Associação Mico-Leão-Dourado

População de micos-leões-dourados volta a crescer após febre amarela

Com 4.800 micos-leões-dourados estimados, resultado do novo censo populacional realizado pela Associação Mico-Leão-Dourado revela crescimento e recuperação dos micos na bacia do Rio São João

Por Duda Menegassi

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Na década de 70, a estimativa era de menos de 200 micos-leões-dourados na natureza. Desde então, a espécie, nativa apenas da Mata Atlântica no interior do estado do Rio de Janeiro, virou foco de diversos esforços de conservação, liderados desde 1992 pela Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD). Mais de 50 anos de trabalho se passaram e gradativamente a espécie está se recuperando. Depois de sofrer um baque com o surto de febre amarela que reduziu a população em cerca de um terço, o mico-leão-dourado voltou a se recuperar. De acordo com o novo censo realizado pela AMLD, existem cerca de 4.800 micos-leões-dourados na Bacia do Rio São João, no interior do Rio de Janeiro, onde a Associação trabalha para consolidar uma paisagem viável para conservação do mico e salvá-lo da extinção.

 

Os 4.800 indivíduos estimados representam um aumento de 29,7% em relação ao número de micos antes da febre amarela, em 2014, quando foram estimados 3.700 micos. O crescimento mostra a resiliência da população. Além disso, reforça a importância da iniciativa pioneira de vacinação dos micos contra a febre amarela. A ação, que começou de forma emergencial em 2020, já imunizou mais de 300 micos.

O censo também revela a expansão da população de micos no território. Áreas que antes tinham nenhum ou poucos indivíduos, passaram a ser usadas e ocupadas em maior densidade pela espécie.

 

Apesar da boa notícia, ainda há muito trabalho pela frente. A meta da AMLD para livrar o mico-leão-dourado do risco de extinção é ter uma população de 2 mil micos em uma área de floresta protegida e conectada de 25 mil hectares. Apesar dos 4.800 micos estimados, a fragmentação das florestas ainda é o grande desafio para conservação do mico-leão. Hoje, o maior bloco de floresta contínua possui apenas 15.696 hectares e não está integralmente protegido.

 

“Já temos mais de 2 mil micos, mas eles ainda vivem em fragmentos de floresta inferiores aos 25 mil hectares que precisamos. Conectar e restaurar as florestas é o nosso maior desafio para garantir a sobrevivência do mico-mico-leão-dourado no longo prazo”, explica Luís Paulo Ferraz, secretário executivo da AMLD.

 

Além da fragmentação e do desmatamento, uma antiga ameaça do mico-leão-dourado voltou a assombrar os esforços feitos para salvá-lo: o tráfico de animais silvestres. Uma das principais causas que o levaram à beira da extinção, a captura e venda ilegal de micos tem sido combatida há décadas pelo governo brasileiro e pela AMLD. Nos últimos dois anos, registros de micos fora do seu habitat natural, mantidos como “pet”, e apreensões de micos traficados para fora do Brasil voltou a acender o alerta vermelho sobre este crime ambiental.

 

Participam do esforço para salvar a espécie diversas organizações locais, públicas e privadas, prefeituras, governo federal através do ICMBio, governo do estado, proprietários rurais, agricultores familiares, e conta ainda com apoio de diversos parceiros internacionais como zoológicos, ONGs e empresas. 

 

O anúncio foi feito nesta quarta-feira, 2 de agosto, Dia Internacional do Mico-Leão-Dourado, em evento online no canal da AMLD no Youtube. A live foi apresentada pelo secretário executivo da AMLD; junto com o biólogo James Dietz, vice-presidente da Save The Golden Lion Tamarin (SGLT), responsável pelas análises do censo populacional e pelo prof. Carlos RUiz, presidente do Conselho Deliberativo da AMLD. O evento também contou com a participação da secretária nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais, Rita Mesquita, do Ministério do Meio Ambiente.

 

A realização do censo

 

O escopo do censo está concentrado na Bacia do Rio São João, no interior do estado do Rio de Janeiro, principalmente nos  municípios de Rio Bonito, Silva Jardim e Casimiro de Abreu. O objetivo é consolidar uma paisagem de conservação viável para garantir a sobrevivência da espécie. Uma pequena área da Bacia do Rio Macaé também foi incluída no levantamento, que levou cerca de 9 meses de trabalho de campo.

 

Para estimar o número de micos foi utilizada a técnica de playback, na qual a equipe de campo da AMLD reproduz a vocalização do mico-leão-dourado em áreas amostrais pré-determinadas. A contagem foi feita de forma visual ou sonora – a partir dos indivíduos que se aproximavam ou vocalizavam em resposta ao playback.

O número de respostas obtidas em cada uma das áreas amostrais e o território de florestas disponíveis foram usados como base para estimar a população de micos-leões-dourados na região. 

 

Em 2014, utilizando a mesma técnica, a estimativa foi de 3.700 micos. Já em 2019, um censo realizado de forma emergencial para avaliar os impactos da febre amarela indicou uma queda de cerca de um terço, com apenas 2.500 indivíduos. Em algumas das áreas amostradas, a doença reduziu a população de micos em mais de 90%.

Na Reserva Biológica de Poço das Antas, por exemplo, o número de micos caiu de 380 para apenas 32 com a febre amarela. O novo censo mostra a recuperação na reserva, com  338 micos estimados dentro da área protegida, que se aproxima do patamar anterior ao surto da doença. 

 

“O motivo para esse grande aumento é, em primeiro lugar, a recuperação das populações reduzidas pela febre amarela. Em segundo lugar e mais importante: 70% do aumento do número de micos-leões-dourados desde 2014 é devido à colonização de quatro grandes áreas que não tinham ou tinham poucos micos em 2014. Essas quatro áreas agora estão cheias de micos-leões-dourados”, explica James Dietz, pesquisador responsável pelo censo e conselheiro da AMLD.

O escopo do censo não inclui populações isoladas, que tem pouca viabilidade a longo prazo, nem a população de zoológicos no Brasil e no exterior.

 

Reflorestar e reconectar

 

Para atingir a meta de conservação dos micos-leões-dourados, com 25 mil hectares de floresta conectada e protegida, é fundamental investir na restauração e regeneração florestal, assim como evitar novos desmatamentos.

 

Dentro da bacia do Rio São João, onde a AMLD atua, houve um crescimento de cerca de 2 mil hectares de floresta entre 1985 e 2021. Os números foram obtidos a partir da base de dados do MapBiomas. A maior parte dessa recuperação ocorreu na última década. Desde 2013, época em que foram feitos os trabalhos de campo do censo de 2014, o aumento da cobertura florestal foi de 1.300 hectares.

 

O programa de Restauração Florestal conduzido pela AMLD já apoiou a restauração de mais de 440 hectares na bacia. Além de ampliar o habitat para o mico-leão-dourado, a restauração permite conectar os fragmentos florestais e é uma estratégia indispensável para garantir a sobrevivência do mico no longo prazo.

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