Tipos de Agnosticismo

Acrizio Souza
4 min readJun 2, 2021

Dos meus 15 aos 17 anos, costumava ler textos relacionados a Apologética e a Filosofia da Religião, e com certa frequência lia textos que falavam sobre ou que mencionavam a palavra Agnosticismo.

Termos como Teísmo e Ateísmo, ainda que tenham suas subdivisões, teem uma definição mais clara e definida. Porém, o mesmo eu não sentia com o Agnosticismo. Por vezes, em alguns textos, agnósticos eram tratados como crendo de determinada maneira. Em outros textos, todavia, a posição agnóstica parecia ligeiramente diferente.

E isso por alguns anos me incomodou, pois aprecio muito definições objetivas sobre termos. A objetividade nas definições evita com que erros em discussões e conversas sobre temas aconteçam (e vergonhas sejam passadas).

Etimologicamente, a definição de Agnosticismo está associado com algo como “sem conhecimento” (“a”- “não”; “gnõsis” “conhecimento”). Porém, a etimologia não dá conta de oferecer definições suficientes para explicar as ramificações de Agnosticismo que foram aparecendo ao longo do tempo (a posição agnóstica não tem a ver exclusivamente com religião. Thomas Huxley, inventor do termo “agnóstico”, classificava sua posição como um método que seguia o princípio positivo de seguir o que a razão indicasse até onde ela levasse, e o princípio negativo de não considerar que certas conclusões fossem certas se essas não fossem demonstradas ou fossem demonstráveis[1]).

Por conta da ausência de clarificações sobre a definição de Agnosticismo, resolvi verificar as definições oferecidas ao conceito e as subdivisões presentes nessa posição religiosa.

Agnosticismo Forte (Strong Agnosticism)

Também chamado de Agnosticismo Duro (Hard Agnosticism); Agnosticismo Fechado (Closed Agnosticism); Agnosticismo Estrito (Strict Agnosticism); Agnosticismo Absoluto (Absolute Agnosticism) ou Agnosticismo Epistemológico (Epistemological Agnosticism), acredita que a existência ou não existência de qualquer divindade é incognoscível devido a incapacidade natural humana para verificar qualquer experiência que não seja uma experiência subjetiva.

Agnosticismo Moderado (Mild Agnosticism)

Também chamado de Agnosticismo Fraco (Weak Agnosticism); Agnosticismo Suave (Soft Agnosticism); Agnosticismo Aberto (Open Agnosticism); Agnosticismo Empírico (Empirical Agnosticism) ou Agnosticismo Temporal (Temporal Agnosticism), acredita que a existência ou não existência de qualquer divindade é atualmente desconhecida, porém não necessariamente incognoscível. Assim, o adepto desse tipo de agnosticismo suspende o juízo até que mais evidências estejam disponíveis.

Teísmo Agnóstico (Agnostic Theism)

Também chamado de Agnosticismo Religioso (Religious Agnosticism), é a posição que assume não saber acerca da existência ou não existência de divindades, mas, ainda assim, mantém a crença na existência de algum deus.

Ateísmo Agnóstico (Agnostic Atheism)

É a posição que assume não saber acerca da existência ou não existência de divindades, mas, ainda assim, mantém a descrença na existência de algum deus.

Ignosticismo (Ignosticism)

É a posição que acredita que uma definição coerente de “deus” precisa ser posta antes que a questão acerca da existência ou não de divindades seja sequer discutida de forma significativa. Caso a definição oferecida não seja coerente, o ignóstico acredita que a existência de deus seja sem sentido ou que seja empiricamente não testável empiricamente (visão não-cognitivista). Alguns acreditam que o Ignosticismo não possa ser classificado como uma subdivisão do Agnosticismo, e até do Ateísmo.[2]

Algo que merece ser destacado, é que de acordo com Paul Draper, para Huxley, o termo “agnosticismo” não tinha como definição “o estado de ser ou estar um agnóstico”, mas tinha como referência um “princípio epistemológico normativo”. Tal princípio declararia que seria errado alguém alegar que conhece ou acredita que uma proposição seja verdadeira sem que se tenha uma evidência logicamente satisfatória. Draper acrescenta que, no caso referente a existência ou não de divindades, uma vez que as posições teísta e ateísta não possuiriam evidências satisfatórias, a posição correta para uma pessoa seria a de suspender o juízo acerca dessa questão.

Draper ainda fala, que caso se considere o termo “Agnosticismo” como uma proposição, então o termo “agnóstico” teria como referência alguém que acredita que a proposição “Agnosticismo” seja verdadeira; e assim, “Agnosticismo” não se referiria a um estado de ser ou estar agnóstico.

Porém, caso “Agnosticismo” seja entendido em um contexto epistemológico, o termo acaba se estendendo par além do que é ou pode ser conhecido, e se encaixa em diversas posições, dependendo do status epistêmico positivo que esteja em questão. Draper cita como exemplos as posições de que tanto a crença ateísta quanto a teísta não são justificadas; racionalmente exigidas; permissíveis; que nenhuma das duas crenças possuem garantias; que ambas não são racionais ou prováveis, ou que ambas as crenças não são apoiadas por estados internos individuais; ou que não se coadunam com outras crenças sustentadas por alguém; ou que ateísmo ou teísmo não são crenças resultantes de processos formadores de crenças confiáveis; ou que essas duas crenças resultam de faculdades orientadas para a verdade que funcionam apropriadamente em um ambiente apropriado.[3]

Antes de concluir, preciso clarificar que coloquei o Ignosticismo como ramificação do Agnosticismo, mas não o Apateísmo, pois me parece que a posição ignóstica mantém uma suspensão de juízo por causa de elementos epistemológicos, enquanto a posição apateísta não necessariamente depende desses elementos, mas pode ser algo sustentado devido a elementos psicológicos.

O texto não faz nenhum juízo de valor sobre o Agnosticismo. Apenas foi algo que há algum tempo queria escrever, pois certamente me ajudaria muito ter algo como isso disponível no momento em que eu era um mero adolescente.

[1] HUXLEY, Thomas. Agnosticism. Colleted Essays V. 1889. Disponível em: https://mathcs.clarku.edu/huxley/CE5/Agn.html. Acesso em: 01 de Junho de 2021.

[2] As 5 posições agnósticas foram tiradas de: https://www.philosophybasics.com/branch_agnosticism.html. Acesso em:01 de Junho de 2021

[3] DRAPER, Paul. Atheism and Agnosticism. Stanford Encyclopedia of Philosphy. 2017. Disponível em: https://plato.stanford.edu/entries/atheism-agnosticism/#DefiAgno. Acesso em: 01 de Junho de 2021.

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