A pandemia da COVID-19 acabou?

Com cerca de 3 mil casos por dia e média móvel de 200 óbitos (1) no país, a sensação dos brasileiros, ao final de um ano em que apenas nos 4 primeiros meses já havia superado o número de mortes de 2020 (1), é que finalmente a pandemia está acabando.

 Média móvel de óbitos é o número médio de óbitos diários dos últimos sete dias.

Contudo, enquanto o número de casos no Brasil e em outros países cai, em outras regiões, principalmente na Europa, volta a subir e é sinal de que uma quarta onda está acontecendo (2). Por esse motivo houve o retorno de medidas restritivas, como isolamento social e quarentena obrigatória em alguns países.

Quando ou se a pandemia vai acabar são questões constantes na mente da população. 

O fim da pandemia não é o fim da COVID-19

No início da pandemia, cientistas e organizações de saúde divulgaram que a imunidade de rebanho não seria alcançada naturalmente, sem a morte de milhares de pessoas, e por isso, a esperança do fim da pandemia estava depositada nas vacinas.

No final de 2021, menos da metade da população mundial (cerca de 40%) está totalmente vacinada (1). Contudo, muitos países já vacinaram mais de 90% da sua população.

Com a ampla vacinação foi comprovado que, de fato, as vacinas controlam os casos graves, hospitalizações e ajudam a reduzir a transmissão do vírus.

A Comissão Europeia, instituição que acompanha os dados da pandemia e a vacinação nos países da Europa, publicou dados demonstrando que os países com maior taxa de vacinação da população têm menor número de mortes (Figura 1) (2). 

número de mortes e vacinados em cada país da Europa
Figura 1: De acordo com a Comissão Europeia, pessoas totalmente vacinadas têm menos probabilidade de morrer por COVID-19 do que aquelas que não foram vacinadas.

O descompasso entre o número de casos, mortes e vacinação ao redor do mundo demonstram uma tendência do que está por vir – e que já era esperada por cientistas, epidemiologistas e organizações de saúde: a COVID-19 fará uma transição de pandemia para endemia

Espera-se que a combinação de alta taxa de vacinação e a imunidade natural entre as pessoas infectadas com o coronavírus torne a doença endêmica.

Entenda sobre as vacinas contra a COVID-19.


Surto, Endemia, Epidemia e Pandemia 

Quando uma doença surge inesperadamente em determinada região, diz-se que houve um surto. Surtos podem surgir em um bairro, cidade, estado ou em uma escola, por exemplo. Se vários alunos de uma escola começam a ter diarreia, por exemplo, pode ser que haja um surto de rotavírus transmitido pela alimentação ou água do local. 

Seguindo o mesmo exemplo, quando alunos de escolas de outros bairros ou cidades também estão com diarreia, isto é, outros locais começam a ter casos de contaminação por rotavírus, está ocorrendo uma epidemia. Entre 2015 e 2016 o Brasil viveu uma grande epidemia de Zika Vírus. 

Quando uma epidemia alcança níveis mundiais, atingindo vários continentes, considera-se que é uma pandemia. O prefixo Pan é grego e significa algo em sua totalidade, completo, e demos significa povo. Logo, pandemia refere-se a  “todo o povo”.

A endemia é quando esse surto é consistente e restrito a uma determinada região: a transmissão e número de casos de uma doença podem ser constantes ou aumentar sazonalmente em determinada região, mas a doença não deve se espalhar por outros locais. Dengue, Leishmaniose, Esquistossomose, Doença de Chagas e Hanseníase são conhecidas doenças endêmicas em algumas regiões do Brasil.


A endemia de COVID-19

O que vem a seguir?

As diferentes taxas de transmissão, casos e mortes pela COVID-19 ao redor do mundo mostra que a transição para endemia será diferente em cada local, sendo impulsionada, principalmente, pela imunidade de rebanho na população gerada pela infecção natural e, claro, pela taxa de vacinação, que é variável entre cidades e países.

A expectativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que no final de 2022 70% da população mundial esteja vacinada (3) e, com isso, a situação epidemiológica da doença será diferente. 

O risco mundial no momento é a baixa taxa de vacinação em alguns países, que podem levar  ao surgimento de uma nova variante resistente às vacinas e a imunidade adquirida por infecção anterior.

Acredita-se que a COVID-19 continue sendo um dos principais contribuintes para doenças e mortes nos próximos anos, assim como outras doenças endêmicas, como a malária. Pode ser que surtos surjam em locais onde a cobertura vacinal é baixa, assim como acontece com o sarampo, ou que se comporte como uma doença respiratória sazonal, como a gripe. Países com invernos mais rigorosos, por exemplo, esperam ter alta dos casos nesse período, e baixa no verão.

Especialistas imaginam que essa transição entre pandemia e endemia seja gradual, pois o SARS-CoV-2 é um vírus mais persistente. Além disso, o vírus provavelmente continuará sofrendo mutações e exigindo doses de reforço das vacinas.

O impacto da COVID-19 sazonal/endêmica será um desafio para os sistemas de saúde locais (e não mundiais). No entanto, a expectativa é que não sejam mais necessárias medidas rigorosas como quarentena ou isolamento.


Referências

  1. Coronavírus (COVID-19) – Google Notícias. Google Notícias. 2020. Acesso em: Nov. 23, 2021. 
  2. Mundo está entrando em quarta onda de covid-19, diz diretora da OMS – Saúde – Estadão. Estadão. Nov. 23, 2021. Acesso em: Nov. 24, 2021.
  3. European Commission no Instagram: “The conclusion is clear. Fully vaccinated people are less likely to die with Covid19 than those who are not vaccinated.” Instagram.com. Acesso em: Nov. 24, 2021. 
  4. ‌Strategy to Achieve Global Covid-19 Vaccination by Mid-2022. WHO.

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