Documentos de Académico
Documentos de Profesional
Documentos de Cultura
P R I M E I R A P U B L I C A C A O A P Ó S
1 6 0 A N O S D O M A N U S C R I T O
I N È D I T O D E J O S É C A E I R O
; < SOBRE OS - -
JESUITAS DO BRASLL
J
E DA INDIA |
NA
P E R S E G U I Q À O D O M A R Q U É S D E P O M B A L
( S E C U L O X V I I I ) .
B A ì A •
ESCOLA TIPOGRAFICA SALESIANA
19 3 6
I
O S J E S U I T A S D O B R A S I L
E DA INDIA
NA
r V* * *
*•* G.DEL PICCHI*
R.SEN.FEIJO. 2 8
V \TEL*tJ91CP08T.IJ69/
B R A S I L I E N S I S L I T T E R A R V M A C A D E M I A
P R I M A P O S T C L X A N N O S E D I T I O
M A N V S C R I P T I P R O R S V S I N E D I T I
I O S E P H I C A E I R I
SILIENSES ET GOANOS
IN
P E R S E C V T I O N E M A R C H I O N I S P O M B A L I I
( S A E C V L O X V I I I )
BAHIAE
TYPIS S C H O L A R U M SALESIANARUM SALVATORIS
MCMXXXVI
J
A C A D E M I A B R A S I L E I R A D E L E T R A S
P R I M E I R A P U B L I C A Q À O A P Ó S
1 6 0 A N O S D O M A N U S C R I T O
I N È D I T O D E J O S É C A E I R O
S O B R E O S
JESUITAS DO BRASIL
E DA INDIA
NA
P E R S E G U I C E L O D O M A R Q U È S D E P O M B A L
( S E C U L O X V I I I ) .
BA ì A
ESCOLA TIPOGRAFICA SALESIANA
19 3 6
IMPRIMI POTEST.
Candidus Mendes S. J.
Praepositus Vice-Provinciae Brasiliae Septentrionalis
IMPRIMATUR.
pelo resto, tudo o que importe aos missionarios que foram os pri-
Jlfranio *Peixoto
*
D E E X I L I O
PROVINCIARVM TRANSMARINARVM
ASSISTENTIAE LVSITANAE
SOCIETATIS JESV
S O B R E O E X I L I O
DA ASSISTENZA PORTUGUÈSA
DA COMPANHIA DE JESUS
D E E X I L I O
T A N S M A R I N A R V M P R O V I N C I A R V M
L V S I T A N A E ASSISTENTIAE
SOCIETATIS IESV
SVB M A R C H I O N E P O M B A L I O MINISTRO
XVIII SAECVLI C O D I C E M I N E D I T V M
SCRIPSIT
P A T E R IOSEPHVS C A E I R O
IN R E G A L I BRVXELLENSI BIBLIOTHECA A SE I N V E N T V M
TRANSCRIPSIT
P A T E R A N T O N I V S V A Z SERRA
E X L A T I N A L I N G V A L V S I T A N E R E D D I D I T P A T E R
E M M A N V E L NARCISVS M A R T I N S
P R O O E M I O Q V E E X P L A N A V I T
P A T E R ALOISIVS G O N Z A G A C A B R A L
O M N E S H I Q V A T V O R E I V S D E M SOCIETATIS
SACERDOTES
SOBRE o E X I L I O
D A S P R O V I N C I A S T R A N S M A R I N A S
D A ASSISTENCIA PORTUGUÈSA
D A C O M P A N H I A DE JESUS
D U R A N T E O MINISTERIO D O M A R Q U E S DE P O M B A L
P E L O P A D R E JOSÉ C A E I R O
C O N T E M P O R A N E O DOS SUCCESSOS
E N C O N T R A D O E C O P I A D O
N A BIBLIOTHECA R E A L DE B R U X E L L A S P E L O P A D R E
A N T O N I O V A Z SERRA
T R A D U Z I D O DO L A T I M P E L O P A D R E
M A N U E L NARCISO M A R T I N S
C O M PREFACIO
D O P A D R E L U I Z G O N Z A G A C A B R A L
T O D O S Q U A T R O D A M E S M A
C O M P A N H I A
P R O O E M I V M
D R . A F R A N I O PEIXOTO.
C ) C f r . V i l h e m a de M o r a e s , Memoria
1
apresentada ao 1° Congresso de Histó»
ria Nacional, p . 54 — 55. (Nota do prefaciador)
2
18 PROOEMIVM
13. _ Q u u m anno M C M X X X V , D O C T O R A F R A N I U S P E I -
C
P. Luiz Qonzaga Cabrai S. J.
( Annotatio Prooemiantis)
INTRODUCCÀO 23
(Nota do Prefaciador)
L I B E R P R I M V S
D E E X I L I O P R O V I N C I A E BRASILIENSIS
S O C I E T A T I S IESV
P R I M E I R A P A R T E
D E S T E R R O D O S J E S U I T A S D A
P R O V I N C I A D O B R A S I L
C A P U T I .
3
34 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS 1ESV
É
DESTERRO DOS JESUITAS D A PROVINCIA DO BRASIL 41
4
50 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS S O C I E T A T I S IESV
5
66 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
quam prius, diligentia intenti, satis probabant, omni jam metu li-
beros esse. Itaque, cum se postea tum in Brasilia, tum in Mara-
nonia falsos comperissent, plerisque creditum haud temere fuit, eum
hominem, ut mendacia spargeret, a Carvalio clam emissum, sive
optimo P r i n c i p i , si Provinciae quidquam moverent, exitium inferre,
sive civibus, qui propterea vocem l i b e r a m misissent, laqueos p a r a r e
moliebatur. Sane, quae hisce in Provinciis deinde contingere mul-
torum infortunia, ex illis rumoribus fuisse orta, creduntur. Petri
Principis incolumitati Deus Providit.
DESTERRO DOS JESUITAS D A P R O V I N C I A DO BRASIL 71
6
82 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
tornara objecto das iras do Rei. Isto, afirmava èie fora o que
por suas m e s m a s palavras lhe ordenàra o Cardeal Saldanha.
Alguns houve q u e p o r cartas se dirigiram ao Prelado e lhe
pediram lhes desse a demissào; e eram afinal aquèles aos quais
pela ruindade dos tempos os superiores dos jesuitas se tinham
visto obrigados a conservar na Companhia mais tempo do que
convinha. O Prelado e n v i o u os seus n o m e s ao Provincial, e por
outro editai afixado no colégio, avisou que havia liberdade para
o arrependimento e que nenhum, ainda que j à antes o tivesse
pedido, fosse o b r i g a d o a sair da Companhia.
Isto fè-lo por escrupulo, pois sabia que Saldanha nenhum
poder houvera de Roma àcèrca disto; e assim também nenhuns
poderes tinha, q u e è i e pudesse subdelegar aos outros. Sei com
efeito de b ò a fonte que a leviandade dos postulantes desgostara
nào pouco o Prelado, e q u e nos dias, n à o muitos, que mandou
sòbre os j e s u i t a s n à o q u i z d a r as demissòes a alguns dèles.
Por èsse mesmo tempo avisou também ao povo, por um
editai a f i x a d o à s portas dos templos que ninguem para o futuro
se utilizasse dos ministérios sagrados dos jesuitas, porque todos
estavam privados dos poderes de exercé-los. E, assim, aquèle
Bispo, que por tanto tempo e com tanta energia de caracter
se recusàra a praticar semelhante baixesa, veio a cair nela sob
os impulsos do terror.
Nem o excusa de versatilidade o estado, em que se acha-
vam os jesuitas nèsse tempo; pois que o estar e m entào segrega-
dos, por ordem do Rei, do trato com os povos e guardados
por sentinelas, os n à o t o r n a v a mais aptos para também o Prela-
do com a sua autoridade os p r o i b i r de exercitarem os seus m i -
nistérios. O que o assedio dos jesuitas, quando muito, provava,
é que a intervencào do Prelado com aquella proibicào se tor-
nara j à p o r aquele tempo desnecessaria, ainda que as leis lha
facultassem.
Imagine-se que homens, e ainda por cima amigos, em razào
dos seus grandes servicos, merecedores de f a v o r e s , se v i s s e m o p r i -
midos de grandes v e x a g ò e s , e, só, por isso de os verem nesse
estado, os o l h a s s e m corno mais aptos p a r a se l h e s f a z e r e m agravos
e lhes agravassem a sua i n f e l i z sorte c o m novos gravames! N à o
sei eu que nomes o u q u a l i f i c a t i v o s se houvessem de dar a tais
procedimentos! Aproximemos o facto de urna hipótese anà-
84 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
que podia.
7
98 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
( ) N a h i s t o r i a da e x p u l s à o dos jesuitas de P o r t u g a l .
l
112 DE E X I L I O PROVINCIAE BRASILENSIS SOCIETATIS IESV
8
114 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
Sto. Inàcio para que com o seu valimento ante Deus acudisse
àquele misero. E jà o davam por morto, quando o avistaram
nào longe no m e i o das ondas, e, sào e salvo, o recolheram para
a nàu pretoria. Isto serviu para que dali em diante os jesuitas
fossem menos duramente tratados.
Chamaram também muito a atengào dos marinheiros e mare-
antes os vòos de codornizes em volta da nàu almirante; pois que
bem sabiam todos n à o haver por aquelas paragens ilha alguma,
onde aquelas aves se pudessem acolher.
A 13 de junho, festa de Sto. A n t o n i o , padroeiro da cidade
de Lisboa, comegaram as nàus a singrar pelas aguas do Tejo.
E durante a noite do mesmo dia foram levados para a nàu
de Genova, onde j à se e n c o n t r a v a m os jesuitas, v i n d o s d o Rio de
Janeiro. (1) O s restantes, deportados d o Brasil, d e v i a m ao chegar,
ser transportados para enxovias do Arsenal. E, retomando a
narracào dos outros sucessos do Brasil, passemos primeiro a des-
crever o que se passou em Pernambuco.
4. — A calamidade, que assaltou os j e s u i t a s pernambucanos
foi dura e prolongada; teve corno principal autor a Luiz Lobo
da Silva, Governador da Provincia; o qual antes fora amigo dos
jesuitas, mas mudou-se em inimigo seu, com a mudanga, que so-
breveio na fortuna dèles. Como, com efeito, logo ao p r i n c i p i o t i -
vesse recebido de Carvalho grande porgào de libelos da Repu-
blica, nunca por vontade sua se resolveu a dà-los a alguem a
lèr. E com egual moderagào se houve o Bispo de Olinda,
Francisco Xavier Aranha.
Como, àlem disso, este Prelado houvesse recebido a 31 de
novembro de 1758 cartas de Saldanha, em que lhe pedia que
fisesse as suas v e z e s para a reforma dos jesuitas na Provincia
de Pernambuco, adiou para 9 de janeiro este n o g ó c i o , a f i r m a n d o
entretanto aos que o queriam ouvir que na sua diocese os jesui-
tas eram os ùnicos, que nào precisavam de reforma; excetuava,
porem, urna coisa, que acrescentava gracejando, estava precisando
9
130 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
(a) J a c o m u m , sive J a c o b u m .
DESTERRO DOS J E S U I T A S D A P R O V I N C I A DO BRASIL 133
io
146 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
que lhe fossem restituidas, por elas nào terem sido emprestadas,
mas dadas aos jesuitas.
il
162 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
5. — K a l e n d i s A p r i l i s R e c i f f e n s e m p o r t u m appulit navis, ex F l u -
minensi urbe missa, ut Jesuitas i n L u s i t a n i a m deportaret. Ea navis,
ab Gomio F r e y r i o Jesuitis nuper erepta, eos tantum in usus pa-
rata fuerat, ut Moderatorem Provinciae, Collegia longissimo inter-
vallo dissita invisurum, sociosque transmigrare alio jussos, tum
commodius tum opportunius deportaret. Tantae magnitudinis erat,
ut, si r a t i o commoditatb haberetur, haud plura, quam sexdecim
loculamenta contignatio ejus caperet. Nunc vero, cum Jesuitae
quinquaginta tres navigaturi essent, lectulique, medio vix corpori
DESTERRO DOS J E S U I T A S D A P R O V I N C I A DO BRASIL 167
e sobrepostos uns aos outros, se nào póde obter logar para mais
de quarenta e oito.
Isto é o bastante para se fazer juizo sóbre a grandeza da
tal n à u jesuitica. E sem embargo chamava-lhe Carvalho ante o
Rei e os seus comensaes, a almirante da armada dos jesuitas
(digno texto, corno dizem, para tal vasilha); e tào desenvergo-
nhado era que està nau, com mais mentiras alvejada do q u e eia
de vélas e tabuas tinha, a fez ir do Brasil ao Tejo; e teve
ainda o despejo de apresentà-la à vista do Rei e aos risos de
todos. Mas ainda quicà depois nos ocupemos desta famosa nàu
capitànea.
6. — Este era, o tamanho e a capacidade do navio, em
que d e v i a m navegar tantos jesuitas; e, para se dar comeco a
està navegacào, receberam os jesuitas o aviso a 3 de abril, no
proprio dia do Sabado Santo. E entào é que Caldeira acudiu
para mais instantemente apertar com os e s c o l à s t i c o s e padres para
que afinal largassem o habito de jesuitas; pcls que assim, dizia,
poderiam os padres graves navegar mais à l a r g a ; e, se p e l o con-
trario fossem todos, nem camas h a v i a para tantas pessòas, e nem
as provisòes de bóca para t à o l o n g a v i a g e m e r a m bastantes, pois
a n à u n à o dava j à logar nem para coisas pequenas.
Entre o padre Jerónimo Velóso, homem de edade mais que
madura, e o juiz Caldeira a altercaeào f o i mais seria. Objecta-
va-lhe o padre sobretudo, entre outras coisas oportunas ao caso,
com os perigos a que expunha a salvagào da sua alma. E , corno
o apertasse u m pouco mais duramente, entrou Caldeira em grandes
furias, e, tornando ao padre pelo brago direito, lhe mandou que
se deixasse de argumentos, que, disse, nem èie estava para os
ouvir, nem pessóa a l g u m a lhos d e v i a apresentar; que o R e i havia
consultado homens nesta materia competentes, e n à o iria a facultar
com tanto amor a saida aos da Companhia, se nisto pudesse
haver qualquer perigo para a sua salvacào.
Com estas discussòes bem pouco serenas e bem pouco ajui-
zadas a ninguem conseguiu d e m o v e r ; e m u i t o mais esperto se m o s -
trou depois, quando, lido o decreto sóbre a e x p u l s à o dos jesuitas
brandamente os admoestou a que para o futuro nào escrevessem
cartas aos seus, e que tivessem c o m èstes piedade e nào ocasio-
nassem àqueles que lhes eram t à o q u e r i d o s as atrozes penas que
dai podiam resultar. Estas a d m o e s t a c ò e s , q u e os jesuitas j a t i n h a m
170 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS S O C I E T A T I S IESV
que Jesus Christo na cruz sofrera, lhe desse àgua para matar a
sede, que lhe estava devorando as entranhas. Ante este pedido,
assim publicamente feito, ficou o comandante cheio de vergonha,
e deu àgua em abundància aos jesuitas a l i presentes; e avisou o
Superior que dali em diante os padres nào subissem a ouvir
missa; depois, p o r é m , deixou-os subir, mas sómente trinta, porque
èie dispensava aos outros a obrigacào de ouvi-la.
Como depois as doencas, com a sède e com a f o m e , fossem
aumentando, com receio de algum tumulto, ordenou que para o
f u t u r o se désse mais àgua e mais comida. Nada, porém, alegrou
tanto os jesuitas c o r n o as chuvas, que por alguns dias cairam,
porque, recolhendo-a pelos postigos, bebiam todos à vontade
quanta precisavam.
Após quarenta dias de t à o penosa viagem, embocaram emfim
pela corrente do Tejo no dia 26 de junho. Causou sensacào em
Liboa a presenta da nàu capitània da armada j e s u i t i c a nas àguas
daquèle rio, porque todos, inimigos e amigos da Companhia
admiravam a desfacatès de Carvalho, e com lagrimas lastimavam
èstes a ruindade dos tempos que para Portugal iam correndo.
E realmente bem poderia aquela nàu chamar-se capitània, mas
da armada carvaliana, que èie trazia cruzando os mares, afim
de oprimir os jesuitas, porque nenhuma outra melhor se prestava
para c r u d e l i s s i m a m e n t e os vexar e destruir.
Apenas os J e s u i t a s entraram no porto, dirigiram-se logo para
eles os S e n a d o r e s e n v i a d o s d e C a r v a l h o , os q u a e s s e m e s p e r a r e m p e l a
noite, corno a t é a h i sempre se c u m p r i r a l e v a r a m os jesuitas para
a Genuense, n à u cargueira, onde se ajuntaram aos seus irmàos
baianos, e aos fluminenses, pouco antes chegados, dos quais ago-
ra nos vamos ocupar.
C A P V T X .
12
178 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
Gaspar Sales e M a n u e l M a n r i q u e .
188 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
por dia.
C A P V T X I .
13
194 DE EXILIO PROVINCIAE BRAS1LIENSIS S O C I E T A T I S I E S V
interior bem pouco limpo e por conta propria outras fèzes, que
nào f o r a m macular a inocencia dos jesuitas, mas a d i g n i d a d e p r o -
pria da sua pessòa; pois que ousou afirmar que eles h a v i a m v i o -
lado o segredo do tribunal da penitència, e que pelos seus mi-
nistérios sagrados haviam pervertido com doutrinas corrutas as
almas dos conjurados. E acrescentava mais que t o d o aquele acervo
de erros, a que os Pontifices Inocèncio X I e Alexandre V I I
tinham procurado por cóbro, èles os tinham com grande impru-
dència difundido. Procurava assim seguir em tudo os passos de
Carvalho, e ainda chegou a tornar a dianteira aquele bipede
mendacissimo, avantajando-se-lhe na calunia com urna gloria, que
bem poucos lhe invejarào.
Depois de um p r e l u d i o , assim aparatoso, passou às ordens,
que èie queria se pusessem em pratica, mandando duas coisas,
que por aquèle tempo jà vinham a ser desnecessarias. Era a
primeira que os cidadàos cortassem tódas as relacòes com os da
Companhia; a outra que em logar algum dentro dos confins da
sua diocese èles pudessem exercer os ministérios sagrados, por jà
de facto lhes ter retirado èstes poderes. Ordenava eie isto a 8
de novembro, quando j à os j e s u i t a s se a c h a v a m c e r c a d o s d e tropas,
e quando os desembargadores ou jà tinham trazido para o colégio
sob prisào os que nas aldeias estavam, ou pouco tardaria que
para là entrassem os que ainda nào tinham vindo. E por està
causa jà vinha a ser desnecessario proibir à gente o ter relacòes
com èles; e nem havia perigo de que èles, na hipótese de o
quererem fazer, pudessem semear doutrinas perversas.
O que afinal com i s t o se tinha em vista no Brasil, corno jà
se fizera em Portugal, era que os da Companhia fossem havidos
corno réus e comò manchados de todos os crimes, para que por
este modo nem o povo se queixasse, ao vé-los, presentemente c o -
bertos de tantos vilipendios, nem para o futuro deles sentisse
saudades.
Com este firn em vista mandou ainda o u t r a coisa, que muito
lhe servia a este seu intento, e f o i que a carta pastoral, essen-
cialmente caluniosissima, fosse l i d a desde os p u l p i t o s das igrejas,
durante o sacrificio da missa, e que depois fosse afixada nas
portas das mesmas igrejas, para assim ficar seguro de que por
està forma a infàmia dos da Companhia, unico alvo, que a
pastoral tinha em mira, teria a maxima vulgarisacào.
206 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
u
210 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
deram-se no ano 1759, antes que èie fòsse por Saldanha esco-
lhido corno reformador dos jesuitas, que foi a 4 de janeiro de
1760.
3. — Nesse mesmo dia foram o desembargador Manuel
Fonseca Brandào e Inàcio Goncalves, escrivào da real fazenda,
ao colégio, onde os jesuitas, havia jà dois meses, se achavam
guardados por sentinelas; e, fazendo reunir c o m o sinal d a sineta
todos os jesuitas num determinado logar, deram a ler um mago
de cartas, que tinham trazido, ao ministro da casa, Antonio
Galvào, substituto do Superior, que e n t à o estava d e cama doente.
A primeira carta fora escrita pelo p r o p r i o Bispo; e nela dizia
que Saldanha, reformador dos jesuitas, o escolhera a eie para
que o substituisse na r e f o r m a deles para a sua diocese. A outra
fora mandada p o r Saldanha ao P r e l a d o , datada de j u n h o de 1758
no tempo em que jà de certo em P o r t u g a l se sabia ter f a l e c i d o
o Papa Bento X I V . Leu-se em terceiro logar a carta d o mesmo
Papa a Saldanha, na qual eie a Saldanha concedia juntamente
altos poderes e quasi nenhuns p o d e r e s s o b r e os m e m b r o s d a Com-
panhia de Jesus.
Lidas as cartas, ordenou-se a Galvào que, tanto eie corno
os demais jesuitas, prestassem por escrito obediencia ao seu re-
formador. Forca lhes foi em tal conjuntura prestar-lhe obediencia
porque, n à o obstante saberem todos que Saldanha nenhum direito
tinha, e que portanto nenhum poder tinha para o comunicar ao
Prelado fluminense, comtudo bem previam que muito peor lhes
correriam as c o i s a s , se e m a l g o c o n t r a r i a s s e m a v o n t a d e d o Prelado.
Daqui em diante é que comecamos a registrar os atos do
Prelado comò r e f o r m a d o r dos costumes dos jesuitas. E e s t à parte,
que me toca referir, de mil amóres a omitiria, se o p u d e s s e f a z e r
sem quebra da lealdade devida à historia. H à com efeito dois
extremos de que me arreceio: o primeiro é que havendo de re-
latar tantas coisas pouco fàceis de crer, se venha a julgar serem
elas por m i m inventadas; e o segundo é q u e os l e i t o r e s , a o v e r e m
os àtos prelaticios por m i m narrados no estilo e forma, que èles
merecem, venham a julgar que eu estou empenhado em abater
a sua dignidade de Bispo.
O que, sim, quero se tenha bem presente é que resalva e
intacta fica sempre a autoridade, ainda mesmo e m sujeito indigno
e que nào é a ignorància ou perversidade da pessòa, a quem
214 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
tanto pelas suas vidas corno pelo seu nascimento. Mas isto nào
o fez o Prelado por vontade sua ou sentimento proprio, senào
porque, tendo com efeito corrido voz pela cidade que só eram
chamados corno testemunhas em negocio de tanta importancia
aqueles, que menos d e v i a m ser, houve eie de, para por cobro a
estas j u s t a s queixas, chamar também gente honrada.
Forgado pois, a ouvir os testemunhos da gente honrada, eis
a estranha forma, que eie t i n h a nos interrogatórios: que cada um
sob j u r a m e n t o , dissesse o que sabia sobre certos e determinados
pontos, que estavam dispostos e separados por meio de capitulos
mas n à o permitia ao escrivào que entretanto tornasse por escrito
os testemunhos daquelas pessòas. E, quando a testemunha negava
(e negaram todos os cidadàos honrados) que os jesuitas tivessem
incorrido neste crime, e afirmavam que eles c o m p r a v a m s ó o n e -
cessario para o seu uso, e que dos rendimentos d a s suas f a z e n d a s
parte se vendia no Brasil e parte ia para Portugal, onde se
vendia, e que era a isto apenas que se reduzia todo o trato dos
da Companhia, o que por lei alguma se proibe, e que quanto
ao mais n à o tinham noticia alguma de que pudessem dar teste-
munho seguro; neste c a s o a testemunha era refugada, corno sendo
de todo incapaz para depor; e nem o que com juramento testi-
ficàra, ficava registado no processo.
Mandava depois embora a testemunha, depois de lhe darem
bastante claramente a entender que no processo n à o se admitiam
testemunhos f a v o r a v e i s aos da Companhia, porque era por entào
coisa n à o pouco perigosa, assim para o interrogante corno para o
interrogado, o que bem m a n i f e s t o se tornava pelos infortunios do
Arcebispo da Baia e de varios outros.
O processo deste modo instaurado pelo Bispo do R i o , e com
tanta desvergonha levado a cabo, f o i de grande peso para se
comprovar a inocencia dos jesuitas, e maior ainda do que o do
Prelado baiano, formado segundo todos os processos legais: e
estou certo que eles, olhando à coisa em si e nào ao espirito,
n à o tiveram por t à o eficazmente favoravel a si o Arcebispo baiano,
instaurando-lhes processo segundo as vias inteiramente legais,
corno o Bispo fluminense c o m o seu, t à o escandalosamente feito.
Divulgou-se logo pela cidade, e f o i largamente comentada, a
forma escandalosa corno f o i encaminhado o processo, e mal se
pode imaginar quanta paixào o Prelado c o m isto sentiu e q u a n t a
224 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
15
C A P V T XIII.
r
230 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
fama e bom nome dos jesuitas, aquele ato nào estava em desa-
cordo com o do autor ao publicar aquele decreto.
3. — No dia 26 de Janeiro ainda outra vez o Bispo mos-
trou a sua sanha contra a Companhia, publicando mais dois
decretos, um que noutro logar expuzemos, c o n d e n a n d o os jesuitas
ao desterro, e foi com grande aparato proclamado na praca e
encruzilhadas da cidade, entre os aplausos dos soldados, nào
espontaneos mas preceituados pelos respectivos oficiaes, e entre as
lastimas e gemidos dos moradores, que choravam n à o tanto pelos
jesuitas, que eles r e c o n h e c i a m inocentes, quanto pelos males, que
da sua perda resultariam para a sociedade.
A o outro decreto, também emanado do Prelado fluminense
homem de grandissima fecundidade nestes a s s u n t o s , veio dar oca-
siào a constancia, até entào notavel dos jovens da Companhia;
pois que convidados a abandonar a sua religiào, nenhum até ali
viera a cair nessa f r a q u e z a .
Irritado o Bispo com està resistencia e juntamente receoso
de que com i s t o viesse Carvalho a ficar indisposto c o m èie, por
haver sido remisso em cumprir as suas o r d e n s , ocorreu-lhe que o
melhor expediente para aquéle apèrto seria lancar a culpa aos
padres graves, dando-os comò causadores daquela constancia ju-
venil; e por este meio poderia satisfazer os seus maus desejos
contra os padres, corno bem l h e parecesse; mais facilmente alici-
aria os jovens a pedirem a sua demissào da Companhia; e em-
fim grangear-se-ia também urna grande simpatia perante C a r v a l h o .
Publicou, pois, contra os padres graves um decreto, que
nada desdizia em sciéncia e consciéncia dos que j à antes h a v i a m
saido a pùblico, decreto, que eu de bom grado passaria em si-
lèncio, se mo permitisse a lealdade histórica, para que se nào
viesse a saber que dum portuguès e ainda por cima mitrado, p u -
desse sair urna carta pastoral cheia de tanta imbecilidade e igno-
rancia.
Como, porém, eia està repleta de quasi tantos erros corno
palavras, usarei de certo comedimento, e me limitarci a sòmente
expor, o mais sucintamente que possa, a fonte de todas elas; e
assim, tanto o seu numero corno a sua torpeza a todos ficarào
patentes.
4. — Em verdade, se o Bispo fluminense, ao receber de
Saldanha o poder, que este p o r nenhuns titulos lhe podia trans-
234 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS S O C I E T A T I S IESV
urna grande paixào; e foi logo ter com Bobadela; e dèle fa-
cilmente alcancou que os padres, que isto afirmavam, fossem
atrozmente castigados.
No dia 31 de janeiro, quando jà a prumo sobre a cidade
pairava urna espessa escuridào, e a procela, que o reboar dos
ininterruptos trovòes e os raios continuamente rasgando as nuvens
tornavam sobremaneira medonba à vista, j à comecava a desen-
cadear-se, eram, entre urna escolta de gente armada, arrancados
do colégio quatro veneraveis sacerdotes, incnminados de negarem
ao Bispo o poder da demissào. Os seus n o m e s eram Cristóvam
Cordeiro, de c u j o s servicos muito se valéra o Prelado baiense,
Inàcio Antonio, Inàcio Ribeiro, Francisco Silveira e mais dois
jovens, Franciscco Moura e Gabriel Campos.
Tomaram a direcào da ilha c h a m a d a das C o b r a s onde ficaram
encerrados em duas enxovias, situadas j u n t o à fortalesa, p a r a nelas
suportarem a t é ao seu embarque os tormentos, que a sevicie h u -
mana soe empregar contra as suas v i t i m a s . E ainda entretanto o
Prelado andava publicamente fazendo alarde pela cidade de sua
m u i t a c l e m è n c i a e c o m i s e r a g à o p a r a c o m os p a d r e s d a C o m p a n h i a , p o r
se contentar c o m punir faltas t à o graves com penas t à o brandas.
2. — Ainda depois de tudo isto nào estava contente o
Bobadela e n à o dava tréguas à sua faina. A o commandante das
sentinelas e até a estas o r d e n o u que se empenhassem quanto pu-
dessem em dobrar a constancia dos mocps, e seriam por isso
merecedores de louvores e de prèmio. E assim se tornou muito
renhida a luta, porque os i m p o r t u n o s persuasores r e p e t i a m e v o l -
tavam ao assalto, e pugnavam nào tanto com razòes quanto com
injurias e grandes zombarias.
Também aos cidadàos e p r i n c i p a l m e n t e aos parentes se con-
cedeu faculdade, que pouco antes p o r decreto do Rei lhes fora
retirada, de poderem f a l a r c o m os j o v e n s , a f i m d e q u e os m o v e s s e m
a tornar por melhor caminho. E èste assalto vinha a ser mais
apto para os fazer render, porque os pais tinham para si e a
cada passo o repetiam, que a p e r t i n à c i a d o s seus filhos redundaria
em mal e dàno seu, por imaginarem, o que nào era de todo
improvavel, que a mina dos jesuitas também, a modo de contà-
gio, abrangeria a t é aos mais chegados a èles.
Nào faltaram, contudo, exemplos dignos de todo o louvor,
porque muitos dos parentes, e, além dèstes, varòes graves, mor-
248 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
J o a q u i m E d u a r d o , A n d r é Ferreira, J o s é Basilio, J o s é T e i x e i r a , D o m i n g o s
V i e i r a , Gaspar R i b e i r o , A n t o n i o Gonzaga, L u i z Borges, J o s é Vicente, Vicente
Ferreira, M a n u e l M e d e i r o s , J o à o M a r t i n s , J o s é G o u v e i a , J o à o L e à o ? , ì o à o
Gonzaga, M i g u e l Campos, M a x i m i l i a n o Ferreira, J o a q u i m Sales, D i o g o X a v i e r ,
e José Almeida.
250 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
va, J o à o de A z e v e d o , J o à o P i n h e i r o e J o s é V i e i r a ; e o estudante J o à o L e à o
com quatro coadjutores.
256 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
17
258 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
1. — E n q u a n t o c o m m a i o r a t i v i d a d e se p r o c e d i a n è s t e n e g o c i o ,
mandava o Governador de S. Paulo publicar o decreto, em que
se ordenava que se denunciasse t u d o que se soubesse à c è r c a do
comercio dos jesuitas. Nada foi delatado, pois que nem nesta
cidade, corno nem em qualquer outra parte os da Companhia
tinham exercido qualquer mercanci'a p r o i b i d a p e l a s leis canónicas.
Também os decretos régios, que protegiam a liberdade dos
indigenas do Maranhào, foram entào com grande aparato procla-
mados. Mas n à o sei realmente que razào houvesse p a r a se fazer
isto, porque, comò jà noutra parte mostramos, èstes decretos nada
tinham que vèr com os da Companhia, a nào ser o terem-no
èles, tanto outrora comò por èsses tempos vivamente solicitado e
pedido aos Reis de Portugal. A l e m disso, n à o existia a escravidào
no Brasil, havia um século, a n à o ser para os n a s c i d o s na Africa
e para os deles nascidos: e que èste bem se devesse e m grande
parte aos padres da Companhia, é coisa que os proprios selvfco-
las muito bem reconheceram.
Nào estava entretanto ocioso o desembargador Salazar. Prose-
guindo pelo mau caminho que encetara, arrecadou para o fìsco u m
legado, que um jesuita a n à o sei quem deixara, pouco antes de
fazer os seus v o t o s solenes, e o mandou referendar no relatório.
Também acrescentou os haveres de Carvalho com as pingues
h e r a n c a s d e t r è s j o v e n s , q u e p o r m o r t e d e seus p a i s as h a v i a m r e c e b i d o .
Se bem que èste desembargador fosse em suas acoes nào
pouco grosseiro; contudo nas palavras era muito macio; pois que
publicamente assegurava que m u i t o o u t r o s e r i a o seu procedimento
com os jesuitas, se nào tivesse receios do capitào-mór e mais
266 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
18
274 DE EXILIO PROVINCIAE BRASILIENSIS SOCIETATIS IESV
19
290 DE E X I L I O PROVINCIAE BRAS1LIENSIS S O C I E T A T I S IESV
20
LIBER SECUNDUS
E X I L I O V I C E - P R O V I N C 1 A E
MARANONIENSIS
S E G U N D A P A R T E
DO MARANHÀO
C A P V T I.
q u a e Christiane- a c l u s i t a n o i m p e r i o n o n p a r e r e t . V e r u m , d u m Lusita-
ni nihil magis cogitant q u a m quo pacto indigenarum libertatem o p p r i -
m a n e nec m o d o justa m a n c i p i a sed e t i a m c o n t r a leges facta gravio-
ribus, q u a m quos insita genti pigrities pati potest, laboribus atque
exinde cruciatibus diris vexant, tantum Lusitani nominis odium non
m o d o silvestribus b a r b a r i s sed paganis q u o q u e injecere, u t a l i i i n p a -
g o s h a u d se facile deduci sinant, alii f u g a m i n silvas assiduo me-
ditentur.
Jesuitae, c u m R e g u m voluntate t u m suopte ingenio et misericor-
dia excitati, d u m miserorum libertatem impigre tuentur, innumerabiles
c a l u m n i a s , o d i a , a e r u m n a s ac bina exilia tolerarunt. Nulla sane in
p r o v i n c i a i m p e r i i L u s i t a n i a u t m a j o r a Jesuitae p r ò D e i g l o r i a et r e i p u -
blicae b o n o conati sunt, aut graviora ab c i v i b u s suis p e r t u l e r e .
H a e c q u o q u e o m n i u m P r o v i n c i a r u m atrocissima calamitate Ma-
ranonienses Jesuitae prius quam caeteri turbari coepere. Malorum
a u c t o r C a r v a l i u s , c u m o m n i a circumspiceret, b e l l u m , q u o d Jesuitis i n -
f e r r e a p u d se s t a t u e r a t , a b Maranonia potissimum sibi exordiendum
duxit.
E X P U L S À O DOS JESUITAS D A V I C E - P R O V I N C I A D O M A R A N H À O 3 11
foi o que vinte anos antes tanto Nunes corno Paulo de Carvalho
tinham de c o m u m acordo arquitetado ( ) . 3
R e s o l v e n d o - s e , p o i s , C a r v a l h o a d a r g u e r r a d e m o r t e aos j e s u i t a s ,
c o m e c o u p o r examinar quais seriam os personagens, que para èste
intento melhor o p o d e r i a m auxiliar; e de todos o que mais apto lhe
pareceu f o i o Bispo do P a r à , M i g u e l Bulhòes, dominicano, de quem
convirà se conhecam os antecedentes, nào indignos de serem
conhecidos.
3. — Era Bulhòes um homem de lingua solta; e nem ainda
q u a n d o pregava, a sabia moderar, chegando c o m isto a ofender ao
rei D . J o à o V e aos seus M i n i s t r o s . C o r r e r à f a m a q u e se enamorara
8
( ) Interessante c a p i t u l o seria, para urna biografia imparcial do m a r q u è s de
Pombal, o que, b a s e a n d o « s e em documentos coevos, nos informasse sobre
q u a l f o i a p r i n c i p a l p r e o c u p a c à o deste m i n i s t r o nos quatro anos que se se-
g u i r a m ao terrivel terremoto de Lisboa em 1755.
C r e i o que n à o andaria longe da verdade quem a f ì r m a s s e que o negocio
que mais lhe absorveu as a t e n c ò e s durante aquele tempo n à o f o i acudir com
a u x i l i o s pecuniarios e aliviar os males da i n f e l i z capital, corno t i n h a obriga=
£ à o de fazer, mais sim guerrear e p o r todos os meios levar a cabo o exter»
m i n i o da C o m p a n h i a de Jesus em Portugal e seus d o m i n i o s , n o que gastou
somas fabulosas e o m e l h o r do seu tempo. E assim n à o admira que, esque*
c i d o dos infelizes sinistrados, deixasse apodrecer os generos a l i m e n t i c i o s ,
enviados de Inglaterra, nos p o r ò e s dos navios, d o n d e f o r a m baldeados para
o Tejo.
S ó o Breve da R e f o r m a , diz o consciencioso escritor brasileiro, D r . A l b e r t o
Lamego, " c u s t o u ao e r à r i o p ù b l i c o 300:000 cruzados". N o t a v e l é a èste p r ò -
p o s i t o o testemunho d o insuspeito T h e i n e r . D i z èie que P o m b a l gastava de
800:000 a 1.200:000 ducados p o r ano s ò m e n t e em pagar a escritores venaes
para escreverem contra os jesuitas".
Nestes q u a t r o anos escreveu èie p r o p r i o os dois famosos libelos, a jRe/a*
cào abreviada e a v o l u m o s a Deducào chronologica, que m a n d o u t r a d u z i r em
linguas estrangeiras e espalhar profusamente por todas as partes, chegando
u m exemplar daquela, luxuosamente encadernado, a t é às m à o s do Papa, que
a è i e se refere n o Breve da R e f o r m a .
A p r i n c i p a l a c u s a c à o que principalmente p r o c u r a m i n c r i m i n a r aos jesuitas,
f o i a de èstes n o Brasil cxercerem comercio. O eminentissimo Cardeal re*
f o r m a d o r chegou a a f i r m a r terem èles " d e n t r o nas proprias casas de sua resi*
d è n c i a tendas de generos m o l h a d o s o u de comestiveis, acougues e outras
oficinas sordidissimas".
Se o h o n r a d o A r c e b i s p o da Baia a q u i perto as tivesse reconhecido corno
o E m i n e n t i s s i m o P u r p u r a d o as v i u là de Lisboa, n à o teria sido castigado com
a p r i v a c à o de sua m i t r a e das suas congruas e n à o i r i a m o r r e r pobre a
Itapagipe.
E o curioso é que os autores portugueses dao este p o n t o d o comercio
j e s u i t i c o c o m ò coisa certa. O l i v e i r a M a r t i n s assegura que os jesuitas eram
negociantes "corno os que mais eram". E L u c i o de A z e v e d o afirma que o
G e r a l Ricci " f a l t a v a sem rebuco à v e r d a d e " q u a n d o escreveu n à o c o n h e »
cer t a l comercio. "Era preciso mais que mediana i m p u d è n c i a . . . c o n t i n u a
è i e , para alegar i g n o r a n c i a de factos t à o n o t o r i o s " . N o t o r i o s ? c o m ò os prova?
(Nota do Tradutor)
316 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
c o n f e s s i o n i b u s , et R e g i n a m A u s t r i a c a m , a p u d q u a m R e g e a e g r o t a n t e ,
i m p e r i u m erat, vehementer precatus; C a r b o n i u s R e g e m i p s u m adortus,
effecerunt, ut Bulhonio, Paraensium Antistiti renuntiato, mollius
e x i l i u m decerneretur. Sane ingens h o c benefici'um se u n i c e Jesuitis
debere, B u l h o n i u s ipse tum i n Lusitania tum in Maranonia profi-
tebatur.
E X P U L S À O DOS J E S U I T A S D A V I C E - P R O V I N C I A D O M A R A N H À O 3 17
4. — R e c e b i d o o f a v o r , n à o s ó se n à o i m p o r t o u d e o a g r a d e c e r ,
senào que, estando ainda em Lisboa, levantou questòes contra
a C o m p a n h i a . P r e t e n d i a è i e q u e t a n t o os j e s u i t a s c o r n o os r e l i g i o s o s
das outras O r d e n s , que tinham cuidado das aldeias dos indios no
Maranhào, ficassem s u j e i t o s à sua a u t o r i d a d e .
Os jesuitas, por ordem do rei, responderam que n à o faziam
q u e s t à o a q u e o B i s p o B u l h ò e s levantasse igrejas o n d e l h e aprouvesse,
e l h e s desse p o r v i g à r i o s os p a d r e s , q u e q u i z e s s e ; q u e è l e s n à o eram
vigàrios, nem c o m èsse firn l e v a n t a v a m à sua c u s t a casas o u i g r e j a s ,
o u l h e s t i r a v a m aos B i s p o s e aos p a d r e s , p o r è l e s e s c o l h i d o s p a r a c u r a s
d e almas, direito a l g u m dos que èles t i n h a m seguido nas cidades e
v i l a s , e c o n t i n u a r i a m a s e g u i r nas a l d e i a s , q u e e r a a j u d a r os c u r a s c o m
os seus c o s t u m a d o s m i n i s t é r i o s ; q u e , se a t é a l i t i n h a m e x e r c i d o a l g u n s
m i n i s t é r i o s dos v i g à r i o s , o t i n h a m feito s ó por c o n d e s c e n d è n c i a e ou
m a n d a d o s p e l o s p r o p r i o s reis o u instados pelos Prelados. Estavam
e n t r e t a n t o p r o n t o s , a c r e s c e n t a v a m , a d e i x a r è s t e s m i n i s t é r i o s nas a l d e i a s ,
q u e f o s s e m p r o v i d a s d e s a c e r d o t e s d e s t i n a d o s a e x e r c e r e m taes o c u p a -
c ò e s . Q u a n t o à s u j e i g à o à a u t o r i d a d e dos B i s p o s era-lhes eia vedada
p e l o s e s t a t u t o s d e sua o r d e m e p o r penas impostas, pela autoridade
do Sumo Pontifice, contra os transgressores desses p r e v i l é g i o s .
Dos o u t r o s r e l i g i o s o s t e v e respostas p a r e c i d a s ; pelo que o Rei
d e i x o u t u d o corno antes estava; e a B u l h ò e s avisou que, ao chegar
ao M a r a n h à o , visse b e m se t i n h a padres bastantes para poderem
p a s t o r e a r as a l d e i a s , e à l è m d i s s o , se è l e s d a v a m e s p e r a n c a s d e z e l a r
o bem das a l m a s c o m o c u i d a d o e a t i v i d a d e , q u e t i n h a m os j e s u i t a s
e os o u t r o s r e l i g i o s o s . E mandou-lhe que, depois de maduramente
e s t u d a d o è s t e p o n t o , l h e desse c o n t a d e t u d o .
No ano 1 7 4 9 f e z B u l h ò e s a s u a e n t r a d a n o P a r à ; e, e n c o n t r a n d o
m u i t o p o u c o s p a d r e s e a i n d a è s s e s i n a p t o s p a r a p a s t o r e a r e m as a l d e i a s ,
t e n t o u c o m a r t e v e r se p o d e r i a l e v a r os j e s u i t a s e o u t r o s r e l i g i o s o s a
aceitarem èste encargo, o u ao menos d e urna p a r t e das aldeias, que
è i e a t o d o o c u s t o lhes q u e r i a i m p ò r ; p o r q u e se i s t o a l c a n c a s s e , o r e s t o
j à lhe seria mais f a c i l de conseguir. Negando-se èles p o r é m , a satis-
fazer aos seus d e s e j o s , houve por melhor por de lado a questào,
a que por e n t à o n à o v i a s o l u c à o p o s s i v e l . E neste s e n t i d o escreveu
ao Rei, confessando f r a n c a m e n t e ser m u i t a a p e n u r i a d e sacerdotes
no Maranhào e a t é os q u e h a v i a s e r e m menos aptos para estarem
à f r e n t e das aldeias. E p o r e s t à f o r m a a b a n d o n o u p o r e n t à o aparen-
temente a questào, ainda que em seu animo ficou sempre com a
320 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
E X P U L S À O DOS JESUITAS D A V I C E - P R O V I N C I A D O M A R A N H À O 32 1
21
322 DE EXILIO VICE-PROV1NCIAE MARANONIENSIS
6. — H a u d e x i n d e d e s t i t i t , u b i se o p p o r t u n i t a s d a b a t , e r g a Je-
s u i t a s b e n e a n i m a t u m ss exhibere, ratus i d sibi emolumento f o r e , et
q u e m a d m o d u m eorum opera Malacense exilium priore R e g n o averte-
rai i t a n o v o , si o p e m t u l i s s e n t , P a r a e n s e f i n i e n d u m . M a l a g r i d a m i m -
p r i m i s coluit, p r o b e gnarus q u a n t u m a p u d R e g e m ac matrem Regi-
n a m ejus auctoritas valeret. I t a q u e p o s t u l a n t i , ut aedes adolescentibus
sancte instituendis ( S e m i n a r i u m a p p e l l a n t ) extruere sibi liceret, q u a m -
q u a m res erat d i f f i c u l t a t i b u s piena, nec superiores Antistites, ut id
concederent, inducere animum potuerant, haud gravate permisit.
P r i m o d i e , q u o aedes h a b i t a r i coepere, eo n o n rogatus a d v e n i t , pue-
r o s q u e i i s v e s t i b u s , q u a s d e i n d e l a t u r i e r a n t , suis manibus exornavit;
ibi quoque parata oratione Jesuitarum i n juventute instituenda prae-
claram operam magnifice commendavit. Postea, c u m M a l a g r i d a a p u d
eas a e d e s p i a s c o m m e n t a t i o n e s , d e q u i b u s s a e p e est d i c t u m , explica-
r e t , e i s d e m se e x e r c e r i B u l h o n i u s v o l u i t ; quo tempore, aedibus suis
relictis, c u m adolescentibus habitavit. Nulli facilius falli consuevere,
q u a m q u i fallere o m n i n o nesciunt.
C e r t e B u l h o n i u s adeo M a l a g r i d a m fefellit, ut datis a d Reginam
A u s t r i a c a m litteris, hominis pietatem religionemque impense laudaverit;
R o m a m q u o q u e scripsit, e u m praecipua b e n e v o l e n t i a Jesuitas atque
eorum ministeria fovere; q u o d c u m allii pariter nunciasset, Aloisium
V i c e c o m i t e m , G e n e r a l e m P r a e p o . i t u m i m p u l e r e , u t fratemitatis, quas
appellant, litteras, nec aliis, q u a m amicissimis p r a e b e r i solent, Bulho-
nio tradendas i n M a r a n o n i a m mitteret. Hisce postea litteris, quas
nemo aeque indignus accepit, p r ò e x o r d i o abusus infanda convicia
Jesuitis ingessit. H a u d tamen Jesuitarum plerosque decepit. Vanum
hominis i n g e n i u m atque a d o m n e m f l a t u m aurae popularis mobile et
versatile, inflatus i n c r e d i b i l i superbia animus, assidua ostentano digni-
t a t i s , p r o p e i n s a n a i n a n i u m o f f i c i o r u m e r g a se c u p i d i t a s , p r a e t e r haec
(ut interim o m i t t a m vestium delicias, equitandi s t u d i u m aliaque per-
multa vix quidem in profano homine ferenda) pietatis ac religionis
E X P U L S À O DOS J E S U I T A S D A V I C E - P R O V I N C I A D O M A R A N H À O 323
i n d i c i a a d m o d u m r a r a , n e c e a satis s i n c e r a v e l i n d u b i a a d e o J e s u i t a s
accuratius intuentes affecerant, ut nihil exinde solidi, nihil boni spe-
rarent. Sane credebant, u b i r e b u s suis o p p o r t u n u m duxisset, abjecta
benevolentiae, q u a m ceperat, specie, a d i n g e n i u m r e d i t u r u m .
Itaque, c u m id haud dubie (uturum Carvalius etiam crederet,
n i h i l potius, q u a m ejus indolis h o m i n e m a d partes trahere; nec i d i n -
gentis m o l i m i n i s rem fore prospiciebat: ubi reditum in Lusitaniam
a t q u e i b i pretiosiores i n f u l a s ostendisset, ad omnia quae imperaret,
aequa, iniqua nullo discrimine manus praebiturum haud temere
sperabat.
E X P U L S À O DOS J E S U I T A S D A V I C E - P R O V I N C I A D O M A R A N H À O 325
o Maranhào.
M a s realmente a r d i a e m seu peito u m odio encobérto contra
os jesuitas; e, acontecendo também virem em v i a g e m alguns de-
les n a nàu capitània para o M a r a n h à o , deu-se u m f a c t o , que veio
334 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
22
338 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
non factam. Sin vero Rex, q u i unus posset, leges antiquas vel i n
totum vel i n partem abrogasset, legem hanc n o v a m proferret Men-
donsa; e i se omnium primum modestissime ac lubentissime paritu-
rum. Quod si n u l l a l e x erat, postulare se ut suffragium q u o d tu-
lerat, i n acta concilii totidem verbis referatur, ut Regi, c u m opus
fuerit p r o b a r e possit, se p r ò legibus sententiam tulisse. "Hoc pos-
tulatimi repudiali non poterat; tantam vero vim habuit, ut eo
audito, qui Bulhonio assenserant, i b i s t a t i m s e n t e n t i a m r e t r a c t a r e n t .
Par omnino contigit Maranoniensi in urbe. Eo Mendonsa cum
potestate propemodum infinita misit Joannem Antonium Brittum
Sylvam, q u i sibi erat a secretis, ut quae ipse i n Paraensi concilio
nequiverat, i n Maranoniensi mutaret. Verum, Rectore Jesuitarum
prò antiquis legibus fortiter pugnante, ne i b i q u i d e m Consilia p r o -
cessere.
e r a m c o n t r a r i a s aos e s t a t u t o s , q u e d e v i a m r e g e r o C o n s e l h o ; q u e a si
fora dada pelo R e i a faculdade de dar o seu parecer, mas n à o de
l h e m u d a r as leis. Se c o m t u d o o R e i , o u n i c o c o m è s t e p o d e r , abro-
gasse ou parte ou todos os estatutos, que eie seria o primeiro a
obedecer-lhe modesta e libentissimamente. E que, se a l e i se nào
opunha, pedia que o parecer, que d e r a , se e x a r a s s e nas actas da
reuniào c o m as suas p r o p r i a s p a l a v r a s , para, sendo preciso, se p o d e r
mostrar ao Rei corno èie advogara a integridade dos estatutos*'.
Nào se l h e p o d i a negar e s t à peticào; e f o i de tanta forca o seu
parecer que, d e p o i s d e o o u v i r e m os proprios, que tinham assentido
ao parecer de Bulhòes, a l i m e s m o se r e t r a t a r a m . E o mesmo acon-
teceu exatamente na cidade do Maranhào. Mandara Mendonga là
com p o d e r e s i l i m i t a d o s a J o à o d e B r i t o d a S i l v a , s e c r e t a r i o seu, para
que o que n à o p u d è r a no Parà o alcancasse n o M a r a n h à o . Mas
o p o n d o - s e f o r t e m e n t e t o d o s os v o t a n t e s , n e m t a m b é m l à v i n g a r a m os
seus p l a n o s .
2. — V e n d o M e n d o n g a as suas e s p e r a n g a s f r u s t a d a s , d e s f e c h o u
em palavras e queixas amargas contra os j e s u i t a s . Nào conseguirà,
p o r é m , ainda por entào Carvalho o poder, que depois alcangou; e
por isso é q u e M e n d o n c a se ficou e n t à o por aqui. Depois é que por
causa da r e s i s t e n c i a aos seus p l a n o s a i n d a q u e èie pretextou outras
razòes, condenou os dois padres ao desterro. S ó o que por entào
p ò d e fazer f o i fazer das virtudes vicios fingidos (arte que a muitos
perversos tem d a d o ó t i m o s resultados), e assim c o m e g o u a desfazer
nos jesuitas e revelar os seus m a u s sentimentos contra èles, até ali
mais o u menos disfargados.
"Os jesuitas, d i z i a mostravam-se-lhes em tudo contrarios, corno
jà antes costumavam fazer c o m os outros Governadores, de modo
que se n à o p o d i a i n t e n t a r c o i s a a l g u m a , q u e p u d e s s e ser u t i l a o b e m
pùblico, que n à o fòsse p o r èles i m p e d i d a ; que t a m b é m t i n h a m arras-
tado para o seu partido todos os outros Superiores das Ordens
religiosas; que t i n h a m f e i t o se c o n j u r a s s e m c o n t r a è i e os q u e come-
g a r a m a c o ì b i r - s e d e n t r o d e c e r t o s l i m i t e s , t u d o i s t o p o r c a u s a d o s seus
intoleraveis poderes e influéncia no M a r a n h à o ; q u e p u n h a m t o d o s os
obstaculos para q u e as aspiragòes dèle, Mendonga, em fundar um
novo impèrio n o M a r a n h à o n à o f o s s e m p o r d i a n t e ; q u e os i n d i o s e os
cidadàos n à o obedeciam aos Governadores, nem ao proprio Rei,
mas s ó a o s j e s u i t a s ; q u e t u d o se m o v i a segundo as suas i n d i c a g ò e s ;
348 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
vindos d e P o r t u g a l , disse M e n d o n g a , a o s a b è - l o . a m u i t o s p r e s e n t e s :
"Para que v è e m ainda para o Maranhào jesuitas p o r t u g u è s e s ? Em
breve do os Maranhào estarào de volta para Portugal."
Também a expoliagào dos seus bens f o i r e s o l v i d a antes que
ninguem s e q u e r sonhasse na c o n j u r a g à o contra o Rei, a n à o ser o
proprio Carvalho; e f o i eia certamente comunicada a Mendonga,
p o r q u e ao voltar èste d o R i o N e g r o , bastantemente o deu a conhecer
ao padre jesuita José Tavares, que o hospedou em Jaguarary,
dizendo-lhe que è i e ia tirar as fazendas aos jesuitas. E o mesmo
dissera a José Antonio Goes.
Para èste mesmo firn fez urna r e u n i à o no seu p r o p r i o palacio,
na qual c o m ò o questor r è g i o desse p a r e c e r a f a v o r dos jesuitas, e
juntamente declarasse q u e os d u z e n t o s escudos r o m a n o s , destinados
para sustento d e cada um dos j e s u i t a s , n à o se podiam pagar em
razào da pobrèsa do erario, deixou entào M e n d o n g a o caso sem
solugào. Poucos mèses depois, p o r é m , c o n t r a t o d o s os direitos da
j u s t i g a , t i r o u aos jesuitas t ò d a s as suas m e l h o r e s f a z e n d a s , e s ó lhes
deixaram as menos produtivas e deu-as depois àquéles dos seus
familiares, que sabia serem mais adversos aos j e s u i t a s . M a s destas
fazendas trataremos depois mais detidamente.
4. — A g o r a voltemos ao p o n t o a que j à outras vezes n o s r e f e -
rimos, pois que é um seguro a r g u m e n t o d a inocencia dos jesuitas.
Comegaram èstes a ser no Maranhào expoliados por ordem de
Carvalho antes da conjuragào. Decretàra-se, pois, a confiscagào
d o s seus b e n s a n t e s d e c o m e g a r a t a l c o n j u r a g à o ; e, c o n s e q u e n t e m e n t e ,
ainda q u e n à o tivesse v i n d o ao m u n d o essa c o n j u r a g à o , os j e s u i t a s
haviam de ser d e s a p o s s a d o s d o s seus b e n s . E também o seu e x i l i o
f o r a r e s o l v i d o a i n d a a n t e s q u e C a r v a l h o d é s s e c o m e g o aos p l a n o s d e l a ,
corno se d e m o n s t r a p e l o q u e a c i m a dissemos. T e r i a m s i d o , p o r t a n t o ,
expulsos os j e s u i t a s a i n d a q u e os Tavoras n à o tivessem c o n j u r a d o .
Assim que a conjuragào, feita depois, n à o p o d i a ser causa d e c o n -
f i s c a g à o dos bens e desterro dos jesuitas. Q u a l f o i eia e n t à o ? C a p e a r
quanto C a r v a l h o estultamente a n u n c i à r a e n à o tinha p o d i d o levar a
cabo c o m r e s u l t a d o ; assentar o ariete, que vencesse t o d o s os o b s t a -
culos, que em c o n t r a r i o surgissem.
Mandàra c o n f i s c a r os bens dos jesuitas n a A s i a , no M a r a n h à o
e no Brasil; anunciàra q u e os j e s u i t a s h a v i a m d e ser p o r si o u p e l o s
seus, e x p u l s o s e d e s t e r r a d o s ; p a r a i s t o i n c i t à r a os a n i m o s ; p e r s u a d i a - s e
èie que os j e s u i t a s de nenhum modo sofreriam a ignominia de se
352 DE E X I L I O VICE-PRO VINCI AE MARANONIENSIS
23
354 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
5. — V o l t e m o s p o r é m ao i r m à o d e C a r v a l h o , i n i m i g o j à d e c l a -
rado dos jesuitas. O primeiro c o n t r a o q u a l e s v u r m o u os seus ódios
f o i M a l a g r i d a . T o r n à r a è i e para P o r t u g a l , quando, estando j à embar-
cado, lhe f o r a m entregues cartas que o honravam com o titulo de
membro do chamado Conselho Ultramarino, honra que èie jà nào
p o d i a recusar. C o n f ì a v a de facto E l - r e i muito, por aquèle tempo na
santidade, prudència e fidelidade d e M a l a g r i d a ; e esperava, n à o sem
fundamento, q u e se os seus p a r e c è r e s v i n g a s s e m , g r a n d e s vantagens
dèles poderiam advir para a religiào e para a pàtria no Maranhào.
Para èste firn concedèra-lhe o poder erigir colégios de meninos e
meninas, com ordem que o q u e l h e fosse p r e c i s o , se l h e desse do
eràrio pùblico. E assim poz Malagrida màos à obra, que nào só
prosperava a olhos vistos, s e n à o q u e a t r a i u as a t e n c ò e s dos homens
ricos, que, ao verem a sua grande utilidade, também concorreram
com quantias n à o pequenas p a r a a f a v o r e c è r e m . Isto fez que Men-
donca lhe f e c h a s s e as portas d o e r à r i o , pretextando que n à o tinha
dinheiro para obras ainda mais necessarias q u e essa. E n à o c o n t e n t e
c o m r e t a r d a r assim a o b r a , q u e , n à o obstante è s t e c o n t r a t e m p o , a i n d a
ia continuando, teve Mendonga a o u s a d i a d e , t a n t o p o r si c o r n o p o r
Bulhòes e outros adversos à C o m p a n h i a , meter m è d o à s p e s s ò a s , que
sabia prestarem-se a c o a d j u v a r c o m auxilios p e c u n i à r i o s aquela obra;
e déste modo atalhou t ò d a s as esperangas de M a l a g r i d a e m levar
por diante aquela emprésa. Vendo isto M a l a g r i d a , e sabendo-se
que as c a r t a s para o Rei nada aproveitariam, tendo là Mendonga,
o seu i r m à o C a r v a l h o , p a r e c e u m e l h o r q u e è i e voltasse d e novo a
P o r t u g a l . S a b e n d o isto M e n d o n g a e reconhecendo quanta era a auto-
ridade de M a l a g r i d a perante o R e i , para desviar o perigo que por
causa dela corria, teve por m e l h o r escrever urna carta ao R e i , em
que a s s a c a v a aos j e s u i t a s e m g e r a l e a o P . M a l a g r i d a g r a n d e c a l u n i a s
e infàmias. E , para que estas m e n t i r a s , t à o a t r e v i d a m e n t e fantasiadas
c o m ò desvergonhadamente escritas, tivessem f ó r o s d e a u t o r i d a d e , q u i z
que t a m b é m B u l h ò e s , sempre pronto para tudo o q u e aprouvesse a
Mendonga, l h e escrevesse c a r t a s neste sentido.
Sabia è i e a l é m d i s s o q u e t a n t o as suas c a r t a s c o r n o as d e B u l h ò e s
as le v a r i a seu i r m à o ocultamente ao R e i , que èste se empenharia
em extorquir do mesmo Rei o assentimento a tudo o q u e nelas se
d i z i a ; e, o que é mais ainda, nada se podia arrecear de que IKe
pedissem contas dos seus a t o s , c o r n o antes p e l o s e n a d o r , e n v i a d o a o
Maranhào por D . J o à o V , se tinha feito.
356 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
e
E X P U L S À O DOS JESUITAS D A V I C E - P R O V I N C I A D O M A R A N H À O 357
aos amigos que "antes queria viver num exilio voluntario do que
voltar à sua p à t r i a para morrer num carcere".
Com estas sentengas c e r c e o u M e n d o n g a bastante os bens dos
jesuitas no M a r a n h à o , bens que em verdade n à o eram muitos; e no
entretanto n à o cessava d e f e r i r os Jesuitas n a sua f a m a e b o m n o m e .
Porquanto, corno èles d e f e n d e s s e m os seus d i r e i t o s n o f ò r o e n à o se
d e i x a s s e m , c a l a d o s e s p o l i a r d o s seus b e n s , c o r n o M e n d o n c a h o u v e r a
desejado, n à o cessava d e os chamar litigantes, à v i d o s de riquezas,
sediciosos e inimicissimos da paz e d a e q u i d a d e ; e, divulgadas por
èie estas calunias oportuna e inoportunamente, quando depois as v i a
suficientemente vulgarisadas e corno admitidas pela o p i n i à o do vulgo,
as m a n d a v a è i e m e s m o a seu i r m à o e m L i s b o a ; e p o r i n t e r m e d i o d é s t e ,
jà m u i t o acrescidas, passavam ao conhecimento d o Monarca.
2. — T a m b é m os e g r é g i o s e x e m p l o s , q u e os j e s u i t a s p o r aqueles
t e m p o s e m b e m d o s seus s e m e l h a n t e s d e r a m , d e t a l m o d o os d e t u r p o u
q u e a n t e s se d e v e r i a m r e p u t a r e c h a m a r p e r v e r s i d a d e s e m u i t o g r a n d e s ,
se à s suas p a l a v r a s se houvesse de dar credito.
T i n h a m v i n d o d e P o r t u g a l dois regimentos, dos quais quinhentas
pracas tinham ficado no Maranhào, e as demais h a v i a m seguido
para Belem do P a r à . O s s o l d a d o s e os o f i c i a i s c h e g a r a m q u a s i todos
doentes c o m u r n a c o r n o p e s t e , q u e c o m os a l i m e n t o s c o r r u t o s d u r a n t e
a viagem tinham contrahido, e tanto que mais p a r e c i a m cadaveres
ambulantes d o que homens. E assim, corno na c i d a d e de S. L u i z d o
Maranhào os m o r a d o r e s tivessem aceitado e m suas casas e tratado
com muito c a r i n h o os oficiais e soldados mais l i m p o s , o resto d è l e s
foram levados para o hospital. N à o fora de fato o prefeito da
c i d a d e p r e v e n i d o d a sua vinda, e por està causa nada lhes havia
preparado; nem realmente lhes p o d i a valer e m razào da extrema
penuria dos cofres publicos: Morreriam, pois, os infelizes ao
a b a n d o n o , se o P . Caetano Xavier, entào Reitor do colégio junta-
mente c o m os m a i s j e s u i t a s n à o os tomassem ao seu cuidado.
Recolhendo d e f a t o n à o p o u c o s e m sua casa, os a l i m e n t o u p o r
bastante tempo; e aos que houveram de ficar no hospital lhes
acudiu c o m medicamentos, alimentos e t u d o o mais que precisavam.
E, p a r a q u e lhes n à o f a l t a s s e m as coisas necessarias, assistia-lhes è i e
continuamente em volta das camas, e destinou t a m b é m para èste
cuidado o P. Francisco R i b e i r o , que là contraiu a doenga, e ficando
varios m è z e s de c a m a , f i c o u i m p e d i d o de velar pelos doentes. Também
os estudantes t i v e r a m q u e i n t e r r o m p e r os estudos para todo o dia
364 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
i r e m ao h o s p i t a l a a c u d i r aos d o e n t e s n o q u e lhes f ò s s e p r e c i s o . E s t à
c a r i d a d e d o s j e s u i t a s e d i f i c o u m u i t o n à o s ó aos s o l d a d o s , m a s também
à gente da cidade, o que obrigou o P r e f e i t o d a m e s m a a lhes dar,
em nome do R e i , os seus agradecimentos.
T a m b é m no Parà os j e s u i t a s se p o r t a r a m c o m egual caridade.
Mas corno là o numero de doentes era m a i o r , t a m b é m m a i o r f o i o
trabalho, que tiveram. O peor f o i que na cidade n à o havia hospital;
e por isso os soldados tirados da nàu, ficaram amontoados num
b a r r a c à o , p a r a o n d e r e c o l h i a m os b a r c o s d a R a i n h a . E s t a v a exposto
ao vento e ao sol; e ainda que o této de ramos e folhas de arvore
os defendia das chuvas, comtudo costumava ficar em grande parte
inundado com a maré-cheia. N e m um leito h a v i a , n e m coisa alguma,
que p u d e s s e ser de c o n f o r t o aos m i s e r o s ; e a propria alimentagào
e r a m u i t o escassa. E , c o r n o as m o r t e s f o s s e m m u i t a s , e n e m M e n d o n g a
se incomodasse c o m isso e e m a c u d i r aos d o e n t e s c o m as coisas mais
indispensaveis, ousou um oficial exprobar-lhe tamanha dureza e
deshumanidade, dizendo que "se tinha em v i s t a a c a b a r c o m os seus
soldados, menos d u r o teria sido terem-nos matado a ferro o u a fogo,
antes d e embarcarem em L i s b o a , do que acabar ali c o m èles em tào
longo e cruel martirio".
Os jesuitas recolheram alguns oficiais e soldados e m sua casa,
e t a m b é m aos mais, amontoados em locai t à o improprio e t à o inco-
modo, lhes acudiram com alimentos, remedios, conforto e cuidado
assiduo d è l e s . O i r m à o coadjutor, M a n o e l Pereira, muito ativo no
tratar dos doentes, contrafu a doenga de que veio a falecer.
E m q u a n t o os jesuitas mais ativos a n d a v a m nestas o b r a s de cari-
dade, n à o cessava Mendonga de publicamente e repetidas vezes
vociferar desaforadamente e dizer que "os soldados nào tinham
p r e c i s à o a l g u m a dos favores dos jesuitas, e q u e è i e c o m os d i n h e i r o s
do govèrno providenciàra com grande cuidado para que nada f a l -
tasse aos enfermos, tanto naquela cidade corno no Maranhào.
Aquela desnecessaria assiduidade só tinha em vista ganhar os c o -
ragòes dos soldados, indispó-los contra o Rei e contra o Gover-
nador, e dispór as coisas p a r a urna sedigào, que rebentaria quando
èles a julgassem oportuna para a sua causa."
Estas injurias apregoava-as è i e n à o s ó n o M a r a n h à o , mais f è - l a s
t a m b é m c h e g a r p o r c a r t a s a o seu irmào em Lisboa; e està é a fonte
das noticias caluniosas, que Carvalho imputou ao Reitor do Parà,
A n t o n i o A l e i x o , e aos d e m a i s j e s u i t a s , n o l i b e l o i n t i t u l a d o A R e p u b l i c a :
366 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
24
370 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
p u s e r a m e m f u g a ; e s o m e n t e aos j e s u i t a s , q u e p o r o r d e m d o P r o v i n c i a l ,
José Lopes, tinham u m barco logo desde o principio preparado
para, assim que se soubesse t e r havido fugitivos, virem outros, o
mais depressa p o s s i v e l , das a l d e i a s p a r a os s u b s t i t u i r , os inculpàram
daquelas fugidas. O proprio Mendonga, aproveitando-se desta c i r -
c u n s t a n c i a , f o s s e m q u a i s f o s s e m os f u g i t i v o s , n à o os i a p e d i r t a m b é m ,
corno c o n v i n h a , aos o u t r o s r e l i g i o s o s , m a s s o m e n t e aos j e s u i t a s , e i s t o
c o n t i n u a m e n t e , d e sorte q u e aconteceu q u e aldeias, antes populosas, se
tornaram quasi despovoadas". E daqui proveio nova calunia;
porque os de edade jà adulta foram mandados vir todos para a
cidade, donde parte deles fugiram, e parte ficaram retidos nos
trabalhos; por onde aconteceu o que era de prever q u e os campos,
a b a n d o n a d o s p o r f a l t a d e t r a b a l h a d o r e s , se t o r n a r a m em grande parte
improdutivos sobrevindo ainda as i n t e m p é r i e s dos anos, nocivas à s
culturas. E , aumentando assim a carestia dos viveres, M e n d o n g a , q u e
s ó a si e aos seus p l a n o s c o m t ó d a a r a z à o d e v i a a t r i b u i r a r e s p o n s a b i l i -
d a d e d é s t e m a l , p o r n à o olhar ao f u t u r o , teve p o r m e l h o r lavar-se desta
r e s p o n s a b i l i d a d e , p a r a a assacar s ó aos jesuitas, a f i r m a n d o falsamente
e repetindo estultamente que " è l e s , para estorvarem a viagem d o de-
legado (a qual, senào lhes era proveitosa, t à o pouco lhes e r a por
qualquer titulo prejudicial) tinham mandado aos seus i n d i o s ( q u a s i
nenhuns tinha deixado ficar M e n d o n g a , a n à o ser velhos, mulheres e
c r i a n g a s ) q u e n à o c u l t i v a s s e m n e m semeassem os seus c a m p o s , e que
onde fosse preciso, dariam ordem para que das matas fossem
providos de tudo (*).
E realmente nenhuma desgraga acontecia no M a r a n h à o ou pela
perversidade dos homens, o u pela inclemencia dos tempos, ou pela
estulticie das medidas tomadas, que, a juizo de Mendonga, nào
tivesse p o r causa e p o r a u t o r e s os jesuitas; e isto o afirmava termi-
nantemente e sem receio algum, porque b e m sabia que e m L i s b oa
a tudo se daria pieno credito, e que n à o se fariam averiguagòes
algumas sóbre a sua v e r d a d e , a p e s a r d e os j e s u i t a s m u i t o se empe-
nharem em que elas se fizessem.
fosse e s t à c a l u n i a j à a c i m a o d e m o s t r à m o s ; mas j u l g a m o s c o n v e n i e n t e
expór aqui mais detidamente a c a u s a destas f u g i d a s .
T i n h a M e n d o n g a d i s p e n d i d o nos p r e p a r a t i v o s d a v i a g e m m i l c r u -
zados, e empenhara-se sobremaneira e m que e i a fosse pomposa e
grandemente aparatosa; mas deixara de a prover em grande parte,
das coisas indispensaveis à vida quotidiana.
Logo no primeiro dia de viagem faltaram o jantar e a ceia tanto
para os s o l d a d o s c o r n o p a r a os remadores; e a t é para os o f i c i a e s e
p a r a o p r o p r i o M e n d o n g a . E nos seguintes dias n i n g u e m teve c o m i d a
suficiente. E , corno certo d i a , n à o sei q u a l , Mendonga convidasse
para jantar os g e o g r a f o s ( p a r t e a l e m à e s parte i t a l i a n o s ) , e, c o r n o de
u r n a t r a v e s s a n e m s e q u e r c h e i a , tornasse p a r a si u r n a p a r t e , a v i s o u os
c o n v i d a d o s q u e t o m a s s e m d e l a o q u e q u i s e s s e m , m a s q u e se l e m b r a s s e m
que "também seus f a m i l i a r e s d e l a h a v i a m d e jantar". N o Km do
b a n q u e t e , q u e p e l o visto n à o d e v i a ter sido muito lauto, ao beber à
saude d o R e i , p e d i u p a r a si v i n h o e d e u a g u a f r e s c a p a r a os c o n v i v a s .
2. — P o r e s t à m e s q u i n h a r i a , q u e aos p o r t u g u è s e s c a u s o u m u i t a
vergonha e aos alemàes e italianos ocasionou merecido riso, j à os
leitores poderào fazer juizo da tacanhice, c o m que seriam tratados
os indios, obrigados a p u x a r e m ao rèmo durante tóda a viagem.
Se pois à insuficiència da alimentagào se a c r e s c e n t a v a m as i n j u r i a s
dos s o l d a d o s , e, m a i s a i n d a , n à o s ó as ameagas senào também os
agoites, quando j à cangados de u m trabalho diurno e noturno, c o m
menos forga p u x a v a m a canoa; precisariam digam-nos èstes homens
semi-barbaros, muito àvidos de alimentos e de carne sobretudo, e
sobremaneira receosos d e c a s t i g o s , a i n d a os m a i s l e v e s , e tendo por
urna felicidade o n à o fazerem nada, i r i a m a precisar, repetimos, dos
conselhos e o r d e n s d o s jesuitas p a r a se p o r e m e m f u g i d a , l o g o q u e se
lhes oferecesse um ensejo f a v o r a v e l ? T a m b é m dos sujeitos a outros
r e l i g i o s o s c o n s t a t e r e m f u g i d o m u i t o s , s e m q u e p a r a isso precisassem
dos conselhos e incitamento de ninguem.
O proprio Mendonga quando depois elevou a v i l a s as aldeias
e lhes deu l e i s , p u b l i c a d a s n u m f o l h e t o , p e l a s q u a i s se h a v i a m de
reger para o futuro, francamente confessou que " n à o raro acontecia
ficarem as c a n ó a s e m meio caminho, abandonadas pelos remadores
indios", que depois m a n d o u se c h a m a s s e m c i d a d à o s ; e para a èste
mal por r e m é d i o para o f u t u r o , o r d e n o u duas coisas: " A primeira
que as c a n ó a s se p r o v e s s e m de maior numero de remadores que
antes; e a segunda q u e se fizesse s a b e r aos r e m a d o r e s q u e também
376 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
èles tinham partes nos frutos que por seu meio se trouxessem das terras
marginais dos rios*\
A s s i m que, f u g i r e m èles ao t r a b a l h o é coisa nèles m u i t o naturai:
e a c r e s c e n d o a i n d a ser a q u e l a v i a g e m l o n g a d e m u i t o s m è s e s , e t e r e m
q u e s o f r e r as i n j u r i a s , d e p o i s os d u r o s castigos e ainda por cima a
f o m e ; e sendo a paga somente p r o m e t i d a e n à o passada l o g o à s m à o s ,
c o r n o è l e s q u e r e m , m u i t o m a i s é p a r a a d m i r a r aos q u e n i s t o pensam,
que urna p a r t e dos r e m a d o r e s perseverasse a t é ao f i r n d a v i a g e m do
q u e se n à o t i v e s s e m t o d o s postos e m f u g a .
3. — A mesma natureza e circunstancia da viagem refuta
t ó d a s as o u t r a s c a l u n i a s , q u e M e n d o n g a e C a r v a l h o p o r a q u e l e t e m -
po fizeram correr m u n d o e que os j e s u i t a s sofreram e m silencio.
Os que navegam de B e l é m do P a r à ao Rio Negro, costuma-
vano s e g u i r a m a r g e m direita do Amazonas, porque nesta m a r g e m é
que desembarca o R i o Negro. Assim o caminho é mais breve e a
forga da corrente naquele r i o , a que os indigenas, pela largura da
sua madre, chamam Parà ou M a r Grande, é pela outra margem
quasi insuperavel; pela margem direita é menos r a p i d a e violenta e
menos embaragada c o m os r e d e m o i n h o s .
Mendonga, que n à o i g n o r a v a o que t o d a a gente daquelas regi-
òes sabia, m a n d o u r e m a r p o r aquele l a d o o s é q u i t o das c a n ó a s . Mas
depois d e alguns dias de v i a g e m , o r d e n o u inesperadamente que v i -
r a s s e m as c a n ó a s e, a t r a v e s s a n d o o rio, a p r e s e n t o u - s e inesperadamente
nas a l d e i a s d o s jesuitas, q u e e s t à o t ó d a s na m a r g e m esquerda. Nem
p a r a i s t o h a v i a r a z à o p l a u s i v e l , a n à o ser c a u s a r i n c o m o d o aos p a d r e s ,
que tratavam das aldeias. Como os jesuitas nem sequer por urna
palavra t i n h a m sido avisados da c h e g a d a das canóas, nada tinham
preparado para Mendonga, nem para tanta m u l t i d à o que o acom-
panhava; ninguem c o m r a z à o os p o d e r i a c e n s u r a r disso. A quanti-
dade de f a r i n h a e x i g i d a j à antes a seu tempo a tinham remetido
para a cidade; os r e m a d o r e s e x i g i d o s t a m b é m os t i n h a m f o r n e c i d o ;
e nada do que, para auxiliar a v i a g e m , se lhes t i n h a p e d i d o , t i n h a m
omitido. Q u e mais, pois, t i n h a m que fazer o u preparar, sendo assim
que nem a èles nem a ninguem houvera ocorrido que M e n d o n g a t i -
vesse dado um t à o inùtil roteiro à viagem? E que d i z e r se èles,
assim desprevenidos e n e m p o r urna s ó p a l a v r a de a n t e m à o avisados,
todos à urna acolheram a Mendonga e a tóda a sua c o m i t i v a , aos
s o l d a d o s , aos canoeiros, e lhes deram t à o generoso a b r i g o , q u a n t o
naquelas apartadas terras se podia dar? Se a tóda a expedigào
378 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
25
386 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
r o s i m p r i m i s m o v i t J e s u i t a r u m e r g a o m n e s m a n s u e t u d o et c h a r i t a s . E t
sane G o m i u s l u c r a n d i s Deo animis v i r indefessus, u b i se a g m i n i a d
pagum t e n d e n t i f l u m i n a objecissent, nec v a d u m t e n t a n t i b u s esset, ae-
g r o s p r i m u m , d e i n senes, p u e r o s p u e d o r s o suo i m p o s i t o s , f l u v i u m nan-
d o saepius transmittens, i n r i p a m a l t e r a m c o n v e b e b a t . H i s c e l a b o r i b u s
atque aerumnis confectus anno M D C C L V I I v i t a m clausit, o p p o r t u n o
enim vero tempore, ut m a l o r u m m o l e m , q u a e s o c i u m ejus S a n c t i u m
paulo post oppressit, evitar et.
Horum Jesuitarum causam, c u m de libello Reip. agerem, copi-
ose t r a c t a v i ; et digna sane res e r a t quae etiam hoc loco legentibus
p r o p o n e r e t u r , si t a m m u l t a t a m q u e n e c e s s a r i a s c r i p t u r o o t i u m f u i s s e t ;
v i x a l i u d p r o f e c t o est, u b i se C a r v a l i a n a p e r f i d i a , c a l u m n i a n d i s t u d i u m ,
et i m p u d e n t i a magis aut manifeste, aut audacter p r o d i d e r i t : "Jesuitas
pagum, quem eo ipso in loco, Rege imperante, fundasse constat,
sua s p o n t e f u n d a s s e ; i d fecisse a d impediendum ne certi, quos dixi,
constituerentur limites, c u m Jesuitae a b loco l i m i t u m intervallo prope
infinito distarent; nec fieri posset, ut eorum causa vel unciam agri
amitterent; bellum Carmelitanis intulisse, cujus tamen belli rumor
n u l l u s i n M a r a n o n i a u n q u a m f u i t , a c n e a d ipsos quidem Carmelita-
nos p e r v e n i t , n i s i v e r o b e l l u m s i t : i l l a t a s s i b i a c pago, cui praeerant,
v i m a t q u e i n j u r i a s solo silentio a t q u e invicta patientia repellere, quod
u n u m Jesuitas fecisse c o n s t a t ; pagum Carmelitanis restimi R e g e m i m -
perasse, quasi r e s t i t u ì Carmelitanis posset, q u o d nullo umquam tem-
pore Carmelitani habuerant: enimvero urbs ex pago facta, n o n Car-
melitanis, quibus e o d e m t e m p o r e i n p a g o s suos p o t e s t a s , quemadmo-
dum Jesuitis, erepta, sed Gabrieli Pereirae Souzae, maximo aciei
s t r u c t o r i , a b S a n c t i o et ejus socio t r a d i t a " . S e d mitto calumnias j a m
alibi, quo meruerant s t y l o , confossas; u n u m superest, q u o d legentes
scire magnopere oportet, ut nimirum intelligant q u a m inutilis, vel
etiam, quod C a r v a l i u s t a m saepe d i x i t , n o x i a f u e r i t r e i t u m p u b l i c a e ,
tum christianae, p a g o r u m a d m i n i s t r a t i o a b Jesuitis i n d u c t a ; q u a m ex
a d verso p e r c o m m o d a et utilis r a t i o illa b a r b a r o s r e g e n d i , q u a m exac-
tis Jesuitis, Carvalius atque ejus f r a t e r i n v e x i t : Jesuitae u n o t r i e n n i o
pagum fundarunt, eumque frequentissimum reddiderunt; novi Rectores
triennio deinde altero, ut a n t i q u a m solitudinem loco restituerent, s u m -
mopere laborarunt, effeceruntque ut anno MDCCLVIII ex tanta
m o d o u r b e , praeter aedes quas sibi Jesuitae aedificaverant olim, nihil
jam e x s t a r e t , r e d e u n t e s i n m o n t e s suos b a r b a r i c a e t e r a o m n i a vasta-
verant atque incenderant, palam testati, " h a u d se Rectores illos
E X P U L S À O DOS JESUITAS D A V I C E - P R O V I N C I A D O M A R A N H À O 401
e selvas, t à o b e m s o u b e r a m b a v e r - s e , q u e t r o u x e r a m u r n a e x t r a o r d i n a -
ria m u l t i d à o de indigenas para a aldeia.
O que mormente movia os animos daqueles selvagens era a
grande m a n s i d à o e m u i t o a m o r dos jesuitas. E r a c o m efeito Gomes
um homem incansavel e m trazer as a l m a s p a r a D e u s , d e m o d o que,
quando a leva dos i n d i o s se opunha algum rio, nem a vau podiam
tentar a sua passagem, èie, tornando primeiro os velhos, depois
as criancas aos hombros, a nado os p a s s a v a a outra beira do rio.
Consumido de trabalhos, deu a alma a Deus no ano 1758, em
bòa ocasiào para evitar o acervo de males, que a seu compa-
nheiro pouco depois sobrevieram.
O assunto r e l a t i v o a èstes dois padres jà difusamente o tratei,
ao referir-me ao libelo da Republica (*). M a s , realmente, seria
coisa bem digna para também aqui se expór, se nèste escrito
houvesse logar para tantos e tào variados sucessos; p o i s q u e em
poucas coisas se patenteia mais a p e r f i d i a de C a r v a l h o , o empenho
em inventar calunias e a desvergonha em as trazer a pùblico
t à o avultadas e a t r e v i das.
"Os jesuitas, fantasiou èie, fundaram por ordem do Rei a
aldeia e escolheram de proposito aquele logar para impedirem a
demarcagào dos limites". Ora a verdade é que eia distava um
espago enorme da linha divisoria; nem era possivel que, p o r causa
da nova demarcagào, os jesuitas v i e s s e m a p e r d e r u r n a s ó p o l e g a d a
de terreno. "Levaram a guerra aos carmelitas", diz èie. Ora
desta guerra nem sequer jàmais chegou noticia ao Maranhào,
nem aos proprios carmelitas, a n à o ser que se chame guerra o
sofrerem èles em silencio e com urna paciéncia invicta as injurias
que a si e à aldeia, a que presidiam, se fazia, corno jà tinham
f e i t o os jesuitas.
" O R e i imperara, acrescenta è i e , q u e a aldeia se restituisse aos
carmelitas"; corno se fosse p o s s i v e l r e s t i t u i r - s e aos carmelitas o que
jàmais fora dos mesmos carmelitas; pois que realmente a aldeia,
elevada a cidade f o i tirada nào aos carmelitas, aos quais, por
aquèle tempo o poder s o b r e as aldeias, assim corno aos jesuitas,
h a v i a sido r e t i r a d o , mas sim a Gabriel Pereira de Sousa, capitào-
26
402 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
mór das tropas, a quem pelo P. Santos e seu companheiro eia havia
sido entregue.
Mas, passando em silèncio as calunias, que jà noutra parte,
estigmatizei, urna s ó coisa desejo que tenham b e m p r e s e n t e os leito-
res, e é q u e se capacitem de quào inutil o u , corno C a r v a l h o soia
muitas vezes repetir, q u à o malefica fòsse ao b e m d a sociedade e d a
reli g i à o a administragào introduzida pelos jesuitas nas aldeias; e
pelo contrario quanto fòsse comodo e util o teor i n t r o d u z i d o por
Carvalho e seu i r m à o e m r e g e r os b a r b a r o s , depois d e e x p u l s o s os
jesuitas. Estes n u m trienio f u n d a r a m a aldeia e a tornaram muito
populosa: os novos directores, a p ò s u m outro trienio, fizeram dela,
pelos seus processos, u m e r m o , c o r n o e r a d a n t e s ; e f i z e r a m q u e n o
ano 1758 de t à o b ò a c i d a d e , s a l v o as casas, que os j e s u i t a s p a r a
si t i n h a m edificado, nada tivesse f i c a d o de p é ; porque, voltando
os selvagens para as suas matas, tudo o mais destruiram e in-
cendiaram, a f i r m a n d o e p r o c l a m a n d o q u e " n e n h u m dos novos gover-
n a n t e s os poderiam tào benigna e pacientemente suportar, e que
nào voltariam à aldeia senào com a condigào de que os jesuitas
(segundo C a r v a l h o senhores d é s p o t a s e avarentos) t a m b é m para là
voltassem".
3. — Julgo t a m b é m a este proposito digno de memoria o
que aconteceu ao delegado Mendonga nèste mesmo ano 1756,
emquanto no acampamento de M a r i v à andava mais preocupado c o m
a vinda do enviado espanhol. Mandàra èie que os selvagens, q u e
acertassem de vir aos postos dos soldados, os levassem para o
acampamento; e a l i , d e p o i s d e os t r a t a r e m c o m s u m a benevolència,
e l i b e r a l i d a d e , lhes m o s t r a s s e m os p r e s e n t e s , q u e aos c h e f e s , se v i e s -
sem ao acampamento, estavam preparados. Depois deixava-os ir
livres e todos contentes c o m os d o n s q u e lhes f a z i a , r e c o m e n d a n d o -
lhes que "dessem noticia aos seus c h e f e s e à sua g e n t e do que
ali t i n h a m visto e experimentado".
Estimulou dest'arte a cubiga dos indigenas, de que vieram
a l g u n s c a b è g a s d e t r i b u s , c o m q u e s o b r e m a n e i r a se a l e g r o u e e s t o n t e -
o u M e n d o n g a , q u e p u b l i c a e i n c e s s a n t e m e n t e se g a b a v a d e q u e " n à o
eram s ó os j e s u i t a s , que conheciam a arte de atrair os s e l v a g e n s :
que è i e n à o era jesuita, mas u m simples m i l i t a r ; e sem embargo
a l c a n g à r a c o m urna s i m p l e s t e n t a t i v a a t r a i r a si os c a b è g a s d o s s e l -
vagens. E era f o r a d e d u v i d a q u e t o d a a o u t r a m u l t i d à o d è l e s desce-
ria d o s montes e seguiria p a r a o n d e è i e lhes indicasse, f i c a n d o assim
404 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
27
418 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
4. — E x t e m p l o l e g e m p r o m u l g a r e est a d o r t u s ; s e d o b v i a m i b a t
senator ille Joannes C r u c i u s , c u j u s Consilia h o c eodem libro explica-
vimus, quique ut lex ferretur magnopere tetenderat. M o d o , m a l o r u m
q u a e ex lege h a u d dubie sequerentur, conscientia ictus, nullum non
movebat lapidem, ut Mendonsam ab lege promulganda deterreret,
simul induceret ut c o m m u n i opera Regem certiorem facerent, eam
legem Maranoniae exitium allaturam. I d e m quoque, h o m o non malus,
eo jam tempore, de caeteris c o n s i l i i s suis omnibus judicabat; nec
E X P U L S À O DOS JESUITAS D A V I C E - P R O V I N C I A D O M A R A N H À O 4 I 9
todos os conselhos, que até ali tinha dado; e nada lhe pesava
t a n t o c o r n o ter sido è i e , que prestara o seu auxilio para a ruina
do Maranhào, e arrependido do que fizera, n à o lhe poder acudir
com algum remédio. E, expondo èie tudo isto a Mendonga e a
Bulhòes, este se deu por muito o f e n d i d o , por èie lhe falar t à o fran-
camente, e c h e g o u a c h a m à - l o desleal e traidor ao R e i .
Ferido com um insulto tamanho, voltou Joào Cruz para sua
casa, repetindo aquelas palavras: " J o à o C r u z desleal ao Rei; Joào
Cruz traidor"; e caiu agonisante no chào, poucas horas depois,
sem ter pedido os confórtos da religiào para aquela hora.
Desembaracado jà Mendonga daquele obstàculo. comegou a
temer algum motim do povo; e assim, para desviar de si e do
seu irmào a odiosidade daquela lei, comegou a fazer correr nas
conversas particulares o rumor de que também èie tinha por per-
niciosa aquela lei, que tinha por a u t o r e s os jesuitas. E isto mesmo
o proclamou falando, o Governador do M a r a n h à o , da varanda do
seu palàcio ao p o v o t u m u l t u o s o , q u a n d o se promulgou a lei.
Se o povo tivesse dado credito a estas p a l a v r a s , é fora de
duvida que se voltaria contra os jesuitas, que assim viriam a ser
expulsos pela terceira vez; mas j à por aquele tempo todos sabiam
o que Mendonga com aquela m a n o b r a p r o c u r a v a alcangar; e mais
sabiam também que os jesuitas perpetuamente se tinham oposto,
nào aos cativeiros justos, mas aos injustos, e que t a m b é m èles al-
cangados pela desgraga comum, por quanto, libertados os escravos
actuais, também èles aos africanos, os unicos que ficavam à sua
disposigào, tinham de comprà-los por alto prego.
Baldado, pois, o plano de fazer cair a odiosidade contra os
jesuitas, c o n v o c o u M e n d o n g a os principais na cidade; e, expondo-
lhes que n à o t i n h a poderes para suspender a promulgagào da lei
real, d e c l a r o u p u b l i c a m e n t e q u e era c o m m u i t a r e p u g n a n c i a que èie
ia dar aquele passo, que sabia ser pernicioso ao estado; porque
o que aconteceria a t o d o s , se lhes t i r a s s e m os escravos? D e p o i s d e
muito considerar, a solugào que lhe ocorria para o p p ò r ao m a l era
que "promulgada a lei, èie determinaria que os e s c r a v o s anteriores
a eia, ficassem corno familiares e trabalhando para os seus mes-
mos donos; e mandaria mais que nenhuns d è l e s fossem por qual-
quer causa, mesmo grave, tirados das suas f a z e n d a s : mas q u e os
donos, que quizessem lograr èstes favores deviam infalivelmente
fazer duas coisas: urna dar-lhes cada ano urna retribuigào modica
422 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
nis graves; tertio post anno bina tantum navigia, nec ea piena
satis ibant redibantque prope vacua. Jesuitarum calamitas novae
societatis f a m a m p a r u m p e r sustinuit; n a m exules e Maranonia tam
multi naves ejus conscendere, et naulum immodicum solvere coge-
bantur; praeterae, q u a e Jesuitis erepta s u n t , ea societas parvo emit;
atque ita factum ut navigia ex M a r a n o n i a minus vacua in Lusi-
taniam redirent.
E X P U L S À O DOS JESUITAS D A V I C E - P R O V I N C I A D O M A R A N H À O 427
2. — B u l h o n i u m , h a u d sane c r e d i p o t e r i t q u a m i n g e n s , quam-
que vana laetitia inflaverit! palam aiebat: " d e n i q u e se Mendonsae
opera A n t i s t i t e m esse, a d eam diem, quae Antistitis propria erat,
potestatem a u c t o r i t a t e m q u e Jesuitas exercuisse". Quia vero apud
concilium, nemine credente, d i x e r a t , satis s i b i c u r i o n u m esse, q u i
Religiosis abeuntibus, subrogarentur, circumspicere coepit, quo pacto
fidem suam, quam mentiendo obligaverat, liberaret.
Plurimum juvere Carmelitani, Mercedariique, qui, cum prius
conditionem repudiassent, sententiam postea mutarunt, atque A n -
tistitis potestati se subjicere non abnuerunt. Itaque h i apud oppida
relieti, ne tam multi curiones deessent, effecerunt. V e r u m ad Je-
suitas, Antonianosque, quos Capuccinos in Lusitania vocant,
substituendos, nulli Sacerdotes erant, nisi canonicos, aliosque qui
tempio urbis m a x i m o inserviebant, inde cum ingenti rei divinae
detrimento extractos, ad oppida demandaret. Eos igitur aggres-
sus, c u m inopiam sacerdotum professus fuisset, ingentibus promis-
sis nihil profecit; quippe l o c o r u m et rerum gnari, piane intellige-
bant, quam sterilem aerumnosamque in provinciam mitterentur. Ita-
que, non procedentibus promissis, t e r r o r e m injecit, qui recusarent,
in vincula conjiciendos. Ita demum curiones nactus, fidem suam
ipsis obstrinxit, ubi curiones novi, quod brevi futurum erat, ex
Lusitania venissent, eos ab oppidis in urbem revocandos. E t sane
vidimus in Lusitania, quod nescio an uspiam terrarum aetas ulla
viderit, Sacerdotes et Sacerdotio quoque initiandos v i cogi ut in
Maranoniam nomina darent, et militum more conscribi, jam tum
ominati, quantum sub ejusmodi Sacerdotum, qui profecto nce
E X P U L S À O DOS JESUITAS D A V I C E - P R O V I N C I A D O M A R A N H À O 43 1
3. — B i n i Jesuitarum p a g i M o r t i g u r a et S u m m a y m a Paraensi
urbi propinquiores erant. Inde oppidorum creatio coepta. Men-
donsa, Bulhoniusque cum lintrem conscendissent, ut gerendae rei
interessent, tam foeda de repente procella mare inhorruit, ut tum
ipsi, t u m ingens civium ac militum numerus haud procul naufragio
fuerint. Et hi quidem, cum p r o b e novissent q u a m perniciosa pagis
ac paganis f u t u r a esset ea mutatio quam visuri ibant p r ò certo
habuere, iter illud suum Superis vehementer displicuisse. Mendonsa
nondum satis p a v o r e , quo fuerat, excusso, u b i littus attigit, a d B u -
lhonium conversus, " v i d e , i n q u i t , q u a m vehementer displiceant malis
geniis mores fiumani civilesque quos hisce barbaris adducimus; illi
h a u d d u b i e tempestate t a m f o e d a iter nostrum occludere l a b o r a r u n t " .
Quinam vero mores fuerint, quos Mendonsa, Bulhoniusque addu-
xere, verbis haud multis explicari potest: i i erant, q u i moribus
opera Jesuitarum inductis m a x i m e adversarentur, quosque mali genii,
barbarorum exitio intenti, potissimum adductos vellent. Jam vero
Mortigurae quam Villam Comitis Mendonsa exinde appellari voluit,
e a d e m gesta, quae de T r o c a n o , seu Nova Borba, narravimus; nisi
quod M o r t i g u r a e (per Summaymae contigit) cum arboris truncus
in foro erigendus esset, haud est d e d i g n a t u s M e n d o n s a f u n e m c u m
populo trahere, Bulhonio interim, Scipione certa per intervalla vel
sublato, vel demisso, signum praebente, ut cuncti simul intenderent
impetum, remitterentque. I b i quoque in foro pùblico fides publica
foede violata; nam, cum Mendonsa suo unius arbitratu Senatores
creasset, scribam publicas i n tabulas referre jussit p o p u l i suffragiis
creatos fuisse. B u l h o n i u s M o r t i g u r a e , u b i Achilles Maria Abvo-
gadrius Jesuita praefuerat, Paraensi canonico Josepho Gonsalvio
animarum cura c o m m i s i t ; S u m m a y m a e ( h a e c d e i n d e Beja appellata)
u b i Josephus T a v a r i u s Jesuita christianam rem curaverat, Joannem
Antonium Goesium Sacerdotem praeposuit. Jesuitae aedibus suis
egressi, nihil secum praeter sacrarum precum codicem, quemadmo-
dum ab Moderatore suo m o n i t i fuerant, extulere. Id Mendonsae,
E X P U L S À O DOS JESUITAS D A V I C E - P R O V I N C I A D O M A R A N H À O 433
21
434 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
f a c i l e d e m o n s t r a v i t l o n g e a l i a m esse o r d i n i s c a u s a m ; J e s u i t a p a g a n o r u m
o p e r a m mercede repraesentata compensare n u n q u a m n o n consuevisse;
praeterea, q u a e unus paraverat, ea o m n i a s u c c e d e n t i s o c i o r e l i n q u e r e ,
quamobrem annis t a m m u l t i s t e m p i a , aedes, a l i a q u e q u a e i n tabulas
relata erant, aere Jesuitarum p r o p r i o p a r a r i potuisse: c u m ex adverso
ejus ordinis cujus tabulas Mendonsa protulerat, Sacerdotes nihil
prope, quod suum esset, r e l i n q u e r e ullo modo possent, cum eo
a p p u l s i r e m sui o r d i n i s o m n i n o n u l l a m reperiissent. E n i m v e r o q u o t e m -
p o r e m u t a t i o p r a e f e c t o r u m f i e b a t , q u i discessurus e x p a g o erat, praeter
alia omnia, etiam aedium portas vel secum deferre consueverant.
29
450 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
30
466 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
dres, com cuja palavra contavam ao descer dos montes e aos quais
jà se tinham habituado a amar e a sobre-maneira reverenciar, e,
logo que souberam que em l o g a r d o s q u e c o m eles c o m p a r t i l h a v a m
os seus b e n s , lhes e n v i a v a m o u t r o s , q u e t a n t a s coisas lhes p e d i r i a m
dos seus h a v e r e s domesticos e que ainda depois os governariam
nào p o r a m o r c o m p a s s i v o m a s p e l a f o r c a das leis, n a d a lhes e r a mais
naturai do que revoltarem-se contra a nova o r d e m d e coisas, c o m
que ainda n à o estavam familiarizados e que se lembrassem d a v i d a
livre antiga, e que pondo fogo à aldeia e a r r u i n a n d o - a se tornas-
sem para os seus m o n t e s e que depois, visinhos e inimigos dos
portuguèses, se lhes t o r n a s s e m n à o menos temiveis e prejudiciais.
5. — Estas e outras coisas o p o r t u n a s a o c a s o , m a n d o u o R e i t o r
Rocha por escrito ao governador L o b a t o , declarando categorica-
mente que n à o dizia isto o l h a n d o a si e aos seus b e n s , m a s com
a vista só no bem da religiào e n o b e m p ù b l i c o . " N à o se devia,
dizia eie, ter em t à o pouca conta que aquela gente, ainda que t à o
fera, se n à o se tornasse mais muito humana, que isto j à nào es-
peravam os jesuitas, ao menos se tornasse mais tratavel e menos
propensa a tóda a sorte de crueldades e q u e os c o l o n o s portugueses
e os indios maranhenses vivessem seguros e l i v r e s das suas depre-
dagòes e voracidade; àlém de q u e m u i t o s e r a m os f i l h o s deles, que
diariamente se baptizavam e iam para o céo.
A nada se m o v e u L o b a t o . E assim, e x p u l s o A n t o n i o Machado
que por seis anos paroquiara a aldeia, substituiu-o o carmelita
Francisco Antonio. N à o foi a aldeia elevada a vila, mas f i c o u u m
simples casal com o nome de L a p e l a e em b r e v e se v i u ser verdade
o que os jesuitas t i n h a m p r e v i s t o , p o r q u e t u d o aconteceu c o r n o eles
a L o b a t o t i n h a m p r o f e t i z a d o . O s gamelas fugiram p a r a os montes,
excepto uns poucos que os jesuitas tinham levado da sua aldeia
d e M a r a c ù , p a r a m a i s f a c i l m e n t e os d o m e s t i c a r e m , c o m ò costumavam
fazer, quando i a m f u n d a r novas aldeias. Ora bem; Fr. Antonio,
depois de ficar là dois meses, teve que fugir, confessando publi-
camente q u e a b a r b à r i e d a q u e l a gente era absolutamente i n s u p o r t a v e l .
Sucedeu-lhe Francisco Rayolo, também carmelita, que dentro de
dois meses m o r r e u de doengas e desgostos.
Jà a este t e m p o chegàra ao M a r a n h à o o novo Bispo, A n t o n i o
de S. José, o qual, corno por muito tempo e com grande dili-
gencia procurasse u m padre, a quem encarregasse de t à o estéril
corno perigosa incumbencia, foi-se-lhe oportunamente oferecer Pas-
468 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
31
482 DE E X I L I O VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
1. — Juvat recensere h o c l o c o , q u a m i n g e n t e m b a r b a r o r u m m u l -
t i t u d i n e m Jesuitae i n pagos deduxerint, nulla ad id pecunia ex
aerano Regis acepta, ut legentes j u d i c a r e possint, quantum inter
Jesuitarum ac M e n d o n s a e Consilia i n t e r e s s e t . Nec alios recenseam,
quam q u i a b anno vicesimo labentis seculi i n pagos venere. Aba-
caxinensem in pagum, nunc oppidum Serpa, Joannes Sampayus
mille capita ex gentibus, q u a s S a p o p è s , T a r o r i s et J a g u a r e t è s vo-
cant, deduxit; quingenta ex gente Araras Emmanuel Motta; ex
catalunis sexcenta A c h i l l e s M a r i a A d v o g a d r i u s ; ex M a c u s multitudi-
n e m i n g e n t e m R o c h u s H u n d e r t f u n d u s , nec m i n o r e m e x X a p i n s T h e o -
tonius B a r b o s a ; e j u s d e m gentis P r i n c i p e m c u m clientibus septuaginta
Joannes Souza; capita centum octoginta diversarum gentium Anto-
nius Meisterburgus. Acararà pagus, anno M D C C X X V I I a b Jesui-
tis f u n d a t u s a d f a u c e s f l u m i n i s , q u o d P i n d a r é a p p e l l a n t , i n d e i n l o c u m
quem C a r ù vocant, mutatus, postremo ad aliud, unde nomen de-
sumpsit, traductus, ne minimo quidem sumptui aerario Regis fuit,
quamvis esset f r e q u e n t i s s i m u s . In pagum Araticù, nunc oppidum
Oeiras, Ignatius Stanislaus ingentem barbarorum, quos Comandis
appellant, multitudinem paulo ante deduxerat, deducturus quoque
septem Principes gentis, q u a m P u r u p u r ù s appellant, c u m clientibus
universis, nisi i d facere M e n d o n s a prohibuisset, eo Consilio ut o p e r a
sua, non Jesuitarum, deducerentur. C e r t e U l y s s i p o n e m scripsit, "ex
quo ipse Jesuitas e x pagis ejecisset, barbaros certatim ad pagos
f r e q u e n t a n d o s se o f f e r r e ; nullos p r o p e d i e m i n M a r a n o n i e n s i b u s sylvis
barbaros permansuros". Cum tamen pagum suum Myribyram au-
gere voluisset, certosque homines q u i illos gentis principes eo tra-
ducerent i n montes legasset; p r a e c i s e negarunt se exinde cum illis
buem c u m Jesuitis d e s c e n s u r o s ; i i s se fidem dedisse, n o n lusitanis;
C A P I T U L O DECIMO TERCEIRO.
32
498 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
So b r o ,
ue aquelas n à o iam alem de 30: emquanto as d o M a r a n h à o eram j a quasi o
nào foram escritas por outra mào, senào pela do proprio Pontifice".
E desta mentirà passava a predizer outras coisas, realmente ver-
dadeiras, que eie por cartas do seu irmào Carvalho soubéra; e
assegurava que eie "tinha por certissimo que a desgraca dos je-
suitas teria um desfecho, que eles n e m sequer imaginavam; que
seriam por muito tempo oprimidos e torturados; e que finalmente
seriam expulsos do M a r a n h à o , d o Brasil e a t é de P o r t u g a l ; e, se
os planos vingassem, a t é v i r i a m a ser extinctos em todo o m u n d o " .
Isto, m u i t o i m p r u d e n t e m e n t e se d i v u l g o u e n t à o pelo Maranhào,
e ainda antes q u e a l i c h e g a s s e m q u a i s q u e r rumores, o que manifes-
tamente prova que, corno m u i t a s vezes dissemos, o desterro dos
jesuitas fora decretado antes q u e pessoa alguma, afora Carvalho,
tivesse noticia de qualquer atentado ou realizado ou projectado
contra o Rei.
Demorou-se M e n d o n g a na cidade até 3 de m a r c o , sem per-
mitir que Bernardes tornasse conta do Governo, afirmando publi-
c a m e n t e q u e , e n q u a n t o eie estivesse n o M a r a n h à o , a ninguem havia
de estar sujeito.
D u r a n t e este i n t e r v a l o d e tempo é q u e , sem p a r a isso ter titulo,
e postergando todos os direitos e toda a justiga, proseguiu e levou
adiante a r a p i n a dos bens, fazendas e gados, que ainda restavam
aos jesuitas, e os repartiu p o r gente do seu b a n d o , r e c o m e n d a n d o -
lhes somente que alcangassem d o R e i lhes c o n f i r m a s s e estes favores
por escritura publica.
Antecipou-se eie assim à e x p o l i a g à o dos bens dos jesuitas, p o r
saber que està seria depois decretada c o n t r a eles; e nem para os
outros, m a n d a d o s depois a r o u b à - l o s , algo d e i x o u de qualquer valor,
a n à o ser as casas e a l f a i a s d o s templos.
3. — Adiou Bulhòes até 9 de fevereiro, n à o sei por que
razào, o t o r n a r posse d o seu cargo de reformador. H a v e n d o na
vespera daquele d i a a v i s a d o os jesuitas d o que queria tivessem p r e -
parado e do que tinham de fazer, encaminhou-se para o colégio
c o m l u z i d o a c o m p a n h a m e n t o ; p o r q u e , se b e m que M e n d o n g a resol-
v é r a n à o assistir, m a n d à r a , c o n t u d o a v i s a r os c a m a r i s t a s , os o f i c i a i s
do exercito e toda a nobreza que honrassem a celebridade daquele
dia com a sua presenga; pelo que aconteceu que os amigos dos
j e s u i t a s , c o m q u a n t o c o n t r a f e i t o s , h o u v e r a m d e a c o m p a n h a r e p r e s t a r as
honras a Bulhòes.
A festa celebrou-se c o m rito soléne, contrastando c o m a tris-
506 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
5. — Josephus M o r a l i u s M a r a n o n i e n s i u m r e r u m h i s t o r i a m scri-
bebat. Itaque Mendonsae, Bulhonioque ejus rei gnaris, veritisque
ne eo scripto utriusque scelera posterorum memoriae proderentur,
nihil potius visum, q u a m scriptorem ex Maranonia pellere, eoque
pacto coeptum opus, quod scelerum suorum vindex futurum esset,
disturbare. Pro Jesuita ad unam ex onerariis devecto, Paraense
collegium immane p o r t o r i u m M e r c a t o r u m s o c i e t a t i r e p r a e s e n t a r e est
coactum. D e M o r a l i o U l y s s i p o n e m appulso q u i d f a c t u m sit, nescio;
certe postea i n defossis s u b h u m u m c a r c e r i b u s est s e p u l t u s . Eadem
classe q u i e t i a m tum supererant ex Capuccinis, universi i n lusita-
niam deportati sunt, q u a m q u a m i p s i s e n t e n t i a m m u t a v e r a n t , nec j a m
Bulhonio subjici, atque ita pagorum curam suscipere renuebant.
Caeterum ad Maranoniae felicitatem, eam videlicet quam Carvalius
et f r a t e r ejus Mendonsa destinaverant animis, nihil tam intererat,
quam exemplo A n g l i a e , privari viris religiosis, q u i vitae innocentis
exemplo civibus ad virtutem praeirent, qui Religionem christianam
inter barbaros disseminarent, eamque, ubi opus fuisset, sanguine
proprio effuso, tuerentur. Unus tota classe laetus Mendonsa ad
praemia, cum ad poenam debuisset, properabat. Quam in rem
M a r a n o n i a m i n tabula d e p i c t a m secum ferebat, nulli rei minus, q u a m
Maranoniae similem. Enimvero prò pagis infelicibus, eorumque
humillimis casis, ramis aut f o e n o tectis, o p p i d a immania, aedesque
ubique principes affixerat; adjecto ad extremum titulo glorioso pe-
rinde ac falso, "ea omnia Mendonsam sua industria fundasse".
Ita Regi impositum, indignantibus, qui miserrimum Maranoniae sta-
tum probe noverant, quid t a m e n v e r i esset, R e g i aperire ob m e t u m
Carvalianae potentiae nemine auso. Novus Maranoniae Praefectus
E X P U L S À O DOS JESUITAS D A V I C E - P R O V I N C I A DO M A R A N H À O 5 II
33
514 DE E X I L I O VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
34
530 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
sabia por urna parte Carvalho que nenhum outro encontraria com tantos
predicados p a r a e x e r c i t a r este c a r g o s e g u n d o a sua vontade corno
Bulhòes, e por outra n à o contava que o Prelado maranhense lhe
desse m à o e a j u d a p a r a a c g ò e s t à o p e r v e r s a s c o r n o as q u e e m seus
planos tinha em vista.
E' m i s t e r c o n f e s s a r q u e este P r e l a d o , c o r n o e i e proprio muitas
vezes confessou, nào tinha tido o u t r ' o r a dos jesuitas maranhenses
urna o p i n i à o m u i t o favoravel; porque a q u e t i n h a estava de c o n f o r -
midade com o que de C a r v a l h o ouvira nas c o n v e r s a s , q u e c o m eie
t i v e r a . E n à o d e p ò s este c o n c e i t o d e s f a v o r a v e l , s e n à o q u a n d o d e p o i s
tomou conta de sua diocese e seria e cuidadosamente se pòs a
o b s e r v a r os p r o c e d i m e n t o s d o s j e s u i t a s .
No Maranhào é que realmente veiu a reconhecer que, quanto
em Portugal tinha ouvido, era t u d o urna p u r a i n v e n g à o ; e beando
desde entào condenando, tanto a sua leviandade e m crer, comò
a desvergonha e perfidia de C a r v a l h o e m f a l s e a r os factos. Atri-
buia de facto, no comego, todos os m a l e s aos jesuitas. O aprego
em que depois os teve, ao certificar-se d o seu z è l o e actividade,
aumentou singularmente ao fazer a visita d a sua d i o c e s e . Pois que
havendo ainda a l g u n s J e s u i t a s nas fazendas, que estavam p r o x i m a s
das novas vilas, lhes pediu que o acompanhassem. E, acedendo
eles aos seus d e s e j o s , pode entào c o m os seus p r o p r i o s o l h o s ve-
rificar o m o d o c o m que eles se h a v i a m c o m os s e l v a g e n s , as i n -
dustrias que usavam para os t r a z e r ao caminho do bem e a paci-
encia c o m que lhes desbravam tanta rudesa e tiravam tanta igno-
rancia. E n à o p o d i a c o n t e r as lagrimas, quando estes l h e pediam
corno p o r vezes a c o n t e c e u , q u e lhes f o s s e m r e s t i t u i d o s " o s seus p a i s " ,
corno eles os soiam nomear, e que " n à o queriam outros padres
senào os q u e os h a v i a m t i r a d o d o s m o n t e s , os quais lhes queriam
corno a filhos". S u p ò e - s e que sobre isto escreveu ao Rei, o que
excitou n à o pouco o furor de C a r v a l h o contra eie, e foi a causa
de ser desterrado e atirado para urna prisào.
C A P V T X V I .
se sentiu, c o m os l o u v o r e s , q u e os e s t u d a n t e s d e r e t o r i c a e m p r o s a
e verso lhe deram em sua presenga.
D e i x a n d o , pois, apontados p o r escrito alguns pontos de somenos
importancia, que lhe pareceu deverem ser e m e n d a d o s , os entregou
aos jesuitas. E, após urna d e m o r a d e seis meses n a cidade, a qual
eie empregou em cavalgar e jogar, partiu a 28 de novembro,
seguindo por terra para Belém do Parà. Antes de partir deu a
sua palavra (palavra que n à o havia de cumprir) de que "daria um
preclaro e verdadeiro testemunho acerca d o s seus c o s t u m e s e ino-
cencia a Saldanha, e o R e i viria a saber e m f i m que tantos crimes,
que os i n i m i g o s l h e h a v i a m i m p u t a d o , n à o passavam d e cruas f a l -
sidades e atrozes calunias.
Chegou em 30 de novembro a Maracù, hoje Viana, e se
agasalhou na fazenda dos jesuitas c o m as sessenta p e s s ò a s d a sua
comitiva, aos quais eles h a v i a m f o r n e c i d o as p r o v i s ò e s e a n i m a i s d e
conducào. Daqui se encaminhou para o engenho de assucar, q u e
os mesmos t i n h a m n à o longe dali. E depois de alguns dias, tam-
bém empregados em cavalgar, se p ó s de novo a caminho. Du-
rante aqueles dias afirmou por vezes aos administradores da fa-
zenda que estava muito grato por t à o liberal hospitalidade, e que
bem o mostraria quando a ocasiào se apresentasse; e pediu que
em seu nome saudassem ao P. Provincial e a todos os seus s ù b -
ditos, e lhes prometia que por amor deles faria todo o possivel
por lhes ser agradavel". Com quanta f i d e l i d a d e levasse a efeito
estas p r o m e s s a s esse h o m e m v à o e versatil, corno urna ventoinha,
a quaisquer ventos da fortuna, vè-lo-emos nos factos q u e passamos
a narrar.
4. — Fez eie a sua entrada na cidade do Parà aos 2 3 de
dezembro. E, n à o tendo a n à u , recentemente chegada do reino,
trazido noticia alguma s o b r e os tumultos de L i s b o a , reconheceu l o -
go q u à o temeraria e imprudentemente se deixara tornar do medo
e resolveu recuar no b o m caminho andado. E assim se deu logo
com todo o calor e por t o d o s os modos a guerrear os jesuitas.
la quasi diariamente a casa d e l e s ; mandava chamar indistintamente
novos e velhos; e f a z i a os i n t e r r o g a t ó r i o s a t o d a a sorte d e p e s s ò a s ,
ou instruidos ou ignorantes.
Tinha numa lista escritos q u a s i sessenta c a p i t u l o s d e a c u s a c à o ,
c u j a m a i o r i a versava sobre a verdadeira reforma e sobre o ver-
544 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
35
546 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
3. — J o s e p h u s F e r n a n d i u s A n t i s t i t i s M a r a n o n i e n s i s j u s s u , sacris
Exercitationibus explicandis assiduam navabat operam. Apud Ita-
picurum viros j a m docuerat; t u m foeminas amplius centum i n tem-
pio oppidi erudiendas susceperat, cum de obsidione Jesuitarum
E X P U L S À O DOS JESUITAS D A V I C E - P R O V I N C I A D O M A R A N H À O 555
36
C A P V T XVIII.
l
( ) Os Padres eram J u l i o Pereira, Provincial e M i g u e l I n à c i o , sòcio d e l e ;
B e r n a r d o de A g u i a r , Reitor do c o l é g i o Maranhense; D i o n i z i o Alvares, J o s é
R o n c o n i ; J o s é Ferreira; Silvestre Rodrigues; M a n o e l Monteiro* A n t o n i o P i n t o :
Matias Rodrigues D o m i n g o s A f o n s o ; M a n o e l M o t a ; A n t o n i o Dias; J o s é A n *
t o n i o ; S i m à o H e n r i q u e s ; Francisco Ribeiro; J o s é A n c h i e t a ; A n t o n i o Gonzaga
e Pedro Marques. Estudavam teologia: Damaso J o s é , J o s é B r i t o , D o m i n g o s
Xavier, M a n o e l C a r v a l h o , J o à o A n t u n e s , Bernardo C a r v a l h o , A n t o n i o Veloso
A n t o n i o Santos, J o s é T à v o r a , J o s é Barbosa, Francisco Lopes. Eram estudan*
tes de r e t ò r i c a : A n t o n i o A r a u j o , J o s é Gonzaga, M a n o e l A n t o n i o , Antonio
Lopes, A n t o n i o Fonseca, M a n o e l Marques, J o a q u i m Ferreira, J o à o Tavares,
J o s é Pedro. C o a d j u t o r e s : B e n t o Caeiro, B e r n a r d o Silva, A n t o n i o Basto, Joa*
q u i m C u n h a , J o à o Luiz, M a n o e l Costa, M a n o e l Sousa, A n t o n i o Goncalves.
566 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
nos era ainda para lastimar o ver que os que, depois de terem
sorrido t à o grande h u m i l h a c à o , nào podiam descer pelas escadas
para o barco, eram ligados c o m cordas, e por m e i o delas arreados
p a r a d e n t r o d e l e c o r n o se f o s s e m fardos.
4. — Por està forma se houve Gomes, contra toda a expe-
c t a t i v a , c o m t o d o s os jesuitas sem e x c e p c à o . Estou informado que
nào lhes e n c o n t r o u mais d e vinte escudos romanos q u a n t i a q u e nào
ia d e i x a r m u i t o desfalcados os t e s o i r o s dos jesuitas maranhenses,
que a i m a g i n a c à o de Carvalho sonhàra fossem quasi infinitos e tào
grosseira e cautamente mandàra que fossem recolhidos. Maiores
foram os lucros, que tirou das alfaias, que L o b a t o lhe concedeu
a o r e t i r a r e m - s e os j e s u i t a s , p o i s t u d o o q u e se s a l v o u d a s m à o s dos
soldados, f o i v e n d i d o e m hasta publica.
Os jesuitas, assim d e s p o j a d o s d e tudo o que traziam e a bem
dizer semi-nus, foram entre as espadas dos soldados levados da
praia para o c o l é g i o paraense.
Os padres Provincial e Taborda, cura da aldeia de Mara-
cù, foram por ordem de Bulhòes, levados da portaria e postos
sob p r i s à o , c o m sentinelas à porta, pelo crime de terem queimado
os livros, que de f u t u r o lhes n à o seriam de prestimo. A o s guar-
das se lhes mandou que observassem todos os movimentos de
ambos; que a porta e a janela nem de n o i t e se f e c h a s s e m ; q u e se
cortasse qualquer relagào c o m os outros jesuitas, e que se exami-
nasse t u d o bem, quando se lhes dava a comida.
Ao proprio c e n t u r i à o se m a n d à r a que m o r a s s e j u n t o aos quar-
tos, para v e r se as ordens se cumpriam à risca. E t o d o este ri-
g o r se observou c o m os p r e s o s a t é 13 de setembro, em que com
os demais j e s u i t a s se embarcaram para P o r t u g a l . V i g o r a v a m assim
as ordens crueis de Bulhòes contra os p a d r e s , quando aconteceu
cairem ambos em doenga grave. E, comò os médicos afirmassem
que o ar n o t u r n o é que lhes f a z i a m a l , c o n c e d e u emfim Bulhòes,
depois de muito instado, que se pudessem conservar as j a n e l a s fe-
chadas durante a noite.
Os outros jesuitas foram levados para o colégio, n à o de certo
muito ampio, onde suportaram apertos bem pouco dissimilhantes
dos que tinham sofrido durante a navegacào. Os que ainda nào
tinham feito os quatro votos da religiào foram por ordem de Bu-
lhòes apartados da companhia dos demais jesuitas, para o firn
que depois veremos.
574 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
37
578 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
f a i t a s s e a o s seus v o t o s r e l i g i o s o s , d e i x a n d o a C o m p a n h i a . N o d i a 30
de junho f o i ao colégio, e reuniu todos os que n à o tinham feito
os quatro v o t o s solenes d e religiào, e muito por extenso lhes f a l o u
da clemència do Rei e dos galardòes que eie r e s e r v a v a aos que
abandonassem a Companhia, da ruina dela sobre toda a face da
terra, e das calamidades, que sobre eia i a m cahir. E mais a f i r m o u
que "a juventude portuguésa jà tinha deixado a Companhia; e
que s ó alguns menosprezando a c l e m è n c i a real, tinham partido c o m
os p a d r e s graves para Roma, mas que là tinham sido despedidos
dela pelo P. Geral, porque n à o lhe era possivel alimentar tanta
gente. Estava-lhes, p o r é m , vedada por ordem do Rei a sua volta
à patria; pelo que, là estavam pagando c o m justas penas a sua
contumacia e atrevimento, e tanto que para grangear o seu sus-
tento tinham que andar a servir". Este dardo tinha Bulhòes por
muito eficaz porque lhe fora sugerido de Portugal por Carvalho.
Depois de muito d i s c o r r e r s o b r e este e o u t r o s p o n t o s , r e t i r o u - s e
para o seu q u a r t o , e fòi chamando à sua presenca cada um de
per si, tendo a seu lado sentado o mocp Teixeira, para tornar
por e s c r i t o as respostas de cada um. Os modos comò nisto se
houve foram diferentes segundo eram d i f e r e n t e s as i d a d e s d o s q u e
iam entrando. Aos jovens, que quizessem ser padres, l o g o a l i lhes
prometia que lhes fariam a vontade e que teriam bons empregos
na h i e r a r q u i a eclesiastica, n o magisterio e noutras p o s i e ò e s distintas.
No caso, porem, de preferirem nupcias ricas, teve o desafóro de
sendo Bispo e religioso, prometer que por sua interferencia as
poderiam alcangar. Aos j à sacerdotes prometia em nome do Rei
cargos eclesiasticos, riquezas e tudo quanto podesse tornar a vida
feliz.
Ora bem, a maioria dos jesuitas respondeu a Bulhòes de
modo que lhe deixou f r u s t r a d a s as suas e s p e r a n c a s . " A Deus t i -
nham p r o m e t i d o viver perpetuamente na C o m p a n h i a ; n à o lhes era
possivel faltarem a estas p r o m e s s a s sem c o m e t e r e m u m s a c r i l e g i o " .
Antonio Simòes, j à mais que sexagenario, dos que chamam coa-
djutores espirituais, solicitado por B u l h ò e s c o m promessas p a r a d e i -
xar a C o m p a n h i a , respondeu isto gravemente, isto nem o pro-
por-se a si, j à h o m e m feito, n e m o propo-lo eie B i s p o , lhes estava
bem. E quanto ao acto em si, naquele mesmo dia tinha lido no
e v a n g e l h o : "Qui perseveraverit usque in finem hic salvus erit". Havia
jà m u i t o s anos que José dos Santos sofria d e urna doenca, que lhe
592 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
38
594 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
porta.
Bulhòes foi o primeiro a dirigir-lhes palavras a todos jà re-
unidos e a d i s c o r r e r c o m m a i s a r d o r e, c u i d a v a eie, com eloquen-
602 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENIS
nulla nos industria, vis nulla ab semel suscepto vitae instituto aver-
terei**.
F o n s e c a c u m dies d e c e m fortissime dimicasset, c u m ingenti so-
ciorum laetitia a d c o l l e g i u m est r e m i s s u s .
E nem depois, durante todo o tempo que là ficou detido, tomou al-
g u m a das iguarias que lhe p u n h a m diante, a n à o ser um pouco de
arroz e v a c a , c o m i d a , q u e e i e e n t r e os seus c o s t u m a v a tornar.
P a p e l d e d e m o n i o f e z t a m b é m p o r o r d e m d e B e r n a r d e s , n à o sei
q u e f r a d e franciscano; mas nada conseguiu; assim q u e f o i N o b r e g a
descido d o andar nobre d o palacio, e atirado para o logar onde mo-
r a m os c r e a d o s ; nem ainda aqui o deixaram em paz. C o m o , pois,
Bernardes o tivesse a l i r e t i d o entre lagrimas e suspiros, d u r a n t e dois
dias inteiros e visse q u e nada alcancava dele, depois de o des-
compor muito com palavras de desprezo, o remeteu, jubiloso e sa-
tisfeito, para a companhia d o s seus, na noite que precedeu a 15
de Agosto.
A alegria d a vitoria juvenil f o i , porem, aguada poucos dias
depois c o m a desercào do padre Roberto Pereira. C o m o este sa-
cerdote se tivesse j à visto e m grande perigo de naufragio quando
com os outros companheiros fora transferido de S. Luis do Ma-
ranhào para o Parà, tomou tal horror ao mar que veio finalmente
a ceder à s instancias do desembargador Gomes, a quem cabe a
gloria desta proeza, o q u a l , l e v a n d o - o p a r a casa, o moveu a acei-
tar a demissào da Companhia. O mesmo fizeram pouco depois o
padre T e o t o n i o Barbosa, coadjutor espiritual e J o à o Carneiro, coad-
jutor temporal. Eram jà adiantados em anos e de pouco pres-
timo, e foram retidos na Companhia pelos Superiores mais por
comiseracào do que por merecimentos deles. Nove foram, pois,
os desertores nào mais, e este s ó o f r u t o de tantos cuidados e
diligencias: e ainda alguns deles j à antes teriam sido despedidos
pelos superiores, corno jà antes, t i n h a m b a l d a d a m e n t e proposto ao
Governador.
4. — Quasi por este m e s m o tempo, em q u e estes desertores
por medo aos trabalhos, abandonavam a sua religiào, trocavam a
terra pelo c é u tres varòes insignes pela sua b o n d a d e . A o s 10 de
Agosto deixou està terra de exilio o P. M a n u e l Ferreira, Reitor
do seminario urbano, donde, corno vimos, f o r a expulso e condu-
z i d o entre gente armada. Regera eie o c o l é g i o do Parà e toda a
Provincia, e assinalara-se m u i t o p e l a sua bondade e amor da paz
e da concordia.
A 15 de Agosto coube a sorte ao padre José Ferreira, o
mesmo que Bulhòes quizera ficasse substituindo o padre Julio no
Provincialato, ao que eie determinadamente se recusou. P e d i r a eie
608 DE EXILIO VICE-PROVINCIAE MARANONIENSIS
39
C A P V T X X L
40
LIBER T E R T I U S
D E E X I L I O P R O V I N C I A E G O A N A E
T E R C E I R A P A R T E
DE GOA
C A P V T I .
C A P I T U L O PRIMEIRO.
3. — G o a n i s Jesuitis, aliisque, q u i t u m i n A s i a , t u m i n A f r i c a
quae orientem solem respicit, versabantur, torquendis ex Saldania
gente Carvalius optavit Emmanuelem Saldaniam Albuquerquium,
ejus opera Egae Comitis titulo a u c t u m , dein totius Indiae P r o r e g e m
dictum.
Jesuitae ac j a m tempestate pulsi aula ab Rege fuerant; C a r d i -
nalis S a l d a n i a , Proregis c o n s o b r i n u s , ipsis praepositus nondum erat;
t u m p r i m u m a p p a r u i t , Saldanianae gentis animos alienatos a b Jesuitis
esse, P r o r e g e m q u e , q u a e c u m ipsis a p u d M a d e i r a m I n s u l a m interces-
s e m i , a m i c i t i a e renuntiasse. N a m c u m illa dignitate aucti consuevis-
sent c o m m e a t u s sui c u r a m Jesuitis m a n d a r e , e a m p r o v i n c i a m F r a n c i s c o
Cunhae (adjutori nuper socio, sed j a m e Societate dimisso) impe-
ravit, h a u d m o d i c o f a m i l i a r i s r e i suae d e t r i m e n t o . E n i m v e r o paulo
ante conscenderet, c o m m e a t u s h a u d recte p a r a t i , nescio q u a m o b r e m ,
suspicione injecta, tabulam omnium, quae tam longo itineri opus
erant, a b Jesuitis per amicos expressit; q u a conspecta, demum cogno-
PERSEGUICÀO AOS JESUITAS D A P R O V I N C I A DE GOA 633
41
642 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
sou em fugii. Quanto isto fosse indicio da sua muita virtude e se-
guranca da sua inocencia avaliem-no os leitores; e mais se deve
ter presente que n à o f o i dessemeihante o p r o c e d i m e n t o nas outras
provincias ultramarinas e nem mesmo na de Portugal, onde Car-
valho por muitos modos os incitou à fuga.
4. — Voltando o vice-rei a cidade no seguinte dia 25 de
setembro, entrou jà de noite no seu palacio, e nele reuniu jun-
tamente o conselho regio e o senado, n à o tanto para resolver o
que se faria ou o modo corno se haveria com os jesuitas, pois
jà em Portugal ou certamente de Portugal lhe fòra determinado
mas, para saber de que pessòas para isto se Valeria.
Foram pois, escolhidos, comò jà em P o r t u g a l se p r a t i c a r a , os
desembargadores, q u e se encarregassem de, em c a d a casa dos je-
suitas, proceder em à confiscacào dos seus b e n s , e os o f i c i a i s mili-
tares, q u e lhes posessem cerco e com sentinelas vedassem o trato
deles com p e s s ò a s estranhas e lhes i m p e d i s s e m a fuga. Reguladas
estas c o i s a s com facilidade, deputou primeiramente os que fora
da cidade haviam de levar aquela obra a cabo, fazendo-os acom-
panhar de bastante forca armada, admoestando-os sèria e instan-
temente, o que procedessem com muita fidelidade e firmesa e
prometendo-lhes que sobre os meritos de cada um em urna em-
preza de tanta m o n t a , escreveria ao rei e que n à o menos seriam
recompensados do que se houvessem expugnado e arruinado urna
fortaleza inimiga. E, f e i t o i s t o , se saiu d e casa a p e z a r d e a c h u v a
abundante haver inundado os c a m i n h o s ; e a p é se dirigiu para o
c o l é g i o de S. Paulo que là chamavam o Novo.
5. — M o r a v a m neste c o l é g i o quasi toda a juventude da P r o -
vincia e juntamente um grande numero de cafres, nome que ali
dào aos escravos requeimados pelo sol africano. Tanto numero
incutira no animo d o v i c e - r e i u m estulto terror, porque tinha para
si que os j e s u i t a s , fiados na muita juventude e nos c a f r e s , o p o r i a m
seria resistencia à s tropas, que fossem assaltar o colégio; e neste
caso n à o lhes seria, segundo pensava p o u c o penosa a vitória.
Dominado assim pelo medo, depois de por si r e p a r t i r as sen-
tinelas e dispor as f ó r g a s p e l o s s i t i o s q u e l h e pareceram mais estra-
tegicos, deu o comando da faccào a Leonel A n t o n i o ; e julgando-o
(costumamos medir os outros por n ó s mesmos) egualmente tornado
dos mesmos receios, o animou com a seguinte f a l a , que, d i v u l g a d a
pela cidade, deu que rir a muita gente.
654 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
42
658 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
8 4 — M e m o r a t u d i g n a sunt, q u a e d e i n d e a p u d C u r a t o r e m Pro-
vinciae gessit. Is t u m e r a t E m m a n u e l F i g u e i r e d u s , senex octogena-
rius, magnaeque i n t e r eas gentes auctoritatis. A d bujus cubiculum
progressus, cum expensi et a c c e p t i tabulas exegisset, libros quoque
quibus societatis negotia continerentur, haud satis verecunde pos-
tulavi. Figueiredus, quamquam hominis audacia ictus, modeste ta-
men respondit, ejus generis libros a p u d mercatores reperiri; se re-
ligiosae Provinciae Curatorem esse, n o n mercatorem.
At Botelhus, senis m o d e s t i a inverecundior factus, stipitem se
fore, subridens reposuit, si J e s u i t a r u m negotia ignoraret; id genus
l i b r o s se r e p e r t u r u m . S i m u l haec, simul senem c u b i c u l o ejecit. M a n u
prae se f e r e b a t S a c r a r u m p r e c u m codicem, inclusum theca ex corio
facta; Botelhus cum, quid r e i esset, f a t e n t i h a u d satis credidisset,
thecam e manibus extorsit, ratus sane, n e g o t i o r u m , q u a e exprobra-
verat, b r e v i a r i u m se feliciter deprehendisse. Errore exuto, thecam
reddebat, cum animadvertit, brevem inter digitos chartam ab sene
fuisse r e t e n t a m ; in hanc quoque involavit, nec hominis audaciam
fregit, q u o d i b i v i t a e suae f i a c u l a ; m e m o r i a e causa, scripta c o n t i n e r i ,
Figueiredus testaretur. Itaque, se quoque sacri silentii fidem reli-
giose servaturum, dicens, ad legendum progrediebatur; tum senex
patientia denique consumpta, cum in chartam manus injecisset, e-
amque minutissima i n frusta conscidisset, tam graxi tamque ardenti
oratione hominis profani irreligiosique temeritatem verberavit, ut, pu-
dore suffusus, ne hiscere quidem deinde ausus f u e r i t .
PERSEGUICÀO AOS JESUITAS D A P R O V I N C I A DE GOA 659
44
690 DE E X I L I O PROVINCIAE GOANAE
lho desgragou, tantos males fez e tào irreparaveis comò a està (*).
Porque nas outras em razào de terem climas melhores, nào falta-
ram obreiros, que nelas p r o m o v e s s e m o bem da religiào e salvagào
das almas. Os Rios de Sena s à o , p o r e m , t à o insalubres e t à o ex-
postos a perigos manifestos das vidas para os que em determi-
dos tempos do ano là moram, que nem sequer a c o b i g a do oiro
e da prata, naquelas partes t à o abundantes, basta para atrair para
ali os que os procuram, nem os obriga a fixarem l à sua morada
por muito tempo.
A o m o d o de aves de arribagào para ali voam; e f e i t a a sua
colheita à pressa, só pensam em v o l t a r a seus n a v i o s e regressar
quanto antes. So os j e s u i t a s , q u e d e c o r a g à o se dedicam ao incre-
mento da cristandade e b e m das a l m a s , é q u e se s u j e i t a r a m a v i v e r
a t é estes t e m p o s e m c l i m a s t à o i n c l e m e n t e s ; e c o m tanta ruina para
suas v i d a s que n à o sem fundamento se costumam chamar os R i o s
de Sena o sepulcro dos jesuitas. Praza a Deus que nào faltem
x
( ) A p r o p o s i t o d o Ultimatum i n g l è s , escreveu a Revista Missions Catholiques
u m a r t i g o interessante, que dizia entre outras coisas; " P o r t u g a l e x p i o u bem
cruelmente nesta o c a s i à o ( d o ultimatum) a enorme falta cometida n o S é c u l o
passado a d e s t r u i g à o das m i s s ò e s e a e x p u l s à o v i o l e n t a dos religiosos, que
delas estavam i n c u m b i d o s .
Se os jesuitas tivessem f i c a d o , c o n t i n u a n d o l i v r e m e n t e a sua o b r a de apos*
t o l a d o , n à o ha d u v i d a que h o j e as m i s s ò e s da costa o r i e n t a i e da ocidenta!
estariam ligadas p o r urna serie i n i n t e r r u p t a de postos c a t ó l i c o s , naturalmente
sujeitos a Sua Magestade F i d e l i s s i m a " .
O c o n s u l i n g l è s J o n h s t o n f o i o que mais concorreu para o ultimatum de
1890. D e p o i s de se r e f e r i r aos dois t r à f i c o s d o o i r o e dos escravos, mais rendo*
sos em M o g a m b i q u e , acrescenta è i e : " I n t e i r a m e n t e estranha a èles, s ó h a v i a
a a d m i r a v e l o b r a das m i s s ò e s dos jesuitas na Zambezia, a que p ó s termo o
e d i t o d o m a r q u è s de P o m b a l , que os e x p u l s o u d o t e r r i t ò r i o p o r t u g u è s " .
"Se là tivessem f i c a d o , comenta a Gazeta de Portugal, o r g à o d o g o v è r n o
P o r t u g u è s de e n t à o , ainda là e s t à v a m o s , apesar de M r . J o n h s t o n e l o r d Sa*
l i s b u r y . H u r r a h pelo grande m a r q u è s ! N à o se esquecam os africanistas". Por-
tugueses de l h e h o n r a r a m e m o r i a na p r i m e i r a o p o i t u n i d a d e p a t r i ó t i c a " .
N i n g u e m p o r é m , v i u n e m expressou m e l h o r os nefastos efeitos da e x p u U
s à o dos jesuitas de P o r t u g a l corno o insigne escritor brasileiro D r . Eduar*
d o Prado.
Depois de se r e f e r i r aos l i v r o s e f o l h è t o s , que em t ó d a s as linguas P o m -
bal espalhara na E u r o p a contra a C o m p a n h i a , escreveu èie: "Preparara assim
P o m b a l o golpe insensato da e x p u l s à o dos jesuitas dos d o m i n i o s portugueses
acto que f o i para o i m p è r i o u l t r a m a r i n o p o r t u g u è s , o u t r o A l c a c e r « K i b i r , co-
m ò o do século X V I . . .
" E m nossos dias as bandeiras d'Inglaterra, da Bèlgica e da Franga t r e m u l a m
em A f r i c a s ó b r e as ruinas de e d i f i c a g ò e s religiosas, n u m solo, que seria Portu*
gues, se n à o tivessem sido largadas ao a b o n d o n o e votadas ao esquecimento
aquelas terras, o n d e pelos m i s s i o n à r i o s d o m i n a v a P o r t u g a l " .
(Nota do tradutor).
700 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
s u a c a s a l h e e n t r e g o u as c a r t a s d e S a l d a n h a ; e, l i d a s e l a s , d e u o r d e m
aos guardas que a ninguem deixassem sahir da fortaleza; e depois
encarregou o capitào-mòr da guarnicào, Clemente Ferreira da Silva,
q u e fosse por cerco ao colégio.
Fez-se isso s e m d e m o r a . Achava-se entretanto ausente o Pro-
curador, M a n u e l M a c h a d o , que f ò r a a u m doente jà p r o x i m o à morte
a dar-lhe os c o n s e l h o s p r o p r i o s p e r a a q u e l e t r a n s e . A i n d a os n à o t i -
nha acabado, quando sobreveio o capitào Antonio Rodrigues, que
à f o r g a t i r o u d e l à a M a c h a d o e, e s c o l t a d o de tropa, c o m vergonha
n à o m e n o r p a r a eie q u e i n d i g n a c à o p a r a t o d a a gente, o l e v o u p a r a o
colégio, o que levou muito a mal Ferreira d a Silva, a p o n t o de o re-
preender asperamente.
R e a l m e n t e , se exceptuarmos o ter encerrado n u m so quarto a
Machado e ao R e i t o r J o s é Lemos, pondo-lhes guardas à porta, c o m
ordem de os n à o d e i x a r s a i r n e m p e r m i t i r d i z e r m i s s a , S i l v a nas d e -
mais coisas houve-se c o m m u i t a cortesia e g e n e r o s i d a d e , confessando
abertamente que aquelas coisas e r a m m o l e s t i s s i m a s aos j e s u i t a s e q u e
as p r a t i c a v a so p o r lhe serem m a n d a d a s e m u i t o contrafeito. Depois
foi M a x u à substituido por Francisco Paterno, que fez reverter para
o fisco todos os bens do colégio e que, afora o fato, pouco mais
deixou q u e levassem os dois jesuitas, a que acima nos r e f e r i m o s ,
quando os mandou embarcar para Gòa.
9. — A outra n à u , mandada por Saldanha a D i u , foi assal-
tada p o r tamanha tormenta, que quasi sossobrou; pelo que desmante-
lada teve de arribar a Bombaim, colonia ingleza. A q u i pediu o
capitào, em nome do rei de P o r t u g a l , ao governador que quanto
a n t e s m a n d a s s e a D i u as c a r t a s d e Saldanha, e eie e n v i o u u m n a v i o
que a toda a pressa se d i r i g i u para là.
Governava a Praga Francisco Luis Rocha, que, l i d a s as car-
tas, encarregou o capitào José Brandào de por cérco ao colégio.
Executou-se isso c o m summa crueldade; a fome principalmente foi
grande p o r t e r e m r o u b a d o os mantimentos.
Rodrigo de Basto, que pouco depois substituiu Rocha, em
nada aliviou t à o acerbos males. A o Reitor José Joaquim e a M a r -
celino Salema, quando os mandou embarcar, afora algumas roupas
brancas, bem poucas, nada lhes permitiu levassem comsigo. Pe-
diu-lhe o Reitor que o autorisasse a levar comsigo urna cestinha
de vime para guardar a roupa; a t é isto l h o recusou, dando por
motivo q u e j à estava a r r o l a d o t u d o . A o irem para o embarque fo-
704 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
45
C A P V T V .
C A P I T U L O Q U I N T O .
i
708 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
46
722 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
pouco contentes com o fruto das suas atengòes para com eie.
Resolveram em vista disto dar mais calor à obra; pois nào
duvidavam que o vice-rei viria a mudar de parecer, nào tanto
em respeito à autoridade do Prelado de G ó a , quanto levado pe-
lo medo. Muito ajudaram nesta empresa os barbaros, a quem
estavam arrendadas as fazendas da Provincia. Indo eles t e r com
os jesuitas, mostraram-se muito compassivos para c o m eles; e nào
só os alimentaram em suas casas durante quasi u m mes, mas t a m -
bém muitas coisas que os portugueses amigos nào podiam fazer
com seguranga, eles com m u i t a alegria e fidelidade as puderam
levar a cabo.
Pedro Bonixo, oriundo de urna nobre familia portuguésa e,
por suas riquezas e autoridade, por nenhum outro naquelas re-
giòes avantajado, de tal modo se houve c o m os j e s u i t a s que nào
só superou o poder, mas até a esperanga de eles l h e s c o r r e s p o n -
deram e renderem as gragas a o seu m è r i t o c o m d i g n o s . O m i t o ou-
tros actos d e d e d i c a g à o p a r a c o m os j e s u i t a s ; e s ó d i g o q u e , queren-
do eles q u e com muito segredo se transportasse um objeto de
muito peso, n à o se envergonhou Bonixo de mudar o traje, simu-
lar de marinheiro, e tomando-o às costas o transportar para a
nàu.
3. — De tal modo, entretanto, o Prelado goano esperava
com os terrores de Carvalho mover o vice-rei, que este nada
tanto desejava corno que se acabasse a t é a lembranga d a licenga,
que tinha dado aos jesuitas. Enviou pois, o desembargador o seu
secretàrio a pedir-lhes com todas as véras que quisessem voltar
quanto antes aos seus; para com isto n à o serem o b j e c t o das iras
de Carvalho e causa da sua desgraga.
Os jesuitas, tergiversando quanto tempo era preciso para le-
varem adiante os seus p r o p ó s i t o s , deram emfim aviso ao vice-rei
que num certo dia, por eles a p r a z a d o , estavam prontos para sa-
tisfazerem os seus d e s e j o s ; mas que tivesse presente q u e as coisas
de que eie os encarregara ficaram por fazer.
O vice-rei cuja cubiga o terror de Carvalho havia totalmen-
te extinguido, houve por menos mal a r u i n a dos seus interesses;
deu as gragas aos jesuitas, e procurou que depóstos os fingimen-
tos, voltassem a ser recolhidos entre os seus. P e l o que concluidos
felizmente os negocios relativos às respectivas Provincias, e aos
seus i r m à o s , que viviam entre os pagàos, no que gastaram o es-
i
E s c r e v e r a m d e p o i s c a r t a s aos S u p e r i o r e s r e l i g i o s o s p a r a se i n f o r m a r e m
sobre quantos jesuitas p o d i a m receber em suas casas p a r a nelas
ficarem guardados.
47
738 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
q u e se c o n s e r v a s s e a r e l i g i à o e n t r e os g e n t i o s , enviasse p a r a aquelas
terras religiosos de outras Ordens, e que os costumes introduzidos
pelos d a Companhia em n a d a se d e v i a m m u d a r .
Joào de Melo, encarregado do erario pùblico, também entào
n a d a disse sobre o ponto principal, que se tinha em vista; com-
tudo n à o teve p a r e c e r d e t o d o desassisado e i n c o n s i d e r a d o ; confes-
sou que quanto a urna questào t à o intrincada nada por entào se
podia resolver; e q u e m e l h o r seria se e n v i a s s e m a q u e l a s terras dois
p a d r e s e s p e r t o s e s a b i o s , q u e d i l i g e n t e m e n t e se i n f o r m a s s e m d o m o d o
corno os jesuitas se h a v i a m , p a r a , s e g u n d o as normas seguidas por
e l e s , se i n s t r u i r e m os q u e d e p o i s p a r a l à f o s s e m , e j u n t a m e n t e e s t u d a s -
sem u m meio d e os j e s u i t a s d e l à s e r e m t i r a d o s , e q u e e n t r e t a n t o os
que h a v i a m de ir subistitui-los, d e v i a m dar-se a aprender a lingua
dos gentios.
O desembargador M a r c i a i J. Machado, posto que nesta parte
concordasse com o pensar de M e l o , e muito sobre este p o n t o t i -
vesse discorrido, c o n t u d o confessou que se os jesuitas, i n f o r m a d o s
da vontade do r e i , se n à o resolvessem a deixar livremente aquelas
t e r r a s , n a d a se podia fazer; porque para os obrigar pela forga a
d e i x a r e m aquelas terras n à o havia industria ou meio algum efìcaz.
O vice-rei, a q u e m qualquer demora em negocio t à o grato o
Carvalho deixava enojado, vendo que qualquer diligencia, que se
omitisse em p r o m o v e r e s t à e m p r e s a , se v i r i a a a t r i b u i r à sua culpa,
abragou o parecer do desembargador Vaz de Carvalho, a quem
corno a parcial de C a r v a l h o n à o menos acatava q u e t e m i a ; a assim
ordenou ao Provincial Lopes que por cartas severas q u a n t o fosse
p o s s i v e l , m a n d a s s e aos seus s ù b d i t o s que, recebidas elas, t o d o s sem
excepcào se p a r t i s s e m p a r a G ó a .
Obedeceu Lopes, e e n v i o u essas c a r t a s a o v i c e - r e i , a n t e s d e se
despacharem, segundo se lhes mandàra; as quais eie muito bem
leu, aprovou e as c a r i m b o u e selou. Ninguem pode deixar de pas-
mar da imprevidencia e pouco tino do vice-rei, em nào antever
que os jesuitas logo p e l o selo viriam a d e s c o b r i r q u e as o r d e n s d o s
Superiores eram impostas pela forga e nào provinham de um
mandado l i v r e e m d a r suas o r d e n s . E , ainda que tudo tivesse sido
cautamente disposto pelo v i c e - r e i , c o m t u d o j à antes L o p e s p r o v i d e n -
ciara para que n e n h u m d a n o viessem a s o f r e r as c h r i s t a n d a d e s com
as suas cartas, mesmo no caso de elas serem abonadas com o
selo da Companhia. Porque, temendo se desse o que r e a l m e n t e se
752 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
48
754 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
(a) M a c h i m
PERSEGU1CÀO AOS JESUITAS D A P R O V I N C I A DE G O A 763
assim que facilmente podia ver serem elas falsas pelo plano a que
elas se referiam, evidentemente estulto, da entrega da fortaleza e
da cidade aos franceses. Em egual imprudencia caiu o governa-
dor de Bombain, porque a este lhe mandou o de Talixerim as
cartas, que houvera a mào.
3» — E, corno se se tratasse, nào de urna coisa fingida,
mas de um facto certo, mandou na primeira nau, que levantou
ferro para a I n g l a t e r r a as cartas autografas ao rei, a quem iam
ser objecto de riso, e ao vice-rei em G ò a e n v i o u urna c o p i a delas
e mais queixas sentidas, pelo seu procedimento desleal.
Muito naturai era que o vice-rei, ao ter noticia de t à o feno-
menal mentirà, visse logo estarem inocentes das tais cartas todos
os supostos autores, i n c l u i n d o - s e assim a si m e s m o , e é claro que
por causa delas n à o ia a dar castigo a ninguem, nem realmente
a nenhum dos outros ousou inculpar corno autores delas. Mas em
nada serviu aos jesuitas de d e f e s a a sua i n o c e n c i a , q u e e r a c o m u m
t a m b é m ao vice-rei, ao Antistite goano e aos demais. U r n a coisa
verdadeiramente admiravel conseguiram tanto a perversidade comò
a crueldade do vice-rei e do desembargador Vaz, que f o i envol-
ver na mesma culpa n à o s ó os tres cujas assinaturas falsas figu-
ravam nas cartas de V e l o s o , mas também mais cincoenta e sete,
isto é , t o d o s os que tinham f e i t o v o t o s solenes ou haviam exercido
ministérios publicos, e s e r e m c r u e l m e n t e c o n d e n a d o s , s e m se proce-
der a g e n e r o a l g u m d e processos c o n t r a eles. N i s t o i m i t a r a m quanto
puderam a j Ustica usada por Carvalho; pois que também este
pelo mesmo decreto, que condenava a morte o duque de Aveiro
e os Tavoras, divulgou t a m b é m as culpas f i n g i d a s d e tres jesuitas,
só tres, e as tomou depois extensivas a todos os mais, calcando
assim aos p é s t o d o s os d i r e i t o s d a j u s t i c a e as l e i s p a r a os homens
mais sagradas.
Nada julgava aquele d u u m v i r a t o mais aptos para os seus i n -
tentos que perseguir o mais que p u d e s s e m aos j e s u i t a s , p o r q u e bem
viam que c o m isto p r a t i c a v a m urna coisa gratissima a C a r v a l h o e
que lhe compensaria a dor, que eie sem d u v i d a sentina com a in-
columidade dos que ficavam em terras d e infieis.
4. — Como, pois, aprazassem o dia 5 de janeiro para le-
varem a cabo a sua empresa, designaram os desembargadores,
que em cada um dos colégios executassem as suas ordens, e à
boca da noite troou do muro da fortalesa o canhào que dava o
766 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
49
770 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
cujo corpo anciào nào eram as forcas que faltavam; pois que tinha
ainda o u s o p e r f e i t o d o s seus s e n t i d o s ; e s e m d u v i d a se p r o l o n g a -
riam o s seus dias, se tào atrozes sofrimentos lhe nào viessem
cortar o fio da vida.
Pertencia a provincia de Malabar, e tinha suportado diutur-
nos e grandes trabalhos entre os gentios, sempre preparado para
dar a sua v i d a pela gloria de Deus; fòra enviado corno procu-
rador a R o m a e, ao voltar de l à , p e r c o r r e u os p r i n c i p a e s colégios
da P r o v i n c i a lusitana para alistar companheiros, que o quizessem
seguir para a Asia. Conheci-o eu, quando ainda era m u i t o moco,
em Evora, o n d e o o u v i d i s c o r r e r s o b r e as c o i s a s d o m a l a b a r . Tinha
urna suavidade admiravel no falar e tanta forga e eficàcia em
c o n v e n c e r q u e posso assegurar nunca ter o u v i d o quem semelhante
entusiasmo infundisse nos à n i m o s dos ouvintes. E, se os Supe-
riores n à o fossem à m à o à q u e l a m o c i d a d e admiravelmente animada
a sofrer trabalhos pela f é , eie a teria levado quasi toda comsigo.
Para là voltou, acompanhado de urna escolhida leva d e jovens;
e là exerceu o cargo de Provincial com singular aplauso dos
seus sùbditos e n à o menos proveito para a christandade cujos
progressos muito promoveu tanto por seu meio corno pelo dos
seus irmàos em religiào.
Chamado para G ó a , là f o i exemplar de tódas as virtudes,
observador exactissimo das regras, parco nas p a l a v r a s , sòbrio no
alimento e na bebida, segundo os habitos de vida, que obser-
vara durante os m u i t o s anos q u e v i v e u entre os p a g à o s , o qual
teor de v i d a conservou entre as d e l i c i a s de G ó a . Para c o m Deus
e os Santos f o i muito devoto e para c o m os seus S u p e r i o r e s o b e -
dientissimo; p a r a c o m os seus i r m à o s sumamente humano; e para
consigo durissimo, pois, alem de todos os d i a s se d i s c i p l i n a r , t r o u x e
até à morte urna especie d e camisa munida de u m triplice cilicio.
Este vestido, tirado depois da morte ao corpo, viu-se ser real-
mente t à o aspero ao tacto quanto horroroso à vista.
Admiravel foi em tudo isto, mas para m i m , mais para admi-
rar m e pareceu q u e refreasse a i m p a c i è n c i a sempre de modo que
nenhuma palavra; nenhuma queixa se l h e o u v i u jamais nem contra
Carvalho nem contra os a g o s t i n i a n o s , a cujas crueldades se deve
sem duvida atribuir a sua morte.
3. — Teotonio José, varào de assignalada santidade, exalou
também poucos dias depois o u l t i m o suspiro. Regara c o m os seus
784 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
50
786 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
v a m e n t r e os a m i g o s as m a i s a c r e s c e n s u r a s . P e l o q u e n à o e r a m a i o r a
sua comiseracào para os d a C o m p a n h i a do que a desidifìcacào que
t i n h a m d a d o seu Superior e os p a r c i a i s d e l e . E r a m , p o i s , esses lace-
rados nas conversas do vulgo, e nào faltaram pessòas principais,
que ao Superior exprobraram t à o dehumana e barbara crueldade.
Nenhum proveito, porem, com isto t i r a r a m ; porque o Superior,
ao ver lavrar a sua infamia, procurou desvià-la de si, para a
fazer c a i r s o b r e os jesuitas, j u l g a n d o que a unica maneira de obstar
a tal r e p u t a c à o seria desfazer todo o bom nome da Companhia,
dando-os corno indignos de compaixào e somente dignos de odio.
E em alcanear este seu i n t e n t o se i m p e n h o u c o m todas as veras.
"Intoleravel, d i z i a eie, se estava jà tornando para eie e para
os seus a c o n v i v e n c i a c o m os j e s u i t a s , h o m e n s que se julgavam nas-
cidos para mandar, e que estavam jà com o muito tempo t à o ha-
bituados ao m a n d o que, ao v e r e m agora que desandava a roda da
sua fortuna, reconhecendo-se desgracados e perdidos, se haviam
tornado dementados. Nada eie omitira que lhes podesse ser de
conforto; cedera-lhes a parte mais a m p i a d o seu convento, e mais
salubre, c o m g r a n d e i n c o m m o d o p a r a os seus; e desde o comecp
lhes fornecia n à o só grande abundancia de alimentos, mas muito
bem preparados. Urna só coisa lhes faltava, a liberdade; desta,
porem, nào era eie que os p r i v a r a , mas as ordens do vice-rei;
e por e s t à causa é que de c o n t i n u o c o n t r a eie e contra o encar-
regado da sua custodia se enfureciam, devendo ter presente que
eie, menosprezando as o r d e n s d o vice-rei, por ser bom para com
os jesuitas, atrairia grandes males sobre si e s o b r e a sua Ordem.
Por isso, acrescentava, se i n s u r g i a m os da Companhia contra
a sua constancia, de que por meio algum o demoveriam; por isso
empregavam todos os meios para a si e aos seus os tornarem
infames. Tinham sobretudo peitado os cafres e os t i n h a m m o v i d o
com premios a d i v u l g a r as i n f a m i a s t à o falsas corno asquerosas; e
por cartas ao vice-rei repetiam as mesmas falsidades. Nenhum
t e r m o p u n h a m à s suas q u e i x a s ; quasi a todas as horas procuravano
alvorotos; contra eles t u d o e r a m gritarias, desprezos, infamias, m a -
ledicencias e t u d o isto eie t r a g a v a t à o p a c i e n t e m e n t e q u e , se a g e n t e
isto visse, olharia corno milagre tanto comedimento do seu animo,
com a impudencia e soberba dos jesuitas. Finalmente, concima,
p o d i a m todos ficar certos serem verdadeiros os e s p a n t o s o s crimes,
que de Portugal, n à o s ó p o r cartas particulares se sabiam, mas
794 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
poucos dos que estào em vosso convento, estiveram dois meses antes
no meu; e comò, tanto eu comò os m e u s , c o m c u r i o s i d a d e obser-
v a m o s os seus c o s t u m e s , q u e r nos veteranos quer nos jovens, posso
atestar que nunca v i m o s gente mais modesta, mais paciente e mais
piedosa. E prouvera a Deus que eu aos meus desse tào preclaros
exemplos de todas as virtudes, q u a i s esses m e s m o s jovens com
a d m i r a c à o nossa deram e ainda estào d a n d o . Q u e os l e v a d o s para
o vosso c o n v e n t o se tornassem de subito t à o celerados, nem que
c o m j u r a m e n t o m ' o afirmasseis eu ousaria crè-lo, assim corno nem
todas aquelas coisas, que de Portugal se contam (deles). Mas
isto s à o assuntos muito melindrosos; o que se deve crer o dirà
o futuro.
Com està fala rebateu Pilario a audacia do Superior dos
Agostinhos; mas em nada o corrigiu nem tomou seu a n i m o mais
piedoso e humano com os jesuitas.
C A P V T X .
dia e noite por estes temores que nem alimento nem sono podia
tornar com sossègo e nem sequer respirar facilmente podia.
2. — Muito a p r o p o s i t o f o i p o r esse m e s m o tempo a volta
para Calicute do capuchinho Manoel de S. Joào Evangelista, a
quem o vice-rei escolhera, corno dissemos, para Superior dos re-
ligiosos, que t i n h a m i d o tornar c o n t a das aldeias dos jesuitas. Foi
Veloso ter com eie para lhe pedir conselho e lhe declarou que
e s t a v a , se eie o aprovasse, p a r a se a p r e s e n t a r a o s i n g l é s e s e a o v i c e -
rei e oferecer a sua vida corno expiacào à justa vindicta deles.
P o r meios m a i s suaves o p t o u o c a p u c h i n h o . Mandou a Veloso
que lhe escrevesse e m dois exemplares tóda a trama que urdira;
e embarcou dali para Talixeiri, onde apresentou os documentos
autenticos, que levara ao governador inglès. Duvidou este se o
capuchinho n à o seria a l g u m jesuita disfarcado. Para certificar-se
d a sua indentidade, quis o governador de C a l i c u t e mandasse vir o
o seu companheiro e lho apresentasse. E, dando entào fé às
cartas, nào duvidou o i n g l è s escrever ao vice-rei para lhe confessar
que as suspeitas, que contra os portugueses concebèra as tinha
por completamente infundadas.
Depois de tudo incluir segundo os seus desejos, voltou o
capuchinho para Góa, e dirigiu-se ao vice-rei; e facil lhe f o i de-
monstrar a inocencia dos jesuitas, que eie p r o p r i o b e m sabia se-
rem completamente estranhos às intrìgas de Veloso. Mas,
para melhor se desvanecerem aqueles enredos, pareceu bem ao
vice-rei que fosse o capuchinho comunicar tudo ao governador de
Bombaim. E dali, concluidas as coisas felizmente, tomou para
Góa com cartas cheias de atencòes, quasi ao mesmo tempo que
o vice-rei recebeu de Lopes a carta de que falei.
Tudo isso contou d e p o i s o c a p u c h i n h o aos j e s u i t a s , que fica-
ram espantados com a novidade d o caso, pois a t é ali nem suspei-
tas dele tinham tido. E, pedindo-lhe eles q u e lhes arranjasse os
documentos autènticos de tudo, eie de bom grado lhos a r r a n j o u
e lhe entregou todos os instrumentos escritos por seu punho e
fìrmados com juramento.
3. — Jà pelo pùblico se divulgàra tudo quanto Veloso es-
crevera e quanto o capuchinho fizera; c o m que o vice-rei ficou
tendo vergonha de por mais tempo adiar o remedio às queixas
dos jesuitas; e assim d e p u t o u o i n q u i s i d o r daquelas partes, Manoel
Marques de Azevedo; que com a mudanca de f o r t u n a dos jesui-
51
802 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
lacrymis, non gemitu, non caeteris, quae dolor, ubi modum su-
pergreditur, etiam a fortissimo quoque extorquet, temperasse.
Moderator Provinciae, Lopius, prae caeteris territus, cum ex
actis p r i o r e nocte, q u a e insequenti agenda forent, d a r e prospiceret,
ne iis, q u a parte posset, i r e o b v i a m omisisse videretur, litteras ad
Proregem dedit; quarum initio, quae Reges antiqui, quae Jose-
p b u s ipse Rex de non aperiendo X a veri ano sepulcbro decrevissent,
memorabat. Quod si, ut a p e r i r i deberet, causa justa intercessisset,
o p u s v i n o n esse; c l a v e m t e r t i a m a b R e c t o r e R a x o l e n s i , A u g u s t i n i a n o
in carcere pariter d e t e n t o , exigeret; d e i n socios b i n o s , E m m a n u e l e m
Guevaram et Antonium Bastium, qui obices occultos moliri soli
scirent, si a d i d operis e x e q u e n d u m admisisset, transigi r e m sine v i
aut sepulcbri, q u o d a p u d omnes etiam barbaros tanto in honore erat,
violatione posse. Postrema l i t e r a r u m pars deprecatio erat, ne Xa-
verii corpus, q u o d duobus amplius saeculis Goanae urbis quoddam
quasi Palladium fuisset, q u o d eam saepius obisidione liberasset,
quod ab imperio Lusitano praesens exitium non semel avertisset,
v i o l a r i sineret. L i t t e r a e b u j u s m o d i n o n m o d o contemptae, sed magno
etiam cum risu exceptae; quasi Jesuitae, religione o b j e c t a , pecuniis
suis s u b v e n t u m venissent; cum tamen ipsi, qua res agi sine scelere
posset, rationem docerent.
52
•
818 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
C A P V T X I I .
53
834 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
/
C A P I T U L O D E C I M O T E R C E I R O .
si
850 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
55
C A P V T X I V .
1. — De c o m m e a t u q u o q u e , altera scilicet m o r b o r u m ac f u n e -
rum causa, hoc loco discendum. Amici Jesuitarum, atque in his
Tanadurus, veriti, quod a c c i d i t , ne commeatus parandi cura homini
non satis fido committeretur, Proregem Saedaniam precati fuerant,
ut eam sibi provinciam mandaret, minori se, quam quivis alius,
s u m p t u c o m m e a t u m p a r a t u r o s . E t sane d e c r e v e r a n t , si r e p r a e s e n t a n d a e
pecuniae satis non f o r e n t , suis non parcere, amicisque abeuntibus,
quae necessaria viderentur subministrare.
Saldania honestissimorum, ut sane e r a n t , c i v i u m preces repudi-
avi, Franciscanoque (1), familiari suo, id postulanti, commeatus
parandi curam permisit, quamvis probe hominis fidem agnosceret,
sciretque, n o n c a n t a t e Jesuitarum ulla, sed avertendae pecuniae cu-
piditate ad illud muneiis optandum e u m m o v e r i . Itaque ex p u b l i c a t a
Jesuitarum pecunia traditi F r a n c i s c a n o sunt X e r a p h i n i I X , M . D C .
L X X V ; c u j u s s u m m a e d i m i d i u m , si G o a e c u m fide atque industria
administrari contigisset, ut ibi omnia vilissimo Constant, ampio co-
piosoque commeatui satis esset; v e r u m , p e r p e c t i s rerum t a b u l i s , ea-
rumque numero ac vilitate prudenter aestimatis, v i x t e r t i a m pecuniae
partem F r a n c i s c a n u m expendisse reperiebatur; quamquam multa in
tabulas relata, quae in navem convecta n o n fuisse constat.
Jamvero, commeatum summa haec erat: gallinae D., earum
pulii CC., hordeaceae farinae dolium, triti'tiae doliolum; haec ae-
grotantibus, quorum ingens numerus navem conscenderat, aegrata-
turisque tot mensium itinere Franciscanus paraverat. Valentibus
ainda Alcagova os foi afligir com outros novos; se bem que eie
procurou desviar de si a crueldade e odiosidade deles, atirando
toda a culpa sobre Carvalho. Depois veremos, porem, algo que
muito rebaixava os creditos quanto a sinceridade deste homem.
A c i m a dissemos c o m q u a n t a d i l i g e n c i a eie e x a m i n a v a os objetos
dos jesuitas, por lhe serem de embarago, julgou se d e v i a m atirar
para o porào d a n à u ; mas calamos que dali tornava muitas coisas
e m presenga dos jesuitas o capitào Teotonio CoIago, amigo intimo
de Alcagova, sem d u v i d a de conivència com este. Roubaram-lhes
sobretudo dóces e pàesinhos de chocolate; bem que muito lhes
devem agradecer os jesuitas porque só parte e nào todos lhes
foram subtrai dos.
Tiraram, pois, do càrcere os baùs e outras bagagens; mas
deixaram os jesuitas algumas coisas de menos vulto, as quais fa-
cilmente podiam guardar nos proprios leitos; de t u d o isto foi in-
formado o comandante. Volvidos, porém, alguns dias de viagem
nào muitos, determinou este que todos estes objetos fossem exa-
minados, imaginando de certo que e n t r e eles e n c o n t r a r i a coisas de
muito valor e b o a preza para a sua c o b i g a . E assim p o n d o guar-
das em ambos os c a r c e r e s , c o m o f i c i a i s p a r a q u e os v i g i a s s e m , en-
carregou a Figueiròa, de quem acima falamos, a execugào desta
diligencia.
Entrou Figueiròa de sùbito no carcere, acompanhado de um
escrivào; e primeiro impós s i l e n c i o aos jesuitas, que de nenhum
modo suspeitavam de que coisa se tratasse; e logo deu cuidado-
samente comego à sua incumbencia. Nada encontrou, porém, a n à o
ser os b a s t ò e s , que a p o n t o u nas listas, que levava; tomou também
alguns s e r m ò e s de assuntos piedosos e alguma reliquia dos santos,
que levou consigo; mas tudo depois por o r d e m de Alcagova lhes
foi restituido.
6. Explorados jà por t a n t a s v e z e s os o b j e t o s d o s jesuitas, res-
tavam ainda intatos até esse t e m p o os corpos deles, se exceptu-
armos a repugnante pesquisa que f o r a feita na casa d a China.
Realmente o vice-rei, posto que nas ordens, que de Carvalho
recebera, m u i t o se lhe recomendàra que tratasse os jesuitas sem
clemència nem humanidade alguma, e corno a inimigos do reino,
do rei e corno a traidores, contudo nunca a tanto se atrevera
que chegasse a levar a investigagào atè pesquisa direta dos cor-
pos. Pelo que, ainda que em t u d o o mais se m o s t r a s s e c r u e l e sem
878 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
56
882 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
Era èste nào menos indiscreto que Alvares, pelo que em breve
o segredo tinha chegado ao conhecimento de t o d o s os passageiros,
que ficaram indignados de que tal cousa ousasse fazer um homem
que n à o s ó dos fatos, mas dos gestos dos outros e a t é dos pen-
samentos intimos dèles se a p r o v e i t a v a para os aci'sar. C o m o , c o n -
tudo, eie era tào caro a Alcagova, ninguem se atreveu a de-
nuncià-lo.
57
898 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
para aquele transe final, que, desprezado, pode ser causa de dor
sempiterna e, bem preparado, é causa de imensa alegria aos que
p o r eie passaram.
6. — Como nào poucos jesuitas fossem atacados de doen-
gas, foi-lhes mandado sair da cama e subirem ao convés da n à u ;
u m deles, A l e x a n d r e Pereira, c o a d j u t o r , pouco depois de comecada
a navegacào, veio a falecer vitimado, n à o tanto pela doenga,
quanto pela fome, sede e maus tratos de que falamos.
Seguindo, jà com u m m è s de viagem, deante de Mogambique,
nào sabendo bem o piloto em que rumo estivessem, teve-se por
g r a n d e m i l a g r e n à o se v e r e m destrogados nos b a i x i o s a l i escondidos,
celebres pelos n a u f r a g i o s p o r eles ocasionados. O mesmo perigo cor-
reram, quando demandavam as c o s t a s d e Madagascar, por supòrem
estar ainda longe delas trezentas milhas, navegando-se de noite a
todo o pano e vento em popa; e só ao raiar da aurora do d i a se-
guinte é q u e e m firn v i r a m e s t a r p r o x i m a a ilha e reconheceram n à o
sem temor que certamente teriam naufragado, se a luz demorasse
um pouco mais e m mostrar-lbes o inesperado perigo em q u e se i a m
meter.
Daqui a t é ao Cabo da Boa Esperanga tiveram ventos d e ser-
vir, ainda que u m pouco mais brandos d o que desejariam.
Durante èste tempo vieram a falecer dois padres; José de
Mendonga morto à fome, segundo eie confessava, e José de A n -
chieta, que de noite caiu do alto do primeiro andar da n à u para o
f u n d o dela. Por junto do portalo, que dava passàgem para baixo
aos s o l d a d o s e marinheiros haviam os jesuitas d e passar se a isto
os o b r i g a s s e m as precisòes naturais. S ó b r e v i n d o as t r é v a s , costuma-
vate fechar està p a s s à g e m c o m urna t a m p a para que os transeuntes
n à o viessem a cair por eia. N à o raro p o r é m , acontecia que o encar-
regado de a t a p a r se e s q u e c i a . Pelo que corno os j e s u i t a s de noite
por ai tinham de passar, jà mais de trinta de là tinham cahido,
ainda que por m e r c è de Deus tinham escapado com vida, excepto
Anchieta, apesar de escalavrados e a t é c o m os membros partidos.
C A P V T X V I .
solis aestu non modo comeatus, sed sanguis quoque crassior, quam
oportet, intra venas factus, corrumpitur.
58
914 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
3 . — X I H K a l e n d a s J u n i i , c u m menses integros q u i n q u e n a v i g a n -
d o insumpsissent, Ulyssiponem pervenere quatuor supra centum, quo-
rum unus paulo post expiravit, c u m centum viginti septem in na-
vem impositi Goae fuissent. Tres, q u i ante circumvectum Bonae
Spei p r o m o n t o r i u m decessere, suo l o c o nominavimus; modo caeteri
nominandi sunt: Erant itaque sacerdotes tredecim: Antonius Edu-
ardus, Matheus Mendius, Salvator Diasius, Gondisalvus Pintus,
Joannes Castrius, A l o y s i u s Pegadus, Philippus Macedius, Alexan-
der Lopius, Gregorius Costa, A n t o n i u s Pereira, Vicentius X a v e r i u s
Caturrus, Simon Gumbus, Josephus Mauthner, uterque Germanus;
caeteri omnes Lusitani. Juvenes, qui theologiae operam dabant,
bini: Dominicus Burronius, Raymundus V a n e l l i u s , gente Itali. Adju-
tores socii quini: Josephus A l o y s i u s , Franciscus Meideirius, Ale-
xander Ferreira, Antonius T e i x e i r a , Joannes Paulus Kellius, hic
G e r m a n u s , alii L u s i t a n i , quibus superaddendus: E m m a n u e l R o d r i g u i u s
et ipse adjutor Lusitanus, q u e m supra diximus i n conspectu urbis
expirasse. Itaque Jesuitae X X I V inter navigandum desiderati. Jam-
vero, tantae stragis causa et a u c t o r praecipimus haud dubie cen-
sendus ille ac praeceps L u s i t a n i a e t u r b o , C a r v a l i u s ; n a m , c u m sciret,
quam essent p e r se i n t o l e i a n d a e corporibus tam diuturnae naviga-
tionis aerumnae, eas de industria intolerabiliores effecit; tot Je-
suitis non modo unam in navem, sed i n u n u m ejus a n g u l u m c o n -
trusis, atque i b i p e r p e t u o clausis, v e t i t o i n s u p e r a d B r a s i l i a m accessi]
quod Goa in Lusitaniam navigantibus unicum esse adversus L o -
andicam pestem praesidium multorum annorum experientia docuit.
Itaque, q u i iter eo pacto fieri jussit, Jesuitas a d unum omnes ne-
catos haud dubie voluit, fieretque ejus desiderio crudelissimo satis,
si navigatio non muitos admodum praeterea dies tenuisset.
Post C a r v a l i u m Proregi Saldaniae ea quoque clades magna ex
parte tribuenda, q u i parandi commeatus curam, honestis viris eam
poscentibus denegatam, homini, quem improbum esse sciret, nec
aliud quam furta ex aliena calamitate meditari, commisit; q u i Je-
suitas deportari ad navem jussit, quin prius locus viris religiosa,
quosque ipse innocentes sciret, si m i n u s p r ò numero commodum,
saltem non ita indignum, quique vel brutis animantibus intolerabilis
fuisset, curaret. D e n i q u e , ut F r a n c i s c a n u m , haud dubium Jesuitarum
carnificem, omittam, Praefectus Alcassova i t a se i n J e s u i t a s crude-
PERSEGUICÀO AOS JESUITAS D A PROVINCIA DE GOA 917
mas uns dez dias, nenhum dos jesuitas escaparia com vida.
3. — A 20 de maio de 1761, após cinco meses comple-
tos de navegagào chegaram, dos 127 que tinham embarcado em
Góa, apenas 104 jesuitas a Lisboa, um dos quais faleceu pouco
depois. Jà falamos dos 3 que morreram antes d e d o b r a r e m o Ca-
bo da Boa Esperanca; agora demos os nomes dos outros: Foram
13 os padres: Antonio Eduardo, Mateus Mendes, Salvador Dias
Goncalo Pinto, Joào de Castro, Luiz Pegado, Filipe Macedo,
Alexandre Lopes, Gregorio Costa, A n t o n i o Pereira, Vicente X a -
vier Caturro, Simào Gumbo e José Mauthner, ambos alemàes;
os outros todos portugueses. Os escolàsticos estudantes de teologia
eram Domingos Burronio e Raymundo Vanelli, ambos italianos; e
mais cinco irmàos coadjutores, José Luis, Francisco Medeiros, Ale-
xandre Ferreira, Antonio Teixeira, portugueses, e Joào Paulo
Kellio, alemào, com mais um coadjutor portuguès, Manuel Rodri-
gues que morreu corno dissemos ao chegar a Lisboa.
F o r a m , pois, vinte e quatro os jesuitas que perderam a vida
naquela viagem. O causador ou principal autor destas mortes f o i
aquele furioso dementado, flagelo e perturbador do b e m pùblico em
Portugal, Carvalho; pois que, sabendo quanto fossem e m si into-
leràveis para os seres humanos os sofrimentos de t à o longa nave-
gacào, em logar de os a l i v i a r , os tornou de propòsito mais into-
leràveis, atirando tantos jesuitas para u r n a so n à u ; e o que é peor
arrumando-os para um canto dela, mandando-os ter là perpetua-
mente fechados e incomunicaveis, e proibindo-lhes além disso o
dirigirem-se para o Brasil, o que para os navegantes de Góa
para Portugal era, corno ditara a experiencia de muitos anos, o
ùnico defensivo contra o mal de Loanda. Pelo que, quem assim
obrigou a fazer aquela viagem, e m tais c o n d i c ò e s , sem d u v i d a quis
ver t o d o s os jesuitas sem e x c e c à o mortos; e de todo ficariam seus
crudelissimos desejos s a t i s f e i t o s se a n a v e g a c à o durasse mais alguns
dias.
Depois de Carvalho cabe ao vice-rei, Saldanha, a maior
parte da responsabilidade de tamanha mortandade, porque se re-
cusou a que se encarregassem de a r r a n j a r as provisòes, corno lho
pediram, homens honrados e de toda a confianca, e foi confiar
este cuidado a um perverso, que n à o tinha e m vista s e n à o arranjar
dinheiro à custa dos sofrimentos dos outros. E mais, m a n d o u de-
portar para a nàu varòes religiosos, que eie bem sabia estarem
918 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
dade aos votos com que a Deus se obrigaram. Naturai era, pois
que antolhassem a morte n à o sò corno o termo dos seus males,
mas a contemplassem c o m a alegria, que infunde a esperanca de
urna grande felicidade e que, nos u l t i m o s instantes d a sua vida, jà
prelibassem algo da celeste bemaventuranca, que entào sobretudo
lhes estava batendo à porta.
5. — C a l a r i a a o s v i n d o i r o s e x e m p l o s d e s i n g u l a r e s v i r t u d e s , se,
bavendo ou brevemente ou em comum l o u v a d o os f a l e c i d o s duran-
te o curso d a navegacào, n à o lembrasse de um modo especial o
p a d r e G r e g o r i o C o s t a , sem d u v i d a a l g u m a u m v a r à o de assinalada
santidade.
Passara eie a maior parte da sua v i d a , entre os g e n t i o s tanto
na A s i a corno na Africa, e, o que é proprio de varòes fortes,
praticando acòes preclaras e sofrendo durissimos trabalhos c o m os
olhos postos unicamente no aumento da cristandade e bem das
almas.
Vindo a f a l t a r e m - l h e as fòrcas, f o i chamado para G ò a ; e aqui
p r o p ó s - s e u m teor de vida realmente admiravel. N u n c a desde entào
usou de outro alimento s e n à o de u m pouco de p à o e arroz d o mais
barato, que ali c o s l u m a m dar aos j u m e n t o s ; estas c o m i d a s as torna-
va condimentadas com àgua fria. A cama que tinha, eram duras
tàbuas; e nem muito a precisava, porque d o r m i a poucas horas. Pas-
sava a maior p a r t e das noites quer orando quer m e d i t a n d o . Descia
antemanhà a o t e m p i o e a s s i s t i a d e j o e l h o s à s missas d e t o d o s os sa-
cerdotes; e j à perto d o meio dia é que dizia a sua, r e c r e a d o c o m la-
grimas e consolagòes, que a todo o custo, ainda que debalde,
procurava ocultar. As horas post meridianas passava-as a sua p i e -
dade de u m modo parecido. Muitas v e z e s se d i s c i p l i n a v a d e dia e
de noite; e usava mais, de u m aspero cilicio, munido por dentro
de uns corno acùleos, que durante muito anos nunca tirou. Afóra
um crucifixo e o breviàrio, nenhuma outra coisa possuia aos usos
quotidianos necessaria. As suas c o n v e r s a s s ó e r a m d e coisas espiri-
tuais; e fora delas mantinha-se calado. E r a de admiravel observan-
cia nas m i n i m a s regras, virtude que é a maior de todas e a todas
inclue. Assaltado da peste, nào foi tanto exemplo de paciencia
cristà, quanto milagre dela; e lentamente consumido pelo mal, veio
a rematar a sua v i d a santissima e m suavissimos c o l ó q u i o s c o m D e u s
e antegostos dos bens celestes.
Agora passemos aos vivos, jà entrados pelo Tejo.
922 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
J
( ) O d o m i n i o p o r t u g u è s na A s i a e o seu g l o r i o s i s s i m o p a d r o a d o s ò b r c
eia l e v o u o mais d u r o g o l p e , que p o d i a s o f r e r com o desterro dos jesuitas.
Era pela i n s t r u c à o que eles d i f u n d i a m a i n f l u è n c i a p o r t u g u é s a naquelas par*
tes. S ó na p r o v i n c i a de G ò a m a n t i n h a m g r a t u i t a m e n t e tres s e m i n à r i o s e d e i
c o l é g i o s ; e na d o M a l a b a r , d o i s s e m i n à r i o s e o i t o c o l é g i o s . Mas exerciam t a m ;
59
930 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
Jà por esse tempo se achavam junto à nàu dez barcos cada qual
com u m desembargador e seis s o l d a d o s . Os primeiros a serem m e -
tidos e m dois barcos f o r a m os africanos e os e s t r a n g e i r o s . A o s que
pela doenca nào podiam andar, e eram quasi todos, ataram-nos
a urna cadeira e assim bem atados por urna corda à antena os
desciam para os barcos. Davam assim espetaculo b e m lastimoso à
vista n à o s ó aos da cidade, que desde os barcos afastados assis-
tiam a eie, mas também aos soldados, que àqueles jesuitas cha-
mavam cadàveres vivos.
Logo que cada u m dos barcos recebia a sua carga, ordena-
va-se ao desembargador, depois de recebida a lista dos no-
mes, que afastasse u m pouco o barco da nàu e ai esperasse or-
dens. O s restantes foram do mesmo modo metidos nos barcos; e
a nenhum se permitiu que levasse consigo s e n à o o seu breviario e
o crucifìxo. E e m todos estes m o v i m e n t o s se passou a maior parte
do dia; pelo que muito tiveram de s o f r e r os doentes durante este
tempo expostos ao calor d o sol.
2. — Dado o sinal de partida, dirigiram-se oito barcos para
a Trafaria na outra margem do Tejo; e os dois que haviam re-
cebido os d e M o c a m b i q u e e estrangeiros, seguiram a baia do rio
em direcào da fortaleza de S. Juliào. N à o se pode descrever o
mutuo sentimento, que se a p o d e r o u d e t o d o s os j e s u i t a s , a o verem-
se assim para sempre separados, sem saberem qual o destino dos
mais, e ignorando t a m b é m q u a l seria o seu.
O s transportados para S. Juliào, achavam-se quasi todos con-
sumidos pela doenca; e neste estado foram atirados antes p a r a se-
pulcros do que para quartos. Estavam de f a c t o sepultados, sob a
terra; cada um tinha o seu; e nào eram maiores que o bastante
para receber um corpo humano. Nenhuma luz tinham senào a
que durante o jantar e a ceia, lhes d a v a urna vela que lhes m a n -
davam com a comida.
Faltava toda a comunicacào com os vivos e com os c o m p a -
nheiros e todo o conforto para a vida humana.
A causa de t à o deshumano suplicio f o i , para uns, o serem
nascidos em terras n à o portuguesas, e terem com licenza d o rei
p o r t u g u è s seguido para a Asia e propagar a religiào cristà; para
outros foi o serem mandados para a Africa, onde sob um clima
mortifero, promoveram com grande perigo de sua vida tanto o
bem dos bàrbaros corno os interesses dos portugueses. Coisa tào
932 DE EXILIO PROVINCIAE GOANAE
lius Regis nomine tam diu tamque crudeliter ac nulla prorsus causa
vexaverat); illud alterum, quod suo loco 'satis expendimus, ex
formula subjecit: universam Societatem, quam infelicem dicebat,
odio Regi esse; optaret ex duobus alterum, vel in perpetuum c u m
infelicibus exilium, nulla remigrandi spe, deportari, vel, abjecta
Societatis infelicis veste, in Lusitania atque fidos Regis clientes
retineri.
Haec conditio etiam iis, q u i quatuor vota solemniter nuncupa-
verant, proposita, quamvis ipsi, peractis scilicet experimentis omni-
bus, borrenda conjurationum (ad q u a s i t a P r o f e s s i , si C a r v a l i o f i d e s ,
initiantur) Consilia j a m didicissent. Optione facta, Jesuita, non ad
carcerem, sed ad stationem militum, deducebatur, donec caeteri
eodem modo interrogarentur.
Comitem vero praescriptae sibi i n t e r r o g a n d i f o r m u l a e ne v e r b u m
quidem adidisse, inde p a l a m constat, quod, quam in primo, eamdem
nulla mutatione facta, in caeteris interrogandis observavit; constat
quoque, eam provinciam, quam saepius jam obiverat, tum certe
haud lubenter exercuisse. Enimvero, cum juvenis nescio quis, u b i
Societatem appellari infelicem vidisset, in lacrymas solutus acer-
bissimum dolorem prae se f e r r e t , C o m e s q u o q u e misericordia tactus,
lacrymas f u d i t ; quas c u m extersisset, quae deinde supererant moestus
interrogavi.
X V I Jesuitae Societati nuncium misere, nullus tamen eo die
dimissus.
mais tres franceses, que por essa ocasiào, nào sei por qual mo-
tivo, se achavam em Macau. Parte destes jesuitas foram levados
para a casa dos dominicanos e parte para a dos franciscanos; e
quatro dias depois foram atirados para urna casa que fòra do
procurador da China. A l i s o f r e r a m c o i s a s p a r e c i d a s as q u e jà nar-
ramos dos assedios das outras casas. Também lhes vender am à
vista deles os seus bens por v i i prego. Também l à se e s p a l h a r a m
as satiras vindas de Portugal com grande aparato. A s igrejas f o -
ram p r i m e i r o c o n f i a d a s aos d o m i n i c a n o s e f r a n c i s c a n o s . D e p o i s o Bis-
po daquela cidade, alegando que eie tinha o poder de nomear
para elas a quem quizesse, confìou o cuidado delas a padres se-
culares.
A o tempo em q u e se e s c r e v e u a carta de que falei, estava-se
preparando a n à u , que em principios de novembro d e v i a r e c e b e r os
2 4 jesuitas e transportà-los para Gòa ou para Lisboa; e que no
curso da v i a g e m t i n h a m m o r r i d o dezasete jesuitas, c o n s u m i d o s pelos
muitos sofrimentos, e s o m e n t e sete deles tinham escapado à morte,
o q u e , se f ò r v e r d a d e , e n t à o a i n d a os m a c a e n s e s s u p o r t a r a m maiores
males q u e os goanos ( 1
).
Correu também que Carvalho instara com o imperador da
China para que mandasse desterrar do seu imperio todos os je-
suitas e p a r a este f i r n mandàra verter para o c h i n é s todas as sàtiras
divulgadas em Portugal. Mas que depois de as ler, viu o Impe-
rador que n à o passavam de calunias, e em nada mudou a sua
antiga amizade para com os da Companhia. Seja corno for, o
certo é que a misericordia para c o m os jesuitas, que Carvalho de
P o r t u g a l e dos dominios portugueses desterrou, acharam-na eles nas
terras de infieis, para onde por esses tempos se refugiaram.
1| ac atque
5 34 portugsea portuguésa
ti 11 quid qui
6 l!t estheticam acsthoth am
6 39 l'ater Candido l'air. Candido
8 20 ac et
8 II et ac
11 6 caraiér caràter ou caracter
11 26 histórladorPM historiadores
12 32 uonunqnam nonnunquam
14 4 nonullorum nonnullorum
14 13 ub ubi
14 21 Maria? I I Mariae I
14 35 amorem udmiratloiicmque Amore admirationeque
11 27 a Antonio Va/. Antonio Vaz
SI 37 aprouveshcm nprouvesse
35 12 OR nobres foram foram
34 ; tf i
r
mandatimi fuisse mandasset. Antistes insperata re percul-
sua, tamen, par quoque sibi manda*
tum fuisse.
54 eontinebantur contlnehatur
55 17 mais sete na l'uni intana mais seis na Faulistana e seta na Peroam-
bucana.
55 SO que. se que. depois do espaco de dee anos, se
54 coactis expugnatum coactis expiignarì posset. Expugnatum
*h 35 e 3J* o 6 de janeiro
as 15 9 de Janeiro 7 de janeiro
ni 1 3 de Janeiro 11 de janeiro
ito 1 30 de abril 19 de abril
129 27 31 de novembro 30 de Novembro
137 15 7 de maio 4 de maio
137 23 também a 7 de maio a 7 de maio
147 10 guardados por um desta- aem escolta
camento annado.
151 31 4 de novembro 4 de dezembro
163 31 1 de novembro S7 de outubro
169 14 3 de abril ó de abril
17* SO Marti Mail
179 9 25 de agosto 26 de agosto
179 15 29 de outubro SO de outubro
so: 14 13 de novembro 17 de novembro
SII 13 l de dezembro 29 de novembro
249 13 ultimo ilia de feverelro dia 17 de feverelro
257 7 2 de novembre 22 de novembro
319 S8 1749 Itti
361 38 1. asslin, nào E assim. tendo «leixado o governo «m
1756. nào
PROOEMIVM
1. B r a s i l i e n s i s A c a d e m i a c o r a m seca 8
iis quos C a l ó g e r a s vocavit 7. E x e m p l a s o l a n t i a et e x e m p l a
05 grandes caluniados da his- tristia 12
toria 2 8. E p i s c o p u s C o m e s C o n i m b r i -
2. J u s t i t i a p o s t h u m a 2 c e n s i s et P r i m a s Brasilia? . 14
3. E x c e p t i o n a l i s B r a s i l i a e p o s i - 9. J e s u i t a r u m e r g a s t u l a r i i i n C i -
tio r e l a t e ad Societatem r i tate G o a n a . . . . 1 4
Jesu 4 10. A m a z o n i a e quas v o c a n t Re-
4. D o n u m S o c i e t a t i A c a d e m i a e ductiones 16
Litterarum Brasiliensi . . 6 11. C a e i r i s t y l u s . . . . . 18
5. O p e r a H i s t o r i c a P a t r i s Jose- 12. V e r s i o l u s i t a n a P a t r i s E m -
phi Caeiro 8 manuelis M a r t i n s . . . . 18
6. C r i t e r i a quae v o c a n t i n t r i n - 13. P r o o e m i a n t i s a d n o t a t i o . . 20
L I B E R P R I M V S : DE EXILIO P R O V I N C I A E B R A S I L I E N S I S S. J.
CAPVT I.
1. C a r v a l i u s J e s u i t a r u m r u i n a m 6. C a r d i n a l i s S a l d a n i a e d e Je-
machinatur . . . . 26 suitarnm Reformatione Epis-
2. T r e s i n B r a s i l i a m e m i s s a r i o s tola 34
mittit 7. Haec i n B a h i e n s i C o l l e g i o l e -
3. Eos f o e d a e x c i p i t p r o c e l l a , gitur 36
q u a m i n g e n s i n s e q u i t u r ma- 8. T u m P r o - R e x , t u m A n t i s t e s
laria . . . 30 o m n i c u m Jesuitis commer-
4. D u p l e x B a h i a e t r i b u n a l e r i g i - cio abstinent . . • . 38
tur 30 9. Jesuitae ab o m n i m e r c a t u r a e
5. C o n j u r a t i o n i s i n s i m u l a n t u r Je- labe p u r g a n t u r . . . 38
suitae 32
CAPVT II.
1. Jesuitae i n p a g i s s u b s t i t u u n t u r . 42 4. C a l u m n i i s i m p e t u n t u r . 46
2. A n t i s t i t i s e d i c t u m . 44 5. O p p i d o r u m v i c a r i i s Sacerdo-
3. E c c l e s i a s t i c a I n o p p i d i s a d - tes s u f f i c i u n t u r .
m i n i s t r a t i o . De J e s u i t i s ques- 6. Q u o p a c t o J e s u i t ì c u m i n B r a s i -
tio instituitur 44 lia i m p e r i u m f u e r i t d i r u t u m . 50
CAPVT III.
1. P r i m o r e s j e s u i t a e e x s i l i o m u l - agendi r a t i o . . . . 62
ctati . 4. B o n i s s u i s p r i v a n t u r . . 64
2. E x s i l i i causae. 5. R u m o r p e r B r a s i l i a m n e c o p i -
3. A n t i s t i t i s B a h i a n i l a u d a b i l i s nus s p a r g i t u r 4
68
I N D I C E
INTRODUCACI
1. A A c a d e m i a B r a s i l e i r a ante 7. L i g ò e s r e c o n f o r t a n t e s e l i g ò e s
" o s g r a n d e s c a l u n i a d o s da tristes 13
Historia" 3 8. O B i s p o C o n d e de C o i m b r a
2. Justiga p o s t u m a 3 e 0 P r i m à s do B r a s i l . . . 15
3. S i t u a g à o especial do Brasil 9. C a r c e r e i r o s dos Jesuitas e m
com respeito à Companhia Góa 15
de Jesus . . . . 5 10. R e d u c . ò e s d o A m a z o n a s . . 17
4. U r n a p r e n d a da C o m p a n h i a 1 1 . O E s t i l o de C a e i r o . . . . 19
à A c a d e m i a de L e t r a s . 7 12. A t r a d u g à o p o r t u g u é s a d o
5. A s O b r a s H i s t o r i c a s de J o s é P. Manoel Martins . . . 19
Caeiro 9 13. N o t a d o P r e f a c i a d o r . . . 21
6. Os c r i t é r i o s intrinsecos . . 9
D O B R A S I L
CAPITULO PRIMEIRO.
1. C a r v a l h o m a q u i n a a r u i n a dos 6. C a r t a s de Saldanha s o b r e a
Jesuitas no B r a s i l . . . . 27 R e f o r m a dos j e s u i t a s . . . 35
2. E u v i a t r e s e m i s s à r i o s a es- 7. Leem-se no C o l é g i o estas
tas p a r t e s 29 cartas 37
3. S o f r e m urna t e m p e s t a d e se- 8. C o r t a m o V i c e Rei e o B i s p o
g u i d a de c a l m a r i a . . . . 31 as r e l a g ó e s c o m os j e s u i t a s . 39
4. C o n s t i t u e m - s e d o i s t r i b u n a i s . 31 9. O c o m e r c i o e n t r e é l e s n à o
5. A c o n j u r a g à o dos j e s u i t a s . . 33 existia 39
CAPITULO SEGUNDO.
1. S à o s u b s t i t u i d o s os Jesuitas 4. C a l u n i a s e p r o c e s s o s c o n t r a
nas a l d e i a s 43 éles 47
2. U m e d i t o d o B i s p o 45 5. Os n o v o s v i g à r i o s das v i l a s . 49
3. A d m i n i s t r a g à o e c l e s i a s t i c a 6. H a v i a p o u c o s e esses i n c a p a -
das v i l a s . Interrogatorios zes. C o m o r u i u o i m p e r i o
à c e r c a d o s Jesuitas 45 J e s u i t i c o no B r a s i l 51
CAPITULO TERCEIRO.
60
INDEX
CAPVT IV.
1. S a c r a r u m O r d i n u m R e l i g i o s i cum J e s u i t i s p r o h i b e n g 78
n e c n o n et c i v e s J e s u i t i s suc- 5. B a h i e n s i s C o l l e g i i ac S e m i -
currunt 72 narii eventus 78
2. Jesuitae B a h i e n s i s custodiae 6. A n t i s t i t i s c u m J e s u i t i s a g e n -
traduntur 74 di ratio 80
3. J e s u i t a r u m t h e s a u r i r i s u i a n - 7. A n t i s t e s ad i n o p i a m r e d i g i t u r . 84
sam p r a e b e n t 74 8. L i t t e r a e a S a l d a n i a e i d e m m i s -
4. D e c r e t u m consuetudinem sae . 86
C A P V T V.
1. J e s u i t a r u m i n S a c e l l o i n c l u - C a r v a l i i legatus . . 96
sorum terrores . . . 92 4. D e J e s u i t a r u m e j e c t i o n e d e -
2. S a t e l l i t u m m a n u s t i p a t i , d u - cretum proditur . . . 98
c u n t u r i n C o l l e g i u m et N o - 5, 6, 7, 8, 9. Jesuitae c u s t o d i a e
viciatum . . . . 94 t r a d i t i B a h i a m e v a r i i s So-
3. X a v i e r X i m e n i u s , p r a e p o t e n s c i e t a t i s d o m i b u s d u c u n t u r . 98-106
CAPVT VI.
1. C a n o n i c o r u m C a p i t u l i D e c a - 3. N o v a e de e o d e m a r g u m e n t o
nus a d J e s u i t a r u m causam probationes. . . .112
Antistitis subrogatur . 108 4. M i r a j u v e n u m n o s t r o r u m a n i -
2. O m n e s a d h i b e n t u r m a c h i n a - mi f i r m i t a s . . . .114
t i o n e s ad j u v e n u m c o n s t a n - 5. M u l t o r u m ad f i n e m u s q u e p e r
tiam compescendam 110 severantia . .118
VII.
1. E x u l i b u s , ex c o r d e nec sine 5. De judice Caldeira. . 130
lacrymis, valedicitur . 122 6. D u o j e s u i t a e d e p o r t a n t u r ; p r i -
2. Jesuitae B a h i e n s i C o l l e g i o mae v e x a t i o n e s . . . 132
s u p r e m u m vale dicunt . 122 7. A n t i s t i t i s O l i n d e n s i s c u m Je-
3. O l i s s i p o n e m v e r s u s , m a r i t i - suitis agendi modus . 134
mum iter aggrediuntur . 126 8. C o l l e g i o r u m c i r c u n c e s s i o . 136
4. P e r n a m b u c a n i e v e n t u s n a r - 9. N o s t r i ad a n g u s t i a s r e d i g u n -
rantur 128 tur 138
CAPVT Vili.
1. Jesuitae i n t e r Cearenses I n - 4. E F l u m i n e M a g n o e j i c i u n t u r
dios 142 Jesuitae 148
2. A l i i i n C e a r e n s i territorio 5. C a r v a l i a n u m d e c r e t u m a d v e r -
eventus 144 sus Jesuitas p e r v u l g a t u r . 150
3. I m m u t a t i o n e s a p u d Cearenses 6. C a l u m n i i s , f r a u d i b u s q u e i r n -
pagos 146 petuntur Nostri . 154
IX.
CAPITULO QUARTO.
CAPITULO QUINTO.
CAPITULO SEXTO.
CAPITULO SETIMO.
CAPITULO OITAVO.
CAPITULO NONO.
C A P V T X.
1. B o b a d e l l a n u s G o m e s ( G o m e s d e t u r ac d e p r e c a t i o n i t r a d i -
F r e i r e de Andrade,) i n f l u - tur 178
vium Januarium vocatur . 176 4. D e c r e t u m de J e s u i t i s e v u l g a -
2. N a v e s O l i s s i p o n e n s e s i n Bra- t u r ; q u i d de eo c o g i t e l u r . 180
siliam appellunt. Carvalia- 5. P l u r e s de d e c r e t o s e n t e n t i a e . 184
nae c o g i t a t i o n e s r e v e l a n t u r . 178 6, 7, 8. C o l l e g i i F l u m i n e n s i s t u n c
3. F l u m i n e n s e C o l l e g i u m o b s i - temporis eventus. . . 184-188
CAPVT XI.
CAPVT X I I .
CAPVT XIII
CAPVT XIV.
CAPVT XV.
CAPVT X V I .
1. A c t a P a u l o p o l i t a n i P r a e f e c t i , land a m i 268
necnon S a l a z a r i i S e n a t o r i s . 264 4. P e l l u n t u r Jesuitae . .270
2. D e seipso a u c t o r l o q u i t u r . 266 5. E o r u m i t e r d e s c r i b i t u r . . 272
3. E p i s c o p i P a u l o p o l i t a n i r o b u r
INDICE VII
CAPITULO DECIMO.
1. G o m e s F r e i r e ( B o b a d e l a ) é I 4. D i v u l g a - s e o d e c r e t o c o n t r a
chamado para o Rio . 177 os j e s u i t a s ; o b s e r v a c ò e s so-
2. C h e g a m as n à u s de L i s b o a ; bre eie 181
os p l a n o s de C a r v a l h o . 179 5. C o n t i n u a m as o b s e r v a c ò e s . 185
3. C e r c o e r o u b o d o c o l é g i o 6, 7, 8. Sucessos v a r i o s d o c o -
fluminense . . . . 179 légio . . . 185-189
CAPITULO UNOECIMO.
CAPITULO DUODECIMO.
1. N i n g u e m se d e i x o u illudir 4. Q u a r t a P a s t o r a l d o B i s p o 215
pelo Prelado . 209 5. I n j u s t i c a do accusador que é
2. T e r c e i r a p a s t o r a l d e l e . .211 o verdadeiro culpado . . 217
3. P a p e l a d a o u v i d a p e l o s j e s u i - 6. I n o c e n c i a d o s j e s u i t a s . . 219
tas 213
1. A t o s d o G o v e r n a d o r e de 3. 0 e n e r g i c o B i s p o de S. P a u l o 269
Salazar 265 4. S à o e x p u l s o s os j e s u i t a s . 271
2. Fala de si o A u t o r . . 267 5. A sua v i a g e m . . . . 273
INDEX
CAPVT XVII.
CAPVT XVIII.
1. J e s u i t a r u m n a v i g a t i o i n L u s i - 3. Q u i d i b i e v e n e r i t . . . 300
taniam . . . . 294 4. E x u l e s i n I t a l i a n i n a v i g a n t . 302
2. O l i s s i p o n e m a p p e l u n t . . . 298
L I B E R S E C U N D U S : DE EXILIO V I C E - P R O V I N C I A E M A -
R A N O N I E N S I S .
CAPVT I .
1. J e s u i t a r u m i n M a r a n o n i a m 4. E j u s d e m i n g r a t u s a n i m u s post
adventus. L a b o r u m initia . 308 obtentum Episcopatum 318
2. C a l u m n i a e q u i b u s i m p e t u n t u r 312 5. P a g o s v i s i t a t J e s u i t a s q u e l a u
3. E p i s c o p u s B u l h o n i u s . Jesui- dibus effert . . . . 320
t a r u m p o n d u s i n e j u s elec- 6. B u l h o n i i u r b a n i t a s ergas eos,
tionem . 314 maxime in Malagridam 322
CAPVT II.
1. M e n d o n s a , C a r v a l i i f r a t e r , m i c i t i a m s i m u l a t erga Jesui-
c r e a t u r P r a e f e c t u s Paraen- tas 334
sis 326 5. M a c h i n a t i o n e s B u l h o n i i et
2. L u d o v i c u s V a s c o n c e l l i u s M a - M e d o n s a e c o n t r a eos . 336
ranoniae praeficitur . 328 6. Joannes C r u c i u s insanes e f o r -
3. I m p r o b a M e n d o n s a c a l l i d i t a s raat c o g i t a t i o n e s i m p e r i i co-
adversus Vasconcellium 332 lonialis . 338
4. Patescit f r a u s . M e n d o n s a a-
CAPVT III.
CAPVT IV.
PROVINCIA DO MARANHÀO.
CAPITULO PRIMEIRO.
CAPITULO SEGUNDO.
CAPITULO TERCEIRO.
CAPITULO QUARTO.
C A P V T V.
CAPVT V I .
1. B u l h o n i i i n M a r a n o n i a v i t a i. E j u s d e m i n Jesuitas v e x a t i o -
2. E j u s acta, p r a e f e c t u m a g e n t i nes. E x s i l i a i n i c i a n t u r . . 390
3. I n c r e d i b i l i s c r u d e l i t a s . 5. M u l t i p l i c a n t u r e x s i l i a . 392
CAPVT V I I .
1. C i r c a p a g u m T r o c a n o v o c a - 3. D e m e n s M e n d o n s a e i n v e n t u s . 402
tum e v e n t u s v a r i ! . . . 396 4. T r a g i c u s h u j u s i n v e n t i e x i t u s . 404
2. Pagus c u i n o m e n Javary; ca- 5. P a r a u m r e v e r t i t u r M e n d o n s a ,
lumniae ejusdem occasione vindictae cupidus in indios. 408
inventae . . . . 398
CAPVT Vili.
I . M e r c a t u r a e Societas M a r a n o - 4. Joannes C r u c i u s e j u s q u e de
niensis . . . . 412 m e r c a t u r a e societate sen-
2. E j u s i n s t i t u t u m et leges . 414 tentia 418
3. De m a n c i p i o r u m servitute 5. E j u s d e m societatis d e c o c t i o . 422
quaestio . . . . 416
CAPVT IX.
CAPVT X.
CAPVT X I
1. I n a r d c s c i t M e n d o n s a p r o p t e r 4. A l i i pagis J e s u i t i s e r e p t i . I n d i i
Rochae a p o l o g i a m . 456 quos Gamelas appellant . 462
2. M a r a n o n i e n s e s successus, ca- 5. L o b a t u s c e d e r e nescius, Sa-
lumniaeque Jesuitis i m p o s - c e r d o t i s c u j u s d a m c a s t i g a t i o . 466
sitae . . . 458 6. A l i q u o t p a g o r u m e v e n t u s . I n -
3. L o b a t u s a P i n a r e n s i p a g o Je- dii quos Baibatos vocant . 468
suitas p e l l i t . . . . 460
INDICE XI
CAPITULO QUINTO.
CAPITULO SEXTO.
1. V i d a de B u l h ò e s no M a r a n h à o . 383 V e x a g ò e s c o n t r a os j e s u i t a s ;
2. A t o s seus corno G o v e r n a d o r . 385 primeiros desterros . . 391
3. C r u e l d a d e i n c r i v e l . . 387 C o n t i n u a n i os d e s t e r r o s . . 393
CAPITULO SETIMO.
CAPITULO OITAVO.
1. A C o m p a n h i a d o C o m e r c i o 4. J o à o C r u z ; a p r o v a g à o da d i t a
do M a r a n h à o 413 Companhia . . . . 419
2. N a t u r e s a e c o n s t i t u i g à o dela, 415 5. Sua f a l e n c i a . . . . 423
3. A q u e s t à o da e s c r a v a t u r a 417
CAPITULO NONO.
CAPITULO DECIMO.
1. D e i x a m os j e s u i t a s as suas s u j c i t a s ao M a r a n h l o . 447
aldeias 443 4. P e r f i d i a d o d u u m v i r a t o . . 449
2. E l e v a m - s e a v i l a s n o v a s a l - 5. Rebate o j e s u i t a Rocha as
deias 445 a c u s a g ò e s c o n t r a os j e s u i t a s . 453
3. Q u e s t ò e s a c é r c a das a l d e i a s
CAPITULO UNDECIMO.
1. E n f u r e c e - s e M e n d o n g a c o m o 4. O u t r a s a l d e i a s t i r a d a s ; os
p r o g e d i m e n t o de Rocha 457 gamelas . . . . 463
2. Sucessos d o M a r a n h à o ; c a - 5. L o b a t o i n a b a l a v c l ; c a s t i g o de
l u n i a s c o n t r a os j e s u i t a s . 459 um padre . . . . 467
3. L o b a t o r e t i r a os j e s u i t a s da 6. Sucessos de o u t r a s a l d e i a s
a l d e i a de P i n a r é . . .461 03 b a r b a d o s . . . . 469
Xll INDEX
CAPVT XII.
I t e r u m e r i g u n t u r pagi in op- 4. J e s u i t a r u m l i n t r e s s u r r i p i u n -
pida . . . 472 tur. Nova exsilia . . . 480
I n s o l i t i eventus apud T r e m e - 5. P l u r e s r e l i g i o s i O l y s s i p o n e m
meum 474 navigant. Mendonsa in N i -
Incredibilis Vicarii eventus grum flumen iter conficit . 482
narratio prosequitur . 476
CAPVT XIII.
1. I n d e x p a g o r u m , i n q u i b u s J e - 4. F a c u l t a t e s p r o r s u s i n s u f i c i e n
suitae m i n i s t e r i a e x e r c u e r e . 486 tes e r a n t ad t o t o p e r a exe-
2. 3. E j u s d e m a r g u m e n t i p r o s e - quenda 494
quutio . . . . 488-492
CAPVT XIV.
CAPVT XV.
1. N o b i l e M a r a n o n i e n s i s Antis- 4. M a r a n o n i e n s i s P r a c l a t i r o b u r
t i t i s ad B u l h o n i u m respon- et f i r m i t a s . . . . 524
sum 516 5. B u l h o n i u s i n J e s u i t a r u m M a -
2. B u l h o n i u s i n Paraensi C o l l e ranoniensi C o l l e g i o . . 526
gio 518 6. M a r a n o n i e n s i s A n t i s t e s abs-
3. I d e m M a r a n o n i a m d i v e r t i i . 520 cedit 528
CAPVT XVI.
1. I n s o l i t a B u l h o n i i p r a e d i c a t i o . 4. I d e m ipse i t e r u m J e s u i t i s i n -
Rusticum jesuitarum prae- fensus 542
dium lustrant . . . 534 5. B u l h o n i u s p r o p t e r c o n c i o n e m
2. Q u a m i m m u t a t i o n e m r u m o r angustiis premitur: Naufra-
quidem genuerit . . . 536 gus quidam inexpectatus
3. B u l h o n i u s f o v e t J e s u i t i s . 540 adventat . . . . 546
CAPVT. XVII
1. In J e s u i t a s v a l i d i o r t e m p e s - | 3. A l i i et a l i i r e l e g a n t u r . . 554
tas r e n a s c i t u r . . . 550 4. Pagis e j i c i u n t u r a l i i J e s u i t a e . 558
2. R e l e g a t i o n i b u s i n i t i u m d a t u r i . 552
CAPVT XVIII
CAPITULO DUODECIMO.
1. O u t r a s a l d e i a s e l e v a d a s a v i l a s 473 4. R o u b o d o s b a r c o s d o s j e s u i -
2. E s t r a n h o s s u c e s s o s de T r e - tas; d e s t e r r o s de a l g u n s 481
memé 475 5. E m b a r c a m v a r i o s r e l i g i o s o s
3. C o n t i n u a o e x t r a n h o caso d o para L i s b ó a . M e n d o n g a v i a -
vigario 477 ja para o Rio Negro . 483
1. N o t i c i a s t r i s t e s e a l e g r e s para l a m i d a d e dos j e s u i t a s : d o i s
Bulhòes. . . .501 expulsos . . . . 507
2. V o l t a M e n d o n g a ; suas a f i r - 5. P a r t i d a de r e l i g i o s o s e de
m a g ò e s s o b r e o f u t u r o dos Mendonga. O novo Gover-
jesuitas 503 nador 511
3. B u l h ò e s t o m a posse d o c a r g o 6. C u i d a d o s de B u l h ò e s ; q u e i -
de R e f o r m a d o r . . 505 xas d o c l e r o . . . . 513
4. O s m a r a n h e n s e s sentem a ca-
1. N o b r e r e s p o s t a d o P r e l a d o nhense 525
m a r a n h e n s e a B u l h ò e s . Fa- 5. B u l h ò e s no c o l é g i o d o Mara-
Iha u m seu p l a n o . . . 517 nhào 527
2. B u l h ò e s no c o l é g i o do Para". 519 6. Retira-se o Prelado mara-
3. V a i B u l h ò e s ao M a r a n h à o . 521 nhense 529
4. F i r m è s a d o P r e l a d o m a r a -
1. C u r i o s a p r e g a g à o de B u l h ò e s . 4. B u l h ò e s n o v a m e n t e i n i m i g o
V i s i t a m urna f a z e n d a dos dos j e s u i t a s . . . . 543
Jesuitas 535 5. A p è r t o de B u l h ò e s p o r causa
2. M u d a n g a , que u m r u m o r cau- de u m s e r m à o . C h e g a u m
sou i . 537 naufrago misterioso. . . 547
3. B u l h ò e s f a v o r a v e l aos j e s u i t a s . 541
1. Recresce a p r o c e l a c o n t r a os 3. P r o s e g u e m as d e p o r t a g ò e s . 555
jesuitas 551 4. M a i s e x p u l s ò e s das a l d e i a s . 559
2. C o m e g a m as d e p o r t a g ò e s . 553
CAPITULO DECIMO O I T A V O .
1. O s J e s u i t a s m a r a n h e n s e s s à o c o m os j e s u i t a s . . . 569
deportados para o P a r à . 563 4. V e x a g ò e s , que s o f r e m . . 573
2. A p e r t o s e p e r i g o s na sua 5. e 6. C o n t i n u a m as p e r s e g u i -
viagem 565 g ò e s c o n t r a eles. . 575-577
3. B u l h ò e s de n o v o e m b r i g a s
\
XIV INDEX
CAPVT XIX.
CAPVT XX.
CAPVT XXI.
L I B E R T E R T I U S : DE EXILIO P R O V I N C I A E G O A N A E .
CAPVT I .
CAPVT II.
CAPVT III.
1. C o l l e g i i a n t i q u i o r e s , r u s t i c a n - 6. D e n o v o C o l l e g i o . . . 674
dique villae eventus 662 7 e 8. N o v i c o l l e g i i successus
2. I n Regio V a l e t u d i n a r i o . . 664 prosequuntur . . . 676-678
3. D o m u s J a p o n i c a . . . . 666 9. E v e n t u s C o l l e g i i R a c h o l e n s i s
4. R e s i d e n t i a M a l a b a r i c a 668 et i n s u l a e S a l s è t e . . . 680
5. D e P r o b a t i o n i s D o m o . . 670
INDICE XV
C A P I T U L O DECIMO NONO.
1. S à o os j e s u i t a s e x p u l s o s das 4. N o v o s a s s a l t o s . . 589
suas f a z e n d a s 581 5. Q u e i x a s c o n t r a o p r o c e d e r
2. Seus s o f r i m e n t o s d u r a n t e o de B u l h ò e s . . . .593
assèdio . . . 583 6. C e l e b r a m os j e s u i t a s a festa
3. B u l h ò e s t e n t a v e n c e r e aba- de S a n t o I n à c i o . . . 595
iar a constancia dos jovens. 587
CAPITULO VIGESIMO.
1. V a r i o s sucessos de j e s u i t a s 3. A s s i n a l a se u m d e l e s . . 605
n à o professos . . . . 599 4. M o r t e de d o i s p a d r e s ; o u t r o s
2. A d m i r a v e l constancia dos j o - sucessos 607
vens 601
V I N C I A D E G O A .
C A P I T U L O PRIMEIRO.
CAPITULO SEGUNDO.
CAPITULO TERCEIRO.
CAPVT IV.
G e n t i l i u m e x u l t a t i o o b perse- | 5. C a f r o r u m a g e n d i m o d u s . . 694
cutionem i n Jesuitas . 686 6. Jesuitae M o z a m b i q u i u m t r a n -
C o l l e g i i d e p r e d a t i o : r a r u s e- feruntur 696
ventus 688 7. P r a e c i p u i successus M o z a m -
ECollegio Mozambicensi pel- bicani 700
l u n t u r Jesuitae . . . . 690 8. I n arce D i u 700
Residentia Sennensis 692 9. I n o p p i d o D a m à o d i c t o . . 702
C A P V T V.
1. D e m i s s i o n e J e s u i t a r u m n o n modus 716
Professorum agitur. 706 6. I d e m a c u l p a l i b e r a t u r . 718
2. L o p e s i i de hac re d i l i g e n t i a e . 708 7. M i r a J e s u i t a e c u j u s d a m a g e n -
3. Q u o m o d o ex i m p e r a t o p e r i - di r a t i o 720
culum evanuit . . . . 710 8. I d e m a S o c i e t a t e d i m i t t i t u r . 722
4. E j u s d e m e v e n t u s c o n t i n u a t i o . 714 9. A l t e r i u s e Societate i n s o l i t u s
5. A n t i s t i t i s G o a n e n s i s a g e n d i eventus 724
CAPVT VI.
1. L o p e s i i Consilia de N o s t r o - rum O r d i n u m r e l i g i o s a s d o -
rum dimissione . 728 mos d i s t r i b u a n t u r N o s t r i . 734
2. T r e s m i t t u n t u r q u i de p a r a n - 5. C o n s i l i u m hoc executioni
dis necessariis curent . 730 mandatur 734
3. Redeunt ad s u o s . 732 6. Q u o pacto f u e r i n t N o s t r i per
4. A l i q u i p r o p o n u n t ut per a l i o - monasteria distributi 736
CAPVT VII.
1. J e s u i t a e suis d o m i b u s s p o l i a n re s e n t e n t i a s e x q u i r a t , c o n
tur,quas alii religiosi occu- cilium cogit 746
pant 742 4. D e e o d e m a r g u m e n t o . 752
2. I d e m a r g u m e n t u m . . . 744 5. Q u a s a d i d a r t e s a d h i b u e r i t ,
3. V i c e - r e x , ut e g e n t i l i u m f i n i - sed f r u s t r a 754
bus p e l l a n t u r Jesuitae, c o n - 6. Q u i d a l i u d , e t i a m i n c a s s u m .
t e n d i t i u t q u e a l i o r u m de hac fuerit machinatus . 756
CAPVT Vili.
CAPVT IX.
1. Q u a r a t i o n e J e s u i t a e ab a l i i s crum celebrare valet . 788
religiosis tractentur. 778 6. Cum externis commercium;
2. M o r b i et c u j u s d a m P a t r i s o- ignominiosa quaedam nar-
bitus; 780 rantur 788
3. e 4. A l i i o b i t u s . . . 782-784 7. A u g u s t i n i a n i o b j u r g a n t u r . . 790
5. U n u s t a n t u m S a c e r d o s sa- 8. H o r u m c a l u m n i a c r e t u n d u n t u r 794
INDICE XVII
CAPITULO QUARTO.
1. A l e g r i a d o s g e n t i o s a n t e a 5. P r o c e d i m e n t o d o s c a f r e s . . 695
saida dos jesuitas . .687 6. S à o os j e s u i t a s l e v a d o s p a r a
2. R o u b o d o s bens d o c o l é g i o ; Mocambique . . . . 697
caso c u r i o s o . . . . 689 7. C o i s a s n o t a v e i s que là se
3. S à o d e p o r t a d o s os j e s u i t a s deram 701
d o c o l é g i o de M o c a m b i q u e 691 8. Sucessos de D i u . . . .701
4. R e s i d è n c i a de S e n a . . 693 9. Sucessos de D a m à o . . . 703
CAPITULO QUINTO.
CAPITULO SEXTO.
1. P r o v i d e n c i a s de L o p e s q u a n t o p a r t a m os Jesuitas p o r ca-
à d e m i s s à o dos jesuitas . 729 sas r e l i g i o s a s . . . . 735
2. V à o t r e s a p r e p a r a r as c o i - 5. P ó e - s e este a l v i t r e em p r a t i c a 735
sas n e c e s s à r i a s . . . .731 6. Casas e m que os J e s u i t a s
3. V o l t a m aos seus. . . 733 sào e n c e r r a d o s . . . . 737
4. D o i s p a d r e s p r o p ù e m se re-
CAPITULO SETIMO.
1. D e s a p o s s a m os j e s u i t a s das j e s u i t a s e reune c o n s e l h o
suas casas, q u e s à o o c u p a - para ouvir a l v i t r e s . . 747-753
padas p o r outros religiosos. 743 5. M e i o s p o s t o s em p r a t i c a , mas
2. C o n t i n u a o m e s m o a s s u n t o . 745 frustrados 755
3 e 4. E m p e n h a - s e o v i c e - r e i 6. O u t r o s m e i o s t a m b é m f r u s -
e m que das t e r r a s d o s gen- trados 757
t i o s s e j a m d e s t e r r a d o s os
CAPITULO OlTAVO.
CAPITULO NONO.
1. M o d o corno os j e s u i t a s s à o 5. S ó u m p o d e d i z e r m i s s a 789
tratados por outros religi- 6. T r a t o c o m os e s t r a n h o s ; ca-
osos 779 sos v e r g o n h o s o s . . 789
2. D o e n c a s e m o r t e d u m p a d r e 781 7. E x p r o b r a d o s os a g o s t i n i a n o s 791
3. e 4. O u t r a s m o r t e s . 783 785 8. Suas c a l u n i a s r e f u t a d a s . . 795
XVIII INDEX
CAPVT X.
CAPVT XI.
1. M a i s s u r i e n s e s c h r i s t i a n i Je- 4. C u m J e s u i t i s a g u n t e t ad re-
suitarum ejectionem perti- g i o n e m suam revertuntur,
mescunt 816 q u o v i c e rex l e g a t u m m i t t i t .
2. L e g a t o s G o a m m i t t u n t , q u i 5. P o r t e n t u m q u o d d a m i n D o -
vice-regem conveniunt . . 818 m o Professa . . . . 826
3. A b eo d i m i s s i P r a e s u l e m a- 6. B e n i g n i r u m o r e s e v a n e s c u n t . 828
deunt 820
CAPVT XII.
1. Jesuitae i n S a n c t i P a u l i C o l 5. C u j u s d a m G o a n e n s i s n o b i l i s
legium relegantur agendi ratio . . . . 840
2. H u c t a n q u a m i n c a r c e r e m c o n - 5. Q u i d V e r e m i n i i , P r o v i n c i a e
jiciuntur 834 Sinensis d o m i , f a c t u m sit . 842
3. Q u a s i b i a n g u s t i a s a t q u e i n - 7. H u j u s d o m u s d e p r a e d a t i o et
commoda perpessi sint. 836 a l i a i b i gesta . . . . 844
4. V a r i l e v e n t u s 838
CAPVT XIII.
CAPVT XIV.
CAPVT XV.
CAPITULO DECIMO.
1. C a r t a de L o p e s ao v i c e - r e i : 5. F a c i l i t a - s e o t r a t o c o m os
a r r e p e n d i m e n t o de V e l o s o . 799 externos 805
2. R e v e i a - s e a t r a m a d e l e . . 801 6. S à o b e m t r a t a d o s os j e s u i t a s
3. 0 v i c e - r e i i n t e r v e m p a r a m e - pelos o u t r o s r e l i g i o s o s . 807
l h o r a r a sorte dos jesuitas 801 7 a 9. V i o l a - s e o s e p u i c r o d o
4. N o m e s d o s e n c a r c e r a d o s no Santo X a v i e r . . . 809-813
convento agostiniano . . 803
CAPITULO UNDECIMO.
1. C r i s t à o s de M a y s s u r a n t e o 4. T r a t a m c o m os j e s u i t a s ; r e -
p e r i g o d a e x p u l s à o dos j e - gressam a suas t e r r a s ; o v i -
suitas 817 ce-rei e n v i a là u m l e g a d o . 823
2. E n v i a m l e g a d o s a G ó a ; a v i s - 5. Sucesso e s t r a n i l o na casa p r o -
tam-se com o vice-rei. . 819 fessa 827
3. D e s p e d e - o s este; v à o t e r c o m fi. R u m o r e s de e s p e r a n c a s d e s -
o prelado 921 vanecidas 829
CAPITULO DUODECIMO.
1. S à o os j e s u i t a s d e p o r t a d o s 5. P r o c e d i m e n t o n o b r e de u m
p a r a o c o l é g i o de S. P a u l o . 833 goano 841
2. C o m o f o r a m e n c e r r a d o s nele. 835 6. O que se passou em V e r e m i m ,
3. A p e r t o s e i n c o m o d i d a d e s , que casa da P r o v i n c i a da C h i n a , 843
sofrem 837 7. R o u b o desta casa, e o u t r o s
4. Sucessos v a r i o s . . . . 839 factos 845
C A P I T U L O DECIMO TERCEIRO.
CAPVT XVI.
1. V a l l a d a r e s , c a d e s t e n u m e r i . 900 4. H u j u s m o r b i i n d i c i a ac me-
2. F a l i s c r i m i n i b u s i n s i m u l a t u s dicamenta 906
Ulyssiponem navigare cogi- 5. M a l a r i a ; m o r b i i n g r a v e s c u n t . 908
tur 902 6. S p e c t a c u l u m v i s u h o r r i b i l e :
3. M a g n a e j u s d e m c a r i t a s e r g a vita funeri 908
Jesuitas scorbuto laborantes. 904
CAPVT XVII.
CAPVT XVIII.
CAPVT XVI.
1. V a l a d a r e s , h o m e m p r o v i d e n - buto 905
cial .901 4. S i n t o m a s e r e m e d i o deste m a l 907
2. A c u s a d o de c r i m e s f a l s o s é 5. C a l m a r i a s ; r e c r u d e c e m as d o -
obrigado a ir a Lisboa . . 903 engas 909
3. A sua m u i t a c a r i d a d e c o m os 6. H o r r e n d o e s p e t a c u l o : m o r t e s . 909
j e s u i t a s d o e n t e s de escor-
CAPVT XVII.
CAPVT XVIII.