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Por Beto Azambuja — Porto Alegre


Boa parte do Novo Hamburgo campeão gaúcho já não existe mais — Foto: Diego Guichard

Do campeão Novo Hamburgo ao Passo Fundo, último colocado, a maior parte dos times do interior que disputaram a primeira divisão do Gauchão se desmantelou para o segundo semestre. Alguns sequer têm calendário. Os jogadores, contudo, trataram de tocar a carreira adiante. Nem todos conseguiram emprego, outros ganharam chance em clubes maiores, mas a realidade da maioria foi na Divisão de Acesso – a segunda divisão estadual.

Passados mais de dois meses após o fim do estadual, o GloboEsporte.com levantou as movimentações entre os atletas por meio de fontes oficiais e registros de contratos no Boletim Informativo Diário (BID) da CBF. À exceção da dupla Gre-Nal, foi possível mapear as transferências de 103 jogadores que participaram do campeonato e depois trocaram de clube. No universo analisado, 27 atletas saíram para a Divisão de Acesso. Na sequência, aparecem as competições nacionais, em ordem decrescente: 20 na Série D, 19 na Série C, 18 na Série B e quatro na Série A.

Para onde foram os jogadores do Gauchão

  • Divisão de Acesso: 27
  • Série D: 20
  • Série C: 19
  • Série B: 18
  • Série A: 4
  • Copa Paulista: 4
  • Segunda Divisão Catarinense: 4
  • Segunda Divisão (terceira divisão do RS): 3
  • Segunda Divisão Cearense: 1
  • Segunda Divisão Baiana: 1
  • Segunda Divisão Goiana: 1
  • Portugal (segunda divisão): 1

Extasiado pelo primeiro título gaúcho de sua centenária história, o Novo Hamburgo juntou os cacos do desmanche da equipe e tentou reorganizar as forças para a Série D. Mas o preço do sucesso para um time de pequeno porte fez valer a tendência e tornou-se muito caro ao Noia, que não conseguiu passar da primeira fase, com apenas uma vitória em seis jogos. De todo time titular campeão estadual, sobrou apenas o volante Preto.

Como conquista individual, os jogadores que começaram a segunda partida da final do estadual contra o Inter conseguiram vagas em séries nacionais superiores. Ou seja, uma melhor condição para a carreira: o goleiro Matheus foi para o Juventude (Série B), o lateral-direito Léo para o Joinville (Série C), os zagueiros Pablo e Julio Santos para Luverdense (Série B) e Boa (Série B), respectivamente, o lateral-esquerdo Assis para o Paraná (Série B), os volantes Jardel e Amaral para Londrina (Série B) e Náutico (Série B), respectivamente, o meia Juninho para o Juventude (Série B), e os atacantes Branquinho e João Paulo para São Bento (Série C) e Juventude (Série B), respectivamente.

Pelotas aposta alto, mas quem leva é o São Luiz

MAIORES "IMPORTADORES"

Time Campeonato Jogadores
Boa-MG Série B 7
Novo Hamburgo Série D 5
Pelotas Divisão de Acesso 5
Santa Cruz Divisão de Acesso 4
América-RN Série D 4

O time da Divisão de Acesso que mais bebeu da fonte do Gauchão foi o Pelotas. A equipe do sul do Estado firmou acordo com o volante Reinaldo, do Caxias, o volante Artur e o lateral Vinícius, do Ypiranga, e o meia Leandro Canhoto e o atacante Welder, do São Paulo. Mesmo assim, caiu nas quartas de final para o Lajeadense.

Já o São Luiz, que buscou três jogadores da primeira divisão, acertou em cheio. Além de garantir o retorno à elite, sagrou-se campeão da competição. Do rebaixado Passo Fundo, foram contratados os laterais Maicon e Xaro. Do Veranópolis, rumou a Ijuí o atacante Matheus Lagoa. O meia Ari também foi inscrito pelo VEC no Gauchão. No entanto, saiu cedo e já participou da pré-temporada do Rubrão.

Lateral-esquerdo Xaro deixou o rebaixado Paso Fundo para ser campeão da Divisão de Acesso — Foto: Pedro Brikalski / EC São Luiz

– O Maicon e o Xaro não estavam no nosso planejamento inicial. Mas tivemos dificuldades nas duas laterais no início do campeonato. Sentimos a necessidade. Então, na reta final da primeira fase do Gauchão, já iniciamos as conversas com eles. O Matheus é um jovem que trouxemos para completar grupo e acabou jogando muito também. Fomos cirúrgicos, mas com um pouco de sorte – afirma o diretor de futebol do São Luiz, Delmar Blatt.

Por um lado, os clubes gaúchos lamentam a dificuldade em manter seus jogadores por falta de recursos e manutenção do calendário cheio ao longo do ano. O próprio Novo Hamburgo, após a eliminação na Série D, fechou as portas até o ano que vem. Por isso, a maioria dos atletas assina contrato de quatro meses e precisa sair em busca de um novo rumo após o fim dos estaduais. Por outro, os dirigentes celebram o reconhecimento do Gauchão a nível nacional.

"Jogadores do Veranópolis, Cruzeiro, Novo Hamburgo, Caxias foram para Série B. Foi um fenômeno. Ganharam uma dimensão a nível nacional. Desta forma, vai ser até mais difícil montar um grupo para o ano que vem". (Ademir Bertoglio, gerente de futebol do Veranópolis)

Boa busca sete para a Série B

O número de transferências para a Série B chamou atenção. E ninguém mais reforçou o elenco ao "importar" mercadoria do Rio Grande do Sul como o Boa. Os mineiros buscaram os zagueiros Edson Borges (Caxias), Laércio (Caxias) e Julio Santos (Novo Hamburgo), os volantes Eduardinho (Veranópolis) e Gil Mineiro (Veranópolis) e os atacantes Gilmar (Caxias) e Reis (Caxias) – Edson trocou novamente de time com a chegada do técnico Luiz Carlos Winck, ex-Caxias, ao Criciúma, também da Série B.

A explicação para o Boa olhar tanto ao Sul está na casamata. Ou estava. No início da segunda divisão nacional, o treinador era o gaúcho Julinho Camargo, com amplo conhecimento do futebol no Rio Grande do Sul. Antes rival, o sexteto passou a vestir a mesma camisa em questão de dias.

Após passagem meteórica pelo Boa, zagueiro Edson Borges foi para o Criciúma — Foto: Fernando Ribeiro/Criciúma EC

– Pessoal é tudo conhecido. Ou jogamos juntos, ou fomos adversários. Dentro de campo, costumamos dizer que o bicho vai pegar, mas fora dele criam-se laços. O Julinho (Camargo) conversou com a gente. Nada mais justo (ir para o Boa). Conhecemos bem o trabalho dele – diz o experiente volante Eduardinho.

– A gente já se conhece, sabe como o outro gosta de jogar. Se não fosse o Caxias, com certeza não estaria aqui. Aparecemos para o Brasil inteiro – emenda Reis.

Mas os reforços "gaúchos" não foram suficientes. O time de Varginha somou apenas cinco pontos em sete jogos, e Julinho acabou demitido após a goleada por 4 a 1 para o Goiás, no dia 13 de junho, e a penúltima colocação na tabela. Além da passagem meteórica de Edson Borges, Gilmar também trocou o Boa pelo Perak, da Malásia. Os demais continuam no grupo mineiro.

Outro clube "importador" do próprio mercado interno é o Novo Hamburgo. Depois de perder quase 100% do time titular, precisou se refazer às pressas, com menos de duas semanas para a estreia na Série D. Foram buscados o meia Diego Miranda e os atacantes Jajá e Jefferson Kanu no Caxias, o goleiro Prezzi, no Juventude, e o zagueiro Wagner, no Cruzeiro. Como o técnico Beto Campos deixou o clube depois do título, o Noia também foi buscar Ben Hur Pereira no Estrelado.

Cruzeiro é o maior "exportador"

MAIORES "EXPORTADORES"

Time Jogadores
Cruzeiro 19
Caxias 15
Veranópolis 15
Passo Fundo 14
Novo Hamburgo 12

O Cruzeiro é o maior fornecedor de material humano para outras competições após o fim do Gauchão. Nada menos que 19 jogadores conseguiram oportunidade em outros times. O número representa 66,6% dos 27 inscritos no estadual.

Por coincidência, ou não, os quatro atletas que saíram dos campos do Rio Grande do Sul e chegaram ao olimpo da Série A estavam no Estrelado: os jovens Vitor (goleiro) e Jaderson (atacante) se transferiram para a base do Atlético-PR, o lateral-esquerdo Sander foi para o Sport, e o lateral-direito John Lennon busca uma chance no Cruzeiro de Minas Gerais.

A prática, inclusive, não é novidade para a direção do Cruzeiro gaúcho. O ano de 2016 foi difícil, com luta até o fim contra o rebaixamento no Gauchão, mas 2015 teve uma escrita parecida com o sucesso de 2017 – nesta temporada, a equipe se classificou em segundo, mas caiu nas quartas de final para o Inter. Há dois anos, cinco jogadores acabaram "exportados" para a Série A: o goleiro Bruno Grassi (Grêmio), o volante Ben-Hur (Inter), o meia Wagner (Chapecoense) e os atacantes Matheus (Chapecoense) e Wesley (Goiás).

– Neste ano, foi uma boa campanha, o que nos dá credibilidade. Outros times do interior queriam o Sander e o John Lennon para o Gauchão, mas eles optaram pelo Cruzeiro. É pela nossa forma de agir, com pagamento em dia, direção confiável, estrutura ótima. Alguns atletas falaram que jogaram em vários lugares e nunca tiveram a mesma repercussão que no Cruzeiro. A gente fica muito grato – exalta Glênio Cordeiro, gerente de futebol.

Lateral-direito John Lennon virou apenas "Lennon" ao chegar ao Cruzeiro de MG — Foto: Washington Alves

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