Revista Víbora 5o Edição

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Vlbdra .

uma revista que esPalha o caos

anarquismO, ciganologia, misdrias, mitos, filosofia, nilismo

POCILGA PRE-TEXTO CAOS CRIADOR

BRASIL: UM CELEIR0 DE IMBECIS O CATECISMO DOS TRABALHADORES SARTRE E O ANARQUISMO HISTORICO

i

EL Mn-o MoDERNO DE LA

Rrvolucftrt

UT0PIA:0 ANJO COM SOLAS DE CHUtllBO i :

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IFIZSCH E DEMASIADAITIENTE

ENTREVISTA COM UM CRIADOn

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IETZSCH E

or vigORAs

BERNARD SHAW MIJA EM CIMA DOS UTOrcOS

A DITADURA DE PORRAS-LOUGAS E PICARETAS ,-J

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Nesta revista vocO pode at6 expiar a misdria que alugou o planeta. Vhora se rebela, por alguns segundos ou at6 s6culos, contra a sua bestial preguiga em seguir sendo cego, mvarde, arrempedido, trabalhador, eleitor, senhor mfsculos, poeta, profes-

sor, polftico, ator e etc.....Vfbora sabe que todos se fazem de se-

guros, corajosos, mas sio na verdade grandes profissbnais do

prazil reprimido, senhores

que foram aprisionados pelos prdprios

sonhos. Vhora odeia e duvida dos que se rasgam em elogios para

com ela. Vhora 6 feita de papel sujo e imundo, impregnado de agiotagem como qualquer papel higiOnico, mas ainda precisa deste lixo inflamdvel, para pervener a palavra, fzendo-a voltar se contra si mesma. A estrdtegia 6 usar 0 que nos destrdi para desiluir o que nos destrdi. Toda vigilincia contra seu banho 6 um exerclcio de lucidez.

Vamos, vamos, entrem em suas pdginas, e saciem-se, invejem, e sintam o t6dio partilhado........

Editor: Kleber Lima Colaboradores: Rafael cid

JoSo Viana Ezio Pires Renio Assis Pedro Osmar JoSo Rochael F. Nietzsche David CooPer

Paulo Roberto Paul Lafargue lnez Woortmann

Wagner Oliveira

lucia Costafiera Ezio Fl5vio Bazzo Jean-Marc Raynaud Plinio Augusto Coelho.. e todos aqueles que ainda deliram.

CORRESPONOCruCIR: PARA CAIXA POSTAL 152977

NENHUM DIREITO RESERVADO

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EDITORIAT O nascimento desta revista, como seus leitores sabem, esteve, entre outras coisas, relacionado d exist6ncia do Centro de Pesquisas Psico-filos6f'rcas, o qual, com a migragSo de seus membros, um para cada canto do mundo, simplesmente deixou de existir. Agora, i6 no quinto ndmero, editado na raga, com o dinheiro de nossos filhinhos, de nossas amantes ou mesmo de pequenos e institucionalizados furtos, queremos retomar a id6ia inicial de criar na sua retaguarda, um "organismo" que estude, pesquise, viva e proclame a vida, pois, como 6 sabido, odiamos com todas as nossas forgas toda manifestaqSo est6ril e demag69iea da intelectualidade.... Odiamos esses poetinhas burgueses de alma e proletSrios de profissSo; esses soci6 logozinhos de gabinetes, esses politiqueiros charlat6es que fazem das letras, das teorias econ6micas e dos sofismas maquiav6licos, armas dissimuladas e cru6is que corroem a liberdade e a auto-estima das massas, quase sempre cr6dulas e ipno rantes. Para que esta revista n5o se confunda com a parafern6lia de publicag6es comerciais que inundam o pais, 6 que estamos criando o lnstituto Anarcho-NietzscheFreudiano, onde trabalharemos aberta e diretamente com as vftimas sociais (mendigos, viados, putas, criangas abandonadas, religiosos, ex-presidiSrios, ex-manicomiSrios, casais que n5o sabem como separar-se, virgens, impotentes, taradcs, etc), com os quais apreenderemos ou reapreenderemos a vida, a loucura e a morte- lremos; como dizia o velho Kierkegaard, de encontro ao caos para ver se a profundidade da loucura pode nos explicar o enigma da vida... e o tornaremos priblico como uma calcinha de adolescente posta para secar sobre um banco da rodoviSria. Estamos no'ramente com nojo, sempre tivemos nojo dessa velharada corrupta que fode, bebe, perverte, viaja e por f im 6 enterrada com o dinheiro e com o poder que os otSrios lhes deram atrav6s do voto. E n5o seria nada se al6m disso n5o fomentassem a riqueza para uns e a mis6ria para outros; a libido em uns e a esquizof renia em outros; os poderes para uma casta latifundi5ria e explorada e o garrote para uma populagSo nascida e criada sob o signo da alienagdo.... O lnstituto de que falamos pretende "incentiva/'os lovens, principalmente aos adolescentes, para que saiam dessa vidinha ridfcula em que vivem, para que abandonern suas famllias, tirem um passaporte e viajem pelo mundo... 6 preferivel sercamel6, mendigo ou camareiro em Xangai, Turquia ou Nova lorque, do que m6dico, padre ou comerciante nesta tribo tropical. Oueremos que essa juventude sauddvel e bela levante 6ncoras, salte fora desse manic6mio disfarqado que 6 nossa sociedade, e deixe de empanturrar-se de cocaina ou de cachaga como palhaqos. Oue deixe de consumir cuequinhas e camisetinhas planejadas por viados maduros que, ocupando postos chaves na politica e no com6rcio do pais, querem convert6-los, nada mais, nada menos, que em cuzinhos disponfveis. E em maricas alienados. Oueimem o bar, esse antro de pederastas e defilhos da proleta-burguesia que, por terem sido violados na inf6ncia querem justificar suas "paix6es" e generalizS-las. Oueimem os VlpS, os MAC DONALD'S, os TRUC'S, os.BOB'S e os GIRAFA's da vida, esses sanduiches irresponsdveis copiados da cultura norte'americana, fontes discretas da desnutrigio e da obesidade... Ah, nosso sonho 6 ver um dia milhares de adolescentes saindo bs ruas com pedagos de ferro, correntes, facas e pedras e desmantelando completamente esse circo bestial chamado sociedade, entdo sim, unidos a eles, estaremos certos de que o primeiro pilarda revolugSo que buscamos, esta16 cravado fundo e difinitivo no concreto.

,

VIBORA


oP5 SoBRE A VAGINITE oU A IMPoTENcIa

clNco DIScuRSos, cINCo nr6rooos possivets O sex6logo, imediatamente prdtico: Vdrios problemas se entrelagam em seu caso. Comece por untar a glande de seu parceiro com manteiga ou vaselina, pense em coisas que o excitam, reative seus fantasmas no momento do ato sexual. Se os sintomas persistirem faga cursos de orgasmoterapia, entre para um grupo de Sexologia Humanista,Leia Liberdade, igualdade, sexualidade: O Casal e suas carlcias; Massageando a glande: v6 ver filmes er6ticos, resultado garantido nos pr6ximos meses. O psicanalista, altamente erudito: Sem dfvida isso remonta hd muito tempo atrds, vamos explorar juntos seu corpo interior, deite-se, prometo-lhe uma eregSo dentro de seis anos...

O militante, eminentemente hist6rico: Acuado em suas insuperdveis contradig6es, o Capital atinge hoje o pr6prio imago de nossa intimidade. Camarada, se voc6 quiser recupeiar o pleno exerclcio de suas faculdades amorosas, venha conosco abater este monstro odiento que nos castra a todos... O cinico, sempre apressado: Voc6 estd me dizendo que sua vagina n6o se abre? Que se pâ‚Źnis ndo se levanta? E, porque ndo lhe servem para coisa alguma. Tampe a vagina, corte o p6nis. Ali5s, como voc6 6 rico, n6o precisa de tantos 6rgdos. N6s mesmos, radicalmente incompetentes: Vocâ‚Ź estd doente do genital. Aproveite para pensar em outra coisa. Liberte-se da id6ia de que a sexualidade deixa de existir no momento em que voc6 n6o pode faze: anro; (quando desaparece a possibilidade de cumprir o contrato genital). Por exeimplo, tente a sodomia, sensibilize outras partes de seu corpo, acabe com todo tipo de prisdo sexual. Perca essa mentalidade de assistido, n6o preste atengdo aos especialistas, foram eles que inculcaram em voc6 essa obsesseo com a saride. Ndo considere sua indigdncia atual como forma de enfraquecimento, descubra nela outras forgas, outras perspectivas ocultas pelos barulhentos sucessos do organismo, De modo especial, n6o penetre no circulo ign6bil da culpabilida-

procure auxflio, pois desejar um remddio ja d aceitar-se como doente, como inferior: trapaceie com as imagens impostas d nossa sexualidade pelas leis. em todo caso, n6o se preocupe (isto se dirige especialmente aos meninos): se continuar impotente

den n6o

por mais de seis meses, seu pdnis acabard caindo por si s6.


SARTRE

E O ANARQUISMO HISTdnIco Ezio Fl6vio Bazzo

Um pouco antes de partir desta para o nada, nosso querido J. P. Sartre, num ato de reconciliagdo com os anarquistas e de reconhecimento de que as teses filos6ficas e politicas propostas pelo anarquismo, se levadas a prdtica, poderiam mudar o rumo esquizofrOnico da sociedade em que vivemos, faz em seu Testa mento Polilico, uma esp6cie de recopilagSo do pensamento anarquista sobre alguns temas fundamentais como o Governo, a Familia, a lgreja, etc., os quais reproduzo aqui, tanto em homenagem a esse respeitAvd filosofo como ao extinto jornal O lrfmigo do Rd que, em 1979 ja proporcionou a seus leitores partes desse documento.

AOS PRO-ETARG

lrmdos proletdric, este trabalho estd dedicado a vocOs. A voc6s encomendo estas paginas escritas com tinta coagulad4 na soliddo e no exilio da dor,

guiddo pelo 6dio e o desprezo, I ruina e i morte da burguesia; um ataque frontal d religido, famili4 ao gc

i

verno e b propriedade. Espero que eslas p6ginas, como uma chwa de granizq semeiem nas suas consciOncias as nog6es de direito e fagam vibrar nos seus corag6es e nas suas mentes a c6lera

social. Espero ansioso o momento em que vocâ‚Źs,'massa en6rgica, sublevada pela l6gica e pela forqa revolucion6ria

se precipitarA como uma avalanche sobre esta sociedade prenhe de privil6gios e exploragdo.

Espero, que como um germe fecundado, como um raio vivificador, possam estas pdginas se unir d primavera regeneradora que sucederA ao inverno da destruigSo, abrindo caminho d vida humana, A liberdade, igualdade e fraternidade. Espero, depois deste sangrento cataclisrna, que a humanidade possa caminhar em diregdo da conquista do ideal, da harmoni4 relegando a civilizag6o entre as monstruosidades do passado.

DO GOVERNO

Todo governo - e quando digo governo estou pensando em qualquer forma de delegaqio, em qualquer forma de poder d margem do povo - 6 por ess6ncia conseryador, limitado e retr6grado, do mesmo modo que esta na essdncia do homem ser egoista. Por6m, o egoismo do homem 6 amenizado pelo egoismo

dos demais, pela solidariedade que a natureza estabeleceu, seja o que for que o homem faqa, entre ele e seus semelhantes. Por6m, cotno o governo 6 sempre 0nico, transforma tudo em sua pr6pria realidade. Todo aquele que ndo se irrcline diante de sua imagem, todo aquele que contradiz suas orag6es, todo aquele que ameaQa sua sobrwiv6nci4 todo aquele que 6 a favor do progresso, em urna palavr4 6 fatalmente seu inimigo. Assim, quando se implanta um govemo - mesmo que no inicio possa apresentar uma melhora com relagho ao anterior -, em seguid4 para se manter no poder, e lutar contra as id6ias que tremem suas bases, chama a ajuda da reaqdo. Tira do arsenal da arbitrariedade as medidas mais antipdticas ds necessidades da 6poca. Pode um governo atuar de outra maneira ou abandonar um s6 de seus basti6es? O inimigo, ou seja, revolug5o, se apoderaria dele para colocar ali suas pr6prias baterias. Render-se? Quando 6 obrigado a se render, sabe que a rendigdo significa o saqueamento de seus interesses, sua submissdo, e ao final, a morte. Voc6s, soldados do progresso, amantbs temerosos da liberdade, que levam no fundo de seus coraq6es - como um residuo da educagdo familiar e cat6lica da juventude - o preconceito da autoridade, a superstigdo do poder, lembrai-vos dos governos revolucion6rios provis6rios, dos programas e das promessas. Lembrai-vos das hipocrisias e das mentiras usadas para conseguir a confianga do povo; lembrai-vos da ast0cia e da viol6ncia.


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Destruindo os governos, desaparecerdo as sujas ambig6es que se servem das costas cio povo, ignorante e cr6dulo, para planejar sobre ele suas fraudes; desaparecer5o os aprendizes de acrobalas que danEam sobre a frou_ xa corda da profissdo de f6, o p6 direito a um lado, o esquerdo ao outro. Desaparecerdo os prestidigitadores politi_ cos que manipulam as tr6s palavras da bandeira republi_ cana (Liberdade, Fraternidade e lgualdade), como se fos_ sem tr6s promessas comerciais que passam diante dos olhos dos ignorantes para depois desaparecer no fundo da pr6pria conseciOncia, bolsa secreta da malicia. Desapare_ cer6o os saltimbancos de coisa p0blica que, desde a mais alta sacada da prefeitura, ou desde as escadas de uma Convengdo ou de uma Constituinte, nos oferecem seu espetAculo "na melhor das rep0blicas", espetAculo que depois nos fazem pagar - n6s os pobres estripidos _ com o

suoreonossosangue. Acabando com os goveinos, desaparecerdo os ex6r_ citos que oprimem o povo atrav6s do povo, as Universida_ de que submetem ao jogo do cretinismo as mentes jo_ vens, que manipulam mentes e coraq6es, petrificando-os e gravando sobre eles as imagens de uma socieclade cadu_

ca. Desaparecerdo os magistrados

- inquisidores que tor_ turam nos interrogat6rios ou que condenam ao sil6ncio da prisdo ou do exilio avoz da imprensa e das manifestaq6es de consci6ncia e do pensamento. Desaparecerdo os ver_ dugos, os carcereiros, os gendarmes, os inspetores de po_ licia, os espi6es que detectam, intimidam e matam a

querrr n6o aceita a devoE6o da autoridade. Velha desden_ tada, bruxa de garras de gancho, medusa coroacla de vibo_ ras, autoridade! retrocede e deixa passar a liberdadel!! DA REUGAO

Todas as rel:Ei6es t6m em comum predicar aos oprimidos a submissdo ao jugo do opressor. Se a espada do soldado laz da multidAo um escravo fisi_ co, o catecismo do sacerdote - arma mu to mais perigosa - laz dela um escravo moral. A id6ia de Deus, o culto da divindade; eis aqui a causa primeira da decadOn_ cia do homem, a primeira p6gina do livro em que foi escri_ ta a martirologia da humanidade. euem nega o direito divino na terra deve igualmente negar no c6u a realidade de um ser sobrenatural. Hoje achamos graQa dos povos primi_


tivc

que adoravam o sol. Por6m, quase tdo ignorantes

csno eles, se ndo formos mais, adoramos sob outra forma a un ser a guem nossa imaginagSo dota de um poder suprcrno. E, demonstrando sermos mais est0pidos

- que es-

ses povos que adoram a um astro que ndo s6 est6 ai como tamb6m nos 6 muito 0til e ben6fico - vamos buscar rreso fdolo fora e mais al6m da natureza. E quanto mais nc prejudica, mais o bendizemos. Por que quanto mais sofremos aqui em baixo - nos dizem os que neste mundio s6o felizes e gozam de privil6gios - mais felizes serernos ld em cima, em um paraiso sem drivida muito longâ‚Ź, por que como Deus, est6 al6m do infinito. O clero 6 o envenenador da consciOncia humana. Em foma de serm6es nos dA a dose diAria de veneno que nos leva a renunciar ao prazer neste mundo, a renunciar a noasos direitos como homens e como cidaddos. Para que serye a divindade e o culto sendo para nos habituar aos sacrificios aos deuses da terra? Para que, sen6o para

prostrar-nos ante toda classe de fetiches? Estudemos em vez de rezar. lnstruamo-nos nas ci6ncias naturais. A ignorArrcia, isso 6 o que laz do nosso mundo um vale c1e liigrimas. A ci6ncia, isso 6 o que pode fazer dele uma mora-

CriaESo da religido, a familia 6 a base sobre a qual se assenta a propriedade e o governo, o elemento que os edifica, linfa que os alimenta, o peito que os nutre. Ndo basta cortar os ramos, h6 que se separar o tronco e arremessar as ralzes; ndo basta prender e de_

golar os filhos, hii que perseguir a mde at6 o fundo da madrigueira e rasgar o seu ventre. Do contrArio, a drvore ou a besta dar6 novas frutos. Estado diminuto no qual o homem 6 soberano e a mulher e os filhos sdo s0ditos a familia coloca constantemente o dever individual em contradiqSo com a natureza e o interesse material em hostili_ ciade com a consci6ncia. Oh, Familia! Sodoma de todas as corrupq6es, festim de todos os vicios, que sobre ti caia a chuva de fogo da maldigSo do homem, os raios vingadores do socialismo! Oh, familia!, tu que arregas em teu ventre os germes da prostituigdo, tu que trazes ern teus liibios o cdncer roedor da desmoralizaqdo social, espero que desaparegas cedo do mundo de nossas instituiE6es, e deixes caminho para o grande principio da unidade humana, h edificaqdo, d orga. nizagdo no mundo do sentimento e da liberdade.

dia de felicidade, um Eden.

Adiante! A foice contra os confessiondrios. O martelo contra a igreja! Queimemos as batinas! Derrubemos, destuamos, aniquilemos, incendiemos at6 ds raizes as divindades, cultos, altares, e textos sagrados, templos e padres! Que chegue a hora em que o chamado fogo purificador caia sobre este caos de mentira e iniqtiidade, sobre este armaz6m de trastes velhos que se chama religi6o!

Qual seria

o

homem livre que se deixaria impregnar

nesta moral pietista atd o ponto de aconselhar A sua irm6, A sua companheira, A sua filha, que se submetesse aos luxuriosos ensinamentos dos confessiondrios, A corrupgdo sistemAtica de sua natureza fisica e moral? Quem quer padres que os pague. Por6m, que sacerdotes e cultos se encerrem no habitdculo de suas superstig6es e que n6o saiam nunca mais d luz p0blica a atentar contra o pudor da raz-ao. Nossa Repriblica 6 deste mundo. DA PROPRIEDADE

Capital! Polvo de gigantescas proporg6es qire com tuas membranas chupas o sangue dos explorados; horrfvel molusco do oceano do trabalho, que com teu ouro envenenas as ondas da produg6o; tu, que te afenas As partes viris da humanidade, chupando por todm os seus poros o sangue dos trabalhadores e se apropriando at6 a medula dos seus ossos; monstro de rapina, tua hora h6 soado no rel6gio da indignagio p0blica, e nio escapar6s ao arp6o do direito ao trabalho.

DA FATIIIUA

DA REVOLUQAO

Aboliqdo do governo em todas as suas formas, monArquica ou republicana, quer seja baseado na hegemonia de um s6 ou na da maioria. lnstauragio da anaqui4 da soberania individual, da liberdade total,

ilimitada, absoluta, que o ser humano possa fazer tudo aquilo que seja ditado pela natureza. Aboliq6o da religi6o cat6lica ou judi4 protestante ou de outro tipo. Aboligdo do clero e do altar, do sacerdote - padre ou papa, pastor ou rabino -, da Divindade, ldolo em uma ou em trâ‚Źs pessoas, autocracia ou oligarquia universal. Aboligdo da propriedade individual, da propriedade do solo, das vivendas, das f6bri-

cas, das lojas, de todo instrumento de trabalho, de produg5o ou de consumo. AboligSo da familia baseada no matrim6niq na autoridade paterna e materna, na heranga. Em seu lugar, a grande familia humana, a farnilia una e inseparSvel como a propriedade. Liberag6o da mulher, emancipagSo da crianga, aboligdo da autoridade, dos privil6gios, dos antagonismos. Em uma palavra, a Harmonia, este odsis de nossos sonhos, deixando de ser como um reflexo ante a caravana das geraq6es, entregue a todos e a cada um, como sombras fraternas na unidade universal, as fontes da felicidade, os {rutos da liberdade, uma vida de delicias, depois de uma agonia de mais de 18 s6culos no deserto de areia da civilizagdo.


Fronte de um homem instevei

Fronte de um poeta e mdsim Fronte de um homem destinado a morrer

Fronte de um homem estevel

Fronte de um homem imbecil e longevo

Era uma vez um rapaz que, durante toda a inf6ncia at6 os nove anos de idade, deseiou ardentemente que o pai lhe batesse. Um dia, finalmente, o pai levantou o brago com a intengSo de asssentar-lhe uma palmada no traseiro. Mas ao fazer esses movimento, acertou um tapa na chra da esposa Yoyeuge.

Fronte de um traldor

Fronte de um homem desiinado a ser ferido

AG (, reF

Fronte de uma mulher tellz e alortunada

Fronte de um homem bem sucedido


O CATECISMO DOS

TRABALHADORES - Como te chamas? - Assalariado. - Quem s6o os teus pais? Resposta -o meu pai era assalariadc, Pergunta Resposta Pergunta

bem como o meu av6 e o meu bisav6: mas os pais dos meus pais eram servos e escravos. A minha m6e

chama-se POtsREZA - Dondes vens e para onde vais? Resposta -Venho da pobreza e vou para a mis6ria passando pelo hospital, onde o meu corpo servir6 de campo de experiOncias para os medicarnentos novos e de tema de estudos aos m6dicos que tratam os privilegiados do capital. P..- Onde nasceste? Pergunta

R. -Num cubiculo, sob a cumeeira de uma casa que o meu pai e os seus camaradas de trabalho tinham construido. Qual 6 a tua religido? R. A religiSo do CAPffAL P. Quais s6o os deveres que ela te imp6e? R. -Dois deveres principais: o dever de ren0ncia e o dever de trabalhar. Ordena-me que renuncie aos meus direitos de propriedade sobre a terra, nossa m6e comum, P.

-

sobre as riquezas das suas entranhas, sobre a fertilidade da sua superficie, sobre a sua misteriosa tecundaq6o pelo calor e pela luz do sol; ordena-me que renuncie aos meus direitos de propriedade sobre o trabalho das minhas m6os e do meu c6rebro; ordena-me tamb6m que renuncie a meu direito de propriedade sobre a minha pr6pria pessoa; a partir do momento em que passo a porta da oficina, jd n6o me pertenco, sou objeto do patr6o. A minha religi6o ordena-me que trabalhe desde a infAncia At6 ir morte,.que trabalhe h luz do sol e d luz do g6s, qule trabalhe dia e noite, quetrabalhe sobre a terra, sob a terra e o mar, que trabalhe sempre e por toda a parte.

PAUL LAFARGUE

P. - Acaso te imp6e outros deveres? R. -Sim. Prolongar a quaresma durante todo o ano; viver de privag6es, contentando apenas metade da minha fome, restringir todas aspiraq6es do meu espirito. P. - Acaso te proibe determinados alimentos? R. :Pro,ibe-me de tocar na carne de caga, na criag6o, na came de vitela de primeira, de segunda e de terceira qualidade, de saborear salm6o, lagosta, peixes delicadc; proibe-me de beber vinho natural, aguardente de vinho e leite tal como sai da teta da vaca. P. - Que alimento te permite? R. -Peo, batatas, feijlo, restos cje carne de vaca, de cavalo, de mula e os mi0dos. Para recuperar rapidamente as minhas foqas esgotadas, permite-me que beba vinho falsificado e aguardente (pinga). P. - Que deveres te imp6e para contigo mesmo? R. -Diminuir as minhas despesas; viver na porcaria e na bichada; usar roupas rotas, remendadas, amarrotadas; us6-la at6 ao fim, at6 que se tornem farrapos, andar

sem meias, com sapatos rotos que bebem a 6gua suja e fria das ruas. P. - Que deveres te imp6e para com a tua familla? R. -Proibir i minha mulher e ds rninhas filhas qualquer bom gosto, elegAncia ou requinte; cobri-las com tecido comuns, apenas o suficiente para n6o chocar o pudor do sargento; ensinar-lhes a n6o tremerem no inverno sob os tecidos de algoddo e a n6o sufocar no ver6o nos casebres; inculcar aos meus netos os sagrados principios do trabaho para que possam desde muito cedo ganhar a sua subsistdncia e n6o estar a cargo da sociedade; ensinar-lhe a deitarem-se sem cear e sem luz e habitu6-los d misdria que 6 o seu quinh6o na vida.


2 te rmp6es para com a sociedade? social, primeiro pelo meu trabalho' fortuna R. -Aumentar a depois Pela minha Poupanqa. P, - Que te ordena ela que faqas ds^tuas economias? R. -Que as leve As CAIXAS ECONOMICAS DO ESTADO para que sirvam para preencher os d6ficits do orqapelos mento ou que as confie As sociedades fundadas filantropos das finanEas para que os ernprestem a'os nossos patr6es. Devemos pdr sempre as nossas economias h disposiqdo dos nossos patr6es' P. - Acaso te pennite tocar na tua poupanqa? insistamos R. -O menos possivel; recomenda-nos que nAo e que nos a devolvO-la recusa se quanclo oESTADO antefinanqas' das filantropos quando os resignemos que as anunciam pedidos, nos cipando-se aos nossos P.

o

- Que cleveres

nossas economias se dissiparam em fumo' P. - Tens drreitos Politicos? CAPITAL concede'me a inocente distrag6o de eleR.

-O

ger os legisladores que forja as leis para nos puni4 mas proibe-nos que nos ocupemos de politica e ouQamos os sociaiistas'

P.

- Por que?

pcrque R. -Porque a politica 6 um privil6gio dos pair6es, os socialistas s6o uns pati{es que nos pilham e nos enganam. Dizern-nos que o homem que n6o trabalha n5o deve comer, que tudo pertence aos assalariados porque produziram tudo, que o patrSo 6 um parasita a suprimir. Pelo contr6rio, a santa religi6o do Capital ensina-nos que o esbanjamento cios ricos cria o trabalho que nos d6 de comer, que os ricos mantOm os


pobres; que, se fiao houvesse ricos, os pobres pereceriam. -Ensina-nos tamb6m a ndo sermos bastante idio-

salariados, mas foram escolhidos entre milhares e milh6es.

tas para acreditar que as nossas mulheres e as nossas filhas saberiam usar as sedas e os veludos que tecem, elas que s6 se querem enfeitar com tecidos de algoddo de mA qualidade, e que n6s ndo saberiamos beber bons vinhos nem comer bons pratos, n6s que estamos habituados d carne contaminada e hs bebidas falsificadas.

P.-Quem6oteuDEUS? R._OCAPITAL.

- E eterno?

P.

-Os nossos padres mais sdbios, os economistas oficiais, dizem que existiu desde o comego do mundo.

R.

Como nessa altura era muito pegueno, J0piter, Jeovd, Jesus e os outros falsos deuses reinaram em seu lugar e em seu nome; por6m, a partir de cerca de 150e cresceu e nho parou de crescer em massa e em forga; hoje domina o mundo. P. O teu DEUS 6 todo-poderoso?

-

R. Sim. A sua posse dd todas as felicidades da tena Quando desvia a sua face de uma lamilia e de uma na-

g5o, estas vegetam na mis6ria e na dor. O poder do DEUSCAPITAL cresce ir medida que a massa aumenta todos os dias conquista novos paises; todos os dias arr menta o rebanho de assalariados que, durante toda a sua vida, se dedicaram a aumentar a sua massa P.

-

R.

-Os

P.

-

Quais sho os eleitos do DEUSCAPITAL? patr6es, os capitalistas, as pessoas que vivem dos seus rendimentos. Como 6 que o Capital, teu Deus, te recompersa?

R. -Dando-me sempre trabalho a mim, A minha mulher e aos meus filhinhos! P. E essa a tua 0nica recompensa? R. -N6o. Deus autoriza-nos a satisfazer a nossa fome saboreando com os olhos as apetitosas vitrinas de carnes e de provis6es que nunca provamos, que nunca provaremos e das quais se alimentam os eleitos e os padres sagrados. A sua bondade permite-nos aquecer os nossos membros que o frio entorpece, olhando as peles quentes e os grossos tecidos com que.se cobrem os eleitos e os padres sagrados. Concede-nos tamb6m o delicado prazer de alegrar os nossos blhos contemplando, quando passa de carro nas avenidas e nas pragas p0blicas, a sagrada tribo dos que vivem dos rendimentos e dos capitalistas brilhantes, gordos, pangudos, ricos, cercados por uma turba de criados com gal6es e de cortesds pintadas e tingidas. Orgulhamo-nos entao ao pensar que, se os eleitos gozam

-

das maravilhas de que somos privados, estas sdo obra das nossas mdos e dos nossos c6rebros. Os eleitos sdo de uma raga diferente da tua?

P.

-

R.

-Os capitalistas s5o feitos do mesmo bano que os as-

- Que fizeram para merecer essa elevaqdo? R. -Nada. Deus prova a sua onipotOncia fazendo recair os seus favores sobre aquele que nio os gaP.

nhou. -Ent6o o Capital 6 injusto? R. -O Capital 6 a pr6pria justiga, mas a sua justiga ultrapassa o nosso fraco entendimento. Se o Capital fosse obrigado a conceder a sua graEa hqueles que a merecem, n6o seria livre, o seu poder teria limites, O CaP.

pital s6 pode afirmar a sua onipot6ncia tomando os seus eleitos; os patr6es e os capitalistas, de entre um monte de incapazes, e preguiqosos e de tratantes. P. - Como 6 que o ieu Deus te castiga? R. -Condenando-me ao desemprego; entdo sou excomungado; proibem-me a carne, o vinho e o fogo. Morremos de fome, a minha mulher e os meus filhos. P. -Quais sdo as faltas que deves cometer para mereceres a excomunhdo do desemprego? R. -Nenhuma. O arbitrio do Capital decreta o desemprego sem que a nossa fraca intelig6ncia possa apreender a raz6o pr que o fez. P. -Q.rais sdo as tuas orag6es? R. -N6o oro cotn palavras. O trabalho 6 a minha oragdo. Qualquer oragSo falada incomodaria a minha oraqio eficaz que 6 o trabalho, a 0nica 0til, a 0nica que dA lucro ao Capital, a 0nica que cria mais-valia. P. - Onde 6 que oras? R. -Em toda parte: no mar, sobre a terra e sob a tena, nos mfitpos, nas minas, nas oficinas e nas lojas. Para que a nssa oragSo seja recebida e recompensada, devernos depor aos pes do Capital a nossa vontade, a nossa liberdade e a nossa dignidade. Devemos acorrer ao som do sino, do assobio da mAquina; q uma vez em orag6o, devemos, tal como autdrnatc, mcver os braEos e as pernas, os p6s e as mdos, soprar e suar, entesar os nosso m0sculos e esgotar 06 rrcSos nervos. Devemos ser humildes de espirito, suportar docilmente os anebatamentos e as inj0rias do mestre e dos contra+nqstres, porque eles t6m sempre raz6o mesmo quando nos parece que estio errados. Devemos agradecer ao patrdo quando ele diminui o sal6rio e prolonga o dia de trabalho, porque tudo o que ele laz 6 justo e para nosso bem. Devernos sentirnos honrados quando o mestre e os seus contra+nestres acariciam as nossas mulheres e as nossas filhas, porque o Deus, o Capital, outorga-lhes direitos de vida e de morle sobre os assalariados bem como o direito de abusar das assalariadas. Em vez de deixar escapar urr,a queixa dos nossos ldbios, em vez de permitir que a c6lera faga feruer o


nosso sangue, em vez de fazer greve, em vez de nos revoltarmos, devemos suportar todos os sofrimentos, comer o nosso p6o coberto de escarros e beber a nossa Agua suja de lama, porque, para punir a nossa insoldncia, o Capital arma os patr6es com canh6es e sabres, com pris6es e gal6s, corn a guilhotina e o pelot6o de fuzilamento.

AB.qIXO O SUPERFICIAL

-f*E-

P.

R.

-Receberds uma recompensa depois de tua morte?

-Sim, uma ben' grande. Depois de morto, o Capital cHi' xar-me-6 sentar-me e descansar. Ndo mais sofers frio ou tome; jA n6o terei de me inquietar com o @ do dia nem com o p5o de dia seguinte. Gozarei o repouso eterno do t0mulo.

-

VIVA O EFEMERO!


EL PENSAMIENTO ES CAOS, SOLO Sl SE DE|A DISPERSO SE OFRECE SU VERDADE-

RA |MAGEN, EN FRAGMENTOS, A.PEDAZOS.

EL lvllT0

]YlODERl\lO

DT LA

a

REI|OTUCION RAFAEL CID

No soy revoluciondrio porque soy agn6stico. La Revoluci6n es la Religi6n del hombre moderno. Como a Dios, a la Revoluci6n la otorgamos alributos excelsos e inefables vedados al ser humano: bondad absoluta, infalibilidad y ser principio y fin de todas las cosas. Como la Religi6n, la Revoluci6n tambi6n tiene su Anunciaci6n, su Profet4 su Dogma, sus Misterios, su Liturgia, su lglesi4 sus concilios, su Vaticano, su Jerarquia, su Mistica, sus Ordenes, sus Herejes, sus Fieles, sus Creyentes y hasta su Guena Santa donde todo est6 permitido por el bien de la Causa La Revoluclon es, pues, la salvacidn y la vida y corno en la teologia tradicional esta escatologia crea a su vez un principado antipoda absolutamente indispersable para

afirmar su santidad urbi et orbe: el genio del bien (Dim) = revoluci6n propiamente dicha (en realidad la llamada re voluci6n de izquierdas) y el sehor de las tinieHas (Lucifer) = contrarrevoluci6n (en realidad revoluci6n de derechas). Asimismo, cada una de estas dos posibilidades extrernas en el camino de la verdadera liberacidn habitan en.dorninios que elocuentemente les ejemplariza y sirve igualmente de f6rtil promesa el reino del Todo (Paraiso) y el de la Nada (lnfierno), homologables en el espacio politico al Capitalismo y al Comunismo. No obstante, entre ambas opciones existen otras alternativas temporales: tr6nsitos (Purgatorio-Socialismo) y etapa de inocencia (Limbo = Prehistoria, segrin la teoda maxista), en la que los hombres, sin haber alcanzado la gracia, tienen futuro ante sf porque a0n.no han tomado conciencia de su alienaci6n; la sombra del pecado no ha mancillado a las criaturas. Tambi6n se dan periodos en que reina el mal, en una permuta

de escarmiento para los hombres, y un hedor de opresi6n y de muerte asola la tierra. Pero estos momentos s6lo son signos, por exclusi6n, de lo que ha de venir. Tras las etapas de expiaci6n, se vuelve con redoblado convencimiento al recto camino. Pero para que la Religi6n impere soberanamente tiene que ponerse en el centro mismo de la existencia, impregn6dola, en una palabra, ser la medida oficial de todas las cosas habidas y por haber. Es lo innombrable, el paso a lo sobrenatural, a la fe: de un costillar se aventa un ideal y no solamente se le instituye como par de todas las cosas - existentes - sino tambi6n de las que pudieran venir posibles -, con lo que queda admitida la imposibilidad del mds alld hasla entonces pregonado en la escoldstica al uso. Quiere esto decir que por mAs recalcitrante Teologia de la Liberaci6n que aparezca en los epigonos con acendrado ultraismo animando el presupuesto religioso, nunca se entregard hasta el limite de desmentirse ante los propios hechos contantes y sonantes, s6lo los explicara ace moddndose a ellos, deviniendo en 0ltima instancia en To talitarismo, sin 6tica ni conciencia. Esse iluminismo de movimiento reflejo universal que le acredita - ser la medida de todas las cosas : produce inevitablemente el aniquilamiento, la manumisi6n, de sus contrincantes. No son por si mismos, sino contra 61, y no tienen mds identidad ni personalidad que la que por reacci6n les devuelve el Ente Soberano. Asi se instala un mundo dual: derecha e izquierda, blanco y negro, religi6n y hastio, revoluci6n y reacci6n en donde s6lo una de las dos mitades tiene vida propia, sentido, fines y medios. Afuer4 enfrente, nada. La contra es, cuanto mAs zurda. Vemos, por tanto que la funci6n crea necesariamente el 6rgano y lo deseado se toma por realidad. La quimera se ha instalado no ya en el pensamiento de los hombres sino. en su voluntad ensoberbecida, y un t6rmino - Dios = Revoluci6n - nos da la satisfacci6n suficiente para seguir vivendo y no tener que ser diariamente y para siempre verdaramente dioses y revolucionarios o lo que estas expresiones de hecho deberian significar en el quehacer humano.

Hoy la Revoluci6n es el opio de los pueblos.


A DITADURA

DE

PORRAS

I

1OUCAS

E PICARETAS K. MALY

Seja quem voc6 for, a partir do momento em que.voct se torna

meu semelhante, voc6

me

aborrece. me entedia.

Os homens que agem de maneiras irrefletidas, incon'seqirentes, que descartam as noq6es cle responsabilidades para com as relaq6es convencionais estahelecidas, sdo os individuos que detectarn facilmente a farca dos homens, em seus papdis mais dom6sticos at6 nos mais ptiblicos. Recusam-se, por algum motivo qualquer a respeitar,

aceitar, levar a s6rio, as autoridades, as conveng6es, os simbolos, as leis, a ci6ncia, a filosofia, o Estado, a unanimidade. Lutam contra a tirania rigida das constituig6es sociais e econOmicas que numa mecAnica medfocre, reduzem os seres humanos d impot6ncia, b serviddo. Lutam, com armas inesperadas: a intromissao, o deboche, a ire nia, o cinismo, o desprezo e a incompet6ncia. 56o pessoas sensiveis que v6em, ou hs vezes nem seguer v6em algo de importante nas instituig6es humanas. Fazem como os caes que encontrando a porta aberta de um templo, entram e vdo no que h6 de mais sagrado, urinall e defecam com a maior naturalidade que s6 os animais tem. Sem o mfnimo respeito pelas regras dos deuses, e tamb6m sem nenhuma convicglo ideol6gica Apenas agem segundo suas necessidades. E provocando repentinamente o escAndalo, a reagdo... (Ah!... A prop6sito, o reaciondrio estd sempre pronto, assim como os cagas norte-americanos e israelenses, para bombardear covardemente em qualquer lugar do planeta, seus inimigos visiveis. E peculiar a estes tipos, a necessidade perversa de apontar, dedurar, massacra1 sufocar os seres livres do dogmas b6licos, que apenas se disp6em a viver sem as pragas e o t6dio que os imperialistas querem impor aos homens.) 12

Existem seres que passam pela vida sem ao menos etr trar em contato com a educagio burguesa ou com os milenarismos religiosos. S5o pessoas que sdo esquecidas pelas familias ou que ao menor descuido, escapam das mdos tirAnicas dos educadores. E reaparecem posteriormente nos lugares inesperados e inimaginAveis. Assim como o virus, surgem para o pAnico geral. Todos seus atc serSo como uma bomba; O estrago 6 inevitAvel, pois sua pr6pria raz6o de ser, consiste em ser o oposto, o ma ligno, o espectro que ronda a farsa cotidiana. lnocentes? lgnorantes? Tolos? Loucos? Bandidos? Nio!... 56o os porna-loucas! Ou entio os picaretas! Alids, s6o palavras que devem ser entendidas como algo pr6xirno da dem6ncia. Nio 6 nem mesmo uma pervcrs6o que desviou o desejo de sua finalidade natural para dar-lhe um outro objetivo, 6 a suspensdo provis6ria de te da finalidade human4 6 o estigma ndo manifesto que se atiga quando â‚Źts regras para sua eliminaqdo do meio apa recem. Basta somente uma palavra ,mal dita para que a perseguigio cornece, e ela 6 ampla e cega. Conseqtier temente a perseguigSo se estende hs mulheres, os de "r& ga inferiof, os "desviados sexuais", os lundticos, As crierr gas e As pessoas diferentes ideologicamente. Tudo isso visa satisfazer a fome deste monstro inexistente que se chama civiliz4So.

Receberam estes nomes (pona-loucas, picaretas), assim como os anarquistas no s6culo passado, na mais clara linguagem policial, cotll o intuito de criar uma bastardia da esp6cie humana. "Para um audacioso, para um insolentg d6,se a pris6o", diz o homem p0blico. Pois a existdncia do anarquista nas 6reas "s6riasf' da sociedade 6 uma amea 94.

A desin6ncia porralorrca numa tentativa cle especificar o ser vil e desprezivel 6 algo de revelador e mediocre para aqueles que a utilizam. O esperma perdido, o coito afoitq a "consciOncias de um p6nis", refletem bem o preconceito que o ato sexual ou os genitais provocam nessas pessoas O ato leviano de uma simples paixio, pode aos olhos de


-_I

um algoz do porra-louca, criar sua mallcia de puritano, e censor dos seus pr6prios familiares. Com o que fica evidente a falsa verborr6ia do discurso amoroso, sustentado durante s6culos, onde: esperma, tes6o, cox4 pau, Anus, vagina, ded6o e lingua 6 o momento maximo de suas travessuras. Por isso na velha senha "EU TE AMO" estd contida a ameaqa ou o convite para uma subversdo a dois, ou a tr6s, ou a quatro, ou a cinco, ou aos milh6es, assim se tratando de um pequeno contrato libidinal e puramente garantido pelas partes envolvidas. Nada que nao seja 0til b suruba, a ndo ser um eventual vibrador ou chicote, poderd transcender as quatro paredes onde o "momento maior de liberdade" do ser humano se materializa. Quanto esperma perdido, derramado, em favor da liberdade humana que segue para a desgraqa de alguns, gerando mais e mais porra-loucas e picare.tas e pe;turbar a ordem e a norma dos "s6os". Conviver com, ou saber da exist6ncia da degenerescOncia ao seu lado 6 a sentenca e o destino do preconceituoso. E o seu destino de "liberto,'. E algo de sinist'o para 6 pessoas que se sentsll assanbra das e sentem a perpetuagSo da dependdncia institucional em suas vidas, a cada passo que d6o. Haver6 sempre nos

lugares s6rios e principais, o porra-louca, o picareta, coerente e implodidor momentAneo da escraviddo humana. Ele ndo 6 o transgressor, nem o bandido, nem o assas-

sino, pois essas formas s6o previstas, e s6o construidas pela moral, pelos puritanos, pelas familias, etc... _ por_ o ra-louca, o picaret4 6 um gesto brando, inesperado, sem fins lucrativos. Joga o jogo e ndo entende as regras, pois tem as suas pr6prias. E aquele que regride o discurso, que reinterpreta os fatos, que deixa claramente transparecer a incompetOncia, mudando a obviedade das aq6es huma-

nas para o desespero do seu opositor. Ent6o Freud n6o seria um porra-louca, ou um picareta,

ao propor uma nova cura dos homens atrav6s cla investi_ gaE6o pura e simplesmente dos sonhos?

Max pregando a ditadura do proletariado, no exato momento em que o triunfo do Capital reinava; n6o sena um grandessissimo picareta e porra_louca, aos olhos do

capitalista? Madre Tereza de Calcut6, que prop6e a ajuda aos necessitados, com o sacrificio da pr6pria vida e ndo com a utilizaE6o do dinheiro que os cofres de sua igreja administra. Ela na verdade ndo teria uma profunda inspiraq6o de

13


uma garota propaganda niilista que s6 um picareta ou porra-louca 6 capaz de desemPenhar? Os m0sicoS, senhores que se adestram e se fazem diferentes, para isto utilizam de instrumentos musicais que

cont6m um torturante processo para sua dominaqdo; n6o seri am masoquistas porras-loucas? "No esbogo do homem que nasceu livre, n6o haverd

tragos de escravidio". Estas sio palavras de Platlo.

Quanta ousadia deste cidadio grego. Sua insolOncia aos gregos foi tanta que ultrapassou os s6culos. Suas palavras que hoje ainda sdo rejeitadas, deveriam estar gravadas nas escolas, nas maternidades, nos hospicios' mas que at6 agora sdo apenas palavras que s6 um picareta ou um porra-louca ut6pico ousa repetir! Mas e o general que bate as botas e grita para seus comandados: "canalhas, bundas moles: o inimigo vermelho ameaga a todos n6s, devemos sempre estar bem atentos e prontos para conrbat$los com rigor e patriotismo"... Subitamente um recruta resmunga: "Merda"' O general, explode, urra: "quem foi este porra{ouca que latiu? Se for homem, que se apresente". Mas recruta e general se confundem em seu teatro de ensaiar a guerra diariamente' para ambos o verdadeiro porra-louca e picareta 6 o exdrctto inimigo.

das. Os partidos polfticos s6o os principais sentenciadores, assim como os cientistas, economistas, socidlogos e gine-

c6logos, que querem com seus discursos calhordas iludir um autOntico crApula picareta porra-louca zombador, por serem doentes, deficientes seres portadores do cancro que querem espiar seus semelhantes com suas mdscaras menos reveladoras.

A quest6o de ordem na politica 6 a chave mestra para arrombar e violar o individuo que num lampejo sente a necessidade de se intrometer nas quest6es humanas' Os partidos e seus darrascos, os politicos, s5o os titeres dos capitalistas ou comunistas, usando de uma forma muito simples, que consiste em administrar a ang0stia, a Ansia, o t6dio, que eles pr6prios criaram, convocando suas vitimas para darem o voto que os eleger6 como os perpetuadores das regras deste jogo sdrdido que 6 existir. NAO VOTAR NAo VOTAR grita o porra{ouca,o pica' reta, em uma trdgica manifestagdo terrorista em meio ao clamor democrdtico. Negar o sistema 6 prescrever o pr& prio fim, 6 um suicidio que s6 se explica com a paix6o' E existem vArias maneiras de sabotar o sistema. E uma delas 6 neg6-lo. N6o como um menino desobediente, mas

-

sim ser capaz de neutralizd-lo em suas entranhas, em seus pensan]entos' O medo 6 a ind0stria de' que vdrios

A puta pergunta ao cliente: "o que voc6 vai queren punheta, trepada ou chupada? Porque para cada coisa tenho um preqo!" - Cliente e puta ndo est6o fartos das re' gras? Nio sio a podridio da c6lula mater "familia", nio sdo o cdncer incur6vel que o trabalho criou? Na verdade, este 6 o 0nico momento em que o esperma in0til 6 algo de s6rio, e sua negociagdo segue as regras bdsicas de um grande negocio: s6 quem tem a vagina profissional pode propor a aventura desprezivel ao seu cliente' por preqos que lhe garantem o real valor do esperma perdido.

panacas se servem para deterem seus imp6rios p0blicos' O polfiico 6 aquele que descobre que os seres huma-

Afinal o capital masculino se baseia ern sua virilidade e na sua capacidade de ejacular, o dinheiro 6 um simples chamariz para arrastar a presa que se constitui em seu objeto de exploragio para o lucro final: a gozada. O poralouc4 o picareta n6o quer falar, nem participar em nacla. Ele quer somente a ele pr6prio, para depois

,os seres humanos temem a doenga,

dispor unicamente de si.

ACONTEQO POR OUE SOU VARIOS

-

EXISTO POR

OUE SOU UNICO Por onde se esconde a multidSo que escapa da m5o do poder? Com o quO se disfargam? N5o existe o esconderijo' nem sequer a necessidade de ocultar suas faces. O gesto 6 0nico e de cada individuo que, sern a mernr pretersm, faz o cir$srno e o debmhe pa

ra com os partidos, e instituig6es democraticamente fali14

nos temem o ESTADO e tamb6rn desejam participarrdire' ta ou indiretamente. E nesta conquista n6o se mede esforgos. Ent6o o partido politico, a ag6ncia de propaganda fascista, ou entSo democrStica, vende a f6rmula de vencer e ainda ser eleito colrl o auxilio de um bando de canalhas

a canegd{o

nc

ombros

e

gritando: "O POVO UNIDO

JAMAIS SERA VENCIDO".

O mddco 6 aquele esperto senhor, que descobre como

e

como adoe'

cem. Sua tarefa 6 simples e consiste em negociar a cura da melhor foma possfvel. Este 6 o poder que as universi-

dades ersinan e autlizarn pala estes

vdo6m senlnres'

Ent6o @erianios at6 lazer e detalhar minuciosamentq para teu conforto, uma longa lista de m6scaras que a nossa "lrumanidade" se serve, para se intitularem juizes, chefes de todos os homens. Mas como um pona'louca' um picareta, acredita na esp6cie, prop6e a vocO que passeia com os teus lindos olhos rrestas pa$rm,: e cfisciflinadanrente por estas linl'as, que

T

desvie por um momento deste papel e tente mirar a vocd mesmo. Garanto que n6o verds absolutamente nada lrr t5o sugerimos que vA em busca de um espelho. Assim feF to, observe atentamente o grande imbedl que 6sSe n6o concordas, voc6 verd uma outra coisa: n6o a voc6' O que estd refletido 6 ef6mero, o que tu vds 6 voc6, do modo que rnais te conv6m' Mas, caro amigo, voc6 est6

diante de uma autdntica mdscara que'

desenharam


em tua cara. Tal qual fago com voc6 agora: desenho em ti mais uma vez, a estampa do cordeiro manso e, passivo que em tudo quer encontrar, e espionar como o voyeur, algo al6m, a ndo ser tua pr6pria estupidez. Mas garanto que se voc6 ler este texto at6 o seu final, perceberds que tanto

o texto quanto seu autor sdo pona-loucas e picaretas

do

mais baixo nivel. Ainda bem que voc6 p6de saciar e se divertir solitariamente e ao mesmo tempo p6de praticar sua melhor arma que o faz sobressair entre os demais companheiros: ROTULAR - ROTULAR.

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Nio seria a lucidez algo de suspeito, algo que encobre uma forma particularmente diabdlica da cegueira?

PRE

OTEITO

PEDRO OSMAR

Em 1946, a morte servia a pomba da paz aos comunistas e capitalistas que estiveram aliados contra os nazi-facistas.

Em'1945 a morte escrevia seu di6rio: "At6 o final do ano devo exterminar todas as mulheres, veihos, crianqas, jovens e adultos deste sopro de vida comunista que ainda resiste' (O capitalismo me garante) devo cumprir fi elmente, tranqtiilamente todas as tarefas Pagas Pela graga divina e gloriosa dos americanos amigos, al6m dos sovi6ticos e demais imperialistas contratados' Prd mim, quanto mais rica esta guerra declarada mais depressa eu me livro desse povo."

Em 1986 (Brasil) a rnorte serve o almogo das autoridades policiais devidamente Policiada' Comunistas e capitalistas se debatem pelo resultado feliz da copa do mundo para o Brasil em eleig6es que, na certa, terdo um bolo politicamente rachado entre si tuacionistas e oposicionistas. (Est6o todos em casa, partidariamente felizes) Em 1981 (Vida PoPular) a morte pernanece risonha e sonha um dia poder acabar de umavez Por todas com esse fio de esPeranga. 16

Em sua casa de veraneio, no saldo de chA da meia noite, repousam fotos risonhas dos antigos e vanguardeiros fascistas da hist6ria, homens, que em comum acordo, incendiaram a vida do povo em incineradores particulares, projetados especialmente pela morte em seus dias de carnaval e futebol, s6o lembrangas guardadas at6 hoie e lembradas diariamente, em discursos presidenciais. O riso de todos os comunistas, fascistas, capitalistas e nazistas ainda se fechardo nesta foice de ago puro comprada nas estranhas da consciOncia menina. Devo lembrar aos queridos amigos que o homem ndo 6 o mais bem sucedido dos deste planeta guerra lagartixa" gato, elefante ou Pav6o todo bicho naturalmente tem a sua intelectualidade a sua organizagAo e a sua cultura realidade naturalmente negada pelo homem.

O processo de evolugSo da humanidade, o mito do desenvolvimento econ6rnico, a proliferagSo do progresso das m6quinas, a extensdo de ideologias escusas, enfim a era de descontinuidade que o homem inaugurou com suas id6ias brilhantes e inteligentes levou+ne a resolv6-lo. Em 1946, a morte assistia pela televisSo lideres em potencial levanlando as bandeiras do nor para um povo ainda abismado com a aus6ncia de f6 em seus deuses sem mesmo comPreender direito o fendmeno civilizat6rio engasgado e cuspido


de espaEonaves, astronautas e todo um luar por entender. Em 1945,

a morie, num debate p[blico com

algumas liderangas

oponentes

e o povo em geral, diria que o fator humano 6 um jogo as_ sassino e que isso seria vivido, a partir de ocorrdncias imediatas, sem aquele suspense habitual, na melhor tradiqbo da sina do punhal de prata, contada pela lenda dos loucos peixes voadores. (A radioatividade corr6i). Artista do crime, a morte encara o homem como uma oata entre os pombos, ilhas de carne e desejos que enfrenta a fome com uma alegria desesperadora. Aventura e aq6o, 6 o fim da infAncia, restos da vis5o da 1a mulher de pernas abertas, bucetSo a mostra, coisa negra, rosea boca Erandes l6blos que t6o bem acolhenr beijos e gozos c1e rninha pica enfurecida. (AMAR a carne do pensamento 6 se saber ilimitdvel)

Em 1986, cai o pano e os 0ltimos dias da humanidade viva sdo contados minutos a minuto pela TV ligada em praEa p0blica e assistida pela pr6pria multidSo destruida. Qual era o verdadeiro objetivo de se terminar uma infAncia com balas? Que futuro tem uma juventude programada pelos comunistas,

capitalistas, fascistas, nazistas e monstros em geral? PrA que uma sociedade marcada pela inquietude de n6o se saber pr6 onde se estd indo? Estamos voltando ao caso do porco ensangijentado que pediu por tudo quanto era sagrado neste mundo, para ndo morrer assim, t6o desumanamente, t6o crist6o, nas m6os da faca afiadissima da fome popular. lmpacto e surpresa nessa investigagdo: A morte teria uma mio esquerda e uma mao crrreita abragando a coragem de alguns lideres

\,

\


ingenuamente embandeirados na idiotice do povo, programados pelos computadores do pent6gono. (A CIA tem o arquivo da nrorte em seu poder e pretende usdr-lo para roteiro de teienoveia). eles, todos eles, como n6s, sempre disseram que o caminho vai dar num abismo especificamente projetado para este fim.

N6s sempre soubemos, sempre somos cdmplices nessas revelaq6es, porque ficar estrebuchando?

Em 1981 {Direita, esquerda, vou ver?)

o povo desabou. O governo desabou. Quem manda se Pendurar no teto? O Brasil, 6 um pais de graga, prâ‚Źr quem quiser, estamos sempre As ordens, na ordem, na marra e na raqa a gente enfrenta esquadr6es inteiros e interminirveis de revoluq6es fracassadas. Armaq6es da morte, tipo imporlaQdo. No Brasil tudo caminha" O cdmico e o trdgico se amam, tudo 6 motivo para desenhos e varreduras de metralhadoras

em m6os juvenis. A crianqada brasileira 6 um gato na ja-

Urr, "louco" diz:

ABAIXO A FOME! um n'inistro diz: que fcme? H6 uma necessidade radical de mudar, mudar tudo. Regime, sociedade, consci6ncia, comportamento, cultura, arle, ideologia, politica, politizaqAo, politicagem, sexo, sexualidade, casamento, fan ilia, juventude, infAncia, velhice, tudo. Mudar tudo. Ou acabar com tudo. Daideve vir a revolug6o:

de baixo, de cima, de lado, de esquerda, de direita, para que muita

coisa seja provada. Pra que o povo saiba do que 6 capaz. Un,a revoluq6o independente, frutifera, florida, humana. (Mas, o homern n5o 6 comprovadamente urr filho da putissima?)

(O homem capitalista, comuntsta, nazista, fasostas, que n6o toma logo no cu e se manda, e se liberta, e vi prd casa da puta que lhe pariu de uma vez por todasr)

nela,

corpo bonito, mente odara, olhando a banda passar' (que bom! que belezal que barato!

portas se abrem, portas se fecham, e o regime 6 aquele mesmo, o de sempre, para ernagrecer. L\o congresso nacionaL as-eleiQ6es da tnorte sdo ensinadas e aprendidas

a golpes de discursos e risadinhas, regadas e caJezinho e

a que comparecem ministros do es-

Deve. Tem que vir uma revolugSo na vida brasileira. A maconha, o p6, o 5cido, pcderdo abrir essa porta? Dar o cu, chupar rola, chupar buceta, homem com homem, mirlher conr rr.ulher, tr6s a tr6s, quatro a quatro, poderio abrir essa poria? Futebol, copa do mundo ganha, copa do mundo perdida, poderAo

abrir alguma porta? Ser comunista implica? O que impli numa abertura para.a cabeqa (i)limitada do homem? C que pode deflagrar esta coisa toda que pode iniciar uma nova nova?

corrrandos de militares e o pr6prio presidente da repdrblica. Soam gargalhadas, bra!:as e graves como as novelas da rede globo, e todos pulam nessa, de ficar revendo vanguardas polfticas

internacionais e de se suicidar em praQa p0blica, para deleite do poder. Quantos suicidas? 120.000.000? (Brasil 1986) reag6es na cadeia. Nbm toCos topam. O consumismo anima a concorr6ncia industrial e comercial, introduzindo a ci6ncia/arte da propaganda para historiar toda essa relagSo do povo com a morle do povo com o poder do povo carnavalescan ente futebol.

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(As univer:sidades estudar6o essa n ztem6tica, armada cC,n1 C

Sentimento

de toclo o amor que ndo â‚Ź posslvel num regime capitalista, onde o e rror, enlatado, enbalado, 6 vendido a prestaqdo). Quando a juventude ccmpreender6?

"A lei 6 a garantia dos cidad6os!" Porque ser eleitor? Para votar em qualquer regime? Eleger qualquer filho Ca puta? "O diploma do eleitor 6 un'a atestado de patriotismo e amor ao deverl"


Voc6s nho sabern?

Em 1986,

Voc6s n6o lembreLm?

saudade, desejo, soliddo, inquietude, Acho que assim cruel,

toda civilizaqSo indlgena Brasileira foi derrotada nurzr guerra covarde, onde foram servidos pratos de mdquinas pesadas, metralhadoras, e gritos de comando. TcCa uma cultura guerreir4 de danqa, de cantos paraa natureza, por 6gua abaixo. Rio envenenado. Peixe cuspindo sangue. Gritos de comando, Embebitla en: 6lcool, a consciOncia india ficou na lem-

a vida se transforma num mar tdo profundo que para vi-

v6-la, 6 preciso mergulhar e morrer.

branga. Derne

a da morte, canto pelo guerreiro que n6o voltou da

caga.

Houve testemunhas, os pombos, que voaram nervosamente rumo ao nada. O poeta nem teve tempo de pedir perddo, todos estavam absortos em suas tarefas que os protestos de praxe nem foram lanqados. (Para quem ouvir?) para muitos, a morte 6 sempre um bom comeEo. a vida fica como prostituta, recebendo prazeres pagos, olhando muitas vezes, perplexa, suas fantasias descart6vets

serem cuidadosamente cumPridas por algum louco sambista.

,ee^-:

19


r!!

l

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ENCONTRAR A DESCARGA MAIS PROFUNDO DA ESTUPIDEZ PARA TALVEZ FOSSE NECESSARIO CAIR NO JARDIM DAS OLIVEIRAS' ON-iNrNiNN OU O TRINCO DO

cAos CRIADOR elclo A loucura 6 um

vARANDA

patrim6nio d-a humanidade' Con-

que 'o. homem normal 6 o divino despre,ft tido i"* iensibitidade' ;;;" Ciisto perturbou os homens sem pelo mundo ,o oe.Esul .s!.lTbilii;", sua 6poca a capital do do,'ii;au"rn 'ia Mundo: Roma. teria sido pin"Se eu fosse uma criatura normal' nulca -t"rlF ous +Lau trec' T o-ul nri H 6 tas i;;i' t is de loucura lttcida' a sobre ampla p.'qu""'"qidi6atizei Numa"""*"iiJa; galeria de artistas de todas as Jtiilt'ila""niontr'ei umi intosos e criativos' exatam ente iir Epij,tll, itEi sio maii' normalid-ade' nos momentos em qul iogem da cordo

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por conta pr6oria que quann6o. borisequia pintar' todo o munmelhores ".tuoJ"i6-iutil"t' fi''d"nos ?-o"-tT"d" quando melhores ,8 ,cnadores do, registraâ‚Źe -qge loucura' da nos seus impulsos

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o-caoiico

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"Crs nomens exatos sio insensiveis' Eles usam ou anteparo vulqarmente chamado de conveni6ncia sociais"' preconceitos lb'."I"c.tiJ 6orn ot

-


Maom6, s6 foi lucido quando disse que esteve no paralso durante um dos seus freqirientes ataques de epilee sia. Stefan Zwe,ig, o que escrev'eu "Brasil, Pais do Fuiuro", constatou que "os homens s6os, n6o podem perceber o sentimento delicioso que domina o epil6tico um minuto antes de seu ataque". E foi um testemunho em causa pr& pna.

Existem na imensa galeria dos criadores mdgicos e ca6ticos, os que sio congenitamente marginais ou-'banalhas maravilh,osos", como os definiu em iecente reuni6o, na casa de Ezio Pires, o critico liter6rio Oswaldino Mar-

ques.

Neste momento em que o absurdo jd ndo 6 mais o absurdo, porque o real 6 que 6 absurdo, quando acabo de retoc?r ou armar um poema, parece que acabei de cometer um crime. Vejo que ser arti;ta 6 ser permanentemente um enfermo. Precisamos de um imenso hosplcio, tipo enfermaria da criagdo ca6tica. Cervantes, tdo idolatrado pelas gerag6es de loucos normais, nada criou na mocidade al6m de uns fracos e medfoeres poemas que os seus amigos n6o tinham nenhum prazer em ler. Tamb6m algumas pegas de teatro de valor meramente histdricos e um romance pastoral. Mas Cervantes fica diferente na velhice ffsica, exatamente qgar.rpo-parte p?Ia a criag6o do ca6tico na sua gloriosa displiscdncia do Sancho Pancha...... vero do caos criativo o Dom Quixote. Valeu essa fase de Cervantes porq'.le em cada um dos artistas e dos seres rrivos, existe sempre a realidade grotesca e quixotesca. 7-ola fci sempre apontado como desajustadq que um dia, tentou at6 o suicidio, deixando-se atropelar para poder construir um dos tipos de seus contos. Zola se dizia tamb6m perseguido por morcegos imagindrios. Flaubert, sennpre solitArio, foi abandonado pelo pai que era nolAvel cirurgido, por repress6o da familia que via no artista ,,um trambolho metido a poe-ta e a vagabundo". Dante que criou ou recriou seus conflitos interiores na "Divina Com6dia", tinha um temperamento narcisista, e quando menino era acusado de organizador de todas as cohfus6es no col6gio interno. Outro narcisista foi Ganett, que usava cabeleira postiga para esconder uma cicatriz da nuca ao alto da cabeleiia. Ega de. Queiroz transformava seus amigos em personagens e invertava sempre que estava multo mal db sarjde. Consta que chegou a conviJar seus amigos para o seu pr6prio _enterro, "para poder sentir antecipad'amente as reag6es".

E a demdncia em arte tem uma extensa galeri4 onde n6o falta o Baudelaire, de sensibilidade m6rbida da infAncia at6 o t0mulo; Frangois Villon, apontado como um canalha e um pervertido; Vargas Vila, cuja vida foi uma tormenta permanente; Fram Kafl<a, o angustiado que ndo se libertou; Henry Beyle que usava tamb6m o nomb de Stendhal, era um tenfvel mistificador, e como Prousl com as suas taras sexuais. Petrarc4 Swifl Moli6re, Pascal, S6cra tes no quadro dos epil6pticos. Flaubert, Maupassant, Byron, Goethe e Tasso eram vitimas de alucinag6es e viviam vendo assombrag6es... Voltaire, Quincey, Hoffmann, Nietzsche e Foe, todos na lista dos perturbados pela hipocondria. Na li6ta dos homossexuais entram bem na hist6ria do caos criador,

Shakespeare, Apollinaire e Andr6 Gide.

Seria necessdrio muita leitura dos autores cadticos,

com ajuda da metodologia freudiana e maxist4 para uma ampla visita a essa grande enfermaria dos grandes criado res, de todos os tempos das artes.

Acredito que efetivamente Oscar VVilde, pelo material

, de anAlise que deu ao mundo, seria o porteiro dessa enfermaria tdo rica de artistas. Um dos analistas de \Mlde, foi o cftico Agripino Griego, para quem a decondrrcia do desenfreado narcisimo significa a um s6 tempo, a fascinagio e o pavor do Cristo. Ao ler Oscar Wilde, Griego sentiu vinte s6culos de sensibilidade crist6, pesando no sangue do ar-

tista Oscar O'Flahertie Wills Wilde, esse seria apenas um nome feio e chato de se escrever, se o artista n6o tivesse experimentado o cdrcere, pela acusagdo do crime de atentar c_ontra os jA chamados naquela 6poca - "bons costu-

mes" , E V/ilcje seria apenas um artista normal na psicanalisag4o 9?s obras de at es, sem o "Retrato de Dbrian Gray". Dignifiqoy a vida com as suas atormentadas preocufac6es. 6 o que vemos. Como tudo que dignifica a vidd" a arte, a=principal dignificadora, prov6m mesmo dos loucos. Rccordo que num hospicio de Jacarepagu6; no RJ, um dia apareceu entre os que foram colocados ali como loucos varridos, o Gabriel. Era o mais temido e falante, comegou a concentrar toda a sua energia em pinturas. A administragdo do hospital ficou logo animada, comprando telas e tintas. A imprensa divulgou alguns quadros do louco, que mereceu bons coment6rios das criticas de artes pldsticas. Tenho ainda as revistas e jornais da 6poca tratando desse caso do louco Gabriel, "o."pintor do hospicio". O Gabriel parou de pintar. Levou muito'temoosem rbvelar para nirrgu6m o motivo. Por que voc6 ndo finta mais, Gabriel?.Por que? As perguntas folqf qni.dia respondidas: - "Porque ndo tomaram providdncia". Gabriel foi telegrdfico. Fizeram tude; Contrataram os mdhores psiquiatras e at6 os s6bios gregos para tentar arrancar mais alguma coisa do pintor, al6m da frase. Nada At6 hoje ningu6m sabeique "provid6ncia" 6 essa que nlo f_oi tomada e intenompeu a tes6o criadora do lotico pintor

Gabriel. Quase rnudo e muito triste, Gabriel mondu no hospfcio, vftima de cdncer na gargantAr.e usando apenas a intelig6ncia dos gestos considrerados "obscenos"....'

E uma das melhores literaturas, de loucos e perseguidos, continua sendo a produzida nos livros da Bfblia, principalmente no Novo Testamentq com os lances incompreros oa trag6dia do cristianismo. E a linguagem do silOncio continua a mais criativa. O silOncio de Jesus Cristo, o fundador do cnstianismo, tamb6m gritqu e_perturtou as autoridades da capital ldo mundo, que e-ra Riyna. Jesus falava pouco. E m6nos ainda no momento em que foi levado para morrer na cruz (entre dois ladr6es) acusado pelas suas pregag6es subverstvas.

Lances da loucura crista: Pilatos lava (ou leva?) as mios na sua omissdo condenat6ria, dizendo, como Go-

verrcldor, qqe ndg via nenhum mal naquele pregador que g9 djz r9i_. pgOois de ter fugido da cdmparifrif Oos pbis (Josd e Maria), Jesus aos 12 anos foi retil.ado Oe umd Sinagoga onde fazia perguntas perturbadoras aos chamados "doutores das leis". Feito esse registro, os autores dos li-

vros do Novo Testamento s6 voltam a'falar de Jesus, quando ele jd tem 30 anos. Durante 3 anos falam, mas sem qualquer refer6ncia sobre a clandestinidade cristA de 22 anos.

E os autores do Novo Testamento evitam falar de

uma juventude machucada, ensimesmada de quem gastou ca6ticamente a energia a que teve direito. Porque a omiss6o?

Lpucos moralis,tas foram condenados em praga p0blica: E o que revela o episodio biblico do encontro be Jesus com a prostituta L4a.ria Madalena.


I

Urna pequena multiddo armgpa de pjdras e- porretes apareceu nas ruas estrqitas de Nazar6. Estava furiosa e dbseiava a condenaQdo sum6ria de Madalena, que cona acusagdo versdva com homenS em p0blico e segundo foi "apanhada em flagrante'adult6rio". Com Madalena pres4 a multiddo foi at6 a presenqa de Jesus..Para mostrar que o absurdo eram os preconceitos daquela sociedade, Jesus cJesa;mou os moralistas enfurecidos corn,uma lrase apenas. E o 0nico momento em oue aparece nos livros do Novo Testamento, alguma coisa escriti pelo pr6prio Jesus. E ele, usando uma bengala (parecida com a de Carlitos) escreve na areiazinha da rua que o vento sopnara da praiA essa sentenga eterna

-

"Quem'n6o tiver eulpa que atire a primeira pedra".

\

EXCLUSIVO:

A diferenga entre os sexos nio existe: As mulheres tambdm peidam


TUDO O QUE VOCE SEIJIPRE QUIS SABEH SOBRE O VIBRADOR E TINHA II'IEDO DE PERGUNTAR

O artefato er6tico desmente as duas ideologiag na verdade solidCrias, da boa natureza incorruptivel (Deus sabia o que estava fazendo, os 6rg5os que temos nos bastam) e da necessidade como fndice de autenticidade (o vibrador na falta de uma pessoa real). O vibrador, como fenamenta-6rg6q n6o oloca apenas o problema eoonOmico do paliativo, 6 tamb6m o gozo em suspensio, feticfrizado, gelado e sempre disponivel. E, portanto, 6 tanto uma seguranga contra uma eventual falha do corpo, quanto uma duplixigao do orpo a nfirel de sue partes genitab. Ele nfo se rctabna apenc 6n a ordem da satFfeao slitaria

oomo no onanlsrno), mre tamb6m oom

a

desordem

da libido: ete multiplica os sexos, permite

aos amantes escapar da fixagSo dos pap6is (a mulher pode enrabar seu parceiro, assim como uma garota pode penetrar sua colega), em suma ele n6o serve como compensagSo, mas determina circuitos cada neo mais amplos de descarga. Com ele, n6o existe mais uma pretensa naturalidade do corpo, n6o h6 mais um enraizamento funcional dos 6rgios, nem a irreversibilidade do tempo: o vibrador 6 energia para sempre (eregio pemanente) que retorna sob a forma de energia de rendimento (prazer, perturbagio): o que ele p6e em curto'circtrito 6 a divida (a necessidade de um reparo fisico), 6 como um crddito que nunca exigisse reembolso. Sob todas as formas possiveis (pâ‚Źnis de mat6ria pl6stica munido de pequeno motor el6trico interior que lhe pemite redizu um pequeno movimento de vaiv6m,.dotado al6m disso de um visor luminoso e de um reseryat6rio que pode ser enchido Gom um lQuido'quente: esleras das gu5ixas; olisbos antigos: sexuaiq cinto de anticastkladg sutiS com coleira de cachono; retrovisores para ver a si mesmo' etc.), o aparelho para pronooar o gozo retira o corpo do dominio de sua fatalidade biol6gica e diz o seguinte; nio hd artiffciog nio exis{e naturez4 o oorpo copulador jC â‚Ź uma mdquina, uma maquinagao, uma mecdnica. Donde o fascinb geral dos erotOmanos pdos compteioi instrumentais (m6quinas ,.0-""nas, celibatdrias, kafkianag surrealistas bicideta automasturbat6ria mdquinas orgon6tigas de Reich, redes telefonicas dos pervertidos urbanog ligag6es er6ticas em circlito-fechado de TV, daia-prbgramag6es de Ballard): ndo hd um suporte bom ou mau, o pâ‚Źnis j{ 6 pdtese libidinal, a perna, o brago, a 6oca ;C s6o mdquinas, nenhuma mediagfo 6 vergonhosa (a menor posig6o j6 o 6), tudo 6 mediag6o, tudo 6 suporte, mecanismo, alavanca, sistema instrumental: ou aind4 em outras palawag o erotismo nada tem a ver corn a sexualidade.

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-


Olhos do um homem psrugl5o e de um homen lasch/o

Cabelo de um homem slmples; barba de um homem cruel

Narlzes de homens valdosos e lasc,tws

Fronte de um homem llberal o do um hornsm lrascfuel

llblog d€ um

homem falso e laschro e de um homem slmples

Cabslo de um lndlvfduo dotado d€ caraler arrogante e de loutro dotado de mrater fram

Homem e mulher de excelente

€rater

Narlz de uma mulhor alfogantg e

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mderosD e de um homom lmpotsnte

ffir"t

t"ilo"re

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UTOPIA:

Altdo com

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SOLAS DE

cHumBo JEAN-MARC RAYNAUD

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E freqiiente, para um revolucion6rio, se fazer tachar de utopista, idealista, doce sonhador ou iluminado. Quando se procura destruir unn sistema social que mistifica o intoler6vel num ritrno de crescimento constante, quando se fala em extirpar para sempre as rafzes da exploragdo e da opressdo do homem pelo homem, e quando se prop6e, reconstruir um novo mundo sobre as cinzas do antigo, lanEa-se a d0vida nos espiritos, pois se toca nos problemas de fundo. Assim tamb6m, ao inv6s de cruzarem suas espadas com as nossas, numerosos sio aqueles que preferem fugir ao debate, jogando em nossas laces a etiqueta "infame" de utopistas. E muito mais simples. O senhor-todornundo, teu vizinho, teu colega ou teu bofe, ndo te dird jamais que eles s6o contra a liberdade, a igualdade, a ajuda m0tua, a gestdo direta, o federalismo... Ndo, eles sdo firmes partidArios destas id6ias. Simplesmente, eles pensam que sdo coisas impossiveis de se realizar, e 6 entio com compaix6o e comiseragdo que eles acolher6o teus prop6sitos.

E 6 ainda assim que sobre os mesmos temas, os

re-

formistas com olhares de mel, te explicardo, com a m6o sobre o coraqSo e a voz trdmula, que 6 necessdrio sonhar, mas que alguns acres em purgat6rio socialcomunista valem mais que centenas de milhares de hectares em ute pia: E assim, finalmente que os cosmonautas da galdxia Marx e todos os -carnaradas- da revolugio, te demonstrar5o esmagando-te em desprezo com suas certezas pseudo+ientlficas, extraidas das prateleiras pAlidas dos supermercados do fingimento que a revolugSo consisle - o matedalisrno histddm exige

-

ern adiar para arnanhd o qle se

pode fazer hoje e em lazer tr6s quildmetros em marcha-r6 antes de se atingir o ponto a que se prop6e e que est5... a dez metros d frente. Esses caras, sobretudo esses caras, tentario incessantemente fazer com que culpabilizes teu desejo por um mundo radicalmente diferente e tua vontade feroz de mudar as coisas e a viCa. Tamb6m, as nAdegas cerradas, o olhar zebrado de arames farpados, o sorriso inchado de ironia, a testa empolada de sufici6ncia ob tusa d seus eternos 6culos escuros sobre aquilo onde de25


veria estar a intelig6nci4 eles te injuriardo de epitetos de todos os tipos do estilo irresponsdvel, pequeno-burgu6s, reacion6rio, humanista, aliado objetivo do poder, do grande capital, da direita, da ClA, da policia secreta marciana... Para eles, tu serfu aquele que nlo entende nada da dial6 tica. Um idealistal A "enGULAGa/' ou a psiquiatrizar com toda urgOncia!

Nestas condig6es, desde sempre ou quase, os revolucion6rios, todos estes que trazem um mundo novo em seus coraq6es e que procuram laz6-lo passar com sucesso no teste da realidade, tentam responder adiantadamente ao andtema. Tanto no plano te6rico quanto no plano pr6tico, eles se esforgam em provar a viabilidade de seus projetos, e cada vez que se apresenta a ocasiSo, eles se sobressaem com firmeza da utopia e do idealismo. Enfim, sem negar entretanto a necessidade do sonho e a importAncia da antecipaqio do futuro, eles tentam provar que suas propostas pertencem inteiramente ao universo do possfvel e que por via das drlvidas, elas est6o na ordem-do-dia, do presente.

Como se v6, numerosos s6o aqueles que se esforqam em precipitar a revoluQio nos braqos da utopia, e 6 um

combate permanente para

se opor a estas manobras.

Tamb6m, 6 com uma certa surpresa que se pode constatar que, desde alguns anQS, um certo n0mero de cde loucos da revolqg€q ora se dizem adeptos da utopia, ora tentam reabilit6.lb.

PARA SERMOS REAUSTAS, PEQAMOS

O niPOSSi-

VEL

De fato, seus procedimentos s5o bem fAceis de se entender. Para eles, a'essOncia mesmo daqueles que acusam os revoluciondrios de utopia, o ser profundo, o senhor-todomundo, refonnistas e policiais da mudanga, 6 antes de tudo s'ua recusa de pensar o porvir e sua incapaci-

dade em imaginar o futuro. Assim, como a utopia possui uma incontestdvel dimensdo de sonho e de antecipaEdo do futuro, estes camaradas v6em na utopia um progresso certo (seguro) em relaqSo A mis6ria das tropas inumerdveis de todos os gestionArios do presente. E ora eles se mostram adeptos.da utopia, ora eles tentam reabilit6-la. E em seguida, digamos claramente, retomam por sua conta os insultos,ao adversdrio, se enfeitar,se servir de estandarte, parece um pouco provocador, e a provocaQdo, no pequeno mundo da revolta, se mant6m muito bem. Evideritemente, se a utopia nio fosse outra coisa que erupgSo da imaginaqSo, revolta contra o intolerdvel e o desejo de reconstluir inteiramente o edificio carcomido do velho mundo, poder-se-ia aprovar esta atitude de reabilita96o. Melhor seria preciso ser parte ativa. Mas, e h5r um mas de peso, a utopia ndo 6 somente isto.

26

SOBRE A VERDADEIRA NATUREZA DA UTOPIA

A utopia, contrariamente ao que pensam certas pessoas, n6o 6 somente esta propensdo a sonhar com o futuro bem elevado que lhe atribui o homem da rua. E tamb6m outra coisa. Uma vontade imbecil de parar o tempo. lmpedir a hist6ria. Colocar a vida numa redoma. Uma recusa clara e nitida da liberdade do individuo. Uma afirmaqdo da mesma forma clara e nitida da, orimazia do coletivo sobre o pessoal. Uma apologia da hierarquia. Um hino ao Estado e, afinal de contas, uma ode ao totalitarismo. E tudo isto se encontra no pensamento utopista de todos os tempos. PlatSo, em A Repfbli;a e As Leis, foi aquele que abriu o baile. Depois houve Arist6fanes com sua "Assembl6ia de Mulheres"; Phal6as de Chalcedcline que preconizava uma cidade igualitAria e igualizadora; Ovidio e suas "Metamorfoses"; Virgilio e sua "lVi Ecloga"; Thomas Morus, que foi a origem do termo utopia (que signific4 em nenhum lugar) e seu a "Utopia"; Erasmo e seu "Elogio da Loucura'; LeSo Batista e seu "De re aedificatoria"; Campanella e sua rCidade do Sol"; Francis Bacon e sua "Nova AtlAntida"; Hobbes e seu "Leviathan"; Fenelon e sua T6l6maque"; Fontenelle e sua "Rep0blica dos Fil6soG"; Restif de la Bretonne e suas "Gynographes", sua Andrographe' e seu Testmographe"; Robert Owen; Wilhelm Weitling; Fourier

e seu "Novo Mundo Amoroso";

Saint-Simon e seu "Jardim do Eden"; Etienne Cabet e sua "Viagem a lcarie"; William Morris... E em todos esses autores, em todas as "experiOncias" que eles puderam suscitar em vida ou apos suas mortes, sempre o mesmo discurso. Uma recusa da sociedade do momento. Uma recusa de toda tentativa visando somente reformA-la. A vontade de destruir tudo para reconstruir sobre novas bases. Mas tamb6m um igualitarismo de fachada. Uma hierarquia de fato dominada mais freqr-ientemente pelos fil6sofos e pelos cientistas. Uma negagSo do indivlduo. A afirmaqSo da superioridade e do reino exclusivo do coletivo. A codificaEdo burocrdtica da vida individual e social. O papel central do Estado, de seus funcion6rios e de sua vrol6ncia institucionalizada. A pretens6o b perfeig5o. O desejo imbecil de parar o tempo, pois, 6 bem evidente, uma sociedade perfeita n6o tem mais necessidade de evoluir, de se transformar, de se modificar ou de se revolucionar.

A utopia, entdo, 6 tamb6m e sobretudo tudo isto, e 6 dram6tico se ignorar estas coisas. E 6 por essa razSo que 6 perigoso brincar com as ambigLiidades. Na ess6ncia, a utopia 6 totalit6ria e a revolug6o, iibertAria. Tentar uni-las ou bancar os intrometidos, os alcoviteiros,6 est0pido e ndo contribui em nada em tazer avanQar o debate sobre a maneira de destruir o mais rdpido posslvel o velho mundo para reconstruir um novo.


os ESPAQOS

INFNIrOS DO hnAGlNARlo SUe VERSIVO

Ser revolucionario, ndo se repetird nunca o bastante, 6 ser capaz, inicialmentq de analisar o presente e o passado. E deduzir desta andlise a necessidade de uma ruptura revolucion6ria e de uma destruigdo da antiga ordem e do conjunto de suas bases. E imaginar o futuro, um futuro li_ vre de tudo aquilo que estd na origem do intolerAvel do momento. E 6 tomar o presente no peito e na mana para lhe tazer transpor o passo ao futuro. Mas ndo 6 substituir um intolerdvel por um outro intole_ rAvel. Um sistema de exploragdo e de opressio por um outro sistema de exploragSo e de opressdo. Um Estado burgu6s por um Estado pseudooperdrio. Uma burguesia privada por uma burguesia de Estado..., e ainda menos subslituir uma merda por uma merda ainda pior, o totalitarismo.

Em conseqriOnci4 n6s ndo temOs nada a ganhaf em nos mostrarmos simpdticos ou a esbogar um flerte com a

utopia. O 0nico ponto comum que n6s temos com el4 6 o desejo de destruir tudo para tudc recorstruir e este

sentimento da necessidade de cornegar a partir de agora a pensar e a viver o futuro. Mas pdra af. Ern seguida, nds divergimos fundamentalmente. . . A utopia quer parar o tempo. N6s queremos que.o tempo n6o pare nunca. A utopia quer limitar o espaqo (o espago, a arquiletura, sdo planificados estupidamente). N6s queremos que o espaqo seja m6vel. A utopia quer a hier:arqui4 0 Estado, o totalitarismo. N6s querernos a igualdade, a livrc federagfio dos indivfduos e dos grupos fumarps, a liberdbde...

Entdo que as coisas sejam claras! Contradamente ao senhor-todomundq aos reformislas e ac vampt're da revolugdo, n6s incluimos o sonho no nosgo sonho. Nds kazemos um mundo novo em nosso e nossa imagi. nagSo 6 explosiva. Mas n6s ndo tenros necessidade tanto de marchar ao passo cadenciado da utogia A utopia 6 um anjo de solas de chrrnbo. Fascinante, mas completamente psicopata. O imagindrio subvesivo, o qual n6s nm reclamanos, 6 de uma outra esp6cie. Daquela da esperanqa De uma esperanga sem nenhum limite.

c@b

Le.Monde Libertaire", ne 474, de fevereiro 19g3 Orgdo da Federagio Anarquista.

.

27


A ESTETICA D0 FRACASSO E A 0rutcn

ounAvrt.

QUEM runo corupREENDE

0 FRAcASSo rsrA

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ENTREVISTA

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COM UM CRIADOR DE VI6ONAS

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Neste n0mero, temos o prazer e a 'onoratezza' de publicar uma entrevista corn Ezio Fldvio Bazzo, o idealizador, 'fondatore'_ e ex-editor desta vibora, que eq 1981, ainda quando os gorilas 'estanam soltos e os por6es clandestinos cheiravam a sangue fresco, langou 'ingenuamente'o n6mero 01 desta revista. Aproveitamos para informar que somos radicalmente contra qualciuer tipo de entrevistas, por vdrias raz6es, a principal delas porque n5o acreditamos que algu6m seja o suficientemente importante para tal... se nos permitimos essa inf6mia; 6 porque estamos certos de que esta n6o ter6 nenhuma conotagio com as sapi6ncias irigentes.,..

ViBORA - Contra o suicidio? EFB - De nenhuma maneira! Sou, isso sim, contra os milhares de ltrniddc que sfo experimentadc mrno suicidios. Todas as mortes ocorridas sob pressio, por arErslia ou desespeo s5o honicidios, n6o suicidios. O Estado, a famllia e a sociedade como um todo deveriam ser processados por essas mortes. O suicldio original 6 sempre um ato natural, tranquilo, voluntArio, definitivo... um verdadeiro ato de f6....

-

VIBORA Um ato de f6? EFB - Sim, porque matar-se 6, no fundo, um tremendo ato de f6. 56 se malam aqueles que cr6em que fora deste mundo haver6 outro mundo, que al6m desta

vida haverd outra vida. N&, os que estamos com os p6s atolados na poeira das estradas e que temos certeza de que a morte 16 o fim absoluto de tudo, de todas as coisas, n6s n5o calmos na armadi-

-

VlaOnn O que motivou o nascimento da Vibora? Ezio Flavio Bazzo- Basicamente o desesperol O regresso ao, Brasil, mesmo quando se estava vivendo no Congo, 6 desesperador. Aqui tudo era (ou 6) tribalesco, irreal,

irrespons6vel, Kafkiano... Algumas pessoas desesperadas se matam, outras tentam langar-se h vida... foi o meu caso A Vibora nasceu de uma vontade absurda de viver...

lha da pistola, n6o nos suicidamos porque nossa ideologia 6 b6sica e radicalmente deste mundo. VIBORA - A revista nasceu ateia? EFB - N5o, nasceu anti-teista. A indiferenEa nio era suficiente, era necessdrio lutar contra o mito, contra o dogma, contra a patologia.... VIBORA

-

Voc6 acredita que a maioria dos leitores desta revista

sio

ateus?


EFB

-

De nenhuma maneira. 9fl" sio religiosos fandticos, macumbeiros, supersticiosos, misticos e fi6is... A esquerda a direita, os do centro, os viados e os Don J,uans, todos estao infestados pelo delirio de que 6 possivel RE-LIGAR-SE, pela megalomania de que basta cair de joelhos para entrar em contato com o Senhor do Universo. Vitimas incurdveis do medo...

viaOnn

-

Falando ern !iado', algu6n afitmou que esta revista 6 id6ntica a uma revista Gay alemb, isto 6 verdade?

-

Pode at6 ser... os Gays alemdes s6o mais cultos e mais politizadm que muitos de nossos PHDs. Agor4 wna ccisa 6 ceft, esse tipo de cdlica sernpe tern como objetivo principal explicitar o pedantismo e o exibicionismo de quem estd fazendo a critica. Os criticos em geral, s5o uns charlat6es vulgares... uns intelectuaizinhos de meia tijela. V|BORA - Qual 6 lua opini6o sobre os intelectuais ou so. bre a "intelectualidade brasileira"? EFB - E dificil opinar sobre isso sem ferir a essOncia narcisista desses grupos. falvez no Brasil nem exisEFB

tam intelectuais. Se desclassificamos as panelinhas tipo Pasquin, tipo USP, tipo UNb, tipo lnstitu-

tc

Psiernlsticc, outos papagios que aparecs'n na TV dalianente, a charnada intelectualidade tra sileira desaparece do mapa. Plagiadores vulgares, poetas de gabinete, moralistas disfargados sob os postuladc progressistas, eis ai o prot6tipo de nos- - _

. sa intdligenEiavisOnn Para quem viveu fora -

EFB

-..,,'7;,,:.i'1"'

do

Brasil...

i:14

- Para quem viveu fora do Brasil, Kleber, estd claro e transparente que este pais estd intelectualmente atrasado mais de um s6culo em comparagdo com outros paism, inclusive latino-americanos. EstA cla. ro que aqui pululam progressistas Ballantine's(para usar uma expressSo do Brizola) e intelectuais tipo

Boteco, os quais n6o fazem mais que reproduzir um monte de besteiras que a Europa e os EEUU ja abandonaram h6 muito, al6m de promover a menti. ra, a descrenga e a neurose coletiva... VIBORA - Falando em neurose, vocO estava planejando um lnstituto de Psicologi4 que tipo de instituto sera, tipo os institutm psicanaliticos? EFB -Ora, 6 exatamente o contr6rio! N6o teria sentido-engendrar outro instituto como esses que existem por ai... nada de velhotes autoritd,rios, exploradores de uma burguesia que tem dinheiro e que 6 burra o suficiente para deixarse o<florar em sil6rrio... nada disso. O que pensaros 6 algo radicalmente diferente, um insti tuto Anarco-Nie2sche-Freudiano que estudara, junto com seus participantes, os meios, as formas e as estrat6gias para desmantelar uma por uma as armadilhas sociais que, em vig6ncia 29


desde s6culos, fazem das pessoas uns chimpanzds alienados. NF.o somos ing6nuos ao ponto de seguir confundindo (ou fingindo confundir) proble-

mas sociol6gicos com problemas psicol6gicos... abominamos todos os "professores" que seguem repetindo como uns papagaios que "todos somos neur6ticos". Acreditamos, ma.is bem, que todos somos alienados, politicamente enganados, socialmente explorados, moralmente confundidos, eco-

rpmicamente roubados, sexualmente castrados, etc., quest6es que devem ser tratadas nas ruas e ndo em consult6rios...

V|BORA EFB

-

- Quem participard

dos trabalhos deserwolvidos no lnstituto? Aqueles que quiserem, mas deve ficar claro que daremos prefer6ncia aos individuc que estSo sendo despedagados pela sociedade, me rcfiro a6 ne gros, aos mendigos, aos viados, ac adolescentes, bs putas, bs criangasdmtenadas, que vagan ncite e dia sob os olhares covardes dc doutores e das

autoridades... VIBORA - Serd tipo uma irstitutigSo filantr6pica? EFB - Niq Nurrca! N6o ssnm filantropos, odiamos a fi-

lantropia Serd urna irslituigSo que lurnionard me' vida por iddas, pelo ddo e pela fantasia de que os seres podem por d sde lirimr d6 idedqt'as m+ dievais que lhes foram introjetadas d forga na ca-

c

induzem a um rodopiar hist6rico ou a bega e que uma in6rcia catat6nica. V|BORA - Das infimeras psicoterapias existentes, qual voc6 acha mais eficiente? EFB - Todas sdo in0teis. 56 servem para adocicar as pilulas e fazer passaro tempo, tanto para os terapeupacientes, N6o queremos instituir tas como para outro tipo de terapi4 devemos, isto sim, destruir as CAUSAS do aniquilamenlo dos individuos, impedir que as criangas e os adolescentes sejam sistemAticamente massacrados pelos adultos (pais, professores, juize, vizinhos, padres, etc.,)... mas temos drividas se isto serd possivel num sistema Pr6-Capitalista cotno o nosso. Aqui tudo facilita a confus6o psiquica das pessoas, sejam elas ricas ou pobres, brancas ou negras, sociais ou anti'sbciais... vivemos numa roda viva onde tudo 6 mentira, onde a raiz das coisas est6 apoiada na mentira, na simulagdo e na teatralidade.., VIBORA - Teatralidade? EFB - Por favor, ndo conote com o teatro grego, pois seria un crime Ali6s, deFds dc gegm n6o se criou ab solutamente nada, ndo se disse absolutamente nada, nem sobre artes, nem sobre ci6ncia, nem sobre filosofia, nada. Max, Freud, os Profetas, Bakunin e outros, ndo fizeram mds que plagiar descarada' mente os gregos. Falava em teatralidade no sen-

6

30


tido pejorativo de que nesta Sociedadezinha canibal onde vivemos, ludo 6 regido pelo engano e pelo auto-engano. Nada se poderA lazer de s6rio e de emancipador neste pals enquanto os jornais e a TV seguirem no nivel que est6o, enquanto seguirem sendo veiculos p0blicos de imbecilizagdo coletiva. Ligue a TV e analise... abra os jornais e analise... um bando de idiotas com o poder de invadir as ca-

s6, errher c

filhm de mentiras, e valores patolG gicos e de infAmias que coroardo a ideologia das

pessoas... VIBORA - Anti-democrata?

.

EFB _ para este momento sim. Ndo sor.l democrata, para hoje, porque entendo a democracia como o estAgio mais avangado de uma sociedade, que s6 poderd vigorar juntamente com unta sociedade anarquista. Falar em democracia como se fala por todos os lados 6 uma afronta A intelig6ncia e a consciOncia. Falar em democracia em um sistema semi-feudal 6 uma piada, uma burrice sem limites...

V|BORA

EFB

-

-

VocO escreve para alguns jornais, n6o 6?

Escrevia. Depois que descobri que uma sala de redagdo n6o difere em nada de uma sala <ie 4elegacia ou de uma imobiliiiria, passei a sentir vergo nha. A imprensa do pais estd subjugada A CAmara e ao Senado, ao Clero e ao empresariado em geral, por conseguinte, ndo pode ser levada a s6rio. As noticias internacionais que a TV e os jornais mostram ao p0blico, s6o de um primarismo e de uma parcialidade de fazer vergonha a qualquer sujeito que tem uma visSo mediana dos acontecimentos politicos internacionais. As empresas de noticias estdo, em 99/o dos casos, nas mSos de Multinacionais que inventam, distorcem e confundem os fatos, jogando com a impot6ncia e com a ingenuida-

de das massas... E a Nova Rep0btica? EFB PlatSo deve tremer na tumba! V|BORA - E a Constituinte? EFB Uma Tone de Babel... uma suruba entre dominado-

VfAOnn

-

-

-

res, entre latifundiSrios, entre empresdrios, entre ricos politicos que n6o representam nem o mais vil dos eleitores... 6 uma vergonha contemporizdf:'corl essa com6dia. Nossos filhinhos est6o fudidos. VIBORA - Que lazer? EIB - Solicitar um passaporte amanh6. VIBORA

s.-oat=--

EFB

- Para onde?

- Para qualquer lugar do mundo que ndo tenha sido colonizado por portugueses.

-

ViBORA E a grana para sobreviver. Pais EFB E prefefvel ser co,reirc ou leSo de chacara do que qualquer coisa aqui... A vida dura apenas oito d6cadas, 6 um crime jog6-la pela janela como se fosse um preseruativo usado..._

-

er

31


Este pais seguird como ldpide da cultura jesuitica ou se emanciparA como despensa dos asidticos, norte-americanos e europeus? EFB - A cultura jesuitica estA longe de necessitar de uma ldpide neste pais, pelo contrdrio, ela ocupa os postos mais elevados na politica e na educagio nacional, est6 viva como nunca. Quanto aos estrangeiros, estou cada vez mais convicto de que os principais inimigos de nossa economia, de nossa cultura (indios, negros, pobres, estudantes, desempregados, doentes mentais, etc.), ndo s6o estrangeiros, sdo pessoas com nossas mesmas origens, s6 que, por vias ilegais e corruptas chegaram a entronar-se no centro de pseudo castas que agora os protegem com pistoleiros e tudo... S5o caipiras desprezfveis que sustentam essa vergonha... no exterior, todo mundo sabe disso. V|BORA - Por que o Estado sempe sugere aos individuc solug6es coletivas? EFB - Porque 6 exatamente esta a fungfio do Estado, aniquilar o senlimento de individualidade, baixar o individuo dos picc da montanha para os rebanhos da planfcie, reduzir todo ato rcndrril6b a atos evolucionddc, corverter manifestag6es cda doras e 0nicas em eventos mediocres e massifica dos. E 6 incrivel como a mdquina estatalcumpre rigorosamente com seus objetivos... ViBORA - E verdade que tanto a individualidade que c

vigOnn

-

capitalistas como os comunistas olerecem 6 um passo de emancipagdo na conquisia do homem novo?

EFB

- Nlo. A individualidade proposta por ambos 6 irreal e enganosa. Nio se pode chegar a ser individtro em nenhuma sociedade que ainda n6o tenha superado o que hoje chamamos de "familia", "Religiio", 'Escola", "Estado", etc., com todas as idiotices que cada uma dessas entidades promove e administra sobre as pessoas, desde que nascem at6 o dia em

que rnorrem e sho enterradas num cemit6rio.'Nada 6 mais idiota, ridiculo e dispendioso gue um cemit6rio. Sinto uma vergonha sem limites ao saber que um dia, compuls6riamente, serei enterrado num deles... E muito mais nobre ser jogado no mar ou passar por um fomo. o Hor.rgn no\ro, e o homem de Neanderthal... VigOnn - A masturbaqdo 6 mais uma das indmeras inveng6es do capitalismo ou 6 um ato revolucio n6rio?

EFB

32

-

A masturbaqdo pode at6 ser vista como "ato-revolucionArio" quando 6 praticada paia ironizar as seitas e as ci6ncias que a proibemr mas em uma sociedade onde a sexualidade fosse algo espontAneo, masturbar-se seria considerado sempre' como uma aventurd..ins6lita e ex6tica. Atualmente a re-

press6o social 6 tdo cruel, tdo hip6crita, que a masturbag6o passou a ser algo cotidiano e "normal" entre nossos punheteiros, uma catarse solit6ria, no exilio Ce um quarto ou de um banheiro p0blico... Existe algo de assr.rstador e de exbatenesfre na introspecqdo e nos gestos de algudm se masturbando... Talvez seja o gesto que mais nos faz lembrar nossa semelhanqa com os gorilas, que mais nos dii conscidncia de quSo miserAvel 6 a posiqSo do SER diante do universo. V|BORA - E para garantir a propriedade ou pelo apelo das rnulheres que os homens se iludem e buscam uma Ercgio Petmanente?.

- Os trotkistas

podem confundir conr Rwolugdo Pemanente, ndo 6! Acho que nem pr.;r urha nem por outra, mas simplesmente, para compensar a flacidez permanente. E uma trag6dia para o homem "civilizado" ndo saber nunca se seu pau vai levantar novamente ou Se a ereEdo de ontem foi a 0ltima, essa dfvida o leva a testar-se permanentemente. A assimetria entre o desejo (neur6ticc ou 1l5o) e a resposta fisico-fisiol6gica dos homens 6 algo brutal. Como as mulheres, os homens est6o permanentemente lutando e buscando o impossivel- mais ou menos como se nosso amor habitasse culra gdada Por cuFo lado, o sexo, ern nmsa cdfura tern urna relagdo braba com a morte. Gozar, buscar o gpzo, o orgasmo, isto tamb6m pode seruma estt:t{;ia sutil de nosso inconsciente para clrelpr dssimuladamente a etemidade. Por incrivel que pareg4 algrrnas pessoas que n6o conseguem 'gozaL laz.qn urna relaqSo direta do orgasmo com a mortg actranr que se se entregarem h loucura do , .. â‚Źpzo, ndo corseguirdo retornar i vida e/ou A realidade... De certa folma estdo certas, o orgasmo 6

EFB

, um morrer e um renascer permanente... VIBORA - A scola ser6 sempre um m6todo de tortura? EFB - Enquanto estiver a serviEo da Familia, do Estado e da lgreja sim. E mais ou menos como a psiquiatria que estd, desde muitos anos, a servigo da policia e da sociedade-. "normalizada"., s6 que, por trabalhar corn criancinhas fr6,geis e indefesas, tem um efeito

ainda mais tenifico sobre a vida e a tes6o de viver dos individuos.

ViAORn -Aqueles que se fazem de misticos querem o rebanho para tosquid-lo no inverno, ou... EFB

-

A respeito dos misticos, a palavra deve ser dada ao nosso ilustre e irreverente companheiro E.M. Cioran: "Olhai ao vosso redor, por todos os lados existem larvas que predicam, cada instituiqSo inventa uma missdo: metaflsica para uso de macacos-.. Todos esses idiotas se esforgam para remedi4na vida de todos, aspiram a isso os mendigos, as putas e


humana, Kleber, 6 o mais remoto e talvez o lnico e verdadeiro enigma deste mundo. Suicidios, guerES, Umbandas, Constituintes, delirios, poesias, etc., tudo arranca dai, desse lugar inatingivel, sem contornos, et6reo e inalcangdvel, sua razdo de ser. Nenhuma beleza teria eco, nenhuma dor teria rem6dio, nenhum espanto existiria longe dessa arca que fabrica e consome nosso s6men. Varamos as fronteiras azuis dos espagos, descemos ao rincdo mais t6trico dos mares, invadimos a parte mais densa das florestas, chegamos at6 a manipular a f6rmula do fogo, mas ndo apreendemos as leis e o caos que governam essa delicada e assustadora

at6 mesmo os incurAveis. As calgadas do mundo, os templos e os hospitais estSo infestados de reformadores. A Ansia de chegar a ser uma "fonte de sucessos" atua sobre cada um desses taradcs, como se fosse uma desordem mental ou uma maldi96o. A sociedade atual 6 um inferno de "salvadorgstt...tt

VIBORA

EFB

-

O que lhe interessa mais neste momento?

- A Buceta Minha vida gira alegre e apaixonadamente ao redor da buceta VocO sabe muito bem que o eixo da humanidade gira ao redor, por baixo, pelo lado e por cima da buceta buceta feminina de onde eu, ConfrJcio, NapoleSo, vocd e o mais vil dos mendigos saimos. A questio nio 6 ter saido, 6 como voltar definitivamente... Voltar em definitivo para esse lugar de onde brotamos de forma severa e enigmdtica A[ a br.rceta! Esse lugar tdo suave onde os ovos n6o se runpem e onde a lingua nio se

aventura. ViBORA - lsso 6 verdade? Verdade para todo muncjo? EFB - N5o sei, s6 sei que a buceta segue enlouquecendo os seres, tanto .os homens como as mulheres, segue sendo algo ausente que se pode tocar; prcsen-

gasta, implantado no Everest das coxas, na planicie do plexus e t6o bern guardado por uma centena de pentelhos em caracol que, c0mplices das mais au-

daciosas paix6es, defendem

o mist6rio. A

tesem imagem; luz ofuscante e impossivel que nos promete um consolo, um consolo que, prov6velmente, nos foi negado em outra galdxia...

buceta 0

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BRASIL: UM CETEIRO DE IMBECIS

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KLEBER LIMA

Em uma repriblica de porta e porteirm, prevalecerd se voc6 6 ou n6o 6 convidado para sentar+e h mesa c<rn os urubus, chacais, patifes, rufi6es e gerentes dste voraz pais.

A carniga 6 servida E fede; E os brasileirm sentem-se

os "melhores do mundo" ao serem chamados para co' m6-la com talheres de Prata. Empanturrados, lambuzados e sobretudo "alegres", sorriem o inevitAvel riso do malogro. E no meio datorpeza' e

decretolef samba-se o fim. A batucada vai marcando cotidianamente a cadOncia da morte. O malogro entre brasileiros, 6 algo que nesta ilha de degredo, hoje acontece. Porque s6 agora, 6 que alguns desconfiaram que na festa de ontem a carniqa servida estava envenenada Por quem? Porqu6?... Tarde demais para o v6mito, cedo demais Para morer. Ent6o a brasilidade jona em abundAncia. lnstitui o patri6tico lerna salve+e quem puder. Feito um coragdo apunhalado, o brasileiro esguicha um 6dio que nio existe, um amor que ndo howe. Traldos e traidores, militares e civis, envenenados e envenenadores, assassinados e assassinos, roubados e ladr6es, seguramâ‚Źe na mesma bandeira verde-amarela. E com ela tentam cinicamente limpar a vergonha estampada em suas caras.

"O POVO UNIDO JAMAIS SERA VENCIDO" gritou a multid6o de brasileirostno ano de 1964 e 1984- A mis6ria permanece. A multid66 de brasileiros 6 convocada como sempre, para fiscalizaf, dedurar, entregar, denunciar, suspeitar, aliar, alistar nojex6rcito de marionetes. E assim "unidos" brasileiro 6. Enquanto alguns senhores vio orquestrando a velha cangdo nazi-fascista: "jamais serA vencido"' Um economista, um polici4 um intelectual, um cantor, 34

un politico, um

padre, um industrial, um sindicato, um lati-

f0ndiq um comunista wn avi5o, um passaporte, um liberal, uma conta na Suig4 bastam'se paia lazer esta nag6o. Doutores e doutores em pilhagem pelas universidades: Ford, Rockfeller, Sorbone, Harvard e outros prostfbulos mais, senadores pela Dow Chemical, comunista pelo alto komando do KrOmlin, sindicalistas pelos cofres da socialdemocracia, macabro lider dos "brasileiro" que tinha as visceras podres e a obstinaqSo de comandar os jovens, trabalhadores envergonhados, subversivos arrependidos, banqueiros humanistas, turistas formados e disfarEados de embaixadores pelo ltamaraty (especialistas em piqueniques internacionais), analfabetos e aleijados de prazer, gangsters de botecos, maricas emancipados, jogadores "outdoors" de multinacionais, por mais que tentam transvestir, n6o conseguem se livrar do estigma do fracasso, de doentes, de miserdveis, de rejeitados e derrotados, de imbecis. A canga 6 eterna para os que n6o sabem ver. Para o capitalista, comunista, social-democrata, o Brasil 6 um grande neg6cio. E a mio de obra mais barata do planeta e tem o privil6gio de ser sonsa. Uma das virtudes do miserdvel 6 de ndo se importar com quem esta gerenciando suas vidas, se sdo piratas, abutres ou n6o. Administrar a mis6ria 6 f6cil! A medida de todas as coisas 6 a trapaqa. Usa-se o politico, uma esp6cie de farejador e cdo raivoso para teatrali-

zar e divertir os demais. Uma policia para por todos em fila. Um banqueiro para agiotar. Um corrupto para bode expiat6rio e um presidente ventriloquo . Mas todo brasileiro 'dd wn ieifinho'. E se lorna inteligente, dono de um bar, de uma pagtel'ar:ra; de um.super-


mercado, especialista em falar e escrever durante anos e anos sem dizer e escrever nada, se transforma em professor, lider, rdpidos datildgrafos de m6quinas lBM, jornalista, barman, publicit6rio, jogador de futebol, cantor, 916 fino, m al andro, es pertal h6o e simpatizante anarqu ista. Mas tudo jii estava previsto neste laborat6rio para testar ratos. Nada de novo, apenas os "donos" do mundo descuidaram enquanto laziam pipi. O iabirinto no qual os brasileiros estdo metidos, a salda 6 a entrada e a enlrada 6 a saida hd sOO anos. C que importa aos proprietdrios d darmos voltas e voltas em torno do nada at6 econtrarmos o nada. Ou melhor diria o politico para todo o pals pela televisao: "O Brasil precisa da ur.iio de todos n6s. Brasileiros e brasileiras, 6 chegado o momento de sermos os defensores legitimos dos nossos anseios e destinos. Nio percamos nosso papel na hist6ria". Se voc6 n6o lem ou desligou a TV neste pais, voc6 perde o TREM da hist6ria. E entre uma propaganda de um novo carro e o 0ltimo modplo de presidente desta pdtria n6o existe diferenqa alguma. Ambos sdo anurrciados pelos jornais e televis6es como um produto de corsumo. A democracia dos brasileiros 6 para ser vista na televisdo. Vejamos: C Cano & O Presidente - (Sdo equipados com novos instrumentos que dardo maior conforto e seguranga. Amplo e espaqoso. Liberal e reformist4 reforma agrSri4 linhas nodernas e sua.ves, destruigdo harmoniosa, melhor autonomia em gran-

des decis6es e grandes viagens. Discreto, decretos, e maior suavidade nas curvas, menor ruido, voc6 estA em boas m6os, sobdedade e desempenho que garantimos hA 500 anos de luta e vitrjrias por este Brasil afora. MecAnica e fiscais autorizadm por todo o pais. Neste vocO pode confiar 6 o melhor, o aprovado e testados carro digo, presidente.)

Ao se propagar este lixo, a serviddo e a solidio se alastram e o brasileirc, pdsioneiro e carcereiro de si mesmo vive covardemente seu destino servil. Por enquanto estii contente em limpar, fantasiar as bordas do trimulo em que ser6 enten'ado. brasileirc terdo que se jogar para o O fosso no qual salto de liberdade 6 sornbdq profundo e sem retorno. Um

c

6

suficientemente corajoso pra dizer, basta! Jarnais um imbecil deixard de se inocentar e industrializar a canalhicq para passear nc jardins da liberdade. Jamais quer perder seu lugar ao lado dos infelizes. Jamais deixard de ter um prazq esguizofr6nico, demente,em ver seu povo faminto mendigando e rastejando aos seus pes. Este 6 o sonho, a liberdade e a democracia, que todos os brasilei-

imbecil ndo

ros querem.

Em um pais de sentengas e condenados, prevalecerA se voc6 6 ou ndo 6 s6rio o suficiente para suportar esta prisdo. Mas existe algo al6m nos meus olhos que brilha e cega um patife. E o meu mundo, meu sonho, meu sorriso, meu prazer sem limites... 35


-3-A,GDT'-!--a.st I

-3A,srrct-4.€r

1, "Tocro ser humano que sorri 6 belo' O sorriso envia uma pior das alieenergia positiva' Gente demais se acha feia, e essa 6 a belos' Se nag6es. Se irradiarem um pouco de felicidade' se tornardo

(Jim l{aynes}' se acreditarem feios, se tornareo feios"

6 cafda' seu GaErn outras palavras: voc6 6 corcunda, sua orelha

belo 6 espetado, seu nariz 6 torto, os dentes cariados' o rsto marcado por acidentes - mas garanto, meu velho, quando voc€ faz todas caifrenrem por voc6! Vamos: Quasimodo, voc€ 6 o mais bonito' V6 em te, felizardo.

2. Que o falo ndo 6 o p6nis. Oue a castragdo simb6lica n5o 6 a

castragSo real..' Freud" Lacan, consortes'

Essa6umasutilezaescoldsticabemdiffcildeenfiarnacabega viril' por que

das pessoas. Se o falo est6 assim t6o longe do membro

persistir em querer continuar dando-lhe esse nome, por que alimentar deliberadamente a confus6o sem6ntica? Mist6rio, mist6rio"' Afinal de contas, que desfile miserdvel, toda essa hist6ria de falo, essa mitologia da castragSo: a impressSo que se tem' tamb6m aqui' 6 que a fidelidade ao sexo masculino (em outras palavras' o falocen-

trismo)s6desaparecedoconteridoexplicitododiscursoafimde manter-se intacto em seus significantes' 3. Falocracia: den&neia legftima do poder do macho' mas tam-

b6m uma nova forma de intimidagSo' Homens ou mulheres' voc6s

acreditam estar falando a linguagem da liberagSo, mas ainda hii muito picos obeliscos em seus fantasmas, muitas irvores grandes' muitos

pontudos'vocessaoobjetivamenteculpadosdaCarGnciadequese acreditam subietiyamente asentos. Falocracia: valor penal e n5o mais de an6lise, tal como a nog6o de inimigo do povo em stalin' conceito 6modo em cujo nome o outro sempre est6 errado por estar desacreparadatado desde logo, seia o que for que lhe diga. Grande auxiliar n6ico, que neo serve mais para compreender, mas pala separar' apar-

tar,' esmagar.

Mal-esse homem a aborda e id est6 descobrindo um passado em comum com voc6. Ele adora e$sa rua pela qual voc6 est6 andando, esse bairro que ele acha t5o simpiitico, e os jeans que voc6 est6 usando. Voc6 tem p6s para andar? Ele tamb6dr. olhos para ver? Mas ele tamb6n. Orelhc paro eortar? Q.re m-sa bucal Voc6 conre pela boca? Oue incrivel! Voc0 nasceu de uma mulher que se chama sua mie? N5o 6

possivel? Mas

6 inacredit6vel descobrir em t6o pouco tempo tanta

coisa em comum... E assim prossegue a conversa, e espantos fingidos em falsas surpressas, e essa riqueza verbal a deixa desolada e entio voc6 se enche, abre as asas e vai voar sobre a cidade' Pelo menos isso voc6 tem certeza de n5o ter em comum com ele! Mas claro que tem! Ele tambdm decola, alcanga-a e pergunta: Pteroddctilo, al6m de tudo? E ai voc€s dois riem, pois se reconheceram mutuamente. 36

\

\\


Podem ter certeza de que ndo 6 por acaso que os jo_ vens revoluciondrios americanos chamam de ,,porcos,' A polfcia e aos seus colaboradores, aos psiquiatras e is fal_ sas autoridades em geral. Porco 6 uma identificagdo muito precisa. Mais ambigua 6 a outra expressdo, mother-fucker (fodedor. Oa mde) porque pode implicar uma limitaq6o cta sexualidade a pr6pria mde ou uma libertagdo do tabu do incesto.

DAVID COOPER

Somos todos porm, naturalmente. As instituig6es humanas, naturalmentg sfo chiqueiros, fdbricas e abatedouros de porcos. Mre, por que "naturalmente"? O ,,por que" do "naturalmente" estA na pr6pria natureza da hist6ria. Os

porcos chafurdam na lana coNrt

a mesma

naturalidade

com que chafurdamc na lama ecol6gica dos nossos efl0rrios e lixos urbanc e rurais. Os porcos destroem a sua prole, e nfu tamb&n i rmsa maneira, human6ide, mais sorrateira. Os dois modelc de sujeira descuidada e canibalismo gratuito se assenrelham muito. O casal burguds e corverrional 6 ao mesmo tempo um enorme porco bissexual e una imponente fdbrica de bacon. Nisto reside a sua amtfg0idade fundamental. Aqueles que escapam por uma eventual saida de emergOncia, ou disfargados de trabalhadores, tendern a acabar num hospicio, ou numa prisdo, ou etn algum outro abatecjouro. Alguns conseguem realmente escapar, i custa de muito sofrimento e trabalho, e ficam sSos: estes caregam, inevitavelmente, um fardo prof6tico. Quanto aos demais, acabamos todqs rolando numa cova lamacenta bastante funda para nos enterar, ou conseguimos ser fritos, como bacon bem tonadinho, num forno cremat6rio - aquecendo ao mesmo tempo os p6s-de-porco dos nossos parentes.

A despeito do canibalismo, o porco 6, do ponto de vista anal-genital, o animal mais convidativo do mundo. A todos quantos se aproximam, ele oferece o cu dotado de um protuberante liibio anal inferior. Talvez, pelo reconhecimento deste convite A bestialidade, possamos descobrir o jeito de deixar de sermos as bestas que somos para os outros. Poderiamos deixar de ser essa besta estranha que se arrasta em direE6o a Bel6m, para lA nascer de novo, como escreveu Yeats em um poema, expressando sua teoria cOnica da hist6ria. Talvez possamos nos tornar verdadeiros profetas, e ndo falsos messias, transmitindo para outro mensagens verdadeiras em vez de tagarelar apenas. O falso messias simplesmente expulsa os maus espiritos do louco transferindo-os para o suino que se lanEa h prG pria destruiq6o pelo despenhadeiro de Gadara. O verda_ deiro profeta mostra ao outro, pelo exemplo pessoal, como desaterrorizar as forgas demonfacas, como control6-las dentro de si mesmo e, finalmente, como integ16-las e conviver com elas. E de se perguntar qual foi a sorte posterior do homem que disse chamar-se Legi6o, porque possula muitas imagens internas, familiares e pr6-familiares (arcai_ cas). Nesta parAbola, creio que se pode ter a certeza de uma coisa: a loucura saiu de fato do louco, mas n6o morreu com o suino - permaneceu no ar, disponivel para todo o mundo. Embora sempie particularizada em cada indivi_ duo, a loucura 6 tamb6m algo que permeia o 6ter humano. A loucura 6 uma tentativa de visdo de um mundo novo e mais verdadeiro, a ser alcanqado atrav6s cla desestrutura_ Qdo (CesestruturaqSo que deve ser definitiva) do velho mundo condicionado.

Mas, voltemos aos porcos. Em italiano, as express6es porco dio e porcca madonna s6o consideradas blasfOmias. Na verdade, com estas invocaq6es (normalmente, olha-se para cima quando se as profere), pedimos nossa fus6o sulna com Deus e com a Madonna elevai-me desta terra

-

porca at6 a vossa altura. E invocagdo, portanto, e n6o blasfOmia. As blasfdmias inglesas e francesas sdo simples. Merde quer dizer que voc6 (ou alguma coisa) 6 uma merda ou deve ir cagar no mato. Fuck (foda) ou fuck you (foda-se) s6o inocentes, despidas de qualquer qualidade transcendental e s6o, na verdaQe, anti-sexuais. O polonOs "vd foder a mde" 6 igualmente lmanente. N6o tem nacla a ver com porcos.

37


Se os porcos tivessem asas' como diz o prov6rbio, tudo poderia acontecer. Ora, talvez os porcos tenham, de fato, asas misteriosas, que ndo vemos. E talvez ndo vejamos que "tudo possa -as suas asas PORQUE temos medo de porcos' quer todos somos caso, Neste mesmo.

acontecef

com asas invisiveis, quer apenas com vestigios delas' Em algumas pessoas, as asas sdo simplesmente invisiveis e a qualquer momento pode-se fazO'las aparecen em outras, os vestigios das asas talvez nunca lhes permitam ascender e voar, nem mesmo em sonhos. Ndo foi por mero acaso que Cerletti descobriu o "tratamento" de choque el6trico observando os porcos serem mortos por eletrocuqdo nos abatedouros de Roma' Os porcos que n6o morriam apresentavam alteraq6es notAveis no seu modo de comportamento; dai, naturalmente, Cerletti comeqou a dar choques el6tricos nos seus pacientes mentais para mudar o comportamento deles, assim como Hitler matou 60.000 pacientes mentais, tanto como 'experi6ncia" como para "melhorar a :aQa"' Algo parecido encontramos no livro cl6ssico do geneticista Kallman que comeQa por enumerar os vArios modos cie se eliminarem os geneticamente inferiores para punficar a raQa e, assim, elevar o nlvel cultural da humanidade- Entre os psiquiatras que atribuem causas gen6ticas e constitucionais A lotlcur4 um grande nilmero foi influerrciado pelo trabalho de Kallman, apesar da sua metodologia duvidosa e dos resultados co ntradi t6rios pu bl cados posteri ormente' Mas, como n6s, o porco 6 sernpre cheio de dores'Como na est6ria do chin6s, cuja casa se incendiou e cujos porcos foram assados. Ele pOs o dedo num deles, mas o retirou depressa por causa do calor intenso. Chupou o dedo dolorido e achou o sabor delicioso, descobrindo assim o porco assado. Ndo hA dwida de que, nesta est6ria, havia alguma intenq6o oculta no inc6ndio da casa. Todo ato de comer 6 sacrificio dissimulado; toda gula 6. necrofilia disi

farqada.

O porco-humano assume muitas {ormas. Num agougue

de Londres hA um cartaz de urna moEa nua, em cujo corpo traqaram linhas para assinalar as diversas peqas de carne, os seios, as pernas, etc' O problema 6 que as pessoas ndo fazem caso da violOncia que se comete contra as rnulheres, reduzindo-as assim a meros objetos abjetos - e as pr6prias mulheres, at6 agora, parece que ndm p'ercebem.

A voracidade pode visar a partes do corpo humano,

pessoas inteiras, grupos ou ai6 classes inieiras' A voracidade oral 6, talvez, a mais f6cil de se entender. Muitas vezes, as mdes sentem seus beb6s tho vorazes

que parecem querer engolir o seio todo - no minimo! E, naturalrnente, se os beb6s n6o s6o amamentados e carregados "do jeito instintivamente correto", reclamar6o mais alimento do que necessitam objetivamente' Esta voraci' dade oral se enccntra no caso de pessoas que tomam drogas fortes, ou Alcool em excesso, embora haja, ai, al6m 38


da situagSo oral infantil, muitos nfveis de inteligibilidade que devem ser investigados analiticamente. O canibalismo

6 a mais alta forma de fantasia da voracidade, mas, na pr6tica, 6 uma expressdo direta ou ritual'rstica da fome. (Ver o filme de Pier Paolo Pasolini,' pocilga,) Vejamos, por exemplo a voracidhdeicle evacuaEdo. Manifesta-se como necessidade excessiva de cagar ou peidar

nas pessoas, mijar sobre elas de uma grande altura, ou cuspir-lhes na cara, como resposta a uma provocag6o desmedida. Pode chegar a limites psic6ticos, para usar q termo no sentido convencional, com bombas e armamentos, como no caso do massacre de My Lai, no Vietn6, que

foi uma aut6ntica dernonstragdo de voracidade de evacua96o. Agora, se vai haver algu6m com suficiente voracidade anal langar a bomba*l ou deflagrar uma guerra quimica, jd 6 outra questao.

A ess6ncia riltima da voracidade, a despeito da sua orientagdo para lor4 6 ser autodestruidora - afinal, o que o individuo devora ou caga em cima ou ao qual se torna subserviente, 6 a si mesmo, 6 o seu pr6prio eul O terceiro g6nero de voracidade envolvendo partes do corpo 6 o da voracidade de retengAo. E 6bvio que quando uma crianga ret6m as lezes que seriam como que um presente para a mhe, estd sendo voraz (embora haja tamb6m um sentido born, da crianga estar sendo ,,ego-ista,,, dona de si, em controle dos seus pr6prios atos). Mais misteriosa 6 a retengdo dos bebâ‚Źs no ttero. Ndo acredito, nem por um instante, que isto seja expressdo de um temor voraz de mde; creio mais que exista uma voracidade conivente entre a m6e e o bebfl para que o rjltimo permanega den_ tro da primeira, cada qual consumindo vorazmente o outro mediante um sussurar visceral, um cochichar atraves do cord6o umbilical, dos intestinos, dos vasos sangriineos, dos ureteres e assim por diante. E preciso entender um pouco dessa linguagem visceral, para se entender alguma coisa da prematuridade e da p6s+naturidade. Se a voracidade for mutuamente satisfat6ria, como parece ser na maioria .dos casos, ndo ser6 necessAria umd intervengdo is pressas. Mas, receio que esta satisfagdo m0tua ndo constitua uma verdadeira estrutura de voracidade. A vora_ cidade requer uma cisdo violenta entre aquele que 6 voraz e aquele em relagdo a guem o voraz 6, ftraz. A solugdo mais imediata para semelhante situagAo 6 a pessoa voraz empreender a an6lise da sua voracidade, e o outro, ele ou ela, retirarse, ao menos temporanamente, do cendrio da voracidade, por mais penoso que isto seja. Segundo a mi_ nha expeirâ‚Źnci4 a voracidade raramente adv6m da priva_ 96o real, mas sempre de fantasias de privagdo que devem ser investigadas. Na verdade, a voracidade muitas vezes adv6m, n6o de uma privagdo real ou fantasiosa, mas de um excesso de amor. O excesso de amor induz um estado de coisas em que os nossos olhos ndo+orpfreos sdo maiores do que o nosso estdmago metafrsico. As pessoas

vorazes, assim, s6o como criangas que ficam doentes de_ pois de comerem demais em festas de aniversdrio. O beb6 deve sert ir-se e ser sentido como uma entidade humana separada, embora conjurtta, antes de nascer. E a melhor maneira de se obter esta sensagdo de se_ paragSo 6 (A parte o ato da mde apalpar o seu abdome e

-

-

sentir a outra entidade pessoal dentro dele) os pais faze_ rem amor durante a gravidez da mde. O impacto do p6nis no colo do 0tero faz o beb6 se sentir nitidamente ,'outro,'. .Alteridade", neste sentido, 6 bem o oposto da alienaqdo, que 6 fusSo e confusdo e perda e identidade numa outra pessoa ou num trabalho. Estas asserE6es sdo confirmadas na anamn6sia, quando bem conduzida, durante o trabalho psicanalftico. Trata-se, na verdade, de recordagdo de expe-

ri6ncia mais do que simples mem6ria direta. Durante a te rapia, a certa altura, o individuo pode reviver as reaq6es fetais ao coito dos pais, sem o saber e sem delas ter mem6ria em sentido comum("). Finalmente, devemos considerar a voracidade que visa

a pessoas inteiras e que cont6m em si todas as voracidades acima mencionadas em relaqdo ds partes do corpo. Diversos s6o os motivos que levam as pessoas a se reunirem em grupos: algumas desejam manter a autonomia e a privacidade (mas n5o o segredo); enquanto outras desejam constituir r6plicas da familia, que invadiriam a autonomia dos outros. lsto 6 voracidade: a violaqdo do territ6rio interno da outra pessoa. Se prevalece (em geral por causa da coniv6ncia dos outros), o grupo se desfaz, acairetando, muitas vezes, desastres individuais. Tamb6m a voracidade competitiva das pessoas, Avidas de fama e aclamaqao, provoca o desmantelamento da rede grupal. H5, ainda, naturalmente, a necessidade de alimentar, como pessoas, as linhas de produq6o, o que n6o 6 outra coisa sen6o a voracidade; e a necessidade de alimentar computadores com informaq6es sobre as pessoas, o que tamb6m 6 voracidade. E depois hd a voracidade de genocidio, como o clesejo do governo dos Estados Unidos de consumir o povo vietnamita.

Parece que somos todos uns porcos vorazes, ao memnos no Primeiro-mundo. Aclro que vou passar sem bacord

(*) Outra possibilidade a se considerar 6 a retenqdo do perlodo menstj!al na mulher que deseja um filho _ ndo naturalmente, mas

como expressSo de voracidade.

2cl


PROSTITUINTE "No mais alto trono do mundo o homem se senta sobre o traseiro (isso provoca riso), lJlas se dissermos que os presidentes, embaixadores, reis, papas, manequins, xeiques etc,, aldm de sentarem sobre a bunda

ainda est6o sobre um monte quente e fumegante do pr6prio excremento.., AH! isto causa angfistia

\

universal"

'.\ \\,r\\ .\\i'"{ .'l

MOpJTAIGNE

\

A

sociedade d produzida pelas nossas vontades e o estado por nossas Pen'ersidades; a primetra promove nossa felicidade unindo positivamente nossas inclinagdes, o sezundo negativamente,

ftstringindo.-nossos vi-

cios. O estado dcomo

a roupa, 6 o simbolo

de

nossa inocOncia perdida:

os palScios dos governantes sao conslruIoos sobre a.s rulnas dos jardins do paraiso.

40

:s_


Bâ‚ŹRNRRD SI{RII' MUR cfn

cmn Dos /

mâ‚ŹDlcos

Lucia Costafiera Depois das barbaridades que a medicina institucionalizada vem cometendo com seus clientes para nio dizer vitimAs -, e em fungdo das arbitrariedades, tanto clinicas como econ&nicas, que essa classe de profissionais tem administrado sobre um n0mero infinito de indivlduos indefesos e, muitas vezes, ignorantes, causando-lhes males

-

ainda piores do que aqueles que estavam padecendo, 6 interessante e pertinente reproduzir aqui alguns textos de George Bemard Sharv sobre a quest6o, os quais, apesar de haverem sido escritos no s6culo passado, trazem uma atualidade assustadora.

OCARATER DUVIDOSO DA PROFISSAO UEOICA Or.rgo agora vozes indignadas, murmurando velhas

frases sobre o elevado cardter de t6o nobre profissSo e sobre a honra e consciOncia profissional de seus membros. Devo replicar que a profissdo m6dica ndo tem car6ter elevado: tem, ao contrAriq um cardter infame. Nio conhego uma pessoa porderada e advertida que ndo compreenda que a trag6rCia da enfemidade, no momento, 6 a de que nos entrega de mic atadas a uma profissdo de que profundamente desconfiamos, n6o apenm porque ela advoga a prdtica das mais revoltantes crueldades, buscando expandir o conhecimento, e o justificb em t6rmos

que justificariam a prhtica de iguais crueldades em n6s mesmos e nos nossos filhos (6 o mesmo que queimar Londres para fazer a experiOncia de um novo aparelho patenteado para extinguir incdndio), mas ainda porque, quando choca o p0blico, procura tranquilizd-lo com menti. ras fabulosas. E esse o cardter que a profissdo m6dica tem tido at6 agora. Quanto A honra e d consci6ncia dos chamados doutores, eles as tdm tanto quanto qualquer outras esp6cie de homens, nem mais, nem menos. E quais os outros homens que pretenderiam ser imparciais, tendo um forte interesse pecunlario no jogo? Ningu6m sup6e que os doutores sejam menos virtuosos do que os Juizes. Mas um juiz, cujo saldrio e reptaqSo dependessem do veredito ern favcr do acusado ou do queixoso, da vitima ou do delinquente, seria tdo pouco digno de confianga quanto um general que figurasse na folha de pagamento.do inimigo. Oferecer-me um m6dico como jufz, e, depois colocar d sua disposigdo na depend6ncia do suborno com uma vasta soma de dinheiro e uma virtual garantia de que se cometer um erro nada poderii ser provado contra ele, 6 ir muito al6m dos limites que se podem humanamente tolerar. NAo 6 preciso fazer apelo ir ciOncia para proclamar ou acreditar que, em dadas circunstAncias, realizem operag6es desnecess6rias e prolonguem as enfermidades lucrativas. 41


POR OUE OS MEDrcOS NAO DIVERGEM A verdade 6 que nunca haveria concordAncia p0blica entre os cllnicos, se eles ndo tivessem estabelecido' como regra, que o m6dico est6 sempre certo. Contudo, os que cobram muito, nunca acham que os que cobram pouco estdo certos. Se achassem, admitiriam que cobram em excesso a diferenEa. E, do mesmo modo, o que cobra pouco ndo pode apoiar a noqio de que o dono do consult6rio da esquina que cobra a metade de seu preEo estd em nivel igual ao seu. Assim, pois, o leig;o tem de ser ensinado a crer que a in{abilidade n5o 6 t6o absoluta, ocis iieve haver tr6s qualidades de infalibilidade, uma vez que h6' trds preqos. Agora, um m6dico n5o pode pensar que o seu prG prio tratamento est6 certo e ao mesmo tempo admitir que seu colega tem razdo ao prescrever um tratamento dife' rente, quando o paciente 6 o mesmo. Quem quer que co nheqa bem os facultativm e tenha ouvido suas trocas de impress6es m6dicas, feitas sem reservas, sabe que cada 'um deles tem uma coleESo de anedotas a respeito dm erros e desastres dos outros, e que a teoria de sua onisciOncia e onipotdncia 6 tdo aceita por eles mesmo quanto o era por Moli6e. Ma, por esse mesrno motivq renhrn m6dico ousa acusar outro, publicamente, de impericia. E que o acusador nunca estA suficientemente seguro de sua opini6o ao ponto de arruinar outro homem. E sabe que se essa conduta fosse tolerada em sua profiss6o, nenhum m6dico poderia garantir durante um ano o seu bom conceito e o seu ganha pho. O que resulta desse estado de coisas 6 que a prolissdo m6dica 6 uma conspiragdo destinada a ocultar suas pr6prias incapacidadeas. lsto, sem d0vida, pode ser dito de todas as outras profiss6es. Todas elas s6o conspiragdes contra os leigos; e nio quero dizer que a conspiraq6o m6dica seja melhor nem pior do que a conspiraE6o militar, a conspiraq6o juridica, a conspiraqio sacerdotal, a conspiraqdo pedag6gica, a conspiraqdo monarquista e aristocrdtica, a conspiraq6o liter6;ia e artistica, e as inumerdveis conspiraq6es industrial, comercial, e financeira, desde os sindicatos profissionais aos bancos de controle do cAmbio, que comp6em o grande conflito a que chamamos sociedade. Mas isso 6 menos suspeitado. Os radicais, que costumam advogar, como indispensiivel preliminar da reforma social o estrangulamento do 0ltimo rei com as tripas do riltimo padre, substituirdo o batismo obrigat6rio pela vacinaglo obrigat6ria sem nenhum protesto. SAO OS MEDICOS HOMENS DE CIENCIA? Presumo que ningu6m porfr em d0vida essa generalizada e ilus6ria crenQa, j6 que para um individuo suficientemente ignorante, cada capitdo de escuna 6 um Galileu, cada organista um Beethoven, cada afinador de piano um Helmhol2, cada vendedor de pombos um Danruin, cada escriba um Shakespeare, cada loeometivatnta inve-ng6o 42

(


miraculosa, e o seu maquinista nao menos digno de aomir:ag6o do que o pr6prio George Stepherson. Em verdade, na sua classe, coletivamente, os m6dicos n6o t&n mais esplrito cientifico do que os seus alfaiates, ou, se preferem a invercao dos termos, os alfaiate ndo t&n menos espiri-

to cientifico do que eles. Clinicar 6 urna arte, n6o uma ciOncia qualquer leigo que tiver a cudmidade cientifica necessdria para apanhat rrn jomal cientifico e acompanhar a literatura do modmento cientificq sabe mais a res-

peito deste do que

m m&licc

(prorravelmente a grande

maioda) que nio estSo interessados nisso e que clinicam apen€F para ganhar a vida Clinicar ndo 6 chegar a ter, sequer, a arte de oonservar a sa&de dos outros (nenhum m6dico corseguird nc aconselhar melhor dieta do que a nossa pr6pda av6 ou o charlat6o mais pr6ximo). Acontece, excepcionalmente, que um outro clfnico faz contribuig6es A ciOncia mas, oorn muito maior freqii6nci4 sucede que eles tiram corrclus6e desastrosas de sua experiOncia clinica, porque n6o t&n corrcepgdo do m6todo cientifico e acreditam, como qualquer r0stico, que o confronto da realidade e o manuseio das estatisticas ndo reclamam conhecimentos especiais. A diferenga entre um verdadeiro mddico e um curandeiro reside principalmente no fato de que o primeiro 6 autorizado a assinar atestados de 6bito, para os quais ambc parecem ter iguais oportunidades de contribuir.

COIrcLUSoES l. Nada 6 mais perigoso do que um m6dico pobre. Nem mesmo um patrSo ou senhorio empobrecidos. 11. De todos c invetimentos anti-sociais, o mais anti+ocial 6 o investimento na insalubridade. lll. Lembrese de que a doenga 6 uma contravengSo i Lei e trate o m6dico como c0mplice se ele nlo a denunciar As autoddades de Sa0de Piblica lV. Considere toda e qualquer morte como uma pos-

sivel e, de acordo com as nossas leis, provdvel assassinato, convertendo-a em objeto de inqu6rito regular, e faga com que o m6dico seja executado profissionalmente,

isto 6, com o cancelamento de sua licenga para clinicar. V. Verifique cuidadosamente quantos m6dicos sdo necessdrios para que a sua comunidade fique em boas condig6es de saide, evitando o registro de qualquer novo m6dico, em excesso, a n6o ser que este seja um empregado da administragSo priblica, com sal6rio fixo. Vl. Municipalize o serviEo m6dico e sanitdrio. Vll. Trate o operador particular exatamente como trataria a um verdugo particular. Vlll. Trate as pessoas que anunciam tazer curas do mesmo modo que trata os quiromantes e os vendedores de buqiqanqas.

!X

lnforme cuidadosamente ao p0blico, seja por

meio de estatfsticas especiais ou avisos a respeito de casos individuais, sobre todas as enfermidades padecidas pelos m6dicos e pessoas de suas familias. X. Torne obrigat6rio o uso, pelos m6dicos, em seu receitu6rio, al6m de seu nome e indicagdo de suas qualificag6es, a legenda: "Lembre-se de que tamb6m sou mortal".

Xl. Ndo tente viver para sempre. Voc6 ndo conseguir6.

Xll. Use sua sadde, inclusive ao ponto de gast6-la. E para isto que ela serve. Gaste tudo quanto puder gastar, antes de morrer. E n6o viva mais do que deve. ){lll. Tome o maior cuidado para nascer ,bem e para

ser bem cnado. lsto significa que sua mde deve ter um bom m6dico. Diligencie no sentido de freqrientar uma escola em que exista uma clinica escolar, onde sua nutriqdo, vista e dentes, bem como outros detalhes importantes, recebam os cuidados devidos. E no sentido de que tudo isto seja feito bs expensas da nag6o, pois do contrArio nio serd feitrr. As probatilidades ser6o quarenta por um4 mrno ndo terA recursos financeiros para pagd-los, mesmo que esteja suficientemente informado sobre o que deve fazer. Se assim n6o proceder, serA como muitos sdo presentemente: cidaddos nada sadios de uma naqdo que tamb6m n6o 6 sadia, e que nio possui a sensatez suficiente para se envergonhar ou se entristecer com um tal estado de coisas.

MULHERES - Hd, provavelmente, seis ou oito maneiras de castrar um homem, mas as duas primeiras, que n6o recorrem ir faca trinchante, sfo provavelmente as mais importantes. Voc6 tanto pode 6xtirpar o pau de um homem como remover um homem do seu p6nis.

43


NIETZSCHE DEMASIADAME,NTE NIETZSCHE E o abd6men que impede o homem de se considerar facilmente um deus.

O amigo doravante indesej6vel fazer.

-

Considera-se a mulher profunda seguer superficial.

Preferimos ter por inimigo o amigo cujas esperangas n6o podemos.satis-

-

Por que?, porque nela jamais chega-se ao fundo. A mulher

Uns governam pelo prazer de govemac outros para ndo serem gwemados: Governar menor. escolheram o

-

Mais vale dever

nio 6 nem

- entre dois males

- 'Mais vale dever do que pqlar com una moeda que n6o traz a nossa efigie!", assim o

quer a nossa soberania

Mudar a pele - A vlbora que n6o pode mudar de pele, morre. Tal como os esplritos impedidos de mudar de opinido; deixam de ser espirito

-

Remedium amoris Na maior parte dos casos, o que hd ainda de mais eficaz contra o amor 6 o velho rem6dio radical: o anor partilhado.

-

Como nos devemos petdficar Endurecer lentA lentamente, como um pedra preciosa ai tranquilo, para gozo da eternidade.

-

e acabar por ficar

Uma mulher que prossegue uma vinganga venceria o pr6prio destino. A mulher 6 indiscutivelmentg mais m6 que o homem e mais calculada; a bondade 6 nela forma de degeneresc6ncia.

Um ser tipicamente doente nio pode voltar a sarar, e ainda menos a curarâ‚Źe por si pr6prio; para um ser tiplicamente sauddvel, o estar doente pode por vezes constituir en6rgico estimulo de vida, de mais vida.

-

-

lnimigos das mulheres "A mulher 6 nossa inimiga" pela voz daquele que, enquanto homem, fala assim aos homens, exprime-se o instinto indomado, que nlo somente se odeia a si pr6prio mas tamb6m odeia os seus meios.


Auanb mds a mudher for verdadeiramente mulher, tanto mais se defender6 com p6s e mdos dos direitos em gerat o eshdo de nafureza.a eterna quelqentre os s.exos, assinala-lhe, sem embargo possivel, o primeiro lugar. At#r+ i minha definigdo do amor? E a 0nica digna de um fil6sofo. "Em relagdlo aos meios, o amor d guenq m seu tmdanentq 6dio mortal entre os sexos". Atendeu-se h minha resposta h pergunta sobre a maneilzr otrrx' se Glfa, c(Ino se "salva" uma mulher? 'Faga-se-lhe um filho. A mulher precisa d-e filhos, o homem 6

apenas

meiol cslm falou Zaratustra.

Varnos, gentes compassivas e de boa vontade, uma tarefa espera-vos: libertar o mundo do conceito de punigio que o infestou comgletamente. Nio existe pior infecqdo. N6o somente colocamos este conceito na consequ6ncia dos nossos atos I e contudo, que loucura, que monstruosidade hd jd em considerar o efeito como causa e puniglo! - mas Jizemos mais, gragas d infame sofistica do conceito de punigiq, arrancamos toda a pura conting6ncia do futuro. Este frenesi. ,leva-nos mesmo ao ponto de nos obrigarmos a experimentar a exist6ncia colrlo uma punigdo - dirse-ia que a educagSo da humanidade foi at6 ao presente dirigida pela imaginagio desregrada de carcereiros e de canascos!

"EmancipagSo da mulhe/' significa 6dio instintivo da mulher infecunda contra a mulher fecunda; a luta contra o homem n6o passa de recurco, pretexto, t6tica. Ao elevar-se como "idealista", pretende fazer-se decair o nivel geral da mulher, ocultar a sua situagSo pr6pria; ndo hd mais seguro processo de atingir isso do que o ensino liceal, o traje masculino, os direitos pollticos e eleitorais. No fundo, as emancipadas sio a! anArquicas no mundo do "etemo feminino", as est6reis, nas quais o mais fundo instinto 6 a vinganga....

ras;

Costumo considerar a pureza para comigo condigdo de exist6ncia; nio me mantenho nas situag6es impubanheme e nado constantemente em Agua lfmpida, num elemento completamente transparente e brilhan-

te. Disto resulta serem as minhas relag6es com seres humanos constante prova de paci6ncia,'e a minha fruminidade nSo.consis-te, portanto, em simpatizar com os homens, mas em consentir+ne simpatizar com eles.... A minha humanidade 6 uma constante vit6ria sobre mim. Um pefigo dos partidos - Encontrase em quase todos os partidos uma afligdo ridicula mas ndo desprovida de pedgo: ela afeta todos os que durante anos foram fidis e dignos defensores da opini6o de um partido e que, um di4 subitamente, se apercebem que algu6m muito mais poderoso do que ele se apoderou Oa irombeta. bo-

mo podedam suportar serem.reduzidos ao silOncio! Eis porque sobem o tom, e As vezes o alteram at6.

.Q 9e1os enganam-se mutuamente: e isso porque no fundo s6 se estimam e amam a si pr6prios (ou o seu pr6prio ideal, para me exprimir de um modo mais am6vel). Assim, o homem qre, qre a mutirei se;l,'pi.ifi.i, mas precisamente a mulher 6 essencialmente conflituosa como a gata, por mais habilidade que tenhi O"r-r" apar6ncias pacfficas.

-

"*

No banquete da multiddo - Que felicidade ser alimentado, como os pdssaros, na mdo de um ser que dd de comer bs aves sem as olhar de perto nem examinar os seus m6ritos! Viuer. coro um passaro qre ;;4" ;; sem levar o nome no bico! Encher-nre assim no banquete da multidao, 6 a minha felicidade.

ry hbc

Das relag6es com as celebridades A) Mas por que 6 que evitas este grande homem? a ignorS-lo! os nossos defeitos n6o se conjugam: eu sou miope e oes-contiaoo,

can tanto prazer como os verdadeiros.

Gomâ‚Źfia

" "r"

-

B) N5o quero usa os diamantes;

I

fr

verddeiro - Muitos s6o sinceros, n6o porque tenham horror em simular os sentimentos, mas q$t tfu:treegrirfln yTa simulag6o convincente. Em resumo: nio t6rn contianga no seu talento de comedianEq c ffireln a leaHadg a "corn6dia do verdadeiro".

45


Nem sequer jsso chega! N6o basta prwar uma coisa, 6 preciso ainda seduzir os homens a aceitd-la ou elevA-los at6 dla. E por isso que quem sabe, deve aprender a dizer a sua sabedoria: e muitas vezes de maneira tal que ela soa como uma loucura!

-

Como se reconhece o mds ardente - De duas pessoas qug lutam conjuntamente, ou se amam, ou se admiram, a mais ardente escolhe sempre a posigio mais desconfoftiivel. lsto vale igualmente para os povos. Quem sabe? Sou porventura o primeiro psic6logo do etemo feminino. Todas elas gostam de mim, isto 6 jd uma velha hist6ria, com excegAo das mulheres'infelizes", das'emancipâ‚Źldâ‚Źts", das incapazes de dar filhos.

ra.

-

Quem nunca estd s6! O hornem receoso ignora o que 6 estar s& M senpre um inimigo por trds da cadeiOh, quem nos poderia contar a hist&ia deste sentimento sutil a que chanamos solid6o!

-

Quem luta com morstrc deve velar por gue, ao fazFlo,"se neo harsforme ern monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para dentro de um abismq o aUsrno tamb&n olha para dento de ti.

euerer enganar-se

- As pessoas invejosas e dotadas de uma intuigdo particularmente

sutil procuran co-

nhecer mais exatamente o rival, para se poderem sentir superiores a este.

De nenhuma outra leitura sei que, como a de Shakespeare, despedage o coragdo: quanto deve ter solrido aquele homem para sentir de tal maneira a necessidade de ser bobo!

-

Doenga Sob o nome de doenga 6 preciso enienden uma prematura aproximagdo da velhice, da fealdade, e dos juizos pessimistas: tudo coisas que marcham em conjunto.

"Conhega-te a ti mesmo" - s6 depois de conhecer todas as coisas o homem se conhecerd. Pois as coisas sdo simplesmemte as fronteiras do homem.

-

Corruptor A mais segura maneira de corromper um jovem 6 incitd-lo a esfnar mais quan pensa como ele do que quem pensa diferentemente.

Para sempre

Almas

-

-

Todos os esgotados amaldigoam o sol; Para eles o valor das drvores

Detesto as almas acanhadas: Nio t6m nada de bom, e quase nada de mau.

'Amigos, ndo h6 amigos!" exclamou o sdbio moribundo;" "lnimigos, n6o h6 inimigos!" exclamo gu, o louco vivo. -" Os preconceitos nascem dos intestinos. Aquele que sup6e ter eniendido alguma coisa de mim, formou a meu respeito uma id6i5 sua fantasia.


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