, que aprovam esta sos elementos de seu comportamento, o individuo se da conta que, sob
ac;ao), esta percepc;ao tende a reforcar a estrutura total da consideracao certos aspectos, e apreciado e que, sob outros, nao o e. · Imperceptlvel-
positiva de que fol objeto anteriormente, por parte de seus · pais . D3 mente acaba por adotar a mesma atltude seletiva ou condicional para
( mesma forma, a m~nifestacao ·de uma atitude negativa (de desaprovac;ao) consigo mesmo. Conseqiientemente, avalia sua experlencia em func;ao dos
( por parte dos pais, tende a atenuar a estrl,ltura total da considerac;.io criterios de qutras pessoas em vez de avaliar baseando-se na satisfaQao
posltiva. · (oti n a falta - de satisfa<;iio·)- vivtda, realmente experimentada . Em outras
32 . Consideracio posltlva de .s i. Este termo designs o sentimento palavras, atribui urn valor positlvo ou negativo aos diversos elementos ·
( de considerac;ao que o proprio fndividuo experimenta em face de certas de sua experiencia, levando em considera<;ao, nao o seu efeito favoravel
experlencias relativas ao eu, lndependenternente da eonsiderac;io positlva ou desfavoravel no que se refere a sua atualizac;ao, mas se baseando na
( escala de val ores de outros individuos .
·que outras. pessoas atrlb11am a ·elas ou poderiam lhes atrlbuir .
( Podemos formular isto partindo de urn angulo urn pouco . diferente .
Alnda que parec;a que a experiencia de se sentir o objetp da con- '
( sideracao . positiva por .. parte .do outro devil preceder a experiencia de Quando o individuo se da conta de que suas "pessoas-criterio" demons-
tram sentimentos de considerac;ao incondlcional para com ele, encontra-
( i
se nas condic;6es necessarias para avaliar suas diversas experiencias de urn
( ( 1) 0 que Standal chama "complexo de considerac;ao" se aproxima do que se indica cornu-
mente pela noc;iio de _"generalizac;iio" ou de "extensao", do modo com estes tumos siio empre-
(
Qados n,i teorias.do condicionamento. (1 J Esta classe de pessoas se indica em ingt~s pel a expressao "significant social other" - tradu·
zida nest a obra pel a expressao "pessoa-critdrio".
176 -
,( -
{
( I
( modo "organismico" isto e, em func;ao do valor destas pa;ra a preSID:Jla.:
c;;ao a revalorizac;ao do total de seu ser. Pois, e essepc,:.i almente dist·o . § XI - No~oes relativas a fonte de conhecimento
( - da atualizac;;ao do "organismo e que aqui se trata . Ao contnirio,
( quando julga suas diversas experiencias em func;ao dos · val ores de outros, 38 . Ponto de referenci.a. interno. Esta noc;ao se ref ere ao conjunto
e independentemente do valor destas experiencias com relac;ao a atua- das experiencias - sensac;;6es, percepc;;6es, significac;6es, Iembranc;as -
( lizac;;ao de suas potencialidades, dizemos que ha avaliac;ao condiciona! ou disponiveis a consciencia do individuo, num dado momento. 0 ponto de
considerac;;ao seletiva, em uma palavra, introjec;ao . A avallaQao coridicio- referencia interno representa o mundo subjetivo do individuo . Somente
( nal representa, pols, urn serio caso de simbolizaQao incor~eta . 0 indi- ele e capaz de conhecer plenamente este mundo . Ninguem mais e capaz
( vfduo considera sua experiencia "como se" ela estivesse de acordo com de nele penetrar, ..exceto por meio de inferencia empatica - sem que,
. as necessidades da tendencia atualizante, "como se" respondesse a uma alias, ~a.l conhecimento jarnais possa ser completo.
( necessidade realmente experimentada, quando nao existe nada dis to' .
( · Conseqiientemente, a avaliac;ao condicional impede o inO.ividuo de funcio- 39. Empatia. A empatia ou a compreensao empatica consiste na
nar plena e efetivamente porque o impede de simbolizar corretamente sua percepc;ao correta do ponto de referencia de outra pessoa com as nuan-
( experiencia.
ces subjetivas e os valores pessoais que !he sao inerentes . Perceber de
( maneira empatica e perceber o mundo subjetivo do outro "como se" fos-
semos essa pessoa - sem, contudo, jamais perder de vista que se trata
( de uma situac;iio analoga, ''como se". A capacidade empatica .implica, pois,
( em que, por exempio, se sinta a dor ou o prazer do outro como ele os sente,
em que se perceba sua causa ·coono ele a percebe (lsto e; em se explicar
( § X- Ifo~oes relativas a avalia~ao OS semtirnentos . OU as percepc;6es do outro como ele OS explica a Si mes-
( mo), sem jamais se esquecer de que estiio relacionados as ' experiencias e
percepc;6es de outra pessoa . Se esta ultima condic;;iio esta ausente, ou deixa
( de atuar, niio se tratani mais de empatia, mas de identificac;iio . . ·,
36 . Centro de ava.lla!:io. Esta noc;ao refere-se a fonte dos crite-
( rios aplicados pelo individuo na avaliac;ao de suas e;q>erienCias . Quando
esta fonte e interna, inerente a pr6ptia experiencia, dizemos que 'o centro 40 . Ponto de referencia externo . Perceber a partir de urn ponto
( de avaliac;ao esta no individuo . Ao contrario, quando aplica a escala de referencia puramente subjetivo, sem se preocupar com o ponto de re-
de valores de outra pessoa, dizemos que o centro de sua avaliac;;ao se ferencia do obj~to observado, isto e, sem adofar uma atit].lde empatica,
( e perceber este objeto a partir de urn ponto de 'referencia extemo .
situa · em outra pessoa . ·
(
Para facilitar a cornpreensiio desta noc;iio, comparemos a atitude da-
( quele que observa a partir de um ponto de referenda extemo a atitude
37. Processo de aval~iio "oOrganismica" Esta noc;iio e relativa a
( urn modo de avaliac;;ao que, semelhante a urn processo ou a urn desenvol- do experimentador na escola de psicologia animal, denominada ~·organis­
vimento, nao para de evoluir, de mudar. Os criterios ·postos em jogo rrio vazio'1 • Segundo os . te6ricos desta psicologia, urn animal e submetido
( por este processo · jamais sao .fixados o~ rigidamente determinados . Ao a urn determinado ·e xcitante quando esta si.tbmetido a certas · condi<:~
cqntrario, modificam-se constantemente em func;ao . de urna simbolizac;ao que, qo ponto de vista do experimentador, constituem urn excitante. Da
(
cada vez mais correta da experiencia vivida e da satisfac;;ao "organismica"· mesma forma, o experlmentador qualifica de ''rea<;iio" todo o comporta-
( que lhe e inerente . Mais precisamente, a experiencia e avaliada levando- mento do animal que lhe parec;a representar urna reac;ao do "excitante•
se em conta as necessidades de conservac;;ao e de valorizac;;ao, tanto do dado . 0 experimentador ..nao se preocupa absolutamente, portanto, em
( procurar compreender se estas condic;6es ou estes cor'rlportamento repre-
"organismo" quanto do "eu", no presente imediato e no futuro. :E, pois,
( a tendencia atualizante que serve de criteria ao processo de avaliac;;ao sentam de fato urn excitante ou uma resposta no campo experencial do
"organfsmica". Urn exemplo, multo elementar, sem duvida, deste proces- animal.
(
so fundamental de avaliac;ao e · observado .na crian<;a pequena que quer
( QI'a brincar, ora descansar, que reclama alimentos quando tern fome, mas :E a partir de urn ponto de referencia extemo que o homem aborda,
que, logo satisfeita, os depreza e que, comportando-se deste modo, re- geralmente, os "objetos" (pedras, arvores, abstra<;6es), ja que estes obje-
( vela-se capaz de reconhecer de maneira natural, espontanea, aquilo que,. tos sao incapazes de experimentar experiencias, niio se prestando assim l
( globalmente, favorece seu desenvolvimento . · compreensao empatica . Porem, niio esq1,1ec;ainos que o inverso .tende igual-
mente a se produzir . Com efeito, quando abordamos uma realidade ani-
( 178
179
(
(
c mada (animal ou humana) de urn ponto de vl~ta ou de um ponto de
refer~ncl,a pu'ramente externo, sem nos esforcamos por compreende-la in-
c terionnen,te por meio empatico, n6s a reduzimos ao estado do objeto.
(
(
(
(
(
(
(
Capitulo IX
(
(
(
.C
( BREVE TEORIA DA TERAPIA
(
c Tendo delineado a <:rientac;ao geral de nossos pensamentos, e de-
finido as nor;oes te6ricas fundamentals, pcdemos pa,ssar sem outro pream-
( bulo ao enunciado das ,proposic;oe~ , cne constituem o arcabouc;o de nosso
sistema.· te6rlco. ! ' ·'
(
( Estas proposir;oes sao forrma. !das· de modo conciso e devem ser
c entendidas nul.n sentldo estrito . As ·}1l'OP'osic;6es "formals" sao precedidas
de urn mlmero . de ordem o que permitira ao leitor distingui-las facil-
( mente do texto comum, destinado a comentarios e a outras explicar;oes
( de carater menos rlgoroso, e menos verlficavel experimentalmente. As·
nor;oes essenciais de cada proposir;ao formal estao impressas em negrito
( e foram definidas· no ...capitulo anterior . Convem, pois, compreende-las
neste sentido preciso. Os irfuneros ~ . de ordem que precedem as proposi-
c c;oes formals estao agrupados, atem disto, em categorias indicadas pelas
( letras maiusculas A, B, C, etc . Isto nos permite envlar o leltor a uma
ou .()utra proposi~o. com a orientaQa.o de tetras e de algarismos (por exem-
( plo, I, Al II, B3, etc . ) . o atgartsmo romano que precede a maitlscula designa
( os ra.mos essencr:ais de nossa teoria (cfr . p . 191, p. 204, p. 219, p . 223) . :J!!
. assim que o lei tor deve interpretar as formas abreviadas nas paginas se-
c puntes (ofr . p. 199, 202, etc . ) .
(
Comecemos pela parte central de nosso sistema, a que tern suas
( raizes diretamente em nossa experlencla de terapeutas .
( 180
181
·x
(
(
(
( mas que acabam de ser enumeradas; alem disto, a teoria postula que ele
( L Teoria da terapia e da modifica~ao da perso~alidade nunca se produz na ausencia destas condir;oes .
( Notemos, inicialmente, ·que esta teoria e de ordem condicional. Alertamos o leitor de que o enunciado, tal como e formulado a se-
Enuncia-se segundo a seguinte f6rmula: Se sao dadas certas condi<;6es guir, pode estar sujeito a urn mal-entendido. Este mal-entendido resul-
( ta, ge:talmente, do segttinte fato: a teoria nao estipula que o terapeuta
(varhiveis independentes), entii·D urn . processo determinado (vari!ivel de-
( pendente) se produzira . Se este processo (transformado em variavel inde- infonn.e o · cliente de maneira explicita, verbal, de sua compreensao em-
pend€nte) se produz, entiio certas modificar;oes da personalidade e do com- patlca e da consideragao. positiva incondicional que experime:p.ta com re-
( portamento (variaveis dependentes) se seguirao. lagao a ele. Observemos, a este .respeito; que foi deliberadamente ~ ain-
( da que nao sem hesitaQi'io - que omitimos tal estipulagao da lista das
A. CONDICOES DO PROCESSO TERAPE:UTICO condig6es . Com efeito, para que haja comunicar;ao, nao basta ilizer ao
:
.•. .
( ., .... cliente que se experimentam com relagao .a ele os sentimentos e atitudes
Para' que ci processo terapeutico se · produza e necessaria:
(
estipulados em 4 e 5 . 0 que importa e que o c.liente apreenda a existen-
1. Que duas pessoas estejam em contato . cia dessas atitudes no terapeuta, como esta dito em 6 . Nao e, pois, ne-
( I cessaria que o terapeuta comunique verbalmente os sentimentos que ex-
2. Que .a ..pril:neira pessoa, que designaremos o cliente, se encontre .num periments em rela~;ao ao ~;:liente. A verdadeira comunicar;ao deste tipo de
estado de desaoordo illlterno, de vulnerabilldade ou de angUstia. coisas se faz geralmente de maneira fortuita par alguma observagao ou
alguma expressao fisionomica espontanea. No entanto; como a c.omuni-
3 . Que a segunda pessoa, que designaremos como terapeuta, se encon-
cagiio representa o elemento essencial de :toda rela<;ao vivida, sari:=t pos-
( tre ·rium estado de '"aoordo tnterno· ---" pelo menos durante o Qe.cor-
sivel - se se quisesse destacar a importancia deste fato - reformular a
re.r cia entrevista e no ·q ue se relaciona objeto de sua relaQaO com
ao proposigao 6 da seguinte fqrma:
( o 'clitmte . ·
-· ~; · ·,· .· · • ·.
( 6 Que, ao menos numa . proporQi'io mip.ima, . o terapeuta consiga efetiva-
C. QuoJ o terapeuta expennte!Qte sentirnentos de ~ncia positiv:a in-
condicional a nispeito do individuo . mente comunicar ao cliente a compreensao empatica e a considera-
( <;ao positiva incondicional. que experimenta com relar;ao a ele .
5 . Que 0 terapeuta experimente uma compreensao empatiea do ponto de
referenda interno do cllente . Outro elemento que requer uma palavra de explicar;ao e· o fato de
,( termos proposto apenas uma unica e mesma serie de condigoes terapi\'..1-
( 6. Que q cliente perceba - mesmo que numl\ proporr;ao minima - a pre- ticas, sem levar em consideragao, aparentemente, a variedade das carac-
senQa de 4 e de 5, isto e, da considera~ii.o positiva incondicionai e da · teristicas individuals dos diversos clientes. Isto e, algo que nao deixara,
( cornpreensao empatica que o terapeuta .lhe testemunha. sem duvida, de surpreender o terapeuta de orientagao tradicional. Nos-
sas razoes sao estas: a experiencia nos ensinou que cada cliente faz um
(
uso diferente, pessoal, da relagao que lhe e oferecida . Alem disto, tornou-
( se evidente em nossas observar;6es que niio e necessaria, nem mesmo util,
Comentclrio manipular a relagao com o fim de adaptar a diversos individuos . Antes,
( pelo contrario, parece que tal manipulagao prejudica exatamente o ca-
( Estas sao as corid1Q6es que parecem necesMrias para. que se poriha rater mais importante e mais precioso da relar;ao: que ela representa
uma rela<;i'io autentica entre duas pessoas, em que cada uma se esforga,
( em trt~:vimento o processo terap~utico. Outros elementos podem juntar-
do melhor modo que lhe e possivel, em ser "ela mesma" em sua intera-
se .a estes, o que geralmente acontece. Assim, o processo se estabelece,
~ao com a outra .
( .em geJ"al, mais rapidamente ou mais facilmente, quando 0 cliente esta an-
sioso e nao simplesmente vulneravel. Igua1mente acontece, com freqiien- 0 elemento central desta teoria esta representado pela proposigao
cia, que o cantata au relagao teriha que "amadttrecer" urn pow:n..Jst;Q e, 3, que trata do estado de acordo interno, isto e, da autenticidade das
que ' tenha que se prolongar por urn certo periodo de tempo antes que atitudes do terapeuta. Para que a relagao seja terapeutica, e n ecessaria
0 processo possa se "Cfiamar verdacleframe nte terapeutico Quanta a com- 0
( que a experiencia imediata do terapeuta seja corretamente representada
preensao empatica, sua manrrestac;ao pelo terapeuta e . sua percepr;ao . pelo ou simbolizada na sua consciencia; em outras palavras, e n ecessaria que
( cliente requerem; geralmente, urn· certo usa da palavra . Contudo, o pro- os sentimentos e atitudes que experimenta para com o cliente sejam pie-
cesso se esbor;a, muitas vezes, sabre ~ simples base das condi<;6es · mini-
(
183
( 182
. que realizasse este acordo de modo constante. Se a permanencia . do acor-
namente disponiveis a sua consciencia . Par exemplo, se o terapeuta acre- do interno fosse uma condi~ ao da terapia, simplesmente nao haveria tera-
dita experimentar os sentimentos que ele "supoe dever" experimentar - , pia! Para que o fenomeno terapeutico .se produza, e suficiente que esta con-
considerac;ao positiva i incondicional, compreensao empatica - quando na , dic;ao se .realize durante os perfodos de cantata com o cliente, isto e, dll-
realidade sente apenas mal-estar e anglistia, nao realiza o acordo inter- . rante as entrevistas. Se· as experienclas que o profissional tern a respeito
no necessaria para a eficacia te"r apeutica . Assim a relac;ao ficara preju- da pessoa em questiio nesse momenta preciso sao compativeis com a !rna-
dicada. Importa, pais, que no decorrer de sua interac;ao com o cliente gem que tern de sl mesmo - isto e, se o terapeuta e plenamente "ele mes-
( o terapeuta seja plenamente "ele mesmo", sejam quais forem os senti- mo" - o fenomeno terapeutlco se produzira . Somente sabre esta base
mentes que experimenta neste preciso momenta. limitada e possfvel conceber que seres 'iniperfeitos possam: 'ser . capazes
(
~::
::
- de oferecer
~
. uma
. : :.'
assistE!ncia
.; .._;
·- .
de~
; .
ordem ':
' : ::.. ~ ' •,
.
teraoeutica a. outros seres
.
imperfeitos.
( Uma questao que se coloca a este respeito e a seguinte: sera ne-
·· '·. , Reconhec;amos, -no entanto,· que sob .urn certo .ponto- de vista - i'ne-
cessaria que o terapeuta comunique ao cliente alguns dos sentimentos que
( experimenta a seu respeito'? vltavel, sem dtivida - o enunclado atual de nossa teoria da terapia nao
(
.e plenamente satisfat6rlo . 0 defeito esta na maneira pela qu~I sao for-
A resposta a esta questao nao e ainda conhecida . No estado atual · ~ · muiiaas ~ : -div~rsas . propc)~t~<>es :~ CBcta \.una delas pareee estar exj)rt-
( de nossos conhecimentos julgamos .que o problema pode ser resolvido mindo urn absoluto, quando se tratam, na realidade, da condlc;~o 2 a con-
do segulnte modo: se o terapeuta verifica que os seus sentimentos o preo- (lleao 6, de ; dimensoes varlaveis, :E possivel que urn , dia. sejamos capazes
( de determinar cert~;UJ relac;<>es quantitativas tais como, por exemplo, o grau
cupam ao ponto de se sentir incapaz de se concentrar no cliente, e lm-
( portante que expresse estes sentimentos . Com efeito, a presenc;a de sen- . de ac::~rdo , interna necessarlo a produc;ao de efeitos terapeuticos. No mo-
timentos "estranhos" a relac;ao dificulta a pratlca de uma atitude de com- ..meritO ~tual, . d:int1,ido: c,tev(mios" noS:. cont~~tar .em inqicar que, quanta mais
( 'sao realizactas as coridlc;oes 2 ' a 6, inals pdssibilidades tern 0 processo te-
preensao emp:itica - condic;iio necessaria a terapia. Do rnesmo modo,
( :o;e o terapeuta experimenta sentimentos contraries a considerac;iio posi- ·• rapeutico 'I>rC>duztr e' nieihor~~ serAo OS efeitos . ' Neste momenta,
•'(le''se
tlva incondicional, parece ser necessaria uma explica~ao com o cliente. .Pbdl!}llOs.
.. .;·.. . ~xpfln;tir
. .
. es~as·.· rei~~Bes
.. ·. , ,. .
soniente em
.
terll).os
. ,.
..qualitativos .
.• ' '
( ·.! · .
'
( E evidente, contudo, que, para saber com certeza se esta maneira
de abordar a dificuldade e a correta, seria preciso submete-Ia a verificac;ao
( Infelizmente is to e bastante dificil . A . coragem - ;:;enao a audacia - ' 'I'•: Elementos -de ;prova
~ 'J • j
necessaria para proceder assim, !alta, geralmente, mesmo a terapeutas
(
experientes. :E inegavelmente dificil exprimir pensameritos tais como: "Co- A importAncia das condic;oes estlpuladas, particu1armente a da con-
( mec;o a crer que, no !undo, voce e psic6tico", ou "0 c;tue voce me diz me ' :: diQ8o· 5, acha..,se confirmada pela~ p~squisas. de .!'ledler q~, 32) e c,le Quinn
atemoriza, pais seinpre me debati com essa mesma · especie de proble- (74). Conclui-se pelo estudo de Fiedler que as terapeutas expex:ientes -
( mas sem jamais ter conseguido resolve-los" . A soluc;ao que propomos IJiii!- - ,.,.. ;· qualquer que seja sua or.ientac;ao. te9ri~a - consideram:_. ; lll,le.!~ .:x;elac;ii,o tera-
( nao e pais facilmente verificavel. ~..-w:: i·i•>peutica . JVerdadelr.8!IIlente . f~CU:Qda e carac~e~izada peliJ. . capacl~~l;\e_ do tera-
_ - peuta. em compreend~r : o . ~li~te ~ . como eJ;~ se _ ~mpreznd~ a St _mesmo;
( Outra questao que se coloca com relac;ao as c<;mdic;oes da terapia, · m&.is precisam~pte, p_or sua. •.capaeidaqe Qe ;wr~ender . a. _ ~,i_!;nificac;ao pessoal e
( do modo como sao propostas par n6s, e a seguinte: sera o estado de subjetiva das palavras do cliente. Quanta aos resultac;lol> .d~ Quin~. estes
acordo lnterno - ou de integrac;ao - do terapeuta i o fa tor terapeutico revelam que 0 fator primordial da terapia reside na qtialldade Cia comu-
( essen cia!, ou sedio as atitudes . de considerac;ao positiva incondicional e nicac;ao reali:tada pelo · terapeuta : · "Estas pesquisas ·evidenciam, pois, a lm-
de compreensao empatica'? Aqui, ainda, a resposta deffnitiva nao e conhe- portancia da compreensao empatica:; '. ·' · ·-·
( cida. Portanto, podemos oferecer apenas uma resposta provis6ria, deri-
( vada de nossa teoria, e que pode ser formulada da seguinte forma: o esta- ·- · · ·~ Seeman' 005) ' obteve uma • cor:rela:~ ·signffiCativa entre · a simpa-
do de acordo interno do terapeuta e de importancia primordial, mas este tia que o terapeuta selite ·p elo ' cllente eo sucesso do processo terapeutico.
( · .
(
estado deve se juntar as atitudes de considerac;ao positiva inctmdicional
e de compreensao empatica requeridas pela teoria .

..,,
. ..
1, Seeman e Lip!Un (62) , ~onstatam, igualmente, que os clientes que reco-
nhec~m a existencia~ nQ terapeut.a, d~ . s!)ntimentos posi,tivos para com eles
=:~ · i,tendem •a .- se benefi~lar mais da t:rapia. : Est~ trabalhos .trazem, portan·
( A respelto deste estado de acordo interno do terape~ta, importa , to, um certo apoio ~~ · elementQ:.4 · <con~~de~a<;ao positi~a .i~condicionan e
ressaltar que a presenc;a desta condic;ao pode se limitar a rela~ao que do elemento 6 <perce~ao desta atitude pelo clientel da . .teoria..
(
mantem com o cliente . Com efeito, niio. se poderia exigir do terapeuta
(
(
(
( L ;a a) Corohirio: A medida que o numero de experienclas am~oras dimi-
nui, o numero das defonnac;iies e lntercep~iies de experiencias diml-
( Quanto ao elemento 2 (vulnerabilidade ou angtlstia do cllente) qua- nui lgualmente. Em outras palavras, o comportamento se torna menos
( se niio foi, ate o momento, objeto de pesqulsas slstematlcas, mas a ex- defenslvo.
peri~ncl. a clfnica tende a- confimui-lo. 0 estudG conduzldo por Gallagher - ---. •
( I. 0 cllente se torna cada vez mais capaz de experimentar a consider~
f33) revela que os cllentes que quase nao sentem angtl.stla nio mant- ~- ~
positlva lncondicional que o terapeuta Jhe demonstra. sem se sentir
( testam empenho- algum na rela~ terapiutica e tendem. a114s. a aban- ~-
~ado por esta experiencia.
dona-Ia. - ·
c IJGi?'- 10. Experlm.enfa cada vez mals uma aUtude de conslde~ positlva in- .,
condlcional .com . rela~o a IIi Bll!SDlO.
( . B. 0 PltOCESSO DA TERAPIA-
11. Ele !e di conta, cada vez mals, de que ~ ele mesmo o t:eatro de ava-
( Quando as condi~ achna enuncladas estio presentes e se man- ~ de · aua .ftperlencla; ·
( ~~ um certo processo && p6e em andamento. Sio estas, suas can.cte-
rfsUeos: 12. A· &\'a~o de sua experleada torna-se cada vez menos condlelonal,
( ereiU&,. cac~a· ~ mais sobl'e a bue de dados •organtsmicos", isto
t. 0 cllente :r;e sente ~da VeZ mats ~paz de exp.r tmtr . _ . senlbfteae. ~. de experimcias vividas.
( de nianetra verbal ou nao;,verbat. . · ·.. · · · ·
( · 2. Os sentbnentos que exprlmc se retacionarn cad& ftiZ mais ao n -
( por oposic;Ro ao nio:-eu (isto 6, a.o seu ambiente).
3. Torna-se cada vez maiS capas de distinguir OS objetos de seua all- Coment6rio
(
men&os- e de suas percr"m. Esta maior cay.ictdade de dt.crimlaa·
( via se aplica tanto a n~o (X, eu ·e hs suas nperrendas. qu&tlto ao~ · " Ainda que nao estejamos em condi~oes de afirmar com certeza que
. rilundo exterior, a outras pes.-.oo.• e u reta~ que mantem com· a- -_ todos estes elementos sejam necessarlos ao processo, pode-se aflrmar que
( tas. Sua ~io de todos estes o\Jjetos toma-ae menos riJtd,a o ~~ todos siio caracteristlcos dele. Tanto do ponto de vista da experiencia
( menos global. E~ outras pala_vras, a shnbolazaP, de auas n~· ·· clfnica c~mo do da 16gica da te~~ia, os elementos 3, 6, 7, 8, 10 e 12, devem
elas torna-se mats correta, mats dllerendada. IJt:~ . ser cons1dcrados como necessanos. 0 elemento 5a, por outro lado, re-
( . •- cada . presenta mais uma nota explicativa que urn elemento intrinseco da teo ria.
· ·88
•. Os
8llUifu..,.&toe qUe expnme se re1acoune, YeZ mars, .com o .,..
( ' t.do db ~ existente entr. certos elementoa de sua e:cperiefteb 0 leitor ficani, talvez, surpreendido por esta teoria nao comportar
( " suu ao~ao t!o ea. · prnposi~oes expllcatlvas. Com rela~ii.o a isto podeni ser uti! apresentar
:;. Che:a a senllr eol\.'iCiententeme a amea~ que este estado de desacordo r..osso objctivo cientifico sob a forma de uma analogia bern conhecida:
( teeiemo compotta. se se passa um ima sobre uma lamina de ~ e se se disp<>e estB lAmina
( ·<t) A aperiincla (fsto e~ a tomada. de conscwneta rte · um HtadcJ) · de tal modo que ela possa girar livremcnte, (entao) verifica-se que ela se
..., &meJit'll toma-H possivel gra~ a Clflllslaft'III('SO po.tlha 1necrnc1teton ~· orienta para a dire~iio Norte Em outras palavras, se sao dadas certas
( que o terapeu~ nio cessa de thes testemunhar · _ quer 0 eUen&e dt.C "8 condil;oes, (entao) certos E'feitos se seguirao. Este tipo condiclonal de pro-
( proYU de a.!Ordo ou de rlesacordo Jnt.emD. de anpisUa ou d4t qualqtuJr -~""~.• posi~oes vcrificou-se inlimeras vezes. Como explicar o fen6mr.no? Nu-
• outt-o sentitnento. . ·· . · • .-2 merosas teorias foram apresentadas com rela<;ao a este tcma: contudo,
( hesitariamos, mesmo no momento atual, em afirmar que ronhec.\,mos seu
IJ. 0 -cliente chep a experlmen-- pf~le certoa RDIImenloa que· •••I"'" --.• mecanismo.
( entia. havla deronnado ou ._,..o. · · · · ·
Dizendo sobre a terapia: "Se se realizam tais e tals condi\;6cs (en-
1. A~ do eu mu&a de maneifa -aJ;ertnlttr a inteira~ de etemanta • . ~-. tao) tais e tats coisas se seguirao"; servimo-nos, essenciahnente, da mesma
de experienela que haviam sldu det'or.madol ou uepdo.. .~
f6rmula. Temos evidentemente certas hip6teses quanta ao J>orque do fa-
B. A med!da que a reorganlza(:lo da estrutura do eu prossecue, o to. Nas paginas que se seguem tentaremos explicitar algumas destas hi-
entre esta astrut•.rra e a e~perteriefa total awnenta con.t~tant.emeflt.e . p6teses . Mas, o elemento essencial de nossa teoria relaciona-se com o que
o .. toma--. ntlo. aapa de ·us.lmilw ~ de ftP!ntnot& que fl 8 acaba de ser citado: quando certas condi~6es de interacao humana sao
eram, antedormente; demasi:ldo ameapclo"s para aerem Jli.~Udos ,(~Jt...,,,
eonsdincfa. · -·_ · ~ 187
.....I
186 .,. . -
dadas, certos fen~menos, denominados resultados terapeuticos - melho- nome de resultados e que sao, alias , observaveis do exterior, isto e, fora
( rn, mudanc;a de personalidade, cresclmento · humano - se seguirao. Nos- do consult6rio do tet'apeuta. Eis, portlanto. as mudan~;as de personali·
sas · explicac;oes quanto ao porque do fato podem estar· erradas, . mas · as dade que se observam no cliente e que se revelam de natureza relativa-
( comprovac;oes experimentais e clfnicas que demonstram que ele realmen- mente perinanente.
( te se produz nao pa_ram lie. se_ac\Ullul~r .
:j d.
1. 0 cliente evolui para um estado de acordo lnterno mais completo;
( e mais aberto lP, SUa·expcrl.e ncla e ~ menos defensivo
.. . . . . .. ,, . · ' ·- .
'
( Elementos de prova
• • .<; .! ; .• .: _J ~ • • ; ·_. ;·; • -1 • • : ~ ·:
reallstas, mais dlferencladas e mais objetiva.o;.
i, ~ :· .: •: ~ 1 i • ' . .. . ' . .
2. Suas. perc~iies
. .
siio. mais . .
( Diversos estudos vieram confirmai;. esta ' desCti~lo' do processo tl>· 3. :Torna-se cada vez mais capaz de resolver seus. problemas.
( ~tlco .: _ Ais. n~ gra~ de~- QUe Vb sendo. BC\IIJl~
4. Seu funciOnamento psfqulco melhora e se desenvolve no sentid<• . otinto.
at~ hoje, confirmam amplamente o elemento 2; ~ . 1\eS~Wlh.os, np e~..
( a) Esta mudanc;a decorre das mudanc;as na estrutura do eu descritas
tanto, nao foram ainda convertidos. em termos estatfsticos. 0 estudo · de
Stoc~.J.ll~) .;confirma o elemento 3, ~velando ,-que o eu se exprbne:de ma.:.. em B7 e BS.
(
neira : mat" : obj~Uv$.· .e menPS , erno<llQnal . O· de Mitchell <6'1l.·dernonstla 5 . Em consequencla do crescimento do acordo entre o eu e a, experien~
( que apercepc;iio se torna mais dtscrlminativa, isto· e:;menos ·rfgida e me• cia (C4, acima), a vulnerabilidade a ame~ dimlnul. '- : · · ..· ·
nos global.
( 6. Em consequencla de C2, a percepeio do eu-ldeal e mais reallsta e
Extstem testemunhos clfntcos objetivos. sob a forma de grava~;6es,
( portantb, mais realiZavel.
de urn caso de Rogers (92) que confirmam os elementos 4, 5 e 6.
( ,.·Varg~' his>' conseguiu vartas provas relativas ao elemento 7, que 7. Em conseqiiencia cie mudanc;as descritas em C4 e C5, o acordo entre
tendem a demonstrar que a imagem do eu se reorganiza em func;ao de o eu e o eu-ldeal aumenta.
(
novas percepc;oes ·que se relacionarri com o eu. Hogan (50) e Haigh (42) 8. Em consequencia do aoordo crescente entre, por urn lado o cu e o
I
\ demonstrarain a dimtnuic;ao progi:essiva dos mecanismos de defesa, con- cu-ldeal (C6), e, por outro lado, entre o eu e a experiencia, produz-
firmando, desta forma, o elemento 8a. 0 exame profunda e mtnucioso de se uma diminuic;ao geral do nfvel da tensao - tanto psicol6gica quan-
( urn caso individual de Rogers (92) ·revels urn crescimento do acordo entre to fisiol6gica - e da tensao particular, difusa. ctcnominada angtlstia .
( a estrutura do eu e a experiencia total. 0 fato deste crescimento ser acom-
panhado de uma diminuic;ao de mecanismos de defesa fica evidenciado 9. A consl~ positlva a respeito de ~!l aumento .
( em uma pesquisa conduzida por Chodorkoff (18).
10. 0 indivfduo se percebe, cada vez mais, como o centro de avalia~ao .
( 0 crescimento no cliente da considerac;ao positiva a respeito de si a) Em conseqi.iencia de C9 e ClO, o individuo sente uma confianGa cres-
e atestado pelos trabalhos de Snyder 007), Seeman (103), Raimy (7q> centa com relac;ao a si mesmo e se sente mais capaz de se encarrer;ar
( ' Stock (112), Strom (113), Sheerer 006) e Lipkin (62). A tendencia do clien- da direc;ao de sua vida.
( te em se considerar como o centro da avaliac;ao da experiencia se sobres- b) Em conseqiiencla de Cl e ClO, seus V f. ~ t.:res se baseiam sobre um pro-
sai com particula,r relevo no estudo de Raskin (78), enquanto que os tra- cesso de avaUa~iio "organismlca".
( balhns de Sheerer 006), de Lipkin (62) e de Kessler (57), contem igual-
mente dados que ap6iam este elemento da teoria . 11 . Em conseqiiencia de Cl e Cl:!, ele per,wbe o mundo exterior, e mais
(
particularmente seus semelhantes, de urn modo mals realista e correto .
( C. EFEITOS DA TERAPIA. SOBRE A PERSONALIDADE E 0 12 . Como experimenta cada vez menos a necessidade de deformar suas
( COMPORTAMENTO experiencias, particularmente suas experiencias relativas a outras pes-
Afirmemos, desde ja, que nao ha uma nitida distinc;ao entre o pro- sons, experimenta para com elas uma tolerancia e uma aceitac;ao cres-
( centes .
cesso e os resultados da terapia. As caracteristicas do ·processo corres-
pondem, na realidade, a elementos diferenciados dos resultados. As pro- 13 . Seu comportamento se modiflcn sob varios aspectos:
posic;oes seguintes pOderiam, pols, ter sido enunciadas sob o titulo pre- a) Como o mimero e a variedade das expcriencias compativeis com a
cedente . No entanto, para maior clareza da exposic;ao, acreditamos ser imagem do eu aumenta, o mimero dos comportamentos aceitos pelo
melhor enunciar, ·separadamente, os elementos geralmente designados pelo. eu igualmente aumentn .
(
188 18!1
(
(
( )
(
(
( b) Da mesma forma, os comportamentos que, anteriormente, eram
incompativeis com a lmagem do eu e que, por isso, nao eram adwJ- ·
~ tidos, diminuem em ndmero. · ideal 6 oontinnado por Butler e Haigh (13) e Hartley (47); a importAncia
c) 0 lndivfduo se percebe como mais apto a controJar e a dlrigir seu desta mudan~a em re!ac;ao ao born funclonamento psfcol6gico esta evi-
(
comportamento. deuciada iloa' trabalhos de HanlOD, Bofstaetter e O'Connor ( 46>.
(
( 14. A avalia~iio do comportamento ·do lndividuo por tercelros .·f! mais A dlmlnuh;io do nlvel da tensiio fisiol6gica e demonstrada no estu-
.f avoravel. considerado mals maduro fma&urJclade) e mals social.
:e do de Tbettford (114> e Anderson tt). A reduc;ao da tensio psicol6glca -
( tal como eta e medida pelo Discomfort-Relief Quotient (t) - e apresen-
15 Em conseqiiencia de Cl. C2 e C3, o lndividuo se revela como urn tada nos trabalhos de varfos pesquisadorea entre os quais: Assum e Levy
( ser crlador, mais flexivel. inais capaz de se adaptar a condi~s (7), Cofer e Chance (20), Kauffman e Rairny (54), N. Rogers' (99), Zim-
( novas, a problemas novos - um ser que exprlme mais plenamente merman Ul9>.
aeua ·pr.Opr!os fins e valores.
\ 0 aumento da consldera~ao posltiYa do indbiduo com relac;iio a
al mesmo (elemento 9.) eata bern estabelecido, como demonstram os ele-
( mento. de prova cftados com rel~o ao titulo B. As mudanc;as que. se
( Comeat6rio operam com re~io ao centro de avalia~o sao demonstradas pelos estu-
dos de Raskin (18) e Sheerer (106). Rudlkoff (101) fornece resultados que
( 0 elemento essenclal da teoria dos efelt.os da terapia I! o enuneia- tendem a provar que a percep;iio do outro se toma mats reatista . Sheerer
do em Cl, relativo ao aumento do estado de acordo ln~erno. Os outros (106), Stock (112) e Rudf.koff (lOl) mostram que a percepc;iio do outro
( elementos niio servem, senao, para tomar explicltas as impU~es do toma-se mals tolerante. kD contrirlo, Gordon e Cartwright {38) ferne-
( t>lementO 1. Ainda que estes elementos decorram diretamente da ldgica ·. cern tnstemunhos complexos, . mas que. no conjunto, contradizem os re-
da teoria, julgamos tltil enumera-los, detalhadamente, consfderando-se que sultados que. acabam de ser citados . lgualmente, M. Haimowitz (44) des-
( eles podem ser perdidos de vista se niio forem colocados em evldencia. cobra que os sentimentos negatfvos relaclonados · aos' .:rupos minorlttirios
( parecem se expressar mats abertamente.
Os comportamentos indicados nos enunciados 13 e 14 sao conflrma-
( Elementos de prova dos por um estudo de Rogers (94) que procura provar que, no caso da
( terapia bem sucedida, tanto o cliente como as outras pessoas que o co-
A questfio dos efeitos da terapia foi objeto de numerosas pesqui- nhecem bem constatam que ele se comporta com uma maior maturldade.
sas . Os resultados destas pesquisas sao, em geral, positives . Algumas HoCfman (49) observa que o comportamonto, ta.t como e descrito pelo pro-
( pesquisas, no entanto, fornecem dados negatives enquanto que outras sao prio individuo no decorrer das entrevistM. revelA uma malor maturlclade.
ambfguas. Grummon e John (41), servindo-se do TAT, constatam que os 0 estudo de Jonietz (53> contem iJ:Ualmer:tat tt.rna certa conrirma~ao do
( indivfduos se tornam menos. defensives. Hogan (50) e Haigh (42) dao, etemecto 15.
( igualmente, um certo apoio a esta hip6tese. Jonietz (53) descobre mu-
dan~as no modo •de perce~ao, enquanto que Mitchell (67) demonstra que
( estas mudan~as se efetuam no ~entido de uma crescente diferencia~iio.
Comentarios •obre ca temaa lA. IB.YCs a teorla da terapla
( 0 elemento 4, relative ao funcionamento psicol6gico, tS conflrmado
( por trabalhos baseados no TAT, no Rorschach, nas escalas de avali~ao Observamos que. fundatm>ntatmeme, esta t~mrla nao oomporta va-
e em outros criterios - nos estudos de Dymond (26, 27), Grummon e rbiveis intermedlarlu . Todas as t'ondlr;m enunchtd:s sob o titulo A sao,
.~ p~cfplo, deflnivefs en:' . termtl5 operactcmails e. de ratt;; d!'*~ . ntre :
. F. :
( John (41), Haimowitz (44), Muench (69), Mosak (68), Cowen e Combs
( (22). Por outro lado, Carr (15) aplicou o Rorschach a nove casos sem
elU ja fon.m definfdu cle£ rraaneira nos trabalhcs de pesqutsa :1Jilllza·
descobrir indicios de mudan~a. dos ate bQ,te. o que n tet:~na .arma ct, eMenetatmmte, jsto: se A e dado,
B • C se aeguirio. B • C represent&rn fen6m.enos. mensuri.veis que podem
( Rudikoff (101) con~tata que o eu-ideal torna-se cada vez mais realiza- r. predize~:. a partir de A.
vel, conforme o .elemento 6. 0 awnento do acordo entre o eu e o eu--
(
I I) Ouasrionario que , . _ . ..,..,. • ~ •ntrw a ..,~ de mal-ftrar e a sen~ de
( 190 ,..,uamtlftto.
191
conclusoes, porquc elas representam nm elo importante, susceti'l'el de ex-
.. ~mpor~ .tgualmente notar que a teoria ~:'firma que;., . plicar o cnn\ter p!'oprio de nossa t,eoria . Sao, alias, estas mesmas con-
'····
clus6es que nos impeliram a elaborar uma teoria da personalidade. Com
Se A, entiio B; . cfclto, se o individuo e, r eaJmente, tal como se revela na situac;ao tera-
.•; :, ... . .~ . ··.
se '::A, entiio B e C; . peuttca, qual se ra a teoria eapaz de explicar su~ maneira de ser, sua
Se A, entiio C (omitindo B);
. Se B, en~o C (omitindo A). ·natureza?
Sao estas as conclus6es r elati.vas as caracter isticas do "organismo"
r, ,·.
hwnano:
·~ ·.
. A -ciueetao daa rela~oea fundonafa ' 1. 0 individuo e capaz de tomar consciencia dos fatores de seu desajus -
No estado presente de nossos conhecimentos, podemos dar apenas tamenlo rsicologico - fatores que residem na falta de acon lo entre
uma tndi~ geral e qualltativa das rel~~es funcionals extstentes entre a no~ _ que faz de sl l]ltl81I10 e o conjunto de sua expenencia .
a tntenaldade respectiva etas diversas · cond1¢es. Assim~ parece · posslvel
aflnnar qUe: . .• . • ·:.. . ~. ' .• : !
2 . O"'i ndividuo tem a capacidade de reor ganizar sua nol(ao do cu de modo
a t or.m - la mais compativel corn a t otalidade de sur1 (•Jq>el·ii~ncla -- e
( - quanto rliats se reallz8m as c<mdic;oes especi!icadas _e m A _, •. •·: tenck ·· exercer esta capaciclade Em out ras palan J.s, e ~~apaz de
~ - ~ definldas -se~ as caracterlstl~ do processo .espectficadas e~ B, e · substit v·· o hom ajustamento pelo dcsajustamen to psiquico. c ;~st.a in·
(
- mala deflnidos ou mats _amplos . seri.o· ~ efeitos da. ~rap~ _e specl!ica-
( dos em c. · cUiiado a i:aze-lo .
3. No caso ·em que esta capadclade e_estu te:1dencia existam a_ocnas em
( ·. ·&efomiul~os esta.s · rel&¢es - em -ierinos ·irtais gei'a!s: · · ·_
~ ' . ' '· .·.·. ·, . .' . ; ; estado latente. elas sc desenvolverao em t oda relac;ao com uma pes-
( · -,....... ·quanto mais ang11stia sente o · cllente ., -
soa que
realize , do ponto de rcferencia desta relac;ao, um estaclo de acordo
- ·mais o terapeuta realiza um estado de acordo intemo,
( - ,mats o terapeuta tern sen_timentos de consider~ao positiva incondlcio- ·
·n&l e ·de empatia para ootil, o. clienie ·· -· · - · · · lnterno;
experimente corn relac;ao no interes<;a.do uma atitudc ·de considera-
(
~ inais o ctlente se d4 coiita da extst~ncia · de~& ,senttnlentos, . f;ao p.Jsitiva incondicional _e uma C.ompcccnsao empatica;
( - . trials prQfupda ser4_ eXperifulcta terap~utica, ' . :_· . .
a ' chegue. em certa medida, a comunicar estas atitudes ao interessado .
_;_ maiS it'nportantes e rnais numerosas seri.o mtidanc;as · da -_p erl$0na- ·a:s ·
. ' . . .
itdac1e e do . comportairlE!nto . . . .. . , <Estas conclus5es reiteram, essencialmente, as condi<;6es enuncia-
<. : Retornando a 16g1ca de nossa teoria, pode~~s dizer que tudo- 0 que das I A3, 4, 5, 6).
( podemos aflrmar, no presente momento, e que: ._. ;:
A tendencia em questii.o nestas conclus6es e a que ' apresentaremos
( B= (f)A; C = (f)A; B + C = (f)A; C = (f)B no capitulo seguinte sob o nome de tendencla a atualiza<;ao . A hip6tese
da capacidade do individuo - fundame~to destas concltts6es - e; eviden-
( ,..,;, ,:·' _._: ~~\l.- s;~~ _.n~~s4Ji9 ;~~'; 9~, .~ ,_:proc~o - ~?~~reen~~ .•multas o~tras temente, de lmporti'mcia capital em suas implicac;6es psicol6gicas e filo-
l ·· · ·-reta'QOes · funcibl'lais· - que ·-a · teOria· · iili'i.da ··tlli.d · especlflcOU'.-· Por •e:xemplo, s6ficas. Do ponto de vista pratico, implica ·que a psicoterapia consiste
quando o nfvel de, angU8tia do __ clienw. ~ . elt;!va, isto slgnifica qu.e o esta-
( do de :· acordo intemo . do teraPe.u~a : !?e --tqrM. ' menos neces84rlo? Desta simplesmente na libera{(ao de capacidades ja presentes em estado laten-
te . Is to e, implica· que o cliente possua, potenc~alrnente, a competencia
··. t~~ .I:!. q~estao ~as ~e~a¢~es . t,upCi?,~al$ oter~ ~ossibi~idad~ . ~e. pes~ui- necessaria a soluc;ao de seus problemas. Tais opinioes se opoem direta-
l sas. muito;.v.!-\Stas. . ,' ., : . , . -- . , , :. ·· · - ·· · · -- - · · -
mente a concepc;ao da terapia como . uma manipulac;ao, por especialista,
( ' :·, • .1~ i ~ ~ _: -~. . : .; . . .. ' " •.
J:). ALGimfAS J~NCLYS(),ES RE~'f:IY~ ..A ;NA1.'li:Rt:ZA DO HOMEM
de um organlsmo mais ou menos passivo .
(
A teorla da terapia, do modo como a . cohcebeirtos, hnplica certas <Sobre is to; sera util charnar a · aten c;fio do lei tor para urn equivo-
( co bastante difundido e que se telaciona .com a origem .destas opini6es .
conclusoes relativas a natureza humans . Para conhec~-:las, basta_.exami-
Convem notar que estas sao de ordern empirica, n ao de ordern especu-
( . nj,\.r, de um ponto. d~,- v's,t~:~.)lgefrapl~llte. d.lfer~te, . o . conjuntodas hip6-
( teses que acabam de ser enunciadas. Sera utll, talvez, determinar, .e.stas 193
( 192 w .-~
~
~
'Jattva. Enraiza.rn..se em nossa eJill)€1iencia de tE)rapeutras, uao em algum
postulado ou alglirna ·posiQii.o ad.otada a priori u l >.
Do ponto ·de vista fhos6fico, 'estas concepc;:6es impllcam que - em
algumas . condic;:oes detenninadas - o indivfduo tern a capacidade ine-
rente de se orientar, de se diriglr e de se controlar. Somente na ausen-
c1a destas condic;:6es - nii.o em .principio - que a dir'ec;:ao e 0 controle
e
( externos· siio · necessl\rios para lhe assegurar uin desenvolvlmento e · urn
comportamento favoraveis e ordenados.
(
(
(
( Capitulo X
(
(
(
c TEORIA DA PERSONALIDADE E DA DINAMICA ·
. . .
c DO COMPORTAMENTO
(
Ao tentar ordenar nossas observac;:oes · relativas ao individuo tal
( como ele se revela no decorrer da terapia, fombs levados a elaborar .
( uma teoria do desenvolvimento da personalidade e da dinamica do com-
portamento tanto normal quanta anormal. Este quadro te6rico da 'p er-
c sonalidade ampliou- se · grada.tivamente de modo a incluir as caracteristi-
( . cas do funcionamento psicol6gico 15timo tais como podem ser deduzidas
de nossas teses . Tudo · isto representa a segunda parte de nosso sistema
( te6rico e e objeto do. presente .capitulo.
(
(
II - Teoria da personaUdci:de
(
( Comecemos recordarido a advertencia feita· acima, isto e, de qo.1e as
proposic;:oes seguintes sii.o apreseri.tadas nuina ordem de certeza .!rescente·.
( As proposic;:6es que se acham no comec;:o . da serie sao, pois, as mais dis-
( tantes de nossa expetit'incia como terapeuta, e por isto, as mais provis6-
"rias . · As · que se acham .no fim da · serie se aproximam, cada vez mais,
c do nticleo de nossa experifutcia.
{ (11 · - No artigo autobiogr4fico publicado hl! alguns anos (951; ex pus a mane ira pel a qual a A. AS CARACI'ERtSTICAS DA CR~AN(!A
( com;epc;ao da capacidade do lndivfduo acabou por se impor a6 meu pensal"[lento. Postulamos que, durante o periodo de sua infancia, o individuo pos-
sui - pelo menos - os seguintes atributos:
c 194
( 195 -
(
(
n ·,ar,.<\" a i~t u .ievemos repelir c destacar que o que const1tui o meio
1: Ele percebe sua expedencia como sendo a realidadc. Sua expericn- ou .a :; •.· . t!l :1acl!.~ d!l cri;>.r.<;a e a rcpresentat;ao que ela faz dele - nao algu-
( cia e sua realidado.
il ma "realidac!e verdacleiramente real" tal como se concebe em certos siste-
. a) Disto resulta que, melhor que ninguem, ~ capaz de apreender o que
( m as filos6 fi ·:os . Urn exemplo sera suficiente para mostrar em que con-
e para ele a realidade, j!l, que nenhum outro individuo e capaz de se sistc isto . Supc.nh:unos que ~rna crianc;a seja tomada nos brat,;os de uma
\ imergir totalmente no seu ponto de referenda interno . pess0a boa e ::~mavel. Suponhamos que a crian<;a, em vez de perceber esta
,··
( 2. · Possui uma tendencia inerente a atualizar as potencialidades de seu pessoa tal cornu "e", ::. perceba como rna e perigosa. Chorara e se deba-
"organismo". t.era com tod.as as suas for~,-as .. Constatamos ·entao que a rea<;iio da crian-
c;a e determinada por esta -percep<;iio ameac;adora e nao pela "realidade"
3. Reage ante a (isto e, ··ante "sua") realidade em fun~ao desta tenden- ou pelo "estimulo" _ Sem duvida, as rela<;oes da crian<;a (e tambem do
(
.. cia fundamental a atualiza~io. Seu comportamento representa urn adulto) com se~ meio estiio em func;iio de uma troca continua entre os
( · esfor~o constante e oriimtado · (goal-directed) du organismo a flm de dados ac~mulados de sua experiencia e OS ctados im~iatos . Se, em di-
satlsfazer suas necessidades de atualizactao tal como ele as perccbe, versas ocasioes, sua experiemcia imediata contradiz sua prfmeira impres-
( na realidade, tal como a pe~cebe . siio, esta .s e modificara com o tempo. A realidade que afeta seu ::om-
4. Na sua intera<;ao com a realidade (com seu mdo), o individuo se portamento em cada mom ento particular e, ·no entanto, a realidade vi--
com.porta oomo .urn .·todo · orpnizado, isto e, como urna ·" oestalt;; ou vida . Podem.os, pols, estabelecer nossa teorla sobre esta base· sem ter
( que. nos preocupar com a delicada questao da natureza da "verdadeira
esLrutura. ·
( rea.l.ldade" _
5. Sua experiencia e acompnnt.ada de urn processo continuo de avalla-
( ~iio . Esta avaliactao pode se denominar "organfsmiqa", ja _ q ue e a Observemos com relac;iio as caracteristicas da crianc;a, que HdO pro-
( .tendcncla atuallzanie que lhe ;;•:;rve de criteria .. Atribui uma valor po-· cura111os, de modo algum, estabelecer uma lista completa do equipam~>n­
sitivo as experienctas que . pe•~,· :eb~ como favoraveis a pre.serva<;ao e to . que lhe e ina:to . A questao de saber se, por· exemplo, a crianr;a pas-
( a yalorlzar;ao do organismo; e ><l ::ibui um valor negativo as expe rl~n- ' sui instintos, se esta equipada com urn reflexo de sucgiio ·inato ou de
das que percebo como·ccontrnti :~:. . A pt·ese~lio e a ·valoriza~il :lo t;ma necessidade inata de afei<;f~o nao e, certarnente, desprovlda de inte-
(
organ~smo Oi totalidade de seu ser). resse; no entanto, quando se trata de elaborar uma teoria da personali-
( dade, este genero de questao e de ordem claramente secundaria
6 : Ten de a procurar as expericncias que perrcbe como positivns e a
evitar as· experiencias . que percebe como negativas.
B . 0 DESENVOLVIi\IENTO DO ElJ
(
1. Como resultado da tend en cia a diferencia<;ao, que constitui urn as·
( pecto da tendencia a atuallza~iic, um certc r.·~gmento da expericnci&
Comentario
( se diferencia e se simholiza na conscif:nd·,,,_ :Es- te segmento simboli-
Destas pro:~wsiQiY.!S se _conclui que ~ crian<:; a, tal como e aqui con- zndo corresponde a {: Oll ~dencia de e~:i_;tjl· :;.e agir enquarito indivi-
( duo e pode se descrevc· t:omo a e:xtwr' i.' nf ia do cu . ·
cebida, e e(i utp:· c~a. com um sistema tnato de motivac;ao <a tendencia a
( atualiza~: ;a propria de todo ser vivo), e de wn sbtema inato r' "' contro-
Em conseqiiencia u.a J n~Nn<;iio ~.mtr•3 " ;>i ganismo c o meio, esta c.ou"-
lc ( o processo de avallactiio "organismica") que, por me~o de comunica- ·
( cicnci.a dr! exisl.ir ercsce e se or;:..J.niz ;.. g: adativarnent e para fommr a.
~iic interna automatica (tl, mantem o organismo a par do nivel de i;a-
nn<;iio do eu que. ,_,n q u;u ~ ~ o ohjeto da pc.rcep<;fio. t uz parte rk cam.' :·o
( tisfac;iio das neces:;idades que emanam da tendencia a atualiza~ao •.
. da experiencia total.
( COnclui-se ig'Uaimente de5ta.s proposi~. que a crianc;a vive num
meio que, do ponto "de vista psicoldgieo, existe somente paru ela: num
( mundo de sua propria criaGiio. A afirma<;ao do catater dP certa forma Comentario
( privado do mundo da crian<;a requer uma palavra de explica~,;ao, Com
( Estes sao, pois. em sua ord<>rn de sucessao 16gica, os elementos
. .r principals da teoria rehtiva ao dr:-senvolvimcnto do · eu. Reeordemos o
(11 OtJscrvemos que este sistema de controle 41 de ordem clbernl!dca; lsto II, II comparavel, de
( certo modo, aos mecanlsmoi.do atitocontrole de certas m~quinas. -''18 foi dito acima. a respl"ito das defini¢es (capitulo VIII> : que e-ct.a· o:n:km
( '
196 tD7
(
~
(
(
(
( ao eu, seja com a satisfa<;lio, seja com a frustra<;ao da necessidadc de con-
de , sucessao nao corresponde a maneira - multo menos ordenada! - sldera\)ao positiva .
( pela qual a no~;ao do eu se formou em nosso pensamentp.
3. 0 individuo chega, pols, a experimentar a presenga ou a ausencia de
( ...: . A NECESSIDADE DE CONSIDERA(:;\0 POSITIVA considerar;ao positiva, independentemente das avaliag5es pelo outro. Tor-
( na-se sua pr6pria "pessoa-criterio" ("his own significant social other")
1. A medida que a no~ao do eu se desenvolve e se exterioriza, desen-
volve-se o que convencionarnos chamar de a necessidade de oonside- 4. 0 fen6meno de generalizacao ( complexo de consldera~iio) que se cons-
( r&(lao posltlva . Esta necessidade e universal, considerando-se que ela tata em relar;ao a consldera\)ao positiva, constata-se, igualrnente, com re-
( existe em todo o . ser humano e que se faz sentir de uma manelra . Iar;ao a consldera~iio positiva de si. Isto e, a consideragao positiva de si
continua e penetrant~. (A teoria nlio se preocupa em saber se se trata que acompanha uma determinada experlenchi relativa ao eu, tende a se
( de uma necessldade inata ou adquirlda . Segundo Standal (110) · comunicar ao conjunto das experlenclas relativas ao eu, lsto e, a imagem
- que introduziu esta nor;ao -..:. trata-se de uma necessidade actqui- do eu. ·
( rida) .
( E. DESENVOLVIMENTO DE UM MODO DE AVALIA(!AO OONDICIONAL
a> Esforr;ando-se para satisfazer esta necessldade, o indlviduo deve ne-
( cessariamente se . basear em inferencias reiativas ao campo de expe- 1. Quando as experieneias de si de 1,1Itl dado indivfduo sao julgadas por
ri@ncia do outro . certas pessoas-criterio como sendo - ou nao sendo - dignas de conside-
( ra~io . positiva, resulta que a consldetar;io posltiva do individuo com re-
Conclui-se que esta satisfar;ao e freqiientemente ambigua <t >.
b) A satisfar;lio desta necessidade relaciona•se com uma vartedade multo la<;lio a si mesmo ·torna-se igualrnente seletlva~
\ grande de experieneias.
( 2 . Quando uma experlencfa relativa ao eu e procurada - . ou evitada -
c) 0 processo de satisfaglio da necessidade de considerar;ao posltlva e unicamente porque e percebilda como mais - ou menos - ciigna de con-
( bilateral. 0 indlvfduo que se da conta de que satlsfaz esta necessi- sider~o de sf, dizemos que o indlviduo adquiriu urn modo de avall~ao
dade no outro, satlsfaz, deste modo, sua pr6pria necessldade. condiclonal u >•
( d) Os efeitos desta .satiSt~ sao poderosos no sentido de que a eens~.
( dera~ao positiva manifestada por uma pessoa qualquer se comunica, 3 . Se .o lndlviduo experimentasse uma atitude de eonsider~ii.o positiva
naquele que e o seu objeto, ao conjunto da considerar;iio que expert- lncondicional em face de si mesmo, olio estaria sujeito a esta alteragao da
( menta com relagao a ·esta pessoa ( compJexo de considera~ii.o) . funr;lio de avaliagao. Isto e, sua necessidade de considera~ao de si e de
( consldera\)ao positiva estariam sempre em acordo com a .avalia\)ao auto-
Em conseqiiencia disto, a considera~ posltiva de pessoas pelas quais noma "organismica" . 0 funcionamento psiquico deste individuo hipote-
o indivlduo experimenta 'lliilJa- oonsideracao particularmente nositiva tico seria otimo. Tal modo de funcionamento pode se conceber em prin-
( (pessoos-criterio) pode se · tornar 'uma forca, diretriz e reguladora mais
cipia . .E importante, pois, que ele seja . considerado, para as necessida-
( forte que o processo de avaliacio, "organi....tco,. Is~o e, ·o individuo
pode chegar a preferlr as dire¢es que emar.am destas pessoas, as des da teoria. E muito pouco provavel, entret.anto, que ele possa de fato
( dir~oes que emanam de experteDciae suscetiveis de satisfamr sua exlstir.
tendenaa a atuau~ .
(
( D. DESENVOLVIMENTO DA NECESSIDADE DE CONSIDERA(!AO · PO-
SITIVA DE SI Con1entario sobre C. D e E
(
1. As satisfag6es (ou as frustrar;oes) que acompanham as experiencias re- 0 enunciado nos titulos C, D e E representa uma sequencia im-
( latlvas ao eu podern ser sentidas lndependentemente de qualquer mani- portante do desenvolvlmento da personalidade -- elaborada por urn mem-
( festacao de considera~iio positiva pelo outro. A considerar;io positiva as- bra de nosso grupo (110). Por isso convem reformular o essencial em
sirn experlmentada indica-se pelo nc>rne de consider~ii.o positiva de si. termos menos rigidos, mais vivos .
(
2 . A neeessidade de ~on~idera~iio de sf, tal como e concebida aqui, e uma
.
A crianga descobre que o afeto que lhe demonstram e fonte de
( necesidade 'adquirida que resuita da assoclacao de experiencias relativas satisfagao para ela . Aprende, assim, a experimentar uma necessidade de
( (11 A fim de facilitar a compreensao da not;:iib de avaliat;:iio condicional digamos, desde ja, que
(1 I Disto se deduz que o indiwfduo gosta de satisfazer esta necessidade no outro e gosta de ob-
ter a 'satisf~o desta necessidade atrav6s do outro. ela corresponde, essencialmente, a nocao mais conhecida de introjet;:iio.
(
( 198 199
_,
(
afelc;ao. Ora, para saber se esta necessidade pode vir a obter a satisfa-
~ti.io que deseja, e preciso que a crianc;;a observe, por exemplo, a expressao necessidades e de mante-las em estado de equiliprlo. Assim, se enfren-
do rosto de sua in~e, seus gestos e outros sinais mais ou rnenos ambi- tasse urn conflito como o que foi citado acima, ela diria (pelo rnE;nos no
guos . Baseando-se nestes sinais faz, pouco a pouco, uma imagem da nivel experiencial, nao necessarlamente no nivel verbal): "Gosto de ba-
( maneira pela qual sua mae expressa (ou retem) · seu afeto . Cada, nova ter no meu irmiiozinho . Faze-lo chorar me diverte. Nao gosto de fazer
experiencia tende a modificar esta imagem num sentido positivo ou ne- mamae sofrer. Is to me faz sofrer tambem . " Por isto, o compbrtamen-
gativo (complexo de considera~tao). Pot isto, cada vez que sua mae de- to da crianc;;a corresponderia as vezes ao desejo de dar prazer a sua
saprova uma aQiio qualquer, · a crianga tende a interpretar 'esta desa- mae, e as vezes, sem dlivida, ao desejo de fazer seu irrnao chOrar. No
( provac;ao como se fosse dirigida . a seu comportamento total, em suma, entanto, jamais se sentiria obrigada a negar os sentimentos (de ,prazer
( a sua pessoa. Considerando-se que a· crlanc;a ·atribui gerairnente, .uma ou de desprazer) que acompanham suas experiencias, ade'quadamente
importiincia primordial a aprovagao de sua mae, acaba por ser guiada, apreendida:; e diferenciadas . (Deste m«;>do ela se tornaria capaz de reco-
{ na.o pelo carater agradavel ou desagradavel de suas experiencias e com- nhecer as experiencias que, com o tempo, se revelam as mais satisfat6-
portamentos (isto e, nao por sua slgnificagao em rela~tao a sua tenden-
rias e, conseqiientemente, de modiflcar seu cotnportamento >.
cia atua;uzante), mas pela promessa de afei~tao que elas encerrram . Ora,
( esta atitude .,em 'face de experiencias particulares logo se estcnt1e a sua
personalidade· total. . Independentemente de sua mae e de outros lridivi- F. DESENVOLVIMENTO DO DESAOORDO ENTRE 0 EU E A
( duos-criterio, a crianga acaba por adotar, com · rela~tao a ·si mesma e a EXPERI:£NCIA .
seu comportamento, a atitude · de certo modo "global'', manifestada por 1. Em conseqiiencia da nccessidade de eonsidera~io posltiva de si, o
estes individuos ·.' Mais precisamente, a aprovagao .<ou a desaprovac;;ao), individuo percebe sua experiencia em func;;ao das' condic;;oes as quais
o desejo . <ou a repulsa) . que experimenta com relac;ao ·a eXJ)eri~ncias par- ele veio a se submeter . Ele percebe de mancira seletiva .
( ticulares tende a abranger o conjqnto de sua experiencia. · Em conse- a) As experlenclas que concordam com estas condi~6es sao percebldas
qiiencia, tende a atribuir urn valor positivo a certos comportamentos que, e simbolizadas corretamente na consciencia .
( no nivel "organismico", nao sente como verdadeiramente positivos, isto . b) As experienclas contrarias a estas condic;5es sao· percebidas de ma-
( e, como pr6prios de ·uma necessidade real, vi vida , de se manter e . de neira seletlva; elas sao ou deformadas de modo a torna-Ias de acordo
se valorizar . Tende, igmilmente, a atribuir · urn valor negativo a certo·s estas condic;oes, ou inW.rceptadas a conscitincia .
comportrunentos que experimenta de fato como agradaveis e de acordo ·.
com sua necessiCJ.ade de atualizac;ao . Quando 0 comportamento· da crian- 2. Segue-se dlsto que a experH\ncia comports elementos n!lo identifi-
«;a e guiado por fatores "introjetados" como estes, sua func;;ao de avalia- cados e que se relacionam com o eu. Por lsto, todas as experienclas
c;;~o torna-se. condicional. · A crianc;;a revela-se, en tao, · incapaz de ado tar nao sao slmbollzadae corretamente na conseie..ncia, nem sao incorpo-
em face de si mesma e de suas experiencias, uma atitude positlva inde- radas ii n~io do eo.
(
pendente .de condig6es externas . Dai em dh..nte, procura (ou evit~) cer- 3. A partir disso, e a partir do primeiro caso de perce~io seletfva,
( tos comportamentos em func;;ao destas condic;;6es - quaisquer que sejam estabelece-se urn certo estado de incongruencia ou de desacordo entre
as conseqiiencias com relac;;iio a necessidade de atualizac;;ao do "organlsmo" o eu e a experfencia e urn certo grau de wlnerabllidade e de desa-
justamento psfquico aparecem.
Isto e, pois, o que entendemos por nogao de avaliac;;ao condicio-
nal, no<;iio que substitui . a llO<;iiO de introjegao ~ men()S precisa, e que
ja haviamos · abandonado .
Comentcmo
I
Em principia, este desvio do processo de avaliac;;ao. nao e inevi- 1!:, pois, em conseqiiencia da violac;;ao de sua fun~tao de avaliagao
\
tavel . Se, por exemplo,. a crianc;;a se sentisse sempre apreciada, se os "organismlca" que o individuo perde o estado de lntegrac;;ao caracterfs-
seus sentimentos fossem sempre aceitos - ainda que sua exptessao atra- tico de sua infiincia . A partir do momento em que a avaliac;;ao de sua
ves do comport~e,nto nao . pudesse ser sempre to~erada - esta forma de elCperiencia e condicional, a no~tao do eu comporta os elementos defor-
avalia~ao condicional nlio se produziria. (Como urn exemplo da atitude mados que nao representam corretamente a experiencia . Da mesma forma, a
da mae em caso de conflito; cfr. supra). Se fosse sempre permitido a experiencia comporta os elementos que nao sao incorporados a noQfio do
crianga avaliar sua experiencia ein fungao daquilo que · i:ealmente . sente, eu . Portanto, o individuo nao e mais capaz de funcionar como uma pes-
ela · teria · ocasiao de aprender a harmonizar a sr.tisfac;ao de suas dive- ' as soa perfeitamente integrada e unlficada . Certas "facc;6es" se formam na
sua experi€mcia e tendem a ame?.!;ar a estrutura do eu. Para manter
')t)()
\
(
(
esta estrutura, o individuo tern que recorrer ao uso d e defesas . Conse -
( qiientemente, o comportamento · e dirigido as .vezes pelo eu, e as vezes
( por certos elementos de · experiencia que n9,ci sao incorporados a estruttl-
da experiencia;· simholiz~ao hteorreta, causada pela deformac;ao e pe-
ra do eli. A personalidade s.e encontra, portanto, dividida· - com tudo
( la omissao de c ~· rtos ·dados; ausencia de discriminac;ao ou discrimina-
0 que esta !alta de unta.ade . acarreta de tens6ek e de~equilibrio funcional.
c;ao perceptual lrisuficiente (intensionality) .
( Is~o , e ,o q~e. em riossa opiniao, . constitui o estado de aliena<;iio de si:
6 .. iridividuo faltou 'c om a slnceridade para consigo mesmo, · para com a
( slgnifica<;ao' "organismica" de sua experiencia: . A · fim de conservar a con-
sidera<;ao positiv~ do · outro, . iaistficoti ·certas experiencias vividas e · re- Comentario sobre G e H
(
preserit~u ,.Para si mesmo estas experienclas com 0 mesmo . fndice de va-
( ,Idr que ·'urwam para o outro . Tudo isto se produziu involuntar.iamente, Sob o titulo G se descrevem os fundamentos psicol6gicos daquilo
· como
. ~
un1 processo n!lti.u'al -"- e tragico - alimentado durante
..
a . infancia . que, geralmente, se designa pelo nome de comportamento neur6tico, en-
(
G. IJJ:SENVOLVIMENTO ' DE ClONTRADif,OES NO .OOMPORTAMENTO
quanto que sob o . titulo H se indica o mecanismo deste comportamento .
( De acordo com nosso ponto de vista, parece preferivel qualificar este
( L 0 conflito entre o .eu e. a experlencla tal como acabamos de o expor, tipo de comportamento de defenslvo, e qualificar .o tipo de comporta-
da origem a urn .conflito 'i!malogo 'no nivel do comport~ni~nto . . . mento descrito sob o titulo 1, exposto a seguir, de desorganizado . A no-
( a) Certos cpmportamentos estiio de ac;oz:do ~om .a no~lio d«( · ~u; nian-· <;ao de comportamento defensivo abrangeria, pols as noc;oes de raciona-
tern, atlializam e valorizam o · eu . Estes comportarrientos sao . c0rte- lizac;ao, de coinpehsac;ao, de · projegao, de fobias, etc., assim como certcia
(
tamente slmboUzado.s na consclencla. . . . comportamentcis geralmente classificados como psic6ticos, tais como as
( b) certos coinportamentos proeuram manter, atualizar e . vatorizar· se- atltudes e comportamento paran6icos e mesmo certos comportamentos
tores de . experlencia que · nao sao representados na .estrutura ·do eu . catatonicos . Quanto a noc;ao de comportamento desorganizado, esta abran-
(
Estes comportamentcis nao sao reeonhecidos pelo cliente . como re- ge. d.iversos'' tipos de comportamentos psic6ticos, "irracionais" e "agudos "
( lacionados ·c om o eu, ou sao defonwi.dos com o fim de toma..,Ios de acor- como o.s descrttos a seguir , Esta classificac;ao nos parece mais funda-
do com · o eu . mental que a classificac;ao u8ual e, sob urn ponto de vista terapeutico,
( ela parece mais fecunda : Alem ' do mais, esta menos sujeita a reificac;§.o
( H. A ExPERI£NCIA D~ MWEACA E 0 PRocEsso DE .DEFESA' isto e, as noc;oes ·de neurose e de psicose estao nela men os expostas
. . .
' ad perigo de se instituir .como entidades .
( 1. As experlencias que na~" esta.P de acordo com a estrutura d~ eu ou
com as •condigoes que dominam··o ..processo 'de avalia.cao sao r~onhe­ .
( . cidas no. nivel da "subce~ao" como MD~adOras . .,. Completemos este comentario com alguns exemplos de comporta-
. . . ' ·· - . \. ,.
,_,.., . mentos. defensivos. Comecemos por uma caso simples, que ocorre com
( ~. Se a experlencla am~ora fosse correta.mente simbollzada, a nocio -.:;:;.",. todos nos, expresso de forma bastante familiar: "Nao sou eu quem esta
( do eu perderia seu cai'ater unificado, as condic;5es de avalla(:ao seriam • errado . Eis como as coisas se passaram . . " Neste tipo de desculpa h a
violadas e a necessidade de conslderacio de si seria 'frustrada. Urn e;zr~ •
t' ••• muitas :vezes uma deformac;ao ou falsificac;iio da experien cia pela percep-
( estado de angiistia se apoderal:ia do lndividuo . Isto e, essencialmen- ,;ao, com o fim de tornar a experiencia de acordo com a imagem do
( te, o que define a aineaca. eu - is to e, a imagem de uma · pes ~ oa que nao co mete erros. Um com-
( 3. 0 processo de defesa e a reac;ao que impede estes fatos perturbadores
.« •
·---r:::
.~~·~-. portamento de defesa mais s~rio e a fabula<;ao . Suponhamos o caso de
uma moc;a pouc6 atraente e que sofre com a ausencia de aten c;oes ma::-
de se produzirem.
( a> 0 processo de defesa consiste na percep.;ao seletlva, na deformacao ~, ~. culinas . A tomada de consciencia de sua aparencia e de sua situac;ao
da experli'nda e (ou) na intereePCao parcial ou total de certas ex- represents uma ·amea,;a com relac;iio ao eu . Para escapar a esta amea-
periencias . · Este processo procura defender o estado de acordo entre, ,;a pode acontecer a este tipo de pessoa se proteger com ilusoes como:
por urn lado, a experlencia total e, por outro lado, a estrutura do eu
,; :tf.~--
•.>+--. "Sou uma linda prlncesa e todos os homens me adoram" . Neste caso,
e as condic;6es impostas a avaliacii.o . a experit:mcia penosa e claramente interceptada ou negada e o individ•.:o
( cria para si urn mundo artificial que revaloriza o eu, r!:.J.s que n egli ·; Pn-
( 4. As conseqiiencias gerais do processo de defesa sao as segulntes: rl-
:tr~ cia completamente a realidade . Vejamos, finalmente, . urn exemplo de
gidez percr·ptual, causada pela necessidade de defo.n nar oertos dados comportamento defensivo extremo . Quando uma experiencia deformada
( ou nao confessada e expressao de uma necessidade poderosa, o "orga-
( 202 nismo" se arranja, as vezes, para satisfaze-la, descobrindo algwn modo
de expressii.o indireta . Quando se trata de urn individuo, por exempl('l,
(
r
t.e que se traduz por urn comportamento incongruente, instavel, ana-
que se representa a sl mesmo como nao tendo tendencias "mas", sexuais,
logo ao que se conhece pela noc;ao de personaiidade m1iltipla.
este pode recorrer a explica~;oes como esta: "Eu tenho o espirito puro .
.J!l voce que me poe estas coisas infames na cabe~;a". Este tlpo de
comportamento defensivo poderla ser designado como proje~;ao ou mes-
mo como fenOmeno paran6ide. Na realidade, trata-se de urn processo pelo Comentario
( qual o "organismo" procura satlsfazer sua necessidade sexual de tal modo
que possa negar a necessldade, manifestando urn comportamento que cor- Digamos, de inicio, que a teoria apresentada sob este titulo e nova,
( responde ao seu eu. provis6ria e incompletamente verificada - como se observa, certamente,
no enunciado menos rigoroso de suas proposic;oes . Esclare<;amos seu sig-
( Estes exemplos poderiam se multiplicar ate o infinito. Seu meca-
nificado com alguns exemplos. A prop6sito de 1 e de 2, citemos de urn
( nismo tS sempre o mesmo. Em c~o de desacordo entre o eu e a expe- .
lado a emergencia na consciencla, no decorrer da terapia, de experien-
ri~ncia, a percep~;ao da experiencia tS deformada, ou negada (quanta ao
cias geradoras de ang'listla e, por outro lado, o estado de desmoronamento
( comportamento, ele tS raramente negado) ou se poe em a~;ao qualquer
psiqulco agudo. Na atmosfera de seguranc;a da terapia, o cliente se acha
( ~ombinac&o de modos semelhantes de defesa.
muitas vezes no ponto de exprlmir urn sentime.n to que e manifesta e
inegavelmente real, mas que e diamehalmente oposto a imagem que 0
0 J"ROCESSO · DE DESMORONAMENTO E DE DE~ORGANIZAC.\0
PSIQUIO& individuo faz de si mesmo. Tal individuo fica angustiado ante a desco-
A teoria da personalidade que formulamos ate aqui se apllca, em berta deste estado de desacordo . Contudo, se a sltuac;ao e favonivel (se
. ( ::raus diversos, a todo individuo . Os dois titulos seguintes, porem, tratam esta de acordo com as condic;6es descritas em J, expostas a seguir), esta
de processes observados somente sob certas condi~;oes . Vejamos estas angt'istia sera toleravel e as conseqiienclas se rE:velarao positivas. Par ou-
( ..:ondi~;5es: tro lado, se, por exemplo, em conseqiiencia de urn excesso de zelo por
parte do terapeuta, o cllente e colocado ante interpretac;oes relativas as
J.. Se exlste urn estado de desacordo evidente entre o eu e a experiencia e experiencias que ele nao e ainda capaz de assimilar, pode se produzir
( se, em conseqii6ncia de alguma experiencia critica, este desacordo urn estado de desorganizac;ao ou de desmoronamento psiquico, conforme
seja .desvendado de maneira subita e irrefutavel: o descrito aclma, em 3 . Este fen6meno de desorganiza<;ao se observa, as ·
( o processo de defesa se revelar~ lmpotente. vezes, no individuo que se dirige simultaneamente a terapeutas de orien-
( .&.. 0 individuo experiment& este estado de cleSacol'XIO no nivel da "subce~iO" tac;ao diversg. Pode ser observado, igualmente; nos casos de tratamento
l>or meio de s6dio-pentatol (pelo menos isto foi observado nas primei-
e se torna aDSioSo. ras experiencias com este agente quimico) . Sob a ac;ao da droga em ques-
A intensidade da angt'istia e proporcional a extensao do setor do eu tao, o paciente revela as vezes uma importante quantidade de experi~n­
afetado pela ame1ca . cias niio admitidas a consciencia - e que demonstram o carater incon-
( J . 0 processo de defesa se revelando impotente, a experiencia se torna . gruente de seu comportamento. Se algum terapeuta desavisado coloca o
corretamente simbolizada. Sob o choque desta tomada de cons- paciente ante os dados assim trazidos a Iuz - cuja autenticidade ele
(
ciencla, urn e6tado de desorgJIIJ$~ psiqulaa se produz. niio poderia negar - suas defesas se revelam impotentes, a estrutura do ·
( eu se desin~egra e causa urn desmoronamento psiquico.
( 4 . Neste estado' de d~, o individuo manifesta lfreq\iientemen-
te urn comportamento estranho e instavel, determinado algumas ve- Igualmente acontece que reac;5es psic6t;icas agudas se apresentam
zes, por experiencias que fazem parte da estrutura do eu e, outras como uma forma de comportamento de acordo com os elementos expe-
vezes , ~eacias que nio fazem parte dela. Em · certos
por ,r-·· r ~••• • rienciais nao admitidos e opostos a estrutura do eu. Por exemplo, o in-
momentos, o comportamento e determinado pelo "organismo", expres- • - E. dividuo que costuma lmpor urn controle rigido a seus impulsos sexuais,
( sando abertamente as experiencias prevlamente deformadas ou nega- e que nega ate sua existencia, chega as vezes - sob as condic;oes que
das pelo processo de defesa; em outros momentos, o eu se recupe- acabamos de descrever - a fazer propostas sexuais diretas as pessoas do
( ra temporarlamente e impoe ao "organlsmo" urn comportamento de seu ambiemte . Numerosos comportamentos psic6ticos de carater irracio-
acordo com a estrutura do eu. Sob condic;oes de desor~io, a nal sao desta ordem.
tensao e o conflito entre a estrutura do eu (com suas lacunas e de-
formac;oes experienclais) e as experlencJas incorretamente sJmbollza- Notemos, por outro lado, que a fase psic6tica aguda e geralmente
das, ou assimilades a estrutura do eu, conduzem a uma luta constan- seguida _par urn processo de defesa que visa proteger o "organismo" con-
(
( ~04 205
(
(
-r
(
( menta; o sentimento de considera~;1o positiva em face do outro aumen-
( ta; o comportamento se baseia cada vez mais num processo de ava-
llacao· "organismica" e o individuo funciona cada vez md h or.
(
t.r a a tomada de consciencia, infinitamente penosa, db desacordo profun-
( da que existe entre o eu e o organismo . Sobre isto gostaria de expor
algumas opini6es multo pessoais e, alias, completamente hipoteticas . Pode Comentario
( nr-ontecer, sem duvida, que em certos casos as experiencias negadas diri-
( jam o comportamento e que·· o organismo se defenda contra a tomada Esta teoria do processo de reintegrac;:ao descreve, Pm · t.r· nnos urn
de consciencia pelo eu. · Mas, em outros casos, o eu retoma a direc;;ao do pouco mais generalizad6s, as proposic;;oes relativas ao proces.-.(: da tera-
( comportamento - contudo; este eu esta consideravelmente alterado. ~m pia . Ela procura · destacar o fa to de que· a person alidade se n~i -, 1 •·g-ra ou
vez de ser dominado pela necessidade de coi:lSidenic;;ao positiva, e domina-' . se estabelece - e de acordq com nossa teo ria, se restaoel cc\' : penas -
(
do ·p ela id€Ha: "Estou louco, sou um idiota, indigno de ·respeito e estou quando se dao· certas condi<;5es definidas . Est as condi<;i)es ~- ;. , ·ssencial-
( pre.s o a · impulsos incontrohiveis". Em · outras palavras, o eu ·· del:kou · de mente as mesmas, quer. Se trate de rela,c;ao psicoterapeutica p~opr ian.: Pnte dita
1nspirar a confianc;;a necessaria ao born funcionamento. ; .:_ relac,;ao que pode se estender por urn periodo de tempo consider,li'l') e pode
(
Esperamos que este segmento de nosso sistema, seja. pouco a pouco conduzir a,mbdifica~6es radicals da personalidade- quer :se t ~·: d t~ de re-.
( lac,;oes ·cotidianas en:tre amigos e parentes - contatos fortm tr ,·· : e cujos
ela.borado e esclarecido de modo a se prestar ~ verificac;;ao Elxperimental.
( efeitos se limitam genllmente a alguma mudanc,;a de atitude c '' •piniao .
·J 0 PROCESSO DE REINTEGRACAO . A ptop6sito de 2a, observenios que a. w rdadeira connnw :·: ;n bila-
(
Nas situac;;6es descritas em G e H <e talvez mesmo nos casos de teral da cons!derac,;ao positiva incondicional pressup6e sempn · , ompre-
( ensao empatica . Com efeito, se experiuento um sentimen to r: ·nside-
desmoronamentos descritos em 1 - ainda que este ultimo seja bern me-
( nos provavel), pode se produzir um processo de reintegrac;;ao que conduz rac;;ao positiva inconcUcional com relac;:ao a um a rwssoa q ue 1 : i t'0'1he-
a urn resta.belecimento do acordo o eu e a experiencia. Tal processo im- r,:o, este sentimento tern inuito, I)OUco significado, poi.s, pock 1:11 .dar logo
( . plica em: que passar a conhece-la melhor e vier a descobn r nt'l a car:.c te ri sticas
·pelas quais nao tenho nenhurna considera<;ao . Ao ccmt.nirio, :,.,• <= U a co-
( 1: Para que o processo de defesa possa ser destruido - para que uma nhec;;o a fundo, e por assim dizer, de "dentro" e!up ,dcamcntl ·. e se mi-
( experiencia que o individuo sente geralmente como amear,:adora possa nha COnsiderac;:ao incondicional Se mantem, entiio E.'S W sentiment!) e alta-
ser simbolizada corretamente e ser assimilada a estrutura do eu e pre- mente significativo. Trata-se de um sentimenro , r ,~• ximo da aceitac;ao
( . ciso que: completa baseada num conhecimento completo .
( .a> o individuo avalie sua experiencia de modo menos condicional.
· b) 0 nivel de considerar,:ao positiva incondicional de si se eleve .
(
;l . · A consideracao positiva incondicional testemunhada - e efetivamentfi
( comunicada -:-- ao cliente por uma pessoa-criterio, representa um dos Relacoes funcionais relativas a teoria da personalidade
meios de realizar estas condic;;6es.
( Uma teoria · completa e acabada da perscmalidade permitiria a de-
a) A · comunica<;ao efetiva desta consider.a.r,:ao positiva incondicional se
( reanza atraves .de compreensao empatica . terminac,;ao precisa e matematica das relac;6es · funcioriais eidstentes entre
b > A per~o. pelo individuo, desta oonsi~o positiva resulta na as diversas variaveis que ela faz intervir. No momento atual , nenhurna
( teoria da pe~sorialidade esta em condic;;oes de expl:imir estas r ela<;6es em
reciuc;:ao e f11esmo na abolic;:ao das condic;:6es que afetam sua func;ao de
( avalia~ao termos de equac,;6es . Isto e, precisamente, um indice da falta de maturi-
c) Esta percepr,:ao resulta, igualmepte, em um aumento da consideracio dade caracteristica deste ramo da psicologia. Devemos, pois, nos con-
( positiva incondicional de si. tentar em determinar certas relac;;6es muito gerais e qualitativas . Veja-
d) As condi<;6es de 2a e 2b estilOdo presentes, o nivel de anglistia se mos algumas indicac;6es rela.t ivas a estas relac;6es tais como .> e revelam
( nesta segunda parte de nosso sistema te6rico.
reduz o prooesso de defesa desaparece e as ex,perlencias gerallmeute
( sentfdas como ameacadoras se tornam suscetiveis de ser simboliz11.das
corretameitte e de ser asimiladas a estrutura do eu. Quanto mais uma. experiencia favorecer a tendencia a atualizac;ao.
( mais ela sera capaz de suscitar urn comportamento correspondente (A5 e 6) .
( 3 . Em conseqtiencia de 1 e 2, o individuo e menos sensivel as expericn-
cias amear,:adoras; o . comportamento de defesa e · menos freqtient.:J ; o 207
( acordo entre o eu e a experienc:.a aumenta; a considerar,:ao de si au-
(
:'Oo
,---- ~----­
(
(
termos urn momento no estudo de Chodorkoff (18) . Este estudo repre-
( senta uma tentativa de verificac;iio rigorosa de alguns dos enunciados e
relaQ6es funcionais acima apresentados . As hip6tesas de Chodorkoff sao
tomadas diretamente a teoria tal como acaba de ser enunciada . Por exem-
Quanta matores forem o mimero ejou a tmportancia das condiQ5es plo, . o comportamento defensivo se define aqui como o processo que im-
que afetam a funQiio de avaliac;iio, maior sera o mlmero de experiencias pede a tomada de consciencia correta de experiencias ameacadoras . 0
senttdas como ameaQadoras (Fl, !;!) . estudo em questao tern .por objeto as tres hip6teses seguintes:
'(
Quanta maior for o numero e/ou a importii.ncta das condict6es que
( afetam a avaliac;iio, mais elevado sera o grau de vulnetabilidade e de 1. Quanta mais de acordo estiverem o eu e a experiencia, menos o i;ncij-
desajustamEilto (F3) .. viduo percebera de ma.'leira defensiva .
(
Quanl:o mals elevado for o ntimero de expertencias suscetiveis de 2 . Quanta mais de acordo estiverem 'o eu e a expertencia, melhor ele
serem senti- como ~ras; mals elevada seni a probabilidade de funcionara . -
( comportamentos favorlhels a atualizac;iio do organlsmo que niio seriio 3. Quanto melhor funcionar, menos _ele percebeni. de maneira defen~iva .
identiftcados como relaclonados com o eu (01, a e b).
Chodorkoff se propoe, portanto, a verlficar uma de nossas defin1-
Quanto m8lor o acordo entre o eu e a experlenci8, mals correta sen\
-.;6es ' (acordo interno equivale a ajustamento) e duas relac;oes fun•
a representac;iio consciente (Gl, a e H1, 2, 3).
cionais . (0 grau de acordo interno e inversamente proporcional ao gra·..i
Quanta maior for o numero e 8 tmportAncia das condtc;aes que ate- de defesa . 0 nlvel do ajustameoto e invarsamente proporcional a defesa) .
( tam a av8liac;iid, mats rfglda e tncorret8 sera 8 pei'cepc;iio, tsto e, menos
el8 ·sera difer~nciad8 (H4l. · Eis as definlQoes opercJ.Cionais dos termos-chave das hip6teses em
( questao:
Quanta mai$ o estado de des!lcordo for conscientemente experimen-
( tado, mats elevada sera 8 probabilldade de comport8mentos desorganiza- 1. 0 eu se define sobre a base de uma Q-tecnica cujos elementos se re-
dos (13). lacionam com a noc;iio do eu . 0 lndividuo se descreve, com o auxi-
lio desta Q-tecnlca, tal como se ve no instante presente .
( Qut~onto mais o indtviduo se perceber como objeto da consideractiio
positiva incondiclonal do outro e quanta mats esta considerac;ao for ba- 2. A noc;iio de experiencia nao se presta, evidentemente, a uma defini-
( seada na compreensiio empatica, mats tenderiio a desaparecer o estado c;ao completa e direta em termos operacionais . Assim Chodorkoff abor-
de desacordo e as condic;oes que afetam a avaliaQiio do individuo (J2 e 3). dou o problema de maneira indireta, recorrendo a uma "descric;ao
(
objetiva" do individuo por urn profissional . Esta descriQiio era ba-
( As outras relactoes relativas ao titulo J ja foram espectficadas em seada num conhecimento do individuo, obtido por meio de diversos
r~lat,;iio teo ria da terapia .
a testes projetivos e formulado com o auxilio dos mesmos elementos
( de que se compunha a Q-tecnica do cliente .
(
Este procedlmento - sem duvida rudimentar - vern, pois, substi-
Elementos de prova tuir a imagem da experiencia "total" (por oposiQiio a imagem do eu,
da qual o irtdividuo - e consciente) . pela imagem dessa experienchl tal
Os prtmelros segrnentos desta teoria do desenvolvimento e da per- como e perceblda pelo profissional a partir dos dados de diversos
( sonalidade, sao compostos, principalmente, de construc;oes 16gicas <•cons- testes de personalidade .
tructs") e de proposic;oes que, apenas parcialmente, se prestam a verlfi- 3 0 processo de defesa se define em . termo~ da diferenc;a de tempo de
( _, ;~ c~io t}or me to de pesquisa. .. . ·· · · ~)i'e~,.;'!·;
r.,~ .~~ · ·": reaQiio na discrimin~iio entre "palavras neutras" e "palavras amea-
( ~J
Uma certa confirmac;ao experimental das proposic;oes esttpuladas em c;adoras", · apresentadas por metodos taquistoc6picos_
( F e dada pelos trabalhos de .c~rtwright (16), D\}ler <25), e as estlpuladas 4. 0 funcionamento psiquico era definido sabre a base dos resultados
em H pelos trabalhos de Chodorkoff (18) e de Cartwright (16), enquan-
( cumulativos da avaliagao do individuo por .. quatro juizes competentes,
to qne Goldiantond (35) apresenta provas suscetfvets de modidcar a no- .
atuando a partir de urn conjunto de dados de informac;ao .
( c;li.o de "subce~ao". Quanto as bip6teses reJativas a J, siio demo.Q,$tra-
das pelos estudos aclma citados, relativos a teoria da terapia . 209
(
Como. ilustra.c;ao do processo de verificac;i:i.o er.,Jerimental a que rios-
( sas teorias estao constantemente submetidas, pode ser oportuno nos de-
( Essas deiinic;5es forneciam a base operacional da elaborac;ao de
riencia de modo r.orre~o e tende a exercer esta capacidade .
( quatro medidru: independentes. Vejamos agora como Chodorkoff tradu-
ziu estas hip6teses em forma operacional: 1. ;co~olario: Eie · · tem ' ll. c~paddade · de · mantei, assim ' co:rrio r ;ssui a
( 1. Quanto mais elevada for a correlac;ao entre os resultados da Q-tec- tendencia pata mant~r urn: <sta.do de acordo entre a noi;ao do eu e a
nica do indivfduo e os da Q-tecnica do profissional, menor sera a experienda . ' . .· · · · ··· · · ' ·' ' · · . . ' . ··. · · . · ·'
~
distancia entre o limiar da discriminac;ao das "palavras ameac;adoras"
C. 0 individuo sente urna necessidade de con~idcra~ii-o .. iJOsitiv.·l
( e das "palavras neutras" .
2. Quanta mais elevada for a correlac;ao entre os ·resultados da Q-tecnl-
cl? ··:::Eie, _~~ie .wna ~ c~dera~- .-~itiva de ~~ . .; , .•.
tie.
( E . A manifestaqao das tendencias enunciadas ·.em A e B f$ func;iio das
ca do indivfduo e os do profissional, mais elevada sera a avaliac;ao
( do funcionamento do indivfduo pelos . quatro jufzes . satisfac;oes assinalad.as em C e D . Mais precisamente, as tendencias
A e B se expressam na medida em que:
( 3 . Quanto mais elevada for a avaliac;lio do indivfduo pelos quatto jui-
zes, menor sera a disUlncia entre os limiares do reconhecimento qas 1 . 0 indivfduo sente a COQ'Ji~ positlva btoondicioJU\l qe pess~~-
( ·crlterio ::.•: . }!_; ·::; ; ,-;r ,_:
"palavras neutras" e das "palavras ameac;adoras".
( Cada uma destas predic;oes e, portanto, cada proposlc;lio. correspon- 2 . . Esta · considerac;a~:' positiva incondicional revela-se ao individuo no
dente da teoria, foi confirmada por · via . empirica em niveis de_, sigrufi- . .intima . de uma . relac;:ao
na qual ele se siilta comp:reendido de uma
cac;iip estatistica . maneira empatlea.
Este estudo fornece urn exemplo da maneira pela qual vanas no- F . Quando as condic;:5es estipuladas em · E sao realizadas ao maximo,
<;5es te6ricas constitutivas de nosso sistema foram formuladas em defi- o individuo l'unciona plenamente'. Tal individuo apresenta as seguin-
(
nic;oes operacionais. Mostta, igualmente, como as diversas proposic;5es - tes caracteristicas:
( ou proposi<;5es derivadas - da tcoria sao suscetiveis de verifica<;ao em-
1. Esta "aberto" a sua experiencia.
pirica. Enfim, da uma ideia das predic;:oes r£lativas e comportamentos
( complexos - que ultrapassam o ponto de referenda imediato da expe- a) Corolario: Niio manifesta comportamentos defensivos .
riencia - que podem ser emitidas com base nesta teoria . 2. Conseqiientemente, todas as suas experiencia-s sao acessiveis a con!;-
( ciencia.
( 3. Suas percep~oes sao tao corretas quanta os dados de sua experiencia
(
o permitam.
m - Teoria do funcionamento 6timo da personalidade 4. A estrutura do eu concorda com a experiencia.
(
Na teoria exposta ate aqui, postulamos explicitamente a existen- 5. A estrutura do eu e uma "Gestalt" ou configurac;iio "fluida" que se
( cia, no "organismo", de certas tendencias e linhas de forc;as (I, D e II, modifica com flexibilidad~ no decorrer do processo de assimilac;ao
A2) e certas necessidades (II, C e II, D) .Como o pleno desenvolvimen- de experiencias novas .
( ·t.v destas tendencias e func;ao de condi<;6es bern determinadas, nossa teo-
6. 0 individuo se percebe como o centro de aval~ao de sua experiencia.
( ria implica a noc;ao de urn 6timo na atualizac;ao do ser human a . Este a) 0 processo de sua avalia~ii.o e continuo e "organismico".
6timo pode ser definido como "o objetivo da avalia<;ao social", como "o
( resultado final (e ideal) da psicoterapia" ou ainda de qualquer outro mo- 7. 0 processo de avali~ao nao esta submetfdo :a "condlc;:oes · extetnas .
( do. Escolhemos desigmi-lo com o nome de: "funcionamento 6timo". A a) Corolario : 0 individuo experimenta urn sentimento de considera~ao
pessoa hipotetica que se atualizasse plenamente, funcionaria, portanto, de positiwl · incondicional com relac;ao a :;i mesmo.
( urn modo 6timo. 8. Denionstra· sempre capacidade de adaptac;ao e inanifesta uma atitu-
( Ainda que a teoria do funcionamento 6timo da personalidade nada de criativa com relac;ao a toda situac;:iio nova .
comporte que nao tenha sido indicado de uma ou outra forma nas pagi- 9. Descobre que sua capacidade de avalia~;ao aut6noma, "organismica",
( nas anteriores, esta teoria merece ser formulada de modo independente representa urna fonte de direc;:ao digna de confianc;a e capaz de
e sistematico. Seu enunciado e o seguinte: guhi-lo para formas de comportamento geradoras de satisfac;iio; . is to
A. Todo individuo possui uma tendencla inerente a atualizar as poten- em razfio de que:
cialidades de seu organismo . a) Todos os dados da experiencia sao acessiveis a consclenci.a e sao
( u tilizados .
B. 0 individuo tem a capacidade de representar a si mesmo: sua expe.
bl Nenhum lado da ~ e IU%'8do ou defonnado.
(
210
.211
r
(
(
(
(
c> As conseq~nclas do· comportament& sio acessiveis a eonscfene.la.
( d) Os erros cometidos · n~ procura do maximo- de satisfa~ao - erros
( devfdos. k lnsuffcl&ncia de dados experiencinls - se~o corrlg_idos. pe-
la prova da realldade. ·· ·
( 10. Conslderando-se o car!Lter afetlvainente- gratificailte d~ consldera~io
( posltlva recfproea, este lndivfduo \dve com o outro mi rilelhor har-
monia possfvel UI, Cl,c) . .
(
(
( Comentarlo
Do que se disse, aclma deduz-se que a no~ao do !UI1cionamento
(
ottino e. sinOnima · das no~aes de adapta~iio .psicol6gica perfeita. de matu-
( ridade 6tima, de acordo intemo completo, de abertura total a experien- Capitulo X
cla, de dlscrhnina~iio perceptual perfeita - no sentido em que estes ter-
( mos toram definidos no ~pftulo IX
( Como estas nogoes - e tambem quaisquer outras expressoes
( genero - tern a desvantagem de sugerir algum estado mais ou menos
estatlco, final ou "acabado" devemos ressaltar que todas as caracteris-
( ticas que acabamos de enumerar a prop6sito do individuo hipotetico AS RELAC0ES HUMANA
o caniter nao de estagna<;ao, mas de urn processo A pcrsonalidade que
( funciona plenamente e uma personalidade em continuo estado de fluxo, Ao tentar aplicar os ensiname:iltos resultantes de nossa experien
uma personalidade constantemente mutavel, cujos comportamentos espe- cia de terapeuta a campos tais como a educagiio, a administragao indus
c cificos nao se prestam a predigao. A Unica predigao que poderia ser fei- trial, a vida familiar etc., fomos levados a concluir que a pratica d
( ta ao individuo sobre seu .c omportamento e que ele manifestani em qual- nossos principios implicava uma teoria das rela(:oes humanas. Neste ca
quer ocasiiio urn grau perfeito de- adaptagao criativa e que estara com- pitulo vamos tratar, muito rapidamente, destas ramifica~6es de nossa
( teorta de base. •
prometldo num processo continuo de atualizacao.
( 0 capitulo XIII desta obra oontem urna exposi~ mais completa e Comecemos por urn enunclado sistematico das proposig6es te6ric8
( mais detalhada desta concep~;ao . relativas a esta terceira parte de nosso sistema e vamos concluir por algu-
mas indicagaes relativas a suas aplica~6es.
(
( Rela~oes Funcionais
( 0 estado atual de nossos conhecimentos sobre o funcionamento 6ti-
TV- Teoria das rela~oes humanas
( mo pode ser reS'umido em uma Un.ica proposiciio: quanto mais se l'IE!a-
A elaboragao mais recente de nossos trabalhos te6ricos consiste em
lizam as condigaes enunciadas em El e· E2, mais apresentara o indivi-
( estabelecer e fonnular a ordem fundamental inerente a toda coil"· mica-
duo as caracteristicas assint6ticas descritas de Fl a FlO".
cao e a toda relagao. interpessoal. Como se vera. os resultados destes
c trabalhos decorrem essencialmente da teorla da terapla _exposta acima.
Nao ha nisto nada de surpreendente, sem dtivida, ja que a relagao te-
(
:rap~utica ·nao e mais que urn caso particular no campo das relagoes
.(
m~~~~~~ ~~ r . interpessoais.
Os resultados da pesquisa sobre os efeitos da psicoterapia confir- £.'·'··.,
( tnam, de urn modo geral, a orientagao de nossa teoria. Porem, como · =- Nas paginas que se seguem, iremos apresentar sucessivamente as
se trata aqui de urna assintota, urna demonstragao completa fica evi- J!lilfllllt! - '" - proposi96es te6ricas relativas: 1) ao desenvolvimento de uma rela!fao quE:
( dentemente excluida . se deteriora; 2) ao desenvolvimento de uma relagao que se melhora .
(
")1") 01<1o
(
(
( B . 0 PROCESSO DE UMA RELA~O NEGATIVA
Para que a exposigao seja mais clara, trataremos separadamente das
( condic;;ors do processo e dos resultados caracteristicos de cada urn destes Quando as condiQ6es que acabam de ser enunciadas existem e se
dols desenvolvimentos . Contudo, esta claro que se trata aqui de duas mantem, desencadeia-se urn processo que tende a tomar as seguintes
( sP.c;;oes de uma importancia continua. caracteristicas e ciire<;oes:
( 1. A comunicaQiio proveniente de X e contradit6tia ej ou ambigua por-
A. CONDI{:OES DO DESENVOLVIMENTO DE , UMA RELA~AO QUE que comporta ao mesmo tempo:
( SE DETERIORA a> Elementos Cverbais ou nao-verbais) que correspondem a represen-
ta~iio que X faz do objeto de sua comunicaQao; e
(
A comunlcac;;ao e a relac;;ao entre partes se deterioram quando as b) Elementos que correspondem a urn setor de experiencia que nao e
( segl.tintes condigoes sao dadas: - ou nao e corretamente · ~ representado na sua consciencia (cfr .
II, G, p. 202) .
( 1. Urn individuo, Y, consente em entrar em contato e em comunlca<;iio
com urn outro indivfduo, X . (Tendo sldo a teoria primordialmente 2. Y se da conta (no nivel da experiencia) das contradi<;oes e ambigiil-
( estabelecida em func;ii.o de X, niio se toma necessaria que sejam dades contidas . na comunica<;ii.o de X .
multo especificad~s as caracterfsticas de Y . ~ suficiente saber que Y a) Sua percep\liio tende a se limitar a Bl, a - isto e, aos elementos
(~c': .e..'!utn ..ind,ividuo mMio" e que, por isso, apresenta urn certo grau de
' ' -- ' . -~ I \ ," . .- ~ .·
manifestos da comunica<;ii.o de X . 0 >
( '' desajustamento sendo sus~etivel de confllto, de des~ordo interno e b) Logo tende a se estabelecer urn estado de desacordo entre sua expe-
de oomportamento delenstv!o) . riencia e sua perce~ao da comunica<;iio procedente de X .
c c) Dai resulta que sua rea<;ii.o em rela<;iio a X torna-se igualmente con-
( 2. 0 indivfduo X deseja, prilo mehos em urn gi:au 'inihlmo, · eritrar em tradit6ria ejou ambigua, ja que ela adquiriu as caracteristicas acima
contato e em comunica<;ao com Y. descritas em rela<;iio a X (Bl , a e b) .
(
3.-. . Existe em X um nftido ~tado de desQ,Cordo interno entre os seguin- 3. Por ser vulnenivel, X tende a perceber as reaQ6es de Y como poten-
( . t~s · elementos: cialmente amea~adoras:
a. Sua experiencia do objeto de sua comunicac;;ao seja este objeto a a) Desde entao, tende a deformar sua percepcao da reaQiio de Y de modo
(
relac;;ao em si mesma ou qualquer outra coisa . a toma-Ia de acordo com a imagem que faz de si mesmo .
( b . Sua representa~a.o consciente desta experienda_ - em particular sua b) Como conseqiiencia, sua perce~iio do ponto de referenda interno
· perccp.;ao das rela<;oes entre esta: experiencia e a imagem que faz de y e incorreta e ele nao e capaz de experimentar urn grau elevado
( de si mesmo . de empatia .
( c. A expressii.o consciente - verbal ou nao verbal: - desta experi~..ncia c) Pelo fato de perceber Y como potencialmente ame;wador, X e in-
(isto e, a comunica<;ao desta experiencia a Y) . capaz de experimentar urn sentimPnto de consider~iio incondicional em
( face de Y.
( (Assim, as condi<;6es de terapia descritas em I, A3, 4 e 5, encontram-se
Comentario adulteradas em X).
(
4. Y se da conta de que X · experimenta a pen as uma consideraciio positiva
( Quando o estado de desacordo interno assinalado em 3 se relaciona parcial ou seletiva com rela<;iio a sua pessoa _
( por urn lado, com o elemento a e, pOi' outro !ado, corn os elementos 5. Y se da conta <no nivel da experiencia) da falta de compreensao em-
b e c, pode-se dizer que X niio funciona adequadamente - pelo menos patica por parte de X .
( no que se relaciona com o objeto em questao . . Neste caso os efeitos 6. Quanto mais sente Y esta ausencia ou insuficiencia de conside~
imediatos deste desacordo sao de ordem llessoaL Ao contrario, se o esta-
( do de desacordo se relaciona, por urn !ado, .com os elementos a e b, ( ll Observemos que se trata aqui de uma condit;:ao sine qua non. Com efeito, se Y E! suficiente-
( e, p er mitro lado, com c, · trata-se antes de simulacro ou de. engano, e mente aberto a sua experi~ncia para perceber, conscientemente os elementos de comunicat;:llo
as conseqiiencias imediatas sao sobretudo de ordem sociaL Enfim, se assinalados em 81, b, en tao 82, b e c (infra) niio se produzirllo e sua resposta a X, concordara
( ha desacordo completo ou quase completo entre a, b, e c, 'isto e, entre perfeitamente com sua experiAncia.
AIE!m disso, se Y, ainda que se dA conta dJ totalidade do que X lhe comunica, revela-se no en-
R. experiencia de X, a representa<;ii.o que ele faz dela, e sua expressao,
l tanto, capaz de urn sentimento de considera(:iio positiva incondicional com relat;:ao a X, entao o
des.,ncadeia-se; entiio, ·urn estado de dissociac;;iio ou de desacordo psicol6-
( gi~o completo . processo em causa evolui na diret;:ao de uma reat;:iio positiva (cfr. D. E, F, a segu irl .
214 215
(
J
(
(
( positiva e de empatia: mae X e de seu filho, Y Urn e dutro sentem, naturalmente, um desejo
- menos se sentira ele em estado de expressar o que sente: de contato psico16gico. Acontece. no entanto, que a mae experimenta
( - menos capaz se sentira de expressar sentimentos relativos ao eu;
l:ualmente. em rcla~ ao filho.., um sentlmentO contnirio, que pode ·ser
- menos diferenciada sera sua percepr;ao; a.ss1m deserito: -.. Estou sentida com vore, porque voce me impede de
( - menos capaz ele sera de reconhecer e de exprimir o desacordo exis-
segulr minha carrelra". Este Opo de sentlmento, estandQ em contradic;iio
tente entre os dados de sua experlencla e a imagem que faz de si mesmo;
- menos capaz de reorganizar esta imagem ele se tornara. No con-. com a imagem que a mae !az de si mesma (lmagem de uma mae amorosa ·
jurito, o processo de rnodifica9iiO da personalidade . se .e~contra per- e devotadal. tende, geralmente. ·a permanecer nao-sinibolizado · ou a ser
slmbotlzado de modo tlefettuoso.' Pode, assim; ·tomar a ·fo~: ..Estou sen-
( turbado <I, B). tlda com voc! porque voce .fez isto ou aqullo"; ".Gosto de voce, mas tcnho
Ja que Y se exprime cada vez rnenos, X torna-se cada vez menos ca.- que eastJp.;;Jo... Tal representa~ do sentlmento e aceitavet a conscit!n-
( paz de perceber corretamente . o ponto de referenda tnterno de ·Y . Con- cla e e sob esta capa que este se exprime nas re1a.Q6es entre a mae e o'fil!to.
( seqiientemente, X torna-se cada vez mais suscetivel de perceber de
Contudo, a crlanc;a pe~cebe vagatpente que lui at~.o mais. Sem ser
maneira tncorreta, de defonnar suas perce~oes e .de se comportar
( plenamente consclente, tern o sentlmento de que sua mae njo a axna.
de rnaneii'a defensiva. .Podera reagir ante esta sltuac;ao de diversas maneiras, mas qualquer que
( No caso em que os sentimentos expressados por X sejam, na maio- seja sua reac;ao ela levara a inarca do con !lito · que a atitude divldida e o
8. ria, de natureza negatlva, OS elementos de experiencia, que MO sao . comportamento ambfgUo de sua mae provocam nela . Assirp, nao se ~n­
( corretamente representados na sua conscl~ncia, tendem ·pela atuaqao tlndo amada, ou mesi:no se sentindo rejeitada - . chega a se conslderar
das defesas ..- a ser percebidos como existentes em Y (projeqao). como lndlgna de afeto, como repulsive. ott "rna". Assim, ela se censura.;.
J . Neste caso, Y tende a se sentir ame9.9ado - na rnedida em que a si- ra e sentlrli remorsos mesmo quando seu .comportamento e acettavel e ·
tuaQiio o torna tgualmente consciente do estado de desacordo que exis- acelto. •
te. Como conseqiiertcia, tende, por sua vez, a reagir de maneira de-
Este tipo de comportamentO represents. uma am~ac;a para k mae.
( renslva · Provoca a sQa angt.istia, pbis tende a- lhe fazElr toniar consciencla da mis-
(
tura de sentimentos que experiments. ein . relac;ao a seu filho: A flm de
OS EFEITOS DE UMA REACAO QUE SE IJ)ETERIORA se proteger contra ~sa amea.Qa, ~Ia de{orma · ttlais ainda. a& 'J)ercepc;oes
( c. relatlvas ao filho, de forrfla a percebe-lo como um peq1.1eno hip6crita que
Se este processo continua, acarreta as seguintes conseqiiencias:
se "faz de vitlma", etc. Qminto mais se reforc;a, este cfrculo vicioso, menos
X e Y se comportam de uma maneira cada vez mais defensive.. aceita se sentlra a crianQa . Quanto ·menos capaz se sinta de expressar seus
1.
A comunicat;;ao torna-se cada vez mais superficial, isto e, reiaciona- sentimentos, mals .diffcil se torna para 'a mae lhe testemunliar a . com-
2. preensao empatica necessaria· a boa comunicac;lio . Quanto mais se dls-
se cada vez menos com o individuo· total .
tancia um. do outro, mais sua relac;~o se deteriora e mais repercute tudo
Por causa da intensificaQ1io das defesas, a percepr;ao de si e do outro
3. isto sobre o funcionamento psfquico de um e outro.
torna-se . cada vez menos diferenciada, isto e, cada vez mais estreita
( Tudq isto corresponde exatamente a s~rie de proposic;oes enqncla-
e rigida . e a ex:pe- das nos tftulos A, B ·e C, que tratam das condic;oes, · do processo e dos
( Desde entao, o estado de desacordo existente entre o eu efeitos de uma rela~o em vias de . deteriorac;ao ~
4.
riencia nab se modifies. ou se agrava.
(
Numa certa medida, tanto X quanto Y funcioriam pior. D. cONDI("...ES DO DESENVOLVIMENTO DE UMA RELA~O EM
( 5.
A relaQiio se deteriora, e negative. e e sentida como tal pelafi partes . VIAS DE MELHORAMENTO
( 6.
Para que a comunicac;iio e as relac;oes entre a& partes cresc;am e
( melhor.em, e necessaria quei
( Comentario sobre A. B, C 1. Um individuo, Y' conslnta em entrar em contato e em comunica9ao
Reformulemos esta exposic;iio estritamente te6rica e 'l ecnica em ter- .c om um· outro individuo, X'.
(
mos de experiencia cotidiana . Tomemos o caso da relac;ao, entre uma
2. 0 indivipuo X' deseje estar em con taw e em comunlcac;ao c.o m Y'.
216 217
( 3 . Exista em X' urn grau elevado de acordo entre os tres seguintes ele-
mentos: . : ~ • ·
( . I ' • -' 1. Todos os efeitos da terapia <I, de Cl a 15) podem se produzir - nos
.a). Sua experiencia. do 6bjeto da ·comunica<;;ao; limites do ponto de referencia de uma relagao, sejam as relagoes pi:-o-
( : b:) , . sua represeitt~ao consciente desta •eiperlencia, em patticular ·sua fissionais de advogado e cliente, de professor e aluno, etc. Conside-
· 'repn#sentac;:ao da rela¢ao ·entre esta" experienda sua ' ho<;ao . de ' si e rando-se que este tipo de relagao exclui numerosas dimensoes da
( . :.-x:
·. " · mesmo; · · existencia das partes em causa, os efeitos se restr-ingem propnrcio-
··r ·('
( c> ···A" exprsssao • desta:··expedencia ~ · nalmente . No contexto assim delimitado, a relagao tende, pois, a
',: ·· . ,. • ·,,, . • ., ' . , , ' • ;I • • • ·· ' . ·• . J ( .1 .; : • . • i , , estabelecer urn estado de acordo interno crescente entre as partes e
( · E.. 0 , PRO<t~S~O _DJ;:. ,UJ\1A RE!.A:Ct\0, QlJE .MELH{)~.. ·,: .a favorecer seu funcionamento psico16gico .
( .. 1·... JA comunica~ao .de X' a •Y' . se caracteriza pelo estado: de · acordo ·exis-
. '· tente .edtre a experlencia.. a percep~ao e · a manifest!i,(;ao da·iexperiettd.l!.
G. ESBO(;O DE UMA LEI DAS RELA(;OES INTERPESSOAIS
· 2 . · Y' experlmehta claramente a ·eXistericia deste e8tado de acord-o, por
( . ,is to sua re~ao. te,pde .a manifesta:r: o estado de acordo que-:existe, igual- Tu1to o que fol dlto aM aqui pode ser resumido em uma lei geral
mente.- entre sua experlencia e sua percep~ao . · ' ·· ' · ·1 t.inica das rela<;6es humanas, e especificar as relagoes funcionais das no-
( <;;6es que ela faz intervir · , .; · '
' ·'3 . X' . estando em tim estado de acordo, nao e Vulneravel ~m rela<;ao ~o
( . bbjeto' da comunica<;ao;. esta em condi<;6es de perceber a rea<;ao de o enunciOOo desta lei e: quando existe entre as partes ~ desejo
•; · Y' dEHorrrla comita· e 'dlfeiericil!da e de eJ(perlmentar uma cotripre~i:_l- mt.ituo de entrar . em contato e ci" se . empenhar num processo de cornu-,
·: ·· sao empatica do ponto C\e refer~nCla intern a Cie Y' . · · · ' · ·' nicagao, podemos afittrtar que quanta mais. elevado 0 grau de a~orctci' rea~
. .
. 4 1 . S~ntindo - se compre,endido,_ experimenta . uma ., certa satisfa<;;ao · de
.Y: lizado pela experlencia, pela. perce~ii.o e pelo comportamento de uma das
sua necessldade de consider~ao positlva. . ' :. partes, mats caracterizada sera a rela<;ao por:
(
( 5. X' se da conta de que afeta o ponto de referencia intemo de Y' de - uma tendencla a comunica<;ao recfprcica, caracterizada pelasi) mesmas
,• . • '
·modo posftivo .' · ' · propriedades;
( a> Conio conseqiiencia; ·a conslde~ao . positiva de X' para com Y' - uma compreensao mutua mais correta do objeto da .comunica<;ao;
tende a ~er reciproca e a ' crescer. . . . . .. . - urn funcionamento pslcologico melhor de ambas as partes; urn aumen-
(
. b) Nao sendo ' X' vulneravel . ei:n rela~ao . ao objeto da comunica<;fio, to da satisfac;;ao causada pela relac;;ao.
( a considera~ao positiva que experunenta em rela<;;ao a Y' tende a se
tornar incondlcionaL ·· · ·' · . . Ao contrario, quanta mais nitido e o estado de desacordo entre a
( experlencia, a pereewao e o comport11mento:
6. Y' sente-se comprometido com X' numa .rela<;ao que, pelo menos em
( reiacao ao objeto de sua ·comunica<;lio - e cani.cterizada, em X', por urn - mais baixo sera o nivel de ~. em uma ou ambas as
( estado de acordo, de compreensao . ernpli.tiea .e de consider~ii.o positiva partes;
incondicional (cfr. I , A3, 4, ,5). - rnenos correta sera a compreensao;
( a) Por isto, todas -as caracteristicas do processo da terapia <I, B) acham· - mais baixo sera o nfvel de funcionamento, em ambas as parte.s;
( se realizadas ~ · pelo rnEmbs do ponto de referenchi da rela<;ao em causa. - rnenos a r~l!4faO sera sentida como satlsfat6ria .
bY Por ser a situac;;ao de tal natureza que 'y• nao tenha que recorrer · a
( suas defesas, ela nao exigira que ele . defonile suas .exi>eriencias ,
.; ) Conseqiientemente, ele percebe cada vez mais corretamente a comu-
( nica<;ao de X'. · Comentclrio
( 7. A comunica<;aO torna-se, entao, de ambas as' partes, cada vez mais Como observamos anteriormente, esta teoria nao representa um pro·
( ,"!fetiva e corretainente perceblda, e se caracteriza cada vez mai~ por sen- duto acabado . Mais que outros setores de nosso sistema, ela se encontra
+.ii:rientos de consider~ao positiva· reciproca . ainda em elabora<;;ao .· Com efeito; seu fundament<> ainda nao e experi-
( mental, sendo apenas parclalmente de ordem empirica. E, pais, essen-
EFEITOS DE UMA RELA(;A.O POSITIVA cialmente uma teo ria deduzida da teo ria da · terapia e que projeta, ntim
Se este processo pode prosseguir, constata-se que: campo novo, uma serie de bip6teses suscetivets ,de serem ou nao_ conflr-
madas . Os elementos de prova fornecldos por este genero de · estudos
( sao suscetfveis nao s~te . de modificar ou de confirmar esta teo ria .
218
( 219
(
(
(
( das rela<;~~ • interp~ssoais, como tambem de trazer novas Iuzes sabre dlda em que os pais experlmentem para conslgo mesmos uma atitude
a teoria, que su~tenta estes diversos setores de nosso sistema , isto e, a de consider~o posltiva lncondlcional.
( a) Nlio somenie seus sentimentos, mas tambem a expressao desses sentl-
teorla da. terapla .
( meatos deve ser aut&ltlca - quer se trate de sentimentos positivos
ou negatl\os.
(
.Elementos de prova 4 . Na rnedida em que as condlc;6es 1, 2 e 3 estejam presentes, os pais
( serao capazes de apreender o ponto ·de referencla lnterno de seu filho
( Ainda que esta teoria das rela<;Oes interpessoals . possa se preva- · de urn modo realfsta e empatlco.
· leoer de algqns elementos de prova obtldos pela experiencia clinica e pela 5, Na medida em que as condic;oes 1 a 4 sao realizadas, elas fazem
( pesqujsa, parece preferivel, no momenta atual, apresenta-la simplesmen- intervlr as proposic;oes relativas a teoria do processo e dos efeltos da
( te como uma teoria derivada. terapia <I, B e C), assim como as proposi<;oes relativas as 'teoriaS do
processo e dos efeitos de uma relac;Ao posltiva (IV, E e F> .
c
( Campos de aplica~ao
(
.·As. dlversaS, teorias que constituem nosso sistema tem sldo a ct ~p­ Coment6rfo
( tadas, ·pelo menos em parte, a uma variedade de campos interpes soa i ~.
.Tendo e1ll. vista a apresentac;ao relativamente profunda que acabamo;, ~ e Formulada de maneira tao concis3, a aplicac,;ao de nossa teoria. das
( rela<;6es familiares esta, sem . duvida, facilmente sujeita a mal-entendidos.
fazer das proposic;oes de base, · seria repetitive fazer um enunciado de-
( A fim de evita-los, recomendamos a Ieitura de urn artigo <t > que apresen-
talhado das teorias referentes a estas diversas aplica<;6es . Assim nos li-
mitaremos a apresentac;ao de algumas proposic;6es especificas relativas ta estes mesmos conceitos de urn modo mais detalhado (90) .
(
a algwnas destas aplica<;Oes.
(
( VI- Teoria da educa~cio e da apr~ndizagem
( V- Teorias das rela~oes familiares Na medida em que a educac,;ao compreende aprendizagens suscetf-
( veis de exercer uma influencia profunda · sobre o comportamento e a
Vejamos uma serie de proposi<;6es relativas especificamente a e~te
personalidade, ela pressupoe a presenc;a das condiG6es desctitas com re-
( campo: la<;ao a terapia (1, A> e ao desenvolvimento de uma relac;ao positiva (IV, D).
( Tals aprendizagens conduzem, entre outras coisas, a percepc,;6es mais rea-
1 . Quanta mais experimentem os pais um sentimento de considera~; ao llstas, mals corretas e mais dlferenciadas <i, Cl e 2) . Por sua vez tals
( positlv.3 incondicional com relac;ao a seu filho : percepc,;6es dao Iugar a uma forma de comportamento mais realista e
a) menos tendencia tera a crian<;a a submeter a aNaUa~o de sua expe- mais responsavel <I, C3, 10, 15) .
( ri&x:ta a l!riterios extemos;· isto e, menos cond.icional sera
eata ·avali&Qio;
(
b) mais sua experteDCla sera guiada por urn processo de av~ "or-
( ganismfca"; Coment6rlo
( c) melhor funcionara, isto e, mais adeqpado sera seu funcionamento. ) .
Como uma representac;ao relativamente detalhada de nossa teoria
( 2. Para estar em condic;oes de experimentar ·uma atitude de considera- de aprendizagem ja foi anteriormente objeto de uma publicac;ao (87) nos
~ao posftiva incondlcional com relac;ao ao filho, os pais devem expe- dispensaremos de reproduzl-la. Observemos, no entanto, que urn certo
( rimentar uma atitude de considera~ao positiva incondicional com rela-
( ~ a sf mesmos· (isto e, cada um para conslgo mesmo).
( 3 . · Os sentimentos dos pals com rela~ao ao fillio serao autenticos na me- Ill Em ingiAs no original.' (N.T.I
(
220 221
( -
( '
(
dos pelos trabalhos de Roethlisberger e Dickson (79). Coc.h e French (l!ll
( Radke e Klisurich (75) e Gordon (36 e 37( ·
( mimero d.e noc;oes ali utilizadas ja nao . corresponde exatRmente aqueles
qu~ .· ut~lizrupos
na I>rese.n te .obra.
vm ·- Teoria da resolUf;clO de tensoes e de
( ,,. , , i
conflitos de grupos
C Ele:~nentos .de prov~ .·
Todo problema de conflito de gnipos pressupoe, geralmente, a exis-
( A apiicac;ii.o · de nossas teorias ao enslno tern sido objeto de varias tencia · de condic;oes tais como as que foram descritas em · relac;aq ao de-
( pesquisas. No conjunto, estes trabalhos confirmam nossas teorias, como senvolvimento da relac;ao negativa (IV, A). Sobre este tipo .cie' proble-
( pode ·sflt visto rios artigos publicados por Gr.o ss (38), Schwebel e Asch ma, fornecemos uma serie de hfp6teses derivadas da .. teo ria da terapia
fl02), Asch (6), Faw <29 e 30) e da teoria das ·relac;oes interpessoais . Como esta teoria representa urn
( ponto de vista relativamente novo, apresentaremos a seguir urn enuncia-
do um pouco mais detalhado dela.
( Suponhamos uma situac;ao· que compreenda varias pessoas ou varios
( Vll - Teoria da dire~ao de grupos (Leadership) grupos cujas relac;6es sao caracterizadas pelas condic;oes de uma rela<;ao
negatlva <IV, A), por urn crescimento do carater defensivo das n:Ha<;oes
( . · A t~oria da direc;ao de grupos representa uma 'elaborac;ao de .nossas existentes' entre os membros X, Y, Z do grupo, ou entre diferentes sub-
hip6teses relativas a natureza do homem. 0 enunciado da hip6tese plin- grupos que representamos tambeni como X, Y, Z.
( cipal e 0 seguinte: .
( A_. CONDI{:OES PARA A RESOLUc;AO DE CONFLITOS ENTRE GRUPOS
A ibedida . que o lider {mais proo'sa.mJmte: aquele ' que o grupo
( percebe ou reconhece como tal). e capaz de criar as condic;6es necessa:- 1. Uma pessoa (que chamaremos o mediador) esta em contato com X,
rias pa:ra terapia (!, A3, 4, 5) ou para o dli!senvolvimento da relac;ii.o po- Y, e z .
l sitiva {IV, D), certos efeitos se produzirao. Entre estes efeitos citemos
( os seguintes: 2. Nestes contatos com X, Y, e Z respectivamente, o mediador rcaliza
urn estado de acordo interno
( o grupo fara urn uso mais completo de seus recursos perceptuais (de
( sua. capacidade de apreender a realidade); . . 3. 0 mediado~ experbnenta com rela<;ao a X, Y, e z respectivamente:
- estes esforc;os resultarii.o ern dados mais diferenciados; a) Uma atitude· de considera~ao positiva '.ncondiclonal - pelos menos
( - o pensamento e as percepc;6es do grupo seraq mais real~stas; no que se refere ao objeto em que!rtao
( - a responsllbilidade do grupo crescera, tanto no ·canu><> do pEmsamen- b~ Uma oomp~ ernpaf,'~ do ponto de referenoia interno de X, Y.
to quanto no da ac;ao; e Z respectivamerite .:._ pelo menos com relac;ao ao objeto de suas
( - a dir,ec;ii.o tendera a se distribtilr entre os membros do grupo; conversas .
- o grupo se · revelara capaz. de abordar e de resolver · proble.m as mala 4. X, Y e z percebem num nivel pelo menos minimo, a presenc;a das
( complexos. condic;oes 3a e 3b (Esta percepc;ao resulta do fato de que 3b se co-
munica, geralmente, de forma verbal) .
( Como fa.cilmente se percebe, estes efeitos decorrem logicamente da
( t.eoria . . B. 0 PROCESSO DE RESOLU~O DE CONFLITOS ENTRE GRUPOS
( A e~posic;a'p da teoria, tal como e aplicada a es.e campo tendo Se as condic;oes especificadas acima estao presentes e se mantem,
se seguira que:
( sido objeto de duas publica.c;oes importantes de Gordon {36 e l7), nao .
a reproduziremos aqui.
1. Os diversos elementos do processo terapeutico (!, B) sao observados
( pelo menos em certa medida e - pelo menos com relac;ao ao objeto
l da comunicac;ao.
( Elementos de prova a) Urn elemento essencial deste processo consiste no aumento de per-
')')''
( Diversos elementos da teoria da direc;ao de grupos foram M>ftOIIDla- --'-'
( 222
'1
c
(
(
( problemas cuja solw;ao e delegada a representantes ou mandataries. Tais
-~ dlferendadas, concretas . condlc;6es ·nao permitem evldentemente as partes diretamente comprome-
\ b) · Outro elemento importante consiste na reduc;ao do nivel da angiistta tidas exprimir seus pr6prlos sentimentos . Assim, e preciso se supor que
(l, •BB. 8a) na experl~a
de X. Y~ Z. a · teoria, tal como acabamos de a formular, na0 serla valida em relac;ao .
(
a este tipo de situac;8o. . .
2. As comunicaQ.Oes de Y a X ou de Z .a X -sio menos defenslvaa e
( eoncoi1lam mats com a experlencla de Y e com a de Z .
.3_ Estas cpmunlcac;oes sao percebldla por X com . uma exatidio e uma Comentcmo final
dlscrlmlna~o cada. -vez malores .'
a) ·Em consequ~nela X -compreende Y e Z • de manetra cad a vez mats
Aqul chegamos ao final da apresentac;iio dQ conjunto de nossas teo-
(!mpilka.
rias. Como · comentarlo final, desejamos · expressar a esperanc;a de haver
t. . PoFque exi>erlmenta menos angdstla com relac;ao a Y e a Z e porque consegoido mostrar ao leltor que . o que se trata aqui e de urn sistema
faz a · sl mesmo uma . representac;io · mais empitlca do ponto de re- em desenvolvimento. Com efeito, enquanto -que os elementos mais anti-
( ' ferincta intemo: · gas desta teoria estlio formulados de forma multo rlgorosa, seus elementos
· J') X comec;a a tomar consclencla de uma certa dlstancla entre sua ex- mats· recente~ estao fotmulados em termos menos rigoroso; e apresentam,
perlen'cla' e ·sua perce~li9. . · · '. · alem dlsso, certas lacunas e certas defici£mcias ·tanto 16glca5 quanto sis-
b) Como·' conseqiiencia; sua experlencla ·a menos alterada ~ela ac;iio de terruiticas: Outros elementos, alnda que nao estejam lncluidos nesta apre-
ciefesas. · . . sent~ii.o, existerr em estapo de intuic;oes. bastante pes~oais e subjetlvas
( c) Como . conseqUencia, suas comunic~oes com Y e Z representam uma ·no espirlto dos diversos membros de nosso grupo. ·
( expressao mals diferenciada de sua experlencla total, relatlva ao obje-
. to da . comunlcac;lio . · · Esperamos, igualmente, que tenhatrios consegu~do demotistrar que
l
( se trata de tim sistema de certo modo "fluido", que nao cessa de se
5 . . Como conseqU~ncla, slio dadas as eondic;oes do desenvolvlmento .de
uma relac;iio posltiv~ .e ·a pro_poslc;ao ~ormulada .em IV, E, e reaUzada. modiflcar e de. ·s e precisar. Com efeito, se for feita a compM"ac;~o entre
a · teorla tal como acaba de ser . enunciada e a teorla da perso.nalldade
l
' como foi apresentada em 1951 .(87, capituao IV e XI> ou como estava for-
mulada eni 1947 (84l podera ser verlficado \< o progresso realizado . Sem
( Coment~o dtlvlda, se · as idelas essencials de nosso sistema quase nao apre-
( sentam mudaric;a, numerosas mudanc;as se observam na significac;iio atrt:-
Esta teoria da resoluc;iio de · tensoes e coriflitos de grupos repre-
bufda ks nm;;oes de base e na organizac;ao da teoria. AcredUamos, all!s,
( senta uma deduc;iio ·da teorla da ~erapla e da teoria das relac;oes inter-
que este processo de revlsiio tera prossegulmento no futuro .
pessoals. ' Para un'la apresentac;ao mars · completa das proposic;oes que a
( compoem, rec~mendamos ao leitor di.Ias publicac;oes sobre o assunto (89, Enflm, o valor sistellllitico de nossa teoria fol demonstrado . sobre-
( 86) tudo mi pesqulsa. Nlio hi dtlvlda de que, neste ca.mpo, ·nossos esforc;os
tenham sido coroados de urn consideravel sucesso . 0 desenvolvimento
( desta empresa te6rlca .e experimental se efetuou, a grosso modo, na se-
( Elementos de prova guinte ordem: .
( . Ainda que a experiencia clinica · tend a a confirmar esta teoria (pelo - aquisi~;iio de experlencla clfnica terap~utica;
..menos com . relac;iio a .grtipos reduzidos e diretamente comprometidos - formulac;ao de hlp6teses te6rlcas provls6rias;
( entre si, isto ~e/ :·el} vis-a-vis") e que Axline (9) tenha relatado um caso - verlficac;iio destas hlp6teses por melo de pesquisas;
clinlco desse . tipo, nao ha, que ' eu saiba, trabalhos de pesquisa relatlvos - aquisic;iio de novos dados resultantes da pesquisa;
a este setor de nosso sistema. Do ponto de vista social, a lmportancia de - modificac;ao das t.eorias em func;lio . de uma malor experlencia te-
( r!lpeutica e experimental;
investigac;oes sobre e~ta ordem de problemas e realmente fu~da~ental,
( principalmente no que,. se refere aos conflitos ,sociais .de maior extensao - verlf~cac;lio . das proposic;l5es te6ricas . revlstas.
Pois mesmo se supondo que nossa teorla seja plenamente confirmada no
' que dlz respeito . a· grupos 'reduzidos, resta demoiistrar que ela e va.lida No capitulo seguinte o leltor tera ocasilio de se familiarizar mals
. no que se ~f~re a grupos numericamente m~is impoitantes que. excluam com certos aspectos experlmentals deste desenvolvimento.
a com~cac;ao direta entre as partes . Outra .questao ainda se refer~ aos ·
·. 225
221
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( Capitulo XD
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A PESQUISA
(
(
As raizes cientificas de nossa abordagem terapeutica
(
( Urn dos aspectos ma1s marcantes desta terapia e o carater cienti-
fico de seu desenvolvimento. Desde o seu iniclo, ela nao somente estl-
( mulou o espfritO de investigaQao, como tambem seus progressos se rea-
( lizaram paralelamente aos progressos de sua metodologia de pesquisa e
de sua conceituaQao te6rica.
(
Com efeito, o ntimero e a variedade de pesquisas ate hoje reali-
( zadas e lmpressionante . Ja em 1953, Seeman e Raskin (104), numa ana-
( lise critica das tendencias e diregoes deste movimento de pesquisa, des-
creviam ou mencionavam uns cinqiienta estudos relativos a nossos tra-
( balhos com clientes adultos . Em 1957, Cartwright (17) publicava uma
( bibliografia anotada de 122 trabalhos de pesquisa e de sintese te6rica
realizados por nossa equipe . Notemos que estes autores excluiam toda
( referencia aos estudos sobre nossos trabalhos com crianQas ou grupos.
Nao ha duvida, pois, de que a teoria e a pratica desta terapia deram
(
origem a urn grande esforc;o de investigagii.o cientifica.
\ Como se explica o paralelismo entre nossa aborda"em e o apare-
( :!imento da pesquisa no campo da terapia?
c Urn primeiro fator reside, provavelmente, no fato de que a teoria
( que sustenta esta terapia foi sempre conhecida, nao como wna doutrlna,
( ?21
­ l
\ (
(
( Os progressos do conhecimento neste campo tinham sido, ate entao .
isto e, urn conjunto de prop9sicoes definitivas, mas como um conjunto prejudicados pelo carater ptiramente espequlativo das nocoes existentes;
(
de hipoteses - urn simples instrumento .a · servl<;;o do progresso de nos- rilais exatamente, &eu desenvolvimento 5e ~inha chocado com o fato de
( sos conhecimentos _ Nunca perdemos de vista que uma ·teoria, ou-. qual- que estas nocoes escapavam ·a todo esforQo de definicao em ternios de
quer. urn enunciado de uma teorili., nao e clentificamente utll, se nao pu- atividades beni determlnadas _ Citemos, por exemplo, as nocoes gerais de-
der ser submetido a veriflcacao . Por esta razao sentimos constantemente signadas por termos tais como o "eu~. o· "ego", a "pessoa" . Se, como
( a necessidade qe coritrolar e de· vei'ificar elida elemento constitutivo de certos te6ricos ja o fizeram, se desenvolve urn conceito te6rico do ."eu",
nossas hip6teses. A investigacao objetiva sempre nos parecim, portanto, tncluindo-se nele; ao mesmo tempo, elementos .de experiencia de que o
( como o Unico meio de distinguir entre o conhecimento verdadeiro e os
individuo e consciente e . elementos de que nao o e, encontramo-nos no
( ,preconceitos, as opiniaes ou inclina.coes pessoais. Recordamo-nos sempre
momento atual na impossibilidade de dar uma definicao operacional ade-
de que, para poder ser considerado objetivo, o trabalho do pesquisador
quada de urna tal nocao . Ao contrarfo, se se lirilita o conceito do eu aos
( deve ser c<'nduzido de ·modo tal que urn outro pesquisador, recolhendo.
dados de que o individuo e consciente, uma tal definicao e suscetfvel de
seus dados da mesma manelra que ele os recolheu e submetendo-os as
( ser .formulada em termos operacionais .cada vez mais refinados tais como
mesm~ operacOes, possa fazer ~onstatacoes ld6nticas ou anA.logas e che-
gar as mesmas con~Iusoes. Em suma, desde o comeco, compreendemos
os que se obt&n pela aplicaQAo da Q-tecni~ a amilise de entr avistas gra-
que a ps!coterapia somente .se desenvolvel·ia pela verificacao publica de vadas . Urn vasto C"":lPO de investigacao se abre ao pesquisador _ Por
,,·rl ( todas as suas hip6te~es; isto e, utilizando processos objetivos . ?Utro Jado, riao e iinposstvet q~ ne futuro, ,grac;;as 86 de:Emvotvimento
'I
de instrunientos da pesquisa cada vez mais adequados, se possa chegar ·
a explorar por via operacional certas · estruturas, mesmo fnconscientes .
A segunda . razao do efeito esfim~Iante de nosso pensamento sobre
I (
. o desenvolvimento da pesquisa, esta nas concepeoes fundamentals apre-
sentadas . nd capitulo \tru: que a ·tnvestigacao cientifica pode comecar Outro efeito da introducao de conceitos definfveis em termos ope.-
(
. em qualquer 'Iugar ou em qualquer nivel, elementar ou complexo. Com racionafs, foi tQrnar superfluo ci uso de nocoes como as de "suqesso" e
eie.ito~ a ordem cien.tifica se relaciona coin a dire~io da investigacao de "fracasso" terapeuticos - termos desprovidos de valor cientffico en-
- nao com a complexidade do~ metodos ou com o refinamento dos ins- quanta criterios a servico da pesquisa . Atualmente, em vez de empregar
~ trumentos . A partir desse ponto de vista,. uma entrevista gravada · repre- termos tao abrangentes e mal definidos, os pesquisadores podem formu-
( sent:J. unl comecb de investigacao cientitica, pois, contem urn grau mats lar predit;oes especfficas e~ termos. de operaQoes. claramente definidas.
ele\·a<!o de objetividade do que a simples lembranca. Igualmente, o enun- Estas predicoes podem entab ser confirmadas ou refutadas, indepen~en­
f
\ ciado de nocoes te6ricas,. mesmo elementares, relativas, por E!xemplo, a temente de qualquer juizo de valor destinado a saber se 0 acontecimento
interacao terapeuta-cliente; ft criacao de. instrumentos __:_ por rudimenta- observado representa urn sucesso ou urn fracasso . 0 uso de procedim;n-
res que. pudessem ser .:.... com o objetivo de verificar estas no~;oes, re- tos como este permitiu, portanto, afastar os principals obstaculos ao pro-
( presenta um esforco cientifico. Guiados l>or este~ pontos de vista, alguns gresso cientifico neste campo.
( membros de nossa equipe julgaram ser uiu se empenhar nurn esfQrc;;o
de verltfcacao con\o este fazendo tentativas nos setores que lhes pare- A influencia que nossa abordagem exerceu sobre o desenvolvimen-
( clam mals facilmente abord~veis . Assim, • seus esfor~os deram o~gem a to da pe~quisa explica-se ainda por urn outro fator - a generalidade dt"
uma serie de jn!>truptentos cada "Vez mafs re!inados para a analise de . - ptGp ae190etl, isto e, sua aplicabilidade a campos qtie vao alem da ;
entrevistas grava4as e para a mensur~cao de nocoes ·aparentemente tna- psicoterapia. PE>lo fato de ser a situacii.o terap~utica como que urn mi-
( cessfveis como a nocao do ."eu" ou a do "cllma" afetlvo .da sltuaciio · te- crocosmo de relac;toes interpessoais significativas, de aprendizagens vitals
rap~utica.
(
de mudancas lmportantes na percepcao e na personalidade, as n()c;(oes
te6ricas ela.boradas a partir desta situacao sao va.Iidas com relacao a ou-
( rsto me conduz ao que me parece ser a terceira razii.o do efeito tras situacoes hurnanas. Nocoes como as de estrutura do eu, de neces-
que nossa terapia exerceu. sobre a introducao da pesquisa nesta area. sidade de consideracao pcisitiva, de condic;toes da mudanc;ta da personali-
(
Como se tera visto pela Ieitura do capitulo VIII, · os elementos consU- dade, sii.() aplicaveis a urna area muito ampla de atividades lnterpessoais .
( tutivos de nossa teoria sao, na maior parte, formulados de tal modo Podemos utiliza-las para o estudo de campos tao diversos quanto o co-
que se prestam a deflnicoes operacionais . Ou, nocao de definicii.o ope- mandci militar, a organizacao Industrial, a mudanca da personalidade em
( racional respondia a uma necessldade vivamente sentida pelos psic6- individuos pslc6ticos, o clima psicol6gico familiar ou escolar, as relacoes
( . logos e, de urn modo ma_is geral, por todos aqueles que se interessavam pelo · entre os fatores psicol6gicos e fislol6gicos do runcionamento, e muitos
estudo da personalidade : outros.
(
228 229
- ~--- ~
(
(
apesar de grande, nii.o durou multo. Escutando n contetido de certo , ~odo
Assinalemos, flnalmente, urna circunstancia que teve urn efeito mui- amorfo e mal concatenado d.este caso, acreditamos nJcialmente que serla .n e-
to favorlivel sobre o desenvolvimento da nossa terapia. Contrariamente . cesdrJo renunclar tOda esPenmc;a de converter urn material como este
a
\ psicanlilise, por exemplo, nossa terapia se ,.desenvol'veu intelramente no · em dados nftldos e claros que se prestassem as exigencias da pesquisa .
ambito de lnstltulc;iies unlversltarlaS". Como conseqiiencla, tivemos sempre .A primelra vista, este tipo de material parecla de$afiar toda possibllida-
possibiUdade de nos dedicarmos a nossos trabalhos nurna atmosfera de de de tratamento objetivo e sistematico. Porem, fizemos tentativas e nos-
'>eguranc;a (tanto econOmica quanto pessoaD, - o que represent& a con- sos esforc;os forani, nUIJlll certa medida, coroados de sucesso . 0 entusias-
dic;ao fundamental da atitude autocritica. Dlsto resultou tambem que o de- mo e o espfrito criador de nossos estudantes de doutorado ,supriram a
lenvolvlmento de nossa . corrente tera~utica se beneficiou com a troca falta, entii.o completa, de fundos e de equipamentos. Gtac;a.s a seus esfor-
de · idetas com colegas pertencentes · a outras dlscipllnas ·acad~micas: Em QOs .engenhosos e persistenteS, a "materia-prima" da terapia fol organi-
outros .termos, nosso pensamento se desenvolveu · da manelra pela qual zada em urn certo ntimero de categorias elementares que ·representavam
>e desenvolvem as novas teorias em outros campos da ciencla ...:... em· as modalidades de lnterac;iio terapeuta-cliente. Uma destas series de ca-
quimica, ·em · biologia, em genetica - ntima atmosfera de comunicac;ao, tegorias se relacionava com a atividade (as "tecnicas") do terapeuta·
( de informac;ao e de critica benefica e construtiva. Enfim, e sobretudo, outra, se referla k atlvidade do cliente. Utlllzando o material asslm oQti-
s superloridade do desenvolvlmento num meio acad6mico reside no fato do, Porter {73) determinou certos aspectos importantes do comportainen-
de que tanto a teoria como a ·pritica sao acessfvels a curiosldade en- to verbal do terapeuta, enquanto Snyder 008) analisou os dados verbals
( tusiasta dos jovens . No estagio acad~mico avanc;ado em que entram em do cliente e demonstrou a presen~. neles, de diversas teridencias slste-
contato com a psicoterapia, estes · estudantes tern urn espfrlto crftico e de rruiticas. Outros pesquisadores se revelaram lgualmente Mbeis e, pouco
investigac;ao muito desenvolvidos: examinam e verificam, propoem novas a pouco, a possibiUdade de pesquisa no campo da pslcoterapia se tomou
\ enunciados, inventam procedimentos empfricos para confirmar ou refu- uma realidade.
tar as hip6teses propostas. Tudo isto contri·b uiu consideravelmente para
dar a este pensamento urn carliter cientffico, aberto, publico, autOcrftico ReConhecemos, sinoeramente, que estas primeira8 pesquisas el'lam ru·
( e nao-dogmatico. dimentares . Sua organiza<;ii.o expt!rimental era muitas vezes deficiente e
se esta.belecia sabre urn mimero de casas bastante reduzido . Tiveram, . no
Estes sao os acontecimentos que ·permitiram a esta terapia se de- entanto, o merito de abrir camlnho para um novo movlmento de pesqui-
senvolver por meio da pesquisa. 0 que, no comec;o, era apenas urn pan- sa, e por isto sua contribuic;ii.o nao pode ser subestlmada .
to de vista restrito, · essencialrr..e11te pratico; transformou-se, atraves de
urna progressii.o continua, nii.o somente numa ·teoria da personalidade, mas
tambem numa teoria das relac;oes interpessoais e, finalmente , em uma teo-
( ria da psicoterapla - tudo isto fundainentado por urn vasto conjunto de § I - Alguns exemplos-tipo de nossos trabalhos
( conhecimentos empiricos.
A fim de dar uma ideia da evoluc;ii.o deste movimento de pesquisa,
( procurarei descrever nas paglnas que se seguem uma serie represertta..
tiva de nossos trabalhos. Ainda que me esforce para ser breve, procura-
\ 0 come~o ·da pesquisa rel, no entanto; fomecer ao leitor os dados necessaries para compreen-
der a metodologia destes trabalhos asslm como o significado dos resul-
A hist6ria •da investigac;ao objetiva na psicoterapia nii.o tern urna tados obtidos.
origem distante. Antes de 1940 houve, provavelmente, algUmas gravac;oes
espora.dicas de entrevistas terapeuticas, mas o material assim obtido nii.o Seria conveniente observar que a selec;ii.o destes trabalhos niio se
foi utilizado com a finalidade de pesquisa . Antes desta data, nao houve baseou, absolutamente, no valor extraordinario, experimental ou pratico ·
I
nenhuma tentativa seria de aplicac;iio dos metodos cientificos com o fim dos mesmos. Os trabalhos que serii.o citados foram selecionados unica-
de medir as mudanc;as que se supunham observar no cliente no decorrer mente, levando-se em conta seu valor de amostra de diversas tendencias
da terapia . A pesquisa terapeutica e, pois, um campo que esta ainda, em de nossa pesquisa e do desenvolvimento desta . Em considerac;ii.o a esta
muitos aspectos, em estagio embrionarlo . No entanto, alguns progresses tiltlma razao, procederei na ordem crono16gica (tl .
foram realizados.
( 1) Uma bibliografia anotada das pesquisas e dos trabalhos te6ricos relatives a terapia niio-dire·
Em 1940, na Universidade de Ohio State, tivemos a ocasiii.o de gra- tiva foi publicada no Journal of Counseling Psycholo,gy, 1957 (4), 82·1 00.
var urn caso completo, o que nunca se fizera antes . Nossa satisfac;ii.o,
231
230
(
(
certa satisfac;ao com isto . 0 valor 3,0 indicava que ele atribuia tal
1. - 0 CENTRO DE AVALIACAO ta importancia a seu proprio julgamento quanto aos valores e des
Em 1949, Raskin (78> empre~ndeu um estudo sobre o que n6s con- jos dos outros - revelando deste modo, que percebia a distin<;l
vencionamos· denomfruir 0 centro {OU a furic;ao) de avalfac;io da experfb- entre o processo ativo (pessoal) de avalia<;ao, e o processo passi1
cfa <locus of · evaluation> ; Mafs preclsamente, este estudo tem por obje- <por parte do outro> . Finalmente, o valor 4,0 era reservado as pass:
to a questii.o de saber queni determina -concretamente esta func;io, se 0 . gens que indicavam claramente que o individuo baseava suas avali:
proprio lndlvfduo ou os que o cercam .' c;6es na sua propria experiencia e em seu proprio julgamento.
-E ste estudo tinha seu ponto de ·Partida -num· elementQ . fundamen• Completamos esta descric;ao com um exemplo - uma passagem r'
tal d~ nosso ·pensamento, ou seja, que a 'tarefa do terai>euta niio c~n8iste, presentativa do valor 3,0:
de modo algum, em . pensar, e~lorar, avalfar, etc., pa:ra o clfente, .m:as.
em pensar, explorar, avalfar com. o clfente. '.Assim, por exemplo, o 't;era"" Qlente: "Finalmente tomei uma decisao. Mas, estou em duvi
peuta que se encwrega de pensar e ·de tfrar conclusOes i;>elo cliente. situa da se sera boa . Quando se pertence a uma familia como a mi
~ func;ao de avalfac;iio em si mesmo. Ao contrarlo, quando o ~rapeuta nha, em que todo mundo e inteligente e quando se t.em ur
evita cuidadosamente fntroduzir seu pr6ptio sistema de valores, ·. e se es- irmiio na universidade e tudo isto, penso que e melhor rect:
forc;a em adotar o ponto de refer!ncla do cHente, pode-se :dizer que a fun- nhecer que se e... .como se e. . . e que se e incapaz de se cc
qJp de av&llac;io reside no cliente.. · ·· locar no mesmo nivel dos outros. Ate o momenta, sempre ten
tei ser o que o~ outros acreditavam que eu deveria ser e alcan
A questio que Raskin propunha era saber se o ·centro da func;iio da c;ar o que acreditavam que eu deveria alcan<;ar. Mas, agar:
avalfac;ao se transferfa durante a terapia.' Em outras palavras, os resul- comeqo a acredltar que talvez proceda melhor em me toma
dos da terapla lndlcarlam uma tend~ncia, por parte do ·clfente; para depen- simplesmente pelo que eu penso que sou." (78, p . 159) .
(
der menos do julgamento, dos valores · e das normas de otitras pessoas,
e a confiar em sua pr6prfa experfmcia ·e em seu pr6prfd. julgamento?
•J • • .
3. Raskin utilizou em seguida esta escala, para a analise de 59 entrevis·
tas que pertenciam a 10 casos terapeuticos rapidos, mas gr~vados in·
. Com este objetivo, Raskin elaborou um plano de pesqUtsa que com- tegralmente e que tinham sido objeto de outras pesquisas . Ap6s ha.·
preendfa seguintes etapas: .
a.s ver feito esta analise, classificou todas as passagens relativas a fun·
Qiio de avalia~;iio . Alem disto,. e antes de proceder a pesquisa pro·
( 1. Tres "juizes", proeedendo fndependentemente, foram convidados a se- priamente dita, determinou a constancia de suas classificac;6es . Corr
leclonar, a partir de um certo nllmero de entrevistas gi-avadas e tran8cri-. este fim, tomou ao acaso, em cada uma das 59 entrevistas, uma pas·
(
tas, passagens relativas a func;io de avaliac;ao ..'uma comparac;io dos re- sagem relativa ao centro de avalia<;iio e confiou a classi!icac;ao do rna·
( sultados desta operac;iio. mostrou que· a concordAncia entre os Ju!zes.ul- terial assim obtido a um outro juiz que ignorava a origem destas pas·
trapassava os 80%, . o que indica que a dlmensiio estudada era uma sagens - mais precisamente, ignorava se estas estavam no inicio ot
· no!;D.o disc~rnfvel. . no fim do caso. A correla<;ao entre as duas series de avalia<;ao en
de 0,91 - o que significa um grau ·de constancia muito elevado .
2. A. pa;ttr do .matertal asstm selectonado, Raskin escolheu 22 p~sagens
( que lhe pareclam representativas de uma ampla variedade ·de p~slc;aes 4 Tendo construfdo uma escala com intervalos aproximadamente igual!
relativas a dfmensiio ' estudada. Fez . copiar estas passagens em car- e tendo demonstrado a constancia de seu instrumento, Raskin esta-
( va em condic;6es de determinar se se produzia, no decorrer da tera·
_tOes e · apresentou a· serie destes a ·20 jufzes; pedtndo-lhes que os re-
partfssem em quatro categorias, separadas por intervalos aproxfma- pia, um deslocamento do centro de avalia~;ao.
damente i~is. Os resultados indicaram que o valor mectio obtido pelas passagem
Para fazer com, que os jufzes compreendessem bem · qual era a ta- pertencentes as primeiras entrevistas nos 10 casos examinados, era de
refa deles, ele construiu uma escala-tfpo com a ajuda de • 12 .passa- 1,97, enquanto que 0 das passagens pertencentes as tlltimas entrevlstru
gens sobre as quais OS jufzes estavam mals acentuadamente de acor- era de 2,73 .
do . Esta escala-tipo c.o mportava os valores de 1,0 a 4,0. ·o valor 1,0 Este elemento de nossa teoria, ou seja, que se produzia uma mu-
. rep~esentava urn& atttude de depend~ncia mcondlcionat. e total do JUI- . danc;a no centro da funqao de avaliaqao encontrava-se, pols, confirmado.
gamento dos outros . 0 valor 2,0 significav0; que o J,ndfvfdpo era mul- Uma outra confirmac;ao veio se acrescentar a esta. Os 10 casos err.
to dependente do julgamento de outra pessoa, m~&S que sentia uma
··2:,2 I
233
(
questao tinham sido estudados por outros e com metodos diferentes, de
modo que disptlnhamos de critertos objetivos para determinar o grau de
sucesso terapeuttco obtido em cada caso. Ora, se se toma os 5. casos que, que nunca haviam stdo explicados antes.
segundo estes criterios, eram OS mats bern sucedidos, verifica-se que 0 des-
(
A hipotese principal de Thetford pode se resumir da seguinte forma:
locamento do centro de avalia.Qao e neles atnda maJ.s nit!do, sendo a me-
dia de 2,12 para ·as primeiras entrevistas e de 3,34 para as wtimas. Se a terapia torna. o individuo capaz de se reorganizar interiormen-
(
te, de modo a reduzir a tensao e a ansiedade que experimenta ante seus
Sob tnuitos aspectos, este estudo e representativo de urn born nu-
mero de tra.balhos efetuados por nosso grupo. Partindo de uma .deter- problemas pessoais, esta mudan<;a deve ser acompanhada de certas · m.o-
difica~oes do funclonamento do sistema nervoso autOnomo - funciona-
minada hip6tese de nosso sistema te6rico, constr6i-se urn instrumento
suscetivel de medir as varia~oes de wna determinada dtmensao. 0 pr6- mento que se modifica e que se intenstfica em toda situa<;i\<;o percebida,
prto lnstrumento e entao colocado a prova a filn de determinar se, efeti- pelo indivfduo, como ameac;adora e que se torna, por isto, geradora de
vamente, mede o que se propoe a medir (validade do instrumento) e se angustia . lsto e, se a terapia produz urna mudan<;a no mundo da per-
( cep<;ao e, em conseqiiencia, no comportamento e na suscetib1Udade a ten-
qualquer pessoa devldamente qualificada pode utiliza-lo e pode obter re-
( sultados id~ntlcos ou analogos (constt\ncia ou certeza). 0 instrurnento sao emocional, urna mudan<;a deve se produzir tambem no funclonamen-
e entiio apllcado aos dados da terapia seguindo urn metodo que pode ser to do sistema autonomo .- sistema organico que, como se sabe, escapa
( ao controle consctente. A questao que Thetford colocava era, portanto,
qualificado como objetivo . (Por exemplo, no estudo de Rdkin, a verifl-
( Ca.Qao, por tima terceira pessoa, dos 59 textos selecionados ao acaso, era saber se os efeitos de nossa abordagem seriam o suficiente penetrantes
urn empreendimento com o objetivo de garantir a ausencia de fatores para afetar o nivel organico do funcionamento; portanto, ela se relacio-
perturbadores sistematlcos, conscientes ou inconscientes). Os dados re- nava a "profundidade" das mudanc;as produzidas.
( sultantes da apllca~ao do instrumento podem · ser entao analisados de
modo a determinar se eles confirmam ou refutam a hip6tese em causa. A metodologia deste estudo era particularmente complexa . Tenta-
( rel, no entanto, expor os seus elementos essenciais. Thetford recrutou
No caso de Raskin, a hip6tese foi confirmada, verificou-se que efetiva-
mente, e de acordo com nossa teoria, os clientes · tratados segundo nossos uma popula<;ao experimental de 19 pessoas, todas clientes do Counseling
principios, Jllanifestavam menos dependencia para com o outro, isto e, Center da Universidade de Chicago. Independentemente da questao de
debcavam-s.~ cada ve~ menos se guiar pelas exigencias arbitrarias de seu sua terapia convidou cada urn destes indlviduos a participar de urna pes-
meio; verificou-se, alem disto, que manifestavam urna confian<;a cada vez quisa sabre a personalidade . Todos os individuos, com exce<;ao de dois,
maior ria sua capacidade de avaliar sua propria experiencia. que estavam lmpossibilitados por motlvos de ordem pratica, aceitaram
de born grado participar desta pesquisa . Thetford dispunha, assiln, de
0 estudo que acabo de esbm;ar esta, no entanto, imperfelto devido urn grupo representatlvo de estudantes-cliente do Centro . Observemos a
a duas deficiencias: o n\lmero dos casas sob os quais se baseia e restri- respeito destes indtvfduos, que dez dentre eles faziam terapia individual,
( to e os casos sao multo breves - brevidade que e caracteristica do ini- tres faziam terapla tanto individual como de grupo e os seis ultimos,
cio de nossa terapia. Ha, no entanto, razao para se a.creditar que se o faziam terapia de grupo.
( estudo tlvesse por objeto urn n\lmero de casos mais elevado, os resultados
permaneceriam fimdamentalmente os mesmos. '' A seguir foi recrutado wn grupo de controle com pessoas que nao
(
Observemos, finalmente, que este estudo representa urn estagio in- .faziam terapia. Do ponto de vista da ldade e do nivel cultural, os indi-
tennediario entre os trabalhos rudimentares de nossa fase inicial e os viduos que constituiam este grupo correspondiam aproximadamente aos
trabalhos multo mats rigorosos atualmente em curso. que constituiam o grupo experimental. Os individuos pertencentes a cada
(
urn destes dois grupos foram entao submetldos aos mesmos processos de
( lnvestiga~ao.
2. A RELACAO ENTRE 0 FUNCIONAMENTO NERVOSO AUTONOMO
( E OS EFEITOS DA PSICOTERAPIA.
Os elementos essenciais deste processo eram os seguintes. Por meio
( Urn outro estudo, que data igualmente de 1949, foi empreendtdo wr de eletrodos ligava-se o individuo a urn polfgrafo que gravava simulta-
Tlletford (114) e representa urn tipo de investiga<;ao bern diferente . As neamente o reflexo psicogalvt\nico (GSR), a pressao arterial e a respi-
( hlp6teses que se prop6e verificar tern urn alcance que ultrapassa bastan- ra~ao . Ap6s urn periodo de repouso, destinado a estabelecer uma linha
te o campo cia terapia propriamente dita. Este estudo se propunha pre- de base, o experimen:tador explicava ao individuo que a mem6ria dos al-
dizer os fenomenos fisiol6g1cos corotartos de nossa teoria - coro14r1os garismos era geralmente reconhecida como uma excelente medida da in-
tellgencia e que desejava submete-lo a este teste. 0 experimentador apre-
2W sentava em seguida wn certo n\lmero de serie de algarismos que iriam
(
( 235
~ - ·- -· . - ··- . ··- ""':"'".".: ""· - . ·--· ·-""'"·~---,
(
ra~o" mostrou que o grupo terapeutico recuperava mn.is rapidamente du-
se estendendo de tal modo que o individuo deveria, necessariamente, "fra-
rante o segundo teste e que esta mudanc;;a era da ordem de 5% . 0 grupo
cassar" com o tempo. Apos urn intervalo de dois minutos, o experi-
mentador apresentava uma segunda serie de algarismos destinada, igual- de controle, pelo contrario, nii.o manifestoti mudanc;;a alguma sob este as-
( pecto . No que se refere a atividade cardio-vascular, a variac;;ii.o media da
mente, a provocar urn "fracasso" . Ap6s urn outro intervalo o procedi-
. ( mento era repetido uma terceira vez - com o mesmo resultado . Final- pressii.o arterial dos individuos do grupo experimental, durante a segun-
mente, apos urna ultima pausa, o experimentador terminava a experien- da sessii.o, era inferior a media obtida durante a primeira . A diferenc;;a
cia e informava. ao individuo de que seria chamado mais tarde Para uma entre estas medias era de 5% . Quanto ao grupo de controle, tima vez
i (
segunda sessao . mats, nao manifestou mudanc;;a alguma a este respeito. Outros indices
revelaram. mudanc;;as paralelas as que acabam de ser descrltas, porem
.I
:( Considerando-se que todos estes individuos eram estudantes, nao menos pronunciadas.
.I
'~ ( ha duvida de que este tipo de expe'riencia colocava em jogo seu amor pr6-. Torna-se claro por este estudo que os indivfduos do grupo expe-
ii prto e de que sua frustrai.;ao era real :- ja que a prova desafiava sua rimental tinham adquirido urn "limiar de frustrac;;ao" mals elevado e uma
capactdade intelectual e os mostrava sob uma luz pouco lisonjelra. Acres-
~I c capacidade acelerada de restabelecimento do equilibria homeostatico al-
centemos ainda que o experimentador evitou cuidadosamente. que se · per-
~I ( terado pela frustrac;ao . Evidenciou-se, a!em disto, que o grupo de con-
cebesse ter a experiencia a menor relac;;ao com a terapia dos individuos
~I trole manlfestou tendencias contrarias, ou seja, urna ligeira tendencia a
I (
pertencentes ao grupo experimental. Para evitar que estes individuos fi -
dimtnuic;;ao do llmiar de frustrac;ao e uma recuperac;ao nitidamente menos
zessem aproximac;;ao entre os dois campos, a administrac;;ao das provas foi
rapida do equilibria homeostatico .
rj c efetuada em outro edificio . ·
,, ( Em termos mais simples a significac;;ilo deste estudo parece ser a
~I Quando urn individuo qualquer do grupo experimental terminou sua seguinte: ap6s a terapia, o lndlvfduo e capaz de enfrentar situac;;6es de
terapia, convidaram-no para urna segunda sessao e o submeteram as roes- tensao emocional e de frustrac;;ao com mais tolerancia e menos ansie-
I( mas provas: tres periodos de frustrac;;ao altemando com tres periodos de dade . Esta mudanc;;a se opera mesmo que a frustrac;;ao particular ou sua
II( recuperac;;ao, tudo isto gravado com relac;;ao as diversas manifestac;;6es do causa nii.o tenha sldo objeto de discussao na terapia. Alem do mais, esta
jlc funcionamento nervoso autonomo . Os individuos do grupo de controle mudanc;;a nii.o e simplesmente urn fenomeno de superffcie, mas se verifi-
ol foram chamados em intervalos correspondentes e submetidos as mesmas ca em certas regi6es do organismo que o indivfduo e incapaz de contro-
i:l provas . lar consclentemente e de que, alias, nao se da conta.
~~
Recolhidos OS dadOS, procedeu-se ao calculo de diversos indices psi- 0 estudo de Thetford liga-se a uma corrente de pesquisa de cara-
i:( C016giCOS para cada grupo. A comparac;;ao destes indices revelou que a ter complexo e sobretudo audacioso . Suas hip6teses, ainda que se lns-
tinica· diferenc;;a sign:.ncativa entre os · dois grupos referia-se a taxa de crevam na perspectiva de nossa teoria, ultrapassam, no entanto, as pres-
-~ recuperac;;ao dos individuos durante as duas sess6es . De urn modo geral, suposlc;;6es desta terapia . Como vimos, sua predic;;ii.o consistia na afirma-
o grupo experimental se recuperava mais rapidamente durante a segun- ~ii.o de que: se, em conseqliencia da terapia, o indivfduo torna-se capaz
it da sessii.o de frustrac;;ii.o do que durante a primelra; enquanto que os de controlar melhor sua tensao emocional ao nfvel pslcoi6gioo. este fe-
( nomeno ocorrera igualmente ao nivel flslol6glco . Com relac;;ao a lsto, re-
resultados do grupo de controle revelavam o contrario: os individuos per-
tencentes a este grupo se recuperavam mais ·1entamente durante a segun- cordemos os trabalhos de ordem similar efetuados por Chodorkoff 08),
da sessii.o do que durante a primeira . acima descritos · As 1nten~6es de Chodorkoff ultrapassam tamb6m os 11-
( mites dp nossa teoria e se projetavam no campo da personalldade . Tanto
'( Esclarec;;amos urn pouco estes resultados. Durante a segunda ses- em urn estudo como no outro, a pesquisa consistia em verlflcar a exatl-
sao, o grupo experimental manifestou uma mudanc;;a no "quociente de diio das predi~6es fonnuladas em termos operaclonals . Os resultados de
recuperac;;ii.o" baseado no GSR . Esta mudanc;;a era significativa ao nfvel trabalhos deste gfulero, que comportam predi~oes que ultrapassam os li-
de 0,02 no sentido de uma recuperac;;ao acelerada. Ao contrario, o grupa mttes da psicoterapia proprlamente dita, tern, evidentemente, urn valor
de controle manlfestava uma mudanc;;a signiftcativa ao nivel de 10% no .muit9 particular com relac;;ii.o
a confirmac;;i'io de nossa teoria.
sentido de urna recuperac;;ii.o lenta . Em outras palavras, os indivfduos se
revelavam menos capazes de superar a frustrac;;ji.o causada pelos fraca$- 3 . 0 EFEITO DOS DIFER~ MOOOS iDE INTERA~O VERBAL
sos durante a segunda sessao do que · na primeira. ·
Urn estudo de valor modesto realizado por Bergman (10) ern 1950,
Uma outra. medida de GSR denomtnada "percentagem de recupe)' forneceu. urn exemplo do modo pelo qual as entrevistas gravadas se pres-
1
<)'}~
237 j
~(
2. 0 cliente nao reage a resposta do terapeuta, renuncia aparentemente
ao assunto ou, o que e mais freqtiente, inicia um assunto mais su-
t.avam a urn estudo, de certa forma mlcroscopico cia interac;iio verbal . perficial.
Bergman se propunha estudar a relac;ao entre certas caracteristicas do 3. 0 cliente se envolve na explorac;iio de atitudes e de pr?blemas rela-
comportamento verbal do terapeuta (sua "tecnica") e a reac;ao do clien- cionados com o objeto de sua pergunta.
te. 0 material de sua pesquisa se compunha de dez casos gravados -
os mesmos que havlam sido utilizados por Raskin e outros em seus 4. A resposta do cllente indica que este percebe uma relac;ao entre ccr-
trabalhos. tos elementos de sua experiencia; em outras palavras, rev~tla que este
toma consciencia de um aspecto, ate entao desconhecido de si mes-
Na amillse deste material, Bergman anotou todas as passagens, que mo ou de sua situac;ao.
se relacionavam com qualquer pergunta do cli.ente, que procurasse obter
do terapeuta uma respo~ta implicando juizo de valor. Recolheu, assim. Tendo verificado a constii.ncla destas categorias e considerando-a
( 240 passagcns desta especie. Em cada uma destas passagens, o cllente adequada, ::3ergman empreendeu a amilise dos dados que havia reunido.
pedia, ou a soluc;ao de urn problema pessoal, ou uma avaliac;iio de seu Determinou a freqtiencia de sequencia de diversas categorias de respostas-
( estado ou de seu progresso, ou urna confirmac;ao de sua,s. opiniOes, ou uma terapeuta e de respostas-cliente e determlnou matematicamente quais er'am
! (
sugcstao ou um conselho, sobre um problema qualquer . Cada uma destas as freqtiencias que niio podiam ser atribuidas ao acaso. Estes sao al-
passagens era conslderada como uma unidade de interac;iio . A unidade guns de seus resultados:
de lnterac;iio comportava tres elementos: a pergunta do cliente, a respos-
ta do terapeuta e a rea<;ao do cliente a esta resposta. Uma rela<;ao simplesmente fortuita caracteriza a pergunta do cliente
e sua rea<;ao a resposta do terapeuta.
Bergman constatou que as respostas do terapeuta a estas perguntas
( podlam se repartlr em cinco categorias: Uma relac;ao igualmente fortuita caracteriza a pergunta do cliente e
c a resposta do terapeuta; isto e, nem as respostas do terapeuta nem
1. Resposta expressando uma avalla~ao: este tipo de resposta pode re- as reac;oes subseqtientes do cliente, parecem ser "causadas" pela per-
(
presentar, quer urna interpretac;ao das palavras do cllente, quer uma gunta inicial; em compensac;ao verifica-se uma relac;ao significativa
expressao de acordo ou desacordo, quer uma sugestao ou uma infor- entre a resposta do terapeuta e a reac;ao do cliente a esta resposta .
c mac;iio. 0 reflexo da pergunta do cliente (tipo 4 da serie de respostas-tera-
(
peuta) provoca no cliente urna explora<;ao do eu ou uma tomada de
2. Resposta tendendo a "estruturar" a intera~ao: este tipo de resposta
( compreende uma explicac;iio qualquer da situac;iio terapeutica, por exem- consciencla . A freqiiencia desta rela<;ao e superior a que se pode
plo, urna definic;iio daquilo que o terapeuta considera como seu pa- atribuir ao acaso, ja que a correla<;ao e significativa ao nivel de 1%.
( As respostas dos tipos 1 e 2 (respostas baseadas em urna avaliac;ao,
pel; ou alguma referencia a sua concepc;iio da terapia .
respostas interpretativas ou, jespostas explicativas provenientes do te-
(
3. Resposta visando obter esclareciment.os ou precisoes: este tipo de res- rapeuta) conduzem ao abandono da explorac;iio de si pelo cliente. A
( posta indica que o terapeuta niio compreende totalmente ou niio apre- freqiiencia desta relac;ao e superior a que se atri·b ui ao acaso, tendo
ende P.xatamente o que s~gnifica a pergunta do cllente . em vista que a correla<;ao e lgualmente significativa ao nivel de 1%.
Quando a resposta do terapeuta represent~ um pedido de esclareci-
4. Resposta que "reflete" o contexto da pergunta: o terapeuta responde mento (resposta do tipo 3) ela tende, ou a provocar a reiterac;ao da
situando a pergunta no contexto psicol6gico de que faz parte, sem se pergunta, ou a reduzir a tendencia a explorac;iio do eu e a tomada de
( preocupar diretamente com a pergunta propriamente dlta . consciencia pelo cliente. Estas freqtie~cias sao significativas aos ni-
veis respectivos de 1% e de 5%.
5 . Resposta que "reflete" o objeto da pergunta: o terapeuta indica que
compreende a pergunta ou a significa~ao afetlva, pessoal, que esta Ficou evidenciado pelo estudo de Bergman que as atividades dd
tern para o cliente. explorac;ao do eu e de tomada de consciencia, duas dimensoes importan-
Bergman examinou em segulda as reac;oes do cliente as respostas tes do processo terapeutico, parecem ser favorecidas por respostas que
do terapeuta e distribuiu estas
re~oes nas quatro categorlas seguintes:
"refletem" o pensamento do cliente . Ao contrarlo, as respostas que pro-
... ' curam explicar ou interpretar sao de natureza a provocar rea~;oes con-
1. 0 cliente responde reiterando sua pergunta, ou repetindo a que havla trarias ao progresso terap~utfco.
feito antes, ou ampliando e modificando seu conteudo, ou alnda apre-
sent~do u.ma nova. 239
q<.)Q
"(
!(
:c
.( Este estudo oferece uma amostra da maneira pela qual urn certo Jtpos haver fornecido. uma primeira descric;ao do seu "eu" o suJei-
( nlimero de pesquisadores se dedicou a urn exame multo minueioso e t,o e convidado a se descrever urna segunda vez por meio do mesmo jogo
detalhado de entrevistas gravadas, a fim de determinar o valor terapeu- de cart6es, mas tentando desta vez se descrever tal como gostaria de
'( ti<'..o de certos aspectos caracterfstlcos da in tera~;ao nao-diretiva . Este ser (eu-ideal} .
( tipo de exame e util, alem disto, porque contribui para uma melhor com-
preensao do processo de intera~;ao .humana em geral. Registrando e estudando o Iugar ocupado por cada cartao no con-
junto de cada uma destas duas distribuic;6es, os experimentadores estavam,
pais, em condi<;6es de estabelecer o valor ou a importancia que o sujeito
4. UMA INVESTIGACAO DA NQCAO DO EU atribufa a cada elemento descritlvo da serie; estavam, iguaimente, em
Varias pesquisas foram efetuadas sabre as mudanc;as que se pro- condi~;oes de estudar a variac;ao do Iugar de cada elemento e, em conse-
duzem na no~;ao do eu - noc;ao que, como se pode recordar, ocupa urn qtiencia, o valor de cada elemento com rela~;ao a cada uma das duas dis-
Iugar central na nossa teoria da terapia e na nossa teoria da personalidade tribuic;6es; is to e, com rela<;ii.o as duas imagens do eu.
(
A titulo de exemplo desta corrente de nossos trabalhos, examine- . As reparti~;6es ou distribuic;6es assim obtidas podem entao ser sub-
( mos rapidamente a pesquisa empreendida por Butler e Haigh (13} metidas ao calculo de diversas correlac;oes . Torna-se, pais, possfvel c'a!-
cular a correlac;io exlstente, por exemplo, entre o eu pre-tera~t·co e o
( Urn metoda .freqtientemente utilizado nas pesquisas sabre a noc;ao ·
do eu e a Q-tecnica - urn procedimroto esta.tistico desen~lvido por eu p6s-terapeutico, entre o eu "real" e o eu "ideal" ou ainda, entre o
( Stephenson (111) que a nossa equipe adaptou ao estudo do eu . Como eu-ideal pre-terapeutico e o eu-ideal p6s-terapeutico. Urn coeficiente el~­
Butler e Haigh se utilizam na sua investiga~;ao de urn instrumento ba- vado indica que a terapia produziu pouca mudanc;a, enquanto que urn
( coeficiente baixo tende a indicar o inverso . Por outro lado, o estudo .:los
seado nesta tecnt.ca, talvez seja utll descreve-la, rapidamente, antes de
( passarmos a discussao do estudo em questao elementos que mudaram de Iugar no decorrer cia terapia fornece urna
imagem qualitativa da natureza da mudan<;a ocorrida . Com efeito, gra-
·c Analisando urn certo nlimero de entrevistas gravadas pertencentes ca.s ao .g rande nlimero de elementos de que se compi)e a QWcnica, a
( a casas terapeuticos diversos, recolheu-se todas as passagens relativas a investigac;ao protege a riqueza clinica da imagem obtida pela aplicac;ao
imagem que o cliente faz de si mesmo .. A partir do material assim obti- desta tecnica . De morlo geral, este procedimento permitiu aos pesqui-
( do, seleciona-se uma centena de passagens que, por sua brevidade, sua sadores converter dados fenomenol6gicos sutis em dados objetivos sus-
clareza ou alguma outra qualidade, se prestam de modo particular as cetiveis de tratamento estatistico.
exigencias da pesquisa. Obtem-se assim uma amostragem muito ampla
e variada de elementos descritivos relacionados com a "no~;ao do eu" Ap6s termos descrito o instrumento, vejamos agora o uso que dele
tal como e configurada no espirito do cliente. A serie composta por fizeram Butler e Haigh em sua pesquisa . Suas hip6teses eram as se-
Butler e Haigh continha dados tais como: "Sinto, muitas vezes, urn certo guintes:
( ressentimento"; "Sei que sou sexualmente atraente"; "Nao me sinto real-
mente normal"; "Sinto-me geralmente incomodado em presen~;a de es- 1. A terapia nao-dlretiva tern por efeito reduzir a diferenc;a entre o
( tranhos"; "Estou p~rfeitamente contente e nada me preocupa". eu real e o eu ideal;
( 2. Este efeito sera mais claro nos cli~tes reconhecidos - com base
No estudo em questao, cada sujeito recebia tlm jogo de 100 car-
em .criterlos independentes - como tendo se beneficiado considera-
( toes que apresentavam dados como esses. A sua tarefa consistia em re-
velmente da experifmcia terapeutica do que naqueles reconliecidos co-
partir estes cart5es de mOdo que se descrevesse a si mesmo tal qual era
("eu real" ou, mais exatamente, o eu percebido como real) . A repartic;ao mo quase nao tendo sido beneficiados por ela.
( dos cart6es deveria ser feita numa ordem determinada . Isto e, deveria
comportar nove grupos alinhados (como em uma "paciencia") d~ tal mo- No plano de urn programa de pesquisa muito mais vasto, os pesqui-
( do que o numero de cart6es por grupo, ou monte, representasse a se- sadores se dirigiram a 25 clientes pedindo-lhes que fornecessem, par
guinte sequencia numerica: meio da serie dos cart6es, as duas descric;6es que acabamos de ver .
( Estas duas operac;6es foram efetuadas 3 vezes . A primeira, antes de
1, 4, 11, 21, 26, 21 , 11, 4, 1
comec;ar a terapia, a segunda, no final da terapia, e a ultima, num
Observemos que esta sequencia representa uma distrib uic;ao forc;ada e aprq- periodo posterior que variava de seis a doze meses ap6s o termino
ximadamente normal dos dados . da terapia . As mesmas operac;6es foram efetuadas em datas corres-
·. .
·~'"I • '
240 241
(
- ·-·-~- ---- ,,
(
(
(
( pondentes com urn grupo de controle composto de pessoas que nao
se submetiam a terapia. Do ponto de vista de ntlmero, idade, sexo, 0,59. Parece possivel, pols, concluir que os 1ndivfduos do grupo de con-
( trole, nao estavam sujeitos as tensaes experlmentadas pelos indiv!duos do
e status s6cio-econ0mico, os lndiv!duos pertencentes a este grupo se
( assemelhavam aos dO grupo experimental. grupo experimental. Isto signiflca que estes indlviduos pareciam relati-
vamente satisfeitos com sua manelra. de ser; em conseqiiencia, a con-
( cep~tiio de seu "eu", real ou ideal, quase nao se alterou.
Os resultados foram extremamente interessantes . As correla(,(6es en-
tre o eu real e o Em ideal dos lndividuos do grupo experimental se esca- Do que ficou dito, pode-se racionalmente conclulr que urna das mu-
( lonavam de 0,47 (mlrnero que representa uma disUi.ncia nitida entre o eu dan(,(as resultantes de nossa terapia consiste em tima modificac;ao da per-
real e o eu ideal) a 0,59 (numero que indica urn certo acordo entre os cepQiio do eu pelo cliente - modificac;ao caracterlzada por urna tend~n­
( dois). A correlagao media antes da terapia era de 0,01; no final da tera- cia e uma valorlzat;iio crescente do eu . Em linguagem mais simples, po- ·
( pia a media era de 0,34 e na ocasiiio do ultimo teste era de 0,31. Estes de-se dlzer que o indivlduo faz uma imagem mats favoravel de si mesmo,
resultados indicam, portanto, que urna mudan(,(a altamente slgnificativa que se estima mais. Ora, como acabamos de ver, esta mudan(,(a nao ~
se produziu no decor·r er do processo e confirma a hip6tese em questiio. efemera. De acordo com os testes empregados nesta pesquisa, ela se
mantem ap6s a terapia. Alem disto, a diminui(,(iio da tensao emocional
0 que e particularmente notavel a respeito destes resultados e que - outro resultado da experiencia terapeutica - revela-se . considerS.vel.
( a correla(,(ao diminui apenas ligeiramente durante o periodo que . se segue A descri(,(ao do · ~u, no entanto, pei'manece menos favoravel nos indivi-
a terapia. Isto significa que a mudan(,(a operada pela terapia se revela duos do grupo experimental do que nos do grupo de controle. Em ou-
( duradoura . tras palavras: a terapia nao estabelece urn estado de adaptaQiio perfei-
( ·0 grau de mudan(,(a se apresenta alnda mais claro quando se con- ta; nao elimlna completamente o conflito interior .
( slderam os casos que, na oplniiio dos terapeutas em questiio e de acordo Este estudo apresenta uma amostra de uma serie de pesquisas re-
com os resultados do TAT, eram os mais bem sucedidos. Estes casas, ferentes a rela(,(ao entre nossa terapia e a percepc;ao do eu . Outros traba-
( em ntlmero de 17, tinb:am uma correlat;ao ltliniJna, antes d.a terapia de 0.02 lhos revelaram que ~ principalmente a nO(,(ao do eu real que se trans-
( enquanto que, por ocasiOO dos testes ulteriores, e1a era de 0,44 . forma no decorrer da terapia . A noc;ao do eu ideal se modifica igualmen-
te, mas num grau menor, e a mudanQa se opera no sentido de urn ideal
( Esta pesquisa contern urn outro elemento interessante. Constltuiu- mais reallzavel .
se urn "grupo de autocontrole" formado po'r 15 individuos do grupo ex-
( perimental . A Q-tecnica foi ad.mini&tmda a estes individuOs no momento Estes resultados concordam, por outro lado, com as avaliac;oes fei- ·
( em que eles solicitaram os servigos do centro Foi-lhes entao pedido que tas por profisslonais atraves de metodos que excluem qualquer prevenQiio.
esperassem dais meses antes de iniciar sua terapia . (Como urn periodo 'De acordo com estas avaliagoes, a imagem que o cliente faz de seu "eu"
( de espera e normal na maioria das clinicas psicol6gicas, esses clientes e uma imag.em mais adaptada, mals realista, testemunhando urna maier
nao ficaram, de modo algurn, surpreendidQs) . No final deste periodo, a tranqiillidade interior, urna melhor compreensao de si, urna aceitat;ao mats
(
Q-tecnica lhes ·loi adrnindstrada. outra VleZ, assim como no final de sua completa de si e urn maior sensa da responsabilidade pessoal. Outras
( terapia e uma ultima vez em data ulterior conforme o plano seguido com pesquisas mostram que o eu p6s-terap~tico se torna capaz de manter
relagao ao grupo experimental inteiro . A correlagiio entre o eu real e o rela(,(6es interpessoais mais satlsfat6rias e mais fecundas .
eq ideal desses 15 individuos era de 0,01 quando se administrou o prl-
meiro teste e se revelou inalterada no final do periodo de espera. Esta Assim, pois, adqulrimos progresslvamente urn conhecimento objeti-
ausencia de indices de mudanga permite-nos concluir que a mudanQa vo das modiflcag6es que a terapia traz a imagem que 0 indivlduo faz
I de si mesmo .
constatada ap6s :a terapia estava. manl!estamente relac:onada com a expe-
riencia terapeutica. Nao decorria, simplesmente, da passagem do tem-
po, ou da decisao de se submeter a terapia, ou da satisfagao que decorre 5. OS EFEITOS DA TERAPIA SOBRE 0 COMPORTAMENTO
do fato de se saber que esta se realizara num futuro.pr6ximo.' OBSERVAVEL
Quanto ao grupo de controle que niio se submetia a terapla, apre- Os estudos ate aqui descritos e nurnerosos outros que poderiamos
senta urn quadro muito diferente . A correla:;ao inicial entre o eu real citar, indicam que a terapia niio-diretiva efetua mudanQas psicol6gicas
e o eu ideal durante a p~imeira apllcat;iiO das Q-tecnicas era de 0,58 e de natureza diversa: as func;oes de percepc;iio e de avalia(,(ao se modifl-
permaneceu praticamente constante - sendo o indlce do flltlmo tester cam num sentido favonivel; os efeitos flsiol6gicos da tensao emocional
~ ate"'-UiWl; o lndlviduo !onna wna ilnagem mals positiva de si mesmo,
242 243
(
i' (
(
tern o cuidado de organizar suas atividades de maneira oet6-
I etc. · Este tipo de resultado, contudo, interessa muito pouco ao lelgo e ao
\ dica, pols esta convencido de que urn bom metodo assegura
publico . A questao pratir.a que eles nos propoem, e saber se o compor-
o sucesso (texto n° 17);
tamento comum cOiAd!ailo, do cliente muda de maneira perceptive! e se
I
lj ( outras ·mudan<;as representam urn progresso. Valor 9: S acolhe favoravelmente as ocasioes legitimas de ex-
pressao sexual: nao experiments vergonha ou temor a este res-
I( Para responder a i!Ete genero de questCies, colaborei, ha alguns anos,
:I . pelto nem se sente particularmente preocupado com isto (texto
'I com certos membros de nossa equipe, em urn estudo das mudan<;as ob-
I ( tn° 53).
I servadas em coll$eqiiencla de nossa terapia (94).
:1 ( ~ acordo com nossa teoria as mudan<;as intemas de atitudes, que se Tendo escolhido nosso instrumento, o Willoughby EMS, nos era pos-
I produzem durante o processo tera~tioo, se mani!esta.rio l)<?r 1;1ID com- sivel enunclar nossa hip6tese em termos op~raclonais; estes eram seus
portamento menos defensivo, mais social, mais aberto a realidade exter- termos:
I na e intema, urn comportamento que reflita urn sistema de valores mais
~ Ao final do processo terapeutico, o comportamento do indi-
evoluido e mais socializado; em resurno, o comportamento manifestara
viduo sera julgado mals maduro, tanto por si mesmo quanto
urna maturidade maior e os impulsos infantis tenderao a se manifestar
por outras pessoas que o conhec;am bern;
( cada vez menos. A delicada questao que se nos apresentava no inicio era
saber se .essas hip6teses eram suscetiveis de serem formuladas em termos Esta maior maturidade se traduzira por uma posic;ao mais ele-
( -operacionais; lsto e, em fatos ou comportamentos que pudessem ser sub- vada na escala de maturidade emocional.
metidos a uma verifica<;ao empirlca.
(
A metodologla deste estudo era, lnevitavelmente, complexa, conside-
Para come<;ar, dlgamos que a psicometria sofre de uma real caren-
( rando-se a dificuldade de obter dados ao mesmo tempo corretos e cons-
cia de test~ para avaliar o comportamento comurn, cotidiano. 0 teste
tantes (constancia estatistica) a respeito do comportamento cotidiano .
( que se revelou o mais suscetivel de servir a nossos fins era o de Willoughby
Observemos que este estudo {azia parte de urn programa de pesquisas
denominado Emotional Maturity Scale (Escala de Maturidade Emocional) .
( mais amplo, que se estendia a clientes e a urn grupo de controle tambem
Construindo esta escala, Willoughby compos urn grande nlimero de esbo-
<;OI: •:erbais muito breves evocando situa<;oes-problema da vida cotidia- de 30 sujeitcs.
(
na. Estes ~sbo<;os ou textos, ele os colocou em cartoes e os apresentou Sao estas as diversas etapas desta investigac;ao:
( a uma centena de clinicos, fisiologistas e psiquiatras, pedindo-lhes que 1. Antes de iniciar. a terapia, o .individuo foi convidado a se descrever
( determinassetn o valor de maturidade ·que atribuiam a cada urn. Basean- nos termos da escala em questao .
do-se nos julgamentos destes, selecionou 60 textos .que constituiram o ·
( material de sua escala. Os graus desta escala se estendem do valor 1 - 2. Foi em seguida convidado a fornecer os nomes e enderec;os de duas
que represents o grau extremo de lmaturidade, ao valor 9 - que repre- pessoas que o conheciam bern e que consentiriam em servlr de "juizes";
( lsto e, que aceita::ijl.m fazer uma avaliac;ao a seu respeito como a que ele
sents o grau extremo de maturidade.
( acabava de fazer SObre Si mesmo; OS experimentadores enviaram as esca-
Os textos seguintes, acotnpanhados do valor de maturidade que lhes las diretamente a ·essas pessoas, com as instruc;oes necessarias e res-
e atril~uido, perrrdtirao ao leitor fazer urna ideia desta esca1.a: saltando que as avaliac;oes deveriam ser enviadas ao Counseling Center
da Universidade e nao ao interessado .
Valor 1: 0 sujeito <~) tern o habito de se entregar totalmen- .
3. Pediu-se a cada juiz, alE~m disto, urna avaliaQao de uma terceira pes-
./ te a outra pessoa para a solu<;lio de seus problemas (texto n° 9);
soa que ele conhecesse igualmente bern . Esta segunda avaliac;ao visava
Valor 3: Dirigindo seu carro, S e geralmente calmo e disci- determinar a constancia da funQlio de avaliac;ao do juiz .
I( ' ..,inado, mas fica nervoso quando os problemas do transito o
impooem de prosseguir (texto no 12); 4. Cada individuo pertencente ao grupo dito de "autocontrole" (cfr . supra)
avaliou-se pela primeira vez seu primeiro contato com o Centro; a se-
Valor 5: Quando se revela nitidamente inferior em urn cam- gunda vez, 60 dias mais tarde, isto e, no momenta de iniciar a terapia .
po qualquer, S se consola pensando nos campos em que e su- As avaliaGoes destes lndividuos por seus juizes foram efetuadas em mo-
p . . rior (texto n° 45); mentos correspondentes .
(
Valor 7: Quando procura realizar urn objetivo qualquer, s. Estas diversas aplica<;oes da escala forneceram urn vasto conjunto
(
( 2.'!~' 245
• ;,
,. (
..
I
(
(
Por outro lado, constatou-se uma correla<;iio nitida. e significativa en-
(
tre as estimativas dos terapeutas relativas as mudanc;as ocorridas duran be
de dados que se prestavam a diversas formas de analise. Vou me llmitar
a terapia e as avaHag5es dos juizes relativas as mudanc;as observavei.;; no
aqui a enumera<;ao dos resultados princiJ?aiS. comporta.nlento cotidiano . Esta correlac;ao e particularmente interessante
( Primeim.mente, obse~os que a escala de maturidade emocional reve- tensao em vista o fato de que 1) os terapeu~lis - que sall'2m muito poucc a
( ou :;er urn instrwnento de uma constli.ncia estatistica adequada, qualquer respe!to do comportamento dos :ndividuos fora das sessoes terapeuticas -
que foss~ o indivfduo que se utillzasse dela - cliente ou juiz (intracons- ficavam reduzidos a basear sua avalia<;ao unicamente sobre o comporta·
( tli.ncia) . Contudo, o acordo entre as avalla<;oes fornecidas por diversos mento de seus clientes durant~ as entrevistas, e 2) que as avalia<;6es dos
lndivfduos (interconstanCia) nao era muito acentuado. jufzes eram baseadas exclusivamente no comportammto dos indivfduos na
(
vida corrente e indzpendentemente de toda inforrnac;ao wbrc o que se
Vejamos agora os resultados relativos aos efeitos terap~uticos ex-
( psasava no consult6r o do ·t erapeuta .
pressos em termos de ~=
Os individuos pertencentes ao grupo de controle nao manifestaram
( mudan<;a significativa algwna. Observemos, alem ~.:.;o que, em geral essas con;:tat~Qe.s foram con-
firmadas pedas avali~ fornecidas pelos pr6prios clientes a ;r;espeito de
( Os clientes que pertenciam ao grupo de autocontrole nao manifes- seu comportamento - isto, conttido, coz:n wna excegao interessante . A
taram mudan<;a signiflcativa alguma no seu comportamento durante seu auto-avaUac;ao dos clientes considerados por seus terap~utas como tendo
( periodo de espera de 60 dias - esta aus~ncia de mudan<;a se observou se benefic!ado de modo apreciavel do processo, indicava um nitido au-
t<~.nto '1Mavalia<;oes dos individuos por Si mesmos, quanto nas avalia<;Oes fei' manto dr: mat uri dade. Estas auto-avalia<;6es e as avaliac;oes p~los juizes
t.as p8los jufzes.
( eram quase identicas. Ao contrario, os clientes cuj.os terapeutas considera..
Da acordo com os dados dos juizes nenhwna mudan<;a observavel vam como tendo se beneficiado pouco ou nada da terapia (ou cujo estado
h !!~ia ;:;c J,:rocluzido no c<n:nportamento dos clientes, nem no decorrer da p:1recia ter se agravado), se descreviam - tanto ao term;no de sua t erapia
~uap :u, nem durante o perfodo seguinte a terapia . (Notemos que ·se tra- quanta ao fim do perfodo ulteror - como tendo realizado progresses no -
tll aqui dos resultados globais, isto e, provenientes de todos OS juizes, taveis - fenomeno que parece ter tendencia a se produzir quando a ex-
:·ei:ltiVOS a todOS OS ' indivfdUOS e formuladOS em termos de medias), periencta terapeutica nao foi · frutifena.
F.stes resultados eram, pois,, contrarlos a nossa hip6tese. Em pre-
( senga desta constatagao nos pareceu util examinar se estes resultados
valin.m para cada pessoa individualmente e independentemente dos pro- De wn modo w::·r al, parece que podemos concluir que, nos casas
( gresses que, segundo outros criterios, ela parecia ter realizado durante a considerados bern sucedidos, produz-se urn grau de mudanga posit va, ob-
terapia. Com e::;te fim, subdividiu-se o grupo em tr~s categorias: servavei no com.portamento cotidiano do individuo. Ao contrario, aqucles
( casos julgados pelos terapeutas cpmo encerrados com um sucesso mOdesto,
1. Aqueles que, de acordo com as estimatlvas de seus respectivos tera- ou mesmo com um fracasso, revelam uma deteriora<;iio do oomportamento
peutas, pareciam ter tirado um proveito apreciavel de sua experi~ncia te- no sentido de uma diminuigao da maturidade. Esta tlltima comtatac;iio
. ( rapeutica; tem wn int~resse particular porque indica que o empreeodimento terapeu-
tico infrutifero pode ser acompanhado de efeitos de desintegragao . Estas
(
2. Aqueles que pareciam ter tirado desta um pequen() proveito; conseqiiencia.s nao sao claraa, mas reclamam, no entanto, urn estudo es-
pecifico e mais ap!'ofutldado .
3. Aqueles QUe pareciam nao ter tirado prove!to algUill.
(
Aqul estao os resultados tais como surgiram ap6s esta subdivisao: Este tipo de pesqulsa nos da um exemplo dos esfor<;os empreend.dos .
Com· ref-erencia aos individuos pertencentzs ao primeiro destes grupos, com o fim de det€rminar os efeitos da terapia sabre o plano do compor-
o grau de mudanga observada pelos juizes aumentou consideravelmente: tamento observavei. Eloa. IlQS da, ao mesrno tempo, urna ideia das dificu!.
mudan<;a .signif.cativa ao nivel ·de 5%. As avaliaQ()es referentes a.o segundo dftdes partJculares com as quais se defronta quando se quer organizar urn
grupo revelaram pouca mudan<;a com rela~ao as avali~oes medias. Quanta estudo Wficientetnente rigoroso para garantir que:
as ava!ia<;Oes relativas ao terceiro grupo, indicaram uma mudan<;a n~a.tiva;
isto d. julogou-se que estes individll06 se c~rtavam com menos matu· a) Houve, efetivamente, mudanc;as no comportamento, e
(
ridad~ w!A}is U.J \iUe antes de sua terapia .
( 2·17
(
246
""
~
b) que estas mudanc;as resultam da terapia e nao de qualquer ou-
tro fator. cesso. Em cada urn a delas, escolheu entao ao acaso g unidades de inte-
\ rac;ao verbal (unidades. compostas de dois elementos, urn proveniente do
(
A liQiio que se depreende deste estudo global da mudant;;a no comporta- cliente e o outro representando a resposta do tcrapeuta as palavras do
meuto, sugere que e preferivel efetuar as pesquisas sobre esta questao ::10s cliente) . A razao de 9 unidades de interac;ao por entrevista, ela dispos
( limites do laborat6rio. Este meio permite observa~;oes mais rigorosas, das varias centenas de unida.des que misturou e gravou em fita - numa ordem
mudanc;as ocorridas no comportamento tal como se manifesta, por exem- de sucessao aleat6ria - partindo das gravac;oes originals . Em conseqiH~ncia
( plo, nas prt>vas de solu~;ao de problemas novos, nas provas de adaptac;ao deste metodo, uma unidade de interac;ao proveniente do inicio de urn
ou nas reac;aes ante situac;oes de angtistia ou frustrat;;ao. 0 estudo que caso de pouco sucesso, poderia ser seguida de uma unidade de interac;ao
acabo de delinear teve o merito, no entanto, de abrir o camlnho rave- proveniente de uma das ultimas entrevistas de urn caso ·h em sucedido
( lando que a terapia hem sucedlda produz uma mudanc;a posltiva do com-
( portamento e que a terapia mal sucedida pode conduzlr a mudant;;as ne- Tres observadores, que nao tinham conhecimento algum dos casos
gativas. e que tudo ignoravam sobre a natureza, favoravel ou nao, do desenvol-
vimento destes casos, escutaram quatro vezes o conjunto deste material .
6. AS RELAC()ES ENTRE A QUALIDADE DA RELAC.\0 TERAPEUTA- Sua tarefa consistia em avaliar cada unidade de interac;ao empregando uma
CLIENTE E OS PROGRESSOS TERAP£UTIOOS escala de sete pontos . Esta. primeira avaliac;ao tinha por objeto o grau
de empatia manifestado pelo terapeuta; a segunda, a considera~;ao posi-
Quero asslnalar ainda neste esbot;;o do desenvolvlmento de nossa
( tlva lncondicional que demonstrava ter; -a terceira, a "congruencia" do
terapia e do movimento de pesquisa ao qual ela deu origem, urn Ultimo
terapeuta e a quarta, a medida pela qual suas respostas condiziam com
( estudo, ,reallzado por Halkides (45) . as palavras do individuo . ·
( Partlndo de nossa teoria relativa as condic;oes necessarias e suficien-
tes da ter.,t!fJra (supra),. Halkides formulou uma hip6tese sobre · a ex1s- Acredito nao me enganar afirrnando que todo,s os que estavam a
t~ncia de uma liga~;ao significativa entre o grau de reorganiza.Qiio da par deste projeto de pesquisa o consideravam temeni rio . Seria licito espe-
( personalidade e as .quatro variaveis que se seguem: rar que observadores, completamente estranhos ao caso, escutando frag-
mentos tao minimos de interac;ao, pudessem efetuar uma classificac;ao
( a) a compreensli.o empatica do cllente pelo terapeuta; valida, isto e, concordante, de qualidades tao sutis como as que Halki-
b) a atitude afetiva positiva (a considerac;ao positiva incon- des se propunha a estudar? E ainda que se se chegasse a uma certa con-
dicional) manifestada pelo terapeuta para com o cliente; cordancia, seria plausivel que aniostras constituidas de apenas 18 unida-
c) a congruencia ou autenticidade do comportamento do te- des de interac;ao recolhidas em casos composto~ de centenas e mesmo
rapeuta; isto e, a medida em que suas palavras concordam de mllhares dessas unidades, poderiam apresentar qualquer relac;ao com
com seus sentimentos; os resultados da terapia? Isto parecia bastante duvidoso.
d) a correspondencia entre a intensidade das respostas afeti-
vas do terapeuta e a intensidade afetiva dos pensamentos e
sentim~11tos expressos pelo cliente .
Os resultados ultrapassaram todas as previsoe.s . Revelou-se, com
\
efeito, que exlstia uma concordancia multo real entre as diferentes clas-
( (Esta quarta varilivel representa uma extensao de nossa teo- sifica<;oes . A maioria das correlac;oes entre os dados dos varios obser-
ria· e tinha sido proposta por Halkides a partir de sua propria vadores era da ordem de 0,80 ou de 0,90 - exceto com referenda a
(
experiencia clinica) . ultima varia vel do projeto de Halkides . Mals precisamente, a correlac;ao
( . e:ttre a compreensao empatlca e o sucesso do caso era significativa a
A fim de verificar estas hip6tcsP-S, Halkides comec;ou pela selec;ao, urn nivel estatistico de 0,001 - is to para os casos mais bern sucedidos .
( baseada em criterios multlplos - de urn material composto por uma par- Constatou-se a mesma relac;ao no que diz respeito a considerac;ao posi-
(
te · de urn. grupo de dez casos cmnpletos e gravados, que poderiam ser tiYa incondicional e ao exlto do caso . . Mesmo a qualidade extremamen-
classific~dos na categoria dos "sucessos maximos" e, por outro !ado de te suttl denominada "congruencia" ou concordancia entre as palavras e
( um grupo de dez casos, igualmente g·r avados e completos, reconhecidos as atitudes do terapeuta, revelou-se associada ao sucesso do caso a urn
como pertencentes a categoria dos "sucessos minimos" . A partir de cada nfvel de 0,001 . Somente os resultados relativos a quarta variavel - a
(
urn dest'es . casos, ela escolheu, em seguida, duas entrevistas- classifican- concordlincia entre a intensidade afetiva rnan~festada pelo terapeuta e a
do-se uma no infcio da serie das entrevistas e a outra ao final do prl>- manlfestada pelo cliente dentro de cada unidade de interac;ao, revelou-
.se ambigua e de dificil interpretac;li.o.
(
248
( 2'I9
- ('
:E igualmente interessante notar que as classificac;oes relativas as
\ unidades de interac;ao, tomadas das en Lrevistas pertencentes ao inicio dos
respectivos casos, revelam-se tao el evadas quanto as clas ~i ficaG6es rela- caso, independ entemente dos conhecimentos intelectuais ou da preparac;ao
tivas as unidades de interac;ao tO J~Hi clas de entrevistas pertences a fase medica ou psicol6gica do profissional.
final do caso . Esta constatagao ter:de a provar que a atitude do tera- 0 valor criador deste estudo se revela ainda de uma outra forma,
peuta permanecia constante durar.te toda a duragao do p rocesso . Mais pelo fato de que ele representa uma das primeJ,ras tentatlvas no sentido
precisamente, o terapeuta que se mr :strava capaz de urn grau elevado de de abordar OS fatores caus:ltiVOS da psicot~r~Pfa, isto e, OS fatores que
empatia tehdia a manter esta atitude empatica do inicio ao fim do pro- conduzem a mudanc;as positivas da personalidade . Considerando-se que a
cesso. lgualmente, se carecia de "congruencia" ou de acordo, isto se cons- teoria e a metodologia de nossa terapia alcanc;aram atualmente urn grau
tatava tanto nas primeiras como nas ultimas entrevistas . relativamente avanc;ado, podemos esperar que urn numero crescente de
pesquisas sobre a dlnil.mica da mudanc;a pslcol6gica se empreenda num fu-
Formulemos os resultados deste estudo de maneira mais concisa. turo pr6ximo . .A vista de tudo isto, nao e impossivel que urn dia nos tor-
Primeiramente, ele parece indicar que amostras mesmo minimas de com- nemos capazes de discernir e de medir as condic;oes que favorecem a reor-
portamento do terapeuta sao sufirirntes para permitir urn julgamcnto de
ganiza!;iio construtlva da personalidade .
sua lnterac;ao com o cliente . Em segundo lugar, confirma a hip6tese de
que a relac;ao e urn fator primordial do sucesso terapeutico - sob a con-
dic;ao, no entanto, de que o comportamento do terapeuta esteja de acor-
do com seus sentimentos, que t·xperimente, em face do cliente, uma ati-
tude de aceitac;ao lncondicional, urna compreensao do mundo interior do u·- Algumas pesquisas em curso
cliente e que seu comportamento demonstre tal compreensiio.
A pesqulsa psicoterapeutica tern tornado atualmente urn impulso con-
Este estudo representa, pois. urn exemplo de uma corrente de pes- sideravel nos Estados Unidos . Mesmo o setor psicanalitico profissional
qnlsa de data recente, e que procura verificar aspectos sem}'re mais sutis acaba de abordar uma serie de estudos objetivos referentes ao processo
( das teorias em que se baseia nossa abordagem. Observe! nos que estudos da terapia analitlca . Seria, portanto, impossivel estabelecer o quadro de
como estes nao se preocupam mais simplesmente com noc,:oes te6ricas ou toda a ativldade de pesquisa que foi impulsionada no decorrer dos tiltimos
(
questoes "tecnicas". Indo alem destcs objetivos, mais facihnente aborda- anos, pois a configurac;ao do campo tornou-se por demais complexa e mu-
( veis, dirigem-se as qualidadc~s cle atitude e de comportanwnto aparente- tavel. Eu me limitarei, pois, a descrever brevemente diversos projetos e
_mente intangiveis . Este e, a mru ver, urn indicio do caminho percorrido programas de pesquisa que se relacionam diretamente com nossa aborda-
( gem terapeutica, ma1s precisamente, projetos que conhec;o de perto ou com
pela pesquisa psicoterapeutica nas tiltimas decadas.
( os quais colaboro.
Os resultados bern positivns que Halkides obteve com r,.lagao as
( tres primeiras variaveis de sua serie cle hip6teses - e inclusive a ausencia Urn programa atualmente em curso na Universidade de Chicago sob
de confirmac;ao da quarta vari ~ivd - constitui, a meu ver, urn indicia a direc;ao do Dr. J . Shlien propoe-se a comparar, por meio de pesquisa,
(
do fato de que os estudos re:-~ liz ac J , >s 11este nivel sao suscetiveis de fornecer OS efeitos da terapia de durac;ao limitada, isto e, controlada (formula que
( contribuic;oes importantes ·~ dt·ta!llar!as para o conhecimento do fenome- nao deve ser confundida com a noc;ao de terapia breve) e os efeitos da
nq terapeutico. terapia comum, isto e, de Liurac;ao nao limltada. Na terapia de durac;ao
limitada, o clientc dispoe de wn nlimero total de 20 ou, em certos casos,
Urn ponto importantc c1ue se ctestaca deste ultimo estudo e sobre de 40 entrevistas, apos as quais termlna-se o processo . A finalidade deste
o qual gostaria ainda cle cham:-~ r atenr;ao, se refere a natureza das quali- projeto consiste em estudar, por urn !ado, a maneira pela qual o cliente
dades relacionais que a('on ;; >: l! ham os progressos do cliente. Co- utiliza o tempo que lhe e concedido, e por outro !ado, a possibilidade de
mo se pode notar, estas qualidac! PS emanam essencialmente de atitudes abreviar o processo .
ou caracteristicas pessoais, nfio de conhecimentos academicos. Pode ocor-
rer, sem duvida, que alguma Pf''~quisa futura revele igualmente a impor- Um estudo que se a<;semelha estreitamente com o anterior tern por
tancia que tern os conhecimento.> academicos ou a posse de habilidades objeto a terapia adlerhna de durac;ao limitada. Com a cooperac;ao ativa
tecnicas para com o progresso terapeutico. Trabalhos como o de Halkides, do Dr. R. Dreykurs ( terayt;ui.a de orientac;ao adleriana) e seus colegas, o Dr.
no entanto, sugerem a hip6tese de que certas atitudes ou qualidades J . Shlien realiza, com relac;ao a teoria adleriana, urn estudo exatamente
pessoais S•?.jam por si mes:nas suficientes para assegurar o progresso do paralelo ao que acaba de ser apresentado . Se este programa se realiza
confonne as prevl.~oes, este est11do provara a possibilidade de compara-
c;ao direta de abordagens nitidamente divergentes - a terapia adleriana
250
?"i1
~ -
p6teses fundamentals deste estudo formula que, sendo dadas as condi-
e a terapia centrada no cliente . Com este objetivo se administram as roes-
<;oes necessarias da terapia - tais como se apresentam no estudo de
mas baterias de testes antes e ap6s o processo aos clientes dos dois gru-
( Halkides - o processo de mudan<;a sera essencialmente o mesmo, tanto
pos de terapeutas. A dura~ao do processo e mantida identica nas duas
abordagens e todas as entrevistas sao gravadas ~ Este estudo constituira no psic6tico como no individuo normal.
(
"urn ponto de partida" que ampllara consideravelmente nosso conhecimento Espero que estas breves notas tenham conseguido dar uma idela
( dos elementos comuns e divergentes de duas abordagens terapeuticas ni- do crescimento e do progresso que o conjunto dos tral:>alhos cientlficos
tidamente diferentes. que acompanham a pratica e que alimentam a teoria de nossa pslcotera-
(
pla tern alcan~ado.
( Menclonaremos tambem urn estudo efetuado 113 · Universidade de
Chicago ·s ob • dir~fiO dos Drs. D. Cartwright e W. Kirtner . Este estudo se
estabeleceu numa base excepcionalmente ampla, e visa descobrir urn gran-
de nU!nero de fatores que intervem na& mudan~a terapeutica e que nio
(
foram, at.§ o momenta, objeto de nenhuma pesquisa . m - SiguJ.flca~ao da pesqulsa para o futuro
(
Na Universidade de Wisconsin, os Drs. R. Roessler, N. Greenfield Para concluir este capitulo gostaria de responder a uma questio que
e eu mesmo, empreendemos urn programs de pesquisa que, esperamos, e freqiientemente colocada: "Aonde leva tudo isto? Para que servem todas
eonseguir:i entre outras colsas esclarecer os corolarios fis1o16gicos e psico- estas pesquisas?"
neurol6gicos de nossa terapia. Um destes estudos compreende o registro
( do reflexo psicogalvAnlco da temperatura e do pulso do cliente durante as A meu ver, a signlficac;ao principal da pesqulsa reside no seu po-
entrevistas. A comparac;Ao destes dados com os dados verbals da entrevis- tencial de unifica<;ao do campo da psicoterapia . Quando estivermos de
( posse de um conjunto suficiente de conhecimentos objetivamente verifl-
ta levara, esperamos, a urna melhor compreensao dos fatos fisiol6gicos
( do processo de reorganizac;Ao pessoal. cados relativos a psicoterapia, as "escolas" de terapia tenderao a desapa-
recer - incluindo-se entre elas aquela que repr~sEmtamos . A medida que
( No contexto de urn projeto menos amplo empreendemos, igualmen- for se acumulando o conhecimento cientificamente fundado, relativo as con-
( te, urna investigac;ao da terapia enquanto processo. Num artigo recente dic;5es facilitadoras da reorganiza<;ao psiquica, ao processo terapeutlco e
(27) elaborei urn quadro te6rico ba,seado na observa<;ao da seqUencia mais as condi<;oes que entravam ou interrompem a terapia, as afirmac;;Oe~ dog-
( ou menos regular das etapBf. do processo. Com relac;ao a isto, estamos maticas e puramente especulativas irao perdendo a sua forc;a . As dife-
atualmente empenhados na transposi<;iio desta f6rmula te6rica em urna rentes opinioes, as diversas tecnicas, os diferentes julgamentos de valor
(
escala operacional suscetivel de servir ~ analise das entrevistas . No mo- referentes aos resultados da terapia serao submetidos a uma verificac;ao
( mento atual, nos dedicamos ao exame da validade e da constW1cia desta 'empirica e deixarao de ser materia de debate ou causa de conflito.
cscala.
( Na medicina moderna, por exemplo, nao encontramos "escolas de
( Para concluir, mencionemos ainda urn programa de pesquisa que tratamento" que se oponham a outras "escolas de tratamento". Certa-
esta sendo conduzido sob a · dire<;ao do Dr. E. Gendlin e minha. Este mente, nelas sao encontradas divergencia!" rle abordagem e de opiniao
( estudo, que se realiza igualmente na Universidade de Wisconsin, consiste a respeito das diversas forma.~ e agcnt.e:!' da tratamento. Elas existem,
nurna compara<;ao entre o processo da terapia tal como se observa nos porem, dentro da convic<;ao de que poderlio ser resolvidas num futuro
(
esquizofrenicos - tanto . cronicos quanto agudos - e nos ·individuos nor- previsivel, gra<;as a pesquisa rigorosa . Acredito que em psicoterapia ca-
( mals, isto e, que funcionam na vida cotidiana. Cada terapeuta que partl- minhamos para urn mesmo futuro e que, em conseqiiencia disto, n6s nos
cipa do projeto se ocupara de tres casos: urn caso de esquizofrenia aguda, basearemos cada vez mais em fatos e cada vez menos em afirmac;oes na
( urn caso de esquizofrenia cr6nica e de urn cliente de satide mental con- :arbitragem de nossas divcrg€mclas. Slmultaneamente, alcan<;aremos o de-
siderada superior a media . Gra<;as a administra<;ao de urna bateria de . senvolvimento de uma psicoterapia cada vez mais eficaz e em continuo
testes pre-terapeuticos e a grava<;ao de todas as entrevistas, esperamos estado de evolu<;ao; de uma psicoterapia que poderia dispensar . os r6tu- .
( que este estudo conduza a resultados titeis. los especificos, uma vez que ela compreenderia todos os elementos ja
verificados pel as diversas orienta<;oes terapeuticas antertbres .
Observemos que este ultimo estudo e urn cmpreendimento que es-
tende a verifica<;ao de nossas hip6tese~ a urn novo setor da populac;ao, Poderia encerrar aqui, mas gostaria de acrescentar uma palavra
ou seja, a populac;ao das institui<;oes para doentes men tats. Uma das hl ainda, dirigida aos leitores que se sentem horrizados ao ver ser introdu-
252 253
')_ --..
(
(
(
( zida a investigaQao rigorosa num campo tao imaterial e delicadamente
pessoal quanto a psicoterapia. Estas pessoas, sem duvida, tern o senti-
( mente de que o fato de submeter fen6menos tao intimos a urn exame
objetivo represents, de certo modo, uma violaQao, uma despersonaliza-
( c;;ao da relaQiio terapeutica, urn atentado as suas qualidades morais es-
( senciais, uma reduQao do desabafo humano a frieza de urn sistema de
fatos.
(
Em resposta a estas pessoas, gostaria simplesmente de destacar
( que ate hoje a pesquisa nao deu origem a nada parecido . Foi antes o
( contnirio que se deu. A medida que -a pesquisa progredia, tornou-se cada
vez mals · claro que, no que se refer~ ao cliente, . toda mudanQa significa- Capitulo Xlll
( tiva de sua personalidade e efetuada no nfvei de experiencias eminente-
mente subjetivas tats como as experiencias de escolha, de qecisiio, de com-
( promisso pessoal, de unificac;iio interns, de autopercepc;iio modificada.
( Quanto _'¥>· terapeuta, evidencia-se, a.traves . de varios estudos recentes, que
- ·sua encacta e maxima quando Be e catoroso e sinceramente humane,
. ( ,._ quando. se esforc;a, unicamente, em "compreender do interior" os pensa-
'( ·me11tos e os sentimentos d() cllente tats como se apresentam, mi. sua 0 FUNCIONAMENTO 6TIMO
sucessiio espontt!nea e, de certo modo, orgt!nica. Niio existe, certamente, DA PERSONALIDADE
( estudo algum com o objetivo de demonstrar que urn terapeuta de atitude
( ·tria, inttHectualista, anaUtica e sistematica seja eficaz, Nos capftulos anteriores, expusemos os princfpios da pratica de
Constitui urn dos paradoxes da psicoterapia que, de uma parte, o nosso sistema psicoterapeutico . Fizemos uma apresentaQao sumaria da pes-
(
progresso de nosso conhecimento te6rico exija do terapeuta que ele quisa realizada pelo nosso grupo e urn esboQO da teoria da terapia e da
( tenha vontade e coragem de submeter suas convicc;oes pessoais mais teoria da personalidade dela decorrentes . Gostaria agora de fazer algu-
apaixonadas ao crivo da investigac;ao objetiva e publica e que, por outro mas reflexoes sobre as caracteristicas gerais da pessoa que tivesse pas-
lado, a pratica eficaz exija que ele aplique seus conhecimentos assim adqui- sado por uma experiencia 6tima desta. terapia . SEJ nossa aQao de tera-
ridos ao desenvolvimento e ao enriquecimento de seu eu subjetivo . Pois peutas tivesse o sucesso que desejamos, qual seria o tipo de pessoa que
e com este eu subjetivo que ele devera se empenhar confiante e livre- se desenvolveria grac;as a ela? Qual e 0 ponto final hipotetico, 0 termo
( ·mente na sua relaQiio com o cllente . Ultimo do processo terapeutico?
(
Fiz muitas vezes, a mim mesmo, perguntas deste genero sentindo-
( -me cada vez menos satisfeito com as respostas habitualmente dadas _
Estas respostas me pareciam por demais falaciosas, relativas, para aten-
( der as exigencias de uma ciencia da personalidade. Alem disto, elas me
( pareciam freqiientemente encobrir urn certo preconceito que as tornava
inaceitaveis . Caracteristica a este respeito, e a crenQa, bastante difun-
dida, de que a pessoa que passou por urn processo terapeutico esta adap-
tada a sociedade . A qual sociedade, porem? Trata-se de qualquer socie-
dade, quaisquer que sejam suas caracteristicas? Isto e o que eu nao po-
dia admitir . Igualmente caracteristica e a concepQiio, implfcita na
maior parte das obras psicol6gicas, que o resultado de uma terapia bern
sucedida corresponde a passagem de uma categoria diagn6stica considera-
da como pato16gica, a uma outra consideraQao como normal . Todavia, tor-
na-sa cada vez mais evidente que e quase impossivel entrar-se em acor-
( 255
( -254
(
(
(
do sobre o significado das categorias diagn6sticas e, em conseqiiencia, diante do diagn6stico e d.:> tratamento do caso, mas, como un:la pessoa em
( elas sao praticamente desprovldas de valor como no<;6es cientificas. E face de uma outra pessoa; que tenha tratado o cliebte como um ser por-
( mesmo que nos transformemos naquilo que se convenciou chamar de tador de um va!or intrinseco, incoridicional - qualquet que fosse o esta-
"normal", sera este o resultado mais desejavel do processo terapeutico?. do, o comportamento ou a atitude deste; que o terapeuta se t{mha mos-
( trado disponivel ao cliente e que, em conseqiiencia, tenha sido ca:paz de
A este respeito, acabei por aoreditar que o termo "psicopatologia"
( e slmplesmente uma etiqueta comoda que os proflssionais op6em a certos compreende-lo; que nenhum obstaculo interior tenha impedido o terapeuta
aspectos da personalidade que os atemorizam intimamente. E por is to de participar das experiencias do cliente, em qualquer mornento do pro-
( que, a meu ver, uma mudan<;a de r6tulo de dlagn6stlco e um indicia insu- cesso, e que, numa certa medida, tenha ·eonseguldo comunicar esta co·m-
ficlente do resultado psicoterapeutico. Por outro !ado, a concep<;ao de que preensao empatica ao cliente; enfim, que o terapeuta tenba: sido capaz
(
o resultado 6tlrno da terapia e a satlde mental carece igualmente de de ter plena confian~a nas for<;as de c~scimento que operam no indl-
( significado . Pols, quem determlnara o que e a saude mental? Tenho a . viduo; que tenha tido confianc;a nestas for<;as, apes·a r de nao poder pre-
impressiio de que o analista freudiano e o terapeuta niio-dlretivo defini- ver a dlre<;ao que tomariam. contentando-se em criar um cll.ma susceti-
( vel de 'libera-las, e, desta forma, de permitir ao cliente ser ele mesmo.
rlam. esta no~;:ao de forma multo diversa. Estou persuadldo de que o po-
( litico sovletico lhe darla alnda uma outra versiio.
Do ponto de vista dO' cliente, esta experiencia 6tima significa que
( Movido por quest6es deste genera, procurei muitas vezes fazer uma ele se entregou a uma explorac;ao progressiva de pensamentos e de sen-
( representa<;iio mental daquelas que· serlam as caracterfstlcas da pe:;soa que timentos comportando aspectos novas e amea<;adores, explara<;ao passive!
tivesse pass~9 por um processo terapeutico que pudesse se chamar ple- apenas porque ele percebia cada vez mais claramente que o terapeuta o
( namente bern' sucedldo . Para terminar este 11vro, gostarla de . apresentar aceitava de modo incondiclonal. Ert:1 conseqiiencla, o cliente tarnou-se ca-
( o resultado, ainda que provis6rio, destas reflex6es . Mais precisamente, paz de tamar cansciencia de certos dados de sua experiencia que havia
tentarei formular uma concep~;:iio do ponto ultimo da terapia. Esta con- interceptado a consciencia patque pa:reclam patencialmente perigosas para
( cePQiio, eu procurarel formula-la em termos que niio estejam sujeitos as a manutenc:;ao de seu "eu" Na seguranc:;a de sua refac:;ao com o terapeu-
crfticas que acabo de assinalar e que, alem disto, se prestem a uma de- ta, o cliente se torna capaz de experim,entar plenamente a significac:;ao
( fini~ao operacional suscetivel de verifica~ao objetiva. dos dados experienclais assim descobertos . De fato, ele experimenta a sig-
( nificac:;ao de modo tao. plena e intenso, no decarrer de sua eJtplora<;ao,
que ele vlve ou e verdadeiramente este medo, esta angtlstia, esta ternura
(
ou est~ far<;a cujo acesso a consciencia havia sido recusado por ele . A
( Perspectiva da defini~ao medi<h que experimenta, em toda sua intensidade, a diversidade destes
sentimentos, ele descobre seu rerdadeiro eu; descobre que ele e, ele mesma o
( conjunto destes sentimentos e· e:xperienc!as Constata que seu camportamen-
E natural, sem dtlvida, que eu aborde a questao dos efeitos tera-
( peuticos do ponto de vista descrito nesta pbra. Isto nao quer dizer ab- to modlfica-se t'avo.ntvelmente de modo a se harmonizar com este "eu" no-
solutamente que outras abordagens psicoterapeuticas nao possam chegar vamente descoberto. Pouco a pouco, ele se da conta de que nao ha ra.zao
( para temer os dados de slia experiencla, quaisquer que sejam eles; que
a efeltos comparaveis aos que aqui serao descritos. No entanto, como
( lsto e inc~rto, nada posso afirmar com rela<;ao a psicoterapia em . geral pQde acolhe- los livremente como uma parte inerente de um eu em vias
·f:l j;enho que me limitar a um' ponto de vista particular. Suponhamos, pois, d~ transforma~;:ao e de desenvolvimento .
-q ue a pessoa hipotetica que me proponho a descrever tenha passado por '•
uma experlencia intensiva e extensiva do tipo de terapla que preconiza-
mo~ e que esta experlencia tenh~ sldo tao perfelta quanta e teoricamen-
( te· passive! .
I - Caracteristicas da mudctn~a terapeutica 6tima
( Antes de abordar a questao .:los resultados, lembremos, rapldamen-
( te, as caracteristicas desta terapia tais como foram descritas nesta obra . Depots deste breve esbocto de uma situac:;iio terapeutica verdadeira-
Para alcan<;ar os resultados por mim lmaginados, seria necessaria: que o mente centrada-no-cliente, sera util reiterar o que me proponho exami-
( I terapeuta tenha sido capaz de se empenhar numa rela<;ao profundamente nar: quais seria.m as caracteristicas da personruidade daquele que tives-
pessoal com seu cllente; que se tenha conduzido com este, nao como ho- se passada par uma experiencia 6tima deste tipo de terapia? Em autras
mem de ciencia ante o objeto de sua investiga<;ao, nem como o medico
. paiavras, quaiS sao OS resultados de uma experiencia 6tima desta terapia?
(
( 256 257
(
(
(
:1 ( a experiencia, apresen~arei um exemplo extraido de uma entre.vista gra-
Primelramente, desejo ressaltar que as paginas seguintes represen- vada. 0 cliente, um homem jovem, casado, de profissao liberal, descre-
,( tam uma tentatiya absolutamente pessoal de responder a esta questao. ve, na sua 48 8 entrevista algumas das mudanc;as que notara recentemen-
Esta tentativa sera baseada numa experienchl. clinica de muitos . anos e te na sua mane.ira de sentir e ·de agir. Observa, entre outras coisas, o
( em mais de ·quinz.e anos de ·pesquisas. Alem disto, e a -fim. de tornar fato de ter se tornado mats receptivo, mais acolhedor ante cei:'tos estados
( mats clara e mais completa minha concep<;ao do tipo· de personalidade fislol6gicos e afetivos:
que resultaria 'de uma .terapia 6tlma, I rei alem dos' limltes destes c1ados
( ·clfnlcos e expertmentais, e destimvoltrerei meu pensamento ate as .suas
Ultlmas coilseq~~ncias 16gicas. Cliente: Nao ha, verdadeiramente, um meio de enumerar todas as mudan-
( c;;as que se efetuam na gente. Assim, tenho a lmpressao nitida
( Tendo refietido multo sobre a questao dos resultados de uma te- de que, ja ha algum tempo, sinto . . . como dire! . . . mais con-
rapia _otima, a 'resposta que me proponho dar a isto parect!-me pe·riei.:. siderac;ao, ou de certo modo; mais "objetividade" para com meu
( tamente uniflcada,· o seja, indivisivel. Contudo, ·para maior clareza da · estado ffsico,· poi' exemplp, constatado qu~ nao sou mais tao exi-
( exposic;ao, distinguirei tr~s aspectos: 0 prlmeiro relativo a !'titude de aber- gente para comigo mesmo. Antes · tinha o habito de ignorar ou
tura a experiencia, ou outro; ao modo · de funclona,mento existenclal, e o de combater uma certa fadiga que sinto geralmente ap6s o jan-
( terceiro, ao orgaillsmo .digilo de. confianc;a . tar. Pols bem, agora sou capaz de admitir que estou verdadei-
ramente cansado,. e que. nao se trata de imaginac;ao minha . Sfn-
(
to e admito que, realmente; meu "nfvel fisiol6gico" e baixo en-
1. ATITUDE ABERTA ANTE A EXPEI'U£NCIA . quanta que anteriormente tinha uma atitude de crftica constan-
(
Aquele que tivesse. passado .por uma terapia 6tlma, estarla aberto te · para. com a fadiga e sentimentos deste genero.
(
a sua experiencla. A abertura a experiencla e. uma no<;iio cujo signifi- Terapeuta: Voce sente que . pode se permitir estar ~atigado sem ter que
:C cado nao cessa de se enrktuecer e de se precisar em meu pensamento. se- censurar.
( Iniclamos a sua apresenta<;ao afirmando que esta noc;ao se refere· a urn
genero· de atitude que esta no p6lo oposto a atitude de defesa . Nos ca- Cliente: Is to mes:rho. Nao .tenho mais esta impressao de que· nao tenho,
( pitulos anteriores descr~vemos a atltude ·de . c;fefesa como a reii.Qao do de certa forma . .. o di'r elto de estar fatigado - ou aigo assim.
organismo as experlenclas in~mpativeis com a lmagem do eu - fosse Alias, verifico que, realmente, sou incapaz de veneer este can-
( esse desacordo claramente• percebido ou. vagamehte pressentido. A. fim. sac;o; que se trata de algo real, profundo e afinal, agora, co-
( de . que a imagem do eu possa s~r mantida, estas · experiencias sao sim- mec;o a ver que ... nao e vergonhoso nem desprezfvel estar fatigado.
bolizadas de tal modo que o desacordo seja menos pronunciado. E, pols,
( pelo 'processo de deformac;ao ou de intercep<;iio de elementos experien- · Quando penso nisto reconhec;o, uma vez mais, a · i.ilfluen-
cia de meu · pal, o qual adotava exatamente a mesma !ltttude
( ciais, que o indivfduo se protE!ge contra todo perigo de alterac;ao da ima-
para consigo mesmo e para com os outros. Por exemplo, qu~n­
gem que {az de sl mesmo. ·
( do me · aconteci~ nao me sentir bern, . e que. . . nao podia me
Contrariamente a atitude de defesa, a atitude de abertura permi- impedir de o mostrar, .meu pai, ainda que . demonstrasse qi,xe·-
( rer me ajudar, pareda· dizer: "Ora! Mais um aborrecimento!"
tiria a todo excitante, quer ele seja de origem externa, quer interna, se
( lntrodU:zir livremente atraves do organismo sem sofrer deform~ao al.- Ou alguma reac;ao semelhante. ·
gllJIJ.a_ pela a<;ao de mecanismos de prote<;ao, isto e, de defesa . 0 meca- Terapeuta: H-htun. Como se voce tivesse sido, de algum modo, respon-
( nismO de· "subcepQ8.0" - cuja fwi<;ao e prevenir o organismo da . pre- savel por este inconveniente .
sen<;a de · excitantes ameac;adores com re1ac;ao a estrutura do eu - se .·
torna:da, pois, inutil . 0 individuo "viveria" sua reac;lio a todo excitan- Cliente: Exatamente . . AliaS, estou 'convencldo de que meu pai era ·tao
te. Todos os dados da experiencla teriam pleno acesso a conscienCia· (ou per- exigente'com relac;ao a si mesmo, quanto eu o era para comi-
cepQao) - fossem estes dados provenientes da excitac;ao dos nervos sen- go mesmo - pelo · menos, ate recentemente. Por exemplo, no
soriais por configurac;oes de massas, de s:ms ou de cores procedentes verao passado, sofri uma · crise de rins . Percebia · nitldamente
do meio exterior, ou procedentes do meio interior - traQOS de experien- uma especie d~ dilaceramento ou de estalo nas costas. No ini-
cias passadas, ou sensac;oes viscerais. de medo, de prazer, de desgosto cio, eu s~ntia o tempo todo, uma dor realmente aguda. Tiilha
ou qualquer outra modalidade de percepc;ao. consult.ado ·urn medico· que ·afirmava que nao se tratava de na-
( ua ~rave e que aquilo se curaria por si mesmo, desd.e que eu
A fim de dar uma ideia mais concreta desta no<;ao de abertura
(
259
258
-· - - - -- - ··-·-- - - -- - -
=('
abrir, sem reservas, aos dados fornecidos por seu organismo;- torna-se
( evitasse me curvar muito. Pois bern, ja se }lassaram varios me- capaz de se abandonar a fad:ga quando se sente fatigado, de admitir que
ses e eu ainda sin to sempre as mesmas dores. Ora, nii.o ha nis- algo lhe doi quando seu corpo lhe avisa a presenc;a da dor, de sentir o
to, evidentemente, nenhuma falta. 0
isto e . 0 0 • •
afeto que experimenta por .sua filha - tanto como, em outras ocasioes,
( Terapeuta: Voce nii.o pode fazer nada. e capaz de reconhecer que ela o aborrece e e capaz, tambem, de lhe dizer
lsto (como se p~e ver na continua<;ao da entrevista). Em su;ma, seu
( habito de :censurar os dados de sua experi{mcia e de interceptar os da-
Cllente: Justo. ;E uma das ~r.~oes pela qual me sinto, talvez, mais ~ati­
gado do que dev~ri!). .me sentir normalmente e este mal conti- dos inadmissiveis .e substituido por wna capacidade de sentir, de "viv.er''
nuo, esta dor surda e per~?istente e. . . tudo o que se segue. Pecli suas experienclas quaisquer que sejam elas .
.( .uma. nova oonsulta c.o m um -dos medicos do hospttal para que
ele me e~sse e tirasse .uma radiografia ou seja .lli o que for. Esta e, resuntidamente, a noQao de abertura a experH~ncia, esta ati-
( tude de disponibilidad~ que permite. a entrada na consciencia da totali-
( Enfim, suponho que se poderia descrever · minha sensibilidade dade do dado organico. Deve~se, todavia, se prevenir contra urn mal-
como tendo se tornado mais ''exata" ou ... que eu me torQei, como entendido mujto ·dfflmd1do •a respeito desta disponibilidade a consciencia .
( · dizia, mais "objetivo" para com o que eu sinto. E constato uma Ela nao quer dizer, absolutarhenl{e, que ci ihdividuo representa a si rnes-
mudan!(a semelhante com relac;ao ao que eu como, e coisas pa:"' mo, clara e COns(:lentem~nte, todos OS procesSOS que nele se desefiro~am.
(
recidas. E, como acabo de dizer, tudo isto nao consiste em algo - como a :cento'p.ela in!eliz . que tinha consciencia de cada wn de seus
( superficial, mas sim. rn1im. mudan<;a profunda que se manifesta, membros. Ao contrario, &,eus sentimentos e sensaQ6es podem ser ou,:, SJlb· -
igualnl.ente, nas .m1nh~ .·rela<;oeS JCOm mi~ m~her e meus fi- jetivamente. vividos {e expressos no compottamento) sem ser .c<la,n;unen ..
(
lhOS. F.raJ:).calllente, voce nao. ' ffi~ . Tec<>nhect*.ia . Se•1>Udesse me te refletitlos, ou · liicida e objetivamente representados na consciencia.
( ver interiorm«rote. Sabe como e..... penso que nao e~iste. real- Isto e, o irtdividuo poderla sentir seu amor; ·sua dor ou sua contrarie ...
mente nada 111ais rnll.fltVllhoso do que sentir, real e profunda- dade e viver suas atittides subjetivamente . Mas, poderia tambern se a!:ls-
( mente, o.s ~ntlmentos que se tern para com seus fi:i.hos e de se trair desta !)Ubjetividade e constatar a seu proprio respeito: ''Sinto-me
( reconhecer tambem o afelo que sentem por voce. E ... como mal", . "Tenho medo", "Amo", "Estou irritado" . 0 que irru>orta e;n tUdl>
.diria? P.or exemplo, 4ninha mulher e eu temos, ~mbos, muito mais isto, n~o e o grau de consciencia refletida, mas a ausencia de barrelras.
( considera~ par JUdy <sua filha) e temos observado oela uma tie inibi!(oes suscetiveis de dificultar a percepQiio completa daquilo qu.e
mudan!(a semelhante. Sim·. . . Algo de verdadeiramente profunda e organicamente dado . Esta disponibilidade a consciencia constitui pre-
(
aconteceu . cisamente wn excelente indicia da ausencia de barreiras .
(
Terapeuta: Voce tem a impressa<> nitida. de que se tornou capaz de "se
( 2. FUNCION~ENTO EXISTENCI.I\L
escutar melhor", pcir assim dizer? Se seu corpo lhe avisa que
( esta fatigad<'>,'-voce o ~scuta 'e lhe da credito em vez de cri- A seg~mda caracteristica de nossa pessoa hipotetica e que ela vive-
tica-lo; ·· se manifesta uma dor, voce igualmente o escuta; se ria de . modo existencial.
( \'oce sente U!Jlii. real afeiQiio por sua mulher e seus filhos,
voce detxa que estes sentimentos se manifestem e constata Vejamos o que isto quer dizer .
( que e~ta: maneira de reagir provoea mudan<;as tambem no
A pesso~ perfeitamente aberta a sua experiencia e tot~ente !i-
( co~pOJ;tamooto ~0~ demais. ' berta de manobras defensivas viveria cada experienc,ia como fresca e no-
• 0 0
( va. Com efeito, a configura!(ao complexa dos excitantes internos e ex-
Em mipha op!Jtiao, esta passagcm1 ~presenta uma amostra deste ternos que conduzem a toda percepc;ao, qualquer que seja ela, jarnais exis-
( estado acolhedor em tace 'dos dados vivido~ qtie chamo abertura a expe- tiu desta forma anteriormente . Em conseqiiencia, nossa pessoa . hlpote-
riencia. Antetiormerrte este cliente nao .podia ,admitir suas -experien6ia.s tica se daria conta do fato de que: "0 que serei daqui a urn momenta,
(
de fadiga. <le tlor ou de doenQa - pois tudo isto era, a seus olhos, fra- e o que farei, sera a resultante das forQas que agirao nesse momenta,
( queza e infex:f<>l'ldade_. Jgualmente, era incapaz de reconhecer, conscien- e nao poderia ser predito por mim ou por qualquer pessoa"
temente, a ternura qu~ .s entia pelos seus -pols, tais experlencias eram pa-
( Nao e raro encontrar clientes que, a seu modo, expressam este sen-
. ra ele, puro sent!:n.entalismo e, incompatjveis, portan.to, com a fachada
de s·olt~ez que acreditavb. dever adotar. No en tanto, no estaglo do pro- timento existencial. Eis, por exemplo, o que dizia iun cliente ao final de
(
sua terapia :
cesso ter~peutlc.o . ao q.:ual esta passagem foi tofnada, ele comeQa a se
(
( 260 . 261
(
.:
7( ' -----
(
(
(
"Estou perfeitamente consciente de que o trabalho de reorga- organismo e, assim, se conduzir de modo 6tlmo em cada situac;ao dada .
. niza~B.o e · de integra~ao de nilm mesmo nao termlnou . . . :1!! urn Seu comportamento estaria sempre em harmonia com sua organizac;ao
processo nao terminado e. . . talvez mesmo interminavel. Is to interns imediata e, em cons(lqiiencia, estaiia adaptado ao maximo ao con-
me deixa urn pouco perplexo. . . rna~ nao e desencorajador . ·Ha junto de. suas necessldades presentes Em suma, esta pessoa constataria
· mesmo al~urna coisa estimu~ante a respeito ·de uma tal cons- que seu organismo representa, em qualquer ocaslao, urn gula. competente
tat~ii.o - ainda que tambem alguma Misa de . . . perturba-. e seguro. ·
dora . :1!! tao · estimulante se· sentir ativamente empenhado e ter
a lmpressao de avan~ar- ainda que nao se suiba· sempre,' ~xa­ Esta B.firma~;ao requer algumas palavras de explica~ao . Como esta
tamente, para onde se camlnha" . pessoa estaria· perfeitamente aberta a sua experiencia, ela terla acesso a
Procurando descrever. a "fluidez" que .caracteriza este modo e:Xts- todOS OS dados da sitUa!;aO: as exigencias Socials, SUas pr6pria5 necessi-
tencial de funcionamento se poderia dizer que a imagem do eu emergtria .dades - complexas ·e, as vezes,. aritagOnicas - suas lembranc;;as de situa-
- constantemente mutavel - da experi~ncia (contrariamet).te ao modo ~Oes slmilares, sua percep!;ao do carater Unico e novo da sltuac;;ao, etc .
habitual segundo 0 qual a experi~ncia e desfigurada ou truncatia a fim A Gestalt total de t:ada situac;;ao seria, inegavelmente, extremamente com-
de a · tornar compatfvel com a imagem do eu> . 0 lndividuo em v:ez de plexa. Esta pessoa, no entanto, pocieria permltlr a seu organismo total
se enipenhar. em controlar suas experienctas, se totnaria parte inerente e · - com a participa!;aO de sua_percep!;ao consciente ·- de se abrir a cada
consciente de urn processo constante de ·experiencia organfsmica completa . estimulo, a cad a necessidade e a cada exlgencia . Poderia avaliar a ln~n­
Em urna conferencia sobre . urn tema conexo, tentel descrever este sidade 'e imp.ortancla . de c~da. urn de~tes fatores e, com base em todos
modo de funcionamento tal como e sentido pessoalmente por mim: "Esta estes · dados, poderia determ1nar a llinha ·de> conduta mais 'Suscetivel de
experiencla, e os enslnamentos que nela descobri ,ate agora, me lan~a­ · satisfazer todas ·as sua8 necessidades na situac;;ao dada . · ·
ra.m n um .caminho ao mesmo tempo vivificante e, em certos momentos,
Este processo de estimac;;ao ou de avalia~ao poderla ser comparado
quase assustador . 0 que se experimenta, e urna lmpressao de ser .cons-
ao funcionamento de urn· gigantesco calculador ·eletronico. Suponhamos
tantemente levado para frell:t~. numa dire~ao que parece ser a do pro-
-que todas as forc;;as, diversas e divergentes, provenientes das . impress5es
gresso - ainda que p ara fins que percebo apena.s distintamente; pelo me-
sensorlais, das 'lembranc;;as, · das :experienclas passadas, do estado fisiol6-
nos no momento da experiencia em si. Em outras palavras, experimento
gico imediato desta pessoa ·sejam convertidas em dados que se prestem
urna especie de abandono a conu>l~xidade mutavel da corrente existenclal,
acompanhado da ocasiao constante de tentar apreender tal complexlda-
a computac;;ao · eletrOnica . 0 calculador tratarla rapidamente esta rpulti-
( de em movimento" (88). diio de dados e fomeceria; quase Jnstantaoeamente, a formula de compor-
tamento que represe~tasse o vetor mais economico para a satislac;;ao da5
( Esta vida no momento presente esta, em · oposi~ao a rlgidez psico- necessidades existentes na situa¢.io dada . As escolhas e decisoes que guia-
16gica, a organiza~ao interna estrelta e "f~chada", a viola~ao da expe- riam a pessoa perfeitamente -aberta a sua - experiencia seriam compara- ·
( riencia em favor das necessidades de uma estrutura estranha a ela tnes- veis a estas . complexas· computa!;OeS .
( ma . Representa urn maximo de adaptabllidade, ·urna apreen'sao .constan-
te pelo eu da estrutura inerente a experiencia, uma organiza~a.O flexfvel ' Na pr!itica, contudo, sabemos que os resultados ~e avaliac;;.~ deste
( e mutavel do eu e da persoriaUdade . .. · tipo sao muitas vezes plenos de erros . As causas destes erros de calculo
( Aquele que.vivesse desta forma exlstenclal se encontraria mun con- sao devidas, seja a inclusao de dados niio existenciais; seja a ausencia
tinuo estado . de fluxo . Os unicos elementos constantes de. sua personall- de dados requeridos . Assj.rn, cada ·vez _que recorda~oes· ou automatismos
( dade e . de seu eu seriam as capacidades . e limites fisiol6gicos do orga- · se introduzissem no ·calculo como se ~rtencessem a situ~ao exiStendal,
( nismo .e as · necessidades organfsmicas - uns, continuos, os outros 1nter- hie et nunc - em vez de serem tratados como recorda~oes e habi!,os -
mitentes - de sobrevivencia,' de alimenta~ao. de bem-estar, de afeto, de disto resulbiriam erros de calculo e, consequentemente, de comportamen-
( rela~oes sexuals, etc . Os . tra~os mais oonstantes da personalidade .consis- to Pela mesma forma, quando certos dados ameac;;adores sao intercepta-
( tiriam precisamente em urn estado de ·abertura a· experiencia e em urn dos a .consciencia, e portanto afastados da opera~ao de . avaliac;;ao ou ad-
esfor~o flexivel e equilibrado para satisfazer as riecessidades. presentes nas mitidos sob urna forma viciada - a solu~ao nao podera ser correta,
condiQOes dadas. . lsto e, o comportamento nao podera ser plenamente adequado . No caso de
nossa pessoa hipotetlca, no entanto, o organismo seria absolutamente dig-
(
3. UM ORGANISMO DIGNO DE OONFIAN~ no de confian!;a, pois todos os dados experimentados por ele estariam
Final.":lcnte, ·a pcssoa em questao podcria confiar nos dados de scu disponiveis a consciencia, sem eliminac;;ao nem deformac;ao. Como con-
seqUencia, o comportame~to desta pessoa corresponderia, na medlda do
262 263
,.
( t .
(
mente consciente e racional . Durante o periodo de incubaQao de uma
( possivel, a satisfafOBO de todas . as suas necessidades, tanto pessoals quan- ideia, o. sabio se deixa. guiar pela estrutura total de sua experiencia rela-
to socials. tiva ao oujeto de. seu estudo: "Durante todos estes anos", disse Einstein,
( "tinha a sensac;;ao de seguir urna direQii:O, de estar indo direto para algu-
I, i Isto nao significa, no entanto1 que o organismo - enquanto fonte ma coisa de concreto. 1: multo diffcil, natura1me11te, encontrar pal&.vras
de dados ~ seria infalivel. Com efeito, os resultados deste proce::.so de para exprimlr este g~nero de sentimento; mas, ele existia, e temos ctue dis-
avaliaQiiO, de comparaQiio e de compromisso, representariam a melhor li- tingui:.lo claramente das reflexoes ulteriores concernentes as bases raciO-
nha de conduta , possivel, . considerando-se OS dadOS existentes. Entretanto, nais da soluc;;ao encontra.da". (116)
certos dad_os poderiam fa:ltar, por niio terem sidd registrados pelo organis-
( mo. Contudo, da:da a at.i tude abetta a experiencia, todo erro e todo ¢om- 1 De minha parte, julgo que este tipo de processo e caracterlstico
·portarnEmto ifiadequado seriam prontamente assinalados e cotrlgiciOJ}. Isto dd functonamento da pessoa que tirou um proveito real da experiencia
I(
I porque os .resultados dos calculos serlam, de algum modo, suQmetidos a terap!utica.
( tmi processo continuo de . verifica~ao. ja que seriam oonsta,ntemente con-
trolad.ps no . plano de. aQiio. 4. A P'ESSOA QUE FUNCIONA PLENAMENTE
Esta analcJgia, em termo de calculador eletrCirL.co, deSagrad:ira; tal,..
Tentaremos, agora, fornecer urn quadro mats unificado destas tr~s
.ve.z, a alguns. Por is to tentarei traduzi-la ·. em term~ mai.S human:os .
caracter!Sticas .
"1 (
I( . 0 leitor devera se lembrar do cliente, de que ha pouco falamos, que
Aquele que ttvesse feito a experi~ncia teoricamente 6tima de uma
( se· tornara capaz de exprimir, naq somente sentimentos. de afeto, mas tam-
bern sentim~n'tos de contrariedade que experimentava, em algun~ momen- terapia do ttpo "nao-diretivo", poderla ser descrito como funcionando ple-
tos, para. com su~ filha. Este cliente se tornara, alem disto, capaz de ex- namente. Seria capaz de experimentar e de acettar plenamente todas as
prlmir seus :sentimentos de uma forma que 0 libertava de sua tensiio e suaf! experl~ncla.s - pensamentos, J;entimentos, reaQoes. Esforqando-se
que, ao. mesmo tempo, permttia a crianc;a expressar seus pr6prios senti- por apreender, tao exata.mente quanto possfvel, a situaqao existenclal inter-
mentoo. Vejamos como ele descreve a diferenc;a que ha entre o fato de na e externa, recorreria a todo o seu equipamento organfsmico . Utilizaria
comwtfeat urn · sentimento qtialquer - de irritaQiio, de c6ntratledade, etc . conscientemente todos os dados que seu sistema nervoso fosse c;apaz de
- a uma 'determinada pessoa e .o ato de lhe censurar ~ste sentl,mento ou fornecer - sem delxar de reconhecer que ha, as vezes, mats sabedbria
de torna-la responsavel por ele: em se deixa.r gular pelos dados do organismo total do que unicamente
pelos da con5ciencia . Seria capaz · de se confiar a seu orga.nismo, fun-
Cliente: Tenho a impressao de que nao a fac;o responsavel pe- cionando .e m toda a sua <;omplexidade, e de se deixar guiar entre numerosas
Ia minha contrariedade. E penso, alias, que isto- se ve no meu alterna.tivas, para o oomporta.mento que assegura.sse a satisfa(;ao mais
rosto . Por isto, imagino que ela (a crianQa) se atz: "Vejo que completa e mais autentica do conjunto das necessidades existentes em
papal esta aborrecido. E no entanto, sei que nao preciso ter urn momento determinado. Confiarla em si mesmo, nao porque fosse
.medo". Pols ela nao parece, absolutamente, esta.r assustada. infalivel, mas, porque - estando plenamente aberto as conseqii~ncias de
cada. uma destas decisOes - esta em condic;oes de corrlgir as que ·se re~
Este ·exemplo indica que o cliente, agora mais aberto 11. sua expe- velam inadequadas.
riep.cia, escol~eu 1 com uma habilitlade e urn tato admiraveis, uma. linha Esta pessoa ~eria, pols, capaz de . enfrentar todos os seus ·-sentimen-
de condtita que satisfaz . ao mesmo tempo sua nccessidade de reduzir sua
tos e nao se sentiria amea(;ada por. qualquer deles. Seria o · seu pr6prlo
tensao e~{)(;ional e sua necessidade de se comportar coi:no · bom pal. Ele
l j
juiz: ela pr6pria examinaria to-dos os dados e · toda.s as provas - mas,
o conseguiu, simplesmente segulndo as diretivas que eman~ da con.fi-
estaria aberta a todas as for..tes de dados sem excluir quaiquer delas.
I gura(;ao de sua experiertcia organismica do momentQ presente . Obedece
Estaria totalmente comprometida no processo pelo qual se torna, cada vez
aquilo que se chama, c<1mum~nte, 0 "sentimento" do mqmeqto, isto e, a
\\
mais, ela mesma. Decobrirla, a.ssim, ter · tendet~cias sociais construtivas
estrutura experier.cial global.
e realistas. Existiria totalmente no memento presente e descobriria que
II Incident~lmente, notemos que - num plano intelectual incompara- .este modo de vida se revela, com o tempo, o mais satisfat6rio . Em suma,
velmente mais elevad(J - e possivel acreditar . que e t> mesmo tlpo de ela representaria urn orga.nismo que funciona plenamente, e, graqas a car-
11 1
( avalia~ao e. de se~eQao organiSmica oomplexa que determtna as conclusoes rente de consciencia que atravessaria li....-remente sua experiencia, represen-
, 111 de urn sabio como Einstein, e que mantem seu pensamento numa direQao t.arili, iguaimeni.e, wna ~a que .runc·h:..;:.• plen<Wwnte.
:( dada, bern antes que ele possa justificar r.ua posigao de fom1a perfeita-
ii i 265
I 1I ?.M
'
---------------------------------------------------------------------. -- --- ----- .,
(
quest6es delicadas referentes a relac;ao existente entre os resultados da
(
terapia e os dados de testes projetivos como o Rorschach e o T.A .T. No
\ U - Corolarios desta concep~ao contexto de varios de nossos programas de pesquisa, estes testes fora m
aplicados a urn certo ntimero de clientes - a primeira vez antes de sua
( Esta e minha concepc;lio, ainda que provis6ria, do termino hipote- terapla, a segunda imediatamente ap6s, e em certo:s casos, uma terceira
tico da terapia tal como aqui a formula; em outras palavras, e assim vez, varios meses mais tarde (folow-up-testing). A amilise destes testes
que imagino o fim ultimo para o qual nossos clieJ?.tes se encaminham foi confiada, por urn lado, a psicodiagnosticadores pertencentes a escolas di-
sem, contudo, jamais atingi-lo plenamente versas. uns multo competentes (1), outros relativamente · menos, os quais,
Como ja indiquei, esta concepc;lio nlio deixa de se enriquecer em tanto uns como outros, quase nao se interessavam pelo campo da tera-
meu pensamento . Isto se explica, sem dtivida, em primeiro lugar, pelo pia . Por outro lado, estes testes foram analisados por terapeutas compe-
fato de que esta concepc;lio tern sua origem no meu trabalho clinico e tentes, uns de orientac;iio freudiana. outros de orienta<;ao "niio-dil'let va"
esta de acordo com o que ali observo constantemente. Em segundo Iugar, Urn certo ntimero destes examinadores-terapeutas cootentava-se em for-
porque acredito nela discernir importantes corolarios de ordem clinica, mular urn diagn6stico clinico global de cada caso; outros analisavam os
{ cientffica e filos6fica . Vejamos alguns destes corolarios, assim como eles testes segundo criterios objetivos, baseados em hip6teses caracteristicas
se apresentaM para mira de nossa terapia, enquanto que outros, ainda, analisavam os testes segun-
(
do criterios da teoria freudiana. Nenhum examinador conhecia diretamente
( 1. _ ESTA CONCEP(:AO EXPLICA A EXPERI£NCIA CLtNICA os clientes em causa, nem sua situac;ao psicoterapeutica.
( Inicialmente, esta concepc;ao parece oferecer uma base aos fenome- Ora, os resultados dessas an.Wlises deixaram-~os confusos~ pois, ainda
nos qce se observam nos casos de terapia bern sucedida. Os capitulos que comportando dados identicos, se revelaram, no entanto, contnidit6-
( anteriores nos mostravam que, nos casos bern sucedidos, o cliente tende rios em certos casos. Por exemplo, os Rorschach pre-terapeuticos e p6s-
I
a situar no eu a func;lio de avaliac;_lio da experiencia. Esta observac;lio terapeuticos de aez clientes foram avaliados por urn diagnosticador com-
\
l.
esta de acordo com a noc;ao do organismo dign.o de confianc;a. Vimos, petente que declarou nao identificar neles prova alguma de mudanc;a po-
igualrnente, que este cliente experimenta uma satisfac;ao particular em ser sitiva. Ao contrario, outro examinador, terapeuta e diagnosticador ao mes-
e em se tornar ele mesmo - satisfac;ao que acompanha o pleno funcio- mo tempo, analisou os mesmos dados e reconheceu neles indicac;6es mui-
: ( namento . Alem disto, vimos que este cliente e capa.z de e:lq)erimentar uma to nitidas de progresso. Poderia citar varios casos semelhantes.
( gama muito mats extensa de sentimentos, inclusive de sentimentos que
eram anteriormente geradores de an·gtistia . Finalmente, constatamos que Contudo, do ponto de vista da concepc;ao que acabo de enunciar,
( estes novos sentimentos chegam a se integrar vantajosamente numa es- estas contradic;oes nao parecem inexplicaveis . 0 que eu proponho - e que
trutura de personalidade mais flexivel. Em surna, a concepc;ao do fun- -nao e, evidentemente, mais que urn esboc;o de explicac;ao -- e que tais
(
clonamento 6timo parece suficientemente ampla para englobar os resul- contradic;;6es sao devidas ao carater "fluido" da personalidade que se be-
< tados da terapia tais como os conhecemos, e temos tentado descreve-los nefieiou apreciavelmente de urna terapia do tipo em questiio. Em termos
nesta obra . mais precisos: os resultados dos testes revelam certas caracteristicas que
(
o examinador de orientac;;ao terapeutica considera como provas de pro-
2. . PRESTA-SE A HIPOTESES OPERACIONAIS
\ gresso, enquanto que o examinador de orienta<;lio diagnostica os conside-
Ainda que minha presente definic;ao do funcionamento 6timo seja ra como sinais de desorganizac;ao, de uma especie de caos.
(
especulativa, ela me parece suscetivel de ser traduzida em termo de hi-
pQteses rigorosas e operacionais, Alem disso, parece ser possivel acredi- Poderia ocorrer, pois, que os dados que parec;am ao terapeuta indica-
tar que estas hip6teses seriam de ordem universal, isto e, iridependentes dOtes · de urn . estado de abertun1 a experiencia, de adaptabilidade e de
de fatores do meio. vida existencial, seja.ni precisamente aqueles que pare<;am ao diagnosti-
cador - que opera a partir de normas de popula<;ao - reveladores de
Sem dtivida, a verificac;ao e a mensurac;ao de noc;oes como as que desvio da media, de singularidade. 0 que o cliente experimenta como
acabo de indicar nao sao faceis. Entretanto como I'.ossas pesquisas neste urn real enriquecimento de sua vida e que o terapeuta, ta.::nb&n, reconhe-
campo tern se tornado cada vez mais refinadas, e licito acreditar que estes
objetivos poderao ser atingidos. De fato, urna tentativa deste genero aca-
ba de ser empreendida com relac;ao a noc;ao de abertura a experiencia.
( 1) 0 termo "compet~ncia" 6 entendido aqui sobretudo em termos de a nos de pn!tica profis
3.
.
EXPLICA CERTAS CONTRADI(:OES DESCONCERTANTES sional.
No decorrer dos tiltimos ahos nos deparamos varias vezes com 2ti7
266 ·
c .,
(
(
( forma identica em urn momenta anterior. Evidencia-se, alem disso, que
a reat;ao do lndividuo a este conjunto de excitantes representaria um gida . Por exemplo, se, por uma razao qualquer um individuo adquiriu
( comportamento realista, baseado em uma apreensao exata de todos os da- uma atitude de hostilidade para com seus superiores, e se f;: ideia de
dos presentes . De tudo isto resulta que esta pessoa saberia de antemao que "Todo superior e urn inimigo" faz parte de sua concep<;ao a priori
( que reagiria de · maneira adequada a sltuacao - ainda que nao soubesse, das rela<;oes com seus superiores, e evidente que, nessas condi<;6es, seu
( in concreto, qual seria sua rea<;ao. Por exemplo, se esta pessoa se en- comportamento para com qualquer superior torna-se previsivel. Com efei-
contra ante uma situacao interpessoal nova, envolvendo um· superior, nao to, a presenc;a de semelhante ideia age de modo a desfigurar ou a elimi-
( podera prever quais serao, exatamente, suas reat;6es em face deste . Estas nar. toda a perce~ao de fatos contrarios a esta concepcao da autoridade
reacoes dependerao do comportamento deste superior e dos dados -cia Por isto, pode-se afirmar que, se uma nova situacao deve coloca-lo em
experiencia intema - desejos, tens6es, impulsos, etc . - que sentira em relac;ao com · um superior, seu comportamento em face deste, 'sera hostil.
cada momenta da lnterat;ao . Ela estara, no entanto, absolutamente segu- Por outro Iado, quanta mais a terapia, ou qualquer outra experiencia com
ra de que reagira de maneira perfeitamente adequada, ainda que nao efeitos terapeuticos, aumente a atitude de abertura a experiencia, mais
possa prever qual sera sua reat;ao. Este tipo de serithriento e facilmente o ·individuo sera receptivo aos dados Uriicos de toda a. situacao e menos
encontrado em nossos clientes e me parece de consideravel importancia. previsivel sera seu comportaniento.
0 que acabo de expor com relacao ao cliente se aplicaria igualmen- Uma certa confirma~ao destes pontos de vista parece ser encontra-
( te ao experimentador empenhado no estudo do comportamento deste tipo da num programa de ,Pesquisas da Universidade de Michigan (56) sabre
de pessoas. Ele verificaria que o comportamento do indivfciuo e peri'-:Jita- um grupo de estudantes de psicologia clinica, e visando predizer 0 grau
( mente ordenado e poderia a posteriori, estabelecer certas leis (p6s-dic- de sua adaptac;ao ao exercicio de sua futura profissao. Estes resultados
Qiio) . Mas seria incapaz de prever a atuacao destas leis numa situa<;ao indicam que o grau de exatidao das prediQ6es relativo aos individuos que
( dada (predit;ao). E isto, pelas seguintes raz6es. Se o comportamento de se submetiam a terapla durante a investiga~ao era nitidamente inferior
l nosso sujeito hipotetico e determinado por uma percept;ao exata de to- ao grau de exatidao para o total do grupo. Em outras palavras, ainda que
dos os dados operativos em um momento preciso - e unicamente por es_te~ individuos tenham provavelmente se tornado melhores psic6logos
( estes dados - os elementos necessarios a predic;ao estao presentes. Bas- chmcos ap6s sua terapia, o carater flexivel e m6vel de sua personalida-
( taria entao dispor de instrumentos. necessarios a mensuraQao de todos d~ tinha tornado mais dificil a determinacao de seu grau. de adaptacao.
os excitantes em questao e . de um ·graride computador eletronico para cal- Tmham-se convertido em seres menos rigorosamente estruturados, menos
( cular o vetor de comportamento mais econ5niico na ,situaQao dada. Cori- determinados por automatismo
tudo, antes que este calculo pudesse ter sido concluido, nosso ·sujeito ja
( ' teria efetuado esta complexa opera<;ao no interior de seu organismo, em 0 que ficou dito acima se relaciona com a tese comumente admi-·
( outras palavras, ja teria reagido. Supondo-se que a ciencia possa um dia tida segundo a qual o fim do ultimo da. Psicologia, enquanto ciencia, e pre
recolher efetivamente todos os dados em questao com a necessaria exa- dizer e controlar o comportamento humano. Esta tese me parece com-
( tidao, ela seria, pois, teoricamente, capaz de analisa-Ios e de chcgar ·as portar implicacoes filos6ficas perturbadoras . Pessoalmente, acredito que,
( mesmas conclusoes que o organismo, e .portanto de determinar, a pos- a medida que o indivfduo se aproxima do funcionamento 6timo seu compor-
teriori, a marcha e a direQao ·d o comportamento. Mas e muito pouco .pro- tamento se torna cada vez menos previsivel - ainda que seja sempre deter-
( vavel que possa ~lgum dia chegar a efetuar tudo isto instantane!>mente minado e ordenado. Igualmente, torna-se cada vez mals dificil controla-lo
( - o que seria, no entanto, necessaria se ela tivesse que predizer o com... (exteriormente) - ainda que seja sempre racional e adequado. Conclm-se,
portamento. pois, destes pontos de vista, que a ciencia psicoi6gica, em seu ni:vel mais
( elevado, seria uma questao de compreensao, nao wna questao de predivao
A fim de tornar mais preciso este argumento, eu me servirei de
( certas opinioes tomadas a minha colega, Dra. Hedda Bolgar, e que am- De um modo geral, esta concepcao encontra-se confirmada pe!m.
pliarel um pouco. Por exemplo,_ parece correto afirmar que e o compor- testemunhos de nossos clientes . Estes exprimem frequentemente sua con ~
(
tamento da pessoa mal adar.~ada que mais freqiientemente se presta a vicc;ao rle que se conduzirao de uma maneira adequada, racional e cons·
( predit;6es especificas. Tambem e provavel que todo o crescimento do ha- trutiva em qualquer situac;ao que se lhes depare - ainda que nfw sai-
bito de abertura a experiencia e do modo de vida existencial provoque bam de antemao como irao agir. Esta concepcao se ap6ia, igualmente. em
uma certa diminuicao da previ i.bilidade do ccmportamento. As rea<;oes nossa experiencia de terapeuta. Estabelecemos uma rclac;ao que pcnni-
( n da pessoa mal adaptada -sao freqiientemente previsfveis, preclsamente por- tira ao cliente se descobrir, se atualizar, e aprender a funcionar mai s
qut' sao determinadas por uma estrutura (interna, de personalidade) ··ri- livremente. Nao poderiamos, no entanto, prever, de urn momenta p:tra
( ;
outro, o que dira () cUente, qUal sera a fase seguinte,- au qual soluc;ao ele
I 270
~ ·;, 1.
271
:
r--:zr··--
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(
(
( adotarl1. Sabemos que podemos confiar na dlrec;ao geral do processo e rece lhe prometer a mais profunda satisfac;ao de su::!.s necessidades mals
na qualidade da soluc;ao ___, mas nao podemos prever de forma concreta fundamentals na situac;ao dada. De urn outro ponto de vista, no entan-
(
qual' s~ra esta soluc;ao. to, pOde-se afirmar · que .este comportamento e determinado pbr todos OS
( fatores da situac;ao existencial.
( '7, EXPLICA AS ~ELA(:OES ENTRE A LIBERDADE E 0 DETERMINISMO
Ilustremos o que se..disse por meio de urn contraste, examinando o
( AvanQa,ildo cada vez mais em nossa exposlc;ao, gostarla de ressaltat caso da pessoa cujo comportamento esta determin!ldo por mecanismo de
uma ultima aplic~ao de ordem fllos6fica que me Parece importante. Ha defesa . Esta pessoa determina ou escolhe uma certa linha de conduta,
( multo que me intriga o paradoxo V'lvo que· se encontra em pslco~rapla mas se revela incapa~ de a pOr em pratlca. A escolha desta pessoa e,
entre a Uberdade e o determinismo. Por exemplo, ·uma das experi~nclas sem duvlda, igualmente determina~a ,Pelos fatores da situac;ao existencial;
(
subjetivas mais impresstonante!; que se sente, comq terapeuta, no decor- contudo, entre estes fatores se encontram seus mecanismos de defesa e
rer do processo terapeutico, e a constatac;iio de que o cliente_ possui uma estes atuam de maneira a lnterceptar ou !'1- deformar certos fatores da
.real capacldade de escolha. Q cliente se sente livre para se tornar ele situac;ao existencial. Em conseqtiencia, seu comportamento deixara neces-
( sariamente de a satlsfazer e, deste modo, se afastara da linha de condu-
mesmo ou para se disshnular atras de uma ml1scara; para avanc;ar ou
( para 1·etroceder, para se comportar de. manelra construtlva ou destrutiva. ta que ela se tinha proposto. Em outras palavras, o c;omportamento d.es-
Sente-se literalmente livre · de escolher e1;1tre . a vida · e a morte, . no senti_. ta pessoa e determinado, sem dlivida, mas ela e incapaz de fazer esco-
( do psicol6gico- e, as vezes, ffsico- destes termos. Por outro lado; quan- lhas adequadas. Ao contrario, a pessoa que funciona plenamente esta em
( do 0 terapeuta introduz metOd.o·s de investigac;ao psicol6gica no campo condic;oes, niio somente de experimen~ar mas tambem de utilizar a mais
terapeutlco, deve, como qualquer outro pesquisador, pressupor urn deter- completa Uberdade quando escolhe espontanea, livre e voluntariamente
( minismo estrfto. Isto . significa .que deve consiqerar . cada pensamento &quito que, sob urn outro ponto de vista, e absotutamente determinado .
( do cltente, cada Wl). de seus sentim(mtos e ·de suas ac;oes como .determi-
c.ados por aquilo que Qs precedia . Sem duvida, o problema que procuro Estou perfeitamente ciente de que o Ieitor de forma<;ao filos6fica
( esclarecer nao difere, fundamEmtalmente, daquilo que se reconhece nas nada encontrani. de novo nesta argumentac;ao . Contudo, o que e interes-
sante com relac;ao a estas reflexoes, e que suas raizes mergulham num
(
outras ciencias sociais , 0 que o distingue, no entanto, no quadro da psi:-
coterapia, e que nela ele se . coloca de .maneira mais ~guda ..

.,,,. campo de observac;ao pouco comum, em especial da analise de uma no-


c;ao que decorre de .uma teo ria da personalidade . Todavia, no que se re-
(
Num artigo publicado pl1 alguns anos, assinafei a prop6sito deste di- fere a minha pessoa, estas reflexoes me fornecem uma certa explicac;iio
( lema que, no campo da terapla, ·"a orde:m subjetiva, interior, pessoal e da experiencia, subjetivamente sentida, da mais completa liberdade de es-
suprema; a telac;iio terapeutica e algo que se vive - nao algo · que se ob- colha - expP,riencia de importancia suprema para a terapia - e ao mes-
( mo tempo propoe. uma explicac;ao do determinismo completo que e o fun-
scrva; e 0 qtie nela se reVela e uma pessoa - nao urn objeto; e um ser
( qne sente, que pensa, que escolhe, nao como ·urn au tOmato, mas como · damento de toda a ciencia . Por isto esta concep<;ao me permite, como
urn ser hwuano . Ora, e. aqui ·prec1samente que 11os. defrontamos com o terapeuta, participar da experiencia de .e scolha pura, vivida pelo cliente;
( ponto Ultimo da investigac;ao ciehtifica - a e1q>lorac;ao · objetiva dos as- e me permite, igualmente, coma pesquisador, estudar esta escolha como
( peCtos mais subjetivos da . vida; . a reduc;ao a ' hip6teses e, aflrial, a ieore- urn fenOmeno absolutamente determinado .
mas, de tudo o que · constltui o rilUndo mats pessoal, · mats completainen_-
( te. inferior .e mais estrlt~ente privado'". '~91> · . · ·
(
Gostaria d~ desta~ar~ a prop6slto de tudo isto, que nao. tenho .a in- III - CONCLUSAO
( genuidade de acreditar que, nestas poucas linhas, tenha · acabado de ·re-
solver 0 dilema das relac;oes entre 0 . subjetlvo e 0 objetivo, ent,e a llber- Este e, pois, o meu modelo te6rico da personalidade tal como ela
( da.cie e o deterlnintsmo. Contudo, parece-me que qu8.ndo se consider~·- tais se depreende de nossa psicoterapia . Este modelo e o de uma. pessoa que
( reliiQ6es do ponto de vista do funcionamento 6timo, estas apa"recem nu- exerce livremente a plenitude das potencialidades de seu organlsmo; de uma
ma nova perspect1va. Cotn efeito, na terapia 6tirp.a, o cliente tem a mats pie- pessoa que se comporta levando em conta a realidade que busca a ma-
( na e a mais . vi1Uda experiencia .de uma liberdade completa e absoluta. Deter- nutenc;iio e a valorizac;ao de si mesma; que manifesta uma conduta so-
mina, 1st6 e, escolhe a linha de .conduta que represents para ele o vetor ma:s cial e adaptativa; um espirito criador cujos atos nao se deixam prever
"ec on~mico" de comportamento, tendo em conta todos os excitantes exter- facilmente; que nao cessa de evoluir e de se desenvolver; que se desco-
i.KHi e intemoa. em causa . Escol:h~ est& linha de conduta. pulqUe .e:~t..t. .;.... bre a si mesma assim como a novidade de cada momenta . Esta e a ima-
'
272 273
11
(
' (
' (
gem ideal do tipo de personalidade que se desenvolve a partir das con-
( dit,;:5es de liberdade e de seguranc;a oferecidas pela terapia que temos pro-
curado descrever tlesta obra .
(
Para terminar, gostaria de observar que o fim ultimo deste capi-
( tulo nao era convencer o lei tor da exatidao de minhas concepc;5es. 0 que
me Ievou a escreve-lo, foi meu desejo de clarificar, a medida que os for-
mulava, os .Pensamentos que, ja ha muito tempo, se agitavam em mlm.
( Estou, por outro !ado, certo de que, se empreendesse a mesma tareflcl da-
qui a cinco anos, por exemplo, estas quest5es tomariam uma· forma di-
(
fer:ente . Sob este aspecto, a finalidade deste capitulo e a mesma que a
de toda a obra, ou seja, a apresentac;ii.o da forma atual, presente, de um
ponto de vista vivo e mutavel relativo a psicoterapia .- ponto de vista ·
; ~ partilhado por um mlmero cada vez maior de cliLicos, de te6ricos e de
: ( pesqutsadores. Esfon;amo-nos por comunicar estas opini5es na esperan-
c;a de que o lei tor possa tirar ·delas algum proveito com relac;ii.o a seu tra-
( balho e sua vida pessoal - se, bem entendido, tais · opini5es lhe pare- BIBUOGRAFIA
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Atuallzac;ao do eu, 160, 169
(
Autentlcidade, 75, 106-108; 172, 183, 220
( Autocontrole (grupo de -t, 242, 245
Autodeterminaqiio, 90, 93
(
Avaliac;iio, 177-178, 202
( condicional, 177, 199, 200, 201
organismica, 189, 196, 198, 199, 201, 206, 211, 262
( Axline, V., 129, 224
(
Butler, J., 191
Calor, 96, 97-100, 175
Capacidade individual, 39
Carr, A., 190
282
28.'l
(
Psiquiatria, 29
(
Koehler.. w., 29 Quinn, R. D ., 185
(
Laisser-faire , 33 Q-Tecnica, 167, 209, 229
Lazarus. R. S., 164
; Lecky, P., 161 Radke, H . , 223
~
~vy. s: 191"
.r:, Raimy, V., 166, 188, 191
c Ltberdade experlenclal, 48-50, 52, M, 66 Raskin, N., 188, 191, 227, 232
( Llmiar de fru.stra~o-•. 231 Reflexo psicogalvanico, 235, 236
Llm!tes <da expressio>, 50- Reintegrac;ao, 206, 207
( Lin. 93 Rela<;iio (qualidade e caracteristicas), 120, 243, 256-257
LlftdDer. R~. 96 Relac;oes funcionais, 192
C UpldD, s .. 185,188. Rclac;oes humanas, 154
Respeito, 134-136, 175
C Resposta-refl~xo, 238, 239
Malone, T: P., 113
C Maslow, A., 159, 268 Resposta (tipo de - ), 238, 239
C Dlaturidade, 1'73-,. 190, 212 Rlgidez perceptual, 171, 202
emoclonal, 98; 110-113 P.oethlisberger, F. J . , 223
( McCleary, R. A., 164. Rogers, Carl R. (notas blognifk:as), 24, 25, 29, 144-148
1\fttcheJl, F. H., 188, 190 Rogers, Natalie, 191
c Mosak, H., 190 Rorschach, 190 •
( Mueneh, G., 190 Rosen, J., 118
( Rudlkoff, 191
Nao-dire~ao, 23, 24, 27. 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37
( Natureza humana, 192 Sehwebel, M . , 222
Necessidade de considerac;ao positiva 175, 198, 229 Seeman, J., 185, 188, .227
I( Necesstdade de considerac;eo positiv.a de si, 177 Seguranc;a terapeutica, 77-79
jC Nervoso autOnomo (funcionamento - ) , 234 ·sentimento, 186
Neurose Cpersonalidade, conrlito neur6tico> .. 50, 77, 78 Sheerer, E., 188, 191
j( Nonnal (-n~ao do - }, G8 Simbolizar (simbolizac;iio, experiencia simbolizada), 62, 63, 162, 163, 186, 197
!( Nunnally,. J. c., 168 Sinceridade (cf. autenticidadel, 9'1, 1{)6
Snyder, W., 188, ·231
,( O'Connor, J. P .• 191 Snygg, D., 161
c Organismo, 41, 42, 43, 160, 161, 164, 167, 170, 171, 173, 174, 178 Sddio-pentatol, 205
Spence. K., 29
( ·standal, s., 164, 174, 175, 176, 177, 198
Paciente, (no~o cl,e - l, 26
( Percepc;iio d!scriminativa, 1'13 Stephenson, W ., 16'1
Percepc;ao seletiva, 202 Stock, D., 188, 191
( Percepc;ao (cf. simboliza~iio>, 62, 163 Strom, K., 188
( Percepc;iio subliminar, 63, 108, 170, 174 Sublirrilnar (percepc;io - ), 63, 108, 170, 1'11
Pessoa--criterio, 46, 65, 177, 199, 206, 211 SUbce~io, -164, 170, 1'13, 202, 204, 208
c Ponto de referenda externo, 179
( Ponto de referenda interno, 179, 196 T . A. T. {Thematic Apperception Test), 190
Porter, E. H., 231 Tecnica, 74, '18, 112
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Psicodlnamica (e: dinamtca da personalidade), 59, 62, 66
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Pstcose, 203, 205 ~7
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